Prévias de estudos em nutrição e alimentação do lambari-do-rabo-amarelo
Ecologia 78
1. XVI Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca. 18 a 22/10/2009. Natal/RN/Brasil. 1144
INFORMAÇÕES PRELIMINARES SOBRE A POPULAÇÃO DO
Macrobrachium jelskii (MIERS, 1877) (CRUSTACEA, DECAPODA,
PALAEMONIDAE) NA BARRAGEM DO JAZIGO, SERRA TALHADA, SEMIÁRIDO
PERNAMBUCANO
Izadora dos Santos Silva* 1,2; Albérico Alves Camello Neto 1,3;
Girlene Fábia Segundo Viana4
1 Aluno(a) do Curso de Engenharia de Pesca da Unidade Acadêmica de Serra Talhada/UFRPE; e-
mail: izadorasantos@yahoo.com.br. 2 Bolsista de Iniciação Científica do CNPq; 3 Bolsista de
Iniciação Científica da FACEPE; 4 Professora do Curso de Engenharia de Pesca da Unidade
Acadêmica de Serra Talhada/UFRPE
Resumo: O trabalho teve por objetivo estudar alguns aspectos da população do
Macrobrachium jelskii na barragem do Jazigo, Serra Talhada, semiárido
pernambucano. Coletas diurnas foram realizadas mensalmente no período de
outubro de 2008 a junho de 2009 com a utilização de uma rede com abertura de
malha 5 mm. A análise dos indivíduos consistiu na identificação da espécie, medição
do comprimento total (em milímetros), verificação do sexo e peso individual (em
gramas). As análises dos dados foram realizadas tomando por conhecimento a
abundância total, proporção sexual e relação peso x comprimento. Foram analisados
3.101 camarões com as fêmeas superando o número de machos durante todo o
período de estudo (61,1%). O comprimento total dos indivíduos variou de 3,2 mm a
76,4 mm. O peso mínimo foi de 0,001g e o máximo de 2,9g. Maiores índices de
fêmeas ovígeras foram observados nos meses de janeiro, fevereiro, março e junho
de 2009. Diante do que foi exposto, e ainda com relação aos poucos estudos
efetuados na área, ressalta-se a relevância do presente trabalho no sentido de
conhecer aspectos biológicos da espécie numa região pouco estudada.
Palavras-chave: Macrobrachium jelskii. Pernambuco. População. Semiárido.
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INTRODUÇÃO
No Brasil, são encontradas 18 espécies do gênero Macrobrachium, dentre as
quais se destacam devido a um maior interesse econômico, Macrobrachium
acanthurus (Wiegmann, 1836), M. carcinus e Macrobrachium amazonicum (Guest,
1979) (MELO, 2003; RAMOS-PORTO E COELHO, 1998). Outras espécies, por
apresentarem médio ou pequeno porte, não possuem importância econômica,
porém algumas são muito utilizadas como iscas em pescarias com anzol, como
alimento para a população ribeirinha, e ainda são bastante importantes na teia
trófica de ambientes límnicos. Além disso, M. jelskii destaca-se por também ser
utilizado na ornamentação de aquários.
M. jelskii é popularmente conhecida como camarão sossego distribuindo-se
desde Trinidad, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Bolívia até o
Brasil, abrangendo os estados do Amapá, Pará, Amazonas, Maranhão, Ceará, Rio
Grande do norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais,
Espírito Santo, Mato Grosso, São Paulo e Santa Catarina (MELO, 2003) e seguindo
ao sul é encontrado também na Argentina (COLLINS, 2000).
É uma espécie restrita ao ambiente de água doce e de acordo com Melo
(2003), é freqüentemente encontrada em águas escuras com pouca vegetação
marginal e em substrato lodoso; mas também em águas transparentes e rápidas,
com gramíneas, pedras e areia. Segundo Montoya (2003 apud SOARES, 2008), a
espécie aparece associada a raízes de plantas aquáticas que fornecem recursos
nutricionais e proteção para as fêmeas ovígeras e para o desenvolvimento dos
estágios larvais da espécie. Taddei (2006 apud SOARES, 2008), por sua vez, afirma
que M. jelskii é uma espécie típica de ambiente de represa.
Poucas são as pesquisas sobre a biologia e ecologia de M. jelskii, merecendo
destaque os estudos de Taddei (2006 apud SOARES, 2008) sobre a biologia
populacional, crescimento e reprodução da espécie na represa de Barra Mansa, São
Paulo, e Soares (2008) que deu ênfase à estrutura populacional, reprodução e
crescimento, entre outros.
Desta forma, nota-se a importância do conhecimento da população do M.
jelskii no semiárido nordestino para um melhor aproveitamento da pesca artesanal
local, bem como o incentivo à produção, e, se for o caso, chamar a atenção da
população e órgãos responsáveis para uma possível sobrepesca do animal.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido de outubro/2008 a junho/2009 na Barragem do
Jazigo, bacia hidrográfica do rio Pajeú (7º 9’ 56” S e 8º 14’ 30” W), no município de
Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco. Foram realizadas coletas mensais,
diurnas, nas margens da barragem em profundidades variando de 20 cm a 100 cm.
As coletas ocorreram sempre entre as 8:00 h e 11:30 h da manhã, utilizando-se
uma rede de abertura de malha de 5mm, onde foram realizados arrastos em
transectos paralelos a margem, com três repetições em locais próximos, em
profundidades variando de 50 cm a 100 cm.
Os camarões coletados foram colocados em potes plásticos etiquetados, fixados
em etanol a 70% e levados ao laboratório da Unidade Acadêmica de Serra Talhada
onde foram identificados através de estereomicroscópio e bibliografia pertinente,
entre elas Holthuis (1952) e Melo (2003).
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Depois de identificados, os espécimes foram quantificados, medido o
comprimento total (CT): medida tomada da extremidade do rostro à extremidade do
telson com um paquímetro digital com precisão de 0,01 mm.
Todos os camarões foram pesados individualmente: peso, em gramas, do
camarão fixado, após secagem em papel absorvente para a retirada do excesso de
álcool, em balança digital com precisão de 0,00 g; sexados, onde foi observada a
presença do apêndice masculino nos machos, e a ausência deste apêndice nas
fêmeas.
O período de reprodução foi observado através da presença da massa de ovos
presos aos pleópodos na região abdominal das fêmeas.
Com relação à proporção sexual, a porcentagem de machos e fêmeas foi
observada mensalmente.
Para todo o período amostrado foram determinadas as relações peso-
comprimento dos camarões, machos e fêmeas separados, sendo o peso a variável
dependente (y) e o comprimento a variável independente.
As espécies coletadas foram catalogadas e depositadas na Coleção
Carcinológica da Unidade Acadêmica de Serra Talhada.
RESULTADOS E DISCUSÃO
Do total de indivíduos capturados (6.781) em todo o período amostrado, os
camarões corresponderam a 46% e o grupo denominado de outros (gastrópodos,
peixes, insetos e organismos não identificados) representaram 54% (Figura 1).
46%
camarões
outros
54%
Figura 1 - Porcentagem dos camarões e fauna acompanhante coletados de
outubro/2008 a junho/2009 em todas as amostras na Barragem do
Jazigo, Serra Talhada - PE. Outros: gastrópodos, insetos, peixes e
outros organismos não identificados.
Foram coletados 3.101 camarões distribuídos em 779 indivíduos no mês de
outubro representando 25,1% do total das amostras, 633 espécimes em fevereiro
representando 20,4%, 534 exemplares no mês de dezembro representando 17,2%,
e 500 indivíduos (16,1%) em novembro, meses menos chuvosos (Figura 2).
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900
800
700
Número de indivíduos
600
500
400
300
200
100
0
out nov dez jan fev mar abr mai jun
2008 - 2009
Figura 2 - Abundância total de Macrobrachium jelskii coletados com rede de malha 5
mm na Barragem do Jazigo, Serra Talhada – PE, durante o período de
outubro/2008 a junho/2009 .
Soares (2008) realizou coletas na Represa Três Marias e no Rio São
Francisco, Minas Gerais com um puçá com abertura de malha de 1,42 mm passado
na vegetação marginal e na água próximo à margem, e também constatou a
presença da espécie durante todo o período estudado com uma maior quantidade
de indivíduos nos meses de janeiro e junho.
Para a análise da proporção sexual foram utilizados 3.050 camarões
distribuídos em 1.185 machos (38,9%) e 1.865 fêmeas (61,1%) (Figura 3). A
quantidade de fêmeas foi visivelmente maior que os machos em todos os meses de
coleta.
Segundo Taddei (2006 apud SOARES, 2008), o maior número de fêmeas
favorece um maior índice de fecundação, devido principalmente a característica de
reprodução contínua da espécie.
100%
80%
Abundância relativa (%)
60%
fêmea
macho
40%
20%
0%
out nov dez jan fev mar abr mai jun
2008 - 2009
Figura 3 – Porcentagem de machos e fêmeas de Macrobrachium jelskii coletados
mensalmente na Barragem do Jazigo, no período de outubro/2008 a
junho/2009.
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A presença de fêmeas ovígeras foi observada em todos os meses de coleta,
com destaque para os meses de fevereiro, março, maio e junho de 2009 onde foi
constatada uma maior quantidade (Figura 4).
Soares (2008) encontrou maiores valores em janeiro e novembro (período
chuvoso-quente com maior temperatura da água), porém destaca que a espécie
apresenta uma reprodução contínua sazonal.
100%
80%
Abundância relativa (%)
60%
fêmea ovígera
fêmea
40%
20%
0%
out nov dez jan fev mar abr mai jun
2008 - 2009
Figura 4 - Proporção de fêmeas e fêmeas ovígeras de Macrobrachium jelskii
coletadas com rede de malha 5mm na Barragem do Jazigo, Serra
Talhada – PE de outubro/2008 a junho/2009.
A estrutura da população quanto ao comprimento revelou que as fêmeas
foram maiores que os machos apresentando tamanho máximo de 76,4 mm, mínimo
de 3,2 mm, com média de 24,0 mm, enquanto que os machos variaram de 8,5 mm a
53,8 mm com média de 23,5 mm.
O maior tamanho das fêmeas é uma condição essencial à maioria das
espécies de carídeos, que carregam seus ovos aderidos aos apêndices abdominais
restringindo-os em tamanho e número de acordo com o espaço disponível para a
fixação dos ovos (SHAKUNTALA, 1977 apud SOARES, 2008).
A estrutura da população quanto ao peso revelou que as fêmeas
demonstraram peso maior que os machos com máximo de 2,9 g, mínimo de 0,001 g,
e média de 0,2 g, enquanto que para os machos os pesos variaram de 0,001 g
(mínimo) a 0,81 g (máximo), com média de 0,13 g.
Analisando a relação peso/comprimento para os machos, verificou-se que a
correlação média entre as duas variáveis apresentou coeficiente de correlação (R2=
0,6) e a relação peso-comprimento para as fêmeas apresentou coeficiente de
correlação (R2= 0,8) (Figuras 5 e 6).
Segundo Holthuis (1952) o comprimento total máximo para M. jelskii é 56,0
mm; no presente trabalho o maior espécime mediu 76,4 mm.
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3,2
y = 0,0259e0,0675x
R2 = 0,6997
2,8
2,4
peso (g) 2
1,6
1,2
0,8
0,4
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
comprimento (mm)
Figura 5 - Relação peso x comprimento para machos de Macrobrachium jelskii
coletados com rede de 5mm na Barragem do Jazigo, Serra Talhada –
PE, de outubro/2008 a junho/2009.
3,2
2,8
2,4
y = 0,0088e0,1031x
R2 = 0,8321
2
peso (g)
1,6
1,2
0,8
0,4
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
comprimento (mm)
Figura 6 - Relação peso x comprimento para fêmeas de Macrobrachium jelskii
coletadas com rede de 5mm na Barragem do Jazigo, Serra Talhada –
PE, de outubro/2008 a junho/2009.
Diante do que foi exposto e da importância do M. jelskii como alimento
humano, iscas em pescarias com anzóis, na teia trófica de ambientes límnicos e uso
em aquários para ornamentação, e também dos poucos estudos efetuados na área,
ressalta-se a relevância do presente trabalho no sentido de conhecer aspectos
biológicos da espécie numa região pouco explorada com relação ao estudo da
carcinofauna e com interferência de barragem.
CONCLUSÃO
Macrobrachium jelskii apresentou um número expressivo durante todo o
período amostrado estando representado tanto por indivíduos juvenis, quanto por
adultos e fêmeas ovígeras, demonstrando que o local estudado é propício para o
completo desenvolvimento do seu ciclo de vida.
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REFERÂNCIAS
COLLINS, P. A new distribution record for Macrobrachium jelskii (Miers, 1877) in
Argentina (Decapoda, Palaemonidae). Crustaceana, Leiden, v. 73, n. 9, p. 1167-
1169, 2000.
HOLTHUIS, L.B. A general revision of the Palaemonidae (Crustacea, Decapoda,
Natantia) of the Americas. II. The subfamily Palaemoninae. OCC. PAP. ALLAN.
HANDCOCK FOUND. v. 12, 1952. 396 p.
MELO, G.A.S. Manual de identificação dos Crustacea Decapoda de água doce do
Brasil. São Paulo: LOYOLA, 2003. 430p.
RAMOS-PORTO, M.; COELHO, P. A. Malacostraca – Eucarida, Caridea (Alpheoidea
excluded) In: YOUNG, P. Catalogue of Crustacea of Brazil. Rio de Janeiro: Museu
Nacional. p. 325-350, 1998.
SOARES, M.R.S. Bioecologia populacional de Macrobrachium jelskii (Crustacea,
Decapoda, Palemonidae) na Represa de Três Marias e no Rio São Francisco, M.G.
Brasil. Dissertação (Pós-Graduação em Biologia Animal). 2008. 74p.