O documento discute os benefícios do etanol sobre a gasolina, incluindo menores emissões de carbono e melhor saúde pública. A redução do percentual de etanol na gasolina irá aumentar as emissões de gases do efeito estufa e requerer áreas florestais adicionais para absorver o carbono extra. O Brasil deve incentivar a indústria do etanol para suprir a demanda interna e exportar o combustível renovável.

1. Movimento Pró-Etanol (Publicado no Jornal Correio Popular em 08/05/2011)
Diante da tendência mundial de substituição de uma matriz energética baseada em
recursos fósseis, como o petróleo e carvão mineral, para uma matriz mais limpa,
utilizando recursos renováveis que tenham menor emissão de carbono, a decisão de
reduzir a adição do etanol anidro na gasolina para 18% caminha no sentido contrário,
pois proporcionará uma redução de 2.088.996 m3 do consumo interno de etanol.
A busca de alternativas para a substituição de combustíveis de origem fóssil tem sido
priorizada em diversos países desenvolvidos devido tanto às questões ambientais e
estratégicas quanto relativas à melhoria da saúde.
Há fortes evidências de que o CO2 é nocivo à saúde. Em estudo realizado nos EUA em
2007, a Corte Suprema determinou que o CO2 era poluente e nocivo à saúde, indicando
que a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA) deveria preparar normas para a
redução das emissões de CO2.
Por outro lado, o Brasil conquistou nas últimas três décadas uma importante liderança
mundial: a substituição de gasolina, combustível fóssil, por etanol de cana-de-açúcar,
um combustível renovável que pode ser utilizado nos veículos flex, que possuem a
flexibilidade de usar misturas de gasolina e etanol em qualquer proporção.
Atualmente a frota nacional de veículos flex é estimada em mais de 13 milhões de
veículos leves, e, nos últimos 8 anos, esta adição de etanol à gasolina no Brasil,
substituiu 43.319.661 m3 de gasolina.
Se compararmos com as emissões que seriam emitidas pelo uso de gasolina, a
substituição pelo etanol proporcionou a redução da emissão de 114.363.905 Kg de CO2
equivalentes, tornando-se o principal mitigador para redução de gases do efeito estufa
para o setor de transportes em uso no mundo.
Com a redução para 18% de etanol, 2.088.996 m3 por ano serão substituídos pela
gasolina, proporcionando a adição da emissão de 4.930.031 Kg de CO2, que é
equivalente ao desmatamento de uma área de 47 hectares da floresta amazônica por ano,
ou, por outro lado, se quisermos absorver este acréscimo de CO2, seriam necessárias
35.200 árvores nativas por ano.
Em vez desta situação inversa na qual necessitamos da importação de gasolina e diesel
para o abastecimento do mercado interno, deveríamos ter incentivos e priorização por
parte do governo e da iniciativa privada para, não somente abastecer o nosso mercado
quanto exportar conhecimentos, insumos, equipamentos e o próprio combustível
renovável para outros países, pois temos o domínio tecnológico desta cadeia produtiva.
O que está em jogo, além da resolução de um problema sazonal de abastecimento, é a
decisão entre uma matriz energética mais limpa, com incentivos para a indústria
nacional e geração de empregos, ou uma matriz energética pautada em combustíveis
fósseis, que pode ser tratada como commodities, sem a prioridade ambiental e social.
Não podemos deixar que aconteça novamente o que ocorreu com o Pró-Álcool,
abandonado tanto pela falta de prioridade do governo quanto pela falta de visão de
longo prazo por parte dos empresários e investidores na época.
Para que não se repita o ocorrido, devemos criar uma política de desenvolvimento
industrial que incentive e garanta que o aumento da demanda do etanol seja
acompanhado pelo aumento da capacidade produtiva e distributiva deste produto.
Ou fazemos isto ou estaremos “remando contra a maré” e regredindo em termos de
sustentabilidade e contribuição para um planeta mais limpo e saudável de fato.
Vadson Bastos do Carmo (vadson@mpc.com.br) Mestre em Engenharia de Produção e Gerenciamento
de Sistemas de Informação, Especialista em Qualidade Industrial e Gestão Empresarial. Doutorando em
Engenharia de Processos (UNICAMP). Trabalhou em empresas nacionais e multinacionais nas áreas de
Gestão, Pesquisa e Tecnologia. É Professor universitário (MBA) e Consultor Sênior do SEBRAE,
atuando na área de Desenvolvimento e Inovação.