SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Baixar para ler offline
Jardim Zoológico da Maia
Documento Temático da JS Maia


       A defesa dos animais deve, nos nossos dias, ser encarada como uma grande prioridade
da Humanidade. O maior desafio do século XXI é, sem dúvida, permitir que as várias forças
dinâmicas em convivência no nosso planeta atinjam um equilíbrio capaz de potenciar a sua
sustentabilidade.


       Actualmente, a fauna mundial sofre, diariamente, agressões variadas. A diminuição
dos ecossistemas naturais, o comércio ilegal de animais silvestres, a caça ilegal, ou o
aumento da poluição em todos os ecossistemas, contribuem para a degradação de várias
populações animais. Considerados inicialmente apenas locais de lazer, gradualmente os
jardins zoológicos foram adquirindo um papel importante nos esforços de conservação e
sensibilização. É a muitos Jardins Zoológicos que é incumbida a árdua missão de garantir a
continuidade das espécies, inclusive de algumas que se encontram em vias de extinção, para
além de constituírem importantes pólos de atracção turística e até de investigação.


       Na sequência de algumas notícias publicadas sobre alegadas irregularidades no Jardim
Zoológico da Maia, a Juventude Socialista da Maia decidiu fazer duas visitas a este espaço:
uma primeira visita, informal, a fim de constatarmos aspectos mais logísticos, como habitats,
espaços ou tipo de alojamento; e uma segunda visita, formal, acompanhada pelo responsável
do Jardim Zoológico da Maia, a fim de nos inteirarmos de situações associadas a aspectos
bio-médico-sanitários e com as vertentes pedagógica e de acolhimento temporário de animais
em risco. Estas visitas mostraram-se indispensáveis para fundamentar a apresentação de um
documento isento sobre as condições deste espaço.


       De acordo com o documento elaborado pela IUCN (União para a Conservação Mundial)
e pela IUDZG (Organização Mundial de Zoológicos e Aquários) - “World Zoo Conservation
Strategy” (1993) - foram definidos os principais objectivos das instituições de conservação
ex-situ (conservação das espécies fora do seu habitat natural), como é o caso dos jardins
zoológicos. Este documento estabelece não só as estratégias de conservação a seguir, mas
define também uma filosofia mundial comum de conservação.


       Não é nosso intuito tomar uma posição a favor ou contra os Jardins Zoológicos em
geral. Centrar-nos-emos no Jardim Zoológico da Maia, que existe há 21 anos, onde muitos dos
animais expostos (à semelhança do que acontece em muitos outros jardins zoológicos) já
nasceram em cativeiro. Durante a visita do dia 27 de Outubro vimos bons e maus exemplos.
Há, de facto, animais em condições que não contribuem para o seu bem-estar, por não terem
acesso a condições básicas de movimento, isolamento ou socialização. Todavia, em relação às
más condições generalizadas de que o Jardim Zoológico tem sido acusado, a JS considera que
é importante que, antes de qualquer generalização, se identifiquem os animais cujo bem
estar está posto em causa, e que, para esses, se tomem as medidas consideradas adequadas.
Numa época em que cada vez mais se fala no bem-estar psicológico dos animais, a sua
retirada do habitat onde, apesar das condições não serem as ideais, eles se sentem bem, tem,
por vezes, consequências desastrosas.
       Durante a nossa visita pudemos ter uma visão clarificadora de todos os aspectos
positivos e negativos que caracterizam o Jardim Zoológico da Maia.


O que está bem


   1) Em termos de funcionamento/recursos humanos


       Os recursos humanos do Zoo da Maia, embora não sendo, na sua grande maioria,
especialistas, mantêm com as diferentes espécies relações de muita proximidade, em alguns
casos diríamos que de “afectividade”, indispensáveis para a sobrevivência de animais em
cativeiro. Fomos informados do caso de animais (Pitecídeos raríssimos) que foram levados,
aparentemente para melhores condições e que acabaram por morrer.
       Numa época em que a investigação sobre o bem-estar psicológico dos animais é cada
vez mais valorizada e concludente, estes aspectos não são de menosprezar.


   2) Em termos pedagógicos


       Não podemos desprezar a contribuição importante que os jardins zoológicos têm na
educação da população, criando uma consciência ecológica. Nesse sentido, o Zoo da Maia tem
feito alguns esforços, de que é exemplo o espaço dedicado ao ciclo da água, que deverá
contudo ser da responsabilidade de funcionários permanentes e com as devidas competências.


   3) Em termos de protecção


       Quando há necessidade urgente de resgatar animais selvagens de condições não
condignas, os jardins zoológicos têm um papel fundamental. O Zoo da Maia tem prestado um
bom serviço no caso de animais em risco.
Um Jardim Zoológico deverá ter como objectivo primordial o bem-estar dos animais.
Um dos indicadores do bem estar animal é o índice de reprodução das espécies mantidas em
cativeiro. Assim, durante as visitas ao Zoo, a JS Maia pôde verificar que há animais que se
estão a reproduzir (caso dos Saguis prateados), podendo até ser contraproducente a
introdução de alterações no equilíbrio desta comunidade através, por exemplo, da sua
deslocação para um outro habitat. A reprodução, em qualquer espécie animal, é uma das
primeiras funções fisiológicas bloqueadas quando qualquer necessidade básica não está a ser
atendida. Se uma espécie apresentar bons índices de reprodução em cativeiro, é sinal que
está bem adaptada, com alimentação e cuidados básicos bem atendidos.


O que está menos bem e/ou pode ser melhorado


    1) Em termos de funcionamento/espaços/condições


       A JS Maia considera que, apesar de existir vontade para melhorar o habitat de muitos
dos animais, a falta de espaço crónica do Jardim Zoológico não permite que sejam dadas as
melhores condições. O caso mais flagrante é o do Pongídeo (Orangotango), que se encontra
em instalações provisórias há cerca de cinco anos. A jaula em que está instalado é pequena e
desapropriada, já que se trata de um animal arborícola. Fomos informados de que a sua
deslocação para outro jardim zoológico está para breve mas, ao vermos a ligação deste
primata com os seus tratadores, lamentamos que a Câmara Municipal não tenha encontrado
mais cedo uma solução para o alargamento do Zoo e que o Orangotango tenha de ser afastado
do seu ambiente “familiar”, pondo seriamente em causa a sua sobrevivência.
       Além do Orangotango, há outras animais mal instalados: os Ursos e os Leões têm
pouco espaço disponível. Os Chimpanzés também não apresentam as melhores condições de
habitat: sendo animais de extrema inteligência e com capacidade de interacção com o
público, precisariam estar mais protegidos dos visitantes.


    2) Em termos de Recursos Humanos e Protecção


       Outro aspecto que consideramos negativo é a falta de formação dos recursos humanos
que trabalham no Zoo. Não vimos sinais de falta de cuidados para com os animais, sendo
facilmente observável o afecto com que são tratados. Contudo, um Jardim Zoológico exige
uma equipa multidisciplinar, com elementos residentes de diferentes áreas, nomeadamente
biólogos. Um Jardim Zoológico, de acordo com legislação comunitária – Portugal conta com
um Decreto-Lei (59/2003), um Despacho (7203/2004) e uma Portaria (961/2005) para aplicar
a directiva comunitária – não deve apenas preocupar-se com o bem-estar das espécies que
alberga, mas deve também elaborar trabalhos de investigação e de monitorização destes
mesmos animais. O cativeiro dos animais deve servir para o estudo de biologia das espécies
(comportamentos de reprodução, comportamentos alimentares, etc.) que será fundamental
para a definição de estratégias de conservação adequadas in-situ (no habitat natural das
espécies). A criação de Reservas, especialmente para as espécies em vias de extinção, como é
o caso de muitos primatas, exige muitos conhecimentos que deverão ser retirados dos animais
cativos nos diversos jardins zoológicos. Como é óbvio, a inclusão destas diferentes valências
exige   o   estabelecimento     de   protocolos   de   colaboração   com   outras    instituições,
nomeadamente      universidades.     A   colaboração   com   a   Universidade   do   Porto,   que
espacialmente é tão próxima do Jardim Zoológico da Maia, deve ser uma prioridade da
direcção do jardim zoológico.


    3) Em termos sanitários


        Outro problema detectado pela JS, tanto em Junho como em Outubro, foi a presença
frequente de ratos. Todos os Zoológicos no Mundo sofrem desta praga e a forma mais recente
de controlo a população de ratos adoptada pela direcção do Zoo da Maia, após a
experimentação de outras que se mostraram nefastas, parece não ser ainda a mais eficiente.


Conclusão


        O Zoo da Maia tem um número considerável de visitantes, sendo grande parte
proveniente de visitas escolares. É, por isso, uma estrutura pedagógica importantíssima para
o Norte de Portugal, que deve ser acarinhada; cresceu muito, em grande parte pela
dedicação do seu responsável máximo, exigindo actualmente uma gestão mais profissional no
que concerne a aspectos eco-biológicos, sanitários e de habitat. Há, por parte da direcção do
Zoo da Maia, vontade de melhorar as condições de alojamento de algumas espécies, o que só
poderá ser concretizado com uma expansão das instalações e uma gestão técnico-científica
que responda às exigências que são feitas a este tipo de equipamentos.
        O Zoo da Maia ajudou a projectar o Concelho da Maia. Apesar de estar situado na
freguesia que dá o nome ao Concelho, o Zoo é de toda a Maia. Por isso, está nas mãos da
Câmara Municipal da Maia converter o “problema” que hoje representa o Zoo numa
oportunidade e num desafio ambiciosos. Reiteramos que o respeito pela vida animal deve
estar em primeiro plano; trata-se de um princípio de que a JS não abdicará. Mas também não
deixaremos que sob a capa de uma pretensa protecção dos animais se esconda uma protecção
de outro tipo de interesses.
Sendo encarado como uma infra-estrutura de grande atractividade para uma região
de três milhões de habitantes, um jardim zoológico moderno e de grande dimensão situado na
Maia não deixaria de representar uma expressiva inversão no caminho de perda de
competitividade que o nosso concelho tem trilhado continuamente.
       Fomos informados, aquando da visita formal, que é vontade do presidente da Junta
de Freguesia da Maia criar uma Fundação que tenha como objectivo a gestão do Zoo da Maia.
A JS Maia acredita que esta será uma solução positiva para ultrapassar muitos dos problemas
do Jardim Zoológico, apoiando, desde já, essa iniciativa. Acreditamos que a formação de uma
entidade independente, sem fins lucrativos, que possa ser fiscalizada e controlada, podendo
ter património próprio, receber doações, bem como angariar mecenas, poderá trazer à Maia
um Jardim Zoológico ao nível dos melhores da Europa.

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Almoço de Natal do pief
Almoço de Natal do piefAlmoço de Natal do pief
Almoço de Natal do piefpiefesidh
 
Visita ao jardim zoológico da maia
Visita ao jardim zoológico da maiaVisita ao jardim zoológico da maia
Visita ao jardim zoológico da maiapiefesidh
 
Ficha guião lisboa 2012nº2
Ficha guião lisboa 2012nº2Ficha guião lisboa 2012nº2
Ficha guião lisboa 2012nº2Ana Isabel Silva
 
Folheto da visita de estudo a Lisboa, 2010-11, 9 de dezembro
Folheto da visita de estudo a Lisboa, 2010-11, 9 de dezembroFolheto da visita de estudo a Lisboa, 2010-11, 9 de dezembro
Folheto da visita de estudo a Lisboa, 2010-11, 9 de dezembroJorge Almeida
 
Guião visita de estudo
Guião visita de estudoGuião visita de estudo
Guião visita de estudoAna T.
 
Aniversário da Sílvia
Aniversário da SílviaAniversário da Sílvia
Aniversário da Sílviapiefesidh
 
Visita De Estudo Museu da Água
Visita De  Estudo  Museu da ÁguaVisita De  Estudo  Museu da Água
Visita De Estudo Museu da ÁguaAlfredo Garcia
 
Panfleto Da Visita a Serra
Panfleto Da Visita a SerraPanfleto Da Visita a Serra
Panfleto Da Visita a SerraCristina Miranda
 
Guião de visita pdf
Guião de visita pdfGuião de visita pdf
Guião de visita pdfCainha18
 

Destaque (14)

Almoço de Natal do pief
Almoço de Natal do piefAlmoço de Natal do pief
Almoço de Natal do pief
 
Visita ao jardim zoológico da maia
Visita ao jardim zoológico da maiaVisita ao jardim zoológico da maia
Visita ao jardim zoológico da maia
 
Ficha guião lisboa 2012nº2
Ficha guião lisboa 2012nº2Ficha guião lisboa 2012nº2
Ficha guião lisboa 2012nº2
 
Folheto da visita de estudo a Lisboa, 2010-11, 9 de dezembro
Folheto da visita de estudo a Lisboa, 2010-11, 9 de dezembroFolheto da visita de estudo a Lisboa, 2010-11, 9 de dezembro
Folheto da visita de estudo a Lisboa, 2010-11, 9 de dezembro
 
Guião visita alunos
Guião visita alunosGuião visita alunos
Guião visita alunos
 
Guião visita de estudo
Guião visita de estudoGuião visita de estudo
Guião visita de estudo
 
Aniversário da Sílvia
Aniversário da SílviaAniversário da Sílvia
Aniversário da Sílvia
 
Visita De Estudo Museu da Água
Visita De  Estudo  Museu da ÁguaVisita De  Estudo  Museu da Água
Visita De Estudo Museu da Água
 
Seminario en mantenimiento
Seminario en mantenimientoSeminario en mantenimiento
Seminario en mantenimiento
 
Visita ao zoo da maia
Visita ao zoo da maiaVisita ao zoo da maia
Visita ao zoo da maia
 
Panfleto Da Visita a Serra
Panfleto Da Visita a SerraPanfleto Da Visita a Serra
Panfleto Da Visita a Serra
 
Guião de visita pdf
Guião de visita pdfGuião de visita pdf
Guião de visita pdf
 
Ficha da visita estudo
Ficha da visita estudoFicha da visita estudo
Ficha da visita estudo
 
Visita de estudo
Visita de estudoVisita de estudo
Visita de estudo
 

Semelhante a Jardim Zoológico da Maia analisado pela JS Maia

Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...Dimas Marques
 
apresentação RICARDO 05_06_2023.ppt
apresentação RICARDO 05_06_2023.pptapresentação RICARDO 05_06_2023.ppt
apresentação RICARDO 05_06_2023.pptZE RIKI
 
AULA Introdução Zootecnia Bruno
AULA Introdução Zootecnia Bruno AULA Introdução Zootecnia Bruno
AULA Introdução Zootecnia Bruno JulioGarcia972475
 
4ª edição da revista de Centros de Triagem (CETAS) e Áreas de Soltura e Monit...
4ª edição da revista de Centros de Triagem (CETAS) e Áreas de Soltura e Monit...4ª edição da revista de Centros de Triagem (CETAS) e Áreas de Soltura e Monit...
4ª edição da revista de Centros de Triagem (CETAS) e Áreas de Soltura e Monit...Dimas Marques
 
Biologia ambiental e células tronco.
Biologia ambiental e células tronco.Biologia ambiental e células tronco.
Biologia ambiental e células tronco.Rayanne Almeida
 
Conceitos, biosseguridade e conservação de animais selvagens
Conceitos, biosseguridade e conservação de animais selvagensConceitos, biosseguridade e conservação de animais selvagens
Conceitos, biosseguridade e conservação de animais selvagensMarília Gomes
 
Biodiversidade ppt
Biodiversidade pptBiodiversidade ppt
Biodiversidade pptguest7b65ee
 
ProtecçãO E ConservaçãO Da Natureza
ProtecçãO E ConservaçãO Da NaturezaProtecçãO E ConservaçãO Da Natureza
ProtecçãO E ConservaçãO Da NaturezaSérgio Luiz
 
Reintrodução Psitacideos - revista do III encontro de CETAS e Áreas de Soltur...
Reintrodução Psitacideos - revista do III encontro de CETAS e Áreas de Soltur...Reintrodução Psitacideos - revista do III encontro de CETAS e Áreas de Soltur...
Reintrodução Psitacideos - revista do III encontro de CETAS e Áreas de Soltur...Dimas Marques
 
Os anfíbios para o equilíbrio ecológico do ambiente.ppt
Os anfíbios para o equilíbrio ecológico do ambiente.pptOs anfíbios para o equilíbrio ecológico do ambiente.ppt
Os anfíbios para o equilíbrio ecológico do ambiente.pptCamilaSantana300186
 

Semelhante a Jardim Zoológico da Maia analisado pela JS Maia (20)

Manual pombos
Manual pombosManual pombos
Manual pombos
 
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
Relatório de atividades de áreas de soltura e monitoramento do Ibama no estad...
 
apresentação RICARDO 05_06_2023.ppt
apresentação RICARDO 05_06_2023.pptapresentação RICARDO 05_06_2023.ppt
apresentação RICARDO 05_06_2023.ppt
 
Pegadas
PegadasPegadas
Pegadas
 
Ciencias vol 3
Ciencias vol 3Ciencias vol 3
Ciencias vol 3
 
Ciencias vol 3
Ciencias vol 3Ciencias vol 3
Ciencias vol 3
 
AULA Introdução Zootecnia Bruno
AULA Introdução Zootecnia Bruno AULA Introdução Zootecnia Bruno
AULA Introdução Zootecnia Bruno
 
4ª edição da revista de Centros de Triagem (CETAS) e Áreas de Soltura e Monit...
4ª edição da revista de Centros de Triagem (CETAS) e Áreas de Soltura e Monit...4ª edição da revista de Centros de Triagem (CETAS) e Áreas de Soltura e Monit...
4ª edição da revista de Centros de Triagem (CETAS) e Áreas de Soltura e Monit...
 
Tubaraozoo
TubaraozooTubaraozoo
Tubaraozoo
 
Zoo
ZooZoo
Zoo
 
Ecologia geral aula 02
Ecologia geral aula 02Ecologia geral aula 02
Ecologia geral aula 02
 
Biologia ambiental e células tronco.
Biologia ambiental e células tronco.Biologia ambiental e células tronco.
Biologia ambiental e células tronco.
 
Conceitos, biosseguridade e conservação de animais selvagens
Conceitos, biosseguridade e conservação de animais selvagensConceitos, biosseguridade e conservação de animais selvagens
Conceitos, biosseguridade e conservação de animais selvagens
 
Biodiversidade ppt
Biodiversidade pptBiodiversidade ppt
Biodiversidade ppt
 
Quem cuida de nosso ambiente
Quem cuida de nosso ambienteQuem cuida de nosso ambiente
Quem cuida de nosso ambiente
 
ProtecçãO E ConservaçãO Da Natureza
ProtecçãO E ConservaçãO Da NaturezaProtecçãO E ConservaçãO Da Natureza
ProtecçãO E ConservaçãO Da Natureza
 
Reintrodução Psitacideos - revista do III encontro de CETAS e Áreas de Soltur...
Reintrodução Psitacideos - revista do III encontro de CETAS e Áreas de Soltur...Reintrodução Psitacideos - revista do III encontro de CETAS e Áreas de Soltur...
Reintrodução Psitacideos - revista do III encontro de CETAS e Áreas de Soltur...
 
Os anfíbios para o equilíbrio ecológico do ambiente.ppt
Os anfíbios para o equilíbrio ecológico do ambiente.pptOs anfíbios para o equilíbrio ecológico do ambiente.ppt
Os anfíbios para o equilíbrio ecológico do ambiente.ppt
 
Slide - Pronto.pdf
Slide - Pronto.pdfSlide - Pronto.pdf
Slide - Pronto.pdf
 
Artigo bioterra v21_n2_06
Artigo bioterra v21_n2_06Artigo bioterra v21_n2_06
Artigo bioterra v21_n2_06
 

Jardim Zoológico da Maia analisado pela JS Maia

  • 1. Jardim Zoológico da Maia Documento Temático da JS Maia A defesa dos animais deve, nos nossos dias, ser encarada como uma grande prioridade da Humanidade. O maior desafio do século XXI é, sem dúvida, permitir que as várias forças dinâmicas em convivência no nosso planeta atinjam um equilíbrio capaz de potenciar a sua sustentabilidade. Actualmente, a fauna mundial sofre, diariamente, agressões variadas. A diminuição dos ecossistemas naturais, o comércio ilegal de animais silvestres, a caça ilegal, ou o aumento da poluição em todos os ecossistemas, contribuem para a degradação de várias populações animais. Considerados inicialmente apenas locais de lazer, gradualmente os jardins zoológicos foram adquirindo um papel importante nos esforços de conservação e sensibilização. É a muitos Jardins Zoológicos que é incumbida a árdua missão de garantir a continuidade das espécies, inclusive de algumas que se encontram em vias de extinção, para além de constituírem importantes pólos de atracção turística e até de investigação. Na sequência de algumas notícias publicadas sobre alegadas irregularidades no Jardim Zoológico da Maia, a Juventude Socialista da Maia decidiu fazer duas visitas a este espaço: uma primeira visita, informal, a fim de constatarmos aspectos mais logísticos, como habitats, espaços ou tipo de alojamento; e uma segunda visita, formal, acompanhada pelo responsável do Jardim Zoológico da Maia, a fim de nos inteirarmos de situações associadas a aspectos bio-médico-sanitários e com as vertentes pedagógica e de acolhimento temporário de animais em risco. Estas visitas mostraram-se indispensáveis para fundamentar a apresentação de um documento isento sobre as condições deste espaço. De acordo com o documento elaborado pela IUCN (União para a Conservação Mundial) e pela IUDZG (Organização Mundial de Zoológicos e Aquários) - “World Zoo Conservation Strategy” (1993) - foram definidos os principais objectivos das instituições de conservação ex-situ (conservação das espécies fora do seu habitat natural), como é o caso dos jardins zoológicos. Este documento estabelece não só as estratégias de conservação a seguir, mas define também uma filosofia mundial comum de conservação. Não é nosso intuito tomar uma posição a favor ou contra os Jardins Zoológicos em geral. Centrar-nos-emos no Jardim Zoológico da Maia, que existe há 21 anos, onde muitos dos animais expostos (à semelhança do que acontece em muitos outros jardins zoológicos) já
  • 2. nasceram em cativeiro. Durante a visita do dia 27 de Outubro vimos bons e maus exemplos. Há, de facto, animais em condições que não contribuem para o seu bem-estar, por não terem acesso a condições básicas de movimento, isolamento ou socialização. Todavia, em relação às más condições generalizadas de que o Jardim Zoológico tem sido acusado, a JS considera que é importante que, antes de qualquer generalização, se identifiquem os animais cujo bem estar está posto em causa, e que, para esses, se tomem as medidas consideradas adequadas. Numa época em que cada vez mais se fala no bem-estar psicológico dos animais, a sua retirada do habitat onde, apesar das condições não serem as ideais, eles se sentem bem, tem, por vezes, consequências desastrosas. Durante a nossa visita pudemos ter uma visão clarificadora de todos os aspectos positivos e negativos que caracterizam o Jardim Zoológico da Maia. O que está bem 1) Em termos de funcionamento/recursos humanos Os recursos humanos do Zoo da Maia, embora não sendo, na sua grande maioria, especialistas, mantêm com as diferentes espécies relações de muita proximidade, em alguns casos diríamos que de “afectividade”, indispensáveis para a sobrevivência de animais em cativeiro. Fomos informados do caso de animais (Pitecídeos raríssimos) que foram levados, aparentemente para melhores condições e que acabaram por morrer. Numa época em que a investigação sobre o bem-estar psicológico dos animais é cada vez mais valorizada e concludente, estes aspectos não são de menosprezar. 2) Em termos pedagógicos Não podemos desprezar a contribuição importante que os jardins zoológicos têm na educação da população, criando uma consciência ecológica. Nesse sentido, o Zoo da Maia tem feito alguns esforços, de que é exemplo o espaço dedicado ao ciclo da água, que deverá contudo ser da responsabilidade de funcionários permanentes e com as devidas competências. 3) Em termos de protecção Quando há necessidade urgente de resgatar animais selvagens de condições não condignas, os jardins zoológicos têm um papel fundamental. O Zoo da Maia tem prestado um bom serviço no caso de animais em risco.
  • 3. Um Jardim Zoológico deverá ter como objectivo primordial o bem-estar dos animais. Um dos indicadores do bem estar animal é o índice de reprodução das espécies mantidas em cativeiro. Assim, durante as visitas ao Zoo, a JS Maia pôde verificar que há animais que se estão a reproduzir (caso dos Saguis prateados), podendo até ser contraproducente a introdução de alterações no equilíbrio desta comunidade através, por exemplo, da sua deslocação para um outro habitat. A reprodução, em qualquer espécie animal, é uma das primeiras funções fisiológicas bloqueadas quando qualquer necessidade básica não está a ser atendida. Se uma espécie apresentar bons índices de reprodução em cativeiro, é sinal que está bem adaptada, com alimentação e cuidados básicos bem atendidos. O que está menos bem e/ou pode ser melhorado 1) Em termos de funcionamento/espaços/condições A JS Maia considera que, apesar de existir vontade para melhorar o habitat de muitos dos animais, a falta de espaço crónica do Jardim Zoológico não permite que sejam dadas as melhores condições. O caso mais flagrante é o do Pongídeo (Orangotango), que se encontra em instalações provisórias há cerca de cinco anos. A jaula em que está instalado é pequena e desapropriada, já que se trata de um animal arborícola. Fomos informados de que a sua deslocação para outro jardim zoológico está para breve mas, ao vermos a ligação deste primata com os seus tratadores, lamentamos que a Câmara Municipal não tenha encontrado mais cedo uma solução para o alargamento do Zoo e que o Orangotango tenha de ser afastado do seu ambiente “familiar”, pondo seriamente em causa a sua sobrevivência. Além do Orangotango, há outras animais mal instalados: os Ursos e os Leões têm pouco espaço disponível. Os Chimpanzés também não apresentam as melhores condições de habitat: sendo animais de extrema inteligência e com capacidade de interacção com o público, precisariam estar mais protegidos dos visitantes. 2) Em termos de Recursos Humanos e Protecção Outro aspecto que consideramos negativo é a falta de formação dos recursos humanos que trabalham no Zoo. Não vimos sinais de falta de cuidados para com os animais, sendo facilmente observável o afecto com que são tratados. Contudo, um Jardim Zoológico exige uma equipa multidisciplinar, com elementos residentes de diferentes áreas, nomeadamente biólogos. Um Jardim Zoológico, de acordo com legislação comunitária – Portugal conta com um Decreto-Lei (59/2003), um Despacho (7203/2004) e uma Portaria (961/2005) para aplicar a directiva comunitária – não deve apenas preocupar-se com o bem-estar das espécies que
  • 4. alberga, mas deve também elaborar trabalhos de investigação e de monitorização destes mesmos animais. O cativeiro dos animais deve servir para o estudo de biologia das espécies (comportamentos de reprodução, comportamentos alimentares, etc.) que será fundamental para a definição de estratégias de conservação adequadas in-situ (no habitat natural das espécies). A criação de Reservas, especialmente para as espécies em vias de extinção, como é o caso de muitos primatas, exige muitos conhecimentos que deverão ser retirados dos animais cativos nos diversos jardins zoológicos. Como é óbvio, a inclusão destas diferentes valências exige o estabelecimento de protocolos de colaboração com outras instituições, nomeadamente universidades. A colaboração com a Universidade do Porto, que espacialmente é tão próxima do Jardim Zoológico da Maia, deve ser uma prioridade da direcção do jardim zoológico. 3) Em termos sanitários Outro problema detectado pela JS, tanto em Junho como em Outubro, foi a presença frequente de ratos. Todos os Zoológicos no Mundo sofrem desta praga e a forma mais recente de controlo a população de ratos adoptada pela direcção do Zoo da Maia, após a experimentação de outras que se mostraram nefastas, parece não ser ainda a mais eficiente. Conclusão O Zoo da Maia tem um número considerável de visitantes, sendo grande parte proveniente de visitas escolares. É, por isso, uma estrutura pedagógica importantíssima para o Norte de Portugal, que deve ser acarinhada; cresceu muito, em grande parte pela dedicação do seu responsável máximo, exigindo actualmente uma gestão mais profissional no que concerne a aspectos eco-biológicos, sanitários e de habitat. Há, por parte da direcção do Zoo da Maia, vontade de melhorar as condições de alojamento de algumas espécies, o que só poderá ser concretizado com uma expansão das instalações e uma gestão técnico-científica que responda às exigências que são feitas a este tipo de equipamentos. O Zoo da Maia ajudou a projectar o Concelho da Maia. Apesar de estar situado na freguesia que dá o nome ao Concelho, o Zoo é de toda a Maia. Por isso, está nas mãos da Câmara Municipal da Maia converter o “problema” que hoje representa o Zoo numa oportunidade e num desafio ambiciosos. Reiteramos que o respeito pela vida animal deve estar em primeiro plano; trata-se de um princípio de que a JS não abdicará. Mas também não deixaremos que sob a capa de uma pretensa protecção dos animais se esconda uma protecção de outro tipo de interesses.
  • 5. Sendo encarado como uma infra-estrutura de grande atractividade para uma região de três milhões de habitantes, um jardim zoológico moderno e de grande dimensão situado na Maia não deixaria de representar uma expressiva inversão no caminho de perda de competitividade que o nosso concelho tem trilhado continuamente. Fomos informados, aquando da visita formal, que é vontade do presidente da Junta de Freguesia da Maia criar uma Fundação que tenha como objectivo a gestão do Zoo da Maia. A JS Maia acredita que esta será uma solução positiva para ultrapassar muitos dos problemas do Jardim Zoológico, apoiando, desde já, essa iniciativa. Acreditamos que a formação de uma entidade independente, sem fins lucrativos, que possa ser fiscalizada e controlada, podendo ter património próprio, receber doações, bem como angariar mecenas, poderá trazer à Maia um Jardim Zoológico ao nível dos melhores da Europa.