Este documento descreve a trágica história de amor entre D. Pedro I de Portugal e D. Inês de Castro no século XIV. D. Pedro apaixonou-se por Inês, uma dama da corte, mesmo depois de se casar com D. Constança. Após a morte de Constança, D. Pedro e Inês viveram juntos e tiveram filhos, causando descontentamento no rei D. Afonso IV. Por ordem de D. Afonso, Inês foi executada, o que levou D. Pedro a se rebelar contra o pai.
2. D.INÊS DE CASTRO
Inês de Castro (Reino da Galiza, 1320/1325 — Coimbra, 7 de
janeiro de 1355) foi uma nobre galega, rainha póstuma de
Portugal, amada pelo futuro rei D. Pedro I de Portugal, de
quem teve quatro filhos. Foi executada por ordem do pai deste,
o rei D. Afonso IV.
3. BIOGRAFIA
D. Inês de Castro era filha de D. Pedro Fernandes de Castro, mordomo-mor do rei D.
Afonso XI de Castela, e de uma dama portuguesa, Aldonça Lourenço de Valadares. O seu pai,
neto por via ilegítima de D. Sancho IV de Castela, era um dos fidalgos mais poderosos do Reino
de Castela.
Em 24 de agosto teve lugar, na Sé de Lisboa, o casamento do Infante Pedro I de Portugal,
herdeiro do trono português, com D. Constança Manuel, filha de D. João Manuel de Castela,
príncipe de Vilhena e Escalona, duque de Penafiel, tutor de Afonso XI de Castela, «poderoso e
esforçado magnate de Castela», e neto do rei Fernando III de Castela. Todavia seria por uma das
aias de D. Constança, D. Inês de Castro, que D. Pedro viria a apaixonar-se. Este romance notório
começou a ser comentado e a ser mal aceito, tanto pela corte como pelo povo.
4. Sob o pretexto da moralidade, D. Afonso IV não aprovava esta relação, não só
por motivos de diplomacia com João Manuel de Castela, mas também devido à
amizade estreita de D. Pedro com os irmãos de D. Inês - D. Fernando de Castro e
D. Álvaro Perez de Castro. Assim, em 1344, o rei mandou exilar D. Inês no castelo
de Albuquerque, na fronteira castelhana, onde tinha sido criada por sua tia, D.
Teresa, mulher de um meio irmão de D. Afonso IV. No entanto, a distância não
teria apagado o amor entre Pedro e Inês, os quais, segundo a lenda, correspondiam-
se com frequência.
5. Em outubro do ano seguinte D. Constança morreu ao dar à luz o futuro rei, D. Fernando I de Portugal.
Viúvo, D. Pedro, contra a vontade do pai, mandou D. Inês regressar do exílio e os dois passaram a viver juntos, o
que provocou grande escândalo na corte, para enorme desgosto de El-Rei, seu pai. Começou então uma desavença
entre o rei e o infante.
D. Afonso IV tentou remediar a situação casando o seu filho com uma dama de sangue real. Mas D. Pedro
rejeitou este projeto, alegando que sentia ainda muito a perda de sua mulher, D. Constança, e que não conseguia
ainda pensar num novo casamento. No entanto, fruto dos seus amores, D. Inês foi tendo filhos de D. Pedro:
Afonso em 1346 (que morreu pouco depois de nascer), João em 1349, Dinis em 1354 e Beatriz em 1347. O
nascimento destes veio agudizar a situação porque, durante o reinado de D. Dinis, o seu filho e herdeiro D.
Afonso IV sentira-se em risco de ser preterido na sucessão ao trono por um dos filhos bastardos do seu pai. Agora
circulavam boatos de que os Castros conspiravam para assassinar o infante D. Fernando, legítimo herdeiro de D.
Pedro, para o trono português passar para o filho mais velho de D. Inês de Castro.
6. EXECUÇÃO DE D.INÊS DE
CASTRO
Depois de alguns anos no Norte de Portugal, Pedro e Inês tinham
regressado a Coimbra e instalaram-se no Paço de Santa Clara.
Mandado construir pela avó de D. Pedro, a Rainha Santa Isabel, foi
neste Paço que esta Rainha vivera os últimos anos, deixando expresso
o desejo que se tornasse na habitação exclusiva de Reis e Príncipes
seus descendentes, com as suas esposas legítimas.
7. Havia boatos de que o Príncipe tinha se casado secretamente com D. Inês. Na
Família Real um incidente deste tipo assumia graves implicações políticas. Sentindo-
se ameaçados pelos irmãos Castro, os fidalgos da corte portuguesa pressionavam o
rei D. Afonso IV para afastar esta influência do seu herdeiro. O rei D. Afonso IV
decidiu que a melhor solução seria matar a dama galega. Na tentativa de saber a
verdade o Rei ordenou a dois conselheiros seus que dissessem a D. Pedro que ele
podia se casar livremente com D. Inês se assim o pretendesse. D. Pedro percebeu
que se tratava de uma cilada e respondeu que não pensava casar-se nunca com D.ª
Inês.
8. A 7 de janeiro de 1355, o rei cedeu às pressões dos seus conselheiros e
aproveitando a ausência de D. Pedro, numa excursão de caça, foi com
Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e outros para
executarem Inês de Castro em Santa Clara, conforme fora decidido em
conselho. Segundo a lenda, as lágrimas derramadas no rio Mondego pela
morte de Inês teriam criado a Fonte das Lágrimas da Quinta das
Lágrimas, e algumas algas avermelhadas que ali crescem seriam o seu
sangue derramado.
9. A morte de D. Inês provocou a revolta de D. Pedro contra D. Afonso IV. Após
meses de conflito, a Rainha D. Beatriz conseguiu intervir e fez selar a paz, em
agosto de 1355.
D. Pedro tornou-se no oitavo rei de Portugal como D. Pedro I em 1357. Em
junho de 1360 fez a declaração de Cantanhede, legitimando os filhos ao afirmar que
se tinha casado secretamente com D. Inês, em 1354, em Bragança «em dia que não
se lembrava». A palavra do rei, do seu capelão e de um seu criado foram as provas
necessárias para legalizar esse casamento.
10. De seguida perseguiu os assassinos de D. Inês, que tinham fugido para o Reino
de Castela. Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram apanhados e executados em
Santarém (segundo a lenda o Rei mandou arrancar o coração de um pelo peito e o
do outro pelas costas, assistindo à execução enquanto se banqueteava, o que é
confirmado por Fernão Lopes, com a ressalva de que o carrasco o teria dissuadido
da ideia pela dificuldade encontrada nesta forma de execução). Diogo Lopes
Pacheco conseguiu escapar para a França e, posteriormente, seria perdoado pelo Rei
no seu leito de morte.
11. D. Pedro mandou construir os dois esplêndidos túmulos de D. Pedro I e de D. Inês de Castro no mosteiro
de Alcobaça, para onde trasladou o corpo da sua amada Inês, em 1361 ou 1362. Juntar-se-ia a ela em 1367. A
posição primeira dos túmulos foi lado a lado, de pés virados a nascente, em frente da primeira capela do transepto
sul, então dedicada a São Bento. Na década de 80 do século dezoito os túmulos foram mudados para o recém
construído panteão real, onde foram colocados frente a frente. Em 1956 foram mudados para a sua actual posição,
D. Pedro no transepto sul e D. Inês no transepto norte, frente a frente. Quando os túmulos, no século XVIII,
foram colocados frente a frente apareceu a lenda que assim estavam para que D. Pedro e D. Inês «possam olhar-se
nos olhos quando despertarem no dia do juízo final». A tétrica cerimónia da coroação e do beija mão à Rainha D.
Inês, já morta, que D. Pedro pretensamente teria imposto à sua corte e que tornar-se-ia numa das imagens mais
vívidas no imaginário popular, terá sido inserida pela primeira vez nas narrativas espanholas do final do século
XVI.
12. DESCENDÊNCIA
Da relação de D. Inês com o infante D. Pedro de Portugal
nasceram:
D. Afonso (faleceu em criança) D. Beatriz, infanta de Portugal e
condessa de Cifuentes (1347-1381) D. João, infante de Portugal e
duque de Valência de Campos (1349-1387) D. Dinis, infante de
Portugal e senhor de Cifuentes (1354-1397)
13. O ROMANCE DE D.PEDRO E
D.INÊS DE CASTRO
Uma das mais belas histórias de amor de sempre foi a trágica
paixão entre D. Pedro I e Inês de Castro, que nos continua a comover
pela sua força, intemporalidade e por todos os sentimentos
envolvidos: intriga, ódio, inveja, conflito de interesses, amor. Dois
corações que descansam lado a lado, viveram em plena luta pelo seu
amor e agora descansam em paz, pois a paixão pode vencer a morte.
14. D. Pedro nasceu a 8 de Abril de 1320 e, desde muito cedo os seus pais, El Rei D.
Afonso IV e D. Beatriz, tentaram arranjar-lhe esposa. Uma das suas primeiras
tentativas foi D. Branca de Castela que, com 14 anos se revelou muito doente e por
isso, D. Pedro não quis casar-se com ela. Mais tarde, quando o príncipe tinha entre
os dezanove e os vinte anos, o seu pai enviou mensageiros ao reino vizinho de
Castela, pedindo a mão de Constança Manuel. O pedido foi aceite e, em 1340,
organizaram-se grandes cortejos para a sua chegada a cavalo, rodeada de pagens,
aias, parentes e criados.
15. Nessa comitiva de boas-vindas, D. Pedro viu pela primeira vez D.
Inês de Castro, uma das aias de Constança, por quem se apaixonou
loucamente. Apesar disso, D.Pedro casou-se em Agosto, na Sé de
Lisboa, com Constança Manuel, de quem teve mais tarde três filhos:
Luís de Portugal (1340); Maria, princesa de Portugal (1342-1367)
e Fernando, Rei de Portugal (1345-1383)
16. Mesmo assim, D. Pedro continuava a encontrar-se com Inês de Castro,
iniciando-se um grande romance, tema de conversa dos membros da corte
e do povo. Estas coscuvelhices chegaram aos ouvidos do rei e da rainha
que, furiosos, fecharam Inês no Convento de Santa Clara, em Coimbra.
D. Pedro não a podia visitar, mas continuava a contactar a sua amada
rondando os muros do Convento e enviando cartas. Estas eram levadas e
trazidas secretamente em barquinhos de madeira através de um riacho.
17. Depois de sair do exílio, Inês foi circulando de castelo em castelo e
mais tarde instalou-se definitivamente num pavilhão de caça, na actual
Quinta das Lágrimas, mandado construir pela avó de D. Pedro, a
Rainha Santa Isabel. Lá tiveram quatro filhos:
Afonso de Portugal (assassinado em criança): Beatriz, princesa de
Portugal (1347-1381); João, príncipe de Portugal (1349-1387); Dinis,
Infante de Portugal (1354-1397).
18. Entretanto,em 1345, D. Constança Manuel morreu ao dar à luz o
3º filho, Fernando. Deixou, assim, D. Pedro viúvo e livre para Inês.
Este passou a visitar e a conviver mais com a sua amada.Esta situação
não agradou nada ao rei, pois os membros da corte inventavam
calúnias, mentiras e acusações a respeito de Inês e da sua família.
D. Afonso IV via-se no meio de dois problemas:
19. D. Pedro tinha um herdeiro ao trono, D.
Fernando, filho de Constança e três filhos bastardos
de Inês. Isto fazia o rei pensar que os filhos
bastardos quisessem subir ao trono e que para isso
assassinariam Fernando.
20. Os irmão Castro, pressionavam D. Pedro a tomar o trono de Castela, o
que poderia levar Portugal a entrar nas lutas dinásticas de Castela.
O rei decidiu, então, reunir-se com os nobres senhores Diogo Lopes
Pacheco, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves, no Castelo Montemor-o-Velho.
Resolveram que a única solução para a cabar com o Romance de D. Pedro
e D. Inês de Castro, era matar a nobre galega.
21. Em Janeiro de 1355, D. Afonso IV e os três fidalgos, aproveitaram a ausência de
D. Pedro, que havia partido para uma caçada e foram até ao pavilhão de caça, onde
encontraram Inês sozinha junto a uma fonte. Esta ao perceber o que sucedia,
implorou para que não a matassem, que se lembrassem dos seus filhos, da tristeza
de D. Pedro, chorou... As suas lágrimas e súplicas, apenas comoveram o Rei que se
retirou, deixando Pêro, Diogo e Álvaro sozinhos com Inês. Os três fidalgos não
tiveram dó nem piedade, apunhalando Inês de Castro a sangue frio. Apesar da sua
morte, nenhum dos problemas que pairavam na cabeça de D. Afonso IV se
resolveu.
22. Quando D. Pedro soube da terrível tragédia, cheio de dor e angústia, declarou
guerra ao pai. Assaltou castelos, matou todos os que passavam à sua frente... Ao fim
de alguns meses, o país não aguentava mais e, após negociações, assinou-se a paz.
Porém, depois da morte de D. Afonso IV, em 1357, D. Pedro subiu ao trono e
mandou procurar os assassinos de Inês. Diogo Lopes Pacheco conseguiu fugir para
França, mas Pêro e Álvaro foram executados. Retiraram-lhes os corações (um pelo
peito e outro pelas costas) e queimaram os seus corpos, enquanto D. Pedro I se
banqueteava.
23. Dois anos mais tarde, D. Pedro I mandou desenterrar Inês de
Castro, sentou-a no trono e, perante todo o povo português, corou-a
Rainha de Portugal e obrigou todos os nobres presentes na coroação,
a beijar a mão da sua amada. Mais tarde, mandou construir um
túmulo para inês e outro para si, encontrando-se os dois no Mosteiro
de Alcobaça, virados um para o outro.