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PASSADOS MAIS DE 15 ANOS DESDE QUE SE DESENVENCILHOU DA GUERRA,
A CROÁCIA, A QUEM COUBE O MAIOR QUINHÃO DE COSTA ADRIÁTICA
NA PARTILHA, UM DOS MARES MAIS PUROS DO MUNDO, ESTÁ EMPENHADA
COMO NUNCA EM FAZER DO TURISMO, MAIS DO QUE UMA MERA VOCAÇÃO,
UMA PRIORIDADE. AFINADA A ESTRATÉGIA, ITÁLIA, GRÉCIA OU TURQUIA
QUE SE CUIDEM Texto de João Miguel Simões | Fotografia de Pedro Sampayo Ribeiro
MIX
CROATA
Parque Nacional de Plitvice;
Dubrovnik (pág. ao lado)
56 J U L H O 2 0 1 0
CROÁCIA
A Croácia não perdoa à vizinha Eslovénia os entraves que esta tem colocado
à sua entrada na União Europeia mas, mesmo sem fazer parte, há já uma
colagem, cada vez mais notória, ao Ocidente.
Por muitos anos, e até por uma compreensível afinidade histórica e proximidade
geográfica, o país, que sempre dependeu do turismo, definia muito a sua
estratégia de promoção em função do que julgava ser o seu maior diferencial
para uma clientela germânica, até perceber que, mudados os tempos
e as vontades, o seu apelo não está mais no naturismo, mas sim no seu
naturalismo e na sua história.
A começar na costa dálmata, pejada de ilhas, banhada pelo Adriático que
Cousteau, paz à sua alma, não hesitou um dia em classificar como um dos
mais limpos do planeta, graças ao seu elevado índice de salubridade, havendo
zonas onde o grau de poluição é quase zero. Mesmo sem praias de areia, a cor
da água, a sua transparência e temperatura cálida são trunfos suficientes para
fazer com que a Croácia esteja a disputar, não tarda taco a taco, o mercado
com outras rivieras no Sul da Europa. Com a vantagem de ser mais barata,
menos conhecida e de, feitas as contas, possuir um invejável património
histórico, fruto da sua permanência no Império Austro-Húngaro ou no Ducado
de Veneza, que lhe dá um cachet muito especial.
Não admira, por isso, que a cada Verão cresça o número de portugueses,
sobretudo jovens, que, às vezes ainda sem grande convicção, e outros já repetentes,
se decidem pela Croácia como destino de férias. Este percurso clássico, uma
espécie de mix croata, vai ao encontro do fenómeno recente que, ou muito
nos enganamos, ou está longe de ser uma moda passageira.
Zagreb a dois tempos
Recordo terem-me contado, em visitas anteriores, que a predilecção dos
zagrebinos por flores é tão grande que, no período de racionamento, havia
filas no mercado de Dolac, na parte alta da capital, junto à pequena igreja de
Santa Maria, para as comprar. Muito tempo se passou desde então, mas lá
estão elas, as flores, em primeiro destaque – assim como as viria a encontrar,
já fora do coração histórico, a sul do rio Sava, no festival floral que, entre Maio
e Junho, atrai milhares de pessoas ao lago e ao parque de Bundek.
Zagreb é uma cidade construída com alguma pompa, com claras reminiscências
Arte Nova e um traçado que lhe vale comparações com Viena ou Budapeste,
com quem sempre teve afinidades e de quem sempre se sentiu mais próxima,
por declarada oposição às suas vizinhas nas ex-repúblicas jugoslavas. Mas não
tem o frenesim habitual nas grandes capitais europeias, cultiva o hábito da
bicicleta e, a contrariar a tez “germânica”, insiste no hábito de encerrar
o expediente por volta das 16 horas para que se possa ficar a ver a vida passar
nas muitas esplanadas que a tomaram de assalto.
Não longe da Catedral da Assunção, no coração de Kaptol, a Tkalcˇic´eva,
uma rua destinada aos peões, é a prova viva do culto dos zagrebinos pelos cafés
e um dos pólos de animação nocturna, graças a bares como o Cica. Aliás,
o centro recupera agora um pouco da sua movida, sobretudo nas artérias
comerciais Ilica, Preradovic´eva ou Dežmanova, onde se sucedem lugares da
moda como o Eli’s Caffè, o Alcatraz, o Apartman ou o Velvet.
Para quem chega a Zagreb sem saber ao certo ao que vai, a rua Radi´eva,
uma espécie de fronteira, mais ou menos espontânea, entre os bairros de Kaptol
e de Gornji Grad (Alta-Zagreb), é uma lição de História. Acontece que Kaptol
e Gornji Grad foram, outrora, duas cidades reais distintas, que disputavam
terras e privilégios, cuja união administrativa só se deu em meados do século
XIX. E se dúvidas houvesse de que estas duas partes de Zagreb já viveram
separadas por grossas muralhas protectoras, bastava olhar para a Porta de Pedra
(Kamenita Vrata), a única porta medieval da cidade, datada do século XIII,
mas reconstruída em 1842. O que impressiona, porém, é este lugar de passagem,
mas mergulhado num silêncio devoto, abrigar um altar e imagens como a de
Santo António (Sv. Antun em croata), invadidos, diariamente, por flores
e orações, numa prova inequívoca de que o Papa João X sabia o que estava
a fazer quando chamou o primeiro rei croata,Tomislav, de “seu querido filho”.
Uma visita à capital croata não fica completa sem uma passagem por outros
marcos incontornáveis como a praça Markov, endereço do Parlamento e da
paramentada Igreja de São Marco Evangelista; sem andar no funicular Uspinjaca,
que liga a Alta à Baixa-Zagreb; sem admirar oTeatro Nacional Croata na praça
MaršalaTitã; ou sem perceber, de olhos postos num mapa, que o centro urbano
beneficiou de um alinhamento em forma de U – a “Ferradura de Lenuzzi” –
de forma a que parques e praças alternem com importantes monumentos.
Apenas resisti a regressar a Mirogoj. Não por falta de interesse, que este
é, sem sombra de dúvida, um dos cemitérios mais monumentais de toda
a Europa, mas por estar mais focado na nova geografia da cidade. Precisamente
aquela que se estende a sul do rio Sava, em bairros do pós-guerra, como Novi
Zagreb e o lago Jarun, onde se concentram agora novidades arquitectónicas
como o Museu de Arte Contemporânea (MUS, www.msu.hr), reinaugurado
em finais de 2009 num edifício de ponta que custou 60 milhões de euros,
ou o estádio Zagreb Arena.
Por ironia, boa parte dos zagrebinos ainda não se deu conta do imenso
A HÁ QUEM COMPARE,
E COM RAZÃO,
ZAGREB A VIENA
OU BUDAPESTE,
O QUE NÃO
É DE ESTRANHAR
SE PENSARMOS QUE,
DURANTE MUITO
TEMPO, FEZ PARTE
DO IMPÉRIO
AUSTRO-HÚNGARO
A Igreja de São João Evangelista (em cima, à esq.), fica a poucos passos do mercado de Dolac
(em cima, ao centro), onde, além das flores, se vendem produtos frescos.Ainda na cidade
alta, a ruaTkalcˇic´eva (em cima, à dir.) vive num constante vaivém graças aos seus muitos
cafés.A melhor vista sobre Zagreb (em baixo, à esq.) é avistada junto ao funicular, não longe
da praça principal (em baixo, à dir.), onde continua, solene, a estátua equestre de Jelacˇic´.
CROÁCIA
J U L H O 2 0 1 0 59
potencial do MUS e de como este tem trunfos de sobra para se tornar, a breve
prazo, uma das suas atracções mais visitadas: não só pelo acervo, que é
francamente bom, mas também enquanto apostarem em exposições temporárias
como a que está patente este Verão, dedicada aos britânicos Gilbert & George.
Já Jarun, no sudoeste, revela, com os seus dois lagos (um para a prática desportiva
e outro para nadar) e impressionante contingente de bares e lounges hip, como
o Aquarius, a toda a volta, uma outra Zagreb: mundana, hedonista e feliz.
Plitvice, a força da natureza
Da capital até ao Parque Natural de Plitvice, grande bandeira do turismo
croata, são cerca de duas horas de estrada. Quem vê, hoje, a transparência
e o belíssimo azul dos seus lagos, só muito dificilmente não se convence de
estar a ser testemunha de uma grande lição dada pela Natureza.
Entre 1991 e 1995, Plitvice, Património Mundial da UNESCO desde 1979,
esteve no centro de acesas disputas territoriais entre a Guarda Nacional Croata,
por um lado, e o Exército Federal e os guerrilheiros sérvios, por outro. Por
duas vezes, primeiro em 1996 e depois em 1997, estive aqui e muitas das
feridas continuavam abertas, por muito que na época se sentisse já uma vontade
imensa de desfrutá-lo em toda a sua plenitude. À terceira, diz-se, é de vez;
talvez por isso, este meu regresso, tantos anos depois, teve um sabor especial.
Plitvice é um dos sete parques nacionais da Croácia – 7,5% do seu território
está sob protecção ambiental – e teve a “infelicidade” de se encontrar numa
região que, durante a guerra, se tornou, qual espinho cravado no orgulho
croata, uma espécie de república sérvia autónoma, a Krajina.
A Croácia acabou por recuperar a região, é certo, mas, ao contrário de outras
partes do país, onde já quase não havia traços de uma guerra, ficou com um
“outro país” dentro das suas fronteiras, completamente destroçado e sem
vivalma – está em curso uma campanha governamental para atrair cidadãos
nacionais para a região, oferecendo os alicerces de casas geminadas, que cada
família completará de acordo com as suas posses e necessidades. Quis uma
cruel ironia do destino que a mais visitada e preciosa atracção natural da Croácia
tivesse ficado, durante quatro penosos anos, nas mãos dos rebeldes sérvios.
Quinze anos depois, regozijo-me por reencontrar o parque de boa saúde,
com novas trilhas de várias horas e diferentes graus de dificuldade, uma crescente
infra-estrutura de apoio (como restaurantes e hotéis), os passadiços em madeira
de castanheiro recuperados e barcos que permitem fazer uma transição mais
rápida entre os lagos superiores, os mais afectados, e os da parte baixa.
Situado num vale aninhado entre duas montanhas densamente florestadas,
Mala Kapela e Pljesivica, a sudeste do maciço central da Croácia, Plitvice cobre
uma área de 200 quilómetros quadrados, dos quais cerca de dois estão ocupados
por 16 lagos, ligados por 92 cascatas e quedas de água. É um lugar de beleza
avassaladora, com uma grande variedade de espécies animais e vegetais (muitos
animais fugiram espavoridos durante a guerra), mas o que o torna verda-
deiramente único passa por um fenómeno natural bastante singular que, pelos
cálculos feitos, tem vindo a decorrer nos últimos 4000 anos, a um ritmo
incansável, que não pára de mudar a fisionomia da área.Tecnicamente falando,
os lagos e as cascatas deste parque resultaram do labor milenar das águas dos
rios que correm na região e que não se cansam de desgastar e rasgar as entranhas
da terra e das rochas por onde passam, deixando atrás de si um rasto de
carbonatos de cálcio e de magnésio que, em conjunto com um tipo especial
de alga, estão na origem de uma matéria a que se dá o nome de travertino.
Esta matéria, por sua vez, vai ficando depositada no fundo, acabando por criar
verdadeiras barreiras naturais que condicionam as formas dos lagos, dispostos
em diversos patamares, e provocam o aparecimento de quedas de água e cascatas.
A visão conjunta dos lagos, de um azul-esverdeado opaco, emoldurados por
encostas de formas generosas, de onde se precipitam compactas cortinas de
água em queda vertiginosa, não deixa ninguém indiferente. Diante de tamanha
grandeza é inevitável sentirmo-nos esmagados por uma obra notável da natureza
que a engenharia dificilmente igualaria. Mas, se me é permitido o remoque,
acrescentarei que a sensação de êxtase só não é total porque, sobretudo nos
A MEIO CAMINHO ENTRE A CAPITAL E A COSTA DÁLMATA, O PARQUE
NACIONAL DE PLITVICE REVELA O ESPLENDOR DA CROÁCIA NATURAL
Alvo das disputas territoriais entre croatas e sérvios,o Parque Nacional de Plitvice (pág.ao lado) é a prova viva da capacidade regeneradora da Natureza e mantém-se como uma das principais
atracções do país. Nesta pág.: na capital, o caféVelvet, que também é uma loja; o lago Jarun; e o novo Museu deArte Contemporânea.
60 J U L H O 2 0 1 0
SE SPLIT CONSEGUE
A PROEZA DE SER UM
MUSEU AO AR LIVRE
SEM SE TORNAR
NUNCA MAÇADORA
OU EXCESSIVA, JÁ
HVAR, AO LARGO,
SURGE, COM A SUA
BAÍA PERFEITA, COMO
UM CONTRAPONTO
MAIS MUNDANO
E VOLTADO PARA
O DOLCE FAR NIENTE
meses de Julho e Agosto, o fluxo de visitantes é enorme. O turismo é absolu-
tamente necessário à manutenção deste parque e faz todo o sentido que algo
tão precioso seja partilhado com a Humanidade; apenas se pede, e espera, que
não se perca de vista a preocupação de o fazer de forma sustentada.
Split, ocidente versus oriente
Nos canteiros que enfeitam o longo passeio marítimo, conhecido por Riva,
foram plantadas várias ervas aromáticas, com destaque para a alfazema, que
deixa o ar adocicado. Aberto para o concorrido porto, onde desde há muito
se embarca para ir veranear em Vis, Hvar ou Bra, e sobranceiro à praça catita
da Republike, que lembra a de São Marcos em Veneza, o Riva, mais do que
um lugar de passagem, é um ponto para se estar. Com várias esplanadas
perfiladas, abrigadas sob uma pesada artilharia de toldos enfunados ao vento,
frente ao casario nobre carcomido, este passeio não se livrou da polémica
recente, tendo sido, inclusive, alvo de boicote, pois muitos dos filhos de Split
não gostaram nada do que foi feito para o modernizar.Terão a sua quota-parte
de razão, mas, que não me ouçam, eu gostei do que vi.
Mas esta é a Split que se agiganta para lá das frondosas muralhas, e que não
pára de crescer, ainda que se diga – não obstante o cada vez mais pesado
contingente hoteleiro e o número crescente de autocarros, que devem ficar
confinados à zona do porto para não atrapalhar as vistas – estar a evitar cometer
os mesmos erros e despautérios que Dubrovnik. O seu maior encanto, por
muitas voltas que se dê, está intramuros, no palácio de Diocleciano,
o imperador de origem humilde nascido em Salona, hoje território croata, que
teve um dos reinados mais longos e que foi preponderante para assegurar
a sobrevivência do domínio romano por mais uma época. Suprema ironia: ele
que foi o último imperador pagão, ao ponto de não ter hesitado em mandar
matar a mulher e filha convertidas ao cristianismo, assegurou a estabilidade
necessária à transição para o Império Bizantino.
A entrada faz-se por uma galeria subterrânea, que nos remete, em menor
escala, para o Grande Bazar de Istambul, mas, à excepção de algumas galerias
que permanecem ao abrigo das paredes com dois metros de espessura, e que
são determinantes para termos a noção aproximada do que teria sido este
fabuloso palácio rectangular, nada se compara ao privilégio de errar pelas ruas
e vielas que permanecem no seu perímetro e que, desde muito cedo, ainda
antes de Cristo descer à terra, começaram a ser habitadas pelos refugiados de
Salona. Essa particularidade deu-lhe uma atmosfera única, pois, além de casas
particulares, há agora lojas, bares e até hotéis a espreitar em cada esquina.
No pátio interior de Peristil, entre colunas e esfinges egípcias e o antigo
mausoléu de Diocleciano convertido em igreja, a sensação de estarmos num
museu a céu aberto é total, ainda mais se a isto juntarmos a mistura babilónica
de línguas que se escuta entre os que, embevecidos, se sentam, ao lusco-fusco,
nos degraus ocupados pelo Café Luxor. Por uma feliz coincidência, o burburinho
não chega a ser estridente, como se, tacitamente, ninguém quisesse ser
desmancha-prazeres. E se alguma voz se eleva, é para cantar e nos deliciar.
Hvar, a cidade-ilha
Para além de um ferry para viaturas, que demora o dobro do tempo, existe um
serviço regular de catamarã que liga, em uma hora, Split à cidade de Hvar.
Por pouco mais de três euros por cada trajecto é possível fazer uma viagem
cómoda e sossegada, até certo ponto, assim consiga fazer orelhas moucas aos
que entram em clima de festa em mar alto.
Depois de Dubrovnik, Hvar é a grande coqueluche da costa dálmata e um
íman para atrair, a cada nova temporada estival, mais e mais jet set a bordo de
iates e veleiros. Colonizada pelos gregos da ilha de Paros (que significa farol,
sendo Hvar o sinónimo em croata), esta cidade dá-se ares de “PequenaVeneza”,
o que não é de estranhar: integrou, durante boa parte da sua existência, o
ducado veneziano (os italianos chamavam-lhe Lesina, ou seja “floresta”) e ainda
hoje marca uma fronteira invisível, mas perceptível, entre o modus vivendi
mais “germânico” do Norte da Croácia e o seu tempero assumidamente
mediterrânico.
Logo à chegada, torna-se igualmente claro que a vida da cidade – que no
pico do Verão passa de 3000 habitantes para uma média diária de 30.000
visitantes! – se organiza em torno da baía, disputada por hotéis, cafés, bares
e até clubes de praia, com as excepções por conta da praça contígua, a Pjaca,
e da fortaleza altaneira, sem dúvida alguma o melhor ponto para se ter uma
visão de águia sobre Hvar.
Ao largo, várias ilhas, que mais parecem carapaças de tartaruga, compõem,
juntamente com o casario e os pináculos, um cenário tão acima de suspeita
que a lenda da sua formação, associada a um susto que Zeus terá pregado
a Neptuno, ao surpreendê-lo em pleno acto amoroso, só torna mais delicioso.
Mas Hvar não é apenas a cidade que faz as vezes de porto de entrada,
é também o nome de toda uma ilha, esguia como uma lança apontada a terra
firme. São vários os pontos de interesse, mas uma das excursões mais comuns
passa por ir até Stari Grad, a leste, a escassos 16 quilómetros.
O caminho, bastante acidentado, permite vislumbrar não só a costa recortada,
com encostas sulcadas até ao mar, como espreitar algumas das baías e praias
de cartão-postal, ao largo das quais ficam ancorados muitos dos iates e veleiros
de luxo que navegam por estas águas de um azul estonteante. Mas, para quem
faz o trajecto entre finais de Junho e princípios de Julho, há um outro atractivo,
que passa por admirar as alfazemas em flor, dispostas por vários socalcos ganhos
a duras penas ao solo pedregoso. A Croácia, é bom dizê-lo, é uma das principais
produtoras mundiais de alfazema, sendo Hvar o epicentro dessa cultura,
Em Split (pág. ao lado, em cima, ao centro) é obrigatório ficar a ver a vida passar no Luxor
(em cima, à dir.) e nas suas muitas esplanadas (em baixo, à dir.).A ilha de Hvar (nesta pág.
e na pág. ao lado, em cima e em baixo, à esq.) recebe velejadores e jet set atraídos pelas
suas praias e ambiente festivo.
CROÁCIA
CROÁCIA
MAIS DO QUE APENAS UMA COSTA PEJADA DE ILHAS, BANHADA POR UM
ADRIÁTICO QUE LEMBRA O MAR DAS CARAÍBAS, A CROÁCIA POSSUI
OUTROS ENCANTOS, QUE PASSAM PELA HISTÓRIA, NATUREZA E BOA VIDA
Uma das ruas no centro
de Dubrovnik e o Parque
Natural de Plitvice
ao ponto de ter abastecido, durante anos, a indústria de perfumes francesa.
Sob os auspícios da UNESCO desde 2008, Stari Grad, fora da agitação dos
festivais de música e teatro estivais, continua bastante pacata, com ares de
cidadezinha adormecida.
O núcleo histórico está vedado aos carros e mantém uma disposição que
lembra as típicas choras gregas, mas Stari Grad, para já a salvo de maiores
confusões, está a investir no melhoramento da sua infra-estrutura, contando
com vários cafés-galeria muito aprazíveis, bem como trilhas para quem quer
pedalar a ilha. É, todavia, na sua baía, onde um dedo de mar avança pela
cidade antiga como quem fura um bolo, que nos surge como uma Hvar
em miniatura.
Mais modesta, sobretudo em património, Jelsa é outro ponto importante
de escala na costa de Hvar, contando com bons restaurantes de peixe que
se perfilam no seu porto. À volta, algumas das praias que estão a catapultar
Hvar como uma alternativa de riviera dálmata, capaz de rivalizar com a italiana
ou a turca.
Mas é agora hora de zarpar para Sucuraj e de voltar costas a Hvar. A viagem
de ferry até ao continente não demora muito mais do que 30 minutos, ainda
que o próximo destino se encontre fundeado no extremo de uma quase-ilha,
a península de Pelješac, já na riviera de Dubrovnik.
Ston, afrodisíaca
Para chegar a Ston, uma pequena cidade medieval, há que atalhar. Para
o conseguir, nada melhor do que um “corta-mato” por território da Bósnia-
-Herzegovina. Não chega a haver um controlo efectivo dos passaportes, embora
seja obrigatório tê-los à mão, para desgosto de todos aqueles que gostariam de
aproveitar o inesperado bónus para conseguir um carimbo para a sua colecção.
Esta espécie de soft border, um resquício do mapa complicado da antiga
Jugoslávia, funciona também como um amuse-bouche para o que se seguirá
em Ston. Rodeada de montanhas espessas e adornada por baías recortadas,
Ston, de um lado, e Mali (Pequena) Ston, do outro, são uma boa surpresa
para quem ali vai apenas para cumprir parte do programa. A “Grande” Ston,
em boa verdade, resume-se a meia dúzia de ruas traçadas à esquadria, com um
punhado convincente de casas brasonadas, mas o que causa maior espanto
é a extensão da muralha que, a lembrar a da China – com a devida liberdade
poética –, sobe e desce a montanha, ligando as duas Ston ao jeito dos quebra-
-cabeças em que é preciso unir os vários pontos para formar um desenho.
Com um total de 5,5 quilómetros, estas muralhas são as mais extensas da
Europa, pelo que percorrê-las exige tempo e fôlego. Do alto, virado para
o mar, alcanço não só a cidade medieval mas também as salinas, das quais se
extrai, de forma artesanal, a flor de sal marinho que, mais ou menos refinado,
tenta não quebrar a tradição secular – nos seus pergaminhos, estas salinas
reclamam ser uma das mais antigas em funcionamento – e conquistar uma
vaga no cada vez mais disputado mercado gourmet.
Já na baía abrigada da “Pequena” Ston, o que chama a atenção são os viveiros
de mexilhões e ostras, as mais afamadas em toda a Croácia. Quem se sente no
direito de estabelecer comparações diz que as ostras do Adriático, uma variedade
mais pequena que responde pelo nome de Ostrea Edulis, possuem uma carne
mais rija e um sabor mais intenso do que as do Atlântico. Não vou tão longe,
mas tão cedo não esquecerei o festim de ostras e de outros frutos do mar que
me foram servidos no restaurante Villa Koruna.
Dubrovnik, o cartão-postal
O mapa diz que de Ston a Dubrovnik são 50 quilómetros mas, ainda assim,
a viagem dura mais de uma hora por estrada. A chegada tardia, que encaro
como uma contrariedade, acaba por se revelar providencial. Não só me coloca
a salvo do vaivém de autocarros que, sobretudo nas manhãs de sábado (dia
escolhido pelos cruzeiros no Adriático para fazerem escala na cidade), não dá
descanso, como me permite vislumbrar, de longe, a parte antiga, amuralhada
como num conto de Avalon.
Ao contrário do que sucedeu na restante costa dálmata, Dubrovnik não
durou muito tempo nas mãos da “Sereníssima República” de Veneza e tomou
as rédeas do seu destino enquanto Ragusa e assim foi até à chegada de Napoleão,
primeiro, e da integração no Império Austro-Húngaro, a seguir.
No século XX, foi testada várias vezes e muitas vezes se viu reduzida ao papel
ingrato de museu a céu aberto incapaz de sustentar os seus (que se viram
forçados a emigrar para a América), por mais queTito, ao leme da Jugoslávia,
a tenha promovido a “Pérola do Adriático”.
Nada, porém, comparado com o horror que se seguiu à declaração de
independência da Croácia em 1991. As montanhas em redor de Dubrovnik
– Património Mundial da UNESCO – foram alvo de bombas incendiárias
(ao que se crê, de fósforo), lançadas pelos sérvios durante uma ofensiva em
Outubro do mesmo ano. O resultado foi a consumição pelo fogo de sete
a dez hectares, numa faixa de 25 quilómetros até à fronteira com a República
de Montenegro. A própria cidade não foi poupada, uma vez que a ofensiva
de Dezembro de 1991, que deixou o mundo chocado, provocou, segundo
números oficiais, o bombardeamento de 63% dos edifícios, a total destruição
pelo fogo de mais 2,5% e fez com que todos os monumentos da cidade fossem,
de uma maneira ou outra, afectados pelos ataques aéreos.
Por ar, terra e mar, Dubrovnik foi atacada e isso, embora não desculpe de
todo a insistência com que nos recordam, a cada esquina, essas perdas, ajuda
a perceber que o tempo passado ainda não tenha sido suficiente para apaziguar
a raiva. Aliás, e por muito que tenha sido feito um trabalho acelerado de
64 J U L H O 2 0 1 0
Apesar das praias, a cidade de Hvar cultiva os clubes de dia, como Bonj Les Bains (à esq.).
Mais a sul, Ston ganha fama pelas suas belíssimas ostras (ao lado, em cima, ao centro),
ao passo que Dubrovnik (em baixo) se assume ainda como a “Pérola doAdriático” e aposta
em lugares da moda, como o Gil’s (em cima, à esq.), sem esquecer atracções incontornáveis
como o Stradun (em cima, à dir.).
DUBROVNIK
FAZ QUESTÃO
DE RECORDAR,
A CADA ESQUINA,
OS ATENTADOS QUE
SOFREU, MAS, LONGE
DE SER AMARGA, É
UMA CIDADE ALEGRE,
CASAMENTEIRA
E QUE, A CADA VERÃO,
SE AFIRMA COMO
POTÊNCIA TURÍSTICA
CROÁCIA
66 J U L H O 2 0 1 0
CROÁCIA
A decoração é exótica q.b., com
toques contemporâneos,
e a ementa muito caprichada, com
um menu de três pratos a €40.
Lucin Kantun – Old Sigurate
O ambiente é clean, mas a comida
está longe de ser simples, pois,
ainda que servida em pequenas
doses de degustação, é executada
com capricho.Acessível.
ONDE SAIR
ZAGREB
Eli’s Caffè – Ilica, 63, eliscaffe.com
Dos mais animados e trendies
da cidade, com degustação
de lotes especiais nas primeiras
sextas-feiras de cada mês.
COMO IR
A TAP (www.flytap.com) voa
para Zagreb, via Bolonha, por
tarifas desde €179,26.Vários
operadores dispõem de programas
que incluem voos e sete noites de
alojamento com pequeno-almoço
por apenas €477 em Julho.
Os destinos mencionados nesta
reportagem estão ligados entre
si por autocarros, ferries
ou catamarãs.
ONDE FICAR
Informe-se junto do Turismo
da Croácia da possibilidade
de arrendar apartamentos nas
várias cidades sugeridas pois, regra
geral, o preço por noite varia entre
os €50 e €100. Em matéria de
hotéis, na capital croata elegemos
o refinado Regent Esplanade
(www.regenthotels.com/zagreb,
desde €159) e o recente Westin
Zagreb (www.westin.com/zagreb,
desde €135); em Split, com ares
de resort, Le Méridien Grand Hotel
Lav (wwwlemeridien.com/split,
desde €115); na Cidade de Hvar,
o hotel de design Riva
(www.suncanihvar.hr, desde
€167); em Dubrovnik, o renovado
Hotel Bellevue (www.hotel-
bellevue.hr, desde €250) ou,
com uma vista excelente, o Hotel
Excelsior (www.hotel-excelsior.hr,
desde €250).
ONDE COMER
ZAGREB
Marcellino – Jurjevska, 71,
www.marcellino.hr
É o grande acontecimento
gourmet da cidade, a cargo
do chef Mario Cerhak, mas
um jantar para dois não sai por
menos de €150. No mesmo
prédio abriu o Hugo, onde
se pode degustar as suas criações
a preços mais simpáticos.
Zinfandel’s – Regent Esplanade,
Mihanovi eva, 1
Se não puder ficar alojado
na grande dama zagrebina dos
hotéis, não se poupe ao prazer
de almoçar aqui (menu de dois
pratos desde €25) para degustar
as criações do chef maltês Jeffrey
J.Vella. No bistro do hotel, mais
em conta, fazem o melhor štrukli,
pastel recheado de queijo.
SPLIT
Šperun – Šperun, 3
Intimista, tem no prof. Zdravko
Banovi um anfitrião de primeira,
habituado a receber figuras
ilustres como o actor, e agora
“trota-mundo”, Michael Palin.
Buffet de especialidades dálmatas
e mediterrânicas, bom peixe fresco
e preços muito razoáveis.
HVAR
Restoran Luviji – Iza Katedrala,
Cidade Hvar
Pequeno restaurante de comida
caseira, gerido por uma família
local, onde as mesas são poucas
para apreciar especialidades
dálmatas e pratos como
o esparguete de lagosta.
STON
Villa Korcula – Solana Ston,
Pelješki, 1, www.solanaston.hr
Do mesmo proprietário das
salinas, é um restaurante de
excelência para degustar ostras.
DUBROVNIK
Proto – Široka, 1,
www.esculap-teo.hr
Dos mesmos proprietários
do elegante Nautika, é ideal para
comer peixe e marisco da melhor
qualidade. Serviço a condizer.
Gil’s – No prestigiado guia Gault
Millau, edição de 2010, ficou
entre os três melhores
restaurantes da Croácia.
pelos dois andares, que alternam
os melhores DJs.
SPLIT
Luxor – Kraj sv Ivana
O nome tem que ver com
a temática deste café, que foi
buscar inspiração à esfinge
no pátio de Peristil.
Art Lounge Bar – Šubi eva, 3
É, dos espaços recentes, o mais
impressionante.
Hedonist – Put Firule
O espaço, com almofadas
coloridas e cadeiras em forma de
ponto de interrogação, é pequeno
para acolher a beautiful people.
HVAR
Bar Adriana – Hotel Adriana,
Cidade de Hvar
Fica no último andar, com uma
vista incrível para a baía, e atrai
uma clientela de clubbers.
Carpe Diem Beach & Cocktail
Bar – Riva, Cidade de Hvar
É, há anos, um lugar para ver e
ser visto, mas, no Verão, montam
também um verdadeiro clube
de praia, em Marinkovac (baía
de Stipanska) sempre em clima
de festa, com spa e restaurante.
Chuara – Frontão marítimo, Jelsa
É o lounge do momento, aberto,
com pompa e circunstância, por
um londrino de origem croata.
DUBROBNIK
Gil’s Pop Lounge – Sv
Dominika, www.gilsdubrovnik.com
Não é só “o” restaurante da
cidade, é também o cocktail-bar
mais chique e disputado.
East-West – Banje Beach, Frana
Supila, www.ew-dubrovnik.hr
Clube de praia de dia e à noite
transforma-se em disco.
Latino Club Fuego – Brsalje, 11
Não se deixe levar pelo nome.
É uma discoteca, junto ao Pile,
muito concorrida, onde, regra
geral, se termina a noite.
MAIS INFORMAÇÕES
Em Portugal: Jervis Pereira, Rua da
Cova da Moura, 2, 5.º dto., 1350
Lisboa, tel. 213 808 514
Em Espanha: Oficina de Turismo
de Croacia, C/Claudio Coello, 22,
Madrid, tel. 0034 917 815 514,
www.oficinadeturismo.net
GUIA PRÁTICO
Agradecemos a colaboração da Oficina de Turismo de Croácia
na realização desta reportagem.
Sedmica – Kacˇic´eva, 7A
Lugar de culto, com uma clientela
essencialmente ligada às artes.
Velvet – Dežmanova, 9,
www.velvet.hr
Misto de loja conceptual, a cargo
da mais conhecida florista da
cidade, Saša Šekoranja, e café.
Lemon Bar & Club – Gajeva,
10, www.lemon.hr
Durante o dia, o café chique
possui um serviço de esplanada,
mas, à noite, a pista de dança
é procurada pelo house.
Aquarius – Aleja Matije Ljubeka,
www.aquarius.hr
É um dos spots incontornáveis
de Jarun, não só pelo seu lounge
virado para o lago, mas também
renovação, as marcas continuam visíveis, sobretudo em monumentos como o mosteiro
dominicano, onde se encontra uma das farmácias mais antigas da Europa, ou a catedral,
que, à excepção da sala do tesouro, foi totalmente refeita por dentro e nunca mais terá
de volta o seu esplendor barroco.
Que esta minha observação mais crua dos factos não conduza ninguém a julgamentos
precipitados. Dubrovnik recuperou por inteiro a sua “joie de vivre” e é uma cidade
alegre, casamenteira e festeira. Para comprová-lo basta calcorrear o Stradun, a ala de
300 metros que funciona como eixo de gravitação na cidade antiga, em redor da qual
se distribuem vários edifícios nobres medievais. Atrevo-me, porém, a dizer que, para
lá do prazer de percorrer as muralhas ao entardecer (o que nos permite uma melhor
noção desta sua geografia estratégica tão peculiar), o verdadeiro gozo está em metermo-
-nos pelas muitas ruazinhas perpendiculares que saem do Stradun e, através de escadarias
íngremes e floridas, desembocam em outras paralelas, onde, com maior desafogo,
podemos desfrutar de lojas, cafés, galerias e restaurantes pitorescos.
Dubrovnik, como toda a Croácia, ainda não tem os seus preços inflacionados para
lá do razoável, mas nota-se, de dia para dia, que começa a haver um upgrade, de que
lugares como o restaurante Gil’s é um bom exemplo, até para estar à altura de uma
Oprah Winfrey, que dizem ter andado à procura de casa no Stradun, ou do actor
Kevin Spacey, que arrendou uma vila privada do hotel Excelsior para comemorar
o seu 50.º aniversário.
Claro que hóspedes deste calibre raramente são vistos a deambular nas ruas da cidade
ou a tomar banhos de sol na praia municipal, Banje, junto ao portão de Plocˇe (existe
uma outra, Sveti Jakov, 20 minutos a pé do centro, não sendo raros os hotéis, como
o Bellevue, que possuem a sua praia privativa), que os locais passaram a boicotar desde
que boa parte foi “cedida” ao clube East-West.
Felizmente, não tenho esse problema: a minha preocupação resume-se a querer
desfrutar de Dubrovnik só a partir do momento em que esta se começa a esvaziar dos
seus visitantes de meia jornada. Da última vez que aqui estive, num final chuvoso
do Outono de 1997, retive a imagem de um coro a ensaiar na catedral esventrada
e do Stradun, ao final do dia, iluminado por uma luz pardacenta que as suas pedras
gastas reflectiam. É essa mesma luz que revejo agora, já a madrugada vai alta, num
Stradun deserto, não fossem os poucos que ainda o atravessam a caminho dos bares
e discotecas, como o Latino Club Fuego, que ficam no Pile, a outra porta de entrada,
ou saída. Sem pensar duas vezes, saco a máquina do bolso e faço a foto. Para me
continuar a recordar de uma Dubrovnik capaz de sobreviver às maiores provações.
Inclusive a das multidões. n
Se cidades como Dubrovnik (à esq.) surpreendem pela sua arquitectura medieval, portos como Jelsa
(à dir.), na ilha de Hvar, proporcionam umas férias ao estilo mediterrânico
Regent Esplanade,
Zagreb
Regent Esplanade,
Zagreb
Le Méridien,
Split
Riva Hotel, Hvar
Le Méridien,
Split
©Rotas&Destinos
DUBROVNIK
SPLIT
PLITVICE
STON
HVAR
STARI
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SUC´URAJVIS
ZAGREB
C r o á c i a
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  • 1. PASSADOS MAIS DE 15 ANOS DESDE QUE SE DESENVENCILHOU DA GUERRA, A CROÁCIA, A QUEM COUBE O MAIOR QUINHÃO DE COSTA ADRIÁTICA NA PARTILHA, UM DOS MARES MAIS PUROS DO MUNDO, ESTÁ EMPENHADA COMO NUNCA EM FAZER DO TURISMO, MAIS DO QUE UMA MERA VOCAÇÃO, UMA PRIORIDADE. AFINADA A ESTRATÉGIA, ITÁLIA, GRÉCIA OU TURQUIA QUE SE CUIDEM Texto de João Miguel Simões | Fotografia de Pedro Sampayo Ribeiro MIX CROATA Parque Nacional de Plitvice; Dubrovnik (pág. ao lado)
  • 2. 56 J U L H O 2 0 1 0 CROÁCIA A Croácia não perdoa à vizinha Eslovénia os entraves que esta tem colocado à sua entrada na União Europeia mas, mesmo sem fazer parte, há já uma colagem, cada vez mais notória, ao Ocidente. Por muitos anos, e até por uma compreensível afinidade histórica e proximidade geográfica, o país, que sempre dependeu do turismo, definia muito a sua estratégia de promoção em função do que julgava ser o seu maior diferencial para uma clientela germânica, até perceber que, mudados os tempos e as vontades, o seu apelo não está mais no naturismo, mas sim no seu naturalismo e na sua história. A começar na costa dálmata, pejada de ilhas, banhada pelo Adriático que Cousteau, paz à sua alma, não hesitou um dia em classificar como um dos mais limpos do planeta, graças ao seu elevado índice de salubridade, havendo zonas onde o grau de poluição é quase zero. Mesmo sem praias de areia, a cor da água, a sua transparência e temperatura cálida são trunfos suficientes para fazer com que a Croácia esteja a disputar, não tarda taco a taco, o mercado com outras rivieras no Sul da Europa. Com a vantagem de ser mais barata, menos conhecida e de, feitas as contas, possuir um invejável património histórico, fruto da sua permanência no Império Austro-Húngaro ou no Ducado de Veneza, que lhe dá um cachet muito especial. Não admira, por isso, que a cada Verão cresça o número de portugueses, sobretudo jovens, que, às vezes ainda sem grande convicção, e outros já repetentes, se decidem pela Croácia como destino de férias. Este percurso clássico, uma espécie de mix croata, vai ao encontro do fenómeno recente que, ou muito nos enganamos, ou está longe de ser uma moda passageira. Zagreb a dois tempos Recordo terem-me contado, em visitas anteriores, que a predilecção dos zagrebinos por flores é tão grande que, no período de racionamento, havia filas no mercado de Dolac, na parte alta da capital, junto à pequena igreja de Santa Maria, para as comprar. Muito tempo se passou desde então, mas lá estão elas, as flores, em primeiro destaque – assim como as viria a encontrar, já fora do coração histórico, a sul do rio Sava, no festival floral que, entre Maio e Junho, atrai milhares de pessoas ao lago e ao parque de Bundek. Zagreb é uma cidade construída com alguma pompa, com claras reminiscências Arte Nova e um traçado que lhe vale comparações com Viena ou Budapeste, com quem sempre teve afinidades e de quem sempre se sentiu mais próxima, por declarada oposição às suas vizinhas nas ex-repúblicas jugoslavas. Mas não tem o frenesim habitual nas grandes capitais europeias, cultiva o hábito da bicicleta e, a contrariar a tez “germânica”, insiste no hábito de encerrar o expediente por volta das 16 horas para que se possa ficar a ver a vida passar nas muitas esplanadas que a tomaram de assalto. Não longe da Catedral da Assunção, no coração de Kaptol, a Tkalcˇic´eva, uma rua destinada aos peões, é a prova viva do culto dos zagrebinos pelos cafés e um dos pólos de animação nocturna, graças a bares como o Cica. Aliás, o centro recupera agora um pouco da sua movida, sobretudo nas artérias comerciais Ilica, Preradovic´eva ou Dežmanova, onde se sucedem lugares da moda como o Eli’s Caffè, o Alcatraz, o Apartman ou o Velvet. Para quem chega a Zagreb sem saber ao certo ao que vai, a rua Radi´eva, uma espécie de fronteira, mais ou menos espontânea, entre os bairros de Kaptol e de Gornji Grad (Alta-Zagreb), é uma lição de História. Acontece que Kaptol e Gornji Grad foram, outrora, duas cidades reais distintas, que disputavam terras e privilégios, cuja união administrativa só se deu em meados do século XIX. E se dúvidas houvesse de que estas duas partes de Zagreb já viveram separadas por grossas muralhas protectoras, bastava olhar para a Porta de Pedra (Kamenita Vrata), a única porta medieval da cidade, datada do século XIII, mas reconstruída em 1842. O que impressiona, porém, é este lugar de passagem, mas mergulhado num silêncio devoto, abrigar um altar e imagens como a de Santo António (Sv. Antun em croata), invadidos, diariamente, por flores e orações, numa prova inequívoca de que o Papa João X sabia o que estava a fazer quando chamou o primeiro rei croata,Tomislav, de “seu querido filho”. Uma visita à capital croata não fica completa sem uma passagem por outros marcos incontornáveis como a praça Markov, endereço do Parlamento e da paramentada Igreja de São Marco Evangelista; sem andar no funicular Uspinjaca, que liga a Alta à Baixa-Zagreb; sem admirar oTeatro Nacional Croata na praça MaršalaTitã; ou sem perceber, de olhos postos num mapa, que o centro urbano beneficiou de um alinhamento em forma de U – a “Ferradura de Lenuzzi” – de forma a que parques e praças alternem com importantes monumentos. Apenas resisti a regressar a Mirogoj. Não por falta de interesse, que este é, sem sombra de dúvida, um dos cemitérios mais monumentais de toda a Europa, mas por estar mais focado na nova geografia da cidade. Precisamente aquela que se estende a sul do rio Sava, em bairros do pós-guerra, como Novi Zagreb e o lago Jarun, onde se concentram agora novidades arquitectónicas como o Museu de Arte Contemporânea (MUS, www.msu.hr), reinaugurado em finais de 2009 num edifício de ponta que custou 60 milhões de euros, ou o estádio Zagreb Arena. Por ironia, boa parte dos zagrebinos ainda não se deu conta do imenso A HÁ QUEM COMPARE, E COM RAZÃO, ZAGREB A VIENA OU BUDAPESTE, O QUE NÃO É DE ESTRANHAR SE PENSARMOS QUE, DURANTE MUITO TEMPO, FEZ PARTE DO IMPÉRIO AUSTRO-HÚNGARO A Igreja de São João Evangelista (em cima, à esq.), fica a poucos passos do mercado de Dolac (em cima, ao centro), onde, além das flores, se vendem produtos frescos.Ainda na cidade alta, a ruaTkalcˇic´eva (em cima, à dir.) vive num constante vaivém graças aos seus muitos cafés.A melhor vista sobre Zagreb (em baixo, à esq.) é avistada junto ao funicular, não longe da praça principal (em baixo, à dir.), onde continua, solene, a estátua equestre de Jelacˇic´.
  • 3. CROÁCIA J U L H O 2 0 1 0 59 potencial do MUS e de como este tem trunfos de sobra para se tornar, a breve prazo, uma das suas atracções mais visitadas: não só pelo acervo, que é francamente bom, mas também enquanto apostarem em exposições temporárias como a que está patente este Verão, dedicada aos britânicos Gilbert & George. Já Jarun, no sudoeste, revela, com os seus dois lagos (um para a prática desportiva e outro para nadar) e impressionante contingente de bares e lounges hip, como o Aquarius, a toda a volta, uma outra Zagreb: mundana, hedonista e feliz. Plitvice, a força da natureza Da capital até ao Parque Natural de Plitvice, grande bandeira do turismo croata, são cerca de duas horas de estrada. Quem vê, hoje, a transparência e o belíssimo azul dos seus lagos, só muito dificilmente não se convence de estar a ser testemunha de uma grande lição dada pela Natureza. Entre 1991 e 1995, Plitvice, Património Mundial da UNESCO desde 1979, esteve no centro de acesas disputas territoriais entre a Guarda Nacional Croata, por um lado, e o Exército Federal e os guerrilheiros sérvios, por outro. Por duas vezes, primeiro em 1996 e depois em 1997, estive aqui e muitas das feridas continuavam abertas, por muito que na época se sentisse já uma vontade imensa de desfrutá-lo em toda a sua plenitude. À terceira, diz-se, é de vez; talvez por isso, este meu regresso, tantos anos depois, teve um sabor especial. Plitvice é um dos sete parques nacionais da Croácia – 7,5% do seu território está sob protecção ambiental – e teve a “infelicidade” de se encontrar numa região que, durante a guerra, se tornou, qual espinho cravado no orgulho croata, uma espécie de república sérvia autónoma, a Krajina. A Croácia acabou por recuperar a região, é certo, mas, ao contrário de outras partes do país, onde já quase não havia traços de uma guerra, ficou com um “outro país” dentro das suas fronteiras, completamente destroçado e sem vivalma – está em curso uma campanha governamental para atrair cidadãos nacionais para a região, oferecendo os alicerces de casas geminadas, que cada família completará de acordo com as suas posses e necessidades. Quis uma cruel ironia do destino que a mais visitada e preciosa atracção natural da Croácia tivesse ficado, durante quatro penosos anos, nas mãos dos rebeldes sérvios. Quinze anos depois, regozijo-me por reencontrar o parque de boa saúde, com novas trilhas de várias horas e diferentes graus de dificuldade, uma crescente infra-estrutura de apoio (como restaurantes e hotéis), os passadiços em madeira de castanheiro recuperados e barcos que permitem fazer uma transição mais rápida entre os lagos superiores, os mais afectados, e os da parte baixa. Situado num vale aninhado entre duas montanhas densamente florestadas, Mala Kapela e Pljesivica, a sudeste do maciço central da Croácia, Plitvice cobre uma área de 200 quilómetros quadrados, dos quais cerca de dois estão ocupados por 16 lagos, ligados por 92 cascatas e quedas de água. É um lugar de beleza avassaladora, com uma grande variedade de espécies animais e vegetais (muitos animais fugiram espavoridos durante a guerra), mas o que o torna verda- deiramente único passa por um fenómeno natural bastante singular que, pelos cálculos feitos, tem vindo a decorrer nos últimos 4000 anos, a um ritmo incansável, que não pára de mudar a fisionomia da área.Tecnicamente falando, os lagos e as cascatas deste parque resultaram do labor milenar das águas dos rios que correm na região e que não se cansam de desgastar e rasgar as entranhas da terra e das rochas por onde passam, deixando atrás de si um rasto de carbonatos de cálcio e de magnésio que, em conjunto com um tipo especial de alga, estão na origem de uma matéria a que se dá o nome de travertino. Esta matéria, por sua vez, vai ficando depositada no fundo, acabando por criar verdadeiras barreiras naturais que condicionam as formas dos lagos, dispostos em diversos patamares, e provocam o aparecimento de quedas de água e cascatas. A visão conjunta dos lagos, de um azul-esverdeado opaco, emoldurados por encostas de formas generosas, de onde se precipitam compactas cortinas de água em queda vertiginosa, não deixa ninguém indiferente. Diante de tamanha grandeza é inevitável sentirmo-nos esmagados por uma obra notável da natureza que a engenharia dificilmente igualaria. Mas, se me é permitido o remoque, acrescentarei que a sensação de êxtase só não é total porque, sobretudo nos A MEIO CAMINHO ENTRE A CAPITAL E A COSTA DÁLMATA, O PARQUE NACIONAL DE PLITVICE REVELA O ESPLENDOR DA CROÁCIA NATURAL Alvo das disputas territoriais entre croatas e sérvios,o Parque Nacional de Plitvice (pág.ao lado) é a prova viva da capacidade regeneradora da Natureza e mantém-se como uma das principais atracções do país. Nesta pág.: na capital, o caféVelvet, que também é uma loja; o lago Jarun; e o novo Museu deArte Contemporânea.
  • 4. 60 J U L H O 2 0 1 0 SE SPLIT CONSEGUE A PROEZA DE SER UM MUSEU AO AR LIVRE SEM SE TORNAR NUNCA MAÇADORA OU EXCESSIVA, JÁ HVAR, AO LARGO, SURGE, COM A SUA BAÍA PERFEITA, COMO UM CONTRAPONTO MAIS MUNDANO E VOLTADO PARA O DOLCE FAR NIENTE meses de Julho e Agosto, o fluxo de visitantes é enorme. O turismo é absolu- tamente necessário à manutenção deste parque e faz todo o sentido que algo tão precioso seja partilhado com a Humanidade; apenas se pede, e espera, que não se perca de vista a preocupação de o fazer de forma sustentada. Split, ocidente versus oriente Nos canteiros que enfeitam o longo passeio marítimo, conhecido por Riva, foram plantadas várias ervas aromáticas, com destaque para a alfazema, que deixa o ar adocicado. Aberto para o concorrido porto, onde desde há muito se embarca para ir veranear em Vis, Hvar ou Bra, e sobranceiro à praça catita da Republike, que lembra a de São Marcos em Veneza, o Riva, mais do que um lugar de passagem, é um ponto para se estar. Com várias esplanadas perfiladas, abrigadas sob uma pesada artilharia de toldos enfunados ao vento, frente ao casario nobre carcomido, este passeio não se livrou da polémica recente, tendo sido, inclusive, alvo de boicote, pois muitos dos filhos de Split não gostaram nada do que foi feito para o modernizar.Terão a sua quota-parte de razão, mas, que não me ouçam, eu gostei do que vi. Mas esta é a Split que se agiganta para lá das frondosas muralhas, e que não pára de crescer, ainda que se diga – não obstante o cada vez mais pesado contingente hoteleiro e o número crescente de autocarros, que devem ficar confinados à zona do porto para não atrapalhar as vistas – estar a evitar cometer os mesmos erros e despautérios que Dubrovnik. O seu maior encanto, por muitas voltas que se dê, está intramuros, no palácio de Diocleciano, o imperador de origem humilde nascido em Salona, hoje território croata, que teve um dos reinados mais longos e que foi preponderante para assegurar a sobrevivência do domínio romano por mais uma época. Suprema ironia: ele que foi o último imperador pagão, ao ponto de não ter hesitado em mandar matar a mulher e filha convertidas ao cristianismo, assegurou a estabilidade necessária à transição para o Império Bizantino. A entrada faz-se por uma galeria subterrânea, que nos remete, em menor escala, para o Grande Bazar de Istambul, mas, à excepção de algumas galerias que permanecem ao abrigo das paredes com dois metros de espessura, e que são determinantes para termos a noção aproximada do que teria sido este fabuloso palácio rectangular, nada se compara ao privilégio de errar pelas ruas e vielas que permanecem no seu perímetro e que, desde muito cedo, ainda antes de Cristo descer à terra, começaram a ser habitadas pelos refugiados de Salona. Essa particularidade deu-lhe uma atmosfera única, pois, além de casas particulares, há agora lojas, bares e até hotéis a espreitar em cada esquina. No pátio interior de Peristil, entre colunas e esfinges egípcias e o antigo mausoléu de Diocleciano convertido em igreja, a sensação de estarmos num museu a céu aberto é total, ainda mais se a isto juntarmos a mistura babilónica de línguas que se escuta entre os que, embevecidos, se sentam, ao lusco-fusco, nos degraus ocupados pelo Café Luxor. Por uma feliz coincidência, o burburinho não chega a ser estridente, como se, tacitamente, ninguém quisesse ser desmancha-prazeres. E se alguma voz se eleva, é para cantar e nos deliciar. Hvar, a cidade-ilha Para além de um ferry para viaturas, que demora o dobro do tempo, existe um serviço regular de catamarã que liga, em uma hora, Split à cidade de Hvar. Por pouco mais de três euros por cada trajecto é possível fazer uma viagem cómoda e sossegada, até certo ponto, assim consiga fazer orelhas moucas aos que entram em clima de festa em mar alto. Depois de Dubrovnik, Hvar é a grande coqueluche da costa dálmata e um íman para atrair, a cada nova temporada estival, mais e mais jet set a bordo de iates e veleiros. Colonizada pelos gregos da ilha de Paros (que significa farol, sendo Hvar o sinónimo em croata), esta cidade dá-se ares de “PequenaVeneza”, o que não é de estranhar: integrou, durante boa parte da sua existência, o ducado veneziano (os italianos chamavam-lhe Lesina, ou seja “floresta”) e ainda hoje marca uma fronteira invisível, mas perceptível, entre o modus vivendi mais “germânico” do Norte da Croácia e o seu tempero assumidamente mediterrânico. Logo à chegada, torna-se igualmente claro que a vida da cidade – que no pico do Verão passa de 3000 habitantes para uma média diária de 30.000 visitantes! – se organiza em torno da baía, disputada por hotéis, cafés, bares e até clubes de praia, com as excepções por conta da praça contígua, a Pjaca, e da fortaleza altaneira, sem dúvida alguma o melhor ponto para se ter uma visão de águia sobre Hvar. Ao largo, várias ilhas, que mais parecem carapaças de tartaruga, compõem, juntamente com o casario e os pináculos, um cenário tão acima de suspeita que a lenda da sua formação, associada a um susto que Zeus terá pregado a Neptuno, ao surpreendê-lo em pleno acto amoroso, só torna mais delicioso. Mas Hvar não é apenas a cidade que faz as vezes de porto de entrada, é também o nome de toda uma ilha, esguia como uma lança apontada a terra firme. São vários os pontos de interesse, mas uma das excursões mais comuns passa por ir até Stari Grad, a leste, a escassos 16 quilómetros. O caminho, bastante acidentado, permite vislumbrar não só a costa recortada, com encostas sulcadas até ao mar, como espreitar algumas das baías e praias de cartão-postal, ao largo das quais ficam ancorados muitos dos iates e veleiros de luxo que navegam por estas águas de um azul estonteante. Mas, para quem faz o trajecto entre finais de Junho e princípios de Julho, há um outro atractivo, que passa por admirar as alfazemas em flor, dispostas por vários socalcos ganhos a duras penas ao solo pedregoso. A Croácia, é bom dizê-lo, é uma das principais produtoras mundiais de alfazema, sendo Hvar o epicentro dessa cultura, Em Split (pág. ao lado, em cima, ao centro) é obrigatório ficar a ver a vida passar no Luxor (em cima, à dir.) e nas suas muitas esplanadas (em baixo, à dir.).A ilha de Hvar (nesta pág. e na pág. ao lado, em cima e em baixo, à esq.) recebe velejadores e jet set atraídos pelas suas praias e ambiente festivo. CROÁCIA
  • 5. CROÁCIA MAIS DO QUE APENAS UMA COSTA PEJADA DE ILHAS, BANHADA POR UM ADRIÁTICO QUE LEMBRA O MAR DAS CARAÍBAS, A CROÁCIA POSSUI OUTROS ENCANTOS, QUE PASSAM PELA HISTÓRIA, NATUREZA E BOA VIDA Uma das ruas no centro de Dubrovnik e o Parque Natural de Plitvice
  • 6. ao ponto de ter abastecido, durante anos, a indústria de perfumes francesa. Sob os auspícios da UNESCO desde 2008, Stari Grad, fora da agitação dos festivais de música e teatro estivais, continua bastante pacata, com ares de cidadezinha adormecida. O núcleo histórico está vedado aos carros e mantém uma disposição que lembra as típicas choras gregas, mas Stari Grad, para já a salvo de maiores confusões, está a investir no melhoramento da sua infra-estrutura, contando com vários cafés-galeria muito aprazíveis, bem como trilhas para quem quer pedalar a ilha. É, todavia, na sua baía, onde um dedo de mar avança pela cidade antiga como quem fura um bolo, que nos surge como uma Hvar em miniatura. Mais modesta, sobretudo em património, Jelsa é outro ponto importante de escala na costa de Hvar, contando com bons restaurantes de peixe que se perfilam no seu porto. À volta, algumas das praias que estão a catapultar Hvar como uma alternativa de riviera dálmata, capaz de rivalizar com a italiana ou a turca. Mas é agora hora de zarpar para Sucuraj e de voltar costas a Hvar. A viagem de ferry até ao continente não demora muito mais do que 30 minutos, ainda que o próximo destino se encontre fundeado no extremo de uma quase-ilha, a península de Pelješac, já na riviera de Dubrovnik. Ston, afrodisíaca Para chegar a Ston, uma pequena cidade medieval, há que atalhar. Para o conseguir, nada melhor do que um “corta-mato” por território da Bósnia- -Herzegovina. Não chega a haver um controlo efectivo dos passaportes, embora seja obrigatório tê-los à mão, para desgosto de todos aqueles que gostariam de aproveitar o inesperado bónus para conseguir um carimbo para a sua colecção. Esta espécie de soft border, um resquício do mapa complicado da antiga Jugoslávia, funciona também como um amuse-bouche para o que se seguirá em Ston. Rodeada de montanhas espessas e adornada por baías recortadas, Ston, de um lado, e Mali (Pequena) Ston, do outro, são uma boa surpresa para quem ali vai apenas para cumprir parte do programa. A “Grande” Ston, em boa verdade, resume-se a meia dúzia de ruas traçadas à esquadria, com um punhado convincente de casas brasonadas, mas o que causa maior espanto é a extensão da muralha que, a lembrar a da China – com a devida liberdade poética –, sobe e desce a montanha, ligando as duas Ston ao jeito dos quebra- -cabeças em que é preciso unir os vários pontos para formar um desenho. Com um total de 5,5 quilómetros, estas muralhas são as mais extensas da Europa, pelo que percorrê-las exige tempo e fôlego. Do alto, virado para o mar, alcanço não só a cidade medieval mas também as salinas, das quais se extrai, de forma artesanal, a flor de sal marinho que, mais ou menos refinado, tenta não quebrar a tradição secular – nos seus pergaminhos, estas salinas reclamam ser uma das mais antigas em funcionamento – e conquistar uma vaga no cada vez mais disputado mercado gourmet. Já na baía abrigada da “Pequena” Ston, o que chama a atenção são os viveiros de mexilhões e ostras, as mais afamadas em toda a Croácia. Quem se sente no direito de estabelecer comparações diz que as ostras do Adriático, uma variedade mais pequena que responde pelo nome de Ostrea Edulis, possuem uma carne mais rija e um sabor mais intenso do que as do Atlântico. Não vou tão longe, mas tão cedo não esquecerei o festim de ostras e de outros frutos do mar que me foram servidos no restaurante Villa Koruna. Dubrovnik, o cartão-postal O mapa diz que de Ston a Dubrovnik são 50 quilómetros mas, ainda assim, a viagem dura mais de uma hora por estrada. A chegada tardia, que encaro como uma contrariedade, acaba por se revelar providencial. Não só me coloca a salvo do vaivém de autocarros que, sobretudo nas manhãs de sábado (dia escolhido pelos cruzeiros no Adriático para fazerem escala na cidade), não dá descanso, como me permite vislumbrar, de longe, a parte antiga, amuralhada como num conto de Avalon. Ao contrário do que sucedeu na restante costa dálmata, Dubrovnik não durou muito tempo nas mãos da “Sereníssima República” de Veneza e tomou as rédeas do seu destino enquanto Ragusa e assim foi até à chegada de Napoleão, primeiro, e da integração no Império Austro-Húngaro, a seguir. No século XX, foi testada várias vezes e muitas vezes se viu reduzida ao papel ingrato de museu a céu aberto incapaz de sustentar os seus (que se viram forçados a emigrar para a América), por mais queTito, ao leme da Jugoslávia, a tenha promovido a “Pérola do Adriático”. Nada, porém, comparado com o horror que se seguiu à declaração de independência da Croácia em 1991. As montanhas em redor de Dubrovnik – Património Mundial da UNESCO – foram alvo de bombas incendiárias (ao que se crê, de fósforo), lançadas pelos sérvios durante uma ofensiva em Outubro do mesmo ano. O resultado foi a consumição pelo fogo de sete a dez hectares, numa faixa de 25 quilómetros até à fronteira com a República de Montenegro. A própria cidade não foi poupada, uma vez que a ofensiva de Dezembro de 1991, que deixou o mundo chocado, provocou, segundo números oficiais, o bombardeamento de 63% dos edifícios, a total destruição pelo fogo de mais 2,5% e fez com que todos os monumentos da cidade fossem, de uma maneira ou outra, afectados pelos ataques aéreos. Por ar, terra e mar, Dubrovnik foi atacada e isso, embora não desculpe de todo a insistência com que nos recordam, a cada esquina, essas perdas, ajuda a perceber que o tempo passado ainda não tenha sido suficiente para apaziguar a raiva. Aliás, e por muito que tenha sido feito um trabalho acelerado de 64 J U L H O 2 0 1 0 Apesar das praias, a cidade de Hvar cultiva os clubes de dia, como Bonj Les Bains (à esq.). Mais a sul, Ston ganha fama pelas suas belíssimas ostras (ao lado, em cima, ao centro), ao passo que Dubrovnik (em baixo) se assume ainda como a “Pérola doAdriático” e aposta em lugares da moda, como o Gil’s (em cima, à esq.), sem esquecer atracções incontornáveis como o Stradun (em cima, à dir.). DUBROVNIK FAZ QUESTÃO DE RECORDAR, A CADA ESQUINA, OS ATENTADOS QUE SOFREU, MAS, LONGE DE SER AMARGA, É UMA CIDADE ALEGRE, CASAMENTEIRA E QUE, A CADA VERÃO, SE AFIRMA COMO POTÊNCIA TURÍSTICA CROÁCIA
  • 7. 66 J U L H O 2 0 1 0 CROÁCIA A decoração é exótica q.b., com toques contemporâneos, e a ementa muito caprichada, com um menu de três pratos a €40. Lucin Kantun – Old Sigurate O ambiente é clean, mas a comida está longe de ser simples, pois, ainda que servida em pequenas doses de degustação, é executada com capricho.Acessível. ONDE SAIR ZAGREB Eli’s Caffè – Ilica, 63, eliscaffe.com Dos mais animados e trendies da cidade, com degustação de lotes especiais nas primeiras sextas-feiras de cada mês. COMO IR A TAP (www.flytap.com) voa para Zagreb, via Bolonha, por tarifas desde €179,26.Vários operadores dispõem de programas que incluem voos e sete noites de alojamento com pequeno-almoço por apenas €477 em Julho. Os destinos mencionados nesta reportagem estão ligados entre si por autocarros, ferries ou catamarãs. ONDE FICAR Informe-se junto do Turismo da Croácia da possibilidade de arrendar apartamentos nas várias cidades sugeridas pois, regra geral, o preço por noite varia entre os €50 e €100. Em matéria de hotéis, na capital croata elegemos o refinado Regent Esplanade (www.regenthotels.com/zagreb, desde €159) e o recente Westin Zagreb (www.westin.com/zagreb, desde €135); em Split, com ares de resort, Le Méridien Grand Hotel Lav (wwwlemeridien.com/split, desde €115); na Cidade de Hvar, o hotel de design Riva (www.suncanihvar.hr, desde €167); em Dubrovnik, o renovado Hotel Bellevue (www.hotel- bellevue.hr, desde €250) ou, com uma vista excelente, o Hotel Excelsior (www.hotel-excelsior.hr, desde €250). ONDE COMER ZAGREB Marcellino – Jurjevska, 71, www.marcellino.hr É o grande acontecimento gourmet da cidade, a cargo do chef Mario Cerhak, mas um jantar para dois não sai por menos de €150. No mesmo prédio abriu o Hugo, onde se pode degustar as suas criações a preços mais simpáticos. Zinfandel’s – Regent Esplanade, Mihanovi eva, 1 Se não puder ficar alojado na grande dama zagrebina dos hotéis, não se poupe ao prazer de almoçar aqui (menu de dois pratos desde €25) para degustar as criações do chef maltês Jeffrey J.Vella. No bistro do hotel, mais em conta, fazem o melhor štrukli, pastel recheado de queijo. SPLIT Šperun – Šperun, 3 Intimista, tem no prof. Zdravko Banovi um anfitrião de primeira, habituado a receber figuras ilustres como o actor, e agora “trota-mundo”, Michael Palin. Buffet de especialidades dálmatas e mediterrânicas, bom peixe fresco e preços muito razoáveis. HVAR Restoran Luviji – Iza Katedrala, Cidade Hvar Pequeno restaurante de comida caseira, gerido por uma família local, onde as mesas são poucas para apreciar especialidades dálmatas e pratos como o esparguete de lagosta. STON Villa Korcula – Solana Ston, Pelješki, 1, www.solanaston.hr Do mesmo proprietário das salinas, é um restaurante de excelência para degustar ostras. DUBROVNIK Proto – Široka, 1, www.esculap-teo.hr Dos mesmos proprietários do elegante Nautika, é ideal para comer peixe e marisco da melhor qualidade. Serviço a condizer. Gil’s – No prestigiado guia Gault Millau, edição de 2010, ficou entre os três melhores restaurantes da Croácia. pelos dois andares, que alternam os melhores DJs. SPLIT Luxor – Kraj sv Ivana O nome tem que ver com a temática deste café, que foi buscar inspiração à esfinge no pátio de Peristil. Art Lounge Bar – Šubi eva, 3 É, dos espaços recentes, o mais impressionante. Hedonist – Put Firule O espaço, com almofadas coloridas e cadeiras em forma de ponto de interrogação, é pequeno para acolher a beautiful people. HVAR Bar Adriana – Hotel Adriana, Cidade de Hvar Fica no último andar, com uma vista incrível para a baía, e atrai uma clientela de clubbers. Carpe Diem Beach & Cocktail Bar – Riva, Cidade de Hvar É, há anos, um lugar para ver e ser visto, mas, no Verão, montam também um verdadeiro clube de praia, em Marinkovac (baía de Stipanska) sempre em clima de festa, com spa e restaurante. Chuara – Frontão marítimo, Jelsa É o lounge do momento, aberto, com pompa e circunstância, por um londrino de origem croata. DUBROBNIK Gil’s Pop Lounge – Sv Dominika, www.gilsdubrovnik.com Não é só “o” restaurante da cidade, é também o cocktail-bar mais chique e disputado. East-West – Banje Beach, Frana Supila, www.ew-dubrovnik.hr Clube de praia de dia e à noite transforma-se em disco. Latino Club Fuego – Brsalje, 11 Não se deixe levar pelo nome. É uma discoteca, junto ao Pile, muito concorrida, onde, regra geral, se termina a noite. MAIS INFORMAÇÕES Em Portugal: Jervis Pereira, Rua da Cova da Moura, 2, 5.º dto., 1350 Lisboa, tel. 213 808 514 Em Espanha: Oficina de Turismo de Croacia, C/Claudio Coello, 22, Madrid, tel. 0034 917 815 514, www.oficinadeturismo.net GUIA PRÁTICO Agradecemos a colaboração da Oficina de Turismo de Croácia na realização desta reportagem. Sedmica – Kacˇic´eva, 7A Lugar de culto, com uma clientela essencialmente ligada às artes. Velvet – Dežmanova, 9, www.velvet.hr Misto de loja conceptual, a cargo da mais conhecida florista da cidade, Saša Šekoranja, e café. Lemon Bar & Club – Gajeva, 10, www.lemon.hr Durante o dia, o café chique possui um serviço de esplanada, mas, à noite, a pista de dança é procurada pelo house. Aquarius – Aleja Matije Ljubeka, www.aquarius.hr É um dos spots incontornáveis de Jarun, não só pelo seu lounge virado para o lago, mas também renovação, as marcas continuam visíveis, sobretudo em monumentos como o mosteiro dominicano, onde se encontra uma das farmácias mais antigas da Europa, ou a catedral, que, à excepção da sala do tesouro, foi totalmente refeita por dentro e nunca mais terá de volta o seu esplendor barroco. Que esta minha observação mais crua dos factos não conduza ninguém a julgamentos precipitados. Dubrovnik recuperou por inteiro a sua “joie de vivre” e é uma cidade alegre, casamenteira e festeira. Para comprová-lo basta calcorrear o Stradun, a ala de 300 metros que funciona como eixo de gravitação na cidade antiga, em redor da qual se distribuem vários edifícios nobres medievais. Atrevo-me, porém, a dizer que, para lá do prazer de percorrer as muralhas ao entardecer (o que nos permite uma melhor noção desta sua geografia estratégica tão peculiar), o verdadeiro gozo está em metermo- -nos pelas muitas ruazinhas perpendiculares que saem do Stradun e, através de escadarias íngremes e floridas, desembocam em outras paralelas, onde, com maior desafogo, podemos desfrutar de lojas, cafés, galerias e restaurantes pitorescos. Dubrovnik, como toda a Croácia, ainda não tem os seus preços inflacionados para lá do razoável, mas nota-se, de dia para dia, que começa a haver um upgrade, de que lugares como o restaurante Gil’s é um bom exemplo, até para estar à altura de uma Oprah Winfrey, que dizem ter andado à procura de casa no Stradun, ou do actor Kevin Spacey, que arrendou uma vila privada do hotel Excelsior para comemorar o seu 50.º aniversário. Claro que hóspedes deste calibre raramente são vistos a deambular nas ruas da cidade ou a tomar banhos de sol na praia municipal, Banje, junto ao portão de Plocˇe (existe uma outra, Sveti Jakov, 20 minutos a pé do centro, não sendo raros os hotéis, como o Bellevue, que possuem a sua praia privativa), que os locais passaram a boicotar desde que boa parte foi “cedida” ao clube East-West. Felizmente, não tenho esse problema: a minha preocupação resume-se a querer desfrutar de Dubrovnik só a partir do momento em que esta se começa a esvaziar dos seus visitantes de meia jornada. Da última vez que aqui estive, num final chuvoso do Outono de 1997, retive a imagem de um coro a ensaiar na catedral esventrada e do Stradun, ao final do dia, iluminado por uma luz pardacenta que as suas pedras gastas reflectiam. É essa mesma luz que revejo agora, já a madrugada vai alta, num Stradun deserto, não fossem os poucos que ainda o atravessam a caminho dos bares e discotecas, como o Latino Club Fuego, que ficam no Pile, a outra porta de entrada, ou saída. Sem pensar duas vezes, saco a máquina do bolso e faço a foto. Para me continuar a recordar de uma Dubrovnik capaz de sobreviver às maiores provações. Inclusive a das multidões. n Se cidades como Dubrovnik (à esq.) surpreendem pela sua arquitectura medieval, portos como Jelsa (à dir.), na ilha de Hvar, proporcionam umas férias ao estilo mediterrânico Regent Esplanade, Zagreb Regent Esplanade, Zagreb Le Méridien, Split Riva Hotel, Hvar Le Méridien, Split ©Rotas&Destinos DUBROVNIK SPLIT PLITVICE STON HVAR STARI GRAD SUC´URAJVIS ZAGREB C r o á c i a I t á l i a B ó s n i a HungriaEslovénia ˇ