Uma vida em busca de respostas, respostas que mudam vidas.
Algumas pessoas me perguntam: Qual foi a minha maior aventura?
O mais difícil desafio superado?
O mais belo e o pior dia de minha vida? Quais os sonhos que realizei e quero realizar?
E é nessa hora o meu maior pesar, pois, para todas essas perguntas, sempre tenho a introdução, e lamento. Porque, na maioria das vezes, elas não me ouvem e partem para esperar o que lhes parece importante de fato, o que não passa de complemento e vaidade.
Theo é um jovem rapaz que se encontra num divisor de águas. Numa avalanche de problemas que o faz ter que decicir entre se entregar a um fim trágico ou procurar unir forças para seguir em busca de uma cura lenta que exigirá perseverança, paciência, coragem e a ajuda de pessoas que ele encontrará em sua peregrinação.
Sobre o Autor
Ari Frello nasceu em 25 de julho de 1979 em Criciúma - SC. É multi-instrumentalista, cantor e compositor. Tem construido uma carreira artista no sul do Brasil, além de atuar em projetos sociais e também fora do país.
Como designer gráfico das editoras: Naós, Publica Livros e Dracaena, desenvolveu trabalhos como: Crimes Satânicos, A história do início da Assembléia de Deus no Brasil 'literatura de cordel', O Amor tudo vence, A verdadeira história do caso Evandro, entre outros. Amante da natureza e a prova viva da superação, Ari Frello vem através de seu primeiro livro explanar assuntos que nos deparamos em nosso dia a dia como: O valor próprio, superação e o perdão após a cura.
-Ari Frello
Lançamento Nacional da Editora Dracaena.
www.dracaena.com.br
5. SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ....................................................... 7
Capítulo 1 - ETNATÃ, O AMIGO DO MAR .........................13
Capítulo 2 - ATORDOADO ................................................21
Capítulo 3 - SETAS COMO PALAVRAS ...........................29
Capítulo 4 - MUMIFICADOS PELA ROTINA ........................37
Capítulo 5 - O OBSERVAR AS ESTRELAS ...................... 47
Capítulo 6 - VISITADOS PELA CHUVA .............................57
Capítulo 7 - TENTADO PELO VELHO EU ........................ 65
Capítulo 8 - UMA MENTIRA EM CIMA DE OUTRA ............71
Capítulo 9 - O INÍCIO ........................................................81
Capítulo 10 - É NOSSO, MAS NÃO SOMOS DONOS ...... 89
Capítulo 11 - CAMINHOS DAS PEDRAS ......................... 95
Capítulo 12 - CAMINHO DAS ÁGUAS ...........................101
Capítulo 13 - O ENCONTRO .........................................109
Capítulo 14 - A GRANDE VERDADE ..............................115
Capítulo 15 - COMO SE FOSSEM PEREGRINOS ...........121
6.
7. AGRADECIMENTOS
Neste momento estou recordando o dia em que eu e Léo
Kades estávamos tomando um vinho argentino do qual sou
muito fã chamado Saurus - Malbec, safra 2009, um vinho
comum à primeira vista, mas com detalhes de pimenta e
chocolate. Espetacular!
Tudo começou naquele dia, sentados ao muro de uma
casa em que Léo tem suas particularidades. Lá, contando um
pouco de cada um, começamos e falar sobre sonhos e abri
meu coração sobre este projeto.
Agradeço primeiramente a Deus, é claro, pois ele criou a
atmosfera e fez meu caminho cruzar com pessoas que me
deram harmonia, ritmo e melodia para eu sair do casulo e fazer
de meu caminho um aprendizado, tanto para mim como para
quem tem caminhado ao meu lado.
Mas você, Kades, foi responsável para que este sonho se
tornasse a real. Fico feliz por um dia ter conhecido você, meu
amigo. Aprendi e aprendo, e viverei para aprender com você
até quando Deus assim permitir. Quem conhece esse homem
sabe quanto ele é teimoso e persistente, e graças a Deus ele
foi teimoso e persistente comigo, fazendo-me sempre pensar
por um outro ângulo quando se tratava dos meus problemas
e das minhas inquietações. Os que me têm acompanhado
nessa peregrinação sabem que nas condições em que eu me
encontrava ao conhecer esse homem, com olhos humanos, eu
8. não conseguiria jamais levar uma vida adiante. Evoluir para ter
algo que valesse a pena compartilhar com as pessoas, compar-
tilhar com o próximo, seria algo muito distante naquele tempo.
Mas finalmente as coisas velhas passaram e tudo se fez novo.
Agradeço à Fran, esposa de Kades, que sempre me adota
quando vou me exilar em sua casa. Uma pessoa que, em seu
estandarte, tem alçada a bandeira da compreensão do amor
e da servidão a Deus e ao próximo.
Também agradeço ao Marcos Fernandes, meu amigo quase
irmão, que sempre me fez não deixar de sonhar e acreditar no
que é puro e correto.
Agradeço ao meu irmão Reginaldo, que é alguém que tem
a real noção de quanto é importante para nosso legado como
família tudo o que vivo hoje. Acreditar no amor ao próximo é
possível.
Aos Pastores Valter e Sara, que foram pessoas muito
importantes em minha história e na minha formação como
homem de Deus. Ensinaram-me sobre misericórdia, paciência,
coerência, ética e amor.
Não poderia me esquecer de todas as casas em que faço
minhas apresentações no Sul de Santa Catarina. Agradeço a
Deus por vocês existirem, compartilharem seus sonhos comigo
e acreditarem nos meus. Quero que se sintam sinceramente
homenageados. Vocês, além de serem grandes empresários,
são pessoas humanas e amigas, que me trataram sempre com
reverência, oferecendo sua amizade.
9. Desde o primeiro dia em que resolvi escrever Como
se fossem peregrinos, passei por dificuldades que
jamais pensei. Tive que me elevar a sentimentos que
às vezes pareciam mais fortes do que eu. Contudo,
nunca me dei o direito de me calar, e continuei.
Em meio a momentos de ira, nunca deixei de acreditar
no poder, no amor e na misericórdia.
E jamais deixei de exercitar o perdão, crendo que as
pessoas poderiam mudar.
Que essas palavras sirvam de consolo a você, que
está sofrendo agora.
Este livro é dedicado a você.
10.
11. COMO SE FOSSEM
PEREGRINOS
Uma vida em busca de respostas, respostas que mudam
vidas.
Algumas pessoas me perguntam: Qual foi a minha maior
aventura? O mais difícil desafio superado? O mais belo o
pior dia de minha vida? Quais os sonhos que realizei e quero
realizar?
E é nessa hora o meu maior pesar, pois, para todas essas
perguntas, sempre tenho a introdução, e lamento. Porque, na
maioria das vezes, elas não me ouvem e partem para esperar
o que lhes parece importante de fato, o que não passa de
complemento e vaidade.
15. Etnatã - O amigO dO mar 15
Então, diga-me, amigo, quais as chances de isso acontecer
com alguém? Depois de tantas vezes adiado, justo no bendito
dia, tudo isso acontecer! Desculpe-me, mas não consigo tratar
esse fato como mais uma questão corriqueira do dia a dia. Eu
sempre passava pela praia todos os dias. Bem, você sabe,
na ida e na volta é caminho do hospital. Eu olhava para a orla
por alguns segundos e, quando isso acontecia, era porque eu
já tinha deixado para uma outra oportunidade. Queria parar
observar e se sentir um pouco sóbrio. Sem essa loucura do dia
a dia. Mas ontem, não havia o porquê de não parar e sentir tudo
aquilo que eu deixei, por anos, de experimentar. Finalmente,
ontem à noite, parei e fiquei ali alguns minutos, contemplando
toda aquela beleza, coisa que se tem todos os dias, se a gente
quiser. Senti o vento frio e constante da brisa do mar e foi então
que descobri que nenhum lugar era tão meu quanto ali. Mas,
além do som do vento, do mar, dos carros e da cidade viva ao
longe, comecei a ouvir outro tipo de som que vinha de uma
direção, costeando a orla do mar. Olhei para trás para ver se
poderia ser ao longe o som de alguém na estrada, mas o som
vinha da minha direita, na direção de uma pequena luz, no meio
da mata, nessa parte da praia depois das pedras. Fiquei intri-
gado e fui ver o que estava acontecendo. Fui caminhando um
pouco mais apressado, pois logo percebi que era uma mulher
que estava gemendo com dores. E apertando cada vez mais
meus passos, até me dar conta de que estava correndo, fui
às pressas saber o que estava havendo com a moça. Então,
cheguei nos primeiros arbustos, e o som me vinha com mais
força, e dali em diante comecei a segui-lo. Fui adentrando
até achar uma trilha logo no início das árvores maiores, e ali
já faltavam poucos metros. Quando me deparei com alguém
16. 16 COmO sE fOssEm pErEgrinOs
que jamais imaginei. Vi uma pequena barraca improvisada
com uma lona do tipo de caminhão, galhos de árvore e uma
fogueira ainda em chamas iluminava a clareira. Vi que era um
casal. Primeiro foi o homem que me viu. Ele tinha cabelos
longos e escuros, com biotipo indígena. Ele estava ao lado
dela e quando me viu me chamou calmamente. Com uma
mão ele cuidava dela e com a outra me chamava olhando na
minha direção. Era um bebê que estava vindo ao mundo. Ela
estava em trabalho de parto e já havia perdido um pouco de
sangue. Vi que o homem estava disposto a ajudar, mas não
sabia exatamente o que fazer. Então, quando ele olha para
mim, foi aí que eu vi em seus olhos que ele pedia ajuda. Não
pensei muito, e resolvi agir. Ali começamos a realizar o parto.
Não havia tempo para preparações, e era evidente que a vida
da mulher estava em risco.
Depois de algumas horas, conseguimos a terminar o parto.
Ela deu a luz a um menino. Foi emocionante esse momento. Os
olhos da mãe brilhavam e aquele homem tornou a ser criança
por alguns minutos. Logo após toda essa injeção de adrenalina,
eu poderia ter saído e ido embora tranquilamente, ter me
despedido e virado as costas pra seguir o meu caminho. Mas
eram tantas perguntas em minha mente. Como eles poderiam
ter parado ali naquele lugar para dar a luz a uma criança? O
que me veio primeiro foi a seguinte pergunta... Bem, vou ser
sincero, na verdade perguntei todas de uma vez só. Demonstrei
meu nervosismo como um doido. Já de pé com o homem, ele
põe a mão no meu ombro e diz, após fitar em meus olhos:
- Amigo do mar, sabíamos que você viria.
Ele tira sua mão e me transmite grande tranquilidade após
um sorriso.
Ele volta para a mulher, pega o bebê nos braços e diz:
- O nome dele será o seu: Etnatã; o amigo do mar.
E antes que eu desse as costas ele torna a falar para mim:
17. Etnatã - O amigO dO mar 17
- Volte amanhã amigo, será bom.
Intrigado com tal tranquilidade, fui a caminho do meu
carro, às vezes olhando pra trás, às vezes parando e querendo
voltar, mas segui e fui embora.
- Agora me diga, Joel, convidei você para vir aqui nesta
esquina tomar uma debaixo do teto desse bar, esperando ouvir
de você que tudo isso é loucura da minha cabeça, então vá
em frente. Theo em tom de ironia.
- Theo, você está certo sobre tudo isso, não passa de
loucura da sua cabe... Theo mal espera Joel terminar e diz:
- Eu sei a diferença do que é real e loucura. Fique sabendo,
meu camarada, que se fosse pra eu enlouquecer, teria
enlouquecido dentro daquele consultório.
Joel olha compadecido pelo amigo e diz:
- É verdade. Olha, me desculpe, viu? Amanhã irei com você
até lá. Ele não disse para você voltar? Então eu vou com você.
Se existe esse tal índio, nós descobriremos juntos. Theo, um
pouco contrariado, não se opõe, mas também não mostra
nenhum interesse na possível companhia do amigo. Levanta-se
do balcão e vai em direção ao banheiro. É quando o barman,
que ali prestava muita atenção, fala a Joel:
- E então, você vai mesmo até lá com seu amigo?
- Vou sim. Ele ficou sozinho do dia pra noite. A mulher deixou
dele e há alguns dias e ele descobriu que tem câncer em uma
região sem solução cirúrgica. Recebeu licença quase que
forçada do hospital onde atendia há anos. Ele está passando
por um abalo emocional muito forte.
A noite se vai e o novo dia chega, passando rapidamente,
dando lugar a mais uma noite. Momento esperado para Theo,
que queria muito encontrar aquele homem. Ele se prepara e,
quando termina de fechar a porta da sua casa, percebe que
seu amigo está lá no caminho do portão que dá para a porta
da sala. E então fala a Theo:
18. 18 COmO sE fOssEm pErEgrinOs
- Aonde você vai sem mim, amigo (risos sarcásticos)?
Vamos com meu carro, Theo, quero aprender o caminho.
Então,Theo responde dizendo:
- Acho que é melhor eu ir sozinho. Podemos combinar de
ir um outro dia, porque não sei como seria a reação deles se
você for.
- Não, quero ir com você. Serei o primeiro e lhe dizer que
isso só foi por causa da adrenalina a que você foi exposto.
Sem opção ele vai com Joel.
Chegando ao estacionamento do cais, eles descem do carro
e Joel já começa seu longo discurso até a clareira, falando
quanto Theo estava errado em ter feito tal loucura. Ele, em
silêncio, segue olhando para a sua esquerda, onde estava o
mar, e a sua frente, onde estava lá a pequena luz que vinha
do meio das árvores. Então, ao chegar, Joel não quer acreditar
no que vê. Ele olha para Theo bastante impressionado e fica
sem palavras. Logo o grande índio avista os dois e diz:
- Resolveu trazer um amigo para também provar a caça de
poucas horas? Se acheguem, sentem perto da fogueira para
ficar aquecidos.
Theo, sem timidez alguma de Joel, pergunta como está o
bebê.
- Etnatã está bem, já cessou o pranto, está se acostumando
com este mundo. Mas, diga-me, amigo, o que lhe traz aqui?
- pergunta a Joel. E então, Theo responde pelo amigo rapi-
damente:
- Contei tudo a Joel e ele ficou impressionado, e pediu para
vir também para conhecer a vocês. - Theo continua - Bem,
meu amigo trabalha em um hospital e queria saber se vocês
não necessitam de alguma ajuda. Ele pode conseguir um leito
para vocês não dormirem no relento.
O grande índio serenamente como um ancião fala a Theo:
19. Etnatã - O amigO dO mar 19
- Amigo, não será você ou ele que irá nos ajudar. Quem
veio ajudar aqui fomos nós. Ajudar você, Theo! Ajudar você a
reencontrar o caminho.
Theo intrigado diz:
- Caminho, que caminho? Caminho para onde?
O homem fita nos olhos de Theo e diz:
- Hei, amigo, prove a caça, pois já está passando do ponto.
Theo não entende, mas fica alguns minutos ali, até seu
amigo pedir para ir embora. Então, ele se despede e pergunta
ao índio se poderia vir amanhã com cobertores e comida. O
homem responde que era para eles virem se assim fosse o
desejo dos seus corações. Eles saem da clareira e assim que
Joel percebe que está distante o bastante começa a falar com
Theo seu discurso.
- Meu amigo, você está pirando, dando ouvidos a esse tipo
de gente que vive de misticismo e lendas sem fundamentos.
Vou levá-lo pra casa e você trate de não voltar mais para esse
matagal infestado de mosquitos.
Theo ouve e fica em silêncio. Continua assim até sua casa.
Mas, assim que sai do carro do amigo, vai até o vidro do
motorista e diz:
- Mas, diga-me, como ele sabe do meu problema? Como
ele sabe que eu preciso de ajuda? Isso pode ser uma ajuda
divina, uma solução além do que a gente estudou a vida inteira,
Joel! - exclama por atenção de Joel e continua dizendo: - Hei,
você que se diz meu amigo, isso pode ser um escape! Ele me
conhecia antes mesmo de ter me visto. Ele me olhou nos olhos
ontem e hoje como se conhecesse os meus pensamentos.
E termina dizendo:
- Joel, entendo que você não precisa acreditar, mas pelo
menos me deixe nesse mundo, e se isso é fantasia, eu quero
descobrir sozinho.
20. 20 COmO sE fOssEm pErEgrinOs
Joel para de olhar para frente e diz ao amigo:
- Theo, você é livre para fazer o que quiser. Se amanhã você
quiser ir, vá. Mas se precisar de alguma ajuda, se acontecer
algo que você sentir que está fora do normal, me ligue. Você
tem meu número. Eu tomarei uma providência, ok?
Sem resposta, Joel liga o carro e vai embora. Theo espera
o amigo virar a esquina e vai para dentro da sua casa com sua
mente emaranhada em dúvidas e pensamentos.