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A reconstituição da memória através da restauração de antigas Fichas de
Associados de dois Clubes Sociais Negros do RS: a Sociedade Cultural
Ferroviária Treze de Maio de Santa Maria e Clube Cultural
Fica Ahi pra Ir dizendo de Pelotas1
Geanine Vargas Escobar e Andréa Lacerda Bachettini
O presente artigo tem como objetivo apresentar o processo de restauração e
conservação de antigas Fichas de Sócios de dois Clubes Sociais Negros do RS. O
trabalho de restauro iniciou no 4º semestre/2010 do Curso de Bacharelado em
Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de
Pelotas, com objetivo de preservar a história e memória dos clubes, através de
exames laboratoriais específicos para o tratamento de documentos em papel, como as
Fichas de Sócios. O processo consiste em proceder desde a análise histórica,
identificação de patologias, estado de conservação, até a sua restauração completa.
As análises iniciaram após um mapeamento fotográfico do conjunto de fichas
de Sócios do Clube Social Negro Treze de Maio e do Clube Fica Ahi Pra Ir Dizendo.
As fichas dos sócios Jorge Luiz Barbosa Marques e Geraldo S. do Nascimento fazem
1
ESCOBAR, Gianine Vargas; BACHETTINI, Andréa Lacerda. A reconstituição da
memória através da restauração de antigas Fichas de Associados de dois Clubes
Sociais Negros do RS: a Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio de Santa
Maria e Clube Cultural Fica Ahi pra Ir dizendo de Pelotas. In: SOARES, A. L. R. (org).
Anais do I Congresso Nacional Memória e Etnicidade, Casa Aberta Editora, Itajaí, 2010.
ISSN: 21784981
Acadêmica de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade
Federal de Pelotas/RS e Bolsista de Pesquisa do Projeto de Extensão “Assessoria ao
Clube Social Negro Fica Ahí Pra Ir Dizendo no seu processo de transformação em
Centro de Cultura Afro-brasileira” da UFPel, 2010.
Professora do Curso de Conservação e Restauro/ICH/UFPel, Mestre em História pela
PUCRS, Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais pelo
CECOR/UFMG, Especialista em Patrimônio Cultural Conservação de Artefatos
ILA/UFPel, Bacharel em Pintura e Gravura pelo ILA/UFPel.
2
parte do acervo da Antiga Sociedade Cultural-Ferroviária Treze de Maio, assim como
as fichas dos sócios Paulo Roberto Noronha e Adão Celso Camargo Ferreira fazem
parte do acervo do Clube Cultural Fica Ahi Pra Ir Dizendo.
As duas Sociedades foram idealizadas por negros e para negros, já que a eles
não era permitido o acesso nas sociedades de brancos, sendo a Sociedade Cultural
Ferroviária Treze de Maio criada mais especificamente no ano de 1903 e o Clube
Cultural Fica Ahi, criado em 1921 como um Cordão Carnavalesco, assumindo o
estatuto de “clube” no ano de 1953.
Para entendermos um pouco sobre a história de revitalização do “13” é
importante registrar o relato de Escobar (2010):
O ano de 2001 foi um marco para o início da reconstituição e
ressignificação da Centenária Sociedade Cultural Ferroviária Treze
de Maio, por meio da materialização de um museu comunitário, que
surgiu em pleno século XXI, como um caminho, um meio e uma
estratégia para salvaguardar o patrimônio da centenária Sociedade,
que foi inserida neste período no Programa de Preservação e
Revitalização da Mancha Ferroviária que lhe conferiu status de bem
que precisava ser “protegido”, culminando com o posterior
tombamento do prédio, transformando-se em Patrimônio Histórico e
Cultural do Município de Santa Maria. (ESCOBAR, 2010)
Nesta perspectiva o Clube Cultural Fica Ahi Pra Ir Dizendo também realiza
suas atividades com a comunidade local e revitaliza-se como um Centro de Cultura
Afro-Brasileira. Segundo Rubert (2010), Coordenadora do Projeto de Extensão
“Assessoria ao Clube Social Negro Fica Ahí Pra Ir Dizendo no seu processo de
transformação em Centro de Cultura Afro-brasileira” pela Universidade Federal de
Pelotas:
A criação de um Ponto de Cultura, por meio de um Convênio com a
Universidade Católica de Pelotas proporcionou a digitalização dos
arquivos do Clube. Esta atividade foi realizada através do trabalho
voluntário de estagiários do Curso de informática, além da doação de
um computador para armazenamento dos arquivos, ao qual se somou
ao Clube para subsidiar as atividades da Biblioteca Negra. (RUBERT,
2010)
3
Desta maneira foi possível encontrar as fichas em um melhor estado de
conservação, o resultado foi um trabalho de restauro menos intervencionista na Fichas
do Clube Fica Ahi. Os documentos a serem restauradas representam parte da história
de sociabilidade dos negros gaúchos na década de 1980, especialmente. O trabalho
de tratamento deste material demonstra o interesse pelo resgate da memória de
pessoas que fizeram parte da luta por igualdade social, econômica e cultural após a
abolição da Escravatura.
Entende-se o Clube Negro Fica Ahi, assim como tantos outros Clubes Negros
do Brasil, como um Clube de festas, porém é essencial observar o relato de Escobar
(2010) que chama a atenção ao afirmar que embora “aparentemente” não houvesse
um compromisso político em seus nomes festivos, as suas ações reforçavam um
espaço de autoafirmação das identidades negras pelotenses. E é para um resgate
destas identidades que o Projeto de Assessoria ao Clube Cultural Fica Ahi,
coordenado por Rubert (2010) trabalha, objetivando ainda reconstituir e valorizar as
memórias e experiências de resistência ao preconceito racial no sul do país.
A partir do trabalho como pesquisadora voluntária no Museu Treze de Maio de
Santa Maria e posteriormente como bolsista da UFPel de Pelotas, a aluna do Curso de
Conservação e Restauro, Geanine Vargas Escobar selecionou duas Fichas de antigos
sócios de ambos os Clubes. A metodologia, os materiais e os procedimentos técnicos
de restauração e conservação de papel serão relatados ao longo do texto.
Para dar início ao tratamento de restauro foi necessário o preenchimento da
Ficha Cadastral, com dignóstico minucioso do acervo.
FICHA CADASTRAL
Fig. 1 e 2 - Ficha de Associado
Jorge Luiz Barbosa Marques
4
Fig. 3 e 4 - Ficha de Associado
Geraldo S. do Nascimento
Fig. 5 e 6 - Ficha de Associado
Paulo Roberto Noronha
Fig. 7 e 8 - Ficha de Associado
Adão Celso Camargo Ferreira
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DOS DOCUMENTOS
Data de Recebimento: 9 de maio de 2010
Data do Exame: 19 de junho de 2010
Data de Entrega: 15 de julho de 2010
Título / Tema: O resgate da Memória de Dois Clubes Sócias Negros: Sociedade
Cultural Ferroviária Treze de Maio- Santa Maria e Clube Cultural Fica Ahi Pra Ir
Dizendo – Pelotas – Através da Restauração de Antigas Fichas de Sócios.
5
Técnica: Papel – Documento
Assinatura: Jorge Luiz Barbosa Marques (fig.1 e 2) e Geraldo S. do Nascimento (fig.3
e 4) - Paulo Roberto Noronha (fig. 5 e 6) e Adão Celso Camargo Ferreira (fig. 7 e 8)
Data: (fig.1 e 2) - 1985; (fig.3 e 4) – 1979 e (fig. 5 e 6) - 1986; (fig. 7 e 8) – 1989
Nº de patrimônio: Carnê nº 30 (fig. 1) e Carnê nº 750 (fig.3). As fig. 5 e 7 não
possuem nº de Matrícula ou Título.
Origem: Arquivos da Antiga Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio, atualmente
Museu Treze de Maio – Santa Maria e arquivos do Clube Cultural Fica Ahi Pra Ir
Dizendo - Pelotas
Proprietário: Museu Treze de Maio e Clube Cultural Fica Ahi
Endereço: Museu Treze de Maio - Rua Silva Jardim nº 1220 - Bairro Centro- Santa
Maria / RS. Clube Cultural Fica Ahi - Rua Marechall Deodoro da Fonseca nº 368 –
Bairro Centro / RS
Estado de
Conservação
SIM NÃO Ph TIPO
Mofo/fungos X Pontos dispersos
Acidez X
Grau de PH X ÁCIDO –
Entre 6 e
7
Fita Adesiva X
Rasgos X Seguidamente
nas extremidades
Perda do Suporte X
Sujidades X Poeira,
amarelecimentos
6
Grade Sobre o Estado de Conservação
Manchas X Manchas digitais
7
Materiais e Equipamentos
o Água
o Água Deionizada
o Hidróxido de Cálcio 0,18%
o Cola Mista
o Pó de borracha
o Espátula de metal
o Espátula Térmica
o Bisturi nº10
o Sonda exploradora
o Pinça de relojoeiro
o Pincel de cerdas finas nº 10,
o nº 8, nº 4, nº 2
o Algodão
o Potes de vidros
o Medidor de Acidez
o Palito longo de madeira e algodão
para a confecção do swab
o Papel japonês
o Papel filtro. Utilizado como de
apoio no trabalho e serve também
de proteção para a mesa.
o Papel siliconado. Utilizado para o
trabalho com colas, matériais
mais líquidos e espátula térmica
o Servindo no auxílio para a
planificação dos papéis
o Lápis aquarelável
o Tábuas de vidro para planificação
o Mesa de luz e lupa de mesa
o Alicate para trabalhos minuciosos
Processos de Restauro I – Análises e Testes
Fig. 9 – Testes de Ph
Primeiramente fez-se o teste de Ph conforme a fig. 9, obtendo-se um resultado
com média 6 e 7 nas quatro fichas, detectando assim um nível médio de acidez. O
tratamento foi feito a seco e as observações mais precisas foram feitas com a lupa de
mesa (fig.10). As fotos 3x4 que acompanham as fichas permaneceram intactas, não
foram retiradas, apenas foi feita uma limpeza superficial com pincel (fig. 11).
8
Fig.10 Fig.11 Fig.12 Fig.13
Já no espaço restante da ficha, onde não havia foto, passou-se pó de
borracha, com o intuito de retirar parte da gordura, deixada principalmente por
sujidades digitais.
A Ficha de Jorge possuía grampos enferrujados que estavam deteriorando
ainda mais o papel. Com o auxílio de um alicate, efetuou-se a sua retirada (fig.12). As
fichas possuem diferentes tipos de escrita, tendo em sua composição: lápis de
escrever, caneta, canetinha hidrocor, além de manchas e resquícios de ferrugem e
mofo. O teste de solubilidade foi feito sem sucesso (fig.13), pois notamos que qualquer
solução, água e álcool 1:1, por exemplo, ou até mesmo Hidróxido de cálcio 18%,
manchava os documentos devido aos diferentes pigmentos de tinta. Por isto não foi
possível a desasidificação por banho ou pinceladas que qualquer solução com este
fim.
Processos de Restauro II – Papel Japonês e Enxertos
Fig. 15 Fig. 16 Fig. 17
Conforme a orientação da Profª Andréa Bachettini (fig.15), as manchas de
ferrugem da Ficha de Jorge Luiz Barbosa Marques foram retiradas delicadamente,
através de raspagem, com o auxílio de um bisturi e uma sonda exploradora (fig. 16 e
17). Esta “raspagem” resultou em pequenos furos (fig.18), que logo depois ficaram
prontos para receber o enxerto (fig.19) com polpa de papel japonês na mesa de luz
(Fig.20).
9
Fig. 18 Fig.19 Fig. 20
Após os enxertos no restante das fichas, os documentos foram deixados entre
de várias placas de vidro para sua planificação e breve retorno ao processo que ainda
necessita de muito trabalho até ficar pronto. Nas quatro fichas foram feitas
reintegrações de várias partes faltantes do documento, com papel japonês, além das
obturações com polpa de papel japonês e cola mista. A polpa de papel japonês é feita
a partir de pedaços desfiados do papel japonês (fig.21) e cola mista, isto é, Metil
Celulose 6% em 1000ml de água 50% + P.V.A Neutro 50% - (1:1). Esta mistura resulta
em uma polpa grossa (fig. 22) que é aplicada com muita delicadeza no orifício
desejado. Isso é feito com a ajuda de uma pinça de relojoeiro e uma sonda
exploradora (fig.23).
De acordo com a Prof. Andréa Bachettini (fig. 24) é de suma importância o uso
da mesa de luz para reintegração com papel japonês. Pois é a partir do alto nível de
luminosidade que conseguimos detectar todas as imperfeições do documento.
Fig. 21 Fig. 22 Fig 23 Fig 24
Nas figura 25 notamos como se faz o “corte” da folha de papel japonês, que
não pode de forma alguma ser executado com uma tesoura, isto efetuaria numa marca
visível no documento restaurado, o que não acontece. O papel japonês deve ser
cuidadosamente rasgado da seguinte forma: a medida que enxerga-se as partes
faltantes do documento, com o auxílio de um pincel de nº 4 molhado em água,
desenha-se o formato que se deseja (fig. 26) e logo o coloca-se em cima da parte
escolhida do documento para posteriormente efetuar as pinceladas de cola mista com
pincel nº 10 (fig.27). É importante lembrar que o uso do papel siliconado é fundamental
nestes casos.
10
Fig. 25 Fig. 26 Fig. 27
Processos de Restauro III – Reintegração Cromática e Planificação
Após cada processo de restauro, conforme Edson Motta e Maria Luiza, os
documentos são colocados entre folhas siliconadas, além das folhas de mata-borrão,
sendo prensados em seguida entre duas placas de vidro ou mais, a fim de evitar
ondulações e enrugamentos (fig. 28). O documento só é removido depois de
completamente seco. Após esta etapa fez-se a reintegração pictórica com lápis
aquarelável (fig. 29). Foram utilizados os lápis de cor branca, bege escuro, bege claro
e amarelo. A pintura é feita a olho nu, conforme a necessidade que cada parte do
documento necessita. Seguindo a ordem, com o auxílio papel siliconado em cima
documento passa-se a espátula térmica, a fim de alcançar o total nivelamento da ficha
(fig. 30). Depois foram retirados, com uma régua de metal e estilete, os excessos de
reintegração de papel japonês que havia nos documentos (fig. 31).
Fig. 28 Fig. 29 Fig. 30 Fig. 31
Processos de Restauro IV - Encapsulamento
Fig. 32 Fig. 33 Fig. 34 Fig. 35
Com as quatro fichas bem planificadas e secas (fig.32), inicia-se o processo de
encapsulamento. O trabalho é simples e efetivo. É preciso apenas de uma fita dupla
11
face transparente, que é colocada em torno do documento (fig. 33) e fixada no Filme
de Poliéster 180g. Com o alicate tiram-se os excessos de filme e logo fecha-se a o
envelope (fig. 34).
O encapsulamento (fig. 35 e 36) é feito para um longo período, garantindo
assim a boa estabilidade do documento, além de estar protegido de pequenas
sugidades como poeira e outros tipos de biodeterioração. As fichas também
receberam envelopes confeccionados com papel print max 180g e foram devidamente
guardadas em mapotecas (fig. 37) que encontram-se no Laboratório de Conservação
e Restauro da UFPel/Pelotas/RS.
Fig. 36 Fig. 37
12
Considerações Finais
Segundo estudos de Glória Cristina Motta (2008) desenvolvidos na Escola
SENAI, que trazem pesquisas sobre o papel desde a sua invenção na China em 105
d.C. pelo chinês de T’Sai Lun até a sua atual fabricação, todos os processos
realizados até hoje para que possamos usufruir deste material foram essenciais para o
mundo em sociedade. Mas é importante lembrar que, conforme Chris Woods e
Stephen Ball (2005) os objetos efêmeros são mais suscetíveis aos danos mecânicos e
àqueles provocados pela luz, calor e umidade. Desta maneira retomamos aos
lembretes de Edson Motta e Maria Luiza Salgado (1969) que dizem que os cuidados
com documentos e livros são metódicos e habituais. Sendo os danos mecânicos
resultantes do uso freqüente e do manuseio incorreto, que acabam resultando em
rasgos, manchas, etc.
Estes assuntos são recorrentes quando o tema é restauro e conservação de
papel. Nesse sentido, concluí-se que a prática do restauro nestas fichas em laboratório
moderno e equipado, como é o caso do Curso de Conservação e Restauro/UFPel é de
extrema importância para o início das pesquisas referentes aos Bens Culturais Afro-
Brasileiros no Rio Grande do Sul e no Brasil, onde o segmento dos Clubes Sociais
Negros do RS conta com mais de 50 entidades centenárias, com raro acervo que
urge por tratamento, conservação e restauração.
Referencias Bibliográficas
MOTTA, Edson e Salgado, Maria Luiza. O Papel Problemas de Conservação e
Restauração. Petrópolis, 1969.
MOTTA, Gloria Cristina. História do papel. São Paulo: SENAI, 2008
BRADLEY, Suzan M. Os objetos têm vida finita? In: MENDES, Marylka et al.
Conservação – Conceitos e práticas. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001.
BECK, Ingrid. Recomendações para a Construção de Arquivos. Rio de Janeiro:s/d.
WOODS, Chris; BALL, Stephen. Conservação de arquivos e objetos efêmeros. In:
Museologia: Roteiros Práticos 9. Conservação de Coleções. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo: [Fundação] Vitae, 2005. P. 75-88.
CRADDOCK, Ann Brooke. Controle de temperatura e umidade em acervos pequenos.
In: MENDES, Marylka et al. Conservação – Conceitos e práticas. Rio de Janeiro:
Ed. UFRJ, 2001.
13
REILLY, J. M.; NISHIMURA, D. W.; ZINN, E. Novas ferramentas para preservação:
avaliando os efeitos ambientais a longo prazo sobre bibliotecas e arquivos. Rio de
Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional,
2001.
ESCOBAR, Giane Vargas. Clubes sociais negros: lugares de memória, resistência
negra, patrimônio e potencial / por Giane Vargas Escobar; orientador Júlio Ricardo
Quevedo dos Santos. – Santa Maria, 2010. 205 f. Dissertação (mestrado) –
Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Sociais e Humanas,
Programa de Pós-Graduação Profissionalizante em Patrimônio Cultural, RS, 2010.
SILVA, Fernanda Oliveira da – Monografia: Raça, sociabilidade e identidade num
clube pelotense: Clube carnavalesco negro Fica Ahí Pra Ir Dizendo (1938-1943) –
Universidade Federal de Pelotas – Instituto de Ciências Humanas – Curso de História
– Pelotas, 2008.
RUBERT, Rosane Aparecida - Mestre em Antropologia Social e Doutora em
Desenvolvimento Rural Universidade Federal de Pelotas – Coordenadora do Projeto
de Extensão “Assessoria ao Clube Social Negro Fica Ahí Pra Ir Dizendo no seu
processo de transformação em Centro de Cultura Afro-brasileira” - Departamento
de História e Antropologia (ICH) – Pelotas, 2010.
Recomendações para a Construção de arquivos - Texto original Ingrid Beck
Revisão técnica Alfredo Brito e Claudia S. Rodrigues de Carvalho (arquitetos) - Edição
de texto Carlos Augusto Silva Ditadi e Marilena Leite Paes Coordenação de Pesquisa
e Promoções Culturais do Arquivo Nacional Copyright © 2000 by Conselho Nacional
de Arquivos – Conarq

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A reconstituição da memória através da restauração de antigas Fichas de Associados de dois Clubes Sociais Negros do RS: a Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio de Santa Maria e Clube Cultural Fica Ahi pra Ir dizendo de Pelotas

  • 1. A reconstituição da memória através da restauração de antigas Fichas de Associados de dois Clubes Sociais Negros do RS: a Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio de Santa Maria e Clube Cultural Fica Ahi pra Ir dizendo de Pelotas1 Geanine Vargas Escobar e Andréa Lacerda Bachettini O presente artigo tem como objetivo apresentar o processo de restauração e conservação de antigas Fichas de Sócios de dois Clubes Sociais Negros do RS. O trabalho de restauro iniciou no 4º semestre/2010 do Curso de Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas, com objetivo de preservar a história e memória dos clubes, através de exames laboratoriais específicos para o tratamento de documentos em papel, como as Fichas de Sócios. O processo consiste em proceder desde a análise histórica, identificação de patologias, estado de conservação, até a sua restauração completa. As análises iniciaram após um mapeamento fotográfico do conjunto de fichas de Sócios do Clube Social Negro Treze de Maio e do Clube Fica Ahi Pra Ir Dizendo. As fichas dos sócios Jorge Luiz Barbosa Marques e Geraldo S. do Nascimento fazem 1 ESCOBAR, Gianine Vargas; BACHETTINI, Andréa Lacerda. A reconstituição da memória através da restauração de antigas Fichas de Associados de dois Clubes Sociais Negros do RS: a Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio de Santa Maria e Clube Cultural Fica Ahi pra Ir dizendo de Pelotas. In: SOARES, A. L. R. (org). Anais do I Congresso Nacional Memória e Etnicidade, Casa Aberta Editora, Itajaí, 2010. ISSN: 21784981 Acadêmica de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas/RS e Bolsista de Pesquisa do Projeto de Extensão “Assessoria ao Clube Social Negro Fica Ahí Pra Ir Dizendo no seu processo de transformação em Centro de Cultura Afro-brasileira” da UFPel, 2010. Professora do Curso de Conservação e Restauro/ICH/UFPel, Mestre em História pela PUCRS, Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais pelo CECOR/UFMG, Especialista em Patrimônio Cultural Conservação de Artefatos ILA/UFPel, Bacharel em Pintura e Gravura pelo ILA/UFPel.
  • 2. 2 parte do acervo da Antiga Sociedade Cultural-Ferroviária Treze de Maio, assim como as fichas dos sócios Paulo Roberto Noronha e Adão Celso Camargo Ferreira fazem parte do acervo do Clube Cultural Fica Ahi Pra Ir Dizendo. As duas Sociedades foram idealizadas por negros e para negros, já que a eles não era permitido o acesso nas sociedades de brancos, sendo a Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio criada mais especificamente no ano de 1903 e o Clube Cultural Fica Ahi, criado em 1921 como um Cordão Carnavalesco, assumindo o estatuto de “clube” no ano de 1953. Para entendermos um pouco sobre a história de revitalização do “13” é importante registrar o relato de Escobar (2010): O ano de 2001 foi um marco para o início da reconstituição e ressignificação da Centenária Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio, por meio da materialização de um museu comunitário, que surgiu em pleno século XXI, como um caminho, um meio e uma estratégia para salvaguardar o patrimônio da centenária Sociedade, que foi inserida neste período no Programa de Preservação e Revitalização da Mancha Ferroviária que lhe conferiu status de bem que precisava ser “protegido”, culminando com o posterior tombamento do prédio, transformando-se em Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Santa Maria. (ESCOBAR, 2010) Nesta perspectiva o Clube Cultural Fica Ahi Pra Ir Dizendo também realiza suas atividades com a comunidade local e revitaliza-se como um Centro de Cultura Afro-Brasileira. Segundo Rubert (2010), Coordenadora do Projeto de Extensão “Assessoria ao Clube Social Negro Fica Ahí Pra Ir Dizendo no seu processo de transformação em Centro de Cultura Afro-brasileira” pela Universidade Federal de Pelotas: A criação de um Ponto de Cultura, por meio de um Convênio com a Universidade Católica de Pelotas proporcionou a digitalização dos arquivos do Clube. Esta atividade foi realizada através do trabalho voluntário de estagiários do Curso de informática, além da doação de um computador para armazenamento dos arquivos, ao qual se somou ao Clube para subsidiar as atividades da Biblioteca Negra. (RUBERT, 2010)
  • 3. 3 Desta maneira foi possível encontrar as fichas em um melhor estado de conservação, o resultado foi um trabalho de restauro menos intervencionista na Fichas do Clube Fica Ahi. Os documentos a serem restauradas representam parte da história de sociabilidade dos negros gaúchos na década de 1980, especialmente. O trabalho de tratamento deste material demonstra o interesse pelo resgate da memória de pessoas que fizeram parte da luta por igualdade social, econômica e cultural após a abolição da Escravatura. Entende-se o Clube Negro Fica Ahi, assim como tantos outros Clubes Negros do Brasil, como um Clube de festas, porém é essencial observar o relato de Escobar (2010) que chama a atenção ao afirmar que embora “aparentemente” não houvesse um compromisso político em seus nomes festivos, as suas ações reforçavam um espaço de autoafirmação das identidades negras pelotenses. E é para um resgate destas identidades que o Projeto de Assessoria ao Clube Cultural Fica Ahi, coordenado por Rubert (2010) trabalha, objetivando ainda reconstituir e valorizar as memórias e experiências de resistência ao preconceito racial no sul do país. A partir do trabalho como pesquisadora voluntária no Museu Treze de Maio de Santa Maria e posteriormente como bolsista da UFPel de Pelotas, a aluna do Curso de Conservação e Restauro, Geanine Vargas Escobar selecionou duas Fichas de antigos sócios de ambos os Clubes. A metodologia, os materiais e os procedimentos técnicos de restauração e conservação de papel serão relatados ao longo do texto. Para dar início ao tratamento de restauro foi necessário o preenchimento da Ficha Cadastral, com dignóstico minucioso do acervo. FICHA CADASTRAL Fig. 1 e 2 - Ficha de Associado Jorge Luiz Barbosa Marques
  • 4. 4 Fig. 3 e 4 - Ficha de Associado Geraldo S. do Nascimento Fig. 5 e 6 - Ficha de Associado Paulo Roberto Noronha Fig. 7 e 8 - Ficha de Associado Adão Celso Camargo Ferreira FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DOS DOCUMENTOS Data de Recebimento: 9 de maio de 2010 Data do Exame: 19 de junho de 2010 Data de Entrega: 15 de julho de 2010 Título / Tema: O resgate da Memória de Dois Clubes Sócias Negros: Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio- Santa Maria e Clube Cultural Fica Ahi Pra Ir Dizendo – Pelotas – Através da Restauração de Antigas Fichas de Sócios.
  • 5. 5 Técnica: Papel – Documento Assinatura: Jorge Luiz Barbosa Marques (fig.1 e 2) e Geraldo S. do Nascimento (fig.3 e 4) - Paulo Roberto Noronha (fig. 5 e 6) e Adão Celso Camargo Ferreira (fig. 7 e 8) Data: (fig.1 e 2) - 1985; (fig.3 e 4) – 1979 e (fig. 5 e 6) - 1986; (fig. 7 e 8) – 1989 Nº de patrimônio: Carnê nº 30 (fig. 1) e Carnê nº 750 (fig.3). As fig. 5 e 7 não possuem nº de Matrícula ou Título. Origem: Arquivos da Antiga Sociedade Cultural Ferroviária Treze de Maio, atualmente Museu Treze de Maio – Santa Maria e arquivos do Clube Cultural Fica Ahi Pra Ir Dizendo - Pelotas Proprietário: Museu Treze de Maio e Clube Cultural Fica Ahi Endereço: Museu Treze de Maio - Rua Silva Jardim nº 1220 - Bairro Centro- Santa Maria / RS. Clube Cultural Fica Ahi - Rua Marechall Deodoro da Fonseca nº 368 – Bairro Centro / RS Estado de Conservação SIM NÃO Ph TIPO Mofo/fungos X Pontos dispersos Acidez X Grau de PH X ÁCIDO – Entre 6 e 7 Fita Adesiva X Rasgos X Seguidamente nas extremidades Perda do Suporte X Sujidades X Poeira, amarelecimentos
  • 6. 6 Grade Sobre o Estado de Conservação Manchas X Manchas digitais
  • 7. 7 Materiais e Equipamentos o Água o Água Deionizada o Hidróxido de Cálcio 0,18% o Cola Mista o Pó de borracha o Espátula de metal o Espátula Térmica o Bisturi nº10 o Sonda exploradora o Pinça de relojoeiro o Pincel de cerdas finas nº 10, o nº 8, nº 4, nº 2 o Algodão o Potes de vidros o Medidor de Acidez o Palito longo de madeira e algodão para a confecção do swab o Papel japonês o Papel filtro. Utilizado como de apoio no trabalho e serve também de proteção para a mesa. o Papel siliconado. Utilizado para o trabalho com colas, matériais mais líquidos e espátula térmica o Servindo no auxílio para a planificação dos papéis o Lápis aquarelável o Tábuas de vidro para planificação o Mesa de luz e lupa de mesa o Alicate para trabalhos minuciosos Processos de Restauro I – Análises e Testes Fig. 9 – Testes de Ph Primeiramente fez-se o teste de Ph conforme a fig. 9, obtendo-se um resultado com média 6 e 7 nas quatro fichas, detectando assim um nível médio de acidez. O tratamento foi feito a seco e as observações mais precisas foram feitas com a lupa de mesa (fig.10). As fotos 3x4 que acompanham as fichas permaneceram intactas, não foram retiradas, apenas foi feita uma limpeza superficial com pincel (fig. 11).
  • 8. 8 Fig.10 Fig.11 Fig.12 Fig.13 Já no espaço restante da ficha, onde não havia foto, passou-se pó de borracha, com o intuito de retirar parte da gordura, deixada principalmente por sujidades digitais. A Ficha de Jorge possuía grampos enferrujados que estavam deteriorando ainda mais o papel. Com o auxílio de um alicate, efetuou-se a sua retirada (fig.12). As fichas possuem diferentes tipos de escrita, tendo em sua composição: lápis de escrever, caneta, canetinha hidrocor, além de manchas e resquícios de ferrugem e mofo. O teste de solubilidade foi feito sem sucesso (fig.13), pois notamos que qualquer solução, água e álcool 1:1, por exemplo, ou até mesmo Hidróxido de cálcio 18%, manchava os documentos devido aos diferentes pigmentos de tinta. Por isto não foi possível a desasidificação por banho ou pinceladas que qualquer solução com este fim. Processos de Restauro II – Papel Japonês e Enxertos Fig. 15 Fig. 16 Fig. 17 Conforme a orientação da Profª Andréa Bachettini (fig.15), as manchas de ferrugem da Ficha de Jorge Luiz Barbosa Marques foram retiradas delicadamente, através de raspagem, com o auxílio de um bisturi e uma sonda exploradora (fig. 16 e 17). Esta “raspagem” resultou em pequenos furos (fig.18), que logo depois ficaram prontos para receber o enxerto (fig.19) com polpa de papel japonês na mesa de luz (Fig.20).
  • 9. 9 Fig. 18 Fig.19 Fig. 20 Após os enxertos no restante das fichas, os documentos foram deixados entre de várias placas de vidro para sua planificação e breve retorno ao processo que ainda necessita de muito trabalho até ficar pronto. Nas quatro fichas foram feitas reintegrações de várias partes faltantes do documento, com papel japonês, além das obturações com polpa de papel japonês e cola mista. A polpa de papel japonês é feita a partir de pedaços desfiados do papel japonês (fig.21) e cola mista, isto é, Metil Celulose 6% em 1000ml de água 50% + P.V.A Neutro 50% - (1:1). Esta mistura resulta em uma polpa grossa (fig. 22) que é aplicada com muita delicadeza no orifício desejado. Isso é feito com a ajuda de uma pinça de relojoeiro e uma sonda exploradora (fig.23). De acordo com a Prof. Andréa Bachettini (fig. 24) é de suma importância o uso da mesa de luz para reintegração com papel japonês. Pois é a partir do alto nível de luminosidade que conseguimos detectar todas as imperfeições do documento. Fig. 21 Fig. 22 Fig 23 Fig 24 Nas figura 25 notamos como se faz o “corte” da folha de papel japonês, que não pode de forma alguma ser executado com uma tesoura, isto efetuaria numa marca visível no documento restaurado, o que não acontece. O papel japonês deve ser cuidadosamente rasgado da seguinte forma: a medida que enxerga-se as partes faltantes do documento, com o auxílio de um pincel de nº 4 molhado em água, desenha-se o formato que se deseja (fig. 26) e logo o coloca-se em cima da parte escolhida do documento para posteriormente efetuar as pinceladas de cola mista com pincel nº 10 (fig.27). É importante lembrar que o uso do papel siliconado é fundamental nestes casos.
  • 10. 10 Fig. 25 Fig. 26 Fig. 27 Processos de Restauro III – Reintegração Cromática e Planificação Após cada processo de restauro, conforme Edson Motta e Maria Luiza, os documentos são colocados entre folhas siliconadas, além das folhas de mata-borrão, sendo prensados em seguida entre duas placas de vidro ou mais, a fim de evitar ondulações e enrugamentos (fig. 28). O documento só é removido depois de completamente seco. Após esta etapa fez-se a reintegração pictórica com lápis aquarelável (fig. 29). Foram utilizados os lápis de cor branca, bege escuro, bege claro e amarelo. A pintura é feita a olho nu, conforme a necessidade que cada parte do documento necessita. Seguindo a ordem, com o auxílio papel siliconado em cima documento passa-se a espátula térmica, a fim de alcançar o total nivelamento da ficha (fig. 30). Depois foram retirados, com uma régua de metal e estilete, os excessos de reintegração de papel japonês que havia nos documentos (fig. 31). Fig. 28 Fig. 29 Fig. 30 Fig. 31 Processos de Restauro IV - Encapsulamento Fig. 32 Fig. 33 Fig. 34 Fig. 35 Com as quatro fichas bem planificadas e secas (fig.32), inicia-se o processo de encapsulamento. O trabalho é simples e efetivo. É preciso apenas de uma fita dupla
  • 11. 11 face transparente, que é colocada em torno do documento (fig. 33) e fixada no Filme de Poliéster 180g. Com o alicate tiram-se os excessos de filme e logo fecha-se a o envelope (fig. 34). O encapsulamento (fig. 35 e 36) é feito para um longo período, garantindo assim a boa estabilidade do documento, além de estar protegido de pequenas sugidades como poeira e outros tipos de biodeterioração. As fichas também receberam envelopes confeccionados com papel print max 180g e foram devidamente guardadas em mapotecas (fig. 37) que encontram-se no Laboratório de Conservação e Restauro da UFPel/Pelotas/RS. Fig. 36 Fig. 37
  • 12. 12 Considerações Finais Segundo estudos de Glória Cristina Motta (2008) desenvolvidos na Escola SENAI, que trazem pesquisas sobre o papel desde a sua invenção na China em 105 d.C. pelo chinês de T’Sai Lun até a sua atual fabricação, todos os processos realizados até hoje para que possamos usufruir deste material foram essenciais para o mundo em sociedade. Mas é importante lembrar que, conforme Chris Woods e Stephen Ball (2005) os objetos efêmeros são mais suscetíveis aos danos mecânicos e àqueles provocados pela luz, calor e umidade. Desta maneira retomamos aos lembretes de Edson Motta e Maria Luiza Salgado (1969) que dizem que os cuidados com documentos e livros são metódicos e habituais. Sendo os danos mecânicos resultantes do uso freqüente e do manuseio incorreto, que acabam resultando em rasgos, manchas, etc. Estes assuntos são recorrentes quando o tema é restauro e conservação de papel. Nesse sentido, concluí-se que a prática do restauro nestas fichas em laboratório moderno e equipado, como é o caso do Curso de Conservação e Restauro/UFPel é de extrema importância para o início das pesquisas referentes aos Bens Culturais Afro- Brasileiros no Rio Grande do Sul e no Brasil, onde o segmento dos Clubes Sociais Negros do RS conta com mais de 50 entidades centenárias, com raro acervo que urge por tratamento, conservação e restauração. Referencias Bibliográficas MOTTA, Edson e Salgado, Maria Luiza. O Papel Problemas de Conservação e Restauração. Petrópolis, 1969. MOTTA, Gloria Cristina. História do papel. São Paulo: SENAI, 2008 BRADLEY, Suzan M. Os objetos têm vida finita? In: MENDES, Marylka et al. Conservação – Conceitos e práticas. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001. BECK, Ingrid. Recomendações para a Construção de Arquivos. Rio de Janeiro:s/d. WOODS, Chris; BALL, Stephen. Conservação de arquivos e objetos efêmeros. In: Museologia: Roteiros Práticos 9. Conservação de Coleções. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: [Fundação] Vitae, 2005. P. 75-88. CRADDOCK, Ann Brooke. Controle de temperatura e umidade em acervos pequenos. In: MENDES, Marylka et al. Conservação – Conceitos e práticas. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001.
  • 13. 13 REILLY, J. M.; NISHIMURA, D. W.; ZINN, E. Novas ferramentas para preservação: avaliando os efeitos ambientais a longo prazo sobre bibliotecas e arquivos. Rio de Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional, 2001. ESCOBAR, Giane Vargas. Clubes sociais negros: lugares de memória, resistência negra, patrimônio e potencial / por Giane Vargas Escobar; orientador Júlio Ricardo Quevedo dos Santos. – Santa Maria, 2010. 205 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Sociais e Humanas, Programa de Pós-Graduação Profissionalizante em Patrimônio Cultural, RS, 2010. SILVA, Fernanda Oliveira da – Monografia: Raça, sociabilidade e identidade num clube pelotense: Clube carnavalesco negro Fica Ahí Pra Ir Dizendo (1938-1943) – Universidade Federal de Pelotas – Instituto de Ciências Humanas – Curso de História – Pelotas, 2008. RUBERT, Rosane Aparecida - Mestre em Antropologia Social e Doutora em Desenvolvimento Rural Universidade Federal de Pelotas – Coordenadora do Projeto de Extensão “Assessoria ao Clube Social Negro Fica Ahí Pra Ir Dizendo no seu processo de transformação em Centro de Cultura Afro-brasileira” - Departamento de História e Antropologia (ICH) – Pelotas, 2010. Recomendações para a Construção de arquivos - Texto original Ingrid Beck Revisão técnica Alfredo Brito e Claudia S. Rodrigues de Carvalho (arquitetos) - Edição de texto Carlos Augusto Silva Ditadi e Marilena Leite Paes Coordenação de Pesquisa e Promoções Culturais do Arquivo Nacional Copyright © 2000 by Conselho Nacional de Arquivos – Conarq