O documento discute os problemas atuais das polícias brasileiras, incluindo o modelo de polícia de ciclo incompleto, condições de trabalho deficientes, baixos salários, falta de treinamento, corrupção e ingerência política. Propõe que sejam promovidas mudanças estruturais e conjunturais nos órgãos policiais para que a segurança pública no Brasil possa ser mais eficiente e atender às demandas da sociedade.
Abordagem policial avaliacao do desempenho operacional frente a nova dinami...
A atual situação das polícias brasileiras
1. A ATUAL SITUAÇÃO DAS POLÍCIAS BRASILEIRAS
AUTOR: JOSÉ ALMIR FEITOSA DE LIMA, BACHAREL EM ECONOMIA
PELAS FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS E SOLDADO DA POLICIA MILITAR
DO RIO GRANDE DO NORTE DESDE 2006.
Há hoje no Brasil, um consenso quanto à necessidade de se promover mudanças
substantivas no nosso atual sistema de segurança pública. Os políticos, independente de suas
orientações político-partidárias, assim como os segmentos civis organizados, os formadores
de opinião, os cidadãos comuns e os próprios profissionais de polícia são unânimes em
reconhecer a imperiosa necessidade de se adequar o sistema policial brasileiro às exigências
do Estado democrático de direito.
O modelo de polícia adotado pelo Brasil é o modelo de ciclo incompleto, esse
modelo tem com característica a existência de duas policias distintas e com atribuições
diferentes, uma faz o trabalho ostensivo (policia militar) e a outra as investigações (policia
civil). Esse modelo só existe no Brasil e em poucos países pobres do continente africano.
Além disso, o Brasil é o único país que tem uma policia militarizada que realiza policiamento
de natureza civil.
Nos últimos anos tem sido constante as criticas ao modelo de polícia adotado no
Brasil, diversos projetos de emenda a constituição foram apresentados no congresso nacional
versando sobre a reestruturação das policias estaduais, os próprios policiais defendem a idéia
da desmilitarização e a criação de uma policia unificada com atividades de natureza civil e
ciclo completo. Segundo Fernandes (2009), uma pesquisa realizada com 64 mil policiais de
todo o Brasil pelo Ministério da Justiça e PNUD mostra que 35% dos profissionais defendem
a unificação das polícias civil e militar formando uma única polícia estadual não militarizada,
20% defendem a permanência do atual modelo e 45% defendem outros modelos de polícia.
A demonstração clara de descontentamento dos profissionais de segurança pública
com o atual modelo de polícia não é em vão, existem razões suficientes para opiniões deste
tipo. Os policiais, principalmente os militares, passam por humilhações e torturas durante sua
formação profissional. De acordo com a pesquisa citada 20% dos profissionais entrevistados
disseram já ter sido torturado durante sua formação. Além disso, os estatutos dos policiais
militares não condizem com a realidade democrática do nosso país, a maioria dos estatutos é
uma cópia do regulamento das forças armadas e trazem em suas páginas inúmeros artigos que
vão de encontro às garantias constitucionais. Para se ter uma ideia, um policial militar pode
2. ser preso apenas por estar com o uniforme amassado ou com o coturno sujo. Se quiser se
casar ou viajar precisa pedir autorização ao seu comandante, além disso, os militares também
não podem fazer greve, formar sindicatos nem ser donos ou sócios de empresas, além de
outras regras absurdos e inconstitucionais que existem nos regulamentos dos militares. Os
estatutos das polícias militares não passaram por nenhuma revisão depois da constituição de
1988, ou seja, ainda permanecem com o texto da época da ditadura.
Outro grave problema que aflige os policiais diz respeito à carga horária, os
policiais trabalham 24 horas sem parar por 48 horas de folga, se levarmos em conta que um
cidadão trabalha 8 horas diárias, podemos dizer que um dia de serviço de um policial
corresponde a três dias de serviço de um trabalhador comum. Enquanto um trabalhador tem
uma carga horária de 48 horas semanais, a do policial é de 72 horas semanais. Além disso, em
certas épocas festivas a escala é apertada pra 24 horas de serviço por 24 horas de folga, e na
maioria das vezes o policial não recebe nenhum centavo a mais por essas horas extras. As
condições de trabalho destes profissionais são as piores possíveis, o grau de estresse é muito
elevado. Segundo Fernandes (2009) 19% dos policiais afirmaram ter sido vitimas de violência
em serviço e 42% revelaram ter sido vitima de ameaça de morte por parte de bandidos. Some-
se a isso a falta de equipamentos adequados, baixos salários e falta de assistência para os
profissionais.
Segundo a mesma revista a baixa produtividade da polícia vem, ainda, da falta de
treinamento. Pouco mais de 3% dos agentes de segurança tiveram mais de um ano de
aprendizagem em cursos. A formação dos policiais tem muito mais ênfase no confronto do
que na investigação: 92% deles têm aulas de condicionamento físico, 85,6% aprendem a atirar
e apenas 33% fazem técnicas de investigação, enquanto só 39% estudam mediação de
conflito. Não se sabe o que é mais espantoso: que 15% de nossos policiais estejam nas ruas
armados sem ter feito curso de tiro ou se apenas um em cada três deles saiba investigar.
Não bastasse tudo isso, os policiais são vitimas também do preconceito da própria
sociedade. Que em parte ocorre por causa de casos de corrupção de alguns policiais. A
pesquisa divulgada pela revista época revelou que entre os oficiais da polícia militar 41,3%
disseram que fingiriam não ter visto um colega recebendo propina. Já entre os praças, o
porcentual cai para 21,6%. Chama a atenção o número dos superiores que ainda tentariam se
beneficiar da propina: 5,1% dos delegados e 2,8% dos oficiais da PM disseram que pediriam
sua parte também, em comparação a 3,7% dos policiais civis e 2,1% dos praças.
Paradoxalmente, 78,4% dos policiais consideram muito importante combater a corrupção para
melhorar a segurança no país.
3. São números que explicam por que a polícia é tão estigmatizada pela sociedade:
61,1% dos agentes dizem que já foram discriminados por causa de sua profissão. Tanta carga
negativa faz com que policiais até escondam sua vida profissional.
Por ultimo, cabe ainda destacar o caso da ingerência política, que muitas vezes
prejudica fortemente o trabalho da polícia. É comum em pequenas cidades do interior casos
de políticos que chegam até a invadir delegacias para libertar presos que são seus aliados.
Quando o policial prende alguém que cometeu um crime, e faz os procedimentos corretos,
muitas vezes é transferido para outra cidade muito distante de onde reside, isso faz com que
em cidades do interior a polícia fique impedida de cumprir seu papel e se sujeitando aos
interesses políticos de determinados grupos.
Para Muniz (2001) a valorização dos profissionais de segurança pública é
importante por que é através das polícias que os princípios que estruturam a vida democrática
são enraizados no nosso cotidiano. As polícias contemporâneas tornaram-se extremamente
permeáveis e sensíveis às constantes transformações do mercado da cidadania. Seu lugar na
sustentação do Estado de direito é direto e executivo. Até porque, os efeitos positivos e
negativos de sua ação ou de sua inação são imediatamente sentidos pela população.
O investimento da qualificação e reforma das polícias é fundamental, promover a
valorização, estimulando seu comprometimento com o trabalho preventivo, com os direitos
humanos, apoiando sua presença interativa e dialógica nas comunidades, e, na esfera
municipal, solicitando seu apoio permanente. Para que intervenções preventivas logrem êxito,
frequentemente, têm de ser acompanhadas por iniciativas policiais que garantam, por
exemplo, a liberação dos territórios, quando eventualmente estiverem sob o domínio de
grupos armados.
Desta forma pode-se dizer que é necessário promover mudanças estruturais e
conjunturais nos órgãos policiais, para que a segurança pública no Brasil possa alcançar a
eficiência e eficácia demandada pela sociedade.
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