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C1 TERÇA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2015 ANO XXIX – Nº 9894 O ESTADO DE S. PAULO
Companhia italiana traz a SP espetáculo que une dança, teatro e tecnologia. Pág. C5
ANDREA ZANI/DIVULGAÇÃO
Arte científica
Novidade.
‘Firefly’ é a
primeira obra
que a eVolution
Dance Theater
apresenta no Brasil
Caderno2
Beleza da
crônica carioca
No Rio, o cotidiano de
João Antônio, Mário
Lago e Rubem Braga
Pág. C3
‘Cometi todos os erros possíveis
com a minha companhia’
O americano Anthony
Heinl faliu três vezes nos
sete anos do grupo;
agora, diz que tudo está
finalmente dando certo
Luz e
escuridão
Parafazero primeiroespetácu-
lo da eVolution Dance Theater,
o coreógrafo Anthony Heinl
afirma que gastou todo seu di-
nheiro e vendeu tudo o que ti-
nha. Com o esforço, conseguiu
umteatroemRomaporumase-
mana.Acasalotoueosdonosdo
local decidiram ampliar a apre-
sentaçãopara três semanas.
Apesar do sucesso inicial no
palco, os bastidores não davam
omesmoresultado.Heinladmi-
tequenãoestavapreparadopa-
ra administrar uma empresa.
Ao longo de sete anos, o ameri-
cano faliu três vezes e vendeu
carros para manter a compa-
nhia funcionando. “Não sabia
como fazer publicidade, como
pagar os bailarinos legalmente,
não sabia que eu precisava de
umadvogado,comofazerprote-
çãodecopyright...Haviaummi-
lhão de coisas que eu não tinha
ideia.Éumprocessolongoelen-
to. Fiz todos os erros possíveis
com a companhia”, diz, rindo.
Agora,segundoocoreógrafo,
“parecequefinalmenteestátu-
do ok”. Heinl conseguiu se es-
truturar para fazer turnês, co-
mo a do Brasil, e fechar parce-
riasimportantes.Noanopassa-
do, a eVolution foi convidada
pelaDisneyparacriarumshow,
chamado Magic of Light, para a
linha de cruzeiros da empresa.
“Foirealmentedesafiador.Eles
são grandes e têm os próprios
padrões.Foiumaboaexperiên-
cia de aprendizagem.”
A temporada no Brasil tam-
bém é vista como outra grande
oportunidade de crescimento.
Além disso, o público no País –
queHeinl conhecebemdaépo-
ca em que dançava no Momix –
deixaocoreógrafoentusiasma-
do. “Amo ir ao Brasil, é incrível.
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Esforço. Segundo o coreógra-
fo,aadministraçãoempresarial
é essencial para dar estrutura a
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fícilparaquemestánaárea.Em-
borahajaoportunidadescomer-
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paço para companhias peque-
nas e artistas que atuam de for-
ma independente.
A saída, segundo o america-
no,étrabalharsérioparafazero
grupo crescer aos poucos, tor-
nando-ocadavezmaisfirmeno
cenário da dança. O objetivo fi-
nal, afirma Heinl, é “chegar a
um ponto que não preciso me
preocupar tanto com dinhei-
ro”.Nocaminho,pretendecon-
tinuarinvestindoemnovastec-
nologias, materiais e figurinos.
“Tenho muitas ideias maiores
que nunca tive orçamento para
tentar.Talvez algum dia ter um
show grande como o Cirque du
Soleil ou algo assim.”
Mas Heinl reconhece que o
trabalhoduroàsvezeséacompa-
nhado por um pouco de sorte.
Foi o que aconteceu pouco an-
tesdacriaçãodeFirefly,quando
o americano foi chamado por
umacompanhiadebaléemFlo-
rença,naItália,quehaviaperdi-
doseucoreógrafo.“Elesmeliga-
ram para ver se eu podia criar
algorápido.Eeujáestavatraba-
lhando em algumas ideias para
Firefly. Pude trabalhar intensa-
mente com 25 de seus bailari-
nosdurantedoismeses”,conta.
“É estranho como um dia você
recebe uma ligação e isso muda
os próximos nove meses de sua
vida. Você nunca sabe, esse ra-
mo é muito maluco.” / J.R.
Juliana Ravelli
É uma tradição antiga, que co-
meçou com ilusionistas e pas-
sou por visionários como o ci-
neasta francês Georges Méliès
(1861-1938): encantar com a
ciência e tecnologia e comover
comaarte.Aounirsuaspaixões,
o coreógrafo americano An-
thony Heinl faz o mesmo com a
eVolution Dance Theater. Nes-
taterça,21,acompanhiaestabe-
lecida na Itália se apresenta no
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nêpassaráaindapeloRio,Paulí-
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Criadoem2008,ogrupoapre-
senta no Brasil o espetáculo Fi-
refly, que une dança, teatro,
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tos especiais. “Sempre gostei
muito de ciência e tecnologia,
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meceiaestudarQuímicaeFísi-
ca na universidade, mas decidi
que queria tentar fazer teatro”,
disse ao Estado, por telefone.
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ca causar com o trabalho teve
inspiração na infância, quando
observava vaga-lumes (fire-
flies, em inglês) no quintal de
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Heinldesejaqueopúblicote-
nhaamesmaexperiênciasingu-
laraoassistiraoespetáculo.No
entanto, prefere não oferecer
muitas explicações sobre o que
surge no palco. Quer que cada
umseencarreguededarsignifi-
cados para aquilo que vê.
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negra. Nunca se sabe de onde
surgemeparaondevão.Elasin-
teragem com objetos que, co-
mo os bailarinos, ganham vida
por meio das cores, iluminação
edos movimentos. “É difícilfa-
zer tudo no escuro. Temos mi-
lhares de objetos e precisamos
colocar tudo no lugar certo.”
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deseexplorarnovas técnicas,o
elenco ensaia oito horas todos
os dias. Segundo o coreógrafo,
no estúdio, uma ideia se trans-
formaem“ummilhãodepossi-
bilidades” que são testadas até
quesejaencontradaaalternati-
va ideal. Depois, vem a repeti-
çãoexaustiva,parachegaràexe-
cução natural e sem falhas.
Momix. Essa é a quarta vez que
HeinlvisitaoBrasil.Nastrêsan-
teriores, veio como integrante
daconsagradacompanhiaame-
ricana Momix, na qual dançou
por cinco anos. “Voltar com a
minhaprópriacompanhiaéum
sonho. Você nunca imagina,
quandoéperformer,quedezou
15 anos depois vai estar lá com
seu grupo. É inacreditável.”
Foi o trabalho no Momix que
o motivou a criar a eVolution.
Apóspercorreromundoeparti-
cipardodesenvolvimentodees-
petáculos,decidiuquejáeraho-
radeserresponsávelportodoo
processo.“Eucriavaastecnolo-
giaseideiasealguémterminava
a obra. Queria ser responsável
por concluir, também.”
SegundoHeinl,asementepa-
ra o estilo adotado pela eVolu-
tion – que também inspirou o
Momix – vem do coreógrafo
americano Alwin Nikolais
(1910-1993),outrovisionário.A
partir dos anos 1950, ele criou
trabalhosdevanguarda,paraos
quais elaborava músicas, cená-
rios,figurinos,iluminaçãoeco-
reografia.Auniãodetudotorna-
vaopalcoumambienteonírico.
“AlwinNikolaisfoiquemco-
meçou esse gênero. Um dos
meus professores na universi-
dade erabailarino dele.Come-
cei a ficar interessado em seu
trabalho. Achei muito futuris-
ta. Acredito que a maior razão
pela qual não vemos mais seu
trabalho é porque a música era
muito experimental. Ele usava
o sintetizador Moog e coisas
assim dos anos 1960.”
Dança
“
Plateia.
Coreógrafo
quer que o
público
encontre as
próprias
respostas
para o que
vê no palco
Você pode fazer só o truque,
mas se constrói uma história
e acha a música perfeita, isso
se torna mágico e bonito”
Anthony Heinl
COREÓGRAFO
Em ‘Firefly’, a eVolution Dance Theater
brinca com a ilusão criada pela iluminação
e faz bailarinos dançarem nas sombras
FIREFLY
Teatro Alfa. Rua Bento Branco
de Andrade Filho, 722. Tel.: 5693-
4000. Hoje, 21h. R$ 50 / R$ 150
FIREFLY.DIVULGACAO.EVOLUTIONDT
%HermesFileInfo:C-5:20150721:
O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2015 Caderno 2 C5

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  • 1. %HermesFileInfo:C-1:20150721: C1 TERÇA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2015 ANO XXIX – Nº 9894 O ESTADO DE S. PAULO Companhia italiana traz a SP espetáculo que une dança, teatro e tecnologia. Pág. C5 ANDREA ZANI/DIVULGAÇÃO Arte científica Novidade. ‘Firefly’ é a primeira obra que a eVolution Dance Theater apresenta no Brasil Caderno2 Beleza da crônica carioca No Rio, o cotidiano de João Antônio, Mário Lago e Rubem Braga Pág. C3
  • 2. ‘Cometi todos os erros possíveis com a minha companhia’ O americano Anthony Heinl faliu três vezes nos sete anos do grupo; agora, diz que tudo está finalmente dando certo Luz e escuridão Parafazero primeiroespetácu- lo da eVolution Dance Theater, o coreógrafo Anthony Heinl afirma que gastou todo seu di- nheiro e vendeu tudo o que ti- nha. Com o esforço, conseguiu umteatroemRomaporumase- mana.Acasalotoueosdonosdo local decidiram ampliar a apre- sentaçãopara três semanas. Apesar do sucesso inicial no palco, os bastidores não davam omesmoresultado.Heinladmi- tequenãoestavapreparadopa- ra administrar uma empresa. Ao longo de sete anos, o ameri- cano faliu três vezes e vendeu carros para manter a compa- nhia funcionando. “Não sabia como fazer publicidade, como pagar os bailarinos legalmente, não sabia que eu precisava de umadvogado,comofazerprote- çãodecopyright...Haviaummi- lhão de coisas que eu não tinha ideia.Éumprocessolongoelen- to. Fiz todos os erros possíveis com a companhia”, diz, rindo. Agora,segundoocoreógrafo, “parecequefinalmenteestátu- do ok”. Heinl conseguiu se es- truturar para fazer turnês, co- mo a do Brasil, e fechar parce- riasimportantes.Noanopassa- do, a eVolution foi convidada pelaDisneyparacriarumshow, chamado Magic of Light, para a linha de cruzeiros da empresa. “Foirealmentedesafiador.Eles são grandes e têm os próprios padrões.Foiumaboaexperiên- cia de aprendizagem.” A temporada no Brasil tam- bém é vista como outra grande oportunidade de crescimento. Além disso, o público no País – queHeinl conhecebemdaépo- ca em que dançava no Momix – deixaocoreógrafoentusiasma- do. “Amo ir ao Brasil, é incrível. A plateia é realmente calorosa. Eles enlouquecem. Vocês têm um grande amor pelas artes e essa energia por aí. A gente vai paraalgunspaíseseelessãotão educados que não fazem ne- nhum barulho durante a apre- sentação e você se pergunta se está entediante. Eles gostam, mas a gente só fica sabendo de- pois,nofim.Émaisfácilsevocê está no palco e ouve a reação durante o espetáculo.” Esforço. Segundo o coreógra- fo,aadministraçãoempresarial é essencial para dar estrutura a novos desafios artísticos. Ele diz que o momento atual é di- fícilparaquemestánaárea.Em- borahajaoportunidadescomer- ciais,aindanãoexistemuitoes- paço para companhias peque- nas e artistas que atuam de for- ma independente. A saída, segundo o america- no,étrabalharsérioparafazero grupo crescer aos poucos, tor- nando-ocadavezmaisfirmeno cenário da dança. O objetivo fi- nal, afirma Heinl, é “chegar a um ponto que não preciso me preocupar tanto com dinhei- ro”.Nocaminho,pretendecon- tinuarinvestindoemnovastec- nologias, materiais e figurinos. “Tenho muitas ideias maiores que nunca tive orçamento para tentar.Talvez algum dia ter um show grande como o Cirque du Soleil ou algo assim.” Mas Heinl reconhece que o trabalhoduroàsvezeséacompa- nhado por um pouco de sorte. Foi o que aconteceu pouco an- tesdacriaçãodeFirefly,quando o americano foi chamado por umacompanhiadebaléemFlo- rença,naItália,quehaviaperdi- doseucoreógrafo.“Elesmeliga- ram para ver se eu podia criar algorápido.Eeujáestavatraba- lhando em algumas ideias para Firefly. Pude trabalhar intensa- mente com 25 de seus bailari- nosdurantedoismeses”,conta. “É estranho como um dia você recebe uma ligação e isso muda os próximos nove meses de sua vida. Você nunca sabe, esse ra- mo é muito maluco.” / J.R. Juliana Ravelli É uma tradição antiga, que co- meçou com ilusionistas e pas- sou por visionários como o ci- neasta francês Georges Méliès (1861-1938): encantar com a ciência e tecnologia e comover comaarte.Aounirsuaspaixões, o coreógrafo americano An- thony Heinl faz o mesmo com a eVolution Dance Theater. Nes- taterça,21,acompanhiaestabe- lecida na Itália se apresenta no TeatroAlfa,emSãoPaulo.Atur- nêpassaráaindapeloRio,Paulí- nia,PortoAlegre,Joinville,Reci- fe,Petrópolis e Nova Friburgo. Criadoem2008,ogrupoapre- senta no Brasil o espetáculo Fi- refly, que une dança, teatro, acrobacias, ilusionismo e efei- tos especiais. “Sempre gostei muito de ciência e tecnologia, mastambémcrescifazendotea- tro.Então,tivedeescolher.Co- meceiaestudarQuímicaeFísi- ca na universidade, mas decidi que queria tentar fazer teatro”, disse ao Estado, por telefone. Oencantamentoqueelebus- ca causar com o trabalho teve inspiração na infância, quando observava vaga-lumes (fire- flies, em inglês) no quintal de casa, no verão. “Havia aquele diaemquevocêestariaolhando para o jardim e de repente tudo seria iluminado por esses pe- quenos bichos. Era fascinante, mágico. Uma coisa simples, mas que sempre amei ver.” Heinldesejaqueopúblicote- nhaamesmaexperiênciasingu- laraoassistiraoespetáculo.No entanto, prefere não oferecer muitas explicações sobre o que surge no palco. Quer que cada umseencarreguededarsignifi- cados para aquilo que vê. Luz negra. Em Firefly, figuras misteriosas aparecem sob a luz negra. Nunca se sabe de onde surgemeparaondevão.Elasin- teragem com objetos que, co- mo os bailarinos, ganham vida por meio das cores, iluminação edos movimentos. “É difícilfa- zer tudo no escuro. Temos mi- lhares de objetos e precisamos colocar tudo no lugar certo.” Para se habituar às dificulda- deseexplorarnovas técnicas,o elenco ensaia oito horas todos os dias. Segundo o coreógrafo, no estúdio, uma ideia se trans- formaem“ummilhãodepossi- bilidades” que são testadas até quesejaencontradaaalternati- va ideal. Depois, vem a repeti- çãoexaustiva,parachegaràexe- cução natural e sem falhas. Momix. Essa é a quarta vez que HeinlvisitaoBrasil.Nastrêsan- teriores, veio como integrante daconsagradacompanhiaame- ricana Momix, na qual dançou por cinco anos. “Voltar com a minhaprópriacompanhiaéum sonho. Você nunca imagina, quandoéperformer,quedezou 15 anos depois vai estar lá com seu grupo. É inacreditável.” Foi o trabalho no Momix que o motivou a criar a eVolution. Apóspercorreromundoeparti- cipardodesenvolvimentodees- petáculos,decidiuquejáeraho- radeserresponsávelportodoo processo.“Eucriavaastecnolo- giaseideiasealguémterminava a obra. Queria ser responsável por concluir, também.” SegundoHeinl,asementepa- ra o estilo adotado pela eVolu- tion – que também inspirou o Momix – vem do coreógrafo americano Alwin Nikolais (1910-1993),outrovisionário.A partir dos anos 1950, ele criou trabalhosdevanguarda,paraos quais elaborava músicas, cená- rios,figurinos,iluminaçãoeco- reografia.Auniãodetudotorna- vaopalcoumambienteonírico. “AlwinNikolaisfoiquemco- meçou esse gênero. Um dos meus professores na universi- dade erabailarino dele.Come- cei a ficar interessado em seu trabalho. Achei muito futuris- ta. Acredito que a maior razão pela qual não vemos mais seu trabalho é porque a música era muito experimental. Ele usava o sintetizador Moog e coisas assim dos anos 1960.” Dança “ Plateia. Coreógrafo quer que o público encontre as próprias respostas para o que vê no palco Você pode fazer só o truque, mas se constrói uma história e acha a música perfeita, isso se torna mágico e bonito” Anthony Heinl COREÓGRAFO Em ‘Firefly’, a eVolution Dance Theater brinca com a ilusão criada pela iluminação e faz bailarinos dançarem nas sombras FIREFLY Teatro Alfa. Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722. Tel.: 5693- 4000. Hoje, 21h. R$ 50 / R$ 150 FIREFLY.DIVULGACAO.EVOLUTIONDT %HermesFileInfo:C-5:20150721: O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 21 DE JULHO DE 2015 Caderno 2 C5