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Neoliberalismo, branquitude, e suas
alternativas: uma análise de práticas
discursivas e resistências no Brasil
contemporâneo
Maria Cristina Giorgi; Ariane Oliveira; Roberta Calixto; Marcelli Braga
Objetivos
Trazer um pouco do trabalho com a Análise Cartográfica do
Discurso que vimos realizando, e que se tem mostrado bastante
oportuna para relacionar questões linguísticas e sociais
Neoliberalismo e novas perspectivas de exploração do
trabalho na era do capital financeiro
“Tendo o capital atingido o seu ponto de fuga máximo, engrenou-se
um movimento de escalada, baseado na visão segundo a qual “a
todos os acontecimentos e todas as situações do mundo da vida
(pode) ser atribuído um valor no mercado”. (Mbembe, 2018)
Branquitude
lugar de privilégio estrutural construído nas sociedades
organizadas pela dominação racial, nas quais a raça
branca é tida – e mantida – como superior, por um
sistema de hierarquização e violência.
incontestavelmente outorgado a uma pequena
quantidade de pessoas que afirma ser a meritocracia –
e não a herança de ser branco – o fator que legitima
esse lugar.
Branquitude
transcende ao fenótipo e se apoia em elementos
simbólicos para a validação de discursos
meritocráticos que envolvem as relações de trabalho e
dos trabalhadores no mundo neoliberal, de modo a
legitimar uma série de privilégios que, muitas vezes,
são gerados por essa própria branquitude.
Racismo em
diferentes
perspectivas
Individual
Concepção liberal de que o racismo se resume a atos racistas,
num geral à atos de fala, que se originam em indivíduos e se
perpetuam somente através deles. O racismo é concebido
como uma “ignorância”. Pessoas “educadas” não são racistas.
Institucional
Crítica à noção de racismo individual, essa concepção propõe
que o racismo se perpetua em função das instituições que
compõem a sociedade. O racismo existe porque a escola é
racista, porque as leis são racistas, o congresso é racista etc.
Estrutural
Derivada da concepção do Racismo Institucional, essa
concepção considera que o racismo presente nas instituições
deriva da sociedade que a compõe. Não é possível alterar a
instituição sem alteração nas subjetividades simultâneamente.
“Novos perfis de trabalhador”
As “práticas flexibilizadas” de trabalhar e produzir pressupõem
um novo perfil de trabalhador empreendedor competente,
flexível, comprometido, colaborador, polivalente.
“Novos perfis de trabalhador”
Um homem empreendedor, não-coletivo, sem sindicatos, forjado pelo
neoliberalismo, aliado à branquitude, que tem na mídia e nas suas
estratégias de divulgação e vulgarização um dispositivo que fortalece
sua governamentalidade (Foucault, 2004) com base no desempenho
(Han, 2017). Conforme Boltanski e Chiapello (2009), esse
deslocamento do coletivo para o indivíduo se faz valer de
justificativas expressas em termos de virtude ou justiça, que dão
respaldo à adesão a um estilo
de vida que favoreça e reforce essa lógica meritocrática,
a qual denominam “Espírito do Capitalismo”.
Análise Cartográfica do Discurso
● Cartografia - Deleuze e Guattarri
● Cartografia como teoria metodoógica no Brasil
(Passos; Rolnik)
● Valorização do processo de pesquisa, não de
resultados
● Implicação
● Coletividade
● Nossos grupos
Práticas discursivas
Para Foucault, trata-se de “um conjunto de regras anônimas,
históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que
definiram, em uma dada época e para uma determinada área
social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de
exercício da função enunciativa”. (FOUCAULT, 2015, p. 144). O
filósofo traz essa concepção no livro A arqueologia do saber,
onde propõe uma perspectiva de pesquisa arqueológica em que
o ato de pesquisar não deve buscar o que se diz sobre o objeto,
mas sim o que faz ser possível dizer o que se diz sobre o objeto, a
partir da força de saberes e de poderes que se inscrevem na
história de cada sociedade.
“Nossas formas corporais
(ocidentais) são consideradas
expressões de um interior, e não
inscrições em uma superfície
plana. (...) O corpo se torna um
texto, um sistema de signos a
serem decifrados, lidos e
interpretados. A lei social é
encarnada, ‘corporalizada’;
correlativamente, os corpos são
textualizados, lidos por outros
como expressão do interior
psíquico de um sujeito”.
(GROSZ, 1993 apud OYÈRÓNKẸ́, 2021)
“Desde a época da escravidão, nos espaços considerados
“inofensivos” pelo sistema escravocrata “os negros reviviam
clandestinamente os [seus] ritos, cultuavam deuses e retomavam
a linha do relacionamento comunitário”.
(MARTINS, 2021)
Exu Igbá
Ketá:
O senhor da
terceira
cabaça
“Contam que um dia Ifá chamou Exu e lhe mostrou duas
cabaças, ele deveria escolher apenas uma e levar
consigo em uma viagem até o mercado de Ifé. Na
primeira, estava todo o bem, todas as palavras, todos os
segredos do corpo, todos os remédios, todo
acolhimento, tudo que era doce, tudo que pode ser visto.
Na segunda, estava todo o mal, todos os silêncios, todos
os segredos do espírito, todos os venenos, todos
afastamentos, tudo que era amargo, e tudo que não
pode ser visto.
Exu olhou as cabaças e antes de escolher, pediu que lhe
trouxessem outra cabaça. Ele abriu todas elas e
misturou intensamente o conteúdo das duas na terceira.
Desde então, o chamam de “Senhor da Terceira
Cabaça” e, desde então, aquilo que pode ser bem,
também pode ser mal. Aquilo que é palavra, pode ser
também silêncio. Aquilo que te cura, pode ser o que te
mata. Aquilo que te acolhe, pode também afastar. E
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  • 1. Neoliberalismo, branquitude, e suas alternativas: uma análise de práticas discursivas e resistências no Brasil contemporâneo Maria Cristina Giorgi; Ariane Oliveira; Roberta Calixto; Marcelli Braga
  • 2. Objetivos Trazer um pouco do trabalho com a Análise Cartográfica do Discurso que vimos realizando, e que se tem mostrado bastante oportuna para relacionar questões linguísticas e sociais
  • 3. Neoliberalismo e novas perspectivas de exploração do trabalho na era do capital financeiro “Tendo o capital atingido o seu ponto de fuga máximo, engrenou-se um movimento de escalada, baseado na visão segundo a qual “a todos os acontecimentos e todas as situações do mundo da vida (pode) ser atribuído um valor no mercado”. (Mbembe, 2018)
  • 4. Branquitude lugar de privilégio estrutural construído nas sociedades organizadas pela dominação racial, nas quais a raça branca é tida – e mantida – como superior, por um sistema de hierarquização e violência. incontestavelmente outorgado a uma pequena quantidade de pessoas que afirma ser a meritocracia – e não a herança de ser branco – o fator que legitima esse lugar.
  • 5. Branquitude transcende ao fenótipo e se apoia em elementos simbólicos para a validação de discursos meritocráticos que envolvem as relações de trabalho e dos trabalhadores no mundo neoliberal, de modo a legitimar uma série de privilégios que, muitas vezes, são gerados por essa própria branquitude.
  • 6. Racismo em diferentes perspectivas Individual Concepção liberal de que o racismo se resume a atos racistas, num geral à atos de fala, que se originam em indivíduos e se perpetuam somente através deles. O racismo é concebido como uma “ignorância”. Pessoas “educadas” não são racistas. Institucional Crítica à noção de racismo individual, essa concepção propõe que o racismo se perpetua em função das instituições que compõem a sociedade. O racismo existe porque a escola é racista, porque as leis são racistas, o congresso é racista etc. Estrutural Derivada da concepção do Racismo Institucional, essa concepção considera que o racismo presente nas instituições deriva da sociedade que a compõe. Não é possível alterar a instituição sem alteração nas subjetividades simultâneamente.
  • 7. “Novos perfis de trabalhador” As “práticas flexibilizadas” de trabalhar e produzir pressupõem um novo perfil de trabalhador empreendedor competente, flexível, comprometido, colaborador, polivalente.
  • 8. “Novos perfis de trabalhador” Um homem empreendedor, não-coletivo, sem sindicatos, forjado pelo neoliberalismo, aliado à branquitude, que tem na mídia e nas suas estratégias de divulgação e vulgarização um dispositivo que fortalece sua governamentalidade (Foucault, 2004) com base no desempenho (Han, 2017). Conforme Boltanski e Chiapello (2009), esse deslocamento do coletivo para o indivíduo se faz valer de justificativas expressas em termos de virtude ou justiça, que dão respaldo à adesão a um estilo de vida que favoreça e reforce essa lógica meritocrática, a qual denominam “Espírito do Capitalismo”.
  • 9. Análise Cartográfica do Discurso ● Cartografia - Deleuze e Guattarri ● Cartografia como teoria metodoógica no Brasil (Passos; Rolnik) ● Valorização do processo de pesquisa, não de resultados ● Implicação ● Coletividade ● Nossos grupos
  • 10. Práticas discursivas Para Foucault, trata-se de “um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”. (FOUCAULT, 2015, p. 144). O filósofo traz essa concepção no livro A arqueologia do saber, onde propõe uma perspectiva de pesquisa arqueológica em que o ato de pesquisar não deve buscar o que se diz sobre o objeto, mas sim o que faz ser possível dizer o que se diz sobre o objeto, a partir da força de saberes e de poderes que se inscrevem na história de cada sociedade.
  • 11. “Nossas formas corporais (ocidentais) são consideradas expressões de um interior, e não inscrições em uma superfície plana. (...) O corpo se torna um texto, um sistema de signos a serem decifrados, lidos e interpretados. A lei social é encarnada, ‘corporalizada’; correlativamente, os corpos são textualizados, lidos por outros como expressão do interior psíquico de um sujeito”. (GROSZ, 1993 apud OYÈRÓNKẸ́, 2021)
  • 12.
  • 13.
  • 14. “Desde a época da escravidão, nos espaços considerados “inofensivos” pelo sistema escravocrata “os negros reviviam clandestinamente os [seus] ritos, cultuavam deuses e retomavam a linha do relacionamento comunitário”. (MARTINS, 2021)
  • 15. Exu Igbá Ketá: O senhor da terceira cabaça “Contam que um dia Ifá chamou Exu e lhe mostrou duas cabaças, ele deveria escolher apenas uma e levar consigo em uma viagem até o mercado de Ifé. Na primeira, estava todo o bem, todas as palavras, todos os segredos do corpo, todos os remédios, todo acolhimento, tudo que era doce, tudo que pode ser visto. Na segunda, estava todo o mal, todos os silêncios, todos os segredos do espírito, todos os venenos, todos afastamentos, tudo que era amargo, e tudo que não pode ser visto. Exu olhou as cabaças e antes de escolher, pediu que lhe trouxessem outra cabaça. Ele abriu todas elas e misturou intensamente o conteúdo das duas na terceira. Desde então, o chamam de “Senhor da Terceira Cabaça” e, desde então, aquilo que pode ser bem, também pode ser mal. Aquilo que é palavra, pode ser também silêncio. Aquilo que te cura, pode ser o que te mata. Aquilo que te acolhe, pode também afastar. E aquilo que você vê, pode ser algo que não vê.”