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Ojugbó Egun
(Esá)
Egun, todo e qualquer espírito de pessoas iniciadas ou não, Esá espírito dos adoxus e
dignatários do egbe (casa).
Os nagôs, então, cultuam os espíritos dos "mais velhos" de diversas formas, de acordo com
a hierarquia que tiveram dentro da comunidade e com a sua atuação em prol da preservação
e da transmissão dos valores culturais. E só os espíritos especialmente preparados para
serem invocados e materializados é que recebem o nome Egun, Egungun, Babá Egun ou
simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse culto todo especial.
Porque o objetivo principal do cultos dos Egun é tornar visível os espíritos dos ancestrais,
agindo como uma ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. E ao
mesmo tempo que mantém a continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito
controle das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem clara entre
os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois níveis da existência). Assim, os Babá
trazem para seus descendentes e fiéis suas bênçãos e seus conselhos mas não podem ser
tocados, e ficam sempre isolados dos vivos. Suas presença é rigorosamente controlada
pelos Ojé (sacerdotes do culto) e ninguém pode se aproximar deles.
Os Egungun se materializam, aparecendo para os descendentes e fiéis de uma forma
espetacular, em meio a grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e coloridas,
com símbolos característicos que permitem estabelecer sua hierarquia. Os Babá-Egun ou
Egun-Agbá (os ancestrais mais antigos) se destacam por estar cobertos de búzios, espelhos
e contas e por um conjunto de tiras de pano bordadas e enfeitadas que é chamado Abalá,
além de uma espécie de avental chamado Bantê, e por emitirem uma voz característica,
gutural ou muito fina. Os Aparaká são Egun mais jovens: não têm Abalá nem Bantê e nem
uma forma definida; e são ainda mudos e sem identidade revelada, pois ainda não se sabe
quem foram em vida.
Acredita-se, então, que sob as tiras de pano encontra-se um ancestral conhecido ou, se ele
não é reconhecível, qualquer coisa associada à morte. Neste último caso, o Egungun
representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos morais e são os mais respeitados e
temidos entre todos os Egungun, guardiães que são da ética e da disciplina moral do grupo.
No símbolo "Egungun" está expresso todo o mistério da transformação de um ser deste-
mundo num ser-do-além, de sua convocação e de sua presença no Aiyê (o mundo dos
vivos). Esse mistério (Awô) constitui o aspecto mais importante do culto.
O Egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos
vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos
dos ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão
chamado ixan, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de
palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungun
ancestral individualizado está de novo "vivo".
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos
Orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante
olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão,
causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com
uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras
multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande
massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está
sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda,
metálica e estridente — característica de Egun, chamada de séégí ou sé, e que
está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do
ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo
(iniciado no culto de Egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do
culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo
sim ou pelo não, Egun está entre os vivos, e não se pode negar sua presença,
energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egun.
A roupa do Egun — chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia , ou o
Egungun propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma,
nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixan para controlar a
"morte", ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se,
pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for
tocada por Egun se tornará um assombrado", e o perigo a rondará. Ela então
deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença
ou, talvez, a própria morte.
Ora, o Egun é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato,
ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais
qualificados sacerdotes — como os Ojé atokun, que invocam, guiam e zelam
por um ou mais Eguns — desempenham todas essas atribuições substituindo
as mãos pelo ixan.
Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egun (pai), são Eguns
que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas
sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam
conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns ,ainda mudos e suas roupas
são as mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas
telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de
elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis,
assustam e causam terror ao povo.
O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação
quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a
extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas,
formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de
mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos, do
qual ,também caem muitas tiras de pano da altura do tórax ; e o banté, que é
uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e
que identifica o Babá.
O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder,
energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e
abençoando os fiéis. Ele o sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com
as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao
contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os
Agbá-Egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos
adicionais: uns usam sobre o alabá máscaras esculpidas em madeira chamadas
de erê egungun ; outros, entre os alabá e o kafó, usam peles de animais;
alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixan. Nestes casos, a ira
dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.
Existem várias qualificações de Egun, como Babá e Apaaraká, conforme seus
ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se
comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.
Nas festas de Egungun, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo
após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através
de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo
externo.
Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro.
Vários amuixan (iniciados que portam o ixan) funcionam como guardas
espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os
perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos Ojé saiam do espaço
delimitado e invadam as redondezas não protegidas.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do
grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé
(bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde
somente os Ojé podem entrar, e o lêsànyin ou balé, onde só os Ojé agbá
entram.
Balé é o local onde estão os idi-egungun, os assentamentos - estes são
elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egun ali
cultuado -, e o ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra,
rodeado por vários ixan, os quais, de pé, delimitam o local.
Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para
o Egun a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento
da divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única
divindade feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e
pelos próprios Eguns.
No balé os Ojé atokun vão invocar o Egun escolhido diretamente no seu
assentamento, e é neste local que o awo (segredo) - o poder e o axé de Egun
— nasce através do conjunto Ojé-ixan / idi-ojubô. A roupa é preenchida e
Egun se torna visível aos olhos humanos.
Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuixan até a porta
secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando
espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos Ojé, pelo
som dos amuixan, branindo os ixan pelo chão e aos gritos de saudação e
repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egun). O clima é
realmente perfeito.
O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte
onde estão os tambores e seus alabês e várias cadeiras especiais previamente
preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem,
descansam por alguns momentos na companhia de outros, sentados ou
andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade.
Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o
culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas
mulheres que são exceção, como se fossem a própria Oyá; elas são geralmente
iniciadas no culto dos Orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo
hierárquico) no culto de Egun — estas posições de grande relevância causam
inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo
culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no
salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que
somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais
para Egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos Orixás;
após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres.
Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir
suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas
manias, e sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado é o mundo do Egun nos momentos de encontro com seus
descendentes. A assistência está separada deste mundo pelos ixan que os
amuixan colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão
simbólica e ritual dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do
ixan que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o
instrumento que o invoca e o controla. As vezes, os mariwo são obrigados a
segurar o Egun com o ixan no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural
de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio
atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o Ojé que por ele zela e o
invoca, pelo qual ele tem grande respeito.
O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam mulheres e
crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a
cantar seus cânticos preferidos, porque cada Egun em vida pertencia a um
determinado Orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio Orixá e
esta característica é mantida pelo Egun. Por exemplo: se alguém em vida
pertencia a Xangô, quando morto e vindo como Egun, ele terá em suas vestes
as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará
um oxê (machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que
toquem o alujá, que também é o ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som
dos tambores e das palmas entusiastas e excitantemente marcadas pelos oiê
femininos, que também responderão aos cânticos e exigirão a mesma
animação das outras pessoas ali presentes.
Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a
todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um
possível iorubá arcaico e seu atokun funcionara como tradutor. Babá-Egun
começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos
oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas
que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e
punindo, se necessário, fazendo o papel de um verdadeiro pai, presente entre
seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral e
a disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro
mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egun
parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá
partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungun, de uma festa e de sua sociedade, não
detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este
importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida
através das ancestralidade cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como
um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da
Nigéria.
Material assentamento de Egun
01 Talha sem alça de barro e pintada de branco (com cal)
01 Objeto pessoal da pessoa em vida (caneca,pente,jóia)
01 Caco de louça branco
02 Frangas brancas
01 Punhado de terra que cobriu o defunto
01 Pano branco
01 Ixan de akoko
Orunkó
Efun
Ossun
Wají
Sabão da costa
Banha de carneiro
Moedas brancas no numero da idade que a pessoa faleceu
Cabelo retirado do defunto com essa intenção
Canfora
Bastante bejerekun
Folhas de arruda macho
Buzios na idade da pessoa
Modo de preparo
No quarto onde ficará este Esá deverá ter do lado direito o orisá Oyá,
devidamente assentada no barro (Bagã ou Padá), e do lado esquerdo o orisá
Nambukú, pois são eses orixás que controlam a força negativa de egun,
evitando desta forma que os filhos do egbé sejam atacados por esta energia.
Antes de dar inicio ao Ojubó de egun, a pessoa que que manuseara o
assentamento besuntara toda a mão com canfora, e então prosseguirá com o
assentamento:
Colocara dentro da talha o objeto pessoal da pessoa, orunkó, nome completo
civil,cabelo,moedas,buzios,caco de louça e por cima de tudo a terra do
defunto.
Agora em separado fará uma massa com o seguinte axé:
Sabão da costa,efun,ossun,wají,banha de carneiro,bejerekun,folhas de arruda,
após bem misturado toda essa massa sacrifique sobre ela uma franga
chamando pelo nome do Egun e cantando a cantiga abaixo:
E kigbalé lério
Ekigbalé
E kigbalé lério
Ekigbalé
Gbalé gbalé
Kini sorio o
E kigbalé lério
Agora cubra com esta massa tudo que se encontra no interior da talha,
cantando:
Onilê Mô Bodô Ilê
Onilê Mô Bodô Ilê
Baba esá mo bodo Ile
Onilê Mô Bodô Ilê
Em seguida deixe descansar por 2 horas o Ojubó, para então prosseguir
com a matança de 1 franga.
Sacrifique a franga para Egun com a cantiga:
Ikú onà Ikú lehin hey hey hey hey
Bàbá lesé awo ifé
Pelé pelé odara awo silé adupé Omon ni odara
Awè aluwó ikumi i’Bàbá
Pai ancestre traz amor
Tudo de bom no coração
Faz o bem para todos nós
Pai, deixastes saudades depois que partistes.
Após o sacrificio cubra udo que está dentro da talha com muito efun
africano.
Arrume o Ixan ao lado da talha, um de cada lado, e todas as vezes que
for conversar com este Esá utilize-se do ixan batendo no chão.
Arrie aos pés do Esá sempre mingau de akasá,mingau de polvilho
doce,ekurus esfarelados.
Reza de Egun
Ilè mo pè o
0
Gbogbo mònríwo
Ilè mo pè o
Egúngún o
Ilè mo pè o
Gbogbo mònríwo
Ilè mo pè o
Egúngún o
Egúngún a yè, kíì sé bo òrun
Mo júbà rè Egúngún mònríwo
Ilè mo pè o
Gbogbo mònríwo
Ilè mo pè o
Egúngún o
A kíì dé wa ó, a kíì é Egúngún
Won gbogbo ará asíwájú awo
Won gbogbo aráalé asíwájú mi
Ilè mo pè o
Gbogbo mònríwo
Ilè mo pè o
Egúngún o
Mo pè gbogbo ènyin
Si fún mi ààbò àti ìrònlówó
Agó, kìì ngbó ekún omo rè
Ilè mo pè o
Gbogbo mònríwo
Ilè mo pè o
Egúngún o
Ki o ma ta etí wéré
Bàbá awa omo re ni a npè o
Ilè mo pè o
Gbogbo mònríwo
Ilè mo pè o
Egúngún o
Ki o sare wá jé wa o
Ki o gbó ìwùre wá
Ilè mo pè o
Gbogbo mònríwo
Ilè mo pè o
Egúngún o
Má jè a ríkú èwe
1
Má jè a ríjà Èsú
Má jè a ríjà Ògún
Má jè a rija omi
Má jè a rija Soponná
Ilè mo pè o
Gbogbo mònríwo
Ilè mo pè o
Egúngún o
Mo tumba, bàbá Egúngún
Ilè mo pè o
Egúngún o

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Apostila assentamento-de-egun-togum

  • 1. Ojugbó Egun (Esá) Egun, todo e qualquer espírito de pessoas iniciadas ou não, Esá espírito dos adoxus e dignatários do egbe (casa). Os nagôs, então, cultuam os espíritos dos "mais velhos" de diversas formas, de acordo com a hierarquia que tiveram dentro da comunidade e com a sua atuação em prol da preservação e da transmissão dos valores culturais. E só os espíritos especialmente preparados para serem invocados e materializados é que recebem o nome Egun, Egungun, Babá Egun ou simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse culto todo especial. Porque o objetivo principal do cultos dos Egun é tornar visível os espíritos dos ancestrais, agindo como uma ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. E ao mesmo tempo que mantém a continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito controle das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem clara entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois níveis da existência). Assim, os Babá trazem para seus descendentes e fiéis suas bênçãos e seus conselhos mas não podem ser tocados, e ficam sempre isolados dos vivos. Suas presença é rigorosamente controlada pelos Ojé (sacerdotes do culto) e ninguém pode se aproximar deles. Os Egungun se materializam, aparecendo para os descendentes e fiéis de uma forma espetacular, em meio a grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e coloridas, com símbolos característicos que permitem estabelecer sua hierarquia. Os Babá-Egun ou Egun-Agbá (os ancestrais mais antigos) se destacam por estar cobertos de búzios, espelhos e contas e por um conjunto de tiras de pano bordadas e enfeitadas que é chamado Abalá, além de uma espécie de avental chamado Bantê, e por emitirem uma voz característica, gutural ou muito fina. Os Aparaká são Egun mais jovens: não têm Abalá nem Bantê e nem uma forma definida; e são ainda mudos e sem identidade revelada, pois ainda não se sabe quem foram em vida. Acredita-se, então, que sob as tiras de pano encontra-se um ancestral conhecido ou, se ele não é reconhecível, qualquer coisa associada à morte. Neste último caso, o Egungun representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos morais e são os mais respeitados e temidos entre todos os Egungun, guardiães que são da ética e da disciplina moral do grupo. No símbolo "Egungun" está expresso todo o mistério da transformação de um ser deste- mundo num ser-do-além, de sua convocação e de sua presença no Aiyê (o mundo dos vivos). Esse mistério (Awô) constitui o aspecto mais importante do culto.
  • 2. O Egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixan, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungun ancestral individualizado está de novo "vivo". A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos Orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente — característica de Egun, chamada de séégí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egun está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egun. A roupa do Egun — chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia , ou o Egungun propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixan para controlar a "morte", ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egun se tornará um assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte. Ora, o Egun é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes — como os Ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns — desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixan.
  • 3. Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egun (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns ,ainda mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo. O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas, formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos, do qual ,também caem muitas tiras de pano da altura do tórax ; e o banté, que é uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá. O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele o sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-Egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá máscaras esculpidas em madeira chamadas de erê egungun ; outros, entre os alabá e o kafó, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixan. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos. Existem várias qualificações de Egun, como Babá e Apaaraká, conforme seus ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em verdade, são extensas.
  • 4. Nas festas de Egungun, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo. Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários amuixan (iniciados que portam o ixan) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos Ojé saiam do espaço delimitado e invadam as redondezas não protegidas. Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé (bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os Ojé podem entrar, e o lêsànyin ou balé, onde só os Ojé agbá entram. Balé é o local onde estão os idi-egungun, os assentamentos - estes são elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egun ali cultuado -, e o ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários ixan, os quais, de pé, delimitam o local. Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egun a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios Eguns. No balé os Ojé atokun vão invocar o Egun escolhido diretamente no seu assentamento, e é neste local que o awo (segredo) - o poder e o axé de Egun — nasce através do conjunto Ojé-ixan / idi-ojubô. A roupa é preenchida e Egun se torna visível aos olhos humanos. Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuixan até a porta secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos Ojé, pelo som dos amuixan, branindo os ixan pelo chão e aos gritos de saudação e repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egun). O clima é realmente perfeito.
  • 5. O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabês e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia de outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos. Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas mulheres que são exceção, como se fossem a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto dos Orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de Egun — estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais para Egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos Orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los. Este espaço sagrado é o mundo do Egun nos momentos de encontro com seus descendentes. A assistência está separada deste mundo pelos ixan que os amuixan colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixan que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o controla. As vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egun com o ixan no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o Ojé que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito. O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam mulheres e crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cânticos preferidos, porque cada Egun em vida pertencia a um determinado Orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio Orixá e esta característica é mantida pelo Egun. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo como Egun, ele terá em suas vestes as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um oxê (machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e excitantemente marcadas pelos oiê
  • 6. femininos, que também responderão aos cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes. Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um possível iorubá arcaico e seu atokun funcionara como tradutor. Babá-Egun começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o papel de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral e a disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas. Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egun parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo. Esta é uma breve descrição de Egungun, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidade cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.
  • 7. Material assentamento de Egun 01 Talha sem alça de barro e pintada de branco (com cal) 01 Objeto pessoal da pessoa em vida (caneca,pente,jóia) 01 Caco de louça branco 02 Frangas brancas 01 Punhado de terra que cobriu o defunto 01 Pano branco 01 Ixan de akoko Orunkó Efun Ossun Wají Sabão da costa Banha de carneiro Moedas brancas no numero da idade que a pessoa faleceu Cabelo retirado do defunto com essa intenção Canfora Bastante bejerekun Folhas de arruda macho Buzios na idade da pessoa
  • 8. Modo de preparo No quarto onde ficará este Esá deverá ter do lado direito o orisá Oyá, devidamente assentada no barro (Bagã ou Padá), e do lado esquerdo o orisá Nambukú, pois são eses orixás que controlam a força negativa de egun, evitando desta forma que os filhos do egbé sejam atacados por esta energia. Antes de dar inicio ao Ojubó de egun, a pessoa que que manuseara o assentamento besuntara toda a mão com canfora, e então prosseguirá com o assentamento: Colocara dentro da talha o objeto pessoal da pessoa, orunkó, nome completo civil,cabelo,moedas,buzios,caco de louça e por cima de tudo a terra do defunto. Agora em separado fará uma massa com o seguinte axé: Sabão da costa,efun,ossun,wají,banha de carneiro,bejerekun,folhas de arruda, após bem misturado toda essa massa sacrifique sobre ela uma franga chamando pelo nome do Egun e cantando a cantiga abaixo: E kigbalé lério Ekigbalé E kigbalé lério Ekigbalé Gbalé gbalé Kini sorio o E kigbalé lério Agora cubra com esta massa tudo que se encontra no interior da talha, cantando: Onilê Mô Bodô Ilê Onilê Mô Bodô Ilê Baba esá mo bodo Ile Onilê Mô Bodô Ilê Em seguida deixe descansar por 2 horas o Ojubó, para então prosseguir com a matança de 1 franga.
  • 9. Sacrifique a franga para Egun com a cantiga: Ikú onà Ikú lehin hey hey hey hey Bàbá lesé awo ifé Pelé pelé odara awo silé adupé Omon ni odara Awè aluwó ikumi i’Bàbá Pai ancestre traz amor Tudo de bom no coração Faz o bem para todos nós Pai, deixastes saudades depois que partistes. Após o sacrificio cubra udo que está dentro da talha com muito efun africano. Arrume o Ixan ao lado da talha, um de cada lado, e todas as vezes que for conversar com este Esá utilize-se do ixan batendo no chão. Arrie aos pés do Esá sempre mingau de akasá,mingau de polvilho doce,ekurus esfarelados.
  • 10. Reza de Egun Ilè mo pè o 0 Gbogbo mònríwo Ilè mo pè o Egúngún o Ilè mo pè o Gbogbo mònríwo Ilè mo pè o Egúngún o Egúngún a yè, kíì sé bo òrun Mo júbà rè Egúngún mònríwo Ilè mo pè o Gbogbo mònríwo Ilè mo pè o Egúngún o A kíì dé wa ó, a kíì é Egúngún Won gbogbo ará asíwájú awo Won gbogbo aráalé asíwájú mi Ilè mo pè o Gbogbo mònríwo
  • 11. Ilè mo pè o Egúngún o Mo pè gbogbo ènyin Si fún mi ààbò àti ìrònlówó Agó, kìì ngbó ekún omo rè Ilè mo pè o Gbogbo mònríwo Ilè mo pè o Egúngún o Ki o ma ta etí wéré Bàbá awa omo re ni a npè o Ilè mo pè o Gbogbo mònríwo Ilè mo pè o Egúngún o Ki o sare wá jé wa o Ki o gbó ìwùre wá Ilè mo pè o Gbogbo mònríwo Ilè mo pè o
  • 12. Egúngún o Má jè a ríkú èwe 1 Má jè a ríjà Èsú Má jè a ríjà Ògún Má jè a rija omi Má jè a rija Soponná Ilè mo pè o Gbogbo mònríwo Ilè mo pè o Egúngún o Mo tumba, bàbá Egúngún Ilè mo pè o Egúngún o