1. O documento apresenta uma introdução à teoria das equações diferenciais ordinárias de primeira ordem, incluindo métodos de separação de variáveis e classificação de equações.
2. Aborda também equações lineares e não lineares, equações exatas, aplicações a circuitos elétricos e exercícios para treino.
3. Inclui ainda capítulos sobre equações diferenciais de ordem superior, sistemas de equações diferenciais lineares e o uso da transformada de Laplace para resolver problemas envolvendo equações diferenciais.
Soluções de equações diferenciais para engenheiros
1. ¸˜
Equacoes diferenciais para engenheiros:
¸˜
teoria, modelacao e exerc´cios
ı
Teresa Paula C. Azevedo Perdico´ lis
u
Sandra Isabel Ventura Ricardo
UTAD, 18 de Agosto de 2010
3. ´
Prefacio
Este texto foi escrito como material de apoio a unidade curricular An´ lise Ma-
` a
tem´ tica III, das licenciaturas em Engenharia Civil e Engenharia Mecˆ nica, lec-
a a
cionada pelas docentes nos anos lectivos de 2008/09 e 2009/10.
Pretendemos com este texto apresentar uma abordagem simples a teoria das equacoes
` ¸˜
diferenciais ordin´ rias, a qual pode ser facilmente compreendida por alunos que te-
a
nham conhecimentos de C´ lculo em Rn , nomeadamente conhecimentos de c´ lculo
a a
´
diferencial e de c´ lculo integral, assim como conhecimentos de Algebra Linear, do-
a
minando c´ lculo matricial, resolucao de sistemas de equacoes lineares, c´ lculo de
a ¸˜ ¸˜ a
determinantes e determinacao de valores e de vectores pr´ prios.
¸˜ o
Estas notas pretendem ser uma mistura entre teoria e aplicacoes das equacoes Di-
¸˜ ¸˜
ferencias, focando-se muitas vezes em problemas concretos da “vida real” como
motivacao para o estudo da teoria, mas tamb´ m para mostrar a enorme aplica-
¸˜ e
bilidade que este ramo da matem´ tica tem em diversas areas do conhecimento:
a ´
Engenharia, Biologia, Medicina, Ciˆ ncias Sociais, etc. Sendo este um texto diri-
e
gido a alunos de Engenharia, um relevo especial e dado a problemas desta area,
´ ´
procedendo-se a sua modelacao e resolucao mediante os conhecimentos expostos.
` ¸˜ ¸˜
Introduzem-se e desenvolvem-se conceitos e t´ cnicas anal´ticas para a resolucao de
e ı ¸˜
equacoes diferenciais ordin´ rias.
¸˜ a
Na verdade, sendo as leis da F´sica geralmente escritas como equacoes diferenciais,
ı ¸˜
elas destacam-se como instrumento de linguagem no que toca a Ciˆ ncia e Engenha-
e
i
4. ii
ria em particular. Assim, compreender e saber manipular equacoes diferenciais e
¸˜ ´
sem d´ vida essencial para qualquer aluno de Engenharia.
u
Relativamente a organizacao deste texto, cada cap´tulo e composto por uma s´ntese
` ¸˜ ı ´ ı
de resultados te´ ricos, alguns dos quais apresentados sem demonstracao. O nosso
o ¸˜
objectivo foi fornecer aos nossos alunos de Engenharia ferramentas para resolver
problemas, sendo os alunos convidados a recorrer as referˆ ncias bibliogr´ ficas sem-
` e a
pre que desejarem ir mais al´ m na compreens˜ o dos conte´ dos apresentados. A
e a u
enfase e dada assim aos resultados e a aplicacao dos mesmos, sendo apresentados
ˆ ´ ` ¸˜
ao longo do texto numerosos exemplos, que visam facilitar a compreens˜ o do que
a
e exposto. Estes exemplos podem ser exemplos de aplicacao directa de resultados
´ ¸˜
te´ ricos ou exemplos de modelacao de problemas concretos. Finalmente, os alunos
o ¸˜
s˜ o convidados a exercitar a aplicacao dos conhecimentos adquiridos, mediante a
a ¸˜
resolucao duma listagem de exerc´cios com que terminamos cada cap´tulo.
¸˜ ı ı
Teresa Paula Azevedo Perdico´ lis
u
Sandra Isabel Ventura Ricardo
11. Cap´tulo 1
ı
¸˜
Equacoes diferenciais de
primeira ordem
Muitas s˜ o as leis b´ sicas, e mais recentemente tamb´ m muitos fen´ menos biol´ gicos
a a e o o
e sociais, que s˜ o expressos por equacoes matem´ ticas. Sempre que estas equacoes
a ¸˜ a ¸˜
¸˜
envolvem derivadas, chamam-se equacoes diferenciais (ED). Pretende-se mostrar
no in´cio deste primeiro cap´tulo como surgem algumas destas equacoes e ilustrar
ı ı ¸˜
como pode ser a sua solucao obtida.
¸˜
Ao modelar um dado problema atrav´ s de uma equacao diferencial, a maior difi-
e ¸˜
culdade surge em descrever uma situacao real quantitativamente. De forma a ob-
¸˜
ter um modelo, e usualmente necess´ rio recorrer a assercoes simplificativas que
´ a ¸˜
tornem essa mesma situacao pass´vel de ser representada em termos matem´ ticos.
¸˜ ı a
Assercoes usuais s˜ o, por exemplo: (i) assumir que o movimento de uma dada
¸˜ a
massa no espaco e um ponto e (ii) n˜ o existe friccao na resistˆ ncia do ar. Tais
¸ ´ a ¸˜ e
assercoes, n˜ o sendo de modo algum realistas, permitem ao cientista (investigador)
¸˜ a
obter informacao valiosa sobre o problema real ainda que servindo-se de modelos
¸˜
extremamente ideais. Uma vez entendida uma parte do problema, o modelo pode
ser tornado mais complexo de forma a ter em conta outros factores observados. No
1
12. 2 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
entanto e sempre importante manter os modelos manuse´ veis, isto e, modelos para
´ a ´
os quais seja poss´vel calcular uma solucao, exacta ou anal´tica.
ı ¸˜ ı
1.1 Alguns exemplos
Exemplo 1.1 (Queda livre) Segundo a lei da gravidade de Newton, a gran-
deza da forca gravitacional da terra num dado corpo e directamente proporcional
¸ ´
a sua massa m e inversamente proporcional ao quadrado da distˆ ncia dessa mesma
` a
massa ao centro da Terra r. Temos ent˜ o que:
a
km
F=
r2
sendo k a constante de proporcionalidade. Pela segunda lei de Newton, temos
ainda:
d2r k
2
= 2. (1.1)
dt r
dr
Observacao 1 A velocidade v =
¸˜ e negativa, pois a medida que um objecto
´ `
dt
cai a sua distˆ ncia ao centro da Terra diminui. Mais ainda, a sua aceleracao
a ¸˜
dv d 2 r
a= = 2 e tamb´ m negativa, pois a medida que o objecto cai, a velocidade
´ e `
dt dt
diminui (´ cada vez mais negativa). Temos ent˜ o que k e uma constante negativa.
e a ´
Seja R o raio m´ dio da Terra (i.e. r = R). Denotamos a aceleracao da gravidade
e ¸˜
na superf´cie da Terra por a(R) = −g. Ent˜ o considerando (1.1):
ı a
k
−g = a(R) = ,
R2
temos k = −gR2 . Voltando a (1.1), obtemos:
d 2 r −gR2
= 2 (1.2)
dt 2 r
sendo g ≃ 9.81m/seg2. Seja r = R + h, onde h e a altura do corpo a partir da
´
dr dh
superf´cie da Terra, ent˜ o
ı a = e a equacao (1.2) vem
¸˜
dt dt
d 2h −gR2
= .
dt 2 (R + h)2
13. 1.1. ALGUNS EXEMPLOS 3
R2
Se h e muito pequeno temos que
´ ≃ 1, obtendo ent˜ o:
a
(R + h)2
d2h
= −g. (1.3)
dt 2
Integrando ambos os membros da equacao relativamente a t, temos:
¸˜
h′ (t) = −gt +C1 .
A constante C1 pode ser determinada considerando, por exemplo, t = 0. Obtemos
C1 = h′ (0), ou seja, C1 e o valor da velocidade inicial. Temos ent˜ o que a veloci-
´ a
dade do corpo, em qualquer instante, e dada por:
´
h′ (t) = −gt + h′ (0) (1.4)
Voltando a integrar:
t2
h(t) = −g + h′ (0)t +C2
2
Determinamos C2 considerando, por exemplo, t = 0. Obtemos C2 = h(0), ou seja,
C2 e a altura inicial. Ent˜ o a altura do corpo, em qualquer instante, e dada por:
´ a ´
t2
h(t) = −g + h′ (0)t + h(0). (1.5)
2
Por exemplo, suponhamos que uma bola cai do alto de um edif´cio com altura
ı
h(0) = 44.145 m e velocidade inicial h′ (0) = 0. Quanto tempo demora a bola a
chegar ao ch˜ o?
a
Temos:
t2
h(t) = −981 + 4414.5.
2
Donde resulta 490.5t 2 = 4414.5 ou seja t 2 = 9. Como t = −3 n˜ o tem qualquer
a
significado f´sico, vem que t = 3 segundos.
ı
A solucao da equacao diferencial do Exemplo 1.1 foi obtida directamente por integra-
¸˜ ¸˜
cao. Se tal fosse sempre poss´vel, ent˜ o as equacoes diferenciais seriam uma aplicacao
¸˜ ı a ¸˜ ¸˜
directa do c´ lculo integral e seria desnecess´ ria toda uma teoria sobre as equacoes
a a ¸˜
14. 4 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
diferenciais. No entanto, a determinacao da solucao da maioria das equacoes dife-
¸˜ ¸˜ ¸˜
renciais implica o uso de t´ cnicas mais avancadas e espec´ficas.
e ¸ ı
Vamos iniciar com um tipo cl´ ssico de equacao diferencial para a qual e poss´vel
a ¸˜ ´ ı
determinar a solucao:
¸˜
Exemplo 1.2 Sendo α uma constante, resolva a seguinte equacao diferencial:
¸˜
dy
= α y, y(0) = 10. (1.6)
dx
¸˜
Resolucao: Reescrevemos a equacao (1.6)
¸˜
dy
= α dx
y
e depois integramos
dy
= α dx
y
ou
ln |y| = α x +C (Se ln a = b ent˜o a = eb ).
a
Temos:
|y| = eα x+C = eα x eC
ou ainda:
y = keα x , com k = ±eC (1.7)
Verifiquemos o resultado obtido.
dy
Seja y(x) = keα x ent˜ o
a = k (α eα x ) = α (keα x ) = α y, donde se conclui que y =
dx
keα x satisfaz (1.6). Isto e, a equacao (1.6) tem uma infinidade de solucoes, uma
´ ¸˜ ¸˜
para cada concretizacao de k. Determinamos a solucao do problema (1.6) mediante
¸˜ ¸˜
o uso da condicao inicial y(0) = 10. De facto,
¸˜
y(0) = 10 ⇒ keα 0 = 10 ⇒ k = 10,
ou seja y = 10eα x e uma solucao unica para o problema de valor inicial (1.6).
´ ¸˜ ´
15. 1.1. ALGUNS EXEMPLOS 5
e e ¸˜
Ao m´ todo utilizado no Exemplo 1.2 chamamos m´ todo de separacao de vari´ veis,
a
uma vez que a t´ cnica utilizada consiste na separacao das vari´ veis independente e
e ¸˜ a
dependente, colocando-as em membros diferentes da equacao.
¸˜
Se α > 0, temos que eα x cresce exponencialmente. Se α < 0, temos que eα x decai
exponencialmente (ver Fig. 1.1). Se α = 0, ent˜ o n˜ o existe crescimento, ou seja
a a
y = e0 = 1 mant´ m-se constante.
e
y
y
y = eα x , α > 0
y = eα x , α < 0
0
0 x x
Figura 1.1: Crescimento exponencial e decrescimento exponencial.
Como observ´ mos no Exemplo 1.2, a resolucao da equacao diferencial conduziu-
a ¸˜ ¸˜
nos a uma infinidade de solucoes (y = keα x , com k uma constante arbitr´ ria). Con-
¸˜ a
tudo, do ponto de vista f´sico, n˜ o interessa ter uma infinidade de solucoes. Esta
ı a ¸˜
dificuldade e facilmente suplantado particularizando o valor de y para um valor par-
´
ticular de x, i.e. y(x0 ) = y0 . Chama-se a este valor particular uma condicao inicial
¸˜
e viabiliza uma solucao unica para o problema. Este conceito ser´ ilustrado nos
¸˜ ´ a
exemplos seguintes.
Exemplo 1.3 (Lei do arrefecimento de Newton) A lei do arrefecimento
de Newton diz que a taxa da variacao da diferenca de temperatura entre um ob-
¸˜ ¸
jecto e o seu meio involvente e proporcional a diferenca de temperaturas. Seja ∆T
´ ` ¸
a diferenca de temperatura no instante t. Dado que matematicamente a taxa de
¸
variacao e expressa por uma derivada, podemos ent˜ o escrever a lei do arrefeci-
¸˜ ´ a
mento de Newton como:
d∆T
= α ∆T, (1.8)
dt
16. 6 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
com α negativo, dado que a temperatura est´ a diminuir. A partir do Exemplo 1.2,
a
facilmente se conclui que
∆T (t) = ∆T (0)eα t . (1.9)
¸˜
Chama-se a (1.9) solucao geral da equacao diferencial (1.8), dado qualquer solucao
¸˜ ¸˜
de (1.8) ser desta forma. ∆T (0) e uma constante arbitr´ ria que denota a diferenca
´ a ¸
de temperatura em t = 0.
Como ilustracao pr´ tica, consideremos uma panela de agua a ferver (100◦ C) que
¸˜ a ´
e retirada do lume e deixada a arrefecer a temperatura da cozinha, que sabemos
´ `
ser de 20◦ C. Dois minutos depois a temperatura da panela e 80◦ C. Qual ser´ a
´ a
temperatura da panela 5 minutos depois de ter sido retirada do lume?
Uma vez que a diferenca inicial da temperatura e dada por:
¸ ´
∆T (0) = 100◦ − 20◦ = 80◦ ,
a igualdade (1.9) toma a forma
∆T (t) = 80eα t . (1.10)
Quando t = 2 minutos, temos:
∆T (2) = 80◦ − 20◦ = 60◦ ,
Se susbstituirmos t = 2 em (1.10) temos:
60 = 80eα 2 ,
e ainda
3 60
= = eα 2 ,
4 80
Aplicando o logaritmo natural, vem:
3 1 3
2α = ln ⇔ α= ln .
4 2 4
17. 1.1. ALGUNS EXEMPLOS 7
Repare que α e negativo (≃ −0.1438), o que faz sentido dado que a temperatura
´
est´ a diminuir.
a
Substituimos de seguida α na equacao (1.9) e relembrando que eln x = x e a ln b =
¸˜
ln ba temos:
t/2
3 3
ln t/2 ln
4 4
∆T = 80e = 80e
t/2
3
= 80 . (1.11)
4
A equacao (1.11) e uma solucao particular de (1.7), pois e unicamente determinada
¸˜ ´ ¸˜ ´
pelas condicoes especificadas para esta situacao particular.
¸˜ ¸˜
Finalmente, de forma a determinar a temperatura da agua ao fim de 5 minutos,
´
comecamos por determinar a diferenca de temperatura:
¸ ¸
5/2
3
∆T (5) = 80 ≃ 38.97,
4
que somamos de seguida a temperatura da cozinha. Temos ent˜ o que 5 minutos
` a
ap´ s a panela ser retirada do lume, a agua se encontra a temperatura de 58.97◦ C.
o ´ `
Exemplo 1.4 (Envelhecimento do carbono) O envelhecimento do car-
bono e uma t´ cnica usada por arqueologistas e ge´ logos, entre outros, que preten-
´ e o
dam estimar a idade de certos utens´lios ou vest´gios arqueol´ gicos. A t´ cnica e
ı ı o e ´
baseada em certas propriedades do atomo de carbono. No seu estado natural, o
´
atomo de carbono 12C tem 6 prot˜ es e 6 neutr˜ es. Outro isotopo do carbono e 14C
´ o o ´
que tem dois neutr˜ es e dois n´ cleos adicionais.
o u 14C e radioactivo, i.e., emite um
´
electr˜ o e atinge o estado est´ vel 14 N. Assumimos que existe uma raz˜ o constante
a a a
na atmosfera entre 14C e 12C. Esta suposicao e apoiada experimentalmente, dado
¸˜ ´
que se verificou que embora 14C esteja permanentemente a desaparecer devido a
`
degradacao radioactiva, tamb´ m novo 14C est´ permanentemente a ser produzido
¸˜ e a
devido ao bombardeamento c´ smico do nitrog´ nio na atmosfera superior. Plantas
o e
e animais n˜ o distinguem entre
a 12C e 14C, de modo que no momento da morte a
18. 8 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
raz˜ o entre 12C e 14C no organismo e a mesma que a raz˜ o presente na atmosfera.
a ´ a
No entanto, esta raz˜ o muda ap´ s a morte, dado que 14C e transformado em 14 N,
a o ´
sem que seja produzido mais 14C.
Atrav´ s de observacoes, os cientistas chegaram a conclus˜ o que o 14C se degrada
e ¸˜ ` a
a uma taxa proporcional a sua massa, sendo a sua meia-vida de aproximadamente
`
1
5730 anos. Isto significa que tendo inicialmente 1g de 14C, resta-nos g ao fim de
2
5730 anos, tendo sido a outra metade convertida em 14 N.
Como exemplo, consideremos agora o seguinte problema: Os vest´gios de um or-
ı
ganismo s˜ o desenterrados e determina-se que a quantidade de 14C presente e de
a ´
40% da de um organismo vivo semelhante. Qual e a idade aproximada dos vest´gios
´ ı
encontrados?
¸˜
Resolucao: Seja M(t) a massa de 14C dos vest´gios encontrados.
ı
Sabendo que 14C se degrada a uma taxa proporcional ` sua
a
massa, temos:
dM
= −α M,
dt
sendo α a constante de proporcionalidade. Ent˜o M(t) = ce−α t,
a
com c = M0 a quantidade inicial de 14C. Com t = 0, M(0) = M0 ;
1
t = 5730, M(5730) = M0 . Usamos este facto para determinar α :
2
1 1
M0 = M0 e−α ·5730 ⇔ e−α ·5730 = .
2 2
Ent˜o
a
1/5730 t/5730
−α 5730 1 −α 1 −α t 1
e = ⇔ e = e e = ,
2 2 2
donde
1 t/5730
M(t) = M0 .
2
Sabemos que t anos ap´s a morte do organismo M(t) = 0.4M0 e
o
queremos determinar t. Fazemos ent˜o:
a
t/5730
1
0.4M0 = M0 ,
2
19. ¸˜ ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 9
aplicando logaritmos naturais:
t 1 5730 ln (0.4)
ln 0.4 = ln ⇔ t=
5730 2 1
ln
2
ou seja aproximadamente 7575 anos.
Esta t´ cnica de envelhecimento do carbono tem sido usada com sucesso em in´ meras
e u
ocasi˜ es. Foi esta mesma t´ cnica que permitiu datar os Manuscritos do mar morto
o e
com cerca de dois mil anos.
Nos Exemplos 1.1–1.4 determin´ mos a solucao de equacoes diferenciais muito sim-
a ¸˜ ¸˜
ples, usando o m´ todo de separacao de vari´ veis. Este m´ todo tamb´ m pode ser
e ¸˜ a e e
usado para resolver equacoes diferenciais mais elaboradas, como iremos mostrar na
¸˜
pr´ xima seccao.
o ¸˜
Os exemplos considerados ilustram tamb´ m que da resolucao de equacoes diferen-
e ¸˜ ¸˜
ciais muito simples se pode encontrar solucao para aplicacoes f´sicas mais diversi-
¸˜ ¸˜ ı
ficadas.
¸˜ ´
1.2 Separacao de variaveis
Vamos aprender agora a resolver algumas equacoes um bocadinho mais complica-
¸˜
das do que as que resolvemos at´ aqui.
e
Considere-se a equacao diferencial
¸˜
dy
= f (x, y) (1.12)
dx
e suponhamos que f (x, y) e factoriz´ vel no produto:
´ a
f (x, y) = g(x)h(y), (1.13)
20. 10 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
onde g(x) e h(y) s˜ o funcoes de uma s´ vari´ vel. Sempre que isto ocorre, a equacao
a ¸˜ o a ¸˜
ı ¸˜ e ¸˜
(1.12) e pass´vel de resolucao pelo m´ todo da separacao de vari´ veis. Para resol-
´ a
ver a equacao, substituimos (1.13) em (1.12):
¸˜
dy
= g(x)h(y),
dx
ou
1 dy
= g(x), (1.14)
h(y) dx
Integrando ambos os membros da equacao (1.13) em relacao a x, obtemos:
¸˜ ¸˜
1 dy
dx = g(x)dx +C,
h(y) dx
e
1
dy = g(x)dx +C. (1.15)
h(y)
Se ambos os integrais de (1.15) forem calcul´ veis, ent˜ o a solucao da equacao dife-
a a ¸˜ ¸˜
rencial (1.12) e feita atrav´ s do c´ lculo dos integrais.
´ e a
dx √
Exemplo 1.5 Resolva a equacao
¸˜ = t 1 − x2 .
dt
¸˜
Resolucao: ¸˜
Reescrevemos a equacao como
dx dx
√ = tdt ⇒ √ = tdt +C
1 − x2 1 − x2
Calculando os integrais, obtemos:
t2
arcsin x = +C
2
ou seja
t2
x = sin +C .
2
Existe um n´mero infinito de soluc˜es, uma para cada valor
u ¸o
π π
de C com C ≤ . (Porquˆ C ≤ ?)Para determinadas condic˜es
e ¸o
2 2
iniciais, vai existir uma soluc˜o ´nica. Suponhamos por
¸a u
1
exemplo x(0) = . Ent˜o
a
2
1 02 1 π
= sin +C = sinC e C = arcsin =
2 2 2 6.
21. ¸˜ ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 11
Ent˜o a solucao ´nica ´
a ¸˜ u e
t2 π
x(t) = sin + .
2 6
Repare que se x(0) = 2 n˜o existe solucao, pois a func˜o seno
a ¸˜ ¸a
s´ toma valores no intervalo [−1, 1] .
o
Exemplo 1.6 (Velocidade de escape) No Exemplo 1.1 estud´ mos o mo-
a
vimento de um corpo em queda livre, i.e. sujeito a forca de gravidade da Terra.
` ¸
Nesse exemplo assumimos ser pequena a altura a que se encontra o corpo, h, re-
lativamente ao raio da Terra R. No entanto, se pretendermos estudar a equacao
¸˜
do movimento de um sat´ lite de comunicacoes ou de um ve´culo interplanet´ rio,
e ¸˜ ı a
a distˆ ncia r do objecto ao centro da Terra poder´ ser considerada grande em
a a
relacao a R. Assim a assercao que fizemos para obter a equacao (1.3) deixa de ser
¸˜ ¸˜ ¸˜
v´ lida. Retomemos a equacao (1.2):
a ¸˜
d2r R2
= −g 2
dt 2 r
dr
e considerando v = , temos pela regra da cadeia:
dt
d 2 r dv dv dr dv
2
= = =v . (1.16)
dt dt dr dt dr
Assim, a equacao (1.2) pode ser reescrita como:
¸˜
dv R2
v = −g 2 , (1.17)
dr r
onde g e R s˜ o constantes. Separando as vari´ veis e integrando obtemos
a a
dr
vdv = −gR2 +C,
r2
ou seja
1 2 gR2
v = +C.
2 r
Supondo que no instante inicial o objecto se encontra a superf´cie da Terra, temos
` ı
ent˜ o que:
a
1 gR2
v(0)2 = +C.
2 R
22. 12 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
ou
1
v(0)2 − gR = C.
2
Ent˜ o
a
R2
v2 = 2g + v(0)2 − 2gR. (1.18)
r
Para que o objecto escape a forca gravitacional da Terra, e necess´ rio que v > 0 em
` ¸ ´ a
√
cada instante t. Se escolhermos v(0) = 2gR, os dois ultimos termos da equacao
´ ¸˜
(1.18) cancelam-se mutuamente, e temos que v2 > 0 para todo o r. Observemos
√
que uma escolha para v(0) inferior a 2gR vai permitir que o segundo membro da
equacao (1.18) possa ser zero, bastando para tal que o valor de r seja suficiente-
¸˜
mente grande. Assim sendo, para que o objecto escape a atraccao gravitacional
` ¸˜
√
da Terra e necess´ rio que ele tenha velocidade inicial m´nima de v(0) = 2gR ≃
´ a ı
11.2km/seg. A esta velocidade m´nima chama-se velocidade de escape.
ı
A substituicao (1.16) pode sempre ser usada para reduzir uma equacao que contenha
¸˜ ¸˜
a segunda derivada numa que contenha somente a primeira derivada, sendo para tal
necess´ rio que a vari´ vel independente n˜ o apareca explicitamente na equacao.
a a a ¸ ¸˜
Exemplo 1.7 (Crescimento log´stico) Seja P(t) a populacao de uma esp´ -
ı ¸˜ e
cie no instante t. A taxa de crescimento individual de uma populacao e definido
¸˜ ´
como o crescimento de uma populacao dividido pelo tamanho da populacao. Por
¸˜ ¸˜
exemplo, se considerarmos a taxa de natalidade igual a 3.2 em cada 100 e a taxa de
mortalidade igual a 1.8 em cada 100, ent˜ o a taxa de crescimento e 3.2 − 1.8 = 1.4
a ´
1.4 dP
em cada 100, i.e. = . Escrevemos ent˜ o
a = 0.014P.
100 dt
Consideremos uma dada populacao cuja taxa de natalidade m´ dia e dada pela
¸˜ e ´
constante positiva β . E razo´ vel considerar a taxa m´ dia de mortalidade pro-
´ a e
porcional ao n´ mero de indiv´duos da populacao. Populacoes com maior n´ mero
u ı ¸˜ ¸˜ u
de indiv´duos correspondem a uma maior densidade de indiv´duos, donde a uma
ı ı
maior competicao por comida e territ´ rio entre os seus membros. Seja δ a cons-
¸˜ o
dP
tante que representa esta proporcionalidade. Sendo a taxa de crescimento da
dt
23. ¸˜ ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 13
1 dP
populacao, ent˜ o
¸˜ a ser´ a taxa de crescimento por indiv´duo nessa populacao.
a ı ¸˜
P dt
Ser´ l´cito considerar ent˜ o a seguinte equacao diferencial que governa o cresci-
a ı a ¸˜
mento da populacao:
¸˜
1 dP
= β − δ P.
P dt
Multiplicando ambos os membros desta equacao por P, temos:
¸˜
dP
= P (β − δ P) . (1.19)
dt
´ ¸˜
Esta e a equacao log´stica. O crescimento expresso por esta equacao chama-se
ı ¸˜
crescimento log´stico. Separemos as vari´ veis:
ı a
dP
= dt +C. (1.20)
P (β − δ P)
Decompondo a fraccao nos seus elementos simples, temos:
¸˜
1 1 δ
= + .
P (β − δ P) β P β (β − δ P)
Substituimos estes elementos simples em (1.20) e temos:
1 1
ln |P| − ln |β − δ P| = t +C
β β
ou ainda
1 P
ln = t +C. (1.21)
β β −δP
Aplicando a funcao exponencial a ambos os membros, vem:
¸˜
P P
= eβ t+β C ⇒ = C1 eβ t . (1.22)
β −δP β −δP
Para t = 0 obtemos
P(0)
= C1 .
β − δ P(0)
Substituindo o valor obtido para C1 em (1.22), vem:
P(t) P(0)
= eβ t .
β − δ P(t) β − δ P(0)
24. 14 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
Facamos o produto cruzado para depois resolver em ordem a P(t) :
¸
P(t) [β − δ P(0)] = P(0) [β − δ P(t)]eβ t
β P(t) − δ P(t)P(0) = β P(0)eβ t − δ P(0)P(t)eβ t
P(t) β − δ P(0) + δ P(0)eβ t = β P(0)eβ t ,
dividindo ambos os membros por P(0)eβ t :
β P(0)eβ t β
P(t) = = . (1.23)
β − δ P(0) + δ P(0)eβ t β
δ+ − δ e−β t
P(0)
Uma vez que β > 0, e−β t tende para zero com t. Temos ent˜ o que a populacao tem
a ¸˜
β β
um limite de crescimento . Facilmente se verifica ainda que com P = em (1.19)
δ δ
dP
vem = 0, i.e. a populacao e constante.
¸˜ ´
dt
Aprendemos como resolver uma equacao diferencial de primeira ordem quando se-
¸˜
par´ vel. No entanto nem sempre e muito claro ver se a equacao e ou n˜ o separ´ vel.
a ´ ¸˜ ´ a a
Por exemplo, e obvio que se f (x, y) = ex cos y e separ´ vel. Mas j´ n˜ o e t˜ o obvio
´ ´ ´ a a a ´ a ´
que f (x, y) = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2 e separ´ vel. Damos, de seguida condicoes
´ a ¸˜
que permitem decidir sobre a separabilidade das vari´ veis numa equacao diferen-
a ¸˜
cial.
25. ¸˜ ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 15
´ ¸˜ ´
Quando e que uma equacao diferencial e separ´ vel?
a
Teorema 1 Suponhamos que f (x, y) = g(x)h(y), onde g e h s˜ o diferenci´ veis.
a a
Ent˜ o
a
f (x, y) fxy (x, y) = fx (x, y) fy (x, y). (1.24)
Dem. Facamos
¸
fx (x, y) = g′ (x)h(y)
fy (x, y) = g(x)h′ (y)
fxy (x, y) = g′ (x)h′ (y)
f (x, y) fxy (x, y) = g(x)h(y)g′ (x)h′ (y) = g′ (x)h(y) g(x)h′ (y)
= fx (x, y) fy (x, y)
Teorema 2 Seja D = (x, y) : (x − a)2 + (y − b)2 < r2 , com a, b ∈ R e r ∈ R+ ,
uma bola do plano-xy. Suponhamos que f , fx , fy e fxy existem e s˜ o cont´nuas em
a ı
D, f (x, y) = 0 e a equacao (1.24) se verifica. Ent˜ o existem funcoes continuamente
¸˜ a ¸˜
diferenci´ veis g(x) e h(y) tais que, para cada (x, y) ∈ D,
a f (x, y) = g(x)h(y).
dy
Exemplo 1.8 Seja = f (x, y) com f (x, y) = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2.
dx
Ent˜ o:
a
fx (x, y) = 4x − 2xy + y − 2
fy (x, y) = 1 − x2 + x
fxy (x, y) = −2x + 1
f (x, y) fxy (x, y) = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2 (−2x + 1)
= −4x3 − xy + 2x3 y − 3x2 y + 6x2 + 2x + y − 2
fx (x, y) fy (x, y) = (4x − 2xy + y − 2) 1 − x2 + x
= 2x − xy + y − 2 − 4x3 + 2x3 y − 3x2 y + 6x2
26. 16 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
Donde se conclui a partir do Teorema 2 que f (x, y) e separ´ vel.
´ a
¸˜
Resolucao:
dy
= 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2
dx
= (y − 2)(−x2 + x + 1)
= ···
dy
Exemplo 1.9 Seja = f (x, y) com f (x, y) = 1 + xy. Ent˜ o:
a
dx
fx (x, y) = y
fy (x, y) = x
fxy (x, y) = −1
f (x, y) fxy (x, y) = 1 + xy
e
fx (x, y) fy (x, y) = xy
Como as duas ultimas express˜ es n˜ o s˜ o iguais, conclui-se a partir do Teorema 2
´ o a a
que f (x, y) n˜ o e separ´ vel.
a ´ a
dy
Uma equacao diferencial da forma
¸˜ = f (ax + by + c) , n = 0 pode sempre reduzir-
dx
se a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis, atrav´ s da substituicao
¸˜ a a e ¸˜
du dy
u = ax + by + c ⇒ = a+b .
dx dx
dy 1
Exemplo 1.10 Resolva a equacao diferencial
¸˜ = .
dx x + y + 1
1
Resolucao: Consideramos f (u) = e em conformidade u = x+y+
¸˜
u
du dy
1⇒ = 1+ .
dx dx
27. ¸˜ ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 17
¸ a ¸˜
Efectuamos esta mudanca de vari´vel na equacao diferencial
e obtemos:
du 1
−1 = ⇔
dx u
du 1 + u
⇔ = ⇔
dx u
u
⇔ du = dx ⇒
1+u
u
⇔ du = dx +C
1+u
u
Como calcular du?
1+u
Temos que saber calcular primitivas de func˜es racionais.
¸o
¸˜
Posto isto, e sendo a funcao integranda uma fracc˜o racional
¸a
o ¸ ¸˜
impr´pria, temos que comecar por reduzi-la a uma fraccao
racional pr´pria, i.e.:
o
u 1
= 1− .
1+u 1+u
Prossigamos agora com o c´lculo das primitivas:
a
1
1− du = dx +C ⇔
1+u
⇔ u − ln |1 + u| = x +C ⇔
Voltando ` vari´vel original, escrevemos:
a a
⇔ x + y + 1 − ln |1 + x + y + 1| = x +C ⇔
⇔ y + c = ln |2 + x + y| ⇔
⇔ ey+c = 2 + x + y ⇔
⇔ 2 + x + y = Cey .
Temos assim a solucao impl´cita da equac˜o diferencial.
¸˜ ı ¸a
Consideremos ent˜ o outros exemplos:
a
28. 18 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
dy
1. Consideremos a equacao diferencial
¸˜ = (x+y+1)2 . Reduzimos esta equacao ¸˜
dx
diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectuando a se-
¸˜ a a
guinte mudanca de vari´ vel f (u) = u2 .
¸ a
dx 1 − t − x
2. Consideremos a equacao diferencial
¸˜ = . Reduzimos esta equacao
¸˜
dt t +x
diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectuando a
¸˜ a a
1−u
seguinte mudanca de vari´ vel f (u) =
¸ a .
u
dy √
3. Consideremos a equacao diferencial
¸˜ = 2 + y − 2t + 3. Reduzimos esta
dx
equacao diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectu-
¸˜ ¸˜ a a
√
ando a seguinte mudanca de vari´ vel f (u) = 2 + u.
¸ a
dy
4. Consideremos a equacao diferencial
¸˜ = 1+ey−t+5 . Reduzimos esta equacao ¸˜
dx
diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectuando a se-
¸˜ a a
guinte mudanca de vari´ vel f (u) = 1 + eu .
¸ a
Exerc´cio 1 Calcule a solucao de cada uma das equacoes diferenciais acima
ı ¸˜ ¸˜
enumeradas.
¸˜ ¸˜
1.3 Classificacao de equacoes diferenciais
Ficou claro, no estudo efectuado nas ultimas seccoes, que grande e a variedade de
´ ¸˜ ´
equacoes diferenciais resultantes de fen´ menos que nos s˜ o familiares. Torna-se
¸˜ o a
ent˜ o necess´ rio estudar classes mais restritas destas equacoes.
a a ¸˜
Comecemos por classificar as equacoes diferenciais. A classificacao mais obvia ser´
¸˜ ¸˜ ´ a
uma baseada na natureza das derivadas da equacao. Uma equacao diferencial diz-se
¸˜ ¸˜
¸˜
equacao diferencial ordin´ ria (ODE) se involve somente derivadas ordin´ rias, i.e.
a a
em ordem a uma s´ vari´ vel independente e de uma ou v´ rias vari´ veis dependentes.
o a a a
Exemplo 1.11 Considerem-se os seguintes exemplos:
29. ¸˜
1.4. SOLUCOES 19
dy
1. − 5y = 1
dx
2. (t + y) dt − 4ydy = 0
du dv
3. − = t, u(t) e v(t)
dt dt
d2y dy
4. 2
− 2 + 6x = 0
dx dx
Uma equacao que involva derivadas parciais, de uma ou mais vari´ veis dependentes
¸˜ a
¸˜
e, obviamente, de duas ou mais vari´ veis independentes, diz-se equacao diferencial
a
`
as derivadas parciais.
Exemplo 1.12 Considerem-se os seguintes exemplos:
∂x ∂y
1. =− x(t, ?), y(t, ?)
∂t ∂t
∂x ∂x
2. t + k = x, x(t, z)
∂t ∂z
¸˜
Definicao 1 A ordem da derivada mais elevada envolvida na equacao diferen-
¸˜
cial, determina a ordem da equacao diferencial.
¸˜
Exemplo 1.13 Considerem-se os seguintes exemplos:
dy
1. + 2yx = 1 primeira ordem
dx
d 2 y dy
2. + +x = 0 segunda ordem
dx2 dx
d 3 y y2
3. = terceira ordem
dx3 x2
Quanto a estrutura, as equacoes diferenciais classificam-se em equacoes diferenciais
` ¸˜ ¸˜
lineares e n˜ o lineares. Definimos equacao diferencial linear na Seccao 1.6.
a ¸˜ ¸˜
¸˜
1.4 Solucoes
¸˜
Definicao 2 Uma funcao y, definida no intervalo I, que possui derivadas at´ a
¸˜ e`
ordem n, e tal que uma vez substitu´da na equacao diferencial de ordem–n a reduz
ı ¸˜
30. 20 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
a uma identidade, diz-se solucao dessa equacao diferencial. Simbolicamente, isto
¸˜ ¸˜
significa que a solucao da equacao diferencial
¸˜ ¸˜
F x, y, y′ , . . ., y(n) = 0 (1.25)
e uma funcao y(x), cujas derivadas y′ (x), y′′ (x), . . ., y(n) existem e satisfazem a equacao
´ ¸˜ ¸˜
(1.31) para todos os valores da vari´ vel independente x em todo o intervalo em que
a
(1.31) est´ definida.
a
`
A solucao tamb´ m se chama curva integral ou simplesmente integral da ED.
¸˜ e
Observacao 2 O intervalo I pode ser da forma (a, b), [a, b], [a, b), (a, b] com a, b
¸˜
valores finitos ou infinitos.
As aplicacoes f´sicas que descrevemos nesta seccao (e.g. Exemplos 1.1, 1.3 e 1.4)
¸˜ ı ¸˜
correspondem a problemas para os quais sabemos existir solucao. No entanto, e
¸˜ ´
importante distinguir a realidade f´sica do modelo matem´ tico dado pela equacao
ı a ¸˜
diferencial que representa o problema. Pois o nosso racioc´cio poder´ estar comple-
ı a
tamente errado e as equacoes apresentadas n˜ o apresentarem qualquer ligacao com
¸˜ a ¸˜
a realidade.
Existem equacoes diferenciais para as quais n˜ o existe solucao. Por exemplo:
¸˜ a ¸˜
2
dy
+3 = 0
dx
2
dy
n˜ o tem obviamente solucao, pois
a ¸˜ + 3 ≥ 3 !!!
dx
Por outro lado, a equacao
¸˜
2
dy
+ y2 = 0
dx
tem y = 0 como unica solucao.
´ ¸˜
A equacao
¸˜
dy
+y = 0
dx
tem um n´ mero infinito de solucoes y = ce−x para toda a constante c.
u ¸˜
31. ¸˜
1.4. SOLUCOES 21
Uma equacao diferencial tem usualmente uma infinidade de solucoes.
¸˜ ¸˜
Ao determinar a solucao de uma equacao diferencial de ordem–n,
¸˜ ¸˜
F x, y, y′ , . . . , y(n) = 0, ∀t ∈ I
esperamos obter uma fam´lia de solucoes de n parˆ metros G(x, y, c1 , . . . , cn ) = 0.
ı ¸˜ a
¸˜ a ¸˜
Cada concretizacao dos parˆ metros fornece uma solucao particular, ou seja uma
solucao livre de parˆ metros.
¸˜ a
¸˜
Chamamos solucao singular a uma solucao da equacao diferencial que n˜ o per-
¸˜ ¸˜ a
tence a fam´lia de parˆ metros.
` ı a
Se a fam´lia de parˆ metros cont´ m todas as solucoes da equacao diferencial, ent˜ o
ı a e ¸˜ ¸˜ a
¸˜
chama-se solucao geral.
Exemplo 1.14 Consideremos a equacao diferencial
¸˜
dy
= 2xy (1.26)
dx
2
cuja solucao geral e y = cex . Cada concretizacao da constante c fornece uma
¸˜ ´ ¸˜
solucao particular. A Figura 1.3 mostra algumas concretizacoes de c, isto e algu-
¸˜ ¸˜ ´
mas solucoes de (1.26).
¸˜
200
c>0
100
0
c=0
−100
c<0
−200
−2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1 1.5 2
Figura 1.2: Representacao gr´ fica de algumas solucoes de (1.26).
¸˜ a ¸˜
A y ≡ 0, representada a vermelho na figura, chamamos solucao trivial.
¸˜
32. 22 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
Se y ≡ 0 (i.e., y e identicamente igual a zero) e solucao da equacao diferencial num
´ ´ ¸˜ ¸˜
intervalo I, ent˜ o chama-se a y ≡ 0 solucao trivial dessa equacao diferencial em I.
a ¸˜ ¸˜
Exemplo 1.15 A equacao diferencial do Exemplo 1.2 pode ser reescrita na
¸˜
forma y′ − α y = 0. E f´ cil verificar que y(x) = keα x ,
´ a k ∈ R, e solucao para todo
´ ¸˜
o real x :
y′ (x) − α y(x) = (keα x )′ − α (keα x ) = α keα x − α keα x = 0.
Exerc´cio 2
ı 1. Prove que y1 = c1 cos(4x) e y2 = c2 sin(4x) s˜ o solucoes de
a ¸˜
d2y
+ 16y = 0.
dx2
2. Prove que
y = ex
y = e−x
y = c1 ex
y = c2 e−x
y = c1 ex + c2 e−x
d 2y
com c1 , c2 ∈ R, s˜ o solucoes de 2 − y = 0.
a ¸˜
dx
Exemplo 1.16 Consideremos os seguintes exemplos:
1. y = cx4 e solucao da equacao diferencial xy′ − 4y = 0.
´ ¸˜ ¸˜
−x4 , x < 0
2. y = e solucao da mesma equacao, i.e.
´ ¸˜ ¸˜
x4 , x ≥ 0
−1, x < 0
c= A constante c n˜ o e unica em todo o intervalo.
a ´´
1, x ≥ 0
A solucao particular 2. e solucao, mas n˜ o pode ser obtida a partir da fam´lia de
¸˜ ´ ¸˜ a ı
parˆ metros por uma escolha unica de c.
a ´
33. ¸˜
1.4. SOLUCOES 23
15
10
c=1
5
0
−5
c = −1
−10
−15
−2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1 1.5 2
Figura 1.3: Exemplo de uma solucao particular definida por ramos.
¸˜
A solucao da equacao diferencial pode estar na forma impl´cita ou expl´cita. Se
¸˜ ¸˜ ı ı
apresentamos a solucao na forma y = f (x), ent˜ o a solucao est´ na forma expl´cita.
¸˜ a ¸˜ a ı
Se a apresentamos na forma f (x, y) = c, onde c e uma constante, ent˜ o a solucao
´ a ¸˜
est´ na forma impl´cita.
a ı
Exemplo 1.17 1. A solucao y = 2e3x e uma solucao expl´cita da equacao
¸˜ ´ ¸˜ ı ¸˜
diferencial do Exemplo 1.15.
2. Considere a equacao diferencial
¸˜
dy x
= .
dx y
Ap´ s separacao de vari´ veis obt´ m-se
o ¸˜ a e
ydy = xdx
y2 x2
= +c
2 2
y2 − x2 = 2c = C
Temos a solucao na sua forma impl´cita.
¸˜ ı
Nota 1 De facto, n˜ o e l´cito apresentar a solucao deste problema na sua
a ´ ı ¸˜
√
forma expl´cita, pois y = ± x2 +C n˜ o e funcao.
ı a ´ ¸˜
34. 24 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
Como vimos nas Seccoes 1.1 e 1.2, muitas s˜ o as situacoes em que estamos interes-
¸˜ a ¸˜
sados em resolver uma equacao diferencial de primeira ordem:
¸˜
dy
= f (x, y)
dx
sujeita a condicao adicional
` ¸˜
y(x0 ) = y0 .
Este e um exemplo de um problema de valor inicial. Chamamos a esta condicao
´ ¸˜
¸˜
adicional condicao inicial e a x0 o valor inicial. Formalizemos:
¸˜
Definicao 3 Um problema de valor inicial (PVI) consiste numa equacao di-
¸˜
ferencial de qualquer ordem e num conjunto de condicoes iniciais (o n´ mero de
¸˜ u
condicoes iniciais e igual a ordem da equacao diferencial) que dever˜ o ser satisfei-
¸˜ ´ ` ¸˜ a
tas pela solucao da equacao diferencial e das suas sucessivas derivadas no valor
¸˜ ¸˜
inicial.
Exemplo 1.18 Considerem-se os seguintes exemplos de PVIs:
1.
dy
= 2y − 3x,
dx
y(0) = 2
2.
x′′ (t) + 5x′(t) + (sint)x(t) = 0,
x(1) = 0
x′ (1) = 7
¸˜
Definicao 4 Definimos solucao de um PVI de ordem–n como uma funcao com
¸˜ ¸˜
derivadas at´ a ordem–n, que satisfaca a equacao diferencial e a(s) condicao(˜ es)
e` ¸ ¸˜ ¸˜ o
inicial(is).
35. ¸˜
1.4. SOLUCOES 25
Exemplo 1.19 A funcao y(x) = 2e3x e solucao do PVI
¸˜ ´ ¸˜
dy
= 3y,
dx
y(0) = 2
dy d 3x
pois y(0) = 2e3·0 = 2e0 = 2 e =2 e = 3 2e3x = 3y.
dx dx
Atencao, y ≡ 0 e solucao da equacao diferencial do Exemplo ??, mas n˜ o solucao
¸˜ ´ ¸˜ ¸˜ a ¸˜
do PVI, pois n˜ o verifica a condicao inicial.
a ¸˜
Observacao 3 As condicoes impostas a y(x) e as suas (n − 1) primeiras deriva-
¸˜ ¸˜ `
das s˜ o dadas num unico ponto, i.e., y(x0 ), y′ (x0 ), . . . , y(n−1) (x0 ).
a ´
1.
dy
= f (x, y)
dx
y(x0 ) = y0
PVI de ordem–1
2.
d2y
= f (x, y, y′ )
dx2
y(x0 ) = y0
y′ (x0 ) = y′
0
PVI de ordem–2
Ao analisar um PVI, duas quest˜ es fundamentais surgem:
o
1. Existe solucao?
¸˜
2. A solucao (se existir) e unica?
¸˜ ´´
Geometricamente, a segunda quest˜ o traduz-se em questionar se de entre todas as
a
solucoes do PVI, definido em I, existe uma unica cujo gr´ fico passa pelo ponto
¸˜ ´ a
(x0 , y0 ).
36. 26 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
dy − xy1/2 = 0
Exemplo 1.20 Consideremos o seguinte PVI dx , para o qual
y(0) = 0
queremos determinar a solucao.
¸˜
¸˜
Resolucao: Vamos determinar a soluc˜o utilizando separacao
¸a ¸˜
de vari´veis:
a
dy
= xy1/2 ⇔
dx
dy
⇒ = tdt ⇔
y1/2
y=0?!
x2
⇔ y1/2 = +c ⇔
4
x4
⇔ y= +C ∧ y(0) = 0
16
x4
⇒C = 0 ⇒y=
16
No entanto, a solucao trivial y ≡ 0 ´ tamb´m soluc˜o.
¸˜ e e ¸a Mais
ainda, a solucao trivial ´ soluc˜o singular (pois n˜o pode
¸˜ e ¸a a
ser obtida a partir da fam´lia de parˆmetros).
ı a
Como vemos a soluc˜o deste PVI n˜o ´ ´nica.
¸a a e u
Antes de tentarmos determinar a solucao de um PVI, e desej´ vel investigar primeiro
¸˜ ´ a
a existˆ ncia/unicidade dessa mesma solucao.
e ¸˜
O resultado seguinte, originalmente devido a Cauchy, mas generalizado por Picard,
e uma das condicoes mais populares devido a facilidade da sua aplicacao.
´ ¸˜ ` ¸˜
Teorema 3 (Teorema de Picard) Seja R uma regi˜ o rectangular defi-
a
nida no plano xOy e tal que a ≤ x ≤ b e c ≤ y ≤ d. O ponto (x0 , y0 ) pertence ao
interior de R. Se f e ∂ f /∂ y s˜ o funcoes cont´nuas no rectˆ ngulo R, ent˜ o existe um
a ¸˜ ı a a
37. ¸˜
1.4. SOLUCOES 27
intervalo I, centrado em x0 , e uma unica funcao y(x), x ∈ I, que satisfaz o PVI
´ ¸˜
dy
= f (x, y), y(x0 ) = y0 .
dx
Figura 1.4: Interpretacao geom´ trica do Teorema de Picard.
¸˜ e
¸˜
Observacao 4 Em geral n˜ o e poss´vel determinar um intervalo I em que essa
a ´ ı
solucao esteja definida sem antes determinar essa mesma solucao.
¸˜ ¸˜
´ ¸˜
O Teorema 3 e uma condicao suficiente de existˆ ncia e unicidade de solucao, dado
e ¸˜
fornecer crit´ rios capazes de garantir a existˆ ncia de uma unica solucao. Nome-
e e ´ ¸˜
adamente, requer a a verificacao da continuidade das funcoes. Se f e ∂ f /∂ y no
¸˜ ¸˜
rectˆ ngulo R que cont´ m o ponto inicial (x0 , y0 ). Dado a garantia deste teorema ser
a e
s´ para uma pequena regi˜ o em torno do ponto inicial, dizemos ser este resultado
o a
um teorema de existˆ ncia e unicidade local. Ilustramos de seguida a aplicacao do
e ¸˜
Teorema 3:
Exemplo 1.21 O PVI
dy
= x2 + y3
dx
y(0) = 1
tem solucao unica?
¸˜ ´
38. 28 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
¸˜
Resolucao: Sejam f (x, y) = x2 +y3 e ∂ f /∂ y = 3y2 funcoes cont´nuas
¸˜ ı
em todo o R×R, ent˜o obviamente tamb´m o ser˜o na regi˜o
a e a a
R. Est´ assim demonstrada a existˆncia de solucao ´nica.
a e ¸˜ u
x 1
Exemplo 1.22 Retomemos o Exemplo 1.20. Temos ent˜ o que ∂ f /∂ y =
a ,
2 y1/2
n˜ o estando esta funcao definida no ponto (0, 0). Dado ser o Teorema 3 uma condicao
a ¸˜ ¸˜
suficiente, nada se pode concluir sobre a existˆ ncia de solucao unica, mas de facto
e ¸˜ ´
n˜ o se pode garantir a sua existˆ ncia.
a e
Caso n˜ o estejamos interessados na unicidade de solucao, mas somente na sua
a ¸˜
existˆ ncia existe um resultado tamb´ m muito conhecido:
e e
Teorema 4 Nas condicoes do Teorema de Picard, a continuidade da funcao
¸˜ ¸˜
f (x, y) em R e condicao suficiente para garantir a existˆ ncia de pelo menos uma
´ ¸˜ e
solucao do PVI.
¸˜
O Teorema de Picard um de entre os v´ rios resultados de existˆ ncia/unicidade de
a e
solucao. Em diferentes situacoes, as condicoes podem ser relaxadas permitindo
¸˜ ¸˜ ¸˜
ainda tirar as mesmas conclus˜ es. Ao longo do nosso estudo abordaremos alguns
o
destes resultados.
¸˜
Definicao 5 Um problema de valores de fronteira (PVF) e constitu´do por
´ ı
uma equacao diferencial se um conjunto de condicoes adicionais que a solucao
¸˜ ¸˜ ¸˜
da equacao diferencial, bem com as sucessivas derivadas, deve satisfazer. As
¸˜
condicoes adicionais devem ser dadas para pelo menos dois valores distintos da
¸˜
vari´ vel independente.
a
Exemplo 1.23 Considerem-se os seguintes exemplos de PVF
39. ¸˜
1.4. SOLUCOES 29
1.
d2y
+ 5xy = cos x
dx2
y(0) = 0
y′ (1) = 2
2.
dy
+ 5xy = 0
dx
y(0) = 2
y(1) = 2
Para n = 2, definimos:
d 2y dy
a2 (x, y)
2
+ a1 (x, y) + a0 (x, y)y = g(x) (1.27)
dx dx
y(a) = y0
Condicoes de fronteira
¸˜ (1.28)
y(b) = y1
com a, b ∈ I.
Para n = 2, outras escolhas poss´veis de condicoes de fronteira s˜ o:
ı ¸˜ a
y′ (a) = y y(a) = y y′ (a) = y
0 0 0
, ou (1.29)
y(b) = y y′ (b) = y y′ (b) = y
1 1 1
onde y0 , y1 s˜ o constantes arbitr´ rias.
a a
Seja:
α y(a) + β y′ (a) = γ
1 1 1
(1.30)
α y(b) + β y′ (b) = γ
2 2 2
Atencao, ter˜ o de ser sempre duas condicoes, dado ser dois a ordem do problema.
¸˜ a ¸˜
Nota 2 O Teoremema de Picard s´ se aplica a PVIs.
o
Vejamos:
40. 30 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
Exemplo 1.24 Consideremos a equacao diferencial y′′ + 16y = 0, que tem
¸˜
como solucao geral y = c1 cos 4x + c2 sin 4x. De seguida consideramos diferentes
¸˜
condicoes de fronteira que nos permitir˜ o calcular os parˆ metros.
¸˜ a a
y(0) = 0
1. π
y = 0
2
¸˜
Resolucao:
0 = c
1
0 = c sin 2π
2
temos ent˜o a solucao (0, c2 )
a ¸˜
¸˜
∴ o PVF tem um n´mero infinito de solucoes:
u y = c2 sin 4t.
y(0) = 0
2. π
y = 0
8
¸˜
Resolucao:
0 = c
1
0 = c
2
temos ent˜o a soluc˜o y = (0, 0)
a ¸a
¸˜ u
∴ o PVF tem solucao ´nica.
y(0) = 0
y π
3.
= 1
2
¸˜
Resolucao:
0 = c1
1 = c2 sin π
2
Imposs´vel!
ı
41. ¸˜
1.5. CAMPO DE DIRECCOES 31
¸˜
∴ o PVF n˜o tem solucao.
a
Ainda que ao longo de todo este curso nos debrucemos sobre o estudo/aprendizagem
de m´ todos que nos permitem determinar a solucao de diferentes ED, o facto e que
e ¸˜ ´
muitas s˜ o as equacoes diferenciais provenientes de aplicacoes para as quais n˜ o e
a ¸˜ ¸˜ a ´
poss´vel obter uma solucao anal´tica. Dito de outro modo, muitas s˜ o as equacoes
ı ¸˜ ı a ¸˜
diferenciais para as quais e imposs´vel obter uma solucao exprimıvel em termos de
´ ı ¸˜
funcoes elementares.
¸˜
Existem diferentes formas para abordar esta dificuldade, nomeadamente:
1. Optar por uma solucao num´ rica
¸˜ e
2. Proceder a um estudo qualitativo da ED, i.e., perceber como se comportam as
solucoes da ED. Quest˜ es pertinentes deste t´ pico s˜ o por exemplo:
¸˜ o o a
• As solucoes da equacao diferencil crescem ilimitadamente com x?
¸˜ ¸˜
• As solucoes da equacao diferencial tendem para zero?
¸˜ ¸˜
• As solucoes oscilam entre determinados valores?
¸˜
¸˜
1.5 Campo de direccoes
Considere-se a equacao diferencial de ordem–1 na sua forma normal
¸˜
y′ = f (x, y). (1.31)
Considerando determinadas condicoes, e uma condicao inicial, o PVI associado
¸˜ ¸˜
a equacao (1.31) tem uma solucao unica. Ou seja, existe uma unica funcao que
` ¸˜ ¸˜ ´ ´ ¸˜
satisfaz o PVI:
y′ (x) = f (x, y)
y(x0 ) = y0
42. 32 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
com (x0 , y0 ) arbitr´ rio. A funcao y(x) e uma curva do plano–xy, da qual conhecemos
a ¸˜ ´
a tangente em cada ponto.
A tangente a curva y(x) em cada ponto (x, y) e dada por f (x, y).
` ´
Conhecemos ent˜ o a direccao da curva y(x) em cada ponto (x, y) do xy-plano em
a ¸˜
que a funcao f (x, y) est´ definida. Chama-se campo de direccoes da equacao di-
¸˜ a ¸˜ ¸˜
ferencial, y′ = f (x, y), ao conjunto de todas estas direccoes no plano. O que e
¸˜ ´
interessante e o facto de podermos usar a nocao de campo de direccoes para tracar
´ ¸˜ ¸˜ ¸
um esboco da solucao duma equacao diferencial no plano-xy sem chegar a calcular
¸ ¸˜ ¸˜
essa mesma solucao. Se achar muito dif´cil resolva este mesmo problema para a
¸˜ ı
equacao diferencial do exerc´cio seguinte.
¸˜ ı
Exemplo 1.25 Retomemos o PVI do Exemplo 1.2
y′ = 2xy (1.32)
y(0) = 1.
Temos que
y′ (x) > 0 se xy > 0 (i.e. quadrantes I e III)
y′ (x) < 0 se xy < 0 (i.e. quadrantes II e IV).
Para tracar o campo de direccoes, comecamos por determinar onde o coeficiente
¸ ¸˜ ¸
angular e constante:
´
y′ = c, c ∈ R. (1.33)
Obtemos desta forma a fam´lia de curvas 2xy = c, onde c e uma constante, a que
ı ´
chamamos isoclinas.
43. ¸˜
1.5. CAMPO DE DIRECCOES 33
Para o Exemplo ch1-1.5-ex25, calculamos de seguida as isoclinas:
c = 0 ⇔ x = 0∨y = 0
1
c = 1 ⇔ 2xy = 1 ⇔ y =
2x
1
c = 2 ⇔ 2xy = 2 ⇔ y =
x
1
c = −1 ⇔ 2xy = 1 ⇔ y = −
2x
1
c = −2 ⇔ 2xy = 2 ⇔ y = −
x
A Figura 1.5 mostra o campo de direccoes para esta equacao diferencial.
¸˜ ¸˜
2
y(x)
1
0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
Figura 1.5: Campo de direccoes para a equacao diferencial (1.32).
¸˜ ¸˜
Para a solucao particular em causa, escolhemos a curva que passa no ponto (0, 1).
¸˜
Temos ent˜ o:
a
¸˜
Observacao 5 e aconselh´ vel esbocar sempre um n´ mero razo´ vel de curvas, de
´ a ¸ u a
forma a podemos ilustrar convenientemente o comportamento de todas as solucoes
¸˜
da equacao diferencial.
¸˜
Exemplo 1.26 Debrucemo-nos agora sobre o campo de direccoes da equacao
¸˜ ¸˜
dP
log´stica do Exemplo 1.7,
ı = P (β − δ P) , onde β e δ s˜ o constantes positivas.
a
dt
¸˜
Resolucao: No Exemplo 1.7 determinamos a soluc˜o desta equac˜o
¸a ¸a
44. 34 ´
CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
2
y 1
0
-2 -1 0 1 2
x
-1
-2
Figura 1.6: Uma solucao de (1.32).
¸˜
diferencial:
β
P(t) = . (1.34)
β
δ+ − δ e−β t
P(0)
` semelhanca do que aconteceu no exemplo anterior, ´ poss´vel
A ¸ e ı
determinar o campo de direccoes desta equac˜o diferencial
¸˜ ¸a
sem a resolver.
Dado que as constantes β e δ s˜o positivas, tornam-se eviden-
a
tes os seguintes factos:
P′ < 0 se P < 0 ∨ P > β /δ ;
P′ > 0 se 0 < P < β /δ ;
P′ = 0 se P = 0 ∨ P = β /δ ;
A Figura 1.7 mostra o campo de direcc˜es para esta equacao
¸o ¸˜
diferencial.
Repare que toda a solucao tal que P(0) > 0 tende para o valor
¸˜
β /δ , ou seja a capacidade de suporte. J´ tinha- mos chegado
a
¸˜
a esta conclus˜o antes, quando calculamos o valor da solucao
a
quando t → ∞. Na Figura 1.8 mostram-se algumas solucoes:
¸˜