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¸˜
Equacoes diferenciais para engenheiros:
                  ¸˜
    teoria, modelacao e exerc´cios
                             ı


        Teresa Paula C. Azevedo Perdico´ lis
                                       u
           Sandra Isabel Ventura Ricardo


           UTAD, 18 de Agosto de 2010
2
´
Prefacio

Este texto foi escrito como material de apoio a unidade curricular An´ lise Ma-
                                              `                      a
tem´ tica III, das licenciaturas em Engenharia Civil e Engenharia Mecˆ nica, lec-
   a                                                                 a
cionada pelas docentes nos anos lectivos de 2008/09 e 2009/10.

Pretendemos com este texto apresentar uma abordagem simples a teoria das equacoes
                                                            `                ¸˜
diferenciais ordin´ rias, a qual pode ser facilmente compreendida por alunos que te-
                  a
nham conhecimentos de C´ lculo em Rn , nomeadamente conhecimentos de c´ lculo
                       a                                              a
                                                                ´
diferencial e de c´ lculo integral, assim como conhecimentos de Algebra Linear, do-
                  a
minando c´ lculo matricial, resolucao de sistemas de equacoes lineares, c´ lculo de
         a                        ¸˜                     ¸˜              a
determinantes e determinacao de valores e de vectores pr´ prios.
                         ¸˜                             o

Estas notas pretendem ser uma mistura entre teoria e aplicacoes das equacoes Di-
                                                           ¸˜           ¸˜
ferencias, focando-se muitas vezes em problemas concretos da “vida real” como
motivacao para o estudo da teoria, mas tamb´ m para mostrar a enorme aplica-
      ¸˜                                   e
bilidade que este ramo da matem´ tica tem em diversas areas do conhecimento:
                               a                      ´
Engenharia, Biologia, Medicina, Ciˆ ncias Sociais, etc. Sendo este um texto diri-
                                  e
gido a alunos de Engenharia, um relevo especial e dado a problemas desta area,
                                                ´                        ´
procedendo-se a sua modelacao e resolucao mediante os conhecimentos expostos.
              `           ¸˜          ¸˜
Introduzem-se e desenvolvem-se conceitos e t´ cnicas anal´ticas para a resolucao de
                                            e            ı                   ¸˜
equacoes diferenciais ordin´ rias.
    ¸˜                     a

Na verdade, sendo as leis da F´sica geralmente escritas como equacoes diferenciais,
                              ı                                  ¸˜
elas destacam-se como instrumento de linguagem no que toca a Ciˆ ncia e Engenha-
                                                               e

                                         i
ii

ria em particular. Assim, compreender e saber manipular equacoes diferenciais e
                                                            ¸˜                ´
sem d´ vida essencial para qualquer aluno de Engenharia.
     u

Relativamente a organizacao deste texto, cada cap´tulo e composto por uma s´ntese
              `         ¸˜                       ı     ´                   ı
de resultados te´ ricos, alguns dos quais apresentados sem demonstracao. O nosso
                o                                                   ¸˜
objectivo foi fornecer aos nossos alunos de Engenharia ferramentas para resolver
problemas, sendo os alunos convidados a recorrer as referˆ ncias bibliogr´ ficas sem-
                                                 `       e               a
pre que desejarem ir mais al´ m na compreens˜ o dos conte´ dos apresentados. A
                            e               a            u
enfase e dada assim aos resultados e a aplicacao dos mesmos, sendo apresentados
ˆ      ´                             `       ¸˜
ao longo do texto numerosos exemplos, que visam facilitar a compreens˜ o do que
                                                                     a
e exposto. Estes exemplos podem ser exemplos de aplicacao directa de resultados
´                                                     ¸˜
te´ ricos ou exemplos de modelacao de problemas concretos. Finalmente, os alunos
  o                            ¸˜
s˜ o convidados a exercitar a aplicacao dos conhecimentos adquiridos, mediante a
 a                                  ¸˜
resolucao duma listagem de exerc´cios com que terminamos cada cap´tulo.
      ¸˜                        ı                                ı


                                                Teresa Paula Azevedo Perdico´ lis
                                                                            u
                                                Sandra Isabel Ventura Ricardo
´
Indice Geral

    Lista de figuras                                                                 v

1   ED de ordem–1                                                                   1
    1.1   Alguns exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .     2
    1.2   Separacao de vari´ veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
                ¸˜         a                                                        9
    1.3   Classificacao de ED . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
                   ¸˜
    1.4   Solucoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
              ¸˜
    1.5   Campo de direccoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
                        ¸˜
    1.6   ED lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
    1.7   ED n˜ o lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
              a
    1.8   Equacao de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
              ¸˜
    1.9   Equacao de Riccati . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
              ¸˜
    1.10 Equacoes omog´ neas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
             ¸˜       e
    1.11 Equacoes diferenciais exactas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
             ¸˜
          1.11.1 ED exactas: obtencao de factor integrante . . . . . . . . . . 55
                                  ¸˜
    1.12 AplicacoesCircuitos el´ ctricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
               ¸˜              e
    1.13 Consideracoes finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
                  ¸˜
    1.14 Exerc´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
              ı

2   ED de ordem–2 ou superior                                                       79
    2.1   Solucao de ED Homog´ neas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
              ¸˜             e
    2.2   Solucao de ED n˜ o homog´ neas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
              ¸˜         a        e

                                          iii
iv                                                                  ´
                                                                    INDICE GERAL

     2.3   M´ todo da reducao de ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
            e             ¸˜
     2.4   ED homog´ neas com coeficientes constantes . . . . . . . . . . . . . 93
                   e
           2.4.1   Ra´zes reais e distintas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
                     ı
           2.4.2   Ra´zes reais e iguais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
                     ı
           2.4.3   Ra´zes complexas conjugadas . . . . . . . . . . . . . . . . 97
                     ı
     2.5   ED n˜ o homog´ neas: M. coeficientes indeterminados . . . . . . . . 99
               a        e
     2.6   ED n˜ o homog´ neas: M. variacao de parˆ metros . . . . . . . . . . 108
               a        e               ¸˜        a
     2.7   Equacao de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
               ¸˜
     2.8   Aplicacoes: sistemas mecˆ nicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
                 ¸˜                a
           2.8.1   Movimento harm´ nico simples (ou n˜ o amortecido) . . . . 118
                                 o                   a
           2.8.2   Movimento harm´ nico amortecido . . . . . . . . . . . . . . 121
                                 o
           2.8.3   Movimento harm´ nico forcado . . . . . . . . . . . . . . . . 122
                                 o         ¸
           2.8.4   Aplicacoes: Circuitos el´ ctricos . . . . . . . . . . . . . . . 123
                         ¸˜                e
     2.9   Equacoes diferenciais de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . 127
               ¸˜
     2.10 Exerc´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
               ı


3    Sistemas de ED lineares de ordem–1                                            143
     3.1   Conceitos b´ sicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
                      a
           3.1.1   Equacoes diferenciais lineares de ordem n e sistemas dife-
                       ¸˜
                   renciais lineares de ordem 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
           3.1.2   Forma matricial de um sistema linear . . . . . . . . . . . . 147
           3.1.3   Problemas de valor inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
           3.1.4   Dependˆ ncia e independˆ ncia linear . . . . . . . . . . . . . 150
                         e                e
           3.1.5   Sistemas n˜ o homog´ neos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
                             a        e
     3.2   Sistemas Lineares homog´ neos com coeficientes constantes . . . . . 153
                                  e
           3.2.1   A matriz A tem valores pr´ prios reais distintos . . . . . . . 154
                                            o
           3.2.2   A matriz A tem valores pr´ prios reais repetidos . . . . . . . 156
                                            o
           3.2.3   A matriz A tem valores pr´ prios reais complexos . . . . . . 165
                                            o
     3.3   Variacao de parˆ metros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
                ¸˜        a
´
INDICE GERAL                                                                        v

          3.3.1   Matriz fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
          3.3.2   Variacao de parˆ metros ou variacao das constantes arbitr´ rias 172
                       ¸˜        a                ¸˜                       a
          3.3.3   Problema de valor inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
    3.4   Consideracoes finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
                   ¸˜
    3.5   Exerc´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
               ı

4   Transformada de Laplace                                                       185
    4.1   Definicao e existˆ ncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186
               ¸˜         e
    4.2   A tabela de transformadas e alguns exemplos . . . . . . . . . . . . 187
    4.3   A TL de outras funcoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
                            ¸˜
    4.4   Propriedades da TL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
    4.5   A transformada de Laplace Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
    4.6   Aplicacoes: circuitos e sistemas mecˆ nicos . . . . . . . . . . . . . 195
                ¸˜                            a
    4.7   Exerc´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
               ı

    Bibliografia                                                                   203
    Referˆ ncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204
         e
vi   ´
     INDICE GERAL
Lista de Figuras

 1.1   Crescimento exponencial e decrescimento exponencial. . . . . . . .     5
 1.2   Representacao gr´ fica de algumas solucoes de (1.26). . . . . . . . . 21
                 ¸˜    a                    ¸˜
 1.3   Exemplo de uma solucao particular definida por ramos. . . . . . . . 23
                          ¸˜
 1.4   Interpretacao geom´ trica do Teorema de Picard. . . . . . . . . . . . 27
                 ¸˜      e
 1.5   Campo de direccoes para a equacao diferencial (1.32). . . . . . . . 33
                     ¸˜              ¸˜
 1.6   Uma solucao de (1.32). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
               ¸˜
 1.7   Campo de direccoes para a equacao log´stica, com β = 3.5 e δ = 1.8. 35
                     ¸˜              ¸˜     ı
 1.8   Solucoes para a equacao log´stica, com β = 3.5 e δ = 1.8. . . . . . 35
           ¸˜              ¸˜     ı
 1.9   Exemplo de um circuito el´ ctrico simples. . . . . . . . . . . . . . . 58
                                e

 2.1   Sistema mola–massa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
 2.2   Exemplo de um circuito com trˆ s componentes. . . . . . . . . . . . 124
                                    e




                                     vii
viii   LISTA DE FIGURAS
Cap´tulo 1
   ı


    ¸˜
Equacoes diferenciais de
primeira ordem

Muitas s˜ o as leis b´ sicas, e mais recentemente tamb´ m muitos fen´ menos biol´ gicos
        a            a                                e             o           o
e sociais, que s˜ o expressos por equacoes matem´ ticas. Sempre que estas equacoes
                a                     ¸˜        a                             ¸˜
                                  ¸˜
envolvem derivadas, chamam-se equacoes diferenciais (ED). Pretende-se mostrar
no in´cio deste primeiro cap´tulo como surgem algumas destas equacoes e ilustrar
     ı                      ı                                    ¸˜
como pode ser a sua solucao obtida.
                        ¸˜

Ao modelar um dado problema atrav´ s de uma equacao diferencial, a maior difi-
                                 e              ¸˜
culdade surge em descrever uma situacao real quantitativamente. De forma a ob-
                                    ¸˜
ter um modelo, e usualmente necess´ rio recorrer a assercoes simplificativas que
               ´                  a                     ¸˜
tornem essa mesma situacao pass´vel de ser representada em termos matem´ ticos.
                       ¸˜      ı                                       a
Assercoes usuais s˜ o, por exemplo: (i) assumir que o movimento de uma dada
     ¸˜           a
massa no espaco e um ponto e (ii) n˜ o existe friccao na resistˆ ncia do ar. Tais
             ¸ ´                   a              ¸˜           e
assercoes, n˜ o sendo de modo algum realistas, permitem ao cientista (investigador)
     ¸˜     a
obter informacao valiosa sobre o problema real ainda que servindo-se de modelos
             ¸˜
extremamente ideais. Uma vez entendida uma parte do problema, o modelo pode
ser tornado mais complexo de forma a ter em conta outros factores observados. No

                                          1
2                                                  ´
                                                CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

entanto e sempre importante manter os modelos manuse´ veis, isto e, modelos para
        ´                                           a            ´
os quais seja poss´vel calcular uma solucao, exacta ou anal´tica.
                  ı                     ¸˜                 ı



1.1 Alguns exemplos

Exemplo 1.1 (Queda livre) Segundo a lei da gravidade de Newton, a gran-
deza da forca gravitacional da terra num dado corpo e directamente proporcional
           ¸                                        ´
a sua massa m e inversamente proporcional ao quadrado da distˆ ncia dessa mesma
`                                                            a
massa ao centro da Terra r. Temos ent˜ o que:
                                     a
                                           km
                                      F=
                                           r2
sendo k a constante de proporcionalidade. Pela segunda lei de Newton, temos
ainda:
                                    d2r      k
                                       2
                                           = 2.                              (1.1)
                                    dt       r
                                    dr
Observacao 1 A velocidade v =
           ¸˜                           e negativa, pois a medida que um objecto
                                         ´               `
                                    dt
cai a sua distˆ ncia ao centro da Terra diminui. Mais ainda, a sua aceleracao
               a                                                              ¸˜
     dv d 2 r
a=      = 2 e tamb´ m negativa, pois a medida que o objecto cai, a velocidade
                ´     e                    `
     dt     dt
diminui (´ cada vez mais negativa). Temos ent˜ o que k e uma constante negativa.
         e                                     a       ´

Seja R o raio m´ dio da Terra (i.e. r = R). Denotamos a aceleracao da gravidade
               e                                               ¸˜
na superf´cie da Terra por a(R) = −g. Ent˜ o considerando (1.1):
         ı                               a
                                                k
                                 −g = a(R) =       ,
                                                R2
temos k = −gR2 . Voltando a (1.1), obtemos:
                                   d 2 r −gR2
                                        = 2                                  (1.2)
                                   dt 2   r
sendo g ≃ 9.81m/seg2. Seja r = R + h, onde h e a altura do corpo a partir da
                                                 ´
                            dr dh
superf´cie da Terra, ent˜ o
      ı                 a      =    e a equacao (1.2) vem
                                            ¸˜
                            dt   dt
                                  d 2h    −gR2
                                       =          .
                                  dt 2   (R + h)2
1.1. ALGUNS EXEMPLOS                                                                 3

                                    R2
Se h e muito pequeno temos que
     ´                                    ≃ 1, obtendo ent˜ o:
                                                          a
                                 (R + h)2

                                     d2h
                                          = −g.                                 (1.3)
                                     dt 2

Integrando ambos os membros da equacao relativamente a t, temos:
                                   ¸˜

                                 h′ (t) = −gt +C1 .

A constante C1 pode ser determinada considerando, por exemplo, t = 0. Obtemos
C1 = h′ (0), ou seja, C1 e o valor da velocidade inicial. Temos ent˜ o que a veloci-
                         ´                                         a
dade do corpo, em qualquer instante, e dada por:
                                     ´

                                h′ (t) = −gt + h′ (0)                           (1.4)

Voltando a integrar:
                                         t2
                             h(t) = −g      + h′ (0)t +C2
                                         2
Determinamos C2 considerando, por exemplo, t = 0. Obtemos C2 = h(0), ou seja,
C2 e a altura inicial. Ent˜ o a altura do corpo, em qualquer instante, e dada por:
   ´                      a                                            ´

                                    t2
                           h(t) = −g + h′ (0)t + h(0).                          (1.5)
                                    2

Por exemplo, suponhamos que uma bola cai do alto de um edif´cio com altura
                                                           ı
h(0) = 44.145 m e velocidade inicial h′ (0) = 0. Quanto tempo demora a bola a
chegar ao ch˜ o?
            a

Temos:
                                           t2
                             h(t) = −981      + 4414.5.
                                           2
Donde resulta 490.5t 2 = 4414.5 ou seja t 2 = 9. Como t = −3 n˜ o tem qualquer
                                                              a
significado f´sico, vem que t = 3 segundos.
            ı

A solucao da equacao diferencial do Exemplo 1.1 foi obtida directamente por integra-
      ¸˜         ¸˜
cao. Se tal fosse sempre poss´vel, ent˜ o as equacoes diferenciais seriam uma aplicacao
¸˜                           ı        a          ¸˜                                 ¸˜
directa do c´ lculo integral e seria desnecess´ ria toda uma teoria sobre as equacoes
            a                                 a                                  ¸˜
4                                                          ´
                                                        CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

diferenciais. No entanto, a determinacao da solucao da maioria das equacoes dife-
                                     ¸˜         ¸˜                     ¸˜
renciais implica o uso de t´ cnicas mais avancadas e espec´ficas.
                           e                 ¸            ı

Vamos iniciar com um tipo cl´ ssico de equacao diferencial para a qual e poss´vel
                            a              ¸˜                          ´     ı
determinar a solucao:
                 ¸˜

Exemplo 1.2 Sendo α uma constante, resolva a seguinte equacao diferencial:
                                                          ¸˜
                                   dy
                                      = α y,       y(0) = 10.                       (1.6)
                                   dx
      ¸˜
Resolucao:         Reescrevemos a equacao (1.6)
                                      ¸˜
                                            dy
                                               = α dx
                                             y
e depois integramos
                                            dy
                                               =    α dx
                                             y
ou
                 ln |y| = α x +C        (Se ln a = b          ent˜o a = eb ).
                                                                 a

Temos:
                                     |y| = eα x+C = eα x eC

ou ainda:
                              y = keα x ,       com k = ±eC                         (1.7)




Verifiquemos o resultado obtido.
                            dy
Seja y(x) = keα x ent˜ o
                     a          = k (α eα x ) = α (keα x ) = α y, donde se conclui que y =
                            dx
keα x   satisfaz (1.6). Isto e, a equacao (1.6) tem uma infinidade de solucoes, uma
                             ´          ¸˜                                      ¸˜
para cada concretizacao de k. Determinamos a solucao do problema (1.6) mediante
                    ¸˜                           ¸˜
o uso da condicao inicial y(0) = 10. De facto,
              ¸˜

                           y(0) = 10 ⇒ keα 0 = 10 ⇒ k = 10,

ou seja y = 10eα x e uma solucao unica para o problema de valor inicial (1.6).
                   ´         ¸˜ ´
1.1. ALGUNS EXEMPLOS                                                                          5

    e                                         e               ¸˜
Ao m´ todo utilizado no Exemplo 1.2 chamamos m´ todo de separacao de vari´ veis,
                                                                         a
uma vez que a t´ cnica utilizada consiste na separacao das vari´ veis independente e
               e                                   ¸˜          a
dependente, colocando-as em membros diferentes da equacao.
                                                      ¸˜

Se α > 0, temos que eα x cresce exponencialmente. Se α < 0, temos que eα x decai
exponencialmente (ver Fig. 1.1). Se α = 0, ent˜ o n˜ o existe crescimento, ou seja
                                              a a
y = e0 = 1 mant´ m-se constante.
               e
                                                                y
                      y
                                   y = eα x , α > 0


                                                                    y = eα x , α < 0




                                                                0
                    0              x                                                   x




        Figura 1.1: Crescimento exponencial e decrescimento exponencial.


Como observ´ mos no Exemplo 1.2, a resolucao da equacao diferencial conduziu-
           a                             ¸˜         ¸˜
nos a uma infinidade de solucoes (y = keα x , com k uma constante arbitr´ ria). Con-
                           ¸˜                                          a
tudo, do ponto de vista f´sico, n˜ o interessa ter uma infinidade de solucoes. Esta
                         ı       a                                      ¸˜
dificuldade e facilmente suplantado particularizando o valor de y para um valor par-
           ´
ticular de x, i.e. y(x0 ) = y0 . Chama-se a este valor particular uma condicao inicial
                                                                           ¸˜
e viabiliza uma solucao unica para o problema. Este conceito ser´ ilustrado nos
                    ¸˜ ´                                        a
exemplos seguintes.

Exemplo 1.3 (Lei do arrefecimento de Newton) A lei do arrefecimento
de Newton diz que a taxa da variacao da diferenca de temperatura entre um ob-
                                 ¸˜            ¸
jecto e o seu meio involvente e proporcional a diferenca de temperaturas. Seja ∆T
                              ´              `        ¸
a diferenca de temperatura no instante t. Dado que matematicamente a taxa de
         ¸
variacao e expressa por uma derivada, podemos ent˜ o escrever a lei do arrefeci-
     ¸˜ ´                                        a
mento de Newton como:
                                    d∆T
                                        = α ∆T,                                            (1.8)
                                     dt
6                                                     ´
                                                   CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

com α negativo, dado que a temperatura est´ a diminuir. A partir do Exemplo 1.2,
                                          a
facilmente se conclui que
                                 ∆T (t) = ∆T (0)eα t .                        (1.9)

                     ¸˜
Chama-se a (1.9) solucao geral da equacao diferencial (1.8), dado qualquer solucao
                                      ¸˜                                       ¸˜
de (1.8) ser desta forma. ∆T (0) e uma constante arbitr´ ria que denota a diferenca
                                 ´                     a                         ¸
de temperatura em t = 0.

Como ilustracao pr´ tica, consideremos uma panela de agua a ferver (100◦ C) que
            ¸˜    a                                  ´
e retirada do lume e deixada a arrefecer a temperatura da cozinha, que sabemos
´                                        `
ser de 20◦ C. Dois minutos depois a temperatura da panela e 80◦ C. Qual ser´ a
                                                          ´                a
temperatura da panela 5 minutos depois de ter sido retirada do lume?

Uma vez que a diferenca inicial da temperatura e dada por:
                     ¸                         ´

                            ∆T (0) = 100◦ − 20◦ = 80◦ ,

a igualdade (1.9) toma a forma

                                   ∆T (t) = 80eα t .                        (1.10)

Quando t = 2 minutos, temos:

                            ∆T (2) = 80◦ − 20◦ = 60◦ ,

Se susbstituirmos t = 2 em (1.10) temos:

                                       60 = 80eα 2 ,

e ainda
                                      3 60
                                       =   = eα 2 ,
                                      4 80
Aplicando o logaritmo natural, vem:

                                  3                    1    3
                      2α = ln              ⇔     α=      ln   .
                                  4                    2    4
1.1. ALGUNS EXEMPLOS                                                                          7

Repare que α e negativo (≃ −0.1438), o que faz sentido dado que a temperatura
             ´
est´ a diminuir.
   a

Substituimos de seguida α na equacao (1.9) e relembrando que eln x = x e a ln b =
                                 ¸˜
ln ba temos:
                                                                               
                                                                          t/2
                                     3                              3
                                ln           t/2             ln                
                                     4                              4
                     ∆T = 80e                       = 80e
                                                                    t/2
                                                         3
                                                    = 80                  .              (1.11)
                                                         4

A equacao (1.11) e uma solucao particular de (1.7), pois e unicamente determinada
      ¸˜         ´         ¸˜                            ´
pelas condicoes especificadas para esta situacao particular.
           ¸˜                               ¸˜

Finalmente, de forma a determinar a temperatura da agua ao fim de 5 minutos,
                                                   ´
comecamos por determinar a diferenca de temperatura:
    ¸                             ¸
                                                    5/2
                                               3
                          ∆T (5) = 80                     ≃ 38.97,
                                               4

que somamos de seguida a temperatura da cozinha. Temos ent˜ o que 5 minutos
                       `                                  a
ap´ s a panela ser retirada do lume, a agua se encontra a temperatura de 58.97◦ C.
  o                                    ´                `

Exemplo 1.4 (Envelhecimento do carbono) O envelhecimento do car-
bono e uma t´ cnica usada por arqueologistas e ge´ logos, entre outros, que preten-
     ´      e                                    o
dam estimar a idade de certos utens´lios ou vest´gios arqueol´ gicos. A t´ cnica e
                                   ı            ı            o           e       ´
baseada em certas propriedades do atomo de carbono. No seu estado natural, o
                                  ´
atomo de carbono 12C tem 6 prot˜ es e 6 neutr˜ es. Outro isotopo do carbono e 14C
´                              o             o                              ´
que tem dois neutr˜ es e dois n´ cleos adicionais.
                  o            u                            14C    e radioactivo, i.e., emite um
                                                                   ´
electr˜ o e atinge o estado est´ vel 14 N. Assumimos que existe uma raz˜ o constante
      a                        a                                       a
na atmosfera entre 14C e 12C. Esta suposicao e apoiada experimentalmente, dado
                                         ¸˜ ´
que se verificou que embora    14C    esteja permanentemente a desaparecer devido a
                                                                                 `
degradacao radioactiva, tamb´ m novo 14C est´ permanentemente a ser produzido
       ¸˜                   e               a
devido ao bombardeamento c´ smico do nitrog´ nio na atmosfera superior. Plantas
                          o                e
e animais n˜ o distinguem entre
           a                      12C    e   14C,   de modo que no momento da morte a
8                                                    ´
                                                  CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

raz˜ o entre 12C e 14C no organismo e a mesma que a raz˜ o presente na atmosfera.
   a                                ´                  a
No entanto, esta raz˜ o muda ap´ s a morte, dado que 14C e transformado em 14 N,
                    a          o                         ´
sem que seja produzido mais 14C.

Atrav´ s de observacoes, os cientistas chegaram a conclus˜ o que o 14C se degrada
     e             ¸˜                           `        a
a uma taxa proporcional a sua massa, sendo a sua meia-vida de aproximadamente
                         `
                                                                    1
5730 anos. Isto significa que tendo inicialmente 1g de 14C, resta-nos g ao fim de
                                                                    2
5730 anos, tendo sido a outra metade convertida em  14 N.


Como exemplo, consideremos agora o seguinte problema: Os vest´gios de um or-
                                                             ı
ganismo s˜ o desenterrados e determina-se que a quantidade de 14C presente e de
         a                                                                 ´
40% da de um organismo vivo semelhante. Qual e a idade aproximada dos vest´gios
                                             ´                            ı
encontrados?

      ¸˜
Resolucao:      Seja M(t) a massa de              14C   dos vest´gios encontrados.
                                                                ı
Sabendo que      14C   se degrada a uma taxa proporcional ` sua
                                                          a
massa, temos:
                       dM
                           = −α M,
                        dt
sendo α a constante de proporcionalidade.                              Ent˜o M(t) = ce−α t,
                                                                          a
com c = M0 a quantidade inicial de 14C. Com t = 0, M(0) = M0 ;
                    1
t = 5730, M(5730) = M0 . Usamos este facto para determinar α :
                    2
                 1                                1
                   M0 = M0 e−α ·5730 ⇔ e−α ·5730 = .
                 2                                2
Ent˜o
   a
                                         1/5730                                t/5730
      −α 5730     1         −α       1                          −α t       1
     e          =      ⇔   e     =                      e       e      =                ,
                  2                  2                                     2
donde
                              1 t/5730
                    M(t) = M0          .
                              2
Sabemos que t anos ap´s a morte do organismo M(t) = 0.4M0 e
                     o
queremos determinar t. Fazemos ent˜o:
                                  a
                                                  t/5730
                                            1
                            0.4M0 = M0                      ,
                                            2
¸˜         ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS                                                      9

aplicando logaritmos naturais:

                                t     1                   5730 ln (0.4)
                   ln 0.4 =        ln        ⇔       t=
                              5730    2                          1
                                                            ln
                                                                 2

ou seja aproximadamente 7575 anos.


Esta t´ cnica de envelhecimento do carbono tem sido usada com sucesso em in´ meras
      e                                                                    u
ocasi˜ es. Foi esta mesma t´ cnica que permitiu datar os Manuscritos do mar morto
     o                     e
com cerca de dois mil anos.

Nos Exemplos 1.1–1.4 determin´ mos a solucao de equacoes diferenciais muito sim-
                             a           ¸˜         ¸˜
ples, usando o m´ todo de separacao de vari´ veis. Este m´ todo tamb´ m pode ser
                e               ¸˜         a             e          e
usado para resolver equacoes diferenciais mais elaboradas, como iremos mostrar na
                        ¸˜
pr´ xima seccao.
  o         ¸˜

Os exemplos considerados ilustram tamb´ m que da resolucao de equacoes diferen-
                                      e                ¸˜         ¸˜
ciais muito simples se pode encontrar solucao para aplicacoes f´sicas mais diversi-
                                          ¸˜             ¸˜    ı
ficadas.




          ¸˜         ´
1.2 Separacao de variaveis

Vamos aprender agora a resolver algumas equacoes um bocadinho mais complica-
                                            ¸˜
das do que as que resolvemos at´ aqui.
                               e

Considere-se a equacao diferencial
                   ¸˜

                                     dy
                                        = f (x, y)                          (1.12)
                                     dx

e suponhamos que f (x, y) e factoriz´ vel no produto:
                          ´         a


                                  f (x, y) = g(x)h(y),                      (1.13)
10                                                           ´
                                                          CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

onde g(x) e h(y) s˜ o funcoes de uma s´ vari´ vel. Sempre que isto ocorre, a equacao
                  a      ¸˜           o     a                                    ¸˜
             ı             ¸˜        e               ¸˜
(1.12) e pass´vel de resolucao pelo m´ todo da separacao de vari´ veis. Para resol-
       ´                                                        a
ver a equacao, substituimos (1.13) em (1.12):
          ¸˜
                                         dy
                                            = g(x)h(y),
                                         dx
ou
                                         1 dy
                                                = g(x),                        (1.14)
                                        h(y) dx
Integrando ambos os membros da equacao (1.13) em relacao a x, obtemos:
                                   ¸˜                ¸˜
                                  1 dy
                                         dx =         g(x)dx +C,
                                 h(y) dx
e
                                    1
                                        dy =         g(x)dx +C.                (1.15)
                                   h(y)
Se ambos os integrais de (1.15) forem calcul´ veis, ent˜ o a solucao da equacao dife-
                                            a          a         ¸˜         ¸˜
rencial (1.12) e feita atrav´ s do c´ lculo dos integrais.
               ´            e       a
                                              dx    √
Exemplo 1.5 Resolva a equacao
                          ¸˜                     = t 1 − x2 .
                                              dt
      ¸˜
Resolucao:                           ¸˜
                  Reescrevemos a equacao como
                       dx                                dx
                   √            = tdt     ⇒          √            =   tdt +C
                       1 − x2                            1 − x2
Calculando os integrais, obtemos:
                                                     t2
                                        arcsin x =      +C
                                                     2
ou seja
                                                 t2
                                    x = sin         +C .
                                                 2
Existe um n´mero infinito de soluc˜es, uma para cada valor
            u                    ¸o
              π           π
de C com C ≤ . (Porquˆ C ≤ ?)Para determinadas condic˜es
                       e                            ¸o
              2           2
iniciais, vai existir uma soluc˜o ´nica. Suponhamos por
                              ¸a u
                1
exemplo x(0) = . Ent˜o
                    a
                2
                 1       02                                            1 π
                   = sin    +C = sinC                 e C = arcsin      =
                 2       2                                             2 6.
¸˜         ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS                                                    11

Ent˜o a solucao ´nica ´
   a        ¸˜ u      e
                                            t2 π
                               x(t) = sin     +      .
                                            2 6
Repare que se x(0) = 2 n˜o existe solucao, pois a func˜o seno
                        a             ¸˜             ¸a
s´ toma valores no intervalo [−1, 1] .
 o


Exemplo 1.6 (Velocidade de escape) No Exemplo 1.1 estud´ mos o mo-
                                                       a
vimento de um corpo em queda livre, i.e. sujeito a forca de gravidade da Terra.
                                                 `    ¸
Nesse exemplo assumimos ser pequena a altura a que se encontra o corpo, h, re-
lativamente ao raio da Terra R. No entanto, se pretendermos estudar a equacao
                                                                          ¸˜
do movimento de um sat´ lite de comunicacoes ou de um ve´culo interplanet´ rio,
                      e                 ¸˜              ı                a
a distˆ ncia r do objecto ao centro da Terra poder´ ser considerada grande em
      a                                           a
relacao a R. Assim a assercao que fizemos para obter a equacao (1.3) deixa de ser
    ¸˜                    ¸˜                              ¸˜
v´ lida. Retomemos a equacao (1.2):
 a                       ¸˜
                                   d2r      R2
                                        = −g 2
                                   dt 2     r
                     dr
e considerando v =      , temos pela regra da cadeia:
                     dt
                             d 2 r dv dv dr      dv
                                2
                                  =    =       =v .                         (1.16)
                             dt     dt   dr dt   dr
Assim, a equacao (1.2) pode ser reescrita como:
             ¸˜
                                       dv     R2
                                   v      = −g 2 ,                          (1.17)
                                       dr     r
onde g e R s˜ o constantes. Separando as vari´ veis e integrando obtemos
            a                                a
                                                dr
                               vdv = −gR2          +C,
                                                r2
ou seja
                                  1 2 gR2
                                    v =   +C.
                                  2     r
Supondo que no instante inicial o objecto se encontra a superf´cie da Terra, temos
                                                      `       ı
ent˜ o que:
   a
                                1         gR2
                                  v(0)2 =     +C.
                                2          R
12                                                 ´
                                                CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

ou
                                 1
                                   v(0)2 − gR = C.
                                 2
Ent˜ o
   a
                                      R2
                            v2 = 2g      + v(0)2 − 2gR.                      (1.18)
                                      r
Para que o objecto escape a forca gravitacional da Terra, e necess´ rio que v > 0 em
                          `    ¸                          ´       a
                                        √
cada instante t. Se escolhermos v(0) = 2gR, os dois ultimos termos da equacao
                                                        ´                        ¸˜
(1.18) cancelam-se mutuamente, e temos que v2 > 0 para todo o r. Observemos
                                    √
que uma escolha para v(0) inferior a 2gR vai permitir que o segundo membro da
equacao (1.18) possa ser zero, bastando para tal que o valor de r seja suficiente-
    ¸˜
mente grande. Assim sendo, para que o objecto escape a atraccao gravitacional
                                                          `     ¸˜
                                                                        √
da Terra e necess´ rio que ele tenha velocidade inicial m´nima de v(0) = 2gR ≃
         ´       a                                       ı
11.2km/seg. A esta velocidade m´nima chama-se velocidade de escape.
                               ı

A substituicao (1.16) pode sempre ser usada para reduzir uma equacao que contenha
           ¸˜                                                    ¸˜
a segunda derivada numa que contenha somente a primeira derivada, sendo para tal
necess´ rio que a vari´ vel independente n˜ o apareca explicitamente na equacao.
      a               a                   a        ¸                        ¸˜

Exemplo 1.7 (Crescimento log´stico) Seja P(t) a populacao de uma esp´ -
                            ı                         ¸˜            e
cie no instante t. A taxa de crescimento individual de uma populacao e definido
                                                                 ¸˜ ´
como o crescimento de uma populacao dividido pelo tamanho da populacao. Por
                                ¸˜                                 ¸˜
exemplo, se considerarmos a taxa de natalidade igual a 3.2 em cada 100 e a taxa de
mortalidade igual a 1.8 em cada 100, ent˜ o a taxa de crescimento e 3.2 − 1.8 = 1.4
                                        a                         ´
                    1.4                      dP
em cada 100, i.e. =     . Escrevemos ent˜ o
                                        a        = 0.014P.
                    100                      dt
Consideremos uma dada populacao cuja taxa de natalidade m´ dia e dada pela
                            ¸˜                           e     ´
constante positiva β . E razo´ vel considerar a taxa m´ dia de mortalidade pro-
                       ´     a                        e
porcional ao n´ mero de indiv´duos da populacao. Populacoes com maior n´ mero
              u              ı              ¸˜         ¸˜              u
de indiv´duos correspondem a uma maior densidade de indiv´duos, donde a uma
        ı                                                ı
maior competicao por comida e territ´ rio entre os seus membros. Seja δ a cons-
               ¸˜                    o
                                                    dP
tante que representa esta proporcionalidade. Sendo      a taxa de crescimento da
                                                     dt
¸˜         ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS                                                    13

                   1 dP
populacao, ent˜ o
      ¸˜      a         ser´ a taxa de crescimento por indiv´duo nessa populacao.
                            a                                ı                ¸˜
                  P dt
Ser´ l´cito considerar ent˜ o a seguinte equacao diferencial que governa o cresci-
   a ı                    a                  ¸˜
mento da populacao:
               ¸˜
                                 1 dP
                                      = β − δ P.
                                 P dt
Multiplicando ambos os membros desta equacao por P, temos:
                                         ¸˜

                                dP
                                   = P (β − δ P) .                          (1.19)
                                dt

     ´       ¸˜
Esta e a equacao log´stica. O crescimento expresso por esta equacao chama-se
                    ı                                           ¸˜
crescimento log´stico. Separemos as vari´ veis:
               ı                        a

                                  dP
                                          =    dt +C.                       (1.20)
                              P (β − δ P)

Decompondo a fraccao nos seus elementos simples, temos:
                 ¸˜

                              1       1       δ
                                    =   +            .
                         P (β − δ P) β P β (β − δ P)

Substituimos estes elementos simples em (1.20) e temos:

                          1         1
                            ln |P| − ln |β − δ P| = t +C
                          β         β

ou ainda
                              1      P
                                ln       = t +C.                            (1.21)
                              β    β −δP
Aplicando a funcao exponencial a ambos os membros, vem:
               ¸˜

                       P                        P
                           = eβ t+β C   ⇒           = C1 eβ t .             (1.22)
                     β −δP                    β −δP

Para t = 0 obtemos
                                  P(0)
                                           = C1 .
                                β − δ P(0)
Substituindo o valor obtido para C1 em (1.22), vem:

                             P(t)       P(0)
                                     =           eβ t .
                           β − δ P(t) β − δ P(0)
14                                                    ´
                                                   CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

Facamos o produto cruzado para depois resolver em ordem a P(t) :
  ¸




                         P(t) [β − δ P(0)] = P(0) [β − δ P(t)]eβ t

                       β P(t) − δ P(t)P(0) = β P(0)eβ t − δ P(0)P(t)eβ t

           P(t) β − δ P(0) + δ P(0)eβ t    = β P(0)eβ t ,




dividindo ambos os membros por P(0)eβ t :




                             β P(0)eβ t                     β
              P(t) =                           =                       .       (1.23)
                       β − δ P(0) + δ P(0)eβ t         β
                                                   δ+      − δ e−β t
                                                      P(0)




Uma vez que β > 0, e−β t tende para zero com t. Temos ent˜ o que a populacao tem
                                                         a               ¸˜
                         β                                           β
um limite de crescimento . Facilmente se verifica ainda que com P = em (1.19)
                         δ                                           δ
     dP
vem     = 0, i.e. a populacao e constante.
                          ¸˜ ´
     dt



Aprendemos como resolver uma equacao diferencial de primeira ordem quando se-
                                 ¸˜
par´ vel. No entanto nem sempre e muito claro ver se a equacao e ou n˜ o separ´ vel.
   a                            ´                          ¸˜ ´      a        a
Por exemplo, e obvio que se f (x, y) = ex cos y e separ´ vel. Mas j´ n˜ o e t˜ o obvio
             ´ ´                                ´      a           a a ´ a ´
que f (x, y) = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2 e separ´ vel. Damos, de seguida condicoes
                                            ´      a                             ¸˜
que permitem decidir sobre a separabilidade das vari´ veis numa equacao diferen-
                                                    a               ¸˜
cial.
¸˜         ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS                                                                      15

          ´             ¸˜              ´
   Quando e que uma equacao diferencial e separ´ vel?
                                               a
Teorema 1 Suponhamos que f (x, y) = g(x)h(y), onde g e h s˜ o diferenci´ veis.
                                                          a            a
Ent˜ o
   a
                             f (x, y) fxy (x, y) = fx (x, y) fy (x, y).                     (1.24)

Dem. Facamos
       ¸

                  fx (x, y) = g′ (x)h(y)

                  fy (x, y) = g(x)h′ (y)

                 fxy (x, y) = g′ (x)h′ (y)

          f (x, y) fxy (x, y) = g(x)h(y)g′ (x)h′ (y) = g′ (x)h(y) g(x)h′ (y)

                             = fx (x, y) fy (x, y)




Teorema 2 Seja D = (x, y) : (x − a)2 + (y − b)2 < r2 , com a, b ∈ R e r ∈ R+ ,
uma bola do plano-xy. Suponhamos que f , fx , fy e fxy existem e s˜ o cont´nuas em
                                                                  a       ı
D, f (x, y) = 0 e a equacao (1.24) se verifica. Ent˜ o existem funcoes continuamente
                        ¸˜                        a              ¸˜
diferenci´ veis g(x) e h(y) tais que, para cada (x, y) ∈ D,
         a                                                                f (x, y) = g(x)h(y).


                          dy
Exemplo 1.8 Seja             = f (x, y) com f (x, y) = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2.
                          dx
Ent˜ o:
   a


                  fx (x, y) = 4x − 2xy + y − 2

                  fy (x, y) = 1 − x2 + x

                 fxy (x, y) = −2x + 1

          f (x, y) fxy (x, y) =    2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2 (−2x + 1)

                            = −4x3 − xy + 2x3 y − 3x2 y + 6x2 + 2x + y − 2

          fx (x, y) fy (x, y) = (4x − 2xy + y − 2) 1 − x2 + x

                            = 2x − xy + y − 2 − 4x3 + 2x3 y − 3x2 y + 6x2
16                                                       ´
                                                      CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

Donde se conclui a partir do Teorema 2 que f (x, y) e separ´ vel.
                                                    ´      a

      ¸˜
Resolucao:

                          dy
                             = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2
                          dx
                             = (y − 2)(−x2 + x + 1)

                                  = ···




                          dy
Exemplo 1.9 Seja             = f (x, y) com f (x, y) = 1 + xy. Ent˜ o:
                                                                  a
                          dx

                                          fx (x, y) = y

                                          fy (x, y) = x

                                        fxy (x, y) = −1

                                  f (x, y) fxy (x, y) = 1 + xy

                                               e

                                  fx (x, y) fy (x, y) = xy


Como as duas ultimas express˜ es n˜ o s˜ o iguais, conclui-se a partir do Teorema 2
             ´              o     a a
que f (x, y) n˜ o e separ´ vel.
              a ´        a
                                  dy
Uma equacao diferencial da forma
        ¸˜                            = f (ax + by + c) , n = 0 pode sempre reduzir-
                                  dx
se a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis, atrav´ s da substituicao
             ¸˜                     a           a            e               ¸˜

                                                   du      dy
                           u = ax + by + c ⇒          = a+b .
                                                   dx      dx

                                                             dy     1
Exemplo 1.10 Resolva a equacao diferencial
                           ¸˜                                   =         .
                                                             dx x + y + 1
                               1
Resolucao: Consideramos f (u) = e em conformidade u = x+y+
      ¸˜
                               u
   du      dy
1⇒    = 1+ .
   dx      dx
¸˜         ´
1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS                                  17

                     ¸         a           ¸˜
Efectuamos esta mudanca de vari´vel na equacao diferencial
e obtemos:

                                 du         1
                                     −1 =      ⇔
                                  dx        u
                                 du 1 + u
                         ⇔            =        ⇔
                                  dx      u
                                u
                         ⇔           du = dx ⇒
                               1+u
                                u
                         ⇔          du = dx +C
                               1+u
                      u
Como calcular            du?
                     1+u
Temos que saber calcular primitivas de func˜es racionais.
                                          ¸o
                         ¸˜
Posto isto, e sendo a funcao integranda uma fracc˜o racional
                                                ¸a
    o                    ¸                           ¸˜
impr´pria, temos que comecar por reduzi-la a uma fraccao
racional pr´pria, i.e.:
           o

                                u        1
                                   = 1−     .
                               1+u      1+u

Prossigamos agora com o c´lculo das primitivas:
                         a

                                   1
                             1−          du = dx +C ⇔
                                1+u
                     ⇔       u − ln |1 + u| = x +C  ⇔

Voltando ` vari´vel original, escrevemos:
         a     a

                 ⇔ x + y + 1 − ln |1 + x + y + 1| = x +C ⇔

                 ⇔           y + c = ln |2 + x + y|     ⇔

                 ⇔             ey+c = 2 + x + y         ⇔

                 ⇔             2 + x + y = Cey .

Temos assim a solucao impl´cita da equac˜o diferencial.
                  ¸˜      ı            ¸a


Consideremos ent˜ o outros exemplos:
                a
18                                                   ´
                                                  CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

                                           dy
     1. Consideremos a equacao diferencial
                           ¸˜                  = (x+y+1)2 . Reduzimos esta equacao   ¸˜
                                           dx
       diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectuando a se-
                             ¸˜                     a           a
       guinte mudanca de vari´ vel f (u) = u2 .
                   ¸         a
                                            dx 1 − t − x
     2. Consideremos a equacao diferencial
                           ¸˜                  =          . Reduzimos esta equacao
                                                                                ¸˜
                                            dt     t +x
       diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectuando a
                             ¸˜                      a          a
                                             1−u
       seguinte mudanca de vari´ vel f (u) =
                       ¸       a                 .
                                               u
                                            dy         √
     3. Consideremos a equacao diferencial
                           ¸˜                   = 2 + y − 2t + 3. Reduzimos esta
                                            dx
       equacao diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectu-
           ¸˜                        ¸˜                     a           a
                                                        √
       ando a seguinte mudanca de vari´ vel f (u) = 2 + u.
                              ¸       a
                                           dy
     4. Consideremos a equacao diferencial
                           ¸˜                  = 1+ey−t+5 . Reduzimos esta equacao  ¸˜
                                           dx
       diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectuando a se-
                             ¸˜                     a           a
       guinte mudanca de vari´ vel f (u) = 1 + eu .
                   ¸         a

Exerc´cio 1 Calcule a solucao de cada uma das equacoes diferenciais acima
     ı                    ¸˜                      ¸˜
enumeradas.




             ¸˜         ¸˜
1.3 Classificacao de equacoes diferenciais

Ficou claro, no estudo efectuado nas ultimas seccoes, que grande e a variedade de
                                     ´          ¸˜               ´
equacoes diferenciais resultantes de fen´ menos que nos s˜ o familiares. Torna-se
    ¸˜                                  o                a
ent˜ o necess´ rio estudar classes mais restritas destas equacoes.
   a         a                                               ¸˜

Comecemos por classificar as equacoes diferenciais. A classificacao mais obvia ser´
                                ¸˜                            ¸˜       ´        a
uma baseada na natureza das derivadas da equacao. Uma equacao diferencial diz-se
                                             ¸˜           ¸˜
    ¸˜
equacao diferencial ordin´ ria (ODE) se involve somente derivadas ordin´ rias, i.e.
                         a                                             a
em ordem a uma s´ vari´ vel independente e de uma ou v´ rias vari´ veis dependentes.
                o     a                               a          a

Exemplo 1.11 Considerem-se os seguintes exemplos:
¸˜
1.4. SOLUCOES                                                                   19

        dy
   1.      − 5y = 1
        dx
   2. (t + y) dt − 4ydy = 0
        du dv
   3.     −   = t,     u(t) e v(t)
        dt dt
        d2y    dy
   4.     2
            − 2 + 6x = 0
        dx     dx
Uma equacao que involva derivadas parciais, de uma ou mais vari´ veis dependentes
        ¸˜                                                     a
                                                                    ¸˜
e, obviamente, de duas ou mais vari´ veis independentes, diz-se equacao diferencial
                                   a
`
as derivadas parciais.

Exemplo 1.12 Considerem-se os seguintes exemplos:
      ∂x      ∂y
   1.      =−         x(t, ?), y(t, ?)
       ∂t     ∂t
       ∂x    ∂x
   2. t + k      = x,       x(t, z)
        ∂t   ∂z
     ¸˜
Definicao 1 A ordem da derivada mais elevada envolvida na equacao diferen-
                                                             ¸˜
cial, determina a ordem da equacao diferencial.
                               ¸˜

Exemplo 1.13 Considerem-se os seguintes exemplos:
        dy
   1.      + 2yx = 1      primeira ordem
        dx
        d 2 y dy
   2.        + +x = 0          segunda ordem
        dx2 dx
        d 3 y y2
   3.        =         terceira ordem
        dx3 x2
Quanto a estrutura, as equacoes diferenciais classificam-se em equacoes diferenciais
       `                   ¸˜                                     ¸˜
lineares e n˜ o lineares. Definimos equacao diferencial linear na Seccao 1.6.
            a                          ¸˜                           ¸˜



        ¸˜
1.4 Solucoes

     ¸˜
Definicao 2 Uma funcao y, definida no intervalo I, que possui derivadas at´ a
                  ¸˜                                                    e`
ordem n, e tal que uma vez substitu´da na equacao diferencial de ordem–n a reduz
                                   ı          ¸˜
20                                                          ´
                                                         CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

a uma identidade, diz-se solucao dessa equacao diferencial. Simbolicamente, isto
                             ¸˜            ¸˜
significa que a solucao da equacao diferencial
                   ¸˜         ¸˜

                                F x, y, y′ , . . ., y(n) = 0                        (1.25)

e uma funcao y(x), cujas derivadas y′ (x), y′′ (x), . . ., y(n) existem e satisfazem a equacao
´        ¸˜                                                                                ¸˜
(1.31) para todos os valores da vari´ vel independente x em todo o intervalo em que
                                    a
(1.31) est´ definida.
          a

`
A solucao tamb´ m se chama curva integral ou simplesmente integral da ED.
      ¸˜      e

Observacao 2 O intervalo I pode ser da forma (a, b), [a, b], [a, b), (a, b] com a, b
       ¸˜
valores finitos ou infinitos.

As aplicacoes f´sicas que descrevemos nesta seccao (e.g. Exemplos 1.1, 1.3 e 1.4)
         ¸˜    ı                               ¸˜
correspondem a problemas para os quais sabemos existir solucao. No entanto, e
                                                           ¸˜               ´
importante distinguir a realidade f´sica do modelo matem´ tico dado pela equacao
                                   ı                    a                    ¸˜
diferencial que representa o problema. Pois o nosso racioc´cio poder´ estar comple-
                                                          ı         a
tamente errado e as equacoes apresentadas n˜ o apresentarem qualquer ligacao com
                        ¸˜                 a                             ¸˜
a realidade.

Existem equacoes diferenciais para as quais n˜ o existe solucao. Por exemplo:
            ¸˜                               a              ¸˜
                                             2
                                       dy
                                                 +3 = 0
                                       dx
                                                 2
                                        dy
n˜ o tem obviamente solucao, pois
 a                      ¸˜                           + 3 ≥ 3 !!!
                                        dx
Por outro lado, a equacao
                      ¸˜
                                             2
                                      dy
                                                 + y2 = 0
                                      dx
tem y = 0 como unica solucao.
               ´         ¸˜

A equacao
      ¸˜
                                       dy
                                          +y = 0
                                       dx
tem um n´ mero infinito de solucoes y = ce−x para toda a constante c.
        u                     ¸˜
¸˜
1.4. SOLUCOES                                                                           21

Uma equacao diferencial tem usualmente uma infinidade de solucoes.
        ¸˜                                                  ¸˜

Ao determinar a solucao de uma equacao diferencial de ordem–n,
                    ¸˜             ¸˜

                          F x, y, y′ , . . . , y(n) = 0,    ∀t ∈ I

esperamos obter uma fam´lia de solucoes de n parˆ metros G(x, y, c1 , . . . , cn ) = 0.
                       ı           ¸˜           a

               ¸˜         a                        ¸˜
Cada concretizacao dos parˆ metros fornece uma solucao particular, ou seja uma
solucao livre de parˆ metros.
    ¸˜              a

             ¸˜
Chamamos solucao singular a uma solucao da equacao diferencial que n˜ o per-
                                    ¸˜         ¸˜                   a
tence a fam´lia de parˆ metros.
      `    ı          a

Se a fam´lia de parˆ metros cont´ m todas as solucoes da equacao diferencial, ent˜ o
        ı          a            e                ¸˜          ¸˜                  a
             ¸˜
chama-se solucao geral.

Exemplo 1.14 Consideremos a equacao diferencial
                                ¸˜

                                           dy
                                              = 2xy                                  (1.26)
                                           dx
                                 2
cuja solucao geral e y = cex . Cada concretizacao da constante c fornece uma
         ¸˜        ´                          ¸˜
solucao particular. A Figura 1.3 mostra algumas concretizacoes de c, isto e algu-
    ¸˜                                                    ¸˜              ´
mas solucoes de (1.26).
        ¸˜


                  200

                                                              c>0
                  100


                    0
                                                                               c=0


                 −100
                                                             c<0

                 −200


                    −2    −1.5       −1   −0.5   0    0.5     1      1.5   2



         Figura 1.2: Representacao gr´ fica de algumas solucoes de (1.26).
                               ¸˜    a                    ¸˜

A y ≡ 0, representada a vermelho na figura, chamamos solucao trivial.
                                                        ¸˜
22                                                      ´
                                                     CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

Se y ≡ 0 (i.e., y e identicamente igual a zero) e solucao da equacao diferencial num
                  ´                             ´     ¸˜         ¸˜
intervalo I, ent˜ o chama-se a y ≡ 0 solucao trivial dessa equacao diferencial em I.
                a                        ¸˜                    ¸˜

Exemplo 1.15 A equacao diferencial do Exemplo 1.2 pode ser reescrita na
                   ¸˜
forma y′ − α y = 0. E f´ cil verificar que y(x) = keα x ,
                    ´ a                                       k ∈ R, e solucao para todo
                                                                     ´     ¸˜
o real x :

              y′ (x) − α y(x) = (keα x )′ − α (keα x ) = α keα x − α keα x = 0.

Exerc´cio 2
     ı               1. Prove que y1 = c1 cos(4x) e y2 = c2 sin(4x) s˜ o solucoes de
                                                                     a       ¸˜
        d2y
            + 16y = 0.
        dx2
     2. Prove que

                                      y = ex

                                      y = e−x

                                      y = c1 ex

                                      y = c2 e−x

                                      y = c1 ex + c2 e−x



                                         d 2y
        com c1 , c2 ∈ R, s˜ o solucoes de 2 − y = 0.
                          a       ¸˜
                                         dx
Exemplo 1.16 Consideremos os seguintes exemplos:

     1. y = cx4 e solucao da equacao diferencial xy′ − 4y = 0.
                ´     ¸˜          ¸˜
            
             −x4 , x < 0
     2. y =                  e solucao da mesma equacao, i.e.
                             ´     ¸˜                  ¸˜
             x4 , x ≥ 0
            
             −1, x < 0
        c=                  A constante c n˜ o e unica em todo o intervalo.
                                           a ´´
             1, x ≥ 0

A solucao particular 2. e solucao, mas n˜ o pode ser obtida a partir da fam´lia de
      ¸˜                ´     ¸˜        a                                  ı
parˆ metros por uma escolha unica de c.
   a                        ´
¸˜
1.4. SOLUCOES                                                                    23

                  15

                  10
                                                          c=1
                   5

                   0

                 −5
                              c = −1
                 −10

                 −15
                    −2     −1.5   −1    −0.5    0   0.5   1     1.5   2



        Figura 1.3: Exemplo de uma solucao particular definida por ramos.
                                       ¸˜

A solucao da equacao diferencial pode estar na forma impl´cita ou expl´cita. Se
      ¸˜         ¸˜                                      ı            ı
apresentamos a solucao na forma y = f (x), ent˜ o a solucao est´ na forma expl´cita.
                   ¸˜                         a         ¸˜     a              ı
Se a apresentamos na forma f (x, y) = c, onde c e uma constante, ent˜ o a solucao
                                                ´                   a         ¸˜
est´ na forma impl´cita.
   a              ı

Exemplo 1.17             1. A solucao y = 2e3x e uma solucao expl´cita da equacao
                                  ¸˜           ´         ¸˜      ı            ¸˜
      diferencial do Exemplo 1.15.

   2. Considere a equacao diferencial
                      ¸˜

                                               dy x
                                                 = .
                                               dx y

      Ap´ s separacao de vari´ veis obt´ m-se
        o         ¸˜         a         e

                                          ydy = xdx
                                           y2    x2
                                               =    +c
                                            2     2
                                       y2 − x2 = 2c = C



      Temos a solucao na sua forma impl´cita.
                  ¸˜                   ı

      Nota 1 De facto, n˜ o e l´cito apresentar a solucao deste problema na sua
                           a ´ ı                      ¸˜
                                 √
      forma expl´cita, pois y = ± x2 +C n˜ o e funcao.
                ı                          a ´     ¸˜
24                                                     ´
                                                    CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

Como vimos nas Seccoes 1.1 e 1.2, muitas s˜ o as situacoes em que estamos interes-
                  ¸˜                      a           ¸˜
sados em resolver uma equacao diferencial de primeira ordem:
                          ¸˜

                                    dy
                                       = f (x, y)
                                    dx

sujeita a condicao adicional
        `      ¸˜
                                    y(x0 ) = y0 .

Este e um exemplo de um problema de valor inicial. Chamamos a esta condicao
     ´                                                                  ¸˜
               ¸˜
adicional condicao inicial e a x0 o valor inicial. Formalizemos:

     ¸˜
Definicao 3 Um problema de valor inicial (PVI) consiste numa equacao di-
                                                                ¸˜
ferencial de qualquer ordem e num conjunto de condicoes iniciais (o n´ mero de
                                                   ¸˜                u
condicoes iniciais e igual a ordem da equacao diferencial) que dever˜ o ser satisfei-
     ¸˜            ´       `              ¸˜                        a
tas pela solucao da equacao diferencial e das suas sucessivas derivadas no valor
             ¸˜         ¸˜
inicial.

Exemplo 1.18 Considerem-se os seguintes exemplos de PVIs:

     1.

                                     dy
                                         = 2y − 3x,
                                     dx
                                    y(0) = 2


     2.

                            x′′ (t) + 5x′(t) + (sint)x(t) = 0,

                                                     x(1) = 0

                                                    x′ (1) = 7

     ¸˜
Definicao 4 Definimos solucao de um PVI de ordem–n como uma funcao com
                        ¸˜                                   ¸˜
derivadas at´ a ordem–n, que satisfaca a equacao diferencial e a(s) condicao(˜ es)
            e`                      ¸        ¸˜                          ¸˜ o
inicial(is).
¸˜
1.4. SOLUCOES                                                                   25

Exemplo 1.19 A funcao y(x) = 2e3x e solucao do PVI
                  ¸˜              ´     ¸˜

                                          dy
                                              = 3y,
                                          dx
                                         y(0) = 2

                                    dy    d 3x
pois y(0) = 2e3·0 = 2e0 = 2 e          =2    e = 3 2e3x = 3y.
                                    dx    dx
Atencao, y ≡ 0 e solucao da equacao diferencial do Exemplo ??, mas n˜ o solucao
    ¸˜         ´     ¸˜         ¸˜                                  a       ¸˜
do PVI, pois n˜ o verifica a condicao inicial.
              a                  ¸˜

Observacao 3 As condicoes impostas a y(x) e as suas (n − 1) primeiras deriva-
       ¸˜            ¸˜                     `
das s˜ o dadas num unico ponto, i.e., y(x0 ), y′ (x0 ), . . . , y(n−1) (x0 ).
     a             ´

    1.

                                            dy
                                                 = f (x, y)
                                            dx
                                          y(x0 ) = y0

         PVI de ordem–1

    2.

                                          d2y
                                                = f (x, y, y′ )
                                          dx2
                                         y(x0 ) = y0

                                        y′ (x0 ) = y′
                                                    0


         PVI de ordem–2

Ao analisar um PVI, duas quest˜ es fundamentais surgem:
                              o

    1. Existe solucao?
                  ¸˜

    2. A solucao (se existir) e unica?
             ¸˜               ´´

Geometricamente, a segunda quest˜ o traduz-se em questionar se de entre todas as
                                a
solucoes do PVI, definido em I, existe uma unica cujo gr´ fico passa pelo ponto
    ¸˜                                    ´            a
(x0 , y0 ).
26                                                   ´
                                                  CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1
                                        
                                         dy − xy1/2 = 0
Exemplo 1.20 Consideremos o seguinte PVI dx              , para o qual
                                        
                                          y(0) = 0
queremos determinar a solucao.
                          ¸˜

      ¸˜
Resolucao:       Vamos determinar a soluc˜o utilizando separacao
                                        ¸a                   ¸˜
de vari´veis:
       a

                                  dy
                                     = xy1/2      ⇔
                                  dx
                                   dy
                          ⇒            = tdt      ⇔
                                  y1/2
                                  y=0?!
                                          x2
                          ⇔     y1/2 =       +c   ⇔
                                          4
                                    x4
                          ⇔ y=         +C      ∧ y(0) = 0
                                    16
                                                          x4
                                   ⇒C = 0         ⇒y=
                                                          16

No entanto, a solucao trivial y ≡ 0 ´ tamb´m soluc˜o.
                  ¸˜                e     e      ¸a                                 Mais
ainda, a solucao trivial ´ soluc˜o singular (pois n˜o pode
             ¸˜          e     ¸a                  a
ser obtida a partir da fam´lia de parˆmetros).
                          ı          a



Como vemos a soluc˜o deste PVI n˜o ´ ´nica.
                 ¸a             a e u



Antes de tentarmos determinar a solucao de um PVI, e desej´ vel investigar primeiro
                                    ¸˜             ´      a
a existˆ ncia/unicidade dessa mesma solucao.
       e                                ¸˜

O resultado seguinte, originalmente devido a Cauchy, mas generalizado por Picard,
e uma das condicoes mais populares devido a facilidade da sua aplicacao.
´              ¸˜                         `                         ¸˜

Teorema 3 (Teorema de Picard) Seja R uma regi˜ o rectangular defi-
                                             a
nida no plano xOy e tal que a ≤ x ≤ b e c ≤ y ≤ d. O ponto (x0 , y0 ) pertence ao
interior de R. Se f e ∂ f /∂ y s˜ o funcoes cont´nuas no rectˆ ngulo R, ent˜ o existe um
                                a      ¸˜       ı            a             a
¸˜
1.4. SOLUCOES                                                                       27

intervalo I, centrado em x0 , e uma unica funcao y(x), x ∈ I, que satisfaz o PVI
                                    ´        ¸˜

                            dy
                               = f (x, y),     y(x0 ) = y0 .
                            dx




             Figura 1.4: Interpretacao geom´ trica do Teorema de Picard.
                                   ¸˜      e

       ¸˜
Observacao 4 Em geral n˜ o e poss´vel determinar um intervalo I em que essa
                       a ´       ı
solucao esteja definida sem antes determinar essa mesma solucao.
    ¸˜                                                     ¸˜

            ´          ¸˜
O Teorema 3 e uma condicao suficiente de existˆ ncia e unicidade de solucao, dado
                                             e                         ¸˜
fornecer crit´ rios capazes de garantir a existˆ ncia de uma unica solucao. Nome-
             e                                 e             ´         ¸˜
adamente, requer a a verificacao da continuidade das funcoes. Se f e ∂ f /∂ y no
                            ¸˜                         ¸˜
rectˆ ngulo R que cont´ m o ponto inicial (x0 , y0 ). Dado a garantia deste teorema ser
    a                 e
s´ para uma pequena regi˜ o em torno do ponto inicial, dizemos ser este resultado
 o                      a
um teorema de existˆ ncia e unicidade local. Ilustramos de seguida a aplicacao do
                   e                                                       ¸˜
Teorema 3:

Exemplo 1.21 O PVI
                                   dy
                                       = x2 + y3
                                   dx
                                  y(0) = 1

tem solucao unica?
        ¸˜ ´
28                                                ´
                                               CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

      ¸˜
Resolucao:        Sejam f (x, y) = x2 +y3 e ∂ f /∂ y = 3y2 funcoes cont´nuas
                                                              ¸˜       ı
em todo o R×R, ent˜o obviamente tamb´m o ser˜o na regi˜o
                  a                 e       a         a
R. Est´ assim demonstrada a existˆncia de solucao ´nica.
      a                          e            ¸˜ u




                                                                            x 1
Exemplo 1.22 Retomemos o Exemplo 1.20. Temos ent˜ o que ∂ f /∂ y =
                                                a                                  ,
                                                                            2 y1/2
n˜ o estando esta funcao definida no ponto (0, 0). Dado ser o Teorema 3 uma condicao
 a                   ¸˜                                                          ¸˜
suficiente, nada se pode concluir sobre a existˆ ncia de solucao unica, mas de facto
                                              e             ¸˜ ´
n˜ o se pode garantir a sua existˆ ncia.
 a                               e


Caso n˜ o estejamos interessados na unicidade de solucao, mas somente na sua
      a                                              ¸˜
existˆ ncia existe um resultado tamb´ m muito conhecido:
     e                              e


Teorema 4 Nas condicoes do Teorema de Picard, a continuidade da funcao
                   ¸˜                                              ¸˜
f (x, y) em R e condicao suficiente para garantir a existˆ ncia de pelo menos uma
              ´      ¸˜                                 e
solucao do PVI.
    ¸˜


O Teorema de Picard um de entre os v´ rios resultados de existˆ ncia/unicidade de
                                    a                         e
solucao. Em diferentes situacoes, as condicoes podem ser relaxadas permitindo
    ¸˜                      ¸˜            ¸˜
ainda tirar as mesmas conclus˜ es. Ao longo do nosso estudo abordaremos alguns
                             o
destes resultados.


     ¸˜
Definicao 5 Um problema de valores de fronteira (PVF) e constitu´do por
                                                     ´         ı
uma equacao diferencial se um conjunto de condicoes adicionais que a solucao
        ¸˜                                     ¸˜                        ¸˜
da equacao diferencial, bem com as sucessivas derivadas, deve satisfazer. As
       ¸˜
condicoes adicionais devem ser dadas para pelo menos dois valores distintos da
     ¸˜
vari´ vel independente.
    a


Exemplo 1.23 Considerem-se os seguintes exemplos de PVF
¸˜
1.4. SOLUCOES                                                                 29

   1.

                                       d2y
                                           + 5xy = cos x
                                       dx2
                                            y(0) = 0

                                             y′ (1) = 2


   2.

                                         dy
                                            + 5xy = 0
                                         dx
                                             y(0) = 2

                                              y(1) = 2


Para n = 2, definimos:

                          d 2y            dy
                     a2 (x, y)
                             2
                               + a1 (x, y) + a0 (x, y)y = g(x)             (1.27)
                          dx              dx
                                 
                     y(a) = y0 
                                       Condicoes de fronteira
                                             ¸˜                            (1.28)
                     y(b) = y1 

com a, b ∈ I.

Para n = 2, outras escolhas poss´veis de condicoes de fronteira s˜ o:
                                ı             ¸˜                 a
                                                     
     y′ (a) = y              y(a) = y                 y′ (a) = y
                    0                       0                         0
                       ,                         ou                        (1.29)
     y(b) = y                y′ (b) = y               y′ (b) = y
                    1                       1                         1

onde y0 , y1 s˜ o constantes arbitr´ rias.
              a                    a

Seja:                            
                                  α y(a) + β y′ (a) = γ
                                    1        1           1
                                                                           (1.30)
                                  α y(b) + β y′ (b) = γ
                                    2        2           2

Atencao, ter˜ o de ser sempre duas condicoes, dado ser dois a ordem do problema.
    ¸˜      a                           ¸˜

Nota 2 O Teoremema de Picard s´ se aplica a PVIs.
                              o

Vejamos:
30                                                ´
                                               CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

Exemplo 1.24 Consideremos a equacao diferencial y′′ + 16y = 0, que tem
                                ¸˜
como solucao geral y = c1 cos 4x + c2 sin 4x. De seguida consideramos diferentes
         ¸˜
condicoes de fronteira que nos permitir˜ o calcular os parˆ metros.
      ¸˜                               a                  a
      
       y(0)     = 0
   1.       π
       y        = 0
            2
              ¸˜
      Resolucao:
      
       0 = c
                 1
       0 = c sin 2π
                 2

       temos ent˜o a solucao (0, c2 )
                a        ¸˜

                                             ¸˜
       ∴ o PVF tem um n´mero infinito de solucoes:
                       u                                               y = c2 sin 4t.


        
         y(0)    = 0
     2.      π
         y       = 0
             8
               ¸˜
        Resolucao:
        
         0 = c
                  1
         0 = c
                 2

       temos ent˜o a soluc˜o y = (0, 0)
                a        ¸a

                       ¸˜ u
       ∴ o PVF tem solucao ´nica.



        
         y(0)    = 0
         y π
     3.
                  = 1
             2
               ¸˜
        Resolucao:
        
         0 = c1
        1 = c2 sin π
                    2
       Imposs´vel!
             ı
¸˜
1.5. CAMPO DE DIRECCOES                                                          31

                          ¸˜
      ∴ o PVF n˜o tem solucao.
               a




Ainda que ao longo de todo este curso nos debrucemos sobre o estudo/aprendizagem
de m´ todos que nos permitem determinar a solucao de diferentes ED, o facto e que
    e                                         ¸˜                            ´
muitas s˜ o as equacoes diferenciais provenientes de aplicacoes para as quais n˜ o e
        a          ¸˜                                      ¸˜                  a ´
poss´vel obter uma solucao anal´tica. Dito de outro modo, muitas s˜ o as equacoes
    ı                  ¸˜      ı                                  a          ¸˜
diferenciais para as quais e imposs´vel obter uma solucao exprimıvel em termos de
                           ´       ı                  ¸˜
funcoes elementares.
   ¸˜

Existem diferentes formas para abordar esta dificuldade, nomeadamente:

   1. Optar por uma solucao num´ rica
                        ¸˜     e

   2. Proceder a um estudo qualitativo da ED, i.e., perceber como se comportam as
      solucoes da ED. Quest˜ es pertinentes deste t´ pico s˜ o por exemplo:
          ¸˜               o                       o       a

         • As solucoes da equacao diferencil crescem ilimitadamente com x?
                  ¸˜          ¸˜

         • As solucoes da equacao diferencial tendem para zero?
                  ¸˜          ¸˜

         • As solucoes oscilam entre determinados valores?
                  ¸˜



                  ¸˜
1.5 Campo de direccoes

Considere-se a equacao diferencial de ordem–1 na sua forma normal
                   ¸˜

                                   y′ = f (x, y).                             (1.31)

Considerando determinadas condicoes, e uma condicao inicial, o PVI associado
                               ¸˜               ¸˜
a equacao (1.31) tem uma solucao unica. Ou seja, existe uma unica funcao que
`     ¸˜                     ¸˜ ´                           ´        ¸˜
satisfaz o PVI:
                                y′ (x)   = f (x, y)
                                y(x0 ) = y0
32                                                   ´
                                                  CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1

com (x0 , y0 ) arbitr´ rio. A funcao y(x) e uma curva do plano–xy, da qual conhecemos
                     a           ¸˜       ´
a tangente em cada ponto.


       A tangente a curva y(x) em cada ponto (x, y) e dada por f (x, y).
                  `                                 ´



Conhecemos ent˜ o a direccao da curva y(x) em cada ponto (x, y) do xy-plano em
              a          ¸˜
que a funcao f (x, y) est´ definida. Chama-se campo de direccoes da equacao di-
         ¸˜              a                                 ¸˜          ¸˜
ferencial, y′ = f (x, y), ao conjunto de todas estas direccoes no plano. O que e
                                                          ¸˜                   ´
interessante e o facto de podermos usar a nocao de campo de direccoes para tracar
             ´                              ¸˜                   ¸˜           ¸
um esboco da solucao duma equacao diferencial no plano-xy sem chegar a calcular
       ¸         ¸˜           ¸˜
essa mesma solucao. Se achar muito dif´cil resolva este mesmo problema para a
               ¸˜                     ı
equacao diferencial do exerc´cio seguinte.
    ¸˜                      ı

Exemplo 1.25 Retomemos o PVI do Exemplo 1.2

                                      y′ = 2xy                                (1.32)

                                   y(0) = 1.


Temos que


                y′ (x) > 0   se   xy > 0     (i.e. quadrantes I e III)

                y′ (x) < 0   se   xy < 0     (i.e. quadrantes II e IV).


Para tracar o campo de direccoes, comecamos por determinar onde o coeficiente
        ¸                   ¸˜        ¸
angular e constante:
        ´

                                  y′ = c,    c ∈ R.                           (1.33)


Obtemos desta forma a fam´lia de curvas 2xy = c, onde c e uma constante, a que
                         ı                              ´
chamamos isoclinas.
¸˜
1.5. CAMPO DE DIRECCOES                                                       33

Para o Exemplo ch1-1.5-ex25, calculamos de seguida as isoclinas:

                            c = 0 ⇔ x = 0∨y = 0
                                                  1
                            c = 1 ⇔ 2xy = 1 ⇔ y =
                                                  2x
                                                  1
                            c = 2 ⇔ 2xy = 2 ⇔ y =
                                                  x
                                                   1
                          c = −1 ⇔ 2xy = 1 ⇔ y = −
                                                   2x
                                                   1
                          c = −2 ⇔ 2xy = 2 ⇔ y = −
                                                   x

A Figura 1.5 mostra o campo de direccoes para esta equacao diferencial.
                                    ¸˜                 ¸˜


                                               2




                                       y(x)
                                               1




                                               0
                             -2   -1               0   1   2
                                                       x

                                              -1




                                              -2




        Figura 1.5: Campo de direccoes para a equacao diferencial (1.32).
                                  ¸˜              ¸˜


Para a solucao particular em causa, escolhemos a curva que passa no ponto (0, 1).
           ¸˜
Temos ent˜ o:
         a

       ¸˜
Observacao 5 e aconselh´ vel esbocar sempre um n´ mero razo´ vel de curvas, de
             ´         a         ¸              u          a
forma a podemos ilustrar convenientemente o comportamento de todas as solucoes
                                                                          ¸˜
da equacao diferencial.
       ¸˜

Exemplo 1.26 Debrucemo-nos agora sobre o campo de direccoes da equacao
                                                       ¸˜          ¸˜
                       dP
log´stica do Exemplo 1.7,
   ı                      = P (β − δ P) , onde β e δ s˜ o constantes positivas.
                                                      a
                       dt
      ¸˜
Resolucao:      No Exemplo 1.7 determinamos a soluc˜o desta equac˜o
                                                               ¸a               ¸a
34                                                 ´
                                                CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1


                                    2




                                  y 1




                                    0
                    -2       -1         0       1    2
                                                x


                                   -1




                                   -2




                  Figura 1.6: Uma solucao de (1.32).
                                      ¸˜

diferencial:
                                            β
                    P(t) =                           .               (1.34)
                                  β
                              δ+      − δ e−β t
                                 P(0)
` semelhanca do que aconteceu no exemplo anterior, ´ poss´vel
A         ¸                                        e     ı
determinar o campo de direccoes desta equac˜o diferencial
                           ¸˜             ¸a
sem a resolver.

Dado que as constantes β e δ s˜o positivas, tornam-se eviden-
                              a
tes os seguintes factos:

                   P′ < 0 se P < 0 ∨ P > β /δ ;

                   P′ > 0 se 0 < P < β /δ ;

                   P′ = 0 se P = 0 ∨ P = β /δ ;


A Figura 1.7 mostra o campo de direcc˜es para esta equacao
                                    ¸o                 ¸˜
diferencial.

Repare que toda a solucao tal que P(0) > 0 tende para o valor
                      ¸˜
β /δ , ou seja a capacidade de suporte.                  J´ tinha- mos chegado
                                                          a
                                                         ¸˜
a esta conclus˜o antes, quando calculamos o valor da solucao
              a
quando t → ∞. Na Figura 1.8 mostram-se algumas solucoes:
                                                   ¸˜
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  • 1. ¸˜ Equacoes diferenciais para engenheiros: ¸˜ teoria, modelacao e exerc´cios ı Teresa Paula C. Azevedo Perdico´ lis u Sandra Isabel Ventura Ricardo UTAD, 18 de Agosto de 2010
  • 2. 2
  • 3. ´ Prefacio Este texto foi escrito como material de apoio a unidade curricular An´ lise Ma- ` a tem´ tica III, das licenciaturas em Engenharia Civil e Engenharia Mecˆ nica, lec- a a cionada pelas docentes nos anos lectivos de 2008/09 e 2009/10. Pretendemos com este texto apresentar uma abordagem simples a teoria das equacoes ` ¸˜ diferenciais ordin´ rias, a qual pode ser facilmente compreendida por alunos que te- a nham conhecimentos de C´ lculo em Rn , nomeadamente conhecimentos de c´ lculo a a ´ diferencial e de c´ lculo integral, assim como conhecimentos de Algebra Linear, do- a minando c´ lculo matricial, resolucao de sistemas de equacoes lineares, c´ lculo de a ¸˜ ¸˜ a determinantes e determinacao de valores e de vectores pr´ prios. ¸˜ o Estas notas pretendem ser uma mistura entre teoria e aplicacoes das equacoes Di- ¸˜ ¸˜ ferencias, focando-se muitas vezes em problemas concretos da “vida real” como motivacao para o estudo da teoria, mas tamb´ m para mostrar a enorme aplica- ¸˜ e bilidade que este ramo da matem´ tica tem em diversas areas do conhecimento: a ´ Engenharia, Biologia, Medicina, Ciˆ ncias Sociais, etc. Sendo este um texto diri- e gido a alunos de Engenharia, um relevo especial e dado a problemas desta area, ´ ´ procedendo-se a sua modelacao e resolucao mediante os conhecimentos expostos. ` ¸˜ ¸˜ Introduzem-se e desenvolvem-se conceitos e t´ cnicas anal´ticas para a resolucao de e ı ¸˜ equacoes diferenciais ordin´ rias. ¸˜ a Na verdade, sendo as leis da F´sica geralmente escritas como equacoes diferenciais, ı ¸˜ elas destacam-se como instrumento de linguagem no que toca a Ciˆ ncia e Engenha- e i
  • 4. ii ria em particular. Assim, compreender e saber manipular equacoes diferenciais e ¸˜ ´ sem d´ vida essencial para qualquer aluno de Engenharia. u Relativamente a organizacao deste texto, cada cap´tulo e composto por uma s´ntese ` ¸˜ ı ´ ı de resultados te´ ricos, alguns dos quais apresentados sem demonstracao. O nosso o ¸˜ objectivo foi fornecer aos nossos alunos de Engenharia ferramentas para resolver problemas, sendo os alunos convidados a recorrer as referˆ ncias bibliogr´ ficas sem- ` e a pre que desejarem ir mais al´ m na compreens˜ o dos conte´ dos apresentados. A e a u enfase e dada assim aos resultados e a aplicacao dos mesmos, sendo apresentados ˆ ´ ` ¸˜ ao longo do texto numerosos exemplos, que visam facilitar a compreens˜ o do que a e exposto. Estes exemplos podem ser exemplos de aplicacao directa de resultados ´ ¸˜ te´ ricos ou exemplos de modelacao de problemas concretos. Finalmente, os alunos o ¸˜ s˜ o convidados a exercitar a aplicacao dos conhecimentos adquiridos, mediante a a ¸˜ resolucao duma listagem de exerc´cios com que terminamos cada cap´tulo. ¸˜ ı ı Teresa Paula Azevedo Perdico´ lis u Sandra Isabel Ventura Ricardo
  • 5. ´ Indice Geral Lista de figuras v 1 ED de ordem–1 1 1.1 Alguns exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.2 Separacao de vari´ veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ¸˜ a 9 1.3 Classificacao de ED . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 ¸˜ 1.4 Solucoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 ¸˜ 1.5 Campo de direccoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 ¸˜ 1.6 ED lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 1.7 ED n˜ o lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 a 1.8 Equacao de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 ¸˜ 1.9 Equacao de Riccati . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 ¸˜ 1.10 Equacoes omog´ neas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 ¸˜ e 1.11 Equacoes diferenciais exactas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 ¸˜ 1.11.1 ED exactas: obtencao de factor integrante . . . . . . . . . . 55 ¸˜ 1.12 AplicacoesCircuitos el´ ctricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 ¸˜ e 1.13 Consideracoes finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 ¸˜ 1.14 Exerc´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 ı 2 ED de ordem–2 ou superior 79 2.1 Solucao de ED Homog´ neas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 ¸˜ e 2.2 Solucao de ED n˜ o homog´ neas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 ¸˜ a e iii
  • 6. iv ´ INDICE GERAL 2.3 M´ todo da reducao de ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 e ¸˜ 2.4 ED homog´ neas com coeficientes constantes . . . . . . . . . . . . . 93 e 2.4.1 Ra´zes reais e distintas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 ı 2.4.2 Ra´zes reais e iguais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 ı 2.4.3 Ra´zes complexas conjugadas . . . . . . . . . . . . . . . . 97 ı 2.5 ED n˜ o homog´ neas: M. coeficientes indeterminados . . . . . . . . 99 a e 2.6 ED n˜ o homog´ neas: M. variacao de parˆ metros . . . . . . . . . . 108 a e ¸˜ a 2.7 Equacao de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 ¸˜ 2.8 Aplicacoes: sistemas mecˆ nicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 ¸˜ a 2.8.1 Movimento harm´ nico simples (ou n˜ o amortecido) . . . . 118 o a 2.8.2 Movimento harm´ nico amortecido . . . . . . . . . . . . . . 121 o 2.8.3 Movimento harm´ nico forcado . . . . . . . . . . . . . . . . 122 o ¸ 2.8.4 Aplicacoes: Circuitos el´ ctricos . . . . . . . . . . . . . . . 123 ¸˜ e 2.9 Equacoes diferenciais de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . 127 ¸˜ 2.10 Exerc´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 ı 3 Sistemas de ED lineares de ordem–1 143 3.1 Conceitos b´ sicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144 a 3.1.1 Equacoes diferenciais lineares de ordem n e sistemas dife- ¸˜ renciais lineares de ordem 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 3.1.2 Forma matricial de um sistema linear . . . . . . . . . . . . 147 3.1.3 Problemas de valor inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 3.1.4 Dependˆ ncia e independˆ ncia linear . . . . . . . . . . . . . 150 e e 3.1.5 Sistemas n˜ o homog´ neos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 a e 3.2 Sistemas Lineares homog´ neos com coeficientes constantes . . . . . 153 e 3.2.1 A matriz A tem valores pr´ prios reais distintos . . . . . . . 154 o 3.2.2 A matriz A tem valores pr´ prios reais repetidos . . . . . . . 156 o 3.2.3 A matriz A tem valores pr´ prios reais complexos . . . . . . 165 o 3.3 Variacao de parˆ metros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 ¸˜ a
  • 7. ´ INDICE GERAL v 3.3.1 Matriz fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 3.3.2 Variacao de parˆ metros ou variacao das constantes arbitr´ rias 172 ¸˜ a ¸˜ a 3.3.3 Problema de valor inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 3.4 Consideracoes finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178 ¸˜ 3.5 Exerc´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178 ı 4 Transformada de Laplace 185 4.1 Definicao e existˆ ncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186 ¸˜ e 4.2 A tabela de transformadas e alguns exemplos . . . . . . . . . . . . 187 4.3 A TL de outras funcoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188 ¸˜ 4.4 Propriedades da TL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 4.5 A transformada de Laplace Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 4.6 Aplicacoes: circuitos e sistemas mecˆ nicos . . . . . . . . . . . . . 195 ¸˜ a 4.7 Exerc´cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 ı Bibliografia 203 Referˆ ncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204 e
  • 8. vi ´ INDICE GERAL
  • 9. Lista de Figuras 1.1 Crescimento exponencial e decrescimento exponencial. . . . . . . . 5 1.2 Representacao gr´ fica de algumas solucoes de (1.26). . . . . . . . . 21 ¸˜ a ¸˜ 1.3 Exemplo de uma solucao particular definida por ramos. . . . . . . . 23 ¸˜ 1.4 Interpretacao geom´ trica do Teorema de Picard. . . . . . . . . . . . 27 ¸˜ e 1.5 Campo de direccoes para a equacao diferencial (1.32). . . . . . . . 33 ¸˜ ¸˜ 1.6 Uma solucao de (1.32). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 ¸˜ 1.7 Campo de direccoes para a equacao log´stica, com β = 3.5 e δ = 1.8. 35 ¸˜ ¸˜ ı 1.8 Solucoes para a equacao log´stica, com β = 3.5 e δ = 1.8. . . . . . 35 ¸˜ ¸˜ ı 1.9 Exemplo de um circuito el´ ctrico simples. . . . . . . . . . . . . . . 58 e 2.1 Sistema mola–massa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 2.2 Exemplo de um circuito com trˆ s componentes. . . . . . . . . . . . 124 e vii
  • 10. viii LISTA DE FIGURAS
  • 11. Cap´tulo 1 ı ¸˜ Equacoes diferenciais de primeira ordem Muitas s˜ o as leis b´ sicas, e mais recentemente tamb´ m muitos fen´ menos biol´ gicos a a e o o e sociais, que s˜ o expressos por equacoes matem´ ticas. Sempre que estas equacoes a ¸˜ a ¸˜ ¸˜ envolvem derivadas, chamam-se equacoes diferenciais (ED). Pretende-se mostrar no in´cio deste primeiro cap´tulo como surgem algumas destas equacoes e ilustrar ı ı ¸˜ como pode ser a sua solucao obtida. ¸˜ Ao modelar um dado problema atrav´ s de uma equacao diferencial, a maior difi- e ¸˜ culdade surge em descrever uma situacao real quantitativamente. De forma a ob- ¸˜ ter um modelo, e usualmente necess´ rio recorrer a assercoes simplificativas que ´ a ¸˜ tornem essa mesma situacao pass´vel de ser representada em termos matem´ ticos. ¸˜ ı a Assercoes usuais s˜ o, por exemplo: (i) assumir que o movimento de uma dada ¸˜ a massa no espaco e um ponto e (ii) n˜ o existe friccao na resistˆ ncia do ar. Tais ¸ ´ a ¸˜ e assercoes, n˜ o sendo de modo algum realistas, permitem ao cientista (investigador) ¸˜ a obter informacao valiosa sobre o problema real ainda que servindo-se de modelos ¸˜ extremamente ideais. Uma vez entendida uma parte do problema, o modelo pode ser tornado mais complexo de forma a ter em conta outros factores observados. No 1
  • 12. 2 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 entanto e sempre importante manter os modelos manuse´ veis, isto e, modelos para ´ a ´ os quais seja poss´vel calcular uma solucao, exacta ou anal´tica. ı ¸˜ ı 1.1 Alguns exemplos Exemplo 1.1 (Queda livre) Segundo a lei da gravidade de Newton, a gran- deza da forca gravitacional da terra num dado corpo e directamente proporcional ¸ ´ a sua massa m e inversamente proporcional ao quadrado da distˆ ncia dessa mesma ` a massa ao centro da Terra r. Temos ent˜ o que: a km F= r2 sendo k a constante de proporcionalidade. Pela segunda lei de Newton, temos ainda: d2r k 2 = 2. (1.1) dt r dr Observacao 1 A velocidade v = ¸˜ e negativa, pois a medida que um objecto ´ ` dt cai a sua distˆ ncia ao centro da Terra diminui. Mais ainda, a sua aceleracao a ¸˜ dv d 2 r a= = 2 e tamb´ m negativa, pois a medida que o objecto cai, a velocidade ´ e ` dt dt diminui (´ cada vez mais negativa). Temos ent˜ o que k e uma constante negativa. e a ´ Seja R o raio m´ dio da Terra (i.e. r = R). Denotamos a aceleracao da gravidade e ¸˜ na superf´cie da Terra por a(R) = −g. Ent˜ o considerando (1.1): ı a k −g = a(R) = , R2 temos k = −gR2 . Voltando a (1.1), obtemos: d 2 r −gR2 = 2 (1.2) dt 2 r sendo g ≃ 9.81m/seg2. Seja r = R + h, onde h e a altura do corpo a partir da ´ dr dh superf´cie da Terra, ent˜ o ı a = e a equacao (1.2) vem ¸˜ dt dt d 2h −gR2 = . dt 2 (R + h)2
  • 13. 1.1. ALGUNS EXEMPLOS 3 R2 Se h e muito pequeno temos que ´ ≃ 1, obtendo ent˜ o: a (R + h)2 d2h = −g. (1.3) dt 2 Integrando ambos os membros da equacao relativamente a t, temos: ¸˜ h′ (t) = −gt +C1 . A constante C1 pode ser determinada considerando, por exemplo, t = 0. Obtemos C1 = h′ (0), ou seja, C1 e o valor da velocidade inicial. Temos ent˜ o que a veloci- ´ a dade do corpo, em qualquer instante, e dada por: ´ h′ (t) = −gt + h′ (0) (1.4) Voltando a integrar: t2 h(t) = −g + h′ (0)t +C2 2 Determinamos C2 considerando, por exemplo, t = 0. Obtemos C2 = h(0), ou seja, C2 e a altura inicial. Ent˜ o a altura do corpo, em qualquer instante, e dada por: ´ a ´ t2 h(t) = −g + h′ (0)t + h(0). (1.5) 2 Por exemplo, suponhamos que uma bola cai do alto de um edif´cio com altura ı h(0) = 44.145 m e velocidade inicial h′ (0) = 0. Quanto tempo demora a bola a chegar ao ch˜ o? a Temos: t2 h(t) = −981 + 4414.5. 2 Donde resulta 490.5t 2 = 4414.5 ou seja t 2 = 9. Como t = −3 n˜ o tem qualquer a significado f´sico, vem que t = 3 segundos. ı A solucao da equacao diferencial do Exemplo 1.1 foi obtida directamente por integra- ¸˜ ¸˜ cao. Se tal fosse sempre poss´vel, ent˜ o as equacoes diferenciais seriam uma aplicacao ¸˜ ı a ¸˜ ¸˜ directa do c´ lculo integral e seria desnecess´ ria toda uma teoria sobre as equacoes a a ¸˜
  • 14. 4 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 diferenciais. No entanto, a determinacao da solucao da maioria das equacoes dife- ¸˜ ¸˜ ¸˜ renciais implica o uso de t´ cnicas mais avancadas e espec´ficas. e ¸ ı Vamos iniciar com um tipo cl´ ssico de equacao diferencial para a qual e poss´vel a ¸˜ ´ ı determinar a solucao: ¸˜ Exemplo 1.2 Sendo α uma constante, resolva a seguinte equacao diferencial: ¸˜ dy = α y, y(0) = 10. (1.6) dx ¸˜ Resolucao: Reescrevemos a equacao (1.6) ¸˜ dy = α dx y e depois integramos dy = α dx y ou ln |y| = α x +C (Se ln a = b ent˜o a = eb ). a Temos: |y| = eα x+C = eα x eC ou ainda: y = keα x , com k = ±eC (1.7) Verifiquemos o resultado obtido. dy Seja y(x) = keα x ent˜ o a = k (α eα x ) = α (keα x ) = α y, donde se conclui que y = dx keα x satisfaz (1.6). Isto e, a equacao (1.6) tem uma infinidade de solucoes, uma ´ ¸˜ ¸˜ para cada concretizacao de k. Determinamos a solucao do problema (1.6) mediante ¸˜ ¸˜ o uso da condicao inicial y(0) = 10. De facto, ¸˜ y(0) = 10 ⇒ keα 0 = 10 ⇒ k = 10, ou seja y = 10eα x e uma solucao unica para o problema de valor inicial (1.6). ´ ¸˜ ´
  • 15. 1.1. ALGUNS EXEMPLOS 5 e e ¸˜ Ao m´ todo utilizado no Exemplo 1.2 chamamos m´ todo de separacao de vari´ veis, a uma vez que a t´ cnica utilizada consiste na separacao das vari´ veis independente e e ¸˜ a dependente, colocando-as em membros diferentes da equacao. ¸˜ Se α > 0, temos que eα x cresce exponencialmente. Se α < 0, temos que eα x decai exponencialmente (ver Fig. 1.1). Se α = 0, ent˜ o n˜ o existe crescimento, ou seja a a y = e0 = 1 mant´ m-se constante. e y y y = eα x , α > 0 y = eα x , α < 0 0 0 x x Figura 1.1: Crescimento exponencial e decrescimento exponencial. Como observ´ mos no Exemplo 1.2, a resolucao da equacao diferencial conduziu- a ¸˜ ¸˜ nos a uma infinidade de solucoes (y = keα x , com k uma constante arbitr´ ria). Con- ¸˜ a tudo, do ponto de vista f´sico, n˜ o interessa ter uma infinidade de solucoes. Esta ı a ¸˜ dificuldade e facilmente suplantado particularizando o valor de y para um valor par- ´ ticular de x, i.e. y(x0 ) = y0 . Chama-se a este valor particular uma condicao inicial ¸˜ e viabiliza uma solucao unica para o problema. Este conceito ser´ ilustrado nos ¸˜ ´ a exemplos seguintes. Exemplo 1.3 (Lei do arrefecimento de Newton) A lei do arrefecimento de Newton diz que a taxa da variacao da diferenca de temperatura entre um ob- ¸˜ ¸ jecto e o seu meio involvente e proporcional a diferenca de temperaturas. Seja ∆T ´ ` ¸ a diferenca de temperatura no instante t. Dado que matematicamente a taxa de ¸ variacao e expressa por uma derivada, podemos ent˜ o escrever a lei do arrefeci- ¸˜ ´ a mento de Newton como: d∆T = α ∆T, (1.8) dt
  • 16. 6 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 com α negativo, dado que a temperatura est´ a diminuir. A partir do Exemplo 1.2, a facilmente se conclui que ∆T (t) = ∆T (0)eα t . (1.9) ¸˜ Chama-se a (1.9) solucao geral da equacao diferencial (1.8), dado qualquer solucao ¸˜ ¸˜ de (1.8) ser desta forma. ∆T (0) e uma constante arbitr´ ria que denota a diferenca ´ a ¸ de temperatura em t = 0. Como ilustracao pr´ tica, consideremos uma panela de agua a ferver (100◦ C) que ¸˜ a ´ e retirada do lume e deixada a arrefecer a temperatura da cozinha, que sabemos ´ ` ser de 20◦ C. Dois minutos depois a temperatura da panela e 80◦ C. Qual ser´ a ´ a temperatura da panela 5 minutos depois de ter sido retirada do lume? Uma vez que a diferenca inicial da temperatura e dada por: ¸ ´ ∆T (0) = 100◦ − 20◦ = 80◦ , a igualdade (1.9) toma a forma ∆T (t) = 80eα t . (1.10) Quando t = 2 minutos, temos: ∆T (2) = 80◦ − 20◦ = 60◦ , Se susbstituirmos t = 2 em (1.10) temos: 60 = 80eα 2 , e ainda 3 60 = = eα 2 , 4 80 Aplicando o logaritmo natural, vem: 3 1 3 2α = ln ⇔ α= ln . 4 2 4
  • 17. 1.1. ALGUNS EXEMPLOS 7 Repare que α e negativo (≃ −0.1438), o que faz sentido dado que a temperatura ´ est´ a diminuir. a Substituimos de seguida α na equacao (1.9) e relembrando que eln x = x e a ln b = ¸˜ ln ba temos:   t/2 3 3 ln t/2 ln  4 4 ∆T = 80e = 80e t/2 3 = 80 . (1.11) 4 A equacao (1.11) e uma solucao particular de (1.7), pois e unicamente determinada ¸˜ ´ ¸˜ ´ pelas condicoes especificadas para esta situacao particular. ¸˜ ¸˜ Finalmente, de forma a determinar a temperatura da agua ao fim de 5 minutos, ´ comecamos por determinar a diferenca de temperatura: ¸ ¸ 5/2 3 ∆T (5) = 80 ≃ 38.97, 4 que somamos de seguida a temperatura da cozinha. Temos ent˜ o que 5 minutos ` a ap´ s a panela ser retirada do lume, a agua se encontra a temperatura de 58.97◦ C. o ´ ` Exemplo 1.4 (Envelhecimento do carbono) O envelhecimento do car- bono e uma t´ cnica usada por arqueologistas e ge´ logos, entre outros, que preten- ´ e o dam estimar a idade de certos utens´lios ou vest´gios arqueol´ gicos. A t´ cnica e ı ı o e ´ baseada em certas propriedades do atomo de carbono. No seu estado natural, o ´ atomo de carbono 12C tem 6 prot˜ es e 6 neutr˜ es. Outro isotopo do carbono e 14C ´ o o ´ que tem dois neutr˜ es e dois n´ cleos adicionais. o u 14C e radioactivo, i.e., emite um ´ electr˜ o e atinge o estado est´ vel 14 N. Assumimos que existe uma raz˜ o constante a a a na atmosfera entre 14C e 12C. Esta suposicao e apoiada experimentalmente, dado ¸˜ ´ que se verificou que embora 14C esteja permanentemente a desaparecer devido a ` degradacao radioactiva, tamb´ m novo 14C est´ permanentemente a ser produzido ¸˜ e a devido ao bombardeamento c´ smico do nitrog´ nio na atmosfera superior. Plantas o e e animais n˜ o distinguem entre a 12C e 14C, de modo que no momento da morte a
  • 18. 8 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 raz˜ o entre 12C e 14C no organismo e a mesma que a raz˜ o presente na atmosfera. a ´ a No entanto, esta raz˜ o muda ap´ s a morte, dado que 14C e transformado em 14 N, a o ´ sem que seja produzido mais 14C. Atrav´ s de observacoes, os cientistas chegaram a conclus˜ o que o 14C se degrada e ¸˜ ` a a uma taxa proporcional a sua massa, sendo a sua meia-vida de aproximadamente ` 1 5730 anos. Isto significa que tendo inicialmente 1g de 14C, resta-nos g ao fim de 2 5730 anos, tendo sido a outra metade convertida em 14 N. Como exemplo, consideremos agora o seguinte problema: Os vest´gios de um or- ı ganismo s˜ o desenterrados e determina-se que a quantidade de 14C presente e de a ´ 40% da de um organismo vivo semelhante. Qual e a idade aproximada dos vest´gios ´ ı encontrados? ¸˜ Resolucao: Seja M(t) a massa de 14C dos vest´gios encontrados. ı Sabendo que 14C se degrada a uma taxa proporcional ` sua a massa, temos: dM = −α M, dt sendo α a constante de proporcionalidade. Ent˜o M(t) = ce−α t, a com c = M0 a quantidade inicial de 14C. Com t = 0, M(0) = M0 ; 1 t = 5730, M(5730) = M0 . Usamos este facto para determinar α : 2 1 1 M0 = M0 e−α ·5730 ⇔ e−α ·5730 = . 2 2 Ent˜o a 1/5730 t/5730 −α 5730 1 −α 1 −α t 1 e = ⇔ e = e e = , 2 2 2 donde 1 t/5730 M(t) = M0 . 2 Sabemos que t anos ap´s a morte do organismo M(t) = 0.4M0 e o queremos determinar t. Fazemos ent˜o: a t/5730 1 0.4M0 = M0 , 2
  • 19. ¸˜ ´ 1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 9 aplicando logaritmos naturais: t 1 5730 ln (0.4) ln 0.4 = ln ⇔ t= 5730 2 1 ln 2 ou seja aproximadamente 7575 anos. Esta t´ cnica de envelhecimento do carbono tem sido usada com sucesso em in´ meras e u ocasi˜ es. Foi esta mesma t´ cnica que permitiu datar os Manuscritos do mar morto o e com cerca de dois mil anos. Nos Exemplos 1.1–1.4 determin´ mos a solucao de equacoes diferenciais muito sim- a ¸˜ ¸˜ ples, usando o m´ todo de separacao de vari´ veis. Este m´ todo tamb´ m pode ser e ¸˜ a e e usado para resolver equacoes diferenciais mais elaboradas, como iremos mostrar na ¸˜ pr´ xima seccao. o ¸˜ Os exemplos considerados ilustram tamb´ m que da resolucao de equacoes diferen- e ¸˜ ¸˜ ciais muito simples se pode encontrar solucao para aplicacoes f´sicas mais diversi- ¸˜ ¸˜ ı ficadas. ¸˜ ´ 1.2 Separacao de variaveis Vamos aprender agora a resolver algumas equacoes um bocadinho mais complica- ¸˜ das do que as que resolvemos at´ aqui. e Considere-se a equacao diferencial ¸˜ dy = f (x, y) (1.12) dx e suponhamos que f (x, y) e factoriz´ vel no produto: ´ a f (x, y) = g(x)h(y), (1.13)
  • 20. 10 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 onde g(x) e h(y) s˜ o funcoes de uma s´ vari´ vel. Sempre que isto ocorre, a equacao a ¸˜ o a ¸˜ ı ¸˜ e ¸˜ (1.12) e pass´vel de resolucao pelo m´ todo da separacao de vari´ veis. Para resol- ´ a ver a equacao, substituimos (1.13) em (1.12): ¸˜ dy = g(x)h(y), dx ou 1 dy = g(x), (1.14) h(y) dx Integrando ambos os membros da equacao (1.13) em relacao a x, obtemos: ¸˜ ¸˜ 1 dy dx = g(x)dx +C, h(y) dx e 1 dy = g(x)dx +C. (1.15) h(y) Se ambos os integrais de (1.15) forem calcul´ veis, ent˜ o a solucao da equacao dife- a a ¸˜ ¸˜ rencial (1.12) e feita atrav´ s do c´ lculo dos integrais. ´ e a dx √ Exemplo 1.5 Resolva a equacao ¸˜ = t 1 − x2 . dt ¸˜ Resolucao: ¸˜ Reescrevemos a equacao como dx dx √ = tdt ⇒ √ = tdt +C 1 − x2 1 − x2 Calculando os integrais, obtemos: t2 arcsin x = +C 2 ou seja t2 x = sin +C . 2 Existe um n´mero infinito de soluc˜es, uma para cada valor u ¸o π π de C com C ≤ . (Porquˆ C ≤ ?)Para determinadas condic˜es e ¸o 2 2 iniciais, vai existir uma soluc˜o ´nica. Suponhamos por ¸a u 1 exemplo x(0) = . Ent˜o a 2 1 02 1 π = sin +C = sinC e C = arcsin = 2 2 2 6.
  • 21. ¸˜ ´ 1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 11 Ent˜o a solucao ´nica ´ a ¸˜ u e t2 π x(t) = sin + . 2 6 Repare que se x(0) = 2 n˜o existe solucao, pois a func˜o seno a ¸˜ ¸a s´ toma valores no intervalo [−1, 1] . o Exemplo 1.6 (Velocidade de escape) No Exemplo 1.1 estud´ mos o mo- a vimento de um corpo em queda livre, i.e. sujeito a forca de gravidade da Terra. ` ¸ Nesse exemplo assumimos ser pequena a altura a que se encontra o corpo, h, re- lativamente ao raio da Terra R. No entanto, se pretendermos estudar a equacao ¸˜ do movimento de um sat´ lite de comunicacoes ou de um ve´culo interplanet´ rio, e ¸˜ ı a a distˆ ncia r do objecto ao centro da Terra poder´ ser considerada grande em a a relacao a R. Assim a assercao que fizemos para obter a equacao (1.3) deixa de ser ¸˜ ¸˜ ¸˜ v´ lida. Retomemos a equacao (1.2): a ¸˜ d2r R2 = −g 2 dt 2 r dr e considerando v = , temos pela regra da cadeia: dt d 2 r dv dv dr dv 2 = = =v . (1.16) dt dt dr dt dr Assim, a equacao (1.2) pode ser reescrita como: ¸˜ dv R2 v = −g 2 , (1.17) dr r onde g e R s˜ o constantes. Separando as vari´ veis e integrando obtemos a a dr vdv = −gR2 +C, r2 ou seja 1 2 gR2 v = +C. 2 r Supondo que no instante inicial o objecto se encontra a superf´cie da Terra, temos ` ı ent˜ o que: a 1 gR2 v(0)2 = +C. 2 R
  • 22. 12 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 ou 1 v(0)2 − gR = C. 2 Ent˜ o a R2 v2 = 2g + v(0)2 − 2gR. (1.18) r Para que o objecto escape a forca gravitacional da Terra, e necess´ rio que v > 0 em ` ¸ ´ a √ cada instante t. Se escolhermos v(0) = 2gR, os dois ultimos termos da equacao ´ ¸˜ (1.18) cancelam-se mutuamente, e temos que v2 > 0 para todo o r. Observemos √ que uma escolha para v(0) inferior a 2gR vai permitir que o segundo membro da equacao (1.18) possa ser zero, bastando para tal que o valor de r seja suficiente- ¸˜ mente grande. Assim sendo, para que o objecto escape a atraccao gravitacional ` ¸˜ √ da Terra e necess´ rio que ele tenha velocidade inicial m´nima de v(0) = 2gR ≃ ´ a ı 11.2km/seg. A esta velocidade m´nima chama-se velocidade de escape. ı A substituicao (1.16) pode sempre ser usada para reduzir uma equacao que contenha ¸˜ ¸˜ a segunda derivada numa que contenha somente a primeira derivada, sendo para tal necess´ rio que a vari´ vel independente n˜ o apareca explicitamente na equacao. a a a ¸ ¸˜ Exemplo 1.7 (Crescimento log´stico) Seja P(t) a populacao de uma esp´ - ı ¸˜ e cie no instante t. A taxa de crescimento individual de uma populacao e definido ¸˜ ´ como o crescimento de uma populacao dividido pelo tamanho da populacao. Por ¸˜ ¸˜ exemplo, se considerarmos a taxa de natalidade igual a 3.2 em cada 100 e a taxa de mortalidade igual a 1.8 em cada 100, ent˜ o a taxa de crescimento e 3.2 − 1.8 = 1.4 a ´ 1.4 dP em cada 100, i.e. = . Escrevemos ent˜ o a = 0.014P. 100 dt Consideremos uma dada populacao cuja taxa de natalidade m´ dia e dada pela ¸˜ e ´ constante positiva β . E razo´ vel considerar a taxa m´ dia de mortalidade pro- ´ a e porcional ao n´ mero de indiv´duos da populacao. Populacoes com maior n´ mero u ı ¸˜ ¸˜ u de indiv´duos correspondem a uma maior densidade de indiv´duos, donde a uma ı ı maior competicao por comida e territ´ rio entre os seus membros. Seja δ a cons- ¸˜ o dP tante que representa esta proporcionalidade. Sendo a taxa de crescimento da dt
  • 23. ¸˜ ´ 1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 13 1 dP populacao, ent˜ o ¸˜ a ser´ a taxa de crescimento por indiv´duo nessa populacao. a ı ¸˜ P dt Ser´ l´cito considerar ent˜ o a seguinte equacao diferencial que governa o cresci- a ı a ¸˜ mento da populacao: ¸˜ 1 dP = β − δ P. P dt Multiplicando ambos os membros desta equacao por P, temos: ¸˜ dP = P (β − δ P) . (1.19) dt ´ ¸˜ Esta e a equacao log´stica. O crescimento expresso por esta equacao chama-se ı ¸˜ crescimento log´stico. Separemos as vari´ veis: ı a dP = dt +C. (1.20) P (β − δ P) Decompondo a fraccao nos seus elementos simples, temos: ¸˜ 1 1 δ = + . P (β − δ P) β P β (β − δ P) Substituimos estes elementos simples em (1.20) e temos: 1 1 ln |P| − ln |β − δ P| = t +C β β ou ainda 1 P ln = t +C. (1.21) β β −δP Aplicando a funcao exponencial a ambos os membros, vem: ¸˜ P P = eβ t+β C ⇒ = C1 eβ t . (1.22) β −δP β −δP Para t = 0 obtemos P(0) = C1 . β − δ P(0) Substituindo o valor obtido para C1 em (1.22), vem: P(t) P(0) = eβ t . β − δ P(t) β − δ P(0)
  • 24. 14 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 Facamos o produto cruzado para depois resolver em ordem a P(t) : ¸ P(t) [β − δ P(0)] = P(0) [β − δ P(t)]eβ t β P(t) − δ P(t)P(0) = β P(0)eβ t − δ P(0)P(t)eβ t P(t) β − δ P(0) + δ P(0)eβ t = β P(0)eβ t , dividindo ambos os membros por P(0)eβ t : β P(0)eβ t β P(t) = = . (1.23) β − δ P(0) + δ P(0)eβ t β δ+ − δ e−β t P(0) Uma vez que β > 0, e−β t tende para zero com t. Temos ent˜ o que a populacao tem a ¸˜ β β um limite de crescimento . Facilmente se verifica ainda que com P = em (1.19) δ δ dP vem = 0, i.e. a populacao e constante. ¸˜ ´ dt Aprendemos como resolver uma equacao diferencial de primeira ordem quando se- ¸˜ par´ vel. No entanto nem sempre e muito claro ver se a equacao e ou n˜ o separ´ vel. a ´ ¸˜ ´ a a Por exemplo, e obvio que se f (x, y) = ex cos y e separ´ vel. Mas j´ n˜ o e t˜ o obvio ´ ´ ´ a a a ´ a ´ que f (x, y) = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2 e separ´ vel. Damos, de seguida condicoes ´ a ¸˜ que permitem decidir sobre a separabilidade das vari´ veis numa equacao diferen- a ¸˜ cial.
  • 25. ¸˜ ´ 1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 15 ´ ¸˜ ´ Quando e que uma equacao diferencial e separ´ vel? a Teorema 1 Suponhamos que f (x, y) = g(x)h(y), onde g e h s˜ o diferenci´ veis. a a Ent˜ o a f (x, y) fxy (x, y) = fx (x, y) fy (x, y). (1.24) Dem. Facamos ¸ fx (x, y) = g′ (x)h(y) fy (x, y) = g(x)h′ (y) fxy (x, y) = g′ (x)h′ (y) f (x, y) fxy (x, y) = g(x)h(y)g′ (x)h′ (y) = g′ (x)h(y) g(x)h′ (y) = fx (x, y) fy (x, y) Teorema 2 Seja D = (x, y) : (x − a)2 + (y − b)2 < r2 , com a, b ∈ R e r ∈ R+ , uma bola do plano-xy. Suponhamos que f , fx , fy e fxy existem e s˜ o cont´nuas em a ı D, f (x, y) = 0 e a equacao (1.24) se verifica. Ent˜ o existem funcoes continuamente ¸˜ a ¸˜ diferenci´ veis g(x) e h(y) tais que, para cada (x, y) ∈ D, a f (x, y) = g(x)h(y). dy Exemplo 1.8 Seja = f (x, y) com f (x, y) = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2. dx Ent˜ o: a fx (x, y) = 4x − 2xy + y − 2 fy (x, y) = 1 − x2 + x fxy (x, y) = −2x + 1 f (x, y) fxy (x, y) = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2 (−2x + 1) = −4x3 − xy + 2x3 y − 3x2 y + 6x2 + 2x + y − 2 fx (x, y) fy (x, y) = (4x − 2xy + y − 2) 1 − x2 + x = 2x − xy + y − 2 − 4x3 + 2x3 y − 3x2 y + 6x2
  • 26. 16 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 Donde se conclui a partir do Teorema 2 que f (x, y) e separ´ vel. ´ a ¸˜ Resolucao: dy = 2x2 + y − x2 y + xy − 2x − 2 dx = (y − 2)(−x2 + x + 1) = ··· dy Exemplo 1.9 Seja = f (x, y) com f (x, y) = 1 + xy. Ent˜ o: a dx fx (x, y) = y fy (x, y) = x fxy (x, y) = −1 f (x, y) fxy (x, y) = 1 + xy e fx (x, y) fy (x, y) = xy Como as duas ultimas express˜ es n˜ o s˜ o iguais, conclui-se a partir do Teorema 2 ´ o a a que f (x, y) n˜ o e separ´ vel. a ´ a dy Uma equacao diferencial da forma ¸˜ = f (ax + by + c) , n = 0 pode sempre reduzir- dx se a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis, atrav´ s da substituicao ¸˜ a a e ¸˜ du dy u = ax + by + c ⇒ = a+b . dx dx dy 1 Exemplo 1.10 Resolva a equacao diferencial ¸˜ = . dx x + y + 1 1 Resolucao: Consideramos f (u) = e em conformidade u = x+y+ ¸˜ u du dy 1⇒ = 1+ . dx dx
  • 27. ¸˜ ´ 1.2. SEPARACAO DE VARIAVEIS 17 ¸ a ¸˜ Efectuamos esta mudanca de vari´vel na equacao diferencial e obtemos: du 1 −1 = ⇔ dx u du 1 + u ⇔ = ⇔ dx u u ⇔ du = dx ⇒ 1+u u ⇔ du = dx +C 1+u u Como calcular du? 1+u Temos que saber calcular primitivas de func˜es racionais. ¸o ¸˜ Posto isto, e sendo a funcao integranda uma fracc˜o racional ¸a o ¸ ¸˜ impr´pria, temos que comecar por reduzi-la a uma fraccao racional pr´pria, i.e.: o u 1 = 1− . 1+u 1+u Prossigamos agora com o c´lculo das primitivas: a 1 1− du = dx +C ⇔ 1+u ⇔ u − ln |1 + u| = x +C ⇔ Voltando ` vari´vel original, escrevemos: a a ⇔ x + y + 1 − ln |1 + x + y + 1| = x +C ⇔ ⇔ y + c = ln |2 + x + y| ⇔ ⇔ ey+c = 2 + x + y ⇔ ⇔ 2 + x + y = Cey . Temos assim a solucao impl´cita da equac˜o diferencial. ¸˜ ı ¸a Consideremos ent˜ o outros exemplos: a
  • 28. 18 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 dy 1. Consideremos a equacao diferencial ¸˜ = (x+y+1)2 . Reduzimos esta equacao ¸˜ dx diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectuando a se- ¸˜ a a guinte mudanca de vari´ vel f (u) = u2 . ¸ a dx 1 − t − x 2. Consideremos a equacao diferencial ¸˜ = . Reduzimos esta equacao ¸˜ dt t +x diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectuando a ¸˜ a a 1−u seguinte mudanca de vari´ vel f (u) = ¸ a . u dy √ 3. Consideremos a equacao diferencial ¸˜ = 2 + y − 2t + 3. Reduzimos esta dx equacao diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectu- ¸˜ ¸˜ a a √ ando a seguinte mudanca de vari´ vel f (u) = 2 + u. ¸ a dy 4. Consideremos a equacao diferencial ¸˜ = 1+ey−t+5 . Reduzimos esta equacao ¸˜ dx diferencial a uma equacao diferencial de vari´ veis separ´ veis efectuando a se- ¸˜ a a guinte mudanca de vari´ vel f (u) = 1 + eu . ¸ a Exerc´cio 1 Calcule a solucao de cada uma das equacoes diferenciais acima ı ¸˜ ¸˜ enumeradas. ¸˜ ¸˜ 1.3 Classificacao de equacoes diferenciais Ficou claro, no estudo efectuado nas ultimas seccoes, que grande e a variedade de ´ ¸˜ ´ equacoes diferenciais resultantes de fen´ menos que nos s˜ o familiares. Torna-se ¸˜ o a ent˜ o necess´ rio estudar classes mais restritas destas equacoes. a a ¸˜ Comecemos por classificar as equacoes diferenciais. A classificacao mais obvia ser´ ¸˜ ¸˜ ´ a uma baseada na natureza das derivadas da equacao. Uma equacao diferencial diz-se ¸˜ ¸˜ ¸˜ equacao diferencial ordin´ ria (ODE) se involve somente derivadas ordin´ rias, i.e. a a em ordem a uma s´ vari´ vel independente e de uma ou v´ rias vari´ veis dependentes. o a a a Exemplo 1.11 Considerem-se os seguintes exemplos:
  • 29. ¸˜ 1.4. SOLUCOES 19 dy 1. − 5y = 1 dx 2. (t + y) dt − 4ydy = 0 du dv 3. − = t, u(t) e v(t) dt dt d2y dy 4. 2 − 2 + 6x = 0 dx dx Uma equacao que involva derivadas parciais, de uma ou mais vari´ veis dependentes ¸˜ a ¸˜ e, obviamente, de duas ou mais vari´ veis independentes, diz-se equacao diferencial a ` as derivadas parciais. Exemplo 1.12 Considerem-se os seguintes exemplos: ∂x ∂y 1. =− x(t, ?), y(t, ?) ∂t ∂t ∂x ∂x 2. t + k = x, x(t, z) ∂t ∂z ¸˜ Definicao 1 A ordem da derivada mais elevada envolvida na equacao diferen- ¸˜ cial, determina a ordem da equacao diferencial. ¸˜ Exemplo 1.13 Considerem-se os seguintes exemplos: dy 1. + 2yx = 1 primeira ordem dx d 2 y dy 2. + +x = 0 segunda ordem dx2 dx d 3 y y2 3. = terceira ordem dx3 x2 Quanto a estrutura, as equacoes diferenciais classificam-se em equacoes diferenciais ` ¸˜ ¸˜ lineares e n˜ o lineares. Definimos equacao diferencial linear na Seccao 1.6. a ¸˜ ¸˜ ¸˜ 1.4 Solucoes ¸˜ Definicao 2 Uma funcao y, definida no intervalo I, que possui derivadas at´ a ¸˜ e` ordem n, e tal que uma vez substitu´da na equacao diferencial de ordem–n a reduz ı ¸˜
  • 30. 20 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 a uma identidade, diz-se solucao dessa equacao diferencial. Simbolicamente, isto ¸˜ ¸˜ significa que a solucao da equacao diferencial ¸˜ ¸˜ F x, y, y′ , . . ., y(n) = 0 (1.25) e uma funcao y(x), cujas derivadas y′ (x), y′′ (x), . . ., y(n) existem e satisfazem a equacao ´ ¸˜ ¸˜ (1.31) para todos os valores da vari´ vel independente x em todo o intervalo em que a (1.31) est´ definida. a ` A solucao tamb´ m se chama curva integral ou simplesmente integral da ED. ¸˜ e Observacao 2 O intervalo I pode ser da forma (a, b), [a, b], [a, b), (a, b] com a, b ¸˜ valores finitos ou infinitos. As aplicacoes f´sicas que descrevemos nesta seccao (e.g. Exemplos 1.1, 1.3 e 1.4) ¸˜ ı ¸˜ correspondem a problemas para os quais sabemos existir solucao. No entanto, e ¸˜ ´ importante distinguir a realidade f´sica do modelo matem´ tico dado pela equacao ı a ¸˜ diferencial que representa o problema. Pois o nosso racioc´cio poder´ estar comple- ı a tamente errado e as equacoes apresentadas n˜ o apresentarem qualquer ligacao com ¸˜ a ¸˜ a realidade. Existem equacoes diferenciais para as quais n˜ o existe solucao. Por exemplo: ¸˜ a ¸˜ 2 dy +3 = 0 dx 2 dy n˜ o tem obviamente solucao, pois a ¸˜ + 3 ≥ 3 !!! dx Por outro lado, a equacao ¸˜ 2 dy + y2 = 0 dx tem y = 0 como unica solucao. ´ ¸˜ A equacao ¸˜ dy +y = 0 dx tem um n´ mero infinito de solucoes y = ce−x para toda a constante c. u ¸˜
  • 31. ¸˜ 1.4. SOLUCOES 21 Uma equacao diferencial tem usualmente uma infinidade de solucoes. ¸˜ ¸˜ Ao determinar a solucao de uma equacao diferencial de ordem–n, ¸˜ ¸˜ F x, y, y′ , . . . , y(n) = 0, ∀t ∈ I esperamos obter uma fam´lia de solucoes de n parˆ metros G(x, y, c1 , . . . , cn ) = 0. ı ¸˜ a ¸˜ a ¸˜ Cada concretizacao dos parˆ metros fornece uma solucao particular, ou seja uma solucao livre de parˆ metros. ¸˜ a ¸˜ Chamamos solucao singular a uma solucao da equacao diferencial que n˜ o per- ¸˜ ¸˜ a tence a fam´lia de parˆ metros. ` ı a Se a fam´lia de parˆ metros cont´ m todas as solucoes da equacao diferencial, ent˜ o ı a e ¸˜ ¸˜ a ¸˜ chama-se solucao geral. Exemplo 1.14 Consideremos a equacao diferencial ¸˜ dy = 2xy (1.26) dx 2 cuja solucao geral e y = cex . Cada concretizacao da constante c fornece uma ¸˜ ´ ¸˜ solucao particular. A Figura 1.3 mostra algumas concretizacoes de c, isto e algu- ¸˜ ¸˜ ´ mas solucoes de (1.26). ¸˜ 200 c>0 100 0 c=0 −100 c<0 −200 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1 1.5 2 Figura 1.2: Representacao gr´ fica de algumas solucoes de (1.26). ¸˜ a ¸˜ A y ≡ 0, representada a vermelho na figura, chamamos solucao trivial. ¸˜
  • 32. 22 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 Se y ≡ 0 (i.e., y e identicamente igual a zero) e solucao da equacao diferencial num ´ ´ ¸˜ ¸˜ intervalo I, ent˜ o chama-se a y ≡ 0 solucao trivial dessa equacao diferencial em I. a ¸˜ ¸˜ Exemplo 1.15 A equacao diferencial do Exemplo 1.2 pode ser reescrita na ¸˜ forma y′ − α y = 0. E f´ cil verificar que y(x) = keα x , ´ a k ∈ R, e solucao para todo ´ ¸˜ o real x : y′ (x) − α y(x) = (keα x )′ − α (keα x ) = α keα x − α keα x = 0. Exerc´cio 2 ı 1. Prove que y1 = c1 cos(4x) e y2 = c2 sin(4x) s˜ o solucoes de a ¸˜ d2y + 16y = 0. dx2 2. Prove que y = ex y = e−x y = c1 ex y = c2 e−x y = c1 ex + c2 e−x d 2y com c1 , c2 ∈ R, s˜ o solucoes de 2 − y = 0. a ¸˜ dx Exemplo 1.16 Consideremos os seguintes exemplos: 1. y = cx4 e solucao da equacao diferencial xy′ − 4y = 0. ´ ¸˜ ¸˜   −x4 , x < 0 2. y = e solucao da mesma equacao, i.e. ´ ¸˜ ¸˜  x4 , x ≥ 0   −1, x < 0 c= A constante c n˜ o e unica em todo o intervalo. a ´´  1, x ≥ 0 A solucao particular 2. e solucao, mas n˜ o pode ser obtida a partir da fam´lia de ¸˜ ´ ¸˜ a ı parˆ metros por uma escolha unica de c. a ´
  • 33. ¸˜ 1.4. SOLUCOES 23 15 10 c=1 5 0 −5 c = −1 −10 −15 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1 1.5 2 Figura 1.3: Exemplo de uma solucao particular definida por ramos. ¸˜ A solucao da equacao diferencial pode estar na forma impl´cita ou expl´cita. Se ¸˜ ¸˜ ı ı apresentamos a solucao na forma y = f (x), ent˜ o a solucao est´ na forma expl´cita. ¸˜ a ¸˜ a ı Se a apresentamos na forma f (x, y) = c, onde c e uma constante, ent˜ o a solucao ´ a ¸˜ est´ na forma impl´cita. a ı Exemplo 1.17 1. A solucao y = 2e3x e uma solucao expl´cita da equacao ¸˜ ´ ¸˜ ı ¸˜ diferencial do Exemplo 1.15. 2. Considere a equacao diferencial ¸˜ dy x = . dx y Ap´ s separacao de vari´ veis obt´ m-se o ¸˜ a e ydy = xdx y2 x2 = +c 2 2 y2 − x2 = 2c = C Temos a solucao na sua forma impl´cita. ¸˜ ı Nota 1 De facto, n˜ o e l´cito apresentar a solucao deste problema na sua a ´ ı ¸˜ √ forma expl´cita, pois y = ± x2 +C n˜ o e funcao. ı a ´ ¸˜
  • 34. 24 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 Como vimos nas Seccoes 1.1 e 1.2, muitas s˜ o as situacoes em que estamos interes- ¸˜ a ¸˜ sados em resolver uma equacao diferencial de primeira ordem: ¸˜ dy = f (x, y) dx sujeita a condicao adicional ` ¸˜ y(x0 ) = y0 . Este e um exemplo de um problema de valor inicial. Chamamos a esta condicao ´ ¸˜ ¸˜ adicional condicao inicial e a x0 o valor inicial. Formalizemos: ¸˜ Definicao 3 Um problema de valor inicial (PVI) consiste numa equacao di- ¸˜ ferencial de qualquer ordem e num conjunto de condicoes iniciais (o n´ mero de ¸˜ u condicoes iniciais e igual a ordem da equacao diferencial) que dever˜ o ser satisfei- ¸˜ ´ ` ¸˜ a tas pela solucao da equacao diferencial e das suas sucessivas derivadas no valor ¸˜ ¸˜ inicial. Exemplo 1.18 Considerem-se os seguintes exemplos de PVIs: 1. dy = 2y − 3x, dx y(0) = 2 2. x′′ (t) + 5x′(t) + (sint)x(t) = 0, x(1) = 0 x′ (1) = 7 ¸˜ Definicao 4 Definimos solucao de um PVI de ordem–n como uma funcao com ¸˜ ¸˜ derivadas at´ a ordem–n, que satisfaca a equacao diferencial e a(s) condicao(˜ es) e` ¸ ¸˜ ¸˜ o inicial(is).
  • 35. ¸˜ 1.4. SOLUCOES 25 Exemplo 1.19 A funcao y(x) = 2e3x e solucao do PVI ¸˜ ´ ¸˜ dy = 3y, dx y(0) = 2 dy d 3x pois y(0) = 2e3·0 = 2e0 = 2 e =2 e = 3 2e3x = 3y. dx dx Atencao, y ≡ 0 e solucao da equacao diferencial do Exemplo ??, mas n˜ o solucao ¸˜ ´ ¸˜ ¸˜ a ¸˜ do PVI, pois n˜ o verifica a condicao inicial. a ¸˜ Observacao 3 As condicoes impostas a y(x) e as suas (n − 1) primeiras deriva- ¸˜ ¸˜ ` das s˜ o dadas num unico ponto, i.e., y(x0 ), y′ (x0 ), . . . , y(n−1) (x0 ). a ´ 1. dy = f (x, y) dx y(x0 ) = y0 PVI de ordem–1 2. d2y = f (x, y, y′ ) dx2 y(x0 ) = y0 y′ (x0 ) = y′ 0 PVI de ordem–2 Ao analisar um PVI, duas quest˜ es fundamentais surgem: o 1. Existe solucao? ¸˜ 2. A solucao (se existir) e unica? ¸˜ ´´ Geometricamente, a segunda quest˜ o traduz-se em questionar se de entre todas as a solucoes do PVI, definido em I, existe uma unica cujo gr´ fico passa pelo ponto ¸˜ ´ a (x0 , y0 ).
  • 36. 26 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1   dy − xy1/2 = 0 Exemplo 1.20 Consideremos o seguinte PVI dx , para o qual  y(0) = 0 queremos determinar a solucao. ¸˜ ¸˜ Resolucao: Vamos determinar a soluc˜o utilizando separacao ¸a ¸˜ de vari´veis: a dy = xy1/2 ⇔ dx dy ⇒ = tdt ⇔ y1/2 y=0?! x2 ⇔ y1/2 = +c ⇔ 4 x4 ⇔ y= +C ∧ y(0) = 0 16 x4 ⇒C = 0 ⇒y= 16 No entanto, a solucao trivial y ≡ 0 ´ tamb´m soluc˜o. ¸˜ e e ¸a Mais ainda, a solucao trivial ´ soluc˜o singular (pois n˜o pode ¸˜ e ¸a a ser obtida a partir da fam´lia de parˆmetros). ı a Como vemos a soluc˜o deste PVI n˜o ´ ´nica. ¸a a e u Antes de tentarmos determinar a solucao de um PVI, e desej´ vel investigar primeiro ¸˜ ´ a a existˆ ncia/unicidade dessa mesma solucao. e ¸˜ O resultado seguinte, originalmente devido a Cauchy, mas generalizado por Picard, e uma das condicoes mais populares devido a facilidade da sua aplicacao. ´ ¸˜ ` ¸˜ Teorema 3 (Teorema de Picard) Seja R uma regi˜ o rectangular defi- a nida no plano xOy e tal que a ≤ x ≤ b e c ≤ y ≤ d. O ponto (x0 , y0 ) pertence ao interior de R. Se f e ∂ f /∂ y s˜ o funcoes cont´nuas no rectˆ ngulo R, ent˜ o existe um a ¸˜ ı a a
  • 37. ¸˜ 1.4. SOLUCOES 27 intervalo I, centrado em x0 , e uma unica funcao y(x), x ∈ I, que satisfaz o PVI ´ ¸˜ dy = f (x, y), y(x0 ) = y0 . dx Figura 1.4: Interpretacao geom´ trica do Teorema de Picard. ¸˜ e ¸˜ Observacao 4 Em geral n˜ o e poss´vel determinar um intervalo I em que essa a ´ ı solucao esteja definida sem antes determinar essa mesma solucao. ¸˜ ¸˜ ´ ¸˜ O Teorema 3 e uma condicao suficiente de existˆ ncia e unicidade de solucao, dado e ¸˜ fornecer crit´ rios capazes de garantir a existˆ ncia de uma unica solucao. Nome- e e ´ ¸˜ adamente, requer a a verificacao da continuidade das funcoes. Se f e ∂ f /∂ y no ¸˜ ¸˜ rectˆ ngulo R que cont´ m o ponto inicial (x0 , y0 ). Dado a garantia deste teorema ser a e s´ para uma pequena regi˜ o em torno do ponto inicial, dizemos ser este resultado o a um teorema de existˆ ncia e unicidade local. Ilustramos de seguida a aplicacao do e ¸˜ Teorema 3: Exemplo 1.21 O PVI dy = x2 + y3 dx y(0) = 1 tem solucao unica? ¸˜ ´
  • 38. 28 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 ¸˜ Resolucao: Sejam f (x, y) = x2 +y3 e ∂ f /∂ y = 3y2 funcoes cont´nuas ¸˜ ı em todo o R×R, ent˜o obviamente tamb´m o ser˜o na regi˜o a e a a R. Est´ assim demonstrada a existˆncia de solucao ´nica. a e ¸˜ u x 1 Exemplo 1.22 Retomemos o Exemplo 1.20. Temos ent˜ o que ∂ f /∂ y = a , 2 y1/2 n˜ o estando esta funcao definida no ponto (0, 0). Dado ser o Teorema 3 uma condicao a ¸˜ ¸˜ suficiente, nada se pode concluir sobre a existˆ ncia de solucao unica, mas de facto e ¸˜ ´ n˜ o se pode garantir a sua existˆ ncia. a e Caso n˜ o estejamos interessados na unicidade de solucao, mas somente na sua a ¸˜ existˆ ncia existe um resultado tamb´ m muito conhecido: e e Teorema 4 Nas condicoes do Teorema de Picard, a continuidade da funcao ¸˜ ¸˜ f (x, y) em R e condicao suficiente para garantir a existˆ ncia de pelo menos uma ´ ¸˜ e solucao do PVI. ¸˜ O Teorema de Picard um de entre os v´ rios resultados de existˆ ncia/unicidade de a e solucao. Em diferentes situacoes, as condicoes podem ser relaxadas permitindo ¸˜ ¸˜ ¸˜ ainda tirar as mesmas conclus˜ es. Ao longo do nosso estudo abordaremos alguns o destes resultados. ¸˜ Definicao 5 Um problema de valores de fronteira (PVF) e constitu´do por ´ ı uma equacao diferencial se um conjunto de condicoes adicionais que a solucao ¸˜ ¸˜ ¸˜ da equacao diferencial, bem com as sucessivas derivadas, deve satisfazer. As ¸˜ condicoes adicionais devem ser dadas para pelo menos dois valores distintos da ¸˜ vari´ vel independente. a Exemplo 1.23 Considerem-se os seguintes exemplos de PVF
  • 39. ¸˜ 1.4. SOLUCOES 29 1. d2y + 5xy = cos x dx2 y(0) = 0 y′ (1) = 2 2. dy + 5xy = 0 dx y(0) = 2 y(1) = 2 Para n = 2, definimos: d 2y dy a2 (x, y) 2 + a1 (x, y) + a0 (x, y)y = g(x) (1.27) dx dx  y(a) = y0  Condicoes de fronteira ¸˜ (1.28) y(b) = y1  com a, b ∈ I. Para n = 2, outras escolhas poss´veis de condicoes de fronteira s˜ o: ı ¸˜ a     y′ (a) = y  y(a) = y  y′ (a) = y 0 0 0 , ou (1.29)  y(b) = y  y′ (b) = y  y′ (b) = y 1 1 1 onde y0 , y1 s˜ o constantes arbitr´ rias. a a Seja:   α y(a) + β y′ (a) = γ 1 1 1 (1.30)  α y(b) + β y′ (b) = γ 2 2 2 Atencao, ter˜ o de ser sempre duas condicoes, dado ser dois a ordem do problema. ¸˜ a ¸˜ Nota 2 O Teoremema de Picard s´ se aplica a PVIs. o Vejamos:
  • 40. 30 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 Exemplo 1.24 Consideremos a equacao diferencial y′′ + 16y = 0, que tem ¸˜ como solucao geral y = c1 cos 4x + c2 sin 4x. De seguida consideramos diferentes ¸˜ condicoes de fronteira que nos permitir˜ o calcular os parˆ metros. ¸˜ a a   y(0) = 0 1. π  y = 0 2 ¸˜ Resolucao:   0 = c 1  0 = c sin 2π 2 temos ent˜o a solucao (0, c2 ) a ¸˜ ¸˜ ∴ o PVF tem um n´mero infinito de solucoes: u y = c2 sin 4t.   y(0) = 0 2. π  y = 0 8 ¸˜ Resolucao:   0 = c 1  0 = c 2 temos ent˜o a soluc˜o y = (0, 0) a ¸a ¸˜ u ∴ o PVF tem solucao ´nica.   y(0) = 0  y π 3. = 1 2 ¸˜ Resolucao:   0 = c1  1 = c2 sin π 2 Imposs´vel! ı
  • 41. ¸˜ 1.5. CAMPO DE DIRECCOES 31 ¸˜ ∴ o PVF n˜o tem solucao. a Ainda que ao longo de todo este curso nos debrucemos sobre o estudo/aprendizagem de m´ todos que nos permitem determinar a solucao de diferentes ED, o facto e que e ¸˜ ´ muitas s˜ o as equacoes diferenciais provenientes de aplicacoes para as quais n˜ o e a ¸˜ ¸˜ a ´ poss´vel obter uma solucao anal´tica. Dito de outro modo, muitas s˜ o as equacoes ı ¸˜ ı a ¸˜ diferenciais para as quais e imposs´vel obter uma solucao exprimıvel em termos de ´ ı ¸˜ funcoes elementares. ¸˜ Existem diferentes formas para abordar esta dificuldade, nomeadamente: 1. Optar por uma solucao num´ rica ¸˜ e 2. Proceder a um estudo qualitativo da ED, i.e., perceber como se comportam as solucoes da ED. Quest˜ es pertinentes deste t´ pico s˜ o por exemplo: ¸˜ o o a • As solucoes da equacao diferencil crescem ilimitadamente com x? ¸˜ ¸˜ • As solucoes da equacao diferencial tendem para zero? ¸˜ ¸˜ • As solucoes oscilam entre determinados valores? ¸˜ ¸˜ 1.5 Campo de direccoes Considere-se a equacao diferencial de ordem–1 na sua forma normal ¸˜ y′ = f (x, y). (1.31) Considerando determinadas condicoes, e uma condicao inicial, o PVI associado ¸˜ ¸˜ a equacao (1.31) tem uma solucao unica. Ou seja, existe uma unica funcao que ` ¸˜ ¸˜ ´ ´ ¸˜ satisfaz o PVI: y′ (x) = f (x, y) y(x0 ) = y0
  • 42. 32 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 com (x0 , y0 ) arbitr´ rio. A funcao y(x) e uma curva do plano–xy, da qual conhecemos a ¸˜ ´ a tangente em cada ponto. A tangente a curva y(x) em cada ponto (x, y) e dada por f (x, y). ` ´ Conhecemos ent˜ o a direccao da curva y(x) em cada ponto (x, y) do xy-plano em a ¸˜ que a funcao f (x, y) est´ definida. Chama-se campo de direccoes da equacao di- ¸˜ a ¸˜ ¸˜ ferencial, y′ = f (x, y), ao conjunto de todas estas direccoes no plano. O que e ¸˜ ´ interessante e o facto de podermos usar a nocao de campo de direccoes para tracar ´ ¸˜ ¸˜ ¸ um esboco da solucao duma equacao diferencial no plano-xy sem chegar a calcular ¸ ¸˜ ¸˜ essa mesma solucao. Se achar muito dif´cil resolva este mesmo problema para a ¸˜ ı equacao diferencial do exerc´cio seguinte. ¸˜ ı Exemplo 1.25 Retomemos o PVI do Exemplo 1.2 y′ = 2xy (1.32) y(0) = 1. Temos que y′ (x) > 0 se xy > 0 (i.e. quadrantes I e III) y′ (x) < 0 se xy < 0 (i.e. quadrantes II e IV). Para tracar o campo de direccoes, comecamos por determinar onde o coeficiente ¸ ¸˜ ¸ angular e constante: ´ y′ = c, c ∈ R. (1.33) Obtemos desta forma a fam´lia de curvas 2xy = c, onde c e uma constante, a que ı ´ chamamos isoclinas.
  • 43. ¸˜ 1.5. CAMPO DE DIRECCOES 33 Para o Exemplo ch1-1.5-ex25, calculamos de seguida as isoclinas: c = 0 ⇔ x = 0∨y = 0 1 c = 1 ⇔ 2xy = 1 ⇔ y = 2x 1 c = 2 ⇔ 2xy = 2 ⇔ y = x 1 c = −1 ⇔ 2xy = 1 ⇔ y = − 2x 1 c = −2 ⇔ 2xy = 2 ⇔ y = − x A Figura 1.5 mostra o campo de direccoes para esta equacao diferencial. ¸˜ ¸˜ 2 y(x) 1 0 -2 -1 0 1 2 x -1 -2 Figura 1.5: Campo de direccoes para a equacao diferencial (1.32). ¸˜ ¸˜ Para a solucao particular em causa, escolhemos a curva que passa no ponto (0, 1). ¸˜ Temos ent˜ o: a ¸˜ Observacao 5 e aconselh´ vel esbocar sempre um n´ mero razo´ vel de curvas, de ´ a ¸ u a forma a podemos ilustrar convenientemente o comportamento de todas as solucoes ¸˜ da equacao diferencial. ¸˜ Exemplo 1.26 Debrucemo-nos agora sobre o campo de direccoes da equacao ¸˜ ¸˜ dP log´stica do Exemplo 1.7, ı = P (β − δ P) , onde β e δ s˜ o constantes positivas. a dt ¸˜ Resolucao: No Exemplo 1.7 determinamos a soluc˜o desta equac˜o ¸a ¸a
  • 44. 34 ´ CAPITULO 1. ED DE ORDEM–1 2 y 1 0 -2 -1 0 1 2 x -1 -2 Figura 1.6: Uma solucao de (1.32). ¸˜ diferencial: β P(t) = . (1.34) β δ+ − δ e−β t P(0) ` semelhanca do que aconteceu no exemplo anterior, ´ poss´vel A ¸ e ı determinar o campo de direccoes desta equac˜o diferencial ¸˜ ¸a sem a resolver. Dado que as constantes β e δ s˜o positivas, tornam-se eviden- a tes os seguintes factos: P′ < 0 se P < 0 ∨ P > β /δ ; P′ > 0 se 0 < P < β /δ ; P′ = 0 se P = 0 ∨ P = β /δ ; A Figura 1.7 mostra o campo de direcc˜es para esta equacao ¸o ¸˜ diferencial. Repare que toda a solucao tal que P(0) > 0 tende para o valor ¸˜ β /δ , ou seja a capacidade de suporte. J´ tinha- mos chegado a ¸˜ a esta conclus˜o antes, quando calculamos o valor da solucao a quando t → ∞. Na Figura 1.8 mostram-se algumas solucoes: ¸˜