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ANÁLISE DE APLICABILIDADE DO SISTEMA LAST PLANNER
EM PROJETO DE TELECOMUNICAÇÕES: ESTUDO DE CASO
SANTORO, José Renato (1); PICCHI, Flávio A. (2)
(1) Mestrando em Engenharia Civil, UNICAMP, jrsantoro@gmail.com
(2) Prof. Doutor em Engenharia Civil, UNICAMP, fpicchi@lean.org.br,
RESUMO
O crescimento do setor de telecomunicações aliado à fatores de fusões e aquisições acentuaram a busca
por métodos de gerenciamento de projetos. A metodologia mais utilizada atualmente é a proposta pelo
Project Management Institute (PMI), considerada superada por autores da Construção Civil, Koskela e
Howell. Tais autores trouxeram conceitos do Sistema Toyota de Produção e criaram o Lean Construction.
Em contribuição ao Lean Construction, a ferramenta Last Planner gera maior controle dos prazos da obra
e diminui as incertezas do processo.
Este trabalho tem como propósito realizar um estudo de caso avaliando o potencial de aplicabilidade do
Sistema Last Planner em um projeto de Telecomunicações de grande porte em que atualmente utiliza-se o
método PMI. O estudo foi estruturado analisando: escopo do projeto, metodologia de gerenciamento de
prazo aplicada e os requisitos para aplicação do Last Planner. Nos resultados, verifica-se que um
cronograma inicial macro, tratamento do cronograma em três níveis, formação de backlog de atividades e
um plano semanal bem estruturado, todos eles adaptados ao escopo do projeto, contribuem para proteção
de atividades importantes como janelas, em oposição ao processo anterior, que utilizava um cronograma
geral e as atividades eram simplesmente reprogramadas no caso de atrasos. Como contribuição, o artigo
abre a possibilidade de aplicar o Sistema Last Planner em um escopo diferente da Construção Civil.
Palavras-chave: Construção enxuta, Last Planner, Telecomunicações, Gerenciamento de Tempo
ABSTRACT
The growth of the telecommunications industry coupled with mergers and acquisitions factors
accentuated the search for Project Managemen methods. The most common method used today is the one
proposed by the Project Management Institute (PMI), considered obsolete by the authors of Construction,
Koskela and Howell. These authors brought the concepts of the Toyota Production System and created
the Lean Construction. In contribution to the Lean Construction, Last Planner System generates greater
control of the periods of work and reduces process uncertain.
This study aims to realize a case study evaluating the potential of applicability of Last Planner System on
a telecommunication project that currently uses PMI method.. The study was structured considering:
project scope, time management methodology applied and the requirements for implementation of Last
Planner. As results, was verified that a initial macro schedule, treatment of the schedule in three level,
development of backlog of activities and a well structured half-yearly plan, all of them adapted to the
project scope, contribute to shield the important activities as integration windows.
Keywords: Lean Construction, Last Planner, Telecommunication, Time Management
1 INTRODUÇÃO
A evolução maior do gerenciamento de projetos se deu nos últimos anos, embora
Keeling (2002) cita que projetos têm sido realizados desde a Idade Antiga. Eram
relacionados a poder, religião ou construção de monumentos grandiosos. Custo e prazo
não estavam atrelados ao sucesso. Nos últimos anos a disciplina de Gerenciamento de
Projetos tem ganhado destaque pela proposta de coordenação e controle embutida, que
se alinha com a tendência do mercado de ação ágil a provocações externas (KATE,
2000).
Neste contexto, as organizações buscam atender as necessidades do seu mercado
consumidor, num prazo menor, utilizando menos recursos e oferecendo produtos de
maior qualidade. O Gerenciamento de Tempo é uma das mais visíveis áreas do
Gerenciamento de Projetos, e tem como objetivo a conclusão do projeto dentro do prazo
estabelecido. Vargas (2003) diz que um projeto é considerado bem-sucedido quando foi
concluído dentro do prazo e do orçamento previsto e com menor alteração possível de
escopo, utilizando eficientemente os recursos (materiais e pessoas), atingindo a
qualidade e a performance desejada e sendo aceito sem restrições pelo cliente.
Atualmente duas metodologias são amplamente aplicadas em projetos para fins de
gerenciamento de prazo. O PMBoK Guide, publicado pelo Project Management
Institute (PMI), compõe um corpo de conhecimento reconhecido pelo mercado como as
melhores práticas em gerenciamento de projetos e traz a visão tradicional de
gerenciamento. O guia divide a disciplina em nove áreas de conhecimento: integração,
escopo, prazo, custos, qualidade, recursos humanos, comunicação, risco e aquisições.
Segundo o guia, o pilar do gerenciamento é formado por prazo, custo e tempo.
Koskela e Howell (2002) consideram a metodologia de gerenciamento de projetos
proposta pelo PMI como superada, pelos altos índices de falhas ainda observados e por
não propor uma teoria explícita. Os autores trouxeram os conceitos do Sistema Toyota
de Produção (Lean Production) para os projetos de Construção Civil, criando o
chamado Lean Construction, metodologia na qual os recursos são otimizados pela
eliminação de atividades que não agregam valor para o cliente. Em 1997, em
colaboração à mentalidade enxuta, Ballard criou a ferramenta Last Planner para controle
de prazo dos projetos de construção civil. O Last Planner gera um maior controle dos
prazos da obra, e reduz as barreiras à execução, diminuindo as incertezas do processo.
Segundo Kerzner (2002), o setor de telecomunicações, progrediu nos últimos anos mais
do que outros setores em dez anos. Fatores como fusões e legislação, todos associados à
competitividade e necessidade das empresas, acentuaram a busca pela disciplina de
gerenciamento de projetos e consequente aumento do uso da proposta do PMI.
Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise do potencial de viabilidade da
ferramenta Last Planner em um grande projeto de telecomunicações, no qual se utiliza o
processo de gerenciamento conforme descrito no PMBoK Guide. Assim, analisa-se o
horizonte de aplicação do Last Planner para projetos de diferentes escopos.
2 GERENCIAMENTO DE PRAZO SEGUNDO O PMBoK GUIDE
O gerenciamento de tempo (ou prazo) na visão do PMI (PMBOK Guide 2008)
identifica e descreve seis processos, compreendidos em três fases: planejamento,
execução e controle. A fase de planejamento é caracterizada pela geração e implantação
de planos, característico de um modelo denominado Gerenciamento como
Planejamento. A fase de execução é realizada pela expedição de ordens das tarefas que
serão executadas aos responsáveis pelos serviços e pela mensuração das variações em
relação à linha de base. A fase de controle é feita com base no modelo termostato, em
que existe um padrão de execução, medida pela saída (output). A possível variação do
valor entre o padrão e a medida do output é usada para corrigir o processo e então o
padrão de execução pode ser novamente estabelecido. O processo é detalhado nos
passos seguintes:
1. Definição da atividade
2. Sequenciamento de atividades
3. Estimativa de recursos da atividade
4. Estimativa da duração da atividade
5. Desenvolvimento do cronograma
6. Controle do cronograma
Em corrente contrária ao PMBoK, Koskela e Howell (2002) comparam o modelo de
controle a um modelo de controle feedback, em que a entrada é inserida num processo, e
a saída é medida e corrigida via realimentação. As mudanças são realizadas para que a
performance pré-estabelecida no plano, na meta, seja atingida. Assim, a falha não seria
prevenida, ela já é assumida como natural, bem como os desvios em cronograma. Os
autores também observaram que a maioria dos projetos fazia a tentativa de “quebrar”
atividades em itens controláveis, oferecendo estimativas de recursos e tempo. E nenhum
projeto do mundo real funciona assim. Existem pacotes de trabalho implícitos, não
seqüenciais envolvidos, que não podem ser definidos programados ou avaliados.
Adicionalmente, não considera gestão de variações e mitigações.
3 LEAN CONSTRUCTION
A origem do método Lean Construction está no Sistema Toyota de Produção,ou
Produção Enxuta, criado por Taichii Ohno da Toyota na recuperação da economia
japonesa pós Segunda Guerra Mundial.Este sistema tem a filosofia de utilizar menor
quantidade de tudo que se relaciona à produção em massa exigindo metade dos esforços
para desenvolver produtos na metade do tempo (WOMACK, JONES & ROSS, 1992).
De acordo com Koskela (1992), o principal foco da Produção Enxuta é eliminar as
atividades que não agregam valor – atividades que apenas consomem tempo, recursos
ou espaço e não contribuem para atender os principais requisitos dos clientes.
A Construção Enxuta é a tradução dos conceitos da Produção Enxuta para o
gerenciamento de projetos de construção civil. Inaugurou em 1992 com a publicação da
Tese de Lauri Koskela, “Application of the new production philosophy to construction”.
Dentro os conceitos de Lean Construction estão (BALLARD, 2000): redução das
parcelas que não agregam valor; redução do tempo de ciclo (lead time); redução da
variabilidade, volatilidade do sistema de produção como todo; redução de estoque;
simplificação por meio da minimização do número de pessoas, partes e dependências;
aumento da flexibilidade na execução do produto; aumento da transparência do
processo. Trata-se de uma filosofia gerencial ampla, baseada fundamentalmente na
eliminação de processos que não agregam valor à obra, na manutenção de um fluxo
produtivo contínuo e no desenvolvimento simultâneo de atividades.
3.1 O SISTEMA LAST PLANNER
O sistema Last Planner, criado por Ballard em 2000, objetiva a proteção da produção
contra as incertezas. Assim, é aplicado em projetos de construção de alta instabilidade e
variação. A denominação deve-se à ação do ultimo planejador na execução.
Este método concentra-se no planejamento detalhado logo antes da execução e
considera os níveis anteriores de planejamento (BALLARD, 2000). O Last Planner
distingue e classifica as tarefas planejadas: as que devem, as que podem e as que serão
feitas. Na classificação “devem”, incluem-se as tarefas empurradas do planejamento de
longo prazo. A definição das tarefas viáveis leva em conta as informações do que deve
ser feito – levantadas a partir de planejamentos de médio prazo, o look-ahead - e
daquilo que pode ser feito.
O método indica dentro do planejamento de uma semana, levantem-se as capacidades
de produção disponíveis. Então, os pacotes de trabalho (tarefas) devem ser definidos.
Este é o chamado planejamento look-ahead, em que o controle dos fluxos de trabalho
entre as unidades de produção é feito pela identificação e remoção sistemática das
restrições (BALLARD, 1997). Assim, busca-se a redução da variação dos fluxos de
trabalho à montante (KOSKELA, 1999). Permite que dentro de uma semana tenha um
grau de detalhamento e confiabilidade alto em relação às tarefas de produção.
3.1.1 TEORIA DE PLANEJAMENTO NO LAST PLANNER
No planejamento de médio prazo, os pré-requisitos das próximas atividades são
transferidos da modalidade devem para podem. Conforme Ballard (1999) sistema é
puxado e serve de instrumento para assegurar que todos os pré-requisitos estão
disponíveis para a atribuição da tarefa. No gerenciamento de projeto tradicional, o
plano empurra as tarefas para a execução; só a modalidade devem é reconhecida.
Koskela e Howell (2002c) interpretam que o planejamento de médio prazo (lookahead
planning) dirige-se à preparação do planejamento e da situação. A modalidade devem
significa que as tarefas estão no plano, e podem representa aquelas tarefas que
realmente serão possíveis de se iniciar naquela determinada situação. Assim, o
planejamento de médio prazo apóia a visão da ação humana situacionada – uma
hipótese fundamental do Gerenciamento como Organização. Há reconhecimento
também da importância do planejamento de longo prazo para a ação – como defendido
no Gerenciamento como Planejamento (KOSKELA e HOWELL, 2002c).
3.1.2 TEORIA DE EXECUÇÃO DO LAST PLANNER
Reuniões semanais são realizadas para atribuição de tarefas. O gerente juntamente com
os sub-contratados e as equipes da obra decidem sobre as tarefas que serão executadas
na semana seguinte. O princípio do Last Planner é ter atribuições sólidas e respeitosas
aos pré-requisitos. O trabalho não deve começar até que todos os itens requeridos para
sua finalização estejam disponíveis. As atividades que estiverem na categoria podem
são transferidas para a categoria serão. As equipes informam o término das tarefas
atribuídas (BALLARD, 2000).
Naturalmente, a qualidade das atribuições das atividades afeta a produtividade do grupo
direto de execução. A comunicação previsível do trabalho produzida pela atribuição da
atividade é importante para os executores do trabalho manual nas obras e para o
desempenho total do projeto (MACOMBER e HOWELL, 2003).
Os mesmos autores afirmam que o Last Planner é entendido como um sistema de
controle distribuído (planejamento do trabalho) da produção, que aumenta a
confiabilidade do fluxo de trabalho. Todos que participam do sistema têm a
responsabilidade de dizer “não”, considerado melhor que deixar avançar um plano ou
uma atribuição defeituosa e sem o conhecimento dos critérios específicos. O trabalho
físico acontece quando as pessoas comprometem-se com o seu término (FLORES,
1982).
3.1.3 TEORIA DE CONTROLE NO LAST PLANNER
No Last Planner uma medida chamada de percentual de planos concluídos (PPC) é
utilizada (BALLARD, 2000). Mede a taxa de realização de atribuições, e na
investigação das causas.
3.1.4 REQUISITOS PARA APLICAÇÃO DO LAST PLANNER
Villas-Bôas (2004) elenca os seguintes requisitos operacionais para aplicação do
Sistema Last Planner:
- Realização de planejamento de longo, curto e médio prazo
- Especificação de Equipes
- Controle de problemas
4. ESTUDO DE CASO
4.1 SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES
Onze anos após o processo de privatização, com tantas operadoras de telefonia fixa e
móvel, o Brasil conta com aproximadamente 6,5 milhões de celulares 3G e mais de 170
milhões de usuários de telefonia móvel (dados do terceiro trimestre de 2009). São
gerados mais de 200 mil empregos diretos e indiretos e cerca de 80% do total faturado
destina-se às atividades prestadoras de serviços de telecomunicações. A privatização do
setor, embora muito polêmica, possibilitou a expansão dos serviços prestados e a
melhoria na qualidade dos mesmos. A Receita Operacional Bruta de R$ 180,80 bilhões
em 2009 foi o valor mais alto da história do setor de telecomunicações e equivaleu a
5,7% do PIB. No final do primeiro trimestre de 2010, os serviços de telecomunicações
eram prestados para 240,2 milhões de assinantes, um aumento de 13,1% em relação aos
212,4 milhões do final do primeiro trimestre de 2009.
4.2 AS EMPRESAS ENVOLVIDAS NO PROJETO
A empresa contratada para implantação do projeto, a integradora, é um provedor
internacional de soluções integradas em tecnologia da informação e comunicação. Ela
reconhece a competência em gerenciamento de projetos como fundamental para os
objetivos de seus negócios, e busca pela excelência. Os processos de gerenciamento tem
como referência o PMBoK Guide (dados do site da empresa).
O contratante (ou cliente) é uma operadora de telefonia móvel no Brasil, com atuação
também na América Latina. Atualmente a operadora possui cobertura 3G em mais de
280 cidades. Tem aproximadamente 25% de participação no mercado brasileiro (dados
da Telebrasil).
As duas empresas citadas acima são de os principais envolvidos no projeto. Temos
também as contratadas: fabricante multinacional de equipamentos de rede, fornecedores
nacionais de materiais de instalação, empresas fornecedoras de serviços de instalação e
empresas de logística nacional e internacional.
4.3 ESCOPO DO PROJETO ANALISADO
O projeto consiste na expansão da rede LAN da operadora em 36 sites. O projeto tem
uma grande importância pois aumenta a capacidade da rede, podendo assim a operadora
absorver mais assinantes na sua rede de dados e voz. O projeto é considerado grande
pelos critérios que envolvem a Receita Operacional Total. Individualmente, o escopo de
cada site é considerado simples pelo time técnico. O cronograma linha de base tem
duração prevista de 11 meses.
O projeto começa com a importação de equipamentos de rede LAN dos Estados Unidos.
São transportados até o aeroporto de Miami, embarcados em Manaus, desembaraçados,
faturados e entregues para o cliente final. A instalação dos equipamentos, bem como
fornecimento de racks, cabeamento de rede e energia fazem parte do escopo da
contratada. Os materiais de instalação são comprados no mercado nacional, via licitação
com os fornecedores homologados pela integradora. Estas atividades englobam o item
“Fornecimento” da Estrutura Analítica de Projeto (EAP), mostrada na figura 2.
Figura 2: EAP (Estrutura Analítica de Projeto) da Expansão LAN analisada. São 36 sites
divididos em 8 regionais pelo país. O “Site Modelo” apresenta a EAP detalhada, replicada para
os demais.
A desinstalação de equipamentos antigos, que serão substituídos também faz parte do
escopo, além da configuração e migração dos novos equipamentos fornecidos. A etapa
final consiste em aceitação, na qual a operadora verifica se logicamente (relativo à
configuração) e fisicamente está tudo conforme contrato, para liberação do pagamento.
4.4 METODOLOGIA DE GERENCIAMENTO DE PRAZO DO PROJETO
A metodologia de gerenciamento de projetos adotada pela empresa integradora é toda
baseada no PMBoK Guide, bem como o gerenciamento de prazo, conforme descrito
abaixo:
Elaboração do cronograma linha de base:
As informações de comercialização (propostas, contrato, edital, etc) são entradas para
identificação do escopo e consequente elaboração da EAP pelo Coordenador Técnico e
pelo Planejador, assim que o projeto é transferido da área comercial para área de
operações, responsável pela implementação. Em seguida há o sequenciamento das
atividades e da duração das atividades, e estimativa de recursos. Com isso, é possível
preparar um cronograma e lista de marcos, os quais serão validados pelo cliente. Caso
seja necessário, as etapas serão revistas. Com o andamento do projeto, o cronograma é
atualizado. A empresa utiliza também o método do caminho crítico para análise. É
importante notar que neste momento o cronograma completo é elaborado.
Figura 3: Fluxograma do processo de gerenciamento de prazo da empresa integradora. Segue o
processo descrito pelo PMBoK Guide.
Acompanhamento do projeto/Comunicação com o cliente e interna:
As prioridades das atividades são tratadas semanalmente em reuniões envolvendo o
time de gerenciamento de projeto da operadora com a coordenação técnica, planejadores
e a gerência da integradora. Além de pendências, responsabilidades, prioridades, são
tratadas as janelas de manutenção, que ocorrem de madrugada, período em que o
tráfego é menor, diminuindo o impacto para o cliente final caso a haja algum problema.
Invariavelmente uma janela de manutenção tem impacto no sistema, por tratar-se de
uma atualização ou manutenção que altera parâmetros e arquivos, os quais são
“desligados” para serem alterados. Como produto da reunião, uma ata é emitida pela
integradora e divulgada para todas as partes envolvidas. O cronograma atualizado é
enviado semanalmente pelos planejadores da integradora.
Quadro 1: Planilha de Atividades do projeto de Expansão LAN. Linhas em cinza representam
janelas confirmadas. Linhas em vermelho representam janelas canceladas. A planilha também
traz o profissional que realizará a janela.
As janelas são programadas na chamada “Planilha de Atividades”, duas semanas antes
de ela acontecer. As janelas são confirmadas antes da realização. Caso haja algum
impedimento, ela é reprogramada no cronograma e na própria planilha.
Internamente realiza-se uma reunião semanal do time da integradora para tratar os itens
críticos do projeto.
4.5 REQUISITOS PARA APLICAÇÃO DO LAST PLANNER/DISCUSSÕES
O referido projeto trata tem duração de quase um ano, que pode ser considerado de
longo prazo. Além disso, uma equipe exclusiva dedica-se ao projeto, por ser altamente
estratégico para integradora. A equipe é formada por um gerente de projeto, um
coordenador técnico, dois planejadores, profissionais de suprimentos (importação,
compras nacionais, compras de serviços), técnicos de instalação e técnicos de redes
(responsáveis por configurações).
As atividades críticas são controladas a parte do cronograma, e são tratadas nas reuniões
semanais. Com isso, com base no item 3.1.4 deste artigo, o projeto atende, numa
primeira análise, os requisitos para aplicação do Last Planner.
Para que o Sistema Last Planner seja aplicado de forma completa, algumas
modificações no processo devem ocorrer:
1) O cronograma inicial do projeto deve ser macro.
No processo adotado pelo projeto, o cronograma não é detalhado como no plano
semanal, mas também tem maior detalhamento em relação a um cronograma macro.
Trabalhando com um cronograma macro, evita-se o desperdício de planejar tarefas
distantes da atualidade de alto grau de incerteza.
2) O tratamento do plano deve ser feito em três níveis, que representa uma plena
mudança na rotina dos planejadores. O cronograma linha-de-base é substituído por 3
planos, descritos abaixo
Plano macro (também chamado de master)- conform descrito acima, elaborado a partir
da revisão do plano de trabalhos segundo sistema pull.
Plano de Execução a 3 Semanas (Lookahead Plan) – plano de proteção da produção de
visão de 3 semanas, elaborado com base nos objetivos do plano de fase mas que é
construído somente com as atividades cujos constrangimentos estão solucionados e
estando os executantes comprometidos a cumprir as datas estabelecidas. Este será o
buffer de atividades. Atividades de suprimentos (aquisição de materiais, elaboração de
requisição de compras pelo planejador, acompanhamento de entrega), pedido de acesso
aos sites, comunicação com equipe subcontratada fazem parte deste plano.
Plano Semanal de Trabalhos (WWP – Weekly Work Plan) - plano retirado diretamente
do plano de antevisão mas com visão de uma semana, onde são apontadas todas as
atividades a serem concluídas e a decorrer na respectiva semana. Funciona como
diretiva de trabalho da gestão para a linha de produção. As atividades que tem impacto
direto no projeto compõe este plano, tais como configuração de equipamentos, teste de
scripts, lançamento de cabos, teste de conexões físicas, certificação de cabeamento.
3) Na reunião semanal, deve-se tratar o plano de curto prazo da próxima semana,
definindo-se responsabilidade e prazo para término. Todos que participam do sistema
têm a responsabilidade de dizer “não”, considerado melhor que deixar avançar um plano
ou uma atribuição defeituosa e sem o conhecimento dos critérios específicos. Além
disso, a equipe deve acostumar-se a efetuar um planejamento diário, em oposição a
“empurrar” as próximas atividades do cronograma. É uma mudança cultural, de
mentalidade que exige
4) Na reunião semanal, deve-se tratar o lookahead, decompondo o cronograma master
em tarefas mais detalhadas. A regra do lookahead diz que só devem ser programadas
para a próxima semana atividades que realmente estejam preparadas para a execução
(tarefas em potencial). Se o planejador não estiver certo disso, a tarefa pode ser mantida
no lookahead por mais tempo.
5) Para selecionar as tarefas as serem realizadas, precisa-se de um processo para
formação do backlog trabalhável. Este processo no gerenciamento de prazo atual é
inexistente. Sugere-se a definição do backlog como durante a reunião semanal entre a
operadora e a integradora, visando definição de prioridades.
6) São feitas algumas recomendações para estruturação dos planos semanais
(BALLARD, 2000):
- Clara definição das tarefas;
- Atividades colocadas na sequência correta;
- As atividades do plano devem ser todas completadas, assim elas devem estar bem
dimensionadas;
4.6 CONCLUSÃO
Com a implantação do sistema Last Planner, espera-se, de acordo com os resultados da
literatura (BALLARD, 2000), uma maior confiabilidade do planejamento (percentual de
tarefas completadas).
A abordagem trazida pelo Last Planner traz uma nova perspectiva em relação ao
gerenciamento de prazo atualmente utilizado. Os atrasos são simplesmente
“empurrados” no cronograma atual, enquanto a metodologia traz proteção contra
atrasos. Acredita-se que método tenha grande influência no projeto, principalmente
envolvendo as atividades de janela. Janelas canceladas ou fallbacks trazem grande
desconforto para operadora e representam ineficiência, podendo ter impacto na
capacidade da rede, caso ela esteja alta. O sistema “protegido” obriga que todos os pré-
requisitos para realização da janela sejam concluídos, evitando assim o fallback. No
caso de fallback ou perda de janela, a mesma só pode ser reagendada para um prazo
mínimo de duas semanas (processo da operadora).
De forma diferente dos projetos de construção civil, em que a fase de “projetação” é
distante em tempo da construção, o projeto de telecomunicações, expansão LAN traz
uma proximidade em tempo das atividades de planejamento técnico (que seria
equivalente à “projetação” na CC). O impacto do sistema “protegido” tende a ser maior
neste caso.
Como próximo passo sugere-se a implantação efetiva do sistema e elaboração de um
estudo de caso. Vale ressaltar o uso somente do Sistema Last Planner não garante que o
projeto seja caracterizado “Lean”, isso seria apenas a aplicação pontual de uma
ferramenta do sistema. O Sistema Lean é muito mais do que aplicação de ferramentas, é
uma filosofia gerencial ampla baseada na eliminação de tarefas que não agregam valor
ao cliente.
Em conclusão, o artigo revela um alto potencial de aplicabilidade da ferramenta para o
projeto analisado, abrindo a possibilidade de expansão do uso do Last Planner para
outros escopos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Lean Construction, Julho 1997.
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Projetos/Engenharia Simultânea: organização, planejamento, programação, PERT/CPM,
PERT/custo, Controle Direção. São Paulo: Atlas, 1999.
KATE, J. Program Office: An Enterprise View. EUA, 2000.
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KEELING, R. Gestão de projetos: uma abordagem global. Tradução Cid Knipel Moreira.
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KOSKELA, L. e HOWELL, G. The underlying theory of project management is obsolete.
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KOSKELA L. e HOWELL G. The Theory of Project Management: Explanation to Novel
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MACOMBER, H. e Howell, G. A. (2003). Linguistic Action: Contributing to the Theory of
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MENDONÇA, P. www.guiandotelecom.com.br/artigos/o-brasil-apos-a-privatizacao-das-
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VILLAS-BÔAS, B.T., Modelagem de um Programa Computacional para o Sistema Last
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VARGAS, R.V. Gerenciamento de Projetos: Estabelecendo diferenciais competitivos. 5ª ed.
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Aplicabilidade do Last Planner em projeto de telecom

  • 1. ANÁLISE DE APLICABILIDADE DO SISTEMA LAST PLANNER EM PROJETO DE TELECOMUNICAÇÕES: ESTUDO DE CASO SANTORO, José Renato (1); PICCHI, Flávio A. (2) (1) Mestrando em Engenharia Civil, UNICAMP, jrsantoro@gmail.com (2) Prof. Doutor em Engenharia Civil, UNICAMP, fpicchi@lean.org.br, RESUMO O crescimento do setor de telecomunicações aliado à fatores de fusões e aquisições acentuaram a busca por métodos de gerenciamento de projetos. A metodologia mais utilizada atualmente é a proposta pelo Project Management Institute (PMI), considerada superada por autores da Construção Civil, Koskela e Howell. Tais autores trouxeram conceitos do Sistema Toyota de Produção e criaram o Lean Construction. Em contribuição ao Lean Construction, a ferramenta Last Planner gera maior controle dos prazos da obra e diminui as incertezas do processo. Este trabalho tem como propósito realizar um estudo de caso avaliando o potencial de aplicabilidade do Sistema Last Planner em um projeto de Telecomunicações de grande porte em que atualmente utiliza-se o método PMI. O estudo foi estruturado analisando: escopo do projeto, metodologia de gerenciamento de prazo aplicada e os requisitos para aplicação do Last Planner. Nos resultados, verifica-se que um cronograma inicial macro, tratamento do cronograma em três níveis, formação de backlog de atividades e um plano semanal bem estruturado, todos eles adaptados ao escopo do projeto, contribuem para proteção de atividades importantes como janelas, em oposição ao processo anterior, que utilizava um cronograma geral e as atividades eram simplesmente reprogramadas no caso de atrasos. Como contribuição, o artigo abre a possibilidade de aplicar o Sistema Last Planner em um escopo diferente da Construção Civil. Palavras-chave: Construção enxuta, Last Planner, Telecomunicações, Gerenciamento de Tempo ABSTRACT The growth of the telecommunications industry coupled with mergers and acquisitions factors accentuated the search for Project Managemen methods. The most common method used today is the one proposed by the Project Management Institute (PMI), considered obsolete by the authors of Construction, Koskela and Howell. These authors brought the concepts of the Toyota Production System and created the Lean Construction. In contribution to the Lean Construction, Last Planner System generates greater control of the periods of work and reduces process uncertain. This study aims to realize a case study evaluating the potential of applicability of Last Planner System on a telecommunication project that currently uses PMI method.. The study was structured considering: project scope, time management methodology applied and the requirements for implementation of Last Planner. As results, was verified that a initial macro schedule, treatment of the schedule in three level, development of backlog of activities and a well structured half-yearly plan, all of them adapted to the project scope, contribute to shield the important activities as integration windows. Keywords: Lean Construction, Last Planner, Telecommunication, Time Management 1 INTRODUÇÃO A evolução maior do gerenciamento de projetos se deu nos últimos anos, embora Keeling (2002) cita que projetos têm sido realizados desde a Idade Antiga. Eram relacionados a poder, religião ou construção de monumentos grandiosos. Custo e prazo não estavam atrelados ao sucesso. Nos últimos anos a disciplina de Gerenciamento de Projetos tem ganhado destaque pela proposta de coordenação e controle embutida, que
  • 2. se alinha com a tendência do mercado de ação ágil a provocações externas (KATE, 2000). Neste contexto, as organizações buscam atender as necessidades do seu mercado consumidor, num prazo menor, utilizando menos recursos e oferecendo produtos de maior qualidade. O Gerenciamento de Tempo é uma das mais visíveis áreas do Gerenciamento de Projetos, e tem como objetivo a conclusão do projeto dentro do prazo estabelecido. Vargas (2003) diz que um projeto é considerado bem-sucedido quando foi concluído dentro do prazo e do orçamento previsto e com menor alteração possível de escopo, utilizando eficientemente os recursos (materiais e pessoas), atingindo a qualidade e a performance desejada e sendo aceito sem restrições pelo cliente. Atualmente duas metodologias são amplamente aplicadas em projetos para fins de gerenciamento de prazo. O PMBoK Guide, publicado pelo Project Management Institute (PMI), compõe um corpo de conhecimento reconhecido pelo mercado como as melhores práticas em gerenciamento de projetos e traz a visão tradicional de gerenciamento. O guia divide a disciplina em nove áreas de conhecimento: integração, escopo, prazo, custos, qualidade, recursos humanos, comunicação, risco e aquisições. Segundo o guia, o pilar do gerenciamento é formado por prazo, custo e tempo. Koskela e Howell (2002) consideram a metodologia de gerenciamento de projetos proposta pelo PMI como superada, pelos altos índices de falhas ainda observados e por não propor uma teoria explícita. Os autores trouxeram os conceitos do Sistema Toyota de Produção (Lean Production) para os projetos de Construção Civil, criando o chamado Lean Construction, metodologia na qual os recursos são otimizados pela eliminação de atividades que não agregam valor para o cliente. Em 1997, em colaboração à mentalidade enxuta, Ballard criou a ferramenta Last Planner para controle de prazo dos projetos de construção civil. O Last Planner gera um maior controle dos prazos da obra, e reduz as barreiras à execução, diminuindo as incertezas do processo. Segundo Kerzner (2002), o setor de telecomunicações, progrediu nos últimos anos mais do que outros setores em dez anos. Fatores como fusões e legislação, todos associados à competitividade e necessidade das empresas, acentuaram a busca pela disciplina de gerenciamento de projetos e consequente aumento do uso da proposta do PMI. Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise do potencial de viabilidade da ferramenta Last Planner em um grande projeto de telecomunicações, no qual se utiliza o processo de gerenciamento conforme descrito no PMBoK Guide. Assim, analisa-se o horizonte de aplicação do Last Planner para projetos de diferentes escopos. 2 GERENCIAMENTO DE PRAZO SEGUNDO O PMBoK GUIDE O gerenciamento de tempo (ou prazo) na visão do PMI (PMBOK Guide 2008) identifica e descreve seis processos, compreendidos em três fases: planejamento, execução e controle. A fase de planejamento é caracterizada pela geração e implantação de planos, característico de um modelo denominado Gerenciamento como Planejamento. A fase de execução é realizada pela expedição de ordens das tarefas que serão executadas aos responsáveis pelos serviços e pela mensuração das variações em relação à linha de base. A fase de controle é feita com base no modelo termostato, em que existe um padrão de execução, medida pela saída (output). A possível variação do valor entre o padrão e a medida do output é usada para corrigir o processo e então o padrão de execução pode ser novamente estabelecido. O processo é detalhado nos passos seguintes:
  • 3. 1. Definição da atividade 2. Sequenciamento de atividades 3. Estimativa de recursos da atividade 4. Estimativa da duração da atividade 5. Desenvolvimento do cronograma 6. Controle do cronograma Em corrente contrária ao PMBoK, Koskela e Howell (2002) comparam o modelo de controle a um modelo de controle feedback, em que a entrada é inserida num processo, e a saída é medida e corrigida via realimentação. As mudanças são realizadas para que a performance pré-estabelecida no plano, na meta, seja atingida. Assim, a falha não seria prevenida, ela já é assumida como natural, bem como os desvios em cronograma. Os autores também observaram que a maioria dos projetos fazia a tentativa de “quebrar” atividades em itens controláveis, oferecendo estimativas de recursos e tempo. E nenhum projeto do mundo real funciona assim. Existem pacotes de trabalho implícitos, não seqüenciais envolvidos, que não podem ser definidos programados ou avaliados. Adicionalmente, não considera gestão de variações e mitigações. 3 LEAN CONSTRUCTION A origem do método Lean Construction está no Sistema Toyota de Produção,ou Produção Enxuta, criado por Taichii Ohno da Toyota na recuperação da economia japonesa pós Segunda Guerra Mundial.Este sistema tem a filosofia de utilizar menor quantidade de tudo que se relaciona à produção em massa exigindo metade dos esforços para desenvolver produtos na metade do tempo (WOMACK, JONES & ROSS, 1992). De acordo com Koskela (1992), o principal foco da Produção Enxuta é eliminar as atividades que não agregam valor – atividades que apenas consomem tempo, recursos ou espaço e não contribuem para atender os principais requisitos dos clientes. A Construção Enxuta é a tradução dos conceitos da Produção Enxuta para o gerenciamento de projetos de construção civil. Inaugurou em 1992 com a publicação da Tese de Lauri Koskela, “Application of the new production philosophy to construction”. Dentro os conceitos de Lean Construction estão (BALLARD, 2000): redução das parcelas que não agregam valor; redução do tempo de ciclo (lead time); redução da variabilidade, volatilidade do sistema de produção como todo; redução de estoque; simplificação por meio da minimização do número de pessoas, partes e dependências; aumento da flexibilidade na execução do produto; aumento da transparência do processo. Trata-se de uma filosofia gerencial ampla, baseada fundamentalmente na eliminação de processos que não agregam valor à obra, na manutenção de um fluxo produtivo contínuo e no desenvolvimento simultâneo de atividades. 3.1 O SISTEMA LAST PLANNER O sistema Last Planner, criado por Ballard em 2000, objetiva a proteção da produção contra as incertezas. Assim, é aplicado em projetos de construção de alta instabilidade e variação. A denominação deve-se à ação do ultimo planejador na execução. Este método concentra-se no planejamento detalhado logo antes da execução e considera os níveis anteriores de planejamento (BALLARD, 2000). O Last Planner distingue e classifica as tarefas planejadas: as que devem, as que podem e as que serão feitas. Na classificação “devem”, incluem-se as tarefas empurradas do planejamento de longo prazo. A definição das tarefas viáveis leva em conta as informações do que deve ser feito – levantadas a partir de planejamentos de médio prazo, o look-ahead - e daquilo que pode ser feito.
  • 4. O método indica dentro do planejamento de uma semana, levantem-se as capacidades de produção disponíveis. Então, os pacotes de trabalho (tarefas) devem ser definidos. Este é o chamado planejamento look-ahead, em que o controle dos fluxos de trabalho entre as unidades de produção é feito pela identificação e remoção sistemática das restrições (BALLARD, 1997). Assim, busca-se a redução da variação dos fluxos de trabalho à montante (KOSKELA, 1999). Permite que dentro de uma semana tenha um grau de detalhamento e confiabilidade alto em relação às tarefas de produção. 3.1.1 TEORIA DE PLANEJAMENTO NO LAST PLANNER No planejamento de médio prazo, os pré-requisitos das próximas atividades são transferidos da modalidade devem para podem. Conforme Ballard (1999) sistema é puxado e serve de instrumento para assegurar que todos os pré-requisitos estão disponíveis para a atribuição da tarefa. No gerenciamento de projeto tradicional, o plano empurra as tarefas para a execução; só a modalidade devem é reconhecida. Koskela e Howell (2002c) interpretam que o planejamento de médio prazo (lookahead planning) dirige-se à preparação do planejamento e da situação. A modalidade devem significa que as tarefas estão no plano, e podem representa aquelas tarefas que realmente serão possíveis de se iniciar naquela determinada situação. Assim, o planejamento de médio prazo apóia a visão da ação humana situacionada – uma hipótese fundamental do Gerenciamento como Organização. Há reconhecimento também da importância do planejamento de longo prazo para a ação – como defendido no Gerenciamento como Planejamento (KOSKELA e HOWELL, 2002c). 3.1.2 TEORIA DE EXECUÇÃO DO LAST PLANNER Reuniões semanais são realizadas para atribuição de tarefas. O gerente juntamente com os sub-contratados e as equipes da obra decidem sobre as tarefas que serão executadas na semana seguinte. O princípio do Last Planner é ter atribuições sólidas e respeitosas aos pré-requisitos. O trabalho não deve começar até que todos os itens requeridos para sua finalização estejam disponíveis. As atividades que estiverem na categoria podem são transferidas para a categoria serão. As equipes informam o término das tarefas atribuídas (BALLARD, 2000). Naturalmente, a qualidade das atribuições das atividades afeta a produtividade do grupo direto de execução. A comunicação previsível do trabalho produzida pela atribuição da atividade é importante para os executores do trabalho manual nas obras e para o desempenho total do projeto (MACOMBER e HOWELL, 2003). Os mesmos autores afirmam que o Last Planner é entendido como um sistema de controle distribuído (planejamento do trabalho) da produção, que aumenta a confiabilidade do fluxo de trabalho. Todos que participam do sistema têm a responsabilidade de dizer “não”, considerado melhor que deixar avançar um plano ou uma atribuição defeituosa e sem o conhecimento dos critérios específicos. O trabalho físico acontece quando as pessoas comprometem-se com o seu término (FLORES, 1982). 3.1.3 TEORIA DE CONTROLE NO LAST PLANNER No Last Planner uma medida chamada de percentual de planos concluídos (PPC) é utilizada (BALLARD, 2000). Mede a taxa de realização de atribuições, e na investigação das causas.
  • 5. 3.1.4 REQUISITOS PARA APLICAÇÃO DO LAST PLANNER Villas-Bôas (2004) elenca os seguintes requisitos operacionais para aplicação do Sistema Last Planner: - Realização de planejamento de longo, curto e médio prazo - Especificação de Equipes - Controle de problemas 4. ESTUDO DE CASO 4.1 SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES Onze anos após o processo de privatização, com tantas operadoras de telefonia fixa e móvel, o Brasil conta com aproximadamente 6,5 milhões de celulares 3G e mais de 170 milhões de usuários de telefonia móvel (dados do terceiro trimestre de 2009). São gerados mais de 200 mil empregos diretos e indiretos e cerca de 80% do total faturado destina-se às atividades prestadoras de serviços de telecomunicações. A privatização do setor, embora muito polêmica, possibilitou a expansão dos serviços prestados e a melhoria na qualidade dos mesmos. A Receita Operacional Bruta de R$ 180,80 bilhões em 2009 foi o valor mais alto da história do setor de telecomunicações e equivaleu a 5,7% do PIB. No final do primeiro trimestre de 2010, os serviços de telecomunicações eram prestados para 240,2 milhões de assinantes, um aumento de 13,1% em relação aos 212,4 milhões do final do primeiro trimestre de 2009. 4.2 AS EMPRESAS ENVOLVIDAS NO PROJETO A empresa contratada para implantação do projeto, a integradora, é um provedor internacional de soluções integradas em tecnologia da informação e comunicação. Ela reconhece a competência em gerenciamento de projetos como fundamental para os objetivos de seus negócios, e busca pela excelência. Os processos de gerenciamento tem como referência o PMBoK Guide (dados do site da empresa). O contratante (ou cliente) é uma operadora de telefonia móvel no Brasil, com atuação também na América Latina. Atualmente a operadora possui cobertura 3G em mais de 280 cidades. Tem aproximadamente 25% de participação no mercado brasileiro (dados da Telebrasil). As duas empresas citadas acima são de os principais envolvidos no projeto. Temos também as contratadas: fabricante multinacional de equipamentos de rede, fornecedores nacionais de materiais de instalação, empresas fornecedoras de serviços de instalação e empresas de logística nacional e internacional. 4.3 ESCOPO DO PROJETO ANALISADO O projeto consiste na expansão da rede LAN da operadora em 36 sites. O projeto tem uma grande importância pois aumenta a capacidade da rede, podendo assim a operadora absorver mais assinantes na sua rede de dados e voz. O projeto é considerado grande pelos critérios que envolvem a Receita Operacional Total. Individualmente, o escopo de cada site é considerado simples pelo time técnico. O cronograma linha de base tem duração prevista de 11 meses. O projeto começa com a importação de equipamentos de rede LAN dos Estados Unidos. São transportados até o aeroporto de Miami, embarcados em Manaus, desembaraçados, faturados e entregues para o cliente final. A instalação dos equipamentos, bem como
  • 6. fornecimento de racks, cabeamento de rede e energia fazem parte do escopo da contratada. Os materiais de instalação são comprados no mercado nacional, via licitação com os fornecedores homologados pela integradora. Estas atividades englobam o item “Fornecimento” da Estrutura Analítica de Projeto (EAP), mostrada na figura 2. Figura 2: EAP (Estrutura Analítica de Projeto) da Expansão LAN analisada. São 36 sites divididos em 8 regionais pelo país. O “Site Modelo” apresenta a EAP detalhada, replicada para os demais. A desinstalação de equipamentos antigos, que serão substituídos também faz parte do escopo, além da configuração e migração dos novos equipamentos fornecidos. A etapa final consiste em aceitação, na qual a operadora verifica se logicamente (relativo à configuração) e fisicamente está tudo conforme contrato, para liberação do pagamento. 4.4 METODOLOGIA DE GERENCIAMENTO DE PRAZO DO PROJETO A metodologia de gerenciamento de projetos adotada pela empresa integradora é toda baseada no PMBoK Guide, bem como o gerenciamento de prazo, conforme descrito abaixo: Elaboração do cronograma linha de base: As informações de comercialização (propostas, contrato, edital, etc) são entradas para identificação do escopo e consequente elaboração da EAP pelo Coordenador Técnico e pelo Planejador, assim que o projeto é transferido da área comercial para área de operações, responsável pela implementação. Em seguida há o sequenciamento das atividades e da duração das atividades, e estimativa de recursos. Com isso, é possível preparar um cronograma e lista de marcos, os quais serão validados pelo cliente. Caso seja necessário, as etapas serão revistas. Com o andamento do projeto, o cronograma é atualizado. A empresa utiliza também o método do caminho crítico para análise. É importante notar que neste momento o cronograma completo é elaborado.
  • 7. Figura 3: Fluxograma do processo de gerenciamento de prazo da empresa integradora. Segue o processo descrito pelo PMBoK Guide. Acompanhamento do projeto/Comunicação com o cliente e interna: As prioridades das atividades são tratadas semanalmente em reuniões envolvendo o time de gerenciamento de projeto da operadora com a coordenação técnica, planejadores e a gerência da integradora. Além de pendências, responsabilidades, prioridades, são tratadas as janelas de manutenção, que ocorrem de madrugada, período em que o tráfego é menor, diminuindo o impacto para o cliente final caso a haja algum problema. Invariavelmente uma janela de manutenção tem impacto no sistema, por tratar-se de uma atualização ou manutenção que altera parâmetros e arquivos, os quais são “desligados” para serem alterados. Como produto da reunião, uma ata é emitida pela integradora e divulgada para todas as partes envolvidas. O cronograma atualizado é enviado semanalmente pelos planejadores da integradora. Quadro 1: Planilha de Atividades do projeto de Expansão LAN. Linhas em cinza representam janelas confirmadas. Linhas em vermelho representam janelas canceladas. A planilha também traz o profissional que realizará a janela.
  • 8. As janelas são programadas na chamada “Planilha de Atividades”, duas semanas antes de ela acontecer. As janelas são confirmadas antes da realização. Caso haja algum impedimento, ela é reprogramada no cronograma e na própria planilha. Internamente realiza-se uma reunião semanal do time da integradora para tratar os itens críticos do projeto. 4.5 REQUISITOS PARA APLICAÇÃO DO LAST PLANNER/DISCUSSÕES O referido projeto trata tem duração de quase um ano, que pode ser considerado de longo prazo. Além disso, uma equipe exclusiva dedica-se ao projeto, por ser altamente estratégico para integradora. A equipe é formada por um gerente de projeto, um coordenador técnico, dois planejadores, profissionais de suprimentos (importação, compras nacionais, compras de serviços), técnicos de instalação e técnicos de redes (responsáveis por configurações). As atividades críticas são controladas a parte do cronograma, e são tratadas nas reuniões semanais. Com isso, com base no item 3.1.4 deste artigo, o projeto atende, numa primeira análise, os requisitos para aplicação do Last Planner. Para que o Sistema Last Planner seja aplicado de forma completa, algumas modificações no processo devem ocorrer: 1) O cronograma inicial do projeto deve ser macro. No processo adotado pelo projeto, o cronograma não é detalhado como no plano semanal, mas também tem maior detalhamento em relação a um cronograma macro. Trabalhando com um cronograma macro, evita-se o desperdício de planejar tarefas distantes da atualidade de alto grau de incerteza. 2) O tratamento do plano deve ser feito em três níveis, que representa uma plena mudança na rotina dos planejadores. O cronograma linha-de-base é substituído por 3 planos, descritos abaixo Plano macro (também chamado de master)- conform descrito acima, elaborado a partir da revisão do plano de trabalhos segundo sistema pull. Plano de Execução a 3 Semanas (Lookahead Plan) – plano de proteção da produção de visão de 3 semanas, elaborado com base nos objetivos do plano de fase mas que é construído somente com as atividades cujos constrangimentos estão solucionados e estando os executantes comprometidos a cumprir as datas estabelecidas. Este será o buffer de atividades. Atividades de suprimentos (aquisição de materiais, elaboração de requisição de compras pelo planejador, acompanhamento de entrega), pedido de acesso aos sites, comunicação com equipe subcontratada fazem parte deste plano. Plano Semanal de Trabalhos (WWP – Weekly Work Plan) - plano retirado diretamente do plano de antevisão mas com visão de uma semana, onde são apontadas todas as atividades a serem concluídas e a decorrer na respectiva semana. Funciona como diretiva de trabalho da gestão para a linha de produção. As atividades que tem impacto direto no projeto compõe este plano, tais como configuração de equipamentos, teste de scripts, lançamento de cabos, teste de conexões físicas, certificação de cabeamento. 3) Na reunião semanal, deve-se tratar o plano de curto prazo da próxima semana, definindo-se responsabilidade e prazo para término. Todos que participam do sistema têm a responsabilidade de dizer “não”, considerado melhor que deixar avançar um plano ou uma atribuição defeituosa e sem o conhecimento dos critérios específicos. Além disso, a equipe deve acostumar-se a efetuar um planejamento diário, em oposição a
  • 9. “empurrar” as próximas atividades do cronograma. É uma mudança cultural, de mentalidade que exige 4) Na reunião semanal, deve-se tratar o lookahead, decompondo o cronograma master em tarefas mais detalhadas. A regra do lookahead diz que só devem ser programadas para a próxima semana atividades que realmente estejam preparadas para a execução (tarefas em potencial). Se o planejador não estiver certo disso, a tarefa pode ser mantida no lookahead por mais tempo. 5) Para selecionar as tarefas as serem realizadas, precisa-se de um processo para formação do backlog trabalhável. Este processo no gerenciamento de prazo atual é inexistente. Sugere-se a definição do backlog como durante a reunião semanal entre a operadora e a integradora, visando definição de prioridades. 6) São feitas algumas recomendações para estruturação dos planos semanais (BALLARD, 2000): - Clara definição das tarefas; - Atividades colocadas na sequência correta; - As atividades do plano devem ser todas completadas, assim elas devem estar bem dimensionadas; 4.6 CONCLUSÃO Com a implantação do sistema Last Planner, espera-se, de acordo com os resultados da literatura (BALLARD, 2000), uma maior confiabilidade do planejamento (percentual de tarefas completadas). A abordagem trazida pelo Last Planner traz uma nova perspectiva em relação ao gerenciamento de prazo atualmente utilizado. Os atrasos são simplesmente “empurrados” no cronograma atual, enquanto a metodologia traz proteção contra atrasos. Acredita-se que método tenha grande influência no projeto, principalmente envolvendo as atividades de janela. Janelas canceladas ou fallbacks trazem grande desconforto para operadora e representam ineficiência, podendo ter impacto na capacidade da rede, caso ela esteja alta. O sistema “protegido” obriga que todos os pré- requisitos para realização da janela sejam concluídos, evitando assim o fallback. No caso de fallback ou perda de janela, a mesma só pode ser reagendada para um prazo mínimo de duas semanas (processo da operadora). De forma diferente dos projetos de construção civil, em que a fase de “projetação” é distante em tempo da construção, o projeto de telecomunicações, expansão LAN traz uma proximidade em tempo das atividades de planejamento técnico (que seria equivalente à “projetação” na CC). O impacto do sistema “protegido” tende a ser maior neste caso. Como próximo passo sugere-se a implantação efetiva do sistema e elaboração de um estudo de caso. Vale ressaltar o uso somente do Sistema Last Planner não garante que o projeto seja caracterizado “Lean”, isso seria apenas a aplicação pontual de uma ferramenta do sistema. O Sistema Lean é muito mais do que aplicação de ferramentas, é uma filosofia gerencial ampla baseada na eliminação de tarefas que não agregam valor ao cliente. Em conclusão, o artigo revela um alto potencial de aplicabilidade da ferramenta para o projeto analisado, abrindo a possibilidade de expansão do uso do Last Planner para outros escopos.
  • 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALLARD, G. H., Look Ahead Planning: The Missing Link in Production Control. Technical Report No. 97-3, Proceedings 5th Annual Conference of the International Group for Lean Construction, Julho 1997. BALLARD, G. H., The Last Planner System of Production Control. PhD thesis. School of Civil Engineering, University of Birmingham, UK. 2000. CASAROTTO FILHO, N.; FAVERO, J. S.; CASTRO, J. E. E.Gerência de Projetos/Engenharia Simultânea: organização, planejamento, programação, PERT/CPM, PERT/custo, Controle Direção. São Paulo: Atlas, 1999. KATE, J. Program Office: An Enterprise View. EUA, 2000. KERZNER, H. Gestão de Projetos: as melhores práticas. Trad. Marco Antonio Viana Borges, Marcelo Klippel e Gustavo Severo de Borba. Porto Alegre: Bookman, 2002. KEELING, R. Gestão de projetos: uma abordagem global. Tradução Cid Knipel Moreira. Editora Saraiva. São Paulo. 2002 KOSKELA, L. e HOWELL, G. The underlying theory of project management is obsolete. Paper presented at the PMI Research Conference, Agosto 2002, Seattle. 2002a. KOSKELA L. e HOWELL G. The Theory of Project Management: Explanation to Novel Methodologies. In: Conference of the International Group for Lean Construction, 12, Gramado, Brasil, Proceedings…, 2002c KOSKELA, L. Application of the new production philosophy to construction. Tech. Rept. 72, Center for Integrated Facility Engineering, Stanford Univ., Stanford, CA, Sept., 75 pp. 1992 MACOMBER, H. e Howell, G. A. (2003). Linguistic Action: Contributing to the Theory of Lean Construction, Proceedings of the 11th International Group for Lean Construction Annual Conference (IGLC11), Blacksburg, EUA. MENDONÇA, P. www.guiandotelecom.com.br/artigos/o-brasil-apos-a-privatizacao-das- telecomunicacoes – acessado em 01/12/2010. TALAMINI, A. e WILLIW, S. A.Utilização dos conceitos do PMBOK Guide e da Lean Construction para Gerenciamento de Projetos em pequenas construtoras. XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção. Ouro Preto. Outubro 2003 TELEBRASIL; O Desempenho do Setor de Telecomunicações no Brasil Séries Temporais – 1T10 www.telebrasil.org.br – acessado em 01/12/2010. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBoK Guide), 3a ed., Newton Square: Project Management Institute, 2004. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBoK Guide), 4a ed., Newton Square: Project Management Institute, 2008. VILLAS-BÔAS, B.T., Modelagem de um Programa Computacional para o Sistema Last Planner de Planejamento. Curitiba, 2004. Dissertação (Mestrado em Construção Civil). Setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná. VARGAS, R.V. Gerenciamento de Projetos: Estabelecendo diferenciais competitivos. 5ª ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2003. WOMACK, J. P., JONES, D.T. and ROSS, D. A Máquina que Mudou o Mundo. Tradução de Ivo Korytowski. 5ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992.