Eles são sentimentais, se apegam aos humanos, necessitam de carinho e amor, são fiéis aos seus donos, brincalhões e dóceis, alguns são bravos ao defenderem o seu território, mas não se esqueçam que Deus nos manda cuidar deles.
1. Os animais cometem suicídio?
Melissa HogenboomBBC Earth
1 setembro2016
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Direito de imagemDOMINK QN/CC BY 2.0Image captionCãescertamente sentem emoções
Em 1845, uma história curiosa apareceu nas páginas do Illustrated London News, um
jornal da capital britânica.
Um cachorro preto, descrito como "fino, bonito e valioso", teria "se jogado na água", em uma
provável tentativa de suicídio. Suaspernas e patas estavam "perfeitamente imóveis" - algo
incomum para um cão em um rio.
Mais estranho ainda: após ser retirado da água, o cachorro "rapidamente correu para a água e
tentou afundar maisuma vez".
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Como um canal do YouTube levou a polícia a investigar 1,2 mil brasileiros por tráfico
de maconha
O cão acabou morrendo.
A julgar pelos relatosda imprensa da época, ele estava longe de ser o único nessas tentativas.
Pouco tempodepois, outros dois casos apareceram em jornais populares: um pato que teria se
afogado de propósito e uma gata que se enforcou em um galho após seus filhotes morrerem.
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O que há de verdade nessesepisódios?
Sabemosque animaispodem sofrer problemasde saúde mental como humanos: sobretudo
estresse e depressão, mas animaisrealmente tentam suicídio?
3. Direito de imagemALFLO/NATUREPL.COMImage captionAlgunscãesmorrem logo após os
donos
Pergunta antiga
A questãonão é nova: os gregos antigostambém a consideravam. Há mais de 2 mil anos,
Aristótelescitou um cavalo que se jogara num abismoapós a revelaçãode que, como Édipo, ele
teria se relacionado com a própria mãe, sem saber.
No século 2º d.C., o estudioso grego ClaudiusAelian dedicou um livro inteiroao tema. Citou 21
supostos casos de suicídioanimais,incluindo um golfinho que se deixou capturar, diversos
cães que morreram de fome após a morte dos donos e uma águia que "se sacrificou por
combustão na pira de seu falecido dono".
Conheça o bioconcreto, material que fecha as próprias rachaduras
A afegã que virou 'Mohammed' por seis anos para ir à escola sob o Talebã
Como o "cão bonito" que se afogou, a ideia de suicídio animal continuou popular no século 19.
O psiquiatra William Lauder Lindsaydisse que animaisnessa condição sofriam de "melancolia
suicida" e descreveu como poderiam ser "literalmente estimuladosà fúria e paranoia" antesde
um suicídio.
Naquela época, essas ideiaseram acolhidaspor grupos de direitosdos animais. Ativistas
buscavam humanizar as emoções dos bichos, explica o historiador da medicina Duncan Wilson,
da Universidade de Manchester, na Inglaterra, que analisou referênciashistóricasao suicídio
animal em um artigo em 2014.
Os ativistasfaziam isso, afirma o especialista, para mostrar que os animais"compartilhavam a
capacidade de autoreflexãoe intencionalidade, que incluía a possibilidade de tentar tirar a
própria vida por sofrimento ou fúria."
Um exemplo: uma edição de 1875 da publicaçãocientífica Animal World trazia na capa um
cervo selvagem saltando para um provável suicídio. O texto dizia que "um cervo selvagem,
para não ser capturadopor seusperseguidores, irá cair nas garrasde uma morte terrível."
4. Ciência e cultura
Contudo, com o avanço da medicina no século 20, a atitude humana diante do suicídio se
tornou mais científica, e esse tipo de retrato "heroico" de animaissuicidasperdeu espaço.
Assista ao comovente momento em que dois meninos sírios ficam sabendo da morte
do amigo
A afegã que virou 'Mohammed' por seis anos para ir à escola sob o Talebã
O foco mudou para suicídios que afetariam populaçõesmaiores, como resultado de pressão
social, diz Wilson. O suicídio se tornou algo como um mal social. Pegue os exemplosde
leminguesque aparentemente marcharam para se jogar de penhascosou encalhescoletivos de
baleias.
Wilson não procurou responder se os animaisrealmente tentam suicídio. Em vez disso, sua
pesquisa revelou que mudançasnasatitudesdiante do suicídio humano se refletiram em
nossas histórias sobre bichos.
Direito de imagemBENOITB/ISTOCKImage captionApesar de relatos nesse sentido, lemingues
não se jogam de morros em suicídios coletivos
Mas um outro pesquisador tentou encontrar essa resposta.
Antonio Petri, psiquiatra na Universidade de Cagliari, na Itália, revisou a literatura sobre
suicidio animal e concluiu que históriascomo as dos jornais do século 19 não devem nos iludir.
Ele analisou cerca de mil estudos publicadosem 40 anos e não encontrou provas de que um
animal selvagem conscientemente pratique suicídio. Casos como o do livro do grego Claudius
Aelian são "fábulasantropomórficas (cuja forma aparente evoca seres humanos)", diz ele.
Pesquisadoreshoje sabem que a morte coletiva de leminguessão um consequência triste de
uma população densa de criaturasemigrandojuntasao mesmotempo.
Nos casos em que um animal de estimaçãomorre após o dono, isso se explica pela disrupção
de um laço social, afirma Preti. O animal não toma uma decisão consciente de morrer - ele era
tão acostumado ao dono que passa a não aceitar maiscomida de ninguém.
5. "Pensar que um animal desse morreu de suicídio como uma pessoa é apenasuma projeção de
um estilo de interpretação(romântica) humana."
Estresse animal
Esse exemplochama a atenção a um fato importante: o estresse pode alterar o comportamento
de um animal de modo a ameaçar sua vida.
Isso ocorreu no parque SeaWorld de Tenerife, na Espanha, em maio de 2016.
Um vídeo que se tornou viral mostra uma orca selvagem aparentemente tentandose manter
fora do tanque por cerca de dez minutos. Dezenas de reportagensafirmaram que o mamífero
tentara suicídio.
Sabemosque orcas se comportam de maneira diferente em cativeirodo que em liberdade, o
que não surpreende, já que um tanque representa uma fração ínfima de um oceano.
Ambientesartificiaiscostumam estressar orcas, desencadeandocomportamentorepetitivos
como ranger de dentes.
Quando essas situaçõesocorrem, afirma Barbara King, do William & Mary College (EUA), é
importante entender quãoprofundamente essesanimaisvivenciam emoções. Isso pode
revelar por que eles podem agir de maneira tão autodestrutiva.
Direito de imagemTIM CUFF/ALAMY STOCK PHOTOImage captionBaleiasnão estão tentando
suicídio quandoencalham
"Até onde sei, a maioria dessescasos tem algum tipo de intervençãohumana, seja caça ou
confinamento", afirma King, que já escreveu muito sobre sofrimento animal e suicídio.
Vários animaismantidosem condições traumáticastambém vivenciam situaçõessimiliaresao
estresse, transtorno de estresse pós-traumáticoe depressão.
Um urso mantidoem uma fazenda na China sufocou seu filhote e depois se matou. Isso ocorreu
depois de uma dolorosa injeção de um cateter no abdome do filhote para extrair bile, que às
6. vezes é usada em remédiosna medicina chinesa. Relatos na imprensa sugeriram que ele teria
matadoo filhote e cometido suicídiopara evitar mais anos de tortura.
Esse talvez seja outro exemplo de um comportamentonão-natural desencadeadopelo estresse
e pelo confinamento por longo período. Também pode ser visto como reflexo de "um animal
tentandofugir de seu cativeiro", diz Preti.
Destino conjunto
Outros animaisque costumam ser citados como suicidas são baleiasque encalham em
conjunto.
A causa dessesencalhesnão é clara até hoje. Uma hipótese é que possam ser causados por um
indivíduodoente buscandosegurança em águasmais rasas. Como baleiasformam grupos
sociais, outros seguem esse indivíduo e também encalham. A ideia é conhecida como "hipótese
do integrante doente", masnão é considerada suicídio.
Uma explicaçãoainda maissutil sobre aquilo que parece ser comportamentoautodestrutivo
também pode ser facilmente levantada. Há certos parasitasque infestam o cérebro dos
hospedeiros,causando atitudesincomunsque ajudam os parasitasa sobreviver. O hospedeiro
costuma morrer nesses casos.
Por exemplo, o parasita Toxoplasma gondii infesta ratos e "desliga" o medoinato que possuem
de gatos. Se o gato comer o rato, o parasita se reproduz. Um estudode 2013 indicou que uma
infecção por T. gondii acaba com esse medo de maneira permanente, mesmose o parasita for
eliminado.
Do mesmomodo, o fungo parasita Ophiocordyceps unilateralis pode controlar a mente de
formigas, deixando-ascomo zumbis. Os insetos acabam sendo levados a morrer em locais mais
propícios ao desenvolvimentodessesfungos.
Direito de imagemIMAGEBROKER/ALAMY STOCK PHOTOImage captionOrca no SeaWorld
vivem em ambientes reduzidos e pequenos
Há ainda o caso de aranhasque deixam os filhotes comê-las. Embora elasmorram no processo,
esse sacrifício não é um suicídio, masum ato extremode cuidadomaterno. A mãe aranha
fornece seu próprio corpo como uma importante e nutritiva primeira refeição, que garante a
sobrevivência do filhote.
7. Definindo suicídio
Para afirmar que tal comportamento não se enquadra como suicídio é preciso ter uma
definição de suicídio. O ato cosuma ser definido como "ação de se matar intencionalmente ".
Sabemosque alguns animaisse matam. A questão é saber se tiveram essa intenção. A mãe
aranha, por exemplo, pode se comportar dessa forma para prover comida, não para morrer. A
ursa pode ter agido por estresse, não com o propósito de matar a si e ao filhote.
Algunsespecialistasacreditam que essa pergunta seja impossível de responder.
Assim como subestimamosa cognição animal por muito tempo, nós ainda não conseguimos ler
a mente dos animais."Nãoestou convencido de que (suicídio animal)seja uma questão que a
ciência possa responder", afirma King. "Podemos analisar seu comportamento visível, como
fazemos quando sofrem, masnão podemos saber se é algo intencional ou não."
Outros discordam. Afirmam que algumaspessoas tentam se matar, masanimaisnão, por
diferençasnas habilidadescognitivas.A diferença-chave, afirma, é nossa habilidade de pensar
bem à frente, no futuro.
Muitos animaispodem fazer planejamentos. Algunspássarosjuntam alimentospara comer
depois. Primatascomo orangotangos e bonobos armazenam ferramentaspara uso no futuro.
Mas isso não demanda consiciência sobre o que significa estar vivo.
Planejar um suicídio demanda um entendimentodetalhadosobre nosso lugar no mundo e uma
habilidade para imaginar a própria ausência. Isso exige imaginação.
O que podemos aprender com o inemuri, o costume japonês de dormir em qualquer
lugar
Direito de imagemPAUL BROUGH/ALAMY STOCK PHOTOImage captionEm 1875, um cervo
teria se lançado em um penhasco para evitar ser caçado por cães
"Humanostêm a capacidade de imaginar cenários, refletir sobre eles e associá-los a narrativas
maisamplas", afirma Thomas Suddendorf, psicólogo evolucionista na Universidade de
Queensland, na Austrália.
8. A maioria de nós supera essas preocupações. Temos um viés otimista inato, que nos dá uma
visão mais positiva sobre o futuro, masisso não ocorre com quem tem depressão - para essas
pessoas, o futuro parece sombrio.
Pessoas deprimidasapreciam verdadeiramente a realidade, dizAjit Varki, da Universidade da
Califórnia, que tem escrito sobre a singularidade humana e nossa capacidade de negar a morte.
"Uma das realidadesé que você vai morrer." O resto de nós tem uma habilidade extraordinária
para ignorar esta eventualidade, algoque Varki classifica como "um capricho evolucionário".
Varki sugere que todos os possíveis casos de suicídio animal possam ser explicadospor outros
meios. Animaischoram, reconhecem seusmortos e têm medo de cadáveres, por exemplo, mas
não temem a morte "como uma realidade".
"É um medo de situaçõesperigosas que potencialmente podem levar à morte", avalia Varki.
Pensar assim faz mais sentido. Se animaisnegassem os riscos de morte como fazem muitos
humanos,zebras iriam passear perto de leões, peixes nadariam aolado de crocodilos e ratos
encarariam cobras.
Se fossem tão autoconscientes como nós, talvez parassem de defender seus territóriosou
buscar comida. Eles possuem uma resposta inata ao medo por uma boa razão: ficar vivo.
Somos o único animal capaz de entender e lidar com nossa própria mortalidade, dizVarki,
precisamente porque somos essas criaturasotimistascom um nível sofisticado de
autoconsciência.
"O que é suicídio?", questiona o pesquisador. "Éinduzir a própria mortalidade, mascomo você
pode induzi-la se não sabe que é mortal?É (portanto) bem lógico que o suicídio seja algo
unicamente humano."
O suicídio é uma atitude muito triste que está relacionada a problemas de
ordem psicológica como a depressão, mas será que, além de nós, humanos,
os animais são capazes de cometer suicídio? Há controvérsias. O
portal Planeta Sustentável explicou que a teoria evolutiva se ocupa em justificar
a existência dos animais a partir do estudo daqueles com melhores meios de
sobrevivência, o que eliminaria a possibilidade do suicídio.
"O suicídio é uma prerrogativa humana, e não dá para ampliar para os demais
animais", disse Gelson Genaro, que é etólogo, ou seja, especialista em
comportamento animal. Segundo ele, casos populares, como os de escorpiões
que se matavam em momentos de perigo, são lendas. De acordo com Genaro,
até mesmo alguns casos vistos como heroicos, quando a mãe ou o pai serve
de alimento à ninhada, não são considerados voluntários, mas sim instintivos,
com a finalidade, de novo, de garantir a sobrevivência da espécie.
Você já ouviu da história de que o louva-deus é tão romântico que, após
copular com a fêmea, oferece a ela o próprio corpo como alimento, certo? O
fato é que ele é realmente devorado quando não consegue escapar, já que a
fêmea, terminado o coito, come o que estiver por perto, a fim de garantir
energia para gerar seus filhos. Ou seja: não é voluntário. É natural, apenas.
9. E agora?
Fonte da imagem: Reprodução/Dek
Alguns pássaros são conhecidos por se comportarem como mortos quando
diante de um predador, em uma situação de perigo. A ideia, nesse caso, é ter
mais tempo para conseguir fugir. O problema é que esse plano não é perfeito
e, muitas vezes, ele dá errado, fazendo com que os passarinhos sejam
realmente atacados e mortos. Mas, de novo, essa não é uma atitude suicida,
embora seja no que muita gente acredita. Ao que tudo indica, é sempre uma
tentativa de perpetuar e proteger a espécie.
Em contrapartida, alguns estudiosos acreditam que, sim, animais são capazes
de morrer intencionalmente. O site Answers levanta questões que vão além da
lógica científica e sugere que é preciso rever conceitos de vida e morte. Nesse
caso, muita gente cita de novo o escorpião, que muitas vezes morre intoxicado
com o próprio veneno. Há quem explique, nesse caso, que o que acontece de
verdade é que o bichinho, quando acuado, entra em desespero e pica a si
mesmo, acidentalmente.
Divergências
10. Fonte da imagem: Reprodução/Visembryo
Se por um lado a teoria evolutiva usa a necessidade de sobrevivência como
fator determinante para alguns casos tidos como de suicídio, os estudiosos que
acreditam que a morte voluntária de fato acontece defendem que tanto animais
quanto homens possuem um medo inerente da morte e que é esse mesmo
sentimento o responsável pelo suicídio, muitas vezes, tanto em humanos
quanto em animais. Trata-se, nesse caso, do que é chamado de “medo
instintivo”.
Esses mesmos pesquisadores indicam que animais têm se aproximado do
conhecimento humano no que diz respeito aos medos e às angústias. Nesse
caso, questões filosóficas são frequentemente levantadas, a fim de tentar
compreender qual é o papel do homem na explicação desse tipo de
problemática e que experiências podem ser feitas para provar algumas teorias.
O fato é que tanto animais quanto homens passam por situações nas quais
provocam a própria morte. Mas será que, no caso dos animais, esses eventos
são voluntários e premeditados? O que você pensa a respeito desse assunto?
Não deixe de contar para a gente.