1. GT3 Comunicação e Processos Socioculturais
AMAZÔNIA SEM HOMENS, NORDESTINOS SEM TERRAS:
ocupação e desenvolvimento da amazônia sob o governo Médici
2. AMAZÔNIA SEM HOMENS, NORDESTINOS SEM TERRAS:
ocupação e desenvolvimento da amazônia sob o governo Médici
Me. Milton Mauad de Carvalho Camera Filho
(ETE Sinop – SECITECI)
Dra. Cristinne Leus Tomé
(PPGLetras Sinop – UNEMAT)
3. Objetivos:
Investigar os sentidos mobilizados nos discursos governamentais
sobre a ocupação e desenvolvimento da Região Amazônica no
contexto do milagre econômico da ditadura militar brasileira, na
década de 1970 (governo do General Emílio Garrastazu Médici).
Compreender o funcionamento da memória discursiva e das
formações imaginárias sobre a Amazônia a partir do I Plano
Nacional de Desenvolvimento (1972 – 1974).
AMAZÔNIA SEM HOMENS, NORDESTINOS SEM TERRAS:
ocupação e desenvolvimento da amazônia sob o governo Médici
4. Dissertação:
Entre o mesmo e o diferente, entre o já-dito e o a se dizer: o
discurso estatal capitalista sobre ocupação e desenvolvimento da
Amazônia nos governos Médici e Lula.
Projeto Leituras Urbanas e suas materialidades discursivas
socioambientais no norte de Mato Grosso (Portaria n. 1492/2019).
AMAZÔNIA SEM HOMENS, NORDESTINOS SEM TERRAS:
ocupação e desenvolvimento da amazônia sob o governo Médici
6. ●
Princípio da posse efetiva da terra: “uti possidetis, ita possideatis”.
●
Brasil Colônia: bandeirantismo; reconhecimento; desbravamento.
●
Disputas territoriais → Soberania duvidosa (PICOLI, 2005).
●
Século XVI, Lisboa reclama uma ‘unidade ecológica’ em torno
das bacias hidrográficas e formações geográficas que constituem
a Amazônia Brasileira (ARBEX, Jr., 2005) → Tratado de Madrid.
Brasil Colônia:
Ocupação dos territórios (como possuís, assim possuais)
7. ●
Guinada rumo ao Brasil Central.
●
Marcha para o Oeste: ocupação e integração (1930).
●
Disputas internas: oligarquias agrárias X industriais.
●
Expedição Roncador/Xingu: avanço pelo Centro-Oeste.
●
Concentração de terras por estrangeiros nas fronteiras.
1930 a 1964:
varguismo, populismo e a Marcha para o Oeste
9. Golpe de 1964:
desenvolvimentismo e os grandes planos governamentais
●
Operação Amazônia, de Castelo Branco (1966).
●
Extinção da SPVEA, fundação da SUDAM.
●
Substituição do protagonismo estatal, visto na ‘militarização’ da
borracha, pelas parcerias com o setor privado.
●
O Estado oferece infraestrutura básica, incentivos e créditos.
11. 1969 a 1973:
Médici e o Milagre Econômico
●
Programa de Integração Nacional (1970).
●
Construção de grandes rodovias e ocupação das margens.
●
Planos Nacionais de Desenvolvimento (1971, 1974 e 1979).
●
Programa de Promoção de Grandes Empreendimentos Nacionais
(política dos “Campeões Nacionais”).
14. 1969 a 1973:
Médici e o Milagre Econômico
Optamos por focar no I PND em virtude de seu relativo sucesso,
diretamente relacionado ao Milagre Econômico.
Como identificamos na pesquisa, os demais PNDs não tiveram as
mesmas condições de implementação dada às crises econômica e política
que se intensificavam.
Já sob a presidência de João B. Figueiredo, na década de 1980,
percebemos que a própria menção aos PNDs, antes abundantes, se
escasseavam, chegando a desaparecer na Mensagem ao Congresso de 85.
15. Resultados:
●
Deriva do discurso populista, nos termos de Lima (1990):
“Tenho bem presente o espetáculo de 30 milhões de nordestinos, que vivem em torno
de núcleos esparsos de produção agrícola e industrial, produzindo e consumindo
menos de 15 por cento da renda interna. Sei que essa pequena produção está nas mãos
de um décimo da população daquela área.”
“Brasileiros da Amazônia, homens de todo o Brasil. Venho à Amazônia sob o signo da
fé. Venho para estar com o povo na romaria do Círio e confluir com ele na mesma
corrente das ruas de Belém.”
16. Resultados:
●
‘Captura’ da pauta da reforma agrária no nordeste:
“Conheço todo o drama de sua migração para o Centro-Sul, agravando as
aglomerações marginalizadas das favelas. E, no entanto, a Amazônia, mais da
metade do território nacional, poderia absorver muito mais do que toda a
população atual do Brasil.”
“Impõe-se oferecer um novo horizonte ao nordestino carente de terra e de capital,
e mostrar-lhe os caminhos de ser formador da riqueza, valorizador da terra, fator de
poupança e acelerador do crescimento econômico nacional. […] o esforço necessário
à solução dos dois problemas: o do homem sem terras no Nordeste e o da terra
sem homens na Amazônia.”
17. Resultados:
●
Silenciamento das populações que ocupavam a Amazônia:
“Conheço todo o drama de sua migração para o Centro-Sul, agravando as
aglomerações marginalizadas das favelas. E, no entanto, a Amazônia, mais da
metade do território nacional, poderia absorver muito mais do que toda a
população atual do Brasil.”
“Assim, a política de meu governo na Amazônia está voltada prioritariamente para a
realização de um gigantesco esforço de integração, no duplo objetivo da descoberta
e da humanização. Somente quem testemunhou no Nordeste a caminhada de milhões
de brasileiros sem terra e, agora, vem à Amazônia contemplar essa paisagem de
milhões de hectares ainda desaproveitados […].”
18.
19. Resultados:
●
Reabilitação do discurso fantástico sobre o Eldorado amazônico:
“[…] quero ser, aqui, mais do que nunca, realista e verdadeiro, para não ser, um
instante sequer, messiânico, fantasista ou prometedor, na terra em que tudo
sempre se permitiu à imaginação.”
“Chega de lendas, vamos faturar! […] tirar proveito das riquezas da Amazônia. […]
A Transamazônica está aí: a pista da mina de ouro. […] Há um tesouro à sua
espera. Aproveite. Fature. Enriqueça junto com o Brasil.”
20.
21. Resultados:
●
Atravessamento da formação discursiva econômica:
As formulações “vocação econômica”, “faturar”, “desenvolvimento nacional”, estão
presentes em todos os pronunciamentos analisados, o que nos leva a entender que a
FD estatal capitalista preside as discursividades sobre a região (Pitombo-Oliveira, 2000).
Também buscamos pôr em destaque a estratégia de ajustamento econômico operada:
1960: integrar → ocupar (integrar a nação)
1990: integrar → integrar-se (à ‘nova ordem mundial’)
22. Referências:
ARBEX JR., José. “Terra Sem Povo”, Crime Sem Castigo: Pouco ou nada sabemos de concreto sobre a Amazônia. In: Torres, Maurício
(org.). Amazônia revelada: os descaminhos ao longo da BR-163. Brasília: CNPq, 2005.
CAMERA FILHO, Milton Mauad de Carvalho. Entre o mesmo e o diferente, entre o já-dito e o a se dizer: o discurso estatal capitalista
sobre ocupação e desenvolvimento da Amazônia nos governos Médici e Lula. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade do
Estado de Mato Grosso, Sinop, 2020.
LIMA, Maria Emília Amarante Torres. A construção discursiva do povo brasileiro: os discursos de 1° de maio de Getúlio Vargas.
Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. BR-163 Cuiabá-Santarém: geopolítica, grilagem, violência e mundialização. In: Torres, Maurício
(org.). Amazônia revelada: os descaminhos ao longo da BR-163. Brasília: CNPq, 2005.
PICOLI, Fiorelo. Amazônia: do mel ao sangue – os extremos da expansão capitalista. 2. ed. Sinop: Editora Fiorelo, 2005.
PITOMBO-OLIVEIRA, Tânia. Acima do paralelo 13: uma discursividade em questão. Dissertação (Mestrado em Linguística) –
Universidade Estadual de Campinas, Campinas/SP, 2000. Disponível em:
http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/268929/1/Pitombo-Oliveira_Tania_M.pdf. Acesso em: 01 dez. 2019.
VARGAS, Getúlio Dorneles. A nova política do Brasil: ferro, carvão, petróleo. v. 8. Rio de Janeiro: Livraria José Olímpio, 1940.