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O emprego de métodos geofísicos na fase de investigação




                                                                                                                                                                   Artigo Técnico
      confirmatória em cemitérios contaminados
           Application of geophysical methods in the confirmatory investigation
                            phase in contaminated cemeteries

                                                        Robson Willians da Costa Silva
  Engenheiro Ambiental pela Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP). Mestre em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista “Júlio
                           de Mesquita Filho” (Unesp). Consultor Ambiental. Professor da Faculdade Anhanguera de Piracicaba

                                                               Walter Malagutti Filho
   Geólogo pela Unesp Rio Claro. Geofísico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) na área de Geofísica. Doutorado em Geociências e Meio Ambiente
                                               pela Unesp. Livre-docente em Geofísica Aplicada pela Unesp 




Resumo
Dentro do gerenciamento de áreas contaminadas, a aplicação de métodos geofísicos, em estudos de área contaminada, constitui uma metodologia
confirmatória. Este procedimento – mais precisamente o método da eletrorresistividade por meio das técnicas da sondagem elétrica vertical e imageamento
elétrico – foi aplicado no cemitério de Vila Rezende, em Piracicaba, São Paulo, para investigar e mapear a contaminação do cemitério por necrochorume. Os
resultados indicam uma profundidade do nível freático entre 3,1 e 5,1 m, com duas direções de fluxo subterrâneo, uma a SW e outra a SE. Tanto as prováveis
plumas de contaminação, que têm as mesmas direções de fluxo subterrâneo, quanto as anomalias condutivas verificadas nas seções geoelétricas confirmam
as suspeitas de contaminação na área.

Palavras-chave: eletrorresistividade; contaminação; necrochorume; investigação.


Abstract
Inside of the administration of contaminated areas, the application of geophysical methods, in studies of contaminated area, constitutes a confirmatory
methodology. This procedure – more precisely the electrical resistivity method through the techniques of the vertical electric sounding and electrical imaging
techniques, was applied at Vila Rezende’s cemetery, Piracicaba, São Paulo, Brazil, to investigate and to map the contamination of the cemetery for necrochorume.
The results indicate a depth of water table among 3.1 and 5.1 m, with two flow directions, being one to SW and another to SE. So the probable contamination
plumes, that have the same directions of underground flow, as for the conductive anomalies verified at the geoelectrics sections confirm the suspicions of
contamination in the area.

Keywords: eletrorresistivity; contamination; necrochorume; investigation.



Introdução                                                                             É possível apontar como a principal causa de poluição dos cemi-
                                                                                  térios a eliminação do necrochorume pelos cadáveres, particularmen-
                                                                                  te, no primeiro ano do sepultamento. O necrochorume pode veicular,
Aspectos ambientais a serem investigados
                                                                                  além de micro-organismos oriundos do cadáver, restos ou resíduos
    Com a promulgação pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente                     de tratamentos químicos hospitalares (quimioterapia, por exemplo)
(Conama) da Resolução nº 335 de 28 de maio de 2003, os cemitérios                 e os compostos decorrentes da decomposição da matéria orgânica.
são vistos como fontes de contaminação do ambiente, e sua implan-                 Esses contaminantes incorporados ao fluxo de necrochorume são
tação está sujeita ao atendimento dos critérios legais, fazendo-se ne-            prejudiciais ao solo e às águas subterrâneas.
cessária a implantação de equipamentos de proteção ambiental para                      Segundo Matos (2001), os compostos orgânicos liberados no
salvaguardar o solo e as águas subterrâneas.                                      processo de decomposição dos cadáveres aumentam a atividade



Endereço para correspondência: Robson Willians da Costa Silva – Pós-graduação em Geociências – Unesp, Campus Bela Vista – Avenida 24 A, 1.515 – 13506-900 –
Rio Claro (SP), Brasil – Tel.: (19) 34224069 – E-mail: robsonwillians@yahoo.com.br
Recebido: 12/06/08 – Aceito: 2/2/09 – Reg. ABES: 096/08


                                                                                                           Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336   327
Silva, R.W.C. & Malagutti Filho, W.



      microbiana no solo sob a área de sepultamentos. O autor afirma                  “Identificação de áreas contaminadas”, a atividade de sepultamento
      ainda que, nessas áreas, há aumento da condutividade elétrica,                  como passível de causar contaminação.
      pH, alcalinidade e dureza da solução do solo, devido à presença                     Uma área contaminada pode ser definida como uma área, local ou
      de compostos de nitrogênio e fósforo e de diversos sais (Cl , HCO3,     -
                                                                                      terreno onde há comprovadamente poluição ou contaminação causa-
      Ca+2, Na+). Ocorre também a presença de óxidos metálicos (Ti, Cr,               da pela introdução de substâncias ou resíduos que nela tenham sido
      Cd, Pb, Fe, Mn, Ni, entre outros) lixiviados dos adereços das urnas             depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados de
      mortuárias e de patógenos associados a mortes por doenças infecto-              forma planejada, acidental ou até mesmo natural (CETESB, 2001).
      contagiosas.                                                                        O gerenciamento de áreas contaminadas visa minimizar os riscos
          A norma técnica L1.040 da Companhia de Tecnologia de                        a que estão sujeitos a população e o meio ambiente, em virtude da
      Saneamento Ambiental (Cetesb) de 1999, Implantação de Cemitérios,               existência das mesmas, por meio de um conjunto de medidas que asse-
      e a Resolução Conama nº 335, traçam alguns requisitos técnicos para             gurem o conhecimento das características dessas áreas e dos impactos
      implantação de novas necrópoles. Partindo desse pressuposto, os                 causados por elas, proporcionando os instrumentos necessários à to-
      principais aspectos dos cemitérios em atividade a serem investigados            mada de decisão quanto às formas de intervenção mais adequadas.
      são os geológico-geotécnicos, hidrogeológicos e ambiental.                          A Cetesb (2001) aponta alguns critérios que devem ser levanta-
                                                                                      dos para que uma área possa ser considerada como potencialmente
      Investigação de áreas contaminadas                                              contaminada. O Quadro 1 apresenta as características das atividades
                                                                                      passíveis de causar contaminação encontrada em cemitérios.
          Tendo em vista os inúmeros casos de áreas contaminadas divul-                   Mesmo que a atividade de sepultamento não se enquadre literal-
      gados ao público, a Cetesb, com a cooperação técnica do órgão ale-              mente como atividade industrial ou comercial, podem ocorrer vaza-
      mão Deutsche Gesellschaft Für Technishe Zusammenarbeit (GTZ), ela-              mentos de substâncias passíveis de causar danos ao solo e às águas
      boraram, em 2001, o Manual de gerenciamento de áreas contaminadas.              subterrâneas, visto que, nessa atividade, se manuseiam resíduos bio-
      Esse manual se tornou referência no âmbito de gerenciamento de                  lógicos – os cadáveres.
      áreas contaminadas no Brasil, mas não consta, em seu capítulo 3,                    A estratégia para o gerenciamento, proposta pela Cetesb (2001),
                                                                                      é constituída por uma série de etapas sequenciais, nas quais as infor-
      Quadro 1 – Características das atividades passíveis de causarem con-            mações obtidas em cada etapa é base para a execução da etapa se-
      taminação encontrada em cemitérios                                              guinte. O gerenciamento está dividido basicamente em dois proces-
       Características                                                 Ocorrência     sos, subdivididos nas etapas, conforme visto no Quadro 2. A Figura 1
       Existência de processos produtivos que pos-                                    apresenta o sequenciamento do processo de identificação de áreas
                                                                 Não ocorrem em
       sam causar contaminação do solo e das águas
                                                                áreas de cemitérios
       subterrâneas                                                                   contaminadas.
       Presença de substâncias que possuem potencial                                      A etapa de definição da área de interesse marca o início do geren-
                                                                  Pode ocorrer em
       para causar danos aos bens a proteger via solos
                                                                 áreas de cemitério   ciamento das áreas contaminadas (ACs). São definidos os objetivos
       e águas subterrâneas
       Atividade industrial ou comercial que apresente                                principais a ser alcançados e a área do gerenciamento, considerando
       histórico indicando manuseio, armazenamento                Pode ocorrer em
       ou disposição inadequada de matérias-primas,              áreas de cemitério   o solo e as águas subterrâneas como os principais bens a proteger.
       produtos e resíduos                                                                A identificação das áreas potencialmente contaminadas (APs) é
       Atividade industrial ou comercial que apresente
                                                                  Pode ocorrer em     realizada coletando-se os dados necessários por meio das técnicas de
       histórico indicando a ocorrência de acidentes ou
                                                                 áreas de cemitério
       vazamentos                                                                     levantamento de dados existentes, de investigações e por observação
       Atividade industrial ou comercial que apresente                                do histórico.
                                                                  Pode ocorrer em
       histórico de geração de áreas suspeitas de con-
                                                                 áreas de cemitério       A avaliação preliminar consiste na elaboração de um diagnóstico
       taminação ou de áreas contaminadas
                                                                                      inicial das APs, com um levantamento de informações existentes e
      Quadro 2 – Processos e etapas do gerenciamento de áreas contaminadas
       Processos                                 Etapas do processo
                                            Definição de áreas de interesse
                                                                                            Definição da área
       Identificação de   Identificação de áreas potencialmente contaminadas                  de interesse        AP                 AS                        AC
       áreas contaminadas                 Avaliação preliminar
                                              Investigação confirmatória
                                                                                                                        Avaliação           Investigação
                                                Investigação detalhada                    Identificação da área         preliminar         confirmatória (*)
                                                                                             potencialmente
                                                  Avaliação de risco                          contaminada

       Recuperação de                       Investigação para remediação
                                                                                      AP = Área Potencialmente Contaminada; AS = Área Suspeita de Contaminação;
       áreas contaminadas                       Projeto de remediação                 AC = Área Contaminada
                                                     Remediação                       (*) Momento no qual podem ser utilizados os Métodos Geofísicos

                                                    Monitoramento                     Figura 1 – Processo de identificação de áreas contaminadas



328   Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336
Investigação de cemitérios por meio de Métodos Geofísicos



de informações coletadas em inspeções de reconhecimento do meio         dados históricos de vazamento de necrochorume dos jazigos e sapo-
físico, observando os fatos que levem à confirmação da contaminação     nificação dos cadáveres.
na área e ao estabelecimento do modelo conceitual de contaminação,
além da adoção de medidas emergências no local, classificando-o         Descrição da área de estudo
como área suspeita de contaminação (AS) ou não.
   A etapa de investigação confirmatória encerra o processo de              Em operação desde 15 de setembro de 1976, com uma área de
identificação de áreas contaminadas e tem como objetivo principal       75.324,48 m², com mais de 16.500 pessoas sepultadas e média de
confirmar ou não a existência de contaminação nas áreas suspeitas,      dois sepultamentos por dia, o cemitério público de Vila Rezende esta
identificadas na etapa de AP. Nessa etapa, as áreas anteriormente       localizado na zona norte do município de Piracicaba (47°39’07”W;
classificadas como ASs são avaliadas, por meio de métodos diretos e     22°41’37”S) a 170 km da capital paulista (Figura 3).
indiretos de investigação do meio físico, visando à comprovação da          O cemitério está dividido em 11 quadras, predominando, até
presença de contaminação e possibilitando a classificação das mes-      1988, o sepultamento por inumação, em covas simples, cuja profun-
mas como ACs.                                                           didade varia de 1,1 a 1,6 m, com simples recobrimento de solo, nas
                                                                        quadras 3, 5, 6, 7, 9, 10 e 11. Em 1993, o processo de sepultamento
Métodos geofísicos na investigação de                                   passou a ser por jazigos subterrâneos em alvenaria. Devido às con-

contaminação de cemitérios                                              dições hidrogeoambientais desfavoráveis ao sepultamento subterrâ-
                                                                        neo e também às legislações federais e estaduais, a partir de 1999 foi
   Os métodos geofísicos (Figura 2) são constituídos por técnicas       iniciado o processo de sepultamento em jazigos acima do nível do
indiretas de rastreamento em subsuperfície, não invasivos e, por-       terreno. A resolução Conama nº 335 enfatiza que o nível freático deve
tanto, não destrutivos. São empregados em estudos hidrogeológi-         distar 1,5 m da base da sepultura. Assim, a ocupação do cemitério
cos, para a determinação da profundidade da zona saturada, iden-        iniciou-se nas quadras 1 e 11 e, sucessivamente, ao longo de 30 anos,
tificação do sentido de fluxo da água subterrânea, no mapeamento        nas quadras 7, 6, 10, 9, 5, 2, 3, 4 e 8.
em subsuperfície de pluma de contaminante, de falhas e fraturas,            A geologia da área é caracterizada por siltitos argilosos da
entre outros.                                                           Formação Corumbataí, principalmente nas quadras 1, 4 e 8. A con-
   Na etapa de investigação confirmatória, os métodos geofísicos        dutividade hidráulica média dessa formação é de 6,5. 10-7 cm/s.
são utilizados para localizar os pontos de amostragem mais adequa-
dos, determinando anomalias que representam os locais com maiores
concentrações de contaminantes (hot spots).                                                                      Geofísica
                                                                                                                 aplicada
   Dessa forma, são avaliadas as condições geológicas locais por
meio dos contrastes das propriedades físicas dos materiais de sub-              Métodos               Métodos                 Métodos           Métodos
                                                                               geoelétricos           sísmicos               Potenciais        geotérmicos
superfície, como condutividade ou resistividade elétrica, permissi-
vidade dielétrica, magnetismo, densidade etc., podendo ter como             Eletrorresistividade     Refração      Gravimetria       Magnetometria
                                                                           Polarização induzida      Reflexão
origem as diferenciações litológicas e outras heterogeneidades na-         Potencial espontâneo
                                                                           Radar de penetração
turais ou não.                                                               Eletromagnético

   Em cemitérios, a aplicação de métodos geofísicos na caracteriza-
                                                                        Figura 2 – Métodos geofísicos de prospecção
ção subsuperficial, apresenta inúmeras vantagens técnico-econômi-
cas, principalmente por serem técnicas investigativas indiretas, não
causando dano às construções presentes, como columbários, jazigos,
lápides e outros, e com um custo relativamente baixo em comparação
com outras técnicas de prospecção, além da rapidez na aquisição dos
dados. Os levantamentos geofísicos propiciam a execução de perfis
contínuos, possibilitando a identificação com maior precisão das va-
riações laterais decorrentes das mudanças litológicas ou originadas
pela presença da contaminação subterrânea.
   Dessa forma, este trabalho teve como objetivo investigar a con-
taminação em um cemitério por meio do método geofísico da ele-
trorresistividade, correspondendo à fase de investigação confirmató-
ria, visto que o cemitério no qual o trabalho foi executado apresenta
condições hidrogeoambientais favoráveis à contaminação do meio,         Figura 3 – Localização esquemática do cemitério de Vila Rezende



                                                                                                   Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336     329
Silva, R.W.C. & Malagutti Filho, W.



      Metodologia
          O método da eletrorresistividade consiste em injetar corrente elé-                O arranjo dipolo-dipolo (Figura 5) é um dos mais utilizados na
      trica, por meio de contatos diretos com o solo, e medir a diferença de            investigação de contaminantes, pela precisão nos resultados e rapidez
      potencial elétrico, por eletrodos metálicos aterrados ao solo. Quando             na execução em campo. Apresenta melhor resolução, anomalias mais
      os valores da corrente e do potencial são registrados, é possível calcu-          intensas, considerando relações verticais (WARD, 1990). Neste arran-
      lar a resistividade dos materiais em subsuperfície.                               jo, a configuração é de dois eletrodos, A e B, de emissão de corrente e
          As técnicas mais utilizadas são a sondagem elétrica vertical (SEV),           de dois eletrodos, M e N, de potencial com igual abertura ‘x’, estando
      que investiga as heterogeneidades verticais das resistividades, e o               os eletrodos dispostos em um mesmo alinhamento. O ponto de atri-
      imageamento elétrico (IE) que investiga as heterogeneidades hori-                 buição do valor calculado é a intersecção das linhas que partem do
      zontais e verticais das resistividades.                                           centro de AB e MN, com ângulo de 45°. Observa-se, na Figura 5, que
          Os arranjos eletródicos mais utilizados pelo método da eletror-               o espaçamento R varia nos múltiplos de abertura do dipolo, na forma
      resistividade, utilizando as técnicas de SEV e IE, são: gradiente, di-            x (n + 1), onde x = 1, 2, 3,... é o número de dipolos MN. Assim, o
      polo-dipolo, pólo-dipolo, Schlumberger e Wenner (WARD, 1990).                     nível teórico de investigação progressivamente cresce com o cresci-
      A escolha do arranjo de superfície dos eletrodos depende dos pro-                 mento de R, que teoricamente corresponde a x (n + 1)/2.
      pósitos do levantamento, da situação geológica e do tipo e da qua-                    A resistividade utilizando o arranjo dipolo-dipolo é calculada
      lidade de informações desejadas. Neste trabalho, empregaram-se                    pela Equação 2:
      as técnicas da SEV com o arranjo Schlumberger e o IE 2D com o
      arranjo dipolo-dipolo.                                                                          ∆V                                         1
                                                                                                         2π
                                                                                                      I
          O arranjo de campo Schlumberger (Figura 4) é o mais utiliza-                                                       1     2      1                                                            Equação 2
                                                                                                                             n − n +1 + n + 2
      do em SEVs, devido à qualidade das curvas de campo, facilidade e
      rapidez na execução do ensaio e menor suscetibilidade às variações
      laterais de resistividade e ruídos, como correntes naturais no subso-                 Para estabelecer o modelo geoelétrico e, posteriormente, a elabo-
      lo, linhas de alta tensão etc. Neste arranjo, os eletrodos de corrente            ração do mapa potenciométrico da área do cemitério, foram realiza-
      AB apresentam uma separação crescente, e os eletrodos de potencial                das 16 SEVs, com espaçamento dos eletrodos AB de até 200 m, em
      MN permanecem fixos – a uma distância ≤ AB/5, durante o desen-                    setembro de 2006. As SEVs foram distribuídas em toda área de estu-
      volvimento do ensaio. O objetivo básico nesse arranjo é fazer com                 do (Figura 6), sendo executados sete ensaios na área interna do ce-
      que a distância que separa os eletrodos M e N tenda a 0 em relação à              mitério (SEV: 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13), e nove ensaios na área externa
      distância crescente entre A e B. Devido aos procedimentos de campo                do cemitério (SEV: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 14, 15 e 16). O aparelho utilizado
      descritos, o erro produzido por esse tipo de arranjo pode ser consi-              foi o resistivímetro Bison, modelo 2390 da Bison Instruments Inc. O
      derado insignificante (ORELLANA, 1972). A resistividade utilizando                processamento das SEVs visando à obtenção do modelo geoelétrico
      esse arranjo é dada pela Equação 1:                                               foi realizado no software IX1D v.3 da Interpex Limited, utilizando tanto
                                                                                        o método direto como inverso. No método direto, admitiu-se um
                                                                                        modelo inicial, baseado no conhecimento prévio da geologia local.
              = ∆V            AM . AN                                                   O algoritmo do software calculou a curva de resistividade e, após um
                          π                                                Equação 1
                 I             MN
                                                                                        ajuste razoável, o modelo foi refinado por meio da inversão, com base


                                                                                                                   R
                                                                                                                                                                   Sentido de caminhamento
                                                                                                      x            nx              x
                                                        A
                                                                                                      A                            V             V             V             V                 V
                                            V
                      A               M             N       B                                     A       B                   M1       N1   M2       N2   M3       N3   M4       N4       M5       N5
                                            P                   MN   AB/5
                                                                                                          45º                45º




                                                                                                                        n1

                                                                                                                              n2

                                                                                                                                       n3
                                                                                           x = Espaçamento dos dipolos
                                                                                           R = Espaçamento entre os centros n4
                                                                                           dos dipolos considerados                                                Z = R/2
                                                                                                                                                     n5
                                                                                           n = Níveis Teóricos de Investigação
                                                                                           Z = Profundidade teórica investigada

                    Linhas equipotenciais                                                                       Linhas equipotenciais
                    Linhas de corrente                                                                          Linhas de corrente


      Figura 4 – Arranjo Schlumberger                                                   Figura 5 – Arranjo dipolo-dipolo



330   Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336
Investigação de cemitérios por meio de Métodos Geofísicos



no método dos mínimos quadrados, que busca uma convergência da             desfavoráveis para percolação do necrochorume – embora isso facili-
curva teórica para a curva de campo.                                       te o fenômeno de saponificação dos cadáveres.
    Após obtidas as profundidades dos níveis freáticos nos locais das
SEVs e suas coordenadas UTM, foi possível elaborar o mapa poten-
ciométrico da área, utilizando o software Surfer v.8 da Golden Software,
com a interpolação geoestatística de mínima curvatura. Esse método
de interpolação geoestatística é um método suavizador, sendo o que
melhor representa as linhas equipotencias.
    Para investigação e mapeamento geoelétrico do cemitério, foram
executadas 12 linhas de IEs (Figura 6), em fevereiro de 2007, com
comprimento de até 390 m, espaçamento de 10 m entre eletrodos,
5 níveis de investigação, resultando numa profundidade teórica de
15 m, por meio do resistivímetro Terrameter SAS 4000 da Abem
Instruments. Os dados foram processados no software RES2DINV, de
autoria de Loke (2004), que executa um imageamento 2D do terreno,
empregando a técnica da inversão por meio do método dos mínimos
quadrados. Os resultados da inversão pelo RES2DINV foram expor-
tados na forma de arquivos XYZ e interpolados por krigagem simples
pelo Surfer, para elaborar as seções geoelétricas.
    Para gerar os mapas 3D de resistividade elétrica dos 5 níveis de
investigação, foi realizada uma análise geoestatística de 274 dados
por nível pelo software Variowin 2.21, de autoria de Pannatier (1996).
O modelo variográfico foi exportado para o software Surfer, para a
realização da interpolação pelo método da krigagem ordinária.


Resultados e discussão
                                                                           Figura 6 – Localização dos ensaios geoelétricos realizados na área de
                                                                           estudo
SEV
                                                                           Tabela 1 – Modelo geoelétrico proposto para a área interna do cemitério
    O modelo geoelétrico da área interna do cemitério (Tabela 1) apre-     Zona                                  Descrição dos materiais                                                             Resistividade (Ω.m)
senta uma heterogeneidade de valores de resistividade entre 10 e 2.960                                           Solo argilo-arenoso                                                                    157 ≤ ρ ≤ 628
Ω.m, sendo os níveis mais condutivos interpretados como provável                                                 Solo areno-argiloso                                                                  2.070 ≤ ρ ≤ 2.960
                                                                                                                 Anomalia condutiva – necrochorume                                                         13 ≤ ρ ≤ 75
contaminação por necrochorume e os mais resistivos, como horizontes        Aeração
                                                                                                                 Solo areno-argiloso + aterro arenosos                                                   448 ≤ ρ ≤ 935
areno-argilosos, aterro com sedimentos arenosos, cascalho de calcário,
                                                                                                                 Tubulações e construções de concreto                                                  934 ≤ ρ ≤ 1.720
resíduos de construção e demolição moídos e reciclados, e tubulações                                             aterradas
e galerias de drenagem superficial. As curvas apresentam padronização                                            Solo argilo-arenoso                                                                     110 ≤ ρ ≤ 373
                                                                           Saturação Siltito argiloso (Formação Corumbataí)                                                                               10 ≤ ρ ≤ 455
da segunda parte em diante, em profundidade e resistividade a partir
                                                                                                                 Diabásio (intrusivas básicas)                                                                ρ  110
de 4 m e 180 Ω.m, respectivamente, interpretado como siltitos argi-
losos da Formação Corumbataí. No entanto, em algumas SEVs, o seu                                                                                                  0,1
                                                                                          1000
                                                                                                                                                                                   1ª Camada
último nível (a partir de 18 m) apresentou resistividade 15 vezes maior                                                                                                         Anomalia Condutiva
                                                                                                                                                                                                          Zona de
                                                                                                                                                                                                      Evapotranspiração
                                                                                                                                                                                                                               Zona de Aeração




                                                                                                                                                                                 (Conatminação?)
em relação ao nível geoelétrico anterior, podendo ser correlacionadas
                                                                             Resistividade (ohm.m)




                                                                                                                                                      Profundidade (m)




                                                                                                                                                                          1
com o diabásio. A Figura 7 apresenta curva típica (SEV-7) da área inter-                                                                                                          2ª Camada
                                                                                                                                                                                 Solo argiloso         Zona Retenção
                                                                                                     100
na, com sua respectiva correspondência hidrogeológica.                                                                                                                                3ª Camada           Nível d’água
                                                                                                                                                                         10                           (Água de Gravidade)
    Devido ao caráter arenoso das camadas superficiais (aterro) do                                                                                                                4ª Camada
                                                                                                                                                                                                                            Saturação




                                                                                                                                                                                 Siltito argiloso
                                                                                                                                                                                                                             Zona de




cemitério, os líquidos provenientes da decomposição dos corpos –                                               Curva de campo                                                   5ª Camada
                                                                                                               Curva do modelo                                                   Diabásio
necrochorume – podem fluir perfeitamente. Já nas camadas mais                                         10                                                      100
                                                                                                           1          10               100     1000                           10       100     1000
                                                                                                                                                                              Resistividade (ohm.m)
profundas, os sedimentos apresentam condições fisico-químicas,                                                             AB/2 (m)

como textura argilosa e baixa condutividade hidráulica, que são            Figura 7 – Curva típica da área interna e sua caracterização hidrogeológica



                                                                                                                                      Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336                                                      331
Silva, R.W.C.  Malagutti Filho, W.



           O modelo geoelétrico da área externa do cemitério (Tabela 2)      Tabela 2 – Modelo geoelétrico proposto para a área externa do cemitério.
      apresenta diversos tipos de materiais geológicos em subsuperfí-        Zona                              Descrição dos materiais                                                                Resistividade (Ω.m)
      cie. As SEVs a leste apresentaram estratos geoelétricos caracte-                                         Solo argilo-siltoso                                                                        28 ≤ ρ ≤ 220

      rísticos da Formação Corumbataí, e as SEVs a oeste e ao norte          Aeração                           Solo argilo-arenoso                                                                      138 ≤ ρ ≤ 1.093
                                                                                                               Solo areno-argiloso                                                                     1.100 ≤ ρ ≤ 2.960
      do cemitério apresentaram estratos geoelétricos característicos da
                                                                                                               Siltito argiloso (Formação Corumbataí)                                                     24 ≤ ρ ≤ 398
      Formação Corumbataí e diabásio na profundidade acima de 15
                                                                                                               Anomalia condutiva – necrochorume                                                               ρ  10
      m. A anomalia condutiva na zona saturada é referente a SEV-3           Saturação
                                                                                                               Siltito argiloso (Formação Corumbataí)                                                      10 ≤ ρ ≤ 53
      que se localiza a montante da quadra 1 e 4. A Figura 8 apresenta                                         Diabásio (intrusivas básicas)                                                                  ρ  105
      curva típica da área interna com sua respectiva correspondência
      hidrogeológica.
                                                                                                                                                                          1
           Por meio das profundidades da zona saturada obtidas pelas                  1000                                                                                        1ª
                                                                                                                                                                               Camada                       Zona de
                                                                                                                                                                                                        Evapotranspiração




                                                                                                                                                                                                                             Aeração
                                                                                                                                                                                                                             Zona de
                                                                                                                                  Curva de campo                                 Solo
      SEVs, obteve-se o mapa potenciométrico da área do cemitério                                                                 Curva do modelo                              argiloso 2ª Camada
                                                                                                                                                                                seco Solo argiloso        Zona Capilar




                                                                              Resistividade (ohm.m)
                                                                                                                                                                                            úmido
      de Vila Rezende e seu entorno (Figura 9). Notam-se dois senti-




                                                                                                                                                       Profundidade (m)
                                                                                                                                                                                                           Nível d’água
                                                                                                                                                                                                       (Água de Gravidade)
      dos de fluxo subterrâneo, um para SW e outro para SE, e com                                                                                                                    3ª Camada




                                                                                                                                                                                                                              Zona de Saturação
                                                                                                100                                                                   10           Siltito saturado

      profundidade do nível freático variando em época de estiagem
      entre 3 e 5,5 m. Nas quadras 1, 4, 8 e 9, as profundidades variam
                                                                                                                                                                                        4ª Camada
      entre 3 e 4 m.                                                                                                                                                                     Diabásio

                                                                                                      10                                                       100
                                                                                                           1      10               100          1000                          10     100 1000 10
                                                                                                                       AB/2 (m)                                                Resistividade (ohm.m)
      IE
                                                                             Figura 8 – Curva típica da área externa e sua caracterização hidrogeológica
           As seções de IE-1, 2, 3 (Figura 10) apresentam altos valores de
      resistividade aparente entre 700 e 2.600 Ω.m associados às tubu-
      lações e outras construções de concreto para drenagem superficial
      aterradas no local. Os valores de resistividade entre 150 e 700
      Ω.m correlacionam-se com uma camada de solo argilo-arenoso
      e o intervalo de resistividade, de 50 a 150 Ω.m, correlaciona-se
      aos siltitos argilosos da Formação Corumbataí. No entanto, nessas
      seções, ocorrem baixos valores de resistividade aparente ( de 75
      Ω.m) próximo à superfície, acima do nível freático, corresponden-
      do a uma anomalia condutiva, proveniente da influência do vaza-
      mento de necrochorume dos jazigos a montante. Essas anomalias
      ficam evidenciadas na seção de IE-1 entre 55 e 68 m a jusante da
      quadra 2 e a partir de 110 m a jusante da quadra 1. Na seção de
      IE-2 as anomalias condutivas encontram-se entre 70 e 145 m a
      jusante das quadras 6 e 5 e a partir de 200 m no canteiro central
      e a jusante da quadra 4. Já no IE-3 as anomalias encontram-se
      entre 155 e 225 m e a partir de 195 m a jusante das quadras 9 e
      8, respectivamente.
           Observando as seções de IE-1, 2 e 3, encontram-se valores de
      resistividade menores, a partir do terço final, mais precisamente a
      jusante das quadras 1, 4 e 8, onde os solos são mais argilosos e,
      portanto, mais condutivos. Por meio das informações das SEV-7 e
      1 e por informações dos funcionários do cemitério, foi observado
      que o nível freático nessa área é mais raso, principalmente nos pe-
      ríodos de chuva, podendo ocorrer afloramento próximo ao muro.
      Sendo assim, nessa área, a zona de aeração é menos espessa, pois
      é, portanto, mais vulnerável à contaminação, uma vez que a zona
      não-saturada desempenha um papel de filtro dos contaminantes
      biológicos.                                                            Figura 9 – Mapa potenciométrico da área do cemitério de Vila Rezende



332   Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336
Investigação de cemitérios por meio de Métodos Geofísicos




                                                                                      Provável pluma de
                                                                                                                            Seção de IE - 1
                                                                                        contaminação                                                                     Provável pluma de
                                                                                                                            tubulações de concreto                         contaminação
                                             0        10        20         30         40         50         60      70         80         90      100      110          120    130      140         150     160     170      180
               Profundidade (m)
                                                                                                                                                                                                                                       m
                                     0                          NA
                                     5           Boca de lobo

                                  10               tubulação                                                                                                                                                    Poço de visita
                                                   Caixa de ligação de
                                  15              tubulações (concreto)
                                                   Espaçamento entre eletrodos de 10m                         Interações = 5         RMS = 18,5%

                                                                                                                   Seção de IE - 2
                                                                                                                                         Provável pluma de
                                                                                                                                          contaminação
                                                                                                                     Poço de visita
                                         0              SEV 09 50                                100        SEV 12          150                     200 SEV 13                 250                        300
                                                                                                                                                                                                                                   m
               Profundidade (m)




                                     0                                     NA                                                              Boca de lobo
                                       Poço de                                                              Caixa de ligação
                                     5 visita
                                             Tubulação de
                                  10           concreto
                                  15                 Poço de visita
                                                   Espaçamento entre eletrodos de 10m                       Interações = 5        RMS = 12,4%

                                                                                                                             Seção de IE - 3
                                                                                           tubulação e poço                                                                           Provável pluma
                                                                                                de visita                                                 caixa de ligação           de contaminação
                                                                                                                                            Tubulação
                                             0                   50                        100                   150SEV 08               200                 250        SEV 07 300                350                       400
                 Profundidade (m)




                                                                                                                                                                                                                                   m
                                      0
                                        Poço de
                                      5 visita
                                        Tubulação
                                     10 Poço de visita e
                                         Boca de lobo
                                     15
                                                   Espaçamento entre eletrodos de 10m                         Interações = 5             RMS = 14,5%

                                                                                                                            Seção de IE - 5
                                                                 Direção do fluxo da provável
                                                                    pluma de contaminação
                                          0            10            20         30           40             50         60           70         80         90            100      110          120         130
                  Profundidade (m)




                                     0                                                                                                                                                                                            m
                                                                     NA

                                     5
                                  10
                                  15
                                                     Espaçamento entre eletrodos de 10m                       Interações = 5         RMS = 16,9%

                                                                                                                            Seção de IE - 11
                                                                                                                                                Provável área de influência por
                                                                                                                                                 transporte de necro-chorume
                                          0             10                20          30               40          50               60          70        80        90          100                   110          120       130
               Profundidade (m)




                                                                                                                                                                                                                                       m
                                     0                                NA
                                     5
                                  10                                                                                                                                                                       Poço de visita

                                  15
                                                        Espaçamento entre eletrodos de 10m                       Interações = 5          RMS = 11,6%

                                                                                                                         Seção de IE - 12                                        Sedimentos arenosos carreados
                                                                                                                                                                                   por escoamento superficial

                                             0                        50                         100 SEV 16                 150                     200                       250                     300
               Profundidade (m)




                                                                                                                                                                                                                                       m
                                         0
                                                                NA                                                                        Sedimento areno-argiloso
                                         5
                                     10                                                                             Sedimento argilo-arenoso

                                     15                                                           Siltitos Argilosos
                                                        Espaçamento entre eletrodos de 10m                        Interações = 5            RMS = 11,7%

                                                                                                 LEGENDA                                                           NA
                                                                                                                                                                              Nível d'água
                                             2600            1400               700               350              150              50              0
                                                                                                                                                                              Jazigos ( a montante)
                                                                                                                                                                              Cadáveres enterrados por
                                                                     Resistividade Aparente (ohm.m)                                                                            inumação (a montante)
                                                                                                                                                                              Canteiro Central

                                                                                                                                                                              Asfalto

                                                                                                                                                                              Muro
                                                                                                                                                                              Jazigos ( a montante - lado de fora)


Figura 10 – Seções geoelétricas: linhas de IE-1, 2, 3, 5, 11 e 12



                                                                                                                                                                                     Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336   333
Silva, R.W.C.  Malagutti Filho, W.



          Na seção de IE-5, ocorrem baixos valores de resistividade aparen-            sepultamentos, havendo assim uma constante renovação da fon-
      te (abaixo de 75 Ω.m) próximo à superfície, acima do nível freático,             te contaminadora. Dent (1995), em um cemitério na Austrália, e
      correspondendo a uma anomalia condutiva proveniente da influên-                  Matos (2001), no cemitério Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo,
      cia do vazamento de necrochorume dos jazigos a montante.                         constataram que há aumento da condutividade elétrica no lençol
          A parte final das seções de IE-2, 3 e toda a seção 5, mais preci-            freático próximos de sepultamentos recentes. Migliorini (1994), no
      samente a jusante das quadras 1, 4 e 8, apresentaram, em todas as                cemitério Vila Formosa, em São Paulo, e Almeida e Macêdo (2005),
      camadas, resistividades aparentes inferiores a 150 Ω.m. Essa área,               em cinco cemitérios na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, cons-
      além de apresentar baixo nível freático, é a de maior intensidade de             tataram aumento da condutividade elétrica no lençol freático por
                                                                                       meio de altas concentrações de íons maiores, principalmente o clo-
                                                                                       reto e compostos nitrogenados.
                                    Provável Pluma                                         Na superfície das quadras 1, 4 e 8, há presença de jazigos acima
                                   de Contaminação
                                                        P1                             do nível do terreno com até quatro gavetas, preparados para alojar di-
                                                                      P2
                                                                                       versos cadáveres num mesmo local ao longo dos anos, após o período
          Z 4,16 m
                                                                                       de exumação. Desta forma, a principal fonte de contaminação são es-
                                                   P3
                                                                                  P4   ses tipos de jazigos, nos quais continuamente ocorrem sepultamentos
                                    P6                               P5                e, consequentemente, renovação das fontes contaminadoras.
                                                                                           Na seção IE-11, que está localizada na área externa do cemitério
                                                                                       – aproximadamente 40 m da quadra 1, observa-se que as faixas de
                                                                                       baixa resistividade estão abaixo de 7 m de profundidade, em zona
            6,97 m
                                                                                       saturada, a jusante do fluxo no cemitério, podendo ter influência do
                                                                                       necrochorume. Romero (1970) apud Pacheco (1986) afirma que o
                                                                                       percurso de contaminantes biológicos em sedimentos com textura
                                                                                       fina, que é o caso do necrochorume e o aquífero presente no cemité-
                                                                                       rio, pode chegar a 30 m.
                                                                                           A seção IE-12 foi realizada a aproximadamente 320 m a NW e
            9,62 m
                                                                                       a montante da área cemitério, servindo assim como uma linha de
                                                                                       comparação (background). Foi realizada a essa distância, devido à
                                                                                       inexistência de uma área a montante próxima ao cemitério, com
                                                                                       dimensões suficientes para realização do ensaio, e que fosse isen-
                                                                                       ta de interferências causadas pela linha de alta tensão presente no

           12,20 m
                                                                                       entorno do cemitério. Segundo Orellana (1972), um valor anômalo
                                                                                       deve diminuir ou ultrapassar em pelo menos duas ou três vezes o
                                                                                       valor de background.
                                                                                           Os altos valores de resistividade aparente que ocorrem na seção
                                                                                       IE-12 demonstraram que essa área é isenta de anomalias conduti-
                                                                                       vas proveniente de contaminação por necrochorume. Os valores de
           14,80 m                                                                     resistividades entre 700 e 2.600 Ω.m relacionam-se ao solo argilo-
                                                                                       arenoso, areno-argiloso e aos sedimentos arenosos carreados por es-
                                                                                       coamento superficial e depositados em curvas de nível do local. Os
                                                                                       valores de resistividade entre 150 e 700 Ω.m correlacionam-se com
                                                                                       uma camada de solo argilo-arenosa saturados. Os valores de resis-
                                         Fluxo d' Água Subterrânea                     tividade elétrica inferiores a 150 Ω.m correlacionam-se aos siltitos
                                         Poço de Monitoramento
                                         Delimitação da Provável
                                                                                       argilosos da Formação Corumbataí.
                                         Pluma de Contaminação
                                                                                           A Figura 11 apresenta o mapa 3D de resistividade elétrica para os
                                    Resistividade em ohm.m                             cinco níveis de investigação que corresponde a uma profundidade de
                                                                                       4,16 a 14,8 m, segundo o modelo do software RES2DINV.
                      0       20     75      250        900   2000         3000
                                                                                           Observam-se, no mapa, duas prováveis plumas de contaminação
                                                                                       no primeiro nível de investigação: uma na direção SW e outra a SE,
      Figura 11 – Mapa 3D de resistividade elétrica para os cinco níveis de
      investigação                                                                     ambas seguindo a direção do fluxo subterrâneo. A provável pluma a



334   Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336
Investigação de cemitérios por meio de Métodos Geofísicos



SW inicia-se sob a quadra 9 e se estende sob as quadras 5, 6, 3 e 2. As   Conclusões
anomalias condutivas podem ser também observadas nas seções geo-
elétricas das linhas de IE-2, 3 e 7 e nos primeiros níveis geoelétricos       O modelo geoelétrico da área externa ao cemitério apresenta uma
das SEVs-7, 8 e 12. Já a provável pluma a SE inicia-se sob a quadra 8     camada de 4 m de material argilo-siltoso a SE do cemitério e mate-
e se estende sob as quadras 4, 1, uma parte do canteiro central e fora    rial argilo-arenoso e areno-argiloso a NE, NW e SW. Na área interna,
dos limites do cemitério. Essas anomalias condutivas são observadas       há uma camada pouco espessa de aterro de sedimentos arenosos.
nas seções geoelétricas IE-2, 3 e 5.                                      Abaixo da camada de aterro, ocorre um material argilo-siltoso nas
    No mapa do segundo nível de investigação, há uma provável             quadras a leste do cemitério, e argilo-arenoso nas quadras a oeste do
pluma de contaminação na direção SE, provavelmente a extensão da          cemitério, em ambas as direções, provenientes dos siltitos argilosos
pluma do nível anterior. Essa pluma inicia-se entre a quadra 8 e 4, se    da Formação Corumbataí.
estende até a quadra 1 e também para a área externa do cemitério.             Há dois sentidos de fluxo subterrâneo no cemitério, um sentido
    Há uma provável pluma de contaminação na direção SE no ter-           a SW e o outro a SE, com profundidade do nível freático no período
ceiro nível de investigação, iniciando-se sob a quadra 4 e se estenden-   de estiagem, entre 3,1 e 5,1 m.
do sob a quadra 1 e fora dos limites do cemitério.                            O cemitério apresenta condições desfavoráveis na percolação
    Observa-se, no mapa para o quarto nível de investigação, que, na      do necrochorume devido à predominância de um material argiloso.
maioria das quadras, ocorrem valores baixos de resistividade elétri-      No entanto, existem condições favoráveis para a ocorrência do fe-
ca, que representam os materiais geológicos saturados da Formação         nômeno conservativo de saponificação e a expansão em baixa pro-
Corumbataí. Já o mapa para o quinto nível apresenta valores baixos        fundidade da pluma de contaminante, devido à baixa profundidade
de resistividade elétrica em toda a área do cemitério, representando      do nível freático.
os materiais geológicos saturados da Formação Corumbataí.                     Pelas diversas anomalias condutivas em zona não saturada e
    Após a identificação das prováveis plumas por meio do mapea-          por duas prováveis plumas de contaminação, uma na direção SW
mento das mesmas, recomenda-se a instalação de seis poços de mo-          e outra a SE – a última se prolongando em grande profundidade
nitoramento nos locais designados na Figura 11. O primeiro poço           – o cemitério de Vila Rezende passa de uma área suspeitamente
(P1) teria como função o controle da água subterrânea em meio             contaminada para uma área confirmadamente contaminada por
não contaminado a montante do fluxo da água subterrânea, na área          necrochorume.
do cemitério (background); os poços P2 e P3 se localizariam onde
se mapearam pela investigação geoelétrica as prováveis plumas de          Agradecimentos
contaminação; os poços P4, P5 e P6 seriam localizados na área ex-
terna do cemitério, a jusante na direção do fluxo subterrâneo e das           À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
plumas de contaminação.                                                   (Capes) pelo auxílio na execução deste trabalho.




Referências

ALMEIDA, A.M.; MACÊDO, J.A.B. Parâmetros físico-químicos de               ______. Norma L1.040: Implantação de cemitérios. São Paulo, 1999.
caracterização da contaminação do lençol freático por necrochorume.
In: SEMINÁRIO DE GESTÃO AMBIENTAL – um convite a                          DENT, B.B. Hydrogeological studies at botany cemetery. M.Sc. Project
Interdisciplinariedade, Anais..., Juiz de Fora: Instituto Viana           Report. Sydney: University of Technology of Sydney, 1995.
Junior, 2005.
                                                                          GOLDEN SOFTWARE. Surfer version 8.0: surface mapping system.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 335,             Colorado, USA: Golden Software, 2002. 1 CD-Rom.
de 3 de abril de 2003. Dispõe sobre o licenciamento ambiental de
cemitérios. 2003. Disponível em: http://www.aguaseaguas.ufjf.br/         INTERPEX LIMITED. IX1D v.2.0: Instruction manual. Colorado, USA:
RESOLUCAO%20conama335%20CEMITERIOS.pdf. Acesso em: 13                    Golden, 2008. Disponível em: http://www.interpex.com/ix1d/ix1d_
set. 2006.                                                                version.htm. Acesso em: 21 mai. 2008.

COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Manual                   LOKE, M.H. RES2DINV ver. 3.54 for Windows 98/Me/2000/NT/XP: Rapid
de gerenciamento de áreas contaminadas. Programa Cetesb/GTZ. São          2D Resistivity  IP Inversion using the least-squares method. Penang,
Paulo, 2001.                                                              Malaysia: Geotomo Software, 2004. Disponível em: http://www.



                                                                                                   Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336   335
Silva, R.W.C.  Malagutti Filho, W.



      geophysik.tu-freiberg.de/assets/media/Personal/rub/Praktika/ res2dinv.    ORELLANA, E. Prospección geoeléctrica en corriente continua. Madrid:
      pdf. Acesso em: 21 mai. 2008.                                            Paraninfo, 1972. Biblioteca Técnica Philips.

      MATOS, B.A. Avaliação da ocorrência e do transporte de microrganismo      PACHECO, A. Os cemitérios como risco potencial para as águas de
      no aqüífero freático do cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, município    abastecimento. Revista do Sistema de Planejamento e Administração
      de São Paulo. 2001. 113 f. Tese (Doutorado em Recursos Minerais e         Metropolitana, São Paulo, ano IV, n. 17, p. 25-31, 1986.
      Hidrogeologia) – Escola Politécnica da USP São Paulo, 2001.
                                                 ,
                                                                                PANNATIER, Y. Variowin: software for spatial data analysis in 2D. New
      MIGLIORINI, R.B. Cemitérios como fonte de poluição em aqüíferos:          York: Springer-Verlag, 1996.
      estudo do cemitério Vila Formosa na bacia Sedimentar de São Paulo.
      1994. 74 f. Dissertação (Mestrado em Recursos Minerais e Hidrogeologia)   WARD, S.H. Resistivity and polarization methods. In: WARD, S.H. Geotechnical
      – Instituto de Geociências da USP São Paulo, 1994.
                                        ,                                       and environmental geophysics. Tulsa: SEG, 1990. v. 3, p. 147-189.




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Aia. cemiterio

  • 1. O emprego de métodos geofísicos na fase de investigação Artigo Técnico confirmatória em cemitérios contaminados Application of geophysical methods in the confirmatory investigation phase in contaminated cemeteries Robson Willians da Costa Silva Engenheiro Ambiental pela Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP). Mestre em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Consultor Ambiental. Professor da Faculdade Anhanguera de Piracicaba Walter Malagutti Filho Geólogo pela Unesp Rio Claro. Geofísico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) na área de Geofísica. Doutorado em Geociências e Meio Ambiente pela Unesp. Livre-docente em Geofísica Aplicada pela Unesp  Resumo Dentro do gerenciamento de áreas contaminadas, a aplicação de métodos geofísicos, em estudos de área contaminada, constitui uma metodologia confirmatória. Este procedimento – mais precisamente o método da eletrorresistividade por meio das técnicas da sondagem elétrica vertical e imageamento elétrico – foi aplicado no cemitério de Vila Rezende, em Piracicaba, São Paulo, para investigar e mapear a contaminação do cemitério por necrochorume. Os resultados indicam uma profundidade do nível freático entre 3,1 e 5,1 m, com duas direções de fluxo subterrâneo, uma a SW e outra a SE. Tanto as prováveis plumas de contaminação, que têm as mesmas direções de fluxo subterrâneo, quanto as anomalias condutivas verificadas nas seções geoelétricas confirmam as suspeitas de contaminação na área. Palavras-chave: eletrorresistividade; contaminação; necrochorume; investigação. Abstract Inside of the administration of contaminated areas, the application of geophysical methods, in studies of contaminated area, constitutes a confirmatory methodology. This procedure – more precisely the electrical resistivity method through the techniques of the vertical electric sounding and electrical imaging techniques, was applied at Vila Rezende’s cemetery, Piracicaba, São Paulo, Brazil, to investigate and to map the contamination of the cemetery for necrochorume. The results indicate a depth of water table among 3.1 and 5.1 m, with two flow directions, being one to SW and another to SE. So the probable contamination plumes, that have the same directions of underground flow, as for the conductive anomalies verified at the geoelectrics sections confirm the suspicions of contamination in the area. Keywords: eletrorresistivity; contamination; necrochorume; investigation. Introdução É possível apontar como a principal causa de poluição dos cemi- térios a eliminação do necrochorume pelos cadáveres, particularmen- te, no primeiro ano do sepultamento. O necrochorume pode veicular, Aspectos ambientais a serem investigados além de micro-organismos oriundos do cadáver, restos ou resíduos Com a promulgação pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente de tratamentos químicos hospitalares (quimioterapia, por exemplo) (Conama) da Resolução nº 335 de 28 de maio de 2003, os cemitérios e os compostos decorrentes da decomposição da matéria orgânica. são vistos como fontes de contaminação do ambiente, e sua implan- Esses contaminantes incorporados ao fluxo de necrochorume são tação está sujeita ao atendimento dos critérios legais, fazendo-se ne- prejudiciais ao solo e às águas subterrâneas. cessária a implantação de equipamentos de proteção ambiental para Segundo Matos (2001), os compostos orgânicos liberados no salvaguardar o solo e as águas subterrâneas. processo de decomposição dos cadáveres aumentam a atividade Endereço para correspondência: Robson Willians da Costa Silva – Pós-graduação em Geociências – Unesp, Campus Bela Vista – Avenida 24 A, 1.515 – 13506-900 – Rio Claro (SP), Brasil – Tel.: (19) 34224069 – E-mail: robsonwillians@yahoo.com.br Recebido: 12/06/08 – Aceito: 2/2/09 – Reg. ABES: 096/08 Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336 327
  • 2. Silva, R.W.C. & Malagutti Filho, W. microbiana no solo sob a área de sepultamentos. O autor afirma “Identificação de áreas contaminadas”, a atividade de sepultamento ainda que, nessas áreas, há aumento da condutividade elétrica, como passível de causar contaminação. pH, alcalinidade e dureza da solução do solo, devido à presença Uma área contaminada pode ser definida como uma área, local ou de compostos de nitrogênio e fósforo e de diversos sais (Cl , HCO3, - terreno onde há comprovadamente poluição ou contaminação causa- Ca+2, Na+). Ocorre também a presença de óxidos metálicos (Ti, Cr, da pela introdução de substâncias ou resíduos que nela tenham sido Cd, Pb, Fe, Mn, Ni, entre outros) lixiviados dos adereços das urnas depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados de mortuárias e de patógenos associados a mortes por doenças infecto- forma planejada, acidental ou até mesmo natural (CETESB, 2001). contagiosas. O gerenciamento de áreas contaminadas visa minimizar os riscos A norma técnica L1.040 da Companhia de Tecnologia de a que estão sujeitos a população e o meio ambiente, em virtude da Saneamento Ambiental (Cetesb) de 1999, Implantação de Cemitérios, existência das mesmas, por meio de um conjunto de medidas que asse- e a Resolução Conama nº 335, traçam alguns requisitos técnicos para gurem o conhecimento das características dessas áreas e dos impactos implantação de novas necrópoles. Partindo desse pressuposto, os causados por elas, proporcionando os instrumentos necessários à to- principais aspectos dos cemitérios em atividade a serem investigados mada de decisão quanto às formas de intervenção mais adequadas. são os geológico-geotécnicos, hidrogeológicos e ambiental. A Cetesb (2001) aponta alguns critérios que devem ser levanta- dos para que uma área possa ser considerada como potencialmente Investigação de áreas contaminadas contaminada. O Quadro 1 apresenta as características das atividades passíveis de causar contaminação encontrada em cemitérios. Tendo em vista os inúmeros casos de áreas contaminadas divul- Mesmo que a atividade de sepultamento não se enquadre literal- gados ao público, a Cetesb, com a cooperação técnica do órgão ale- mente como atividade industrial ou comercial, podem ocorrer vaza- mão Deutsche Gesellschaft Für Technishe Zusammenarbeit (GTZ), ela- mentos de substâncias passíveis de causar danos ao solo e às águas boraram, em 2001, o Manual de gerenciamento de áreas contaminadas. subterrâneas, visto que, nessa atividade, se manuseiam resíduos bio- Esse manual se tornou referência no âmbito de gerenciamento de lógicos – os cadáveres. áreas contaminadas no Brasil, mas não consta, em seu capítulo 3, A estratégia para o gerenciamento, proposta pela Cetesb (2001), é constituída por uma série de etapas sequenciais, nas quais as infor- Quadro 1 – Características das atividades passíveis de causarem con- mações obtidas em cada etapa é base para a execução da etapa se- taminação encontrada em cemitérios guinte. O gerenciamento está dividido basicamente em dois proces- Características Ocorrência sos, subdivididos nas etapas, conforme visto no Quadro 2. A Figura 1 Existência de processos produtivos que pos- apresenta o sequenciamento do processo de identificação de áreas Não ocorrem em sam causar contaminação do solo e das águas áreas de cemitérios subterrâneas contaminadas. Presença de substâncias que possuem potencial A etapa de definição da área de interesse marca o início do geren- Pode ocorrer em para causar danos aos bens a proteger via solos áreas de cemitério ciamento das áreas contaminadas (ACs). São definidos os objetivos e águas subterrâneas Atividade industrial ou comercial que apresente principais a ser alcançados e a área do gerenciamento, considerando histórico indicando manuseio, armazenamento Pode ocorrer em ou disposição inadequada de matérias-primas, áreas de cemitério o solo e as águas subterrâneas como os principais bens a proteger. produtos e resíduos A identificação das áreas potencialmente contaminadas (APs) é Atividade industrial ou comercial que apresente Pode ocorrer em realizada coletando-se os dados necessários por meio das técnicas de histórico indicando a ocorrência de acidentes ou áreas de cemitério vazamentos levantamento de dados existentes, de investigações e por observação Atividade industrial ou comercial que apresente do histórico. Pode ocorrer em histórico de geração de áreas suspeitas de con- áreas de cemitério A avaliação preliminar consiste na elaboração de um diagnóstico taminação ou de áreas contaminadas inicial das APs, com um levantamento de informações existentes e Quadro 2 – Processos e etapas do gerenciamento de áreas contaminadas Processos Etapas do processo Definição de áreas de interesse Definição da área Identificação de Identificação de áreas potencialmente contaminadas de interesse AP AS AC áreas contaminadas Avaliação preliminar Investigação confirmatória Avaliação Investigação Investigação detalhada Identificação da área preliminar confirmatória (*) potencialmente Avaliação de risco contaminada Recuperação de Investigação para remediação AP = Área Potencialmente Contaminada; AS = Área Suspeita de Contaminação; áreas contaminadas Projeto de remediação AC = Área Contaminada Remediação (*) Momento no qual podem ser utilizados os Métodos Geofísicos Monitoramento Figura 1 – Processo de identificação de áreas contaminadas 328 Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336
  • 3. Investigação de cemitérios por meio de Métodos Geofísicos de informações coletadas em inspeções de reconhecimento do meio dados históricos de vazamento de necrochorume dos jazigos e sapo- físico, observando os fatos que levem à confirmação da contaminação nificação dos cadáveres. na área e ao estabelecimento do modelo conceitual de contaminação, além da adoção de medidas emergências no local, classificando-o Descrição da área de estudo como área suspeita de contaminação (AS) ou não. A etapa de investigação confirmatória encerra o processo de Em operação desde 15 de setembro de 1976, com uma área de identificação de áreas contaminadas e tem como objetivo principal 75.324,48 m², com mais de 16.500 pessoas sepultadas e média de confirmar ou não a existência de contaminação nas áreas suspeitas, dois sepultamentos por dia, o cemitério público de Vila Rezende esta identificadas na etapa de AP. Nessa etapa, as áreas anteriormente localizado na zona norte do município de Piracicaba (47°39’07”W; classificadas como ASs são avaliadas, por meio de métodos diretos e 22°41’37”S) a 170 km da capital paulista (Figura 3). indiretos de investigação do meio físico, visando à comprovação da O cemitério está dividido em 11 quadras, predominando, até presença de contaminação e possibilitando a classificação das mes- 1988, o sepultamento por inumação, em covas simples, cuja profun- mas como ACs. didade varia de 1,1 a 1,6 m, com simples recobrimento de solo, nas quadras 3, 5, 6, 7, 9, 10 e 11. Em 1993, o processo de sepultamento Métodos geofísicos na investigação de passou a ser por jazigos subterrâneos em alvenaria. Devido às con- contaminação de cemitérios dições hidrogeoambientais desfavoráveis ao sepultamento subterrâ- neo e também às legislações federais e estaduais, a partir de 1999 foi Os métodos geofísicos (Figura 2) são constituídos por técnicas iniciado o processo de sepultamento em jazigos acima do nível do indiretas de rastreamento em subsuperfície, não invasivos e, por- terreno. A resolução Conama nº 335 enfatiza que o nível freático deve tanto, não destrutivos. São empregados em estudos hidrogeológi- distar 1,5 m da base da sepultura. Assim, a ocupação do cemitério cos, para a determinação da profundidade da zona saturada, iden- iniciou-se nas quadras 1 e 11 e, sucessivamente, ao longo de 30 anos, tificação do sentido de fluxo da água subterrânea, no mapeamento nas quadras 7, 6, 10, 9, 5, 2, 3, 4 e 8. em subsuperfície de pluma de contaminante, de falhas e fraturas, A geologia da área é caracterizada por siltitos argilosos da entre outros. Formação Corumbataí, principalmente nas quadras 1, 4 e 8. A con- Na etapa de investigação confirmatória, os métodos geofísicos dutividade hidráulica média dessa formação é de 6,5. 10-7 cm/s. são utilizados para localizar os pontos de amostragem mais adequa- dos, determinando anomalias que representam os locais com maiores concentrações de contaminantes (hot spots). Geofísica aplicada Dessa forma, são avaliadas as condições geológicas locais por meio dos contrastes das propriedades físicas dos materiais de sub- Métodos Métodos Métodos Métodos geoelétricos sísmicos Potenciais geotérmicos superfície, como condutividade ou resistividade elétrica, permissi- vidade dielétrica, magnetismo, densidade etc., podendo ter como Eletrorresistividade Refração Gravimetria Magnetometria Polarização induzida Reflexão origem as diferenciações litológicas e outras heterogeneidades na- Potencial espontâneo Radar de penetração turais ou não. Eletromagnético Em cemitérios, a aplicação de métodos geofísicos na caracteriza- Figura 2 – Métodos geofísicos de prospecção ção subsuperficial, apresenta inúmeras vantagens técnico-econômi- cas, principalmente por serem técnicas investigativas indiretas, não causando dano às construções presentes, como columbários, jazigos, lápides e outros, e com um custo relativamente baixo em comparação com outras técnicas de prospecção, além da rapidez na aquisição dos dados. Os levantamentos geofísicos propiciam a execução de perfis contínuos, possibilitando a identificação com maior precisão das va- riações laterais decorrentes das mudanças litológicas ou originadas pela presença da contaminação subterrânea. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo investigar a con- taminação em um cemitério por meio do método geofísico da ele- trorresistividade, correspondendo à fase de investigação confirmató- ria, visto que o cemitério no qual o trabalho foi executado apresenta condições hidrogeoambientais favoráveis à contaminação do meio, Figura 3 – Localização esquemática do cemitério de Vila Rezende Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336 329
  • 4. Silva, R.W.C. & Malagutti Filho, W. Metodologia O método da eletrorresistividade consiste em injetar corrente elé- O arranjo dipolo-dipolo (Figura 5) é um dos mais utilizados na trica, por meio de contatos diretos com o solo, e medir a diferença de investigação de contaminantes, pela precisão nos resultados e rapidez potencial elétrico, por eletrodos metálicos aterrados ao solo. Quando na execução em campo. Apresenta melhor resolução, anomalias mais os valores da corrente e do potencial são registrados, é possível calcu- intensas, considerando relações verticais (WARD, 1990). Neste arran- lar a resistividade dos materiais em subsuperfície. jo, a configuração é de dois eletrodos, A e B, de emissão de corrente e As técnicas mais utilizadas são a sondagem elétrica vertical (SEV), de dois eletrodos, M e N, de potencial com igual abertura ‘x’, estando que investiga as heterogeneidades verticais das resistividades, e o os eletrodos dispostos em um mesmo alinhamento. O ponto de atri- imageamento elétrico (IE) que investiga as heterogeneidades hori- buição do valor calculado é a intersecção das linhas que partem do zontais e verticais das resistividades. centro de AB e MN, com ângulo de 45°. Observa-se, na Figura 5, que Os arranjos eletródicos mais utilizados pelo método da eletror- o espaçamento R varia nos múltiplos de abertura do dipolo, na forma resistividade, utilizando as técnicas de SEV e IE, são: gradiente, di- x (n + 1), onde x = 1, 2, 3,... é o número de dipolos MN. Assim, o polo-dipolo, pólo-dipolo, Schlumberger e Wenner (WARD, 1990). nível teórico de investigação progressivamente cresce com o cresci- A escolha do arranjo de superfície dos eletrodos depende dos pro- mento de R, que teoricamente corresponde a x (n + 1)/2. pósitos do levantamento, da situação geológica e do tipo e da qua- A resistividade utilizando o arranjo dipolo-dipolo é calculada lidade de informações desejadas. Neste trabalho, empregaram-se pela Equação 2: as técnicas da SEV com o arranjo Schlumberger e o IE 2D com o arranjo dipolo-dipolo. ∆V 1 2π I O arranjo de campo Schlumberger (Figura 4) é o mais utiliza- 1 2 1 Equação 2 n − n +1 + n + 2 do em SEVs, devido à qualidade das curvas de campo, facilidade e rapidez na execução do ensaio e menor suscetibilidade às variações laterais de resistividade e ruídos, como correntes naturais no subso- Para estabelecer o modelo geoelétrico e, posteriormente, a elabo- lo, linhas de alta tensão etc. Neste arranjo, os eletrodos de corrente ração do mapa potenciométrico da área do cemitério, foram realiza- AB apresentam uma separação crescente, e os eletrodos de potencial das 16 SEVs, com espaçamento dos eletrodos AB de até 200 m, em MN permanecem fixos – a uma distância ≤ AB/5, durante o desen- setembro de 2006. As SEVs foram distribuídas em toda área de estu- volvimento do ensaio. O objetivo básico nesse arranjo é fazer com do (Figura 6), sendo executados sete ensaios na área interna do ce- que a distância que separa os eletrodos M e N tenda a 0 em relação à mitério (SEV: 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13), e nove ensaios na área externa distância crescente entre A e B. Devido aos procedimentos de campo do cemitério (SEV: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 14, 15 e 16). O aparelho utilizado descritos, o erro produzido por esse tipo de arranjo pode ser consi- foi o resistivímetro Bison, modelo 2390 da Bison Instruments Inc. O derado insignificante (ORELLANA, 1972). A resistividade utilizando processamento das SEVs visando à obtenção do modelo geoelétrico esse arranjo é dada pela Equação 1: foi realizado no software IX1D v.3 da Interpex Limited, utilizando tanto o método direto como inverso. No método direto, admitiu-se um modelo inicial, baseado no conhecimento prévio da geologia local. = ∆V AM . AN O algoritmo do software calculou a curva de resistividade e, após um π Equação 1 I MN ajuste razoável, o modelo foi refinado por meio da inversão, com base R Sentido de caminhamento x nx x A A V V V V V V A M N B A B M1 N1 M2 N2 M3 N3 M4 N4 M5 N5 P MN AB/5 45º 45º n1 n2 n3 x = Espaçamento dos dipolos R = Espaçamento entre os centros n4 dos dipolos considerados Z = R/2 n5 n = Níveis Teóricos de Investigação Z = Profundidade teórica investigada Linhas equipotenciais Linhas equipotenciais Linhas de corrente Linhas de corrente Figura 4 – Arranjo Schlumberger Figura 5 – Arranjo dipolo-dipolo 330 Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336
  • 5. Investigação de cemitérios por meio de Métodos Geofísicos no método dos mínimos quadrados, que busca uma convergência da desfavoráveis para percolação do necrochorume – embora isso facili- curva teórica para a curva de campo. te o fenômeno de saponificação dos cadáveres. Após obtidas as profundidades dos níveis freáticos nos locais das SEVs e suas coordenadas UTM, foi possível elaborar o mapa poten- ciométrico da área, utilizando o software Surfer v.8 da Golden Software, com a interpolação geoestatística de mínima curvatura. Esse método de interpolação geoestatística é um método suavizador, sendo o que melhor representa as linhas equipotencias. Para investigação e mapeamento geoelétrico do cemitério, foram executadas 12 linhas de IEs (Figura 6), em fevereiro de 2007, com comprimento de até 390 m, espaçamento de 10 m entre eletrodos, 5 níveis de investigação, resultando numa profundidade teórica de 15 m, por meio do resistivímetro Terrameter SAS 4000 da Abem Instruments. Os dados foram processados no software RES2DINV, de autoria de Loke (2004), que executa um imageamento 2D do terreno, empregando a técnica da inversão por meio do método dos mínimos quadrados. Os resultados da inversão pelo RES2DINV foram expor- tados na forma de arquivos XYZ e interpolados por krigagem simples pelo Surfer, para elaborar as seções geoelétricas. Para gerar os mapas 3D de resistividade elétrica dos 5 níveis de investigação, foi realizada uma análise geoestatística de 274 dados por nível pelo software Variowin 2.21, de autoria de Pannatier (1996). O modelo variográfico foi exportado para o software Surfer, para a realização da interpolação pelo método da krigagem ordinária. Resultados e discussão Figura 6 – Localização dos ensaios geoelétricos realizados na área de estudo SEV Tabela 1 – Modelo geoelétrico proposto para a área interna do cemitério O modelo geoelétrico da área interna do cemitério (Tabela 1) apre- Zona Descrição dos materiais Resistividade (Ω.m) senta uma heterogeneidade de valores de resistividade entre 10 e 2.960 Solo argilo-arenoso 157 ≤ ρ ≤ 628 Ω.m, sendo os níveis mais condutivos interpretados como provável Solo areno-argiloso 2.070 ≤ ρ ≤ 2.960 Anomalia condutiva – necrochorume 13 ≤ ρ ≤ 75 contaminação por necrochorume e os mais resistivos, como horizontes Aeração Solo areno-argiloso + aterro arenosos 448 ≤ ρ ≤ 935 areno-argilosos, aterro com sedimentos arenosos, cascalho de calcário, Tubulações e construções de concreto 934 ≤ ρ ≤ 1.720 resíduos de construção e demolição moídos e reciclados, e tubulações aterradas e galerias de drenagem superficial. As curvas apresentam padronização Solo argilo-arenoso 110 ≤ ρ ≤ 373 Saturação Siltito argiloso (Formação Corumbataí) 10 ≤ ρ ≤ 455 da segunda parte em diante, em profundidade e resistividade a partir Diabásio (intrusivas básicas) ρ 110 de 4 m e 180 Ω.m, respectivamente, interpretado como siltitos argi- losos da Formação Corumbataí. No entanto, em algumas SEVs, o seu 0,1 1000 1ª Camada último nível (a partir de 18 m) apresentou resistividade 15 vezes maior Anomalia Condutiva Zona de Evapotranspiração Zona de Aeração (Conatminação?) em relação ao nível geoelétrico anterior, podendo ser correlacionadas Resistividade (ohm.m) Profundidade (m) 1 com o diabásio. A Figura 7 apresenta curva típica (SEV-7) da área inter- 2ª Camada Solo argiloso Zona Retenção 100 na, com sua respectiva correspondência hidrogeológica. 3ª Camada Nível d’água 10 (Água de Gravidade) Devido ao caráter arenoso das camadas superficiais (aterro) do 4ª Camada Saturação Siltito argiloso Zona de cemitério, os líquidos provenientes da decomposição dos corpos – Curva de campo 5ª Camada Curva do modelo Diabásio necrochorume – podem fluir perfeitamente. Já nas camadas mais 10 100 1 10 100 1000 10 100 1000 Resistividade (ohm.m) profundas, os sedimentos apresentam condições fisico-químicas, AB/2 (m) como textura argilosa e baixa condutividade hidráulica, que são Figura 7 – Curva típica da área interna e sua caracterização hidrogeológica Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336 331
  • 6. Silva, R.W.C. Malagutti Filho, W. O modelo geoelétrico da área externa do cemitério (Tabela 2) Tabela 2 – Modelo geoelétrico proposto para a área externa do cemitério. apresenta diversos tipos de materiais geológicos em subsuperfí- Zona Descrição dos materiais Resistividade (Ω.m) cie. As SEVs a leste apresentaram estratos geoelétricos caracte- Solo argilo-siltoso 28 ≤ ρ ≤ 220 rísticos da Formação Corumbataí, e as SEVs a oeste e ao norte Aeração Solo argilo-arenoso 138 ≤ ρ ≤ 1.093 Solo areno-argiloso 1.100 ≤ ρ ≤ 2.960 do cemitério apresentaram estratos geoelétricos característicos da Siltito argiloso (Formação Corumbataí) 24 ≤ ρ ≤ 398 Formação Corumbataí e diabásio na profundidade acima de 15 Anomalia condutiva – necrochorume ρ 10 m. A anomalia condutiva na zona saturada é referente a SEV-3 Saturação Siltito argiloso (Formação Corumbataí) 10 ≤ ρ ≤ 53 que se localiza a montante da quadra 1 e 4. A Figura 8 apresenta Diabásio (intrusivas básicas) ρ 105 curva típica da área interna com sua respectiva correspondência hidrogeológica. 1 Por meio das profundidades da zona saturada obtidas pelas 1000 1ª Camada Zona de Evapotranspiração Aeração Zona de Curva de campo Solo SEVs, obteve-se o mapa potenciométrico da área do cemitério Curva do modelo argiloso 2ª Camada seco Solo argiloso Zona Capilar Resistividade (ohm.m) úmido de Vila Rezende e seu entorno (Figura 9). Notam-se dois senti- Profundidade (m) Nível d’água (Água de Gravidade) dos de fluxo subterrâneo, um para SW e outro para SE, e com 3ª Camada Zona de Saturação 100 10 Siltito saturado profundidade do nível freático variando em época de estiagem entre 3 e 5,5 m. Nas quadras 1, 4, 8 e 9, as profundidades variam 4ª Camada entre 3 e 4 m. Diabásio 10 100 1 10 100 1000 10 100 1000 10 AB/2 (m) Resistividade (ohm.m) IE Figura 8 – Curva típica da área externa e sua caracterização hidrogeológica As seções de IE-1, 2, 3 (Figura 10) apresentam altos valores de resistividade aparente entre 700 e 2.600 Ω.m associados às tubu- lações e outras construções de concreto para drenagem superficial aterradas no local. Os valores de resistividade entre 150 e 700 Ω.m correlacionam-se com uma camada de solo argilo-arenoso e o intervalo de resistividade, de 50 a 150 Ω.m, correlaciona-se aos siltitos argilosos da Formação Corumbataí. No entanto, nessas seções, ocorrem baixos valores de resistividade aparente ( de 75 Ω.m) próximo à superfície, acima do nível freático, corresponden- do a uma anomalia condutiva, proveniente da influência do vaza- mento de necrochorume dos jazigos a montante. Essas anomalias ficam evidenciadas na seção de IE-1 entre 55 e 68 m a jusante da quadra 2 e a partir de 110 m a jusante da quadra 1. Na seção de IE-2 as anomalias condutivas encontram-se entre 70 e 145 m a jusante das quadras 6 e 5 e a partir de 200 m no canteiro central e a jusante da quadra 4. Já no IE-3 as anomalias encontram-se entre 155 e 225 m e a partir de 195 m a jusante das quadras 9 e 8, respectivamente. Observando as seções de IE-1, 2 e 3, encontram-se valores de resistividade menores, a partir do terço final, mais precisamente a jusante das quadras 1, 4 e 8, onde os solos são mais argilosos e, portanto, mais condutivos. Por meio das informações das SEV-7 e 1 e por informações dos funcionários do cemitério, foi observado que o nível freático nessa área é mais raso, principalmente nos pe- ríodos de chuva, podendo ocorrer afloramento próximo ao muro. Sendo assim, nessa área, a zona de aeração é menos espessa, pois é, portanto, mais vulnerável à contaminação, uma vez que a zona não-saturada desempenha um papel de filtro dos contaminantes biológicos. Figura 9 – Mapa potenciométrico da área do cemitério de Vila Rezende 332 Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336
  • 7. Investigação de cemitérios por meio de Métodos Geofísicos Provável pluma de Seção de IE - 1 contaminação Provável pluma de tubulações de concreto contaminação 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 Profundidade (m) m 0 NA 5 Boca de lobo 10 tubulação Poço de visita Caixa de ligação de 15 tubulações (concreto) Espaçamento entre eletrodos de 10m Interações = 5 RMS = 18,5% Seção de IE - 2 Provável pluma de contaminação Poço de visita 0 SEV 09 50 100 SEV 12 150 200 SEV 13 250 300 m Profundidade (m) 0 NA Boca de lobo Poço de Caixa de ligação 5 visita Tubulação de 10 concreto 15 Poço de visita Espaçamento entre eletrodos de 10m Interações = 5 RMS = 12,4% Seção de IE - 3 tubulação e poço Provável pluma de visita caixa de ligação de contaminação Tubulação 0 50 100 150SEV 08 200 250 SEV 07 300 350 400 Profundidade (m) m 0 Poço de 5 visita Tubulação 10 Poço de visita e Boca de lobo 15 Espaçamento entre eletrodos de 10m Interações = 5 RMS = 14,5% Seção de IE - 5 Direção do fluxo da provável pluma de contaminação 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 Profundidade (m) 0 m NA 5 10 15 Espaçamento entre eletrodos de 10m Interações = 5 RMS = 16,9% Seção de IE - 11 Provável área de influência por transporte de necro-chorume 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 Profundidade (m) m 0 NA 5 10 Poço de visita 15 Espaçamento entre eletrodos de 10m Interações = 5 RMS = 11,6% Seção de IE - 12 Sedimentos arenosos carreados por escoamento superficial 0 50 100 SEV 16 150 200 250 300 Profundidade (m) m 0 NA Sedimento areno-argiloso 5 10 Sedimento argilo-arenoso 15 Siltitos Argilosos Espaçamento entre eletrodos de 10m Interações = 5 RMS = 11,7% LEGENDA NA Nível d'água 2600 1400 700 350 150 50 0 Jazigos ( a montante) Cadáveres enterrados por Resistividade Aparente (ohm.m) inumação (a montante) Canteiro Central Asfalto Muro Jazigos ( a montante - lado de fora) Figura 10 – Seções geoelétricas: linhas de IE-1, 2, 3, 5, 11 e 12 Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336 333
  • 8. Silva, R.W.C. Malagutti Filho, W. Na seção de IE-5, ocorrem baixos valores de resistividade aparen- sepultamentos, havendo assim uma constante renovação da fon- te (abaixo de 75 Ω.m) próximo à superfície, acima do nível freático, te contaminadora. Dent (1995), em um cemitério na Austrália, e correspondendo a uma anomalia condutiva proveniente da influên- Matos (2001), no cemitério Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, cia do vazamento de necrochorume dos jazigos a montante. constataram que há aumento da condutividade elétrica no lençol A parte final das seções de IE-2, 3 e toda a seção 5, mais preci- freático próximos de sepultamentos recentes. Migliorini (1994), no samente a jusante das quadras 1, 4 e 8, apresentaram, em todas as cemitério Vila Formosa, em São Paulo, e Almeida e Macêdo (2005), camadas, resistividades aparentes inferiores a 150 Ω.m. Essa área, em cinco cemitérios na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, cons- além de apresentar baixo nível freático, é a de maior intensidade de tataram aumento da condutividade elétrica no lençol freático por meio de altas concentrações de íons maiores, principalmente o clo- reto e compostos nitrogenados. Provável Pluma Na superfície das quadras 1, 4 e 8, há presença de jazigos acima de Contaminação P1 do nível do terreno com até quatro gavetas, preparados para alojar di- P2 versos cadáveres num mesmo local ao longo dos anos, após o período Z 4,16 m de exumação. Desta forma, a principal fonte de contaminação são es- P3 P4 ses tipos de jazigos, nos quais continuamente ocorrem sepultamentos P6 P5 e, consequentemente, renovação das fontes contaminadoras. Na seção IE-11, que está localizada na área externa do cemitério – aproximadamente 40 m da quadra 1, observa-se que as faixas de baixa resistividade estão abaixo de 7 m de profundidade, em zona 6,97 m saturada, a jusante do fluxo no cemitério, podendo ter influência do necrochorume. Romero (1970) apud Pacheco (1986) afirma que o percurso de contaminantes biológicos em sedimentos com textura fina, que é o caso do necrochorume e o aquífero presente no cemité- rio, pode chegar a 30 m. A seção IE-12 foi realizada a aproximadamente 320 m a NW e 9,62 m a montante da área cemitério, servindo assim como uma linha de comparação (background). Foi realizada a essa distância, devido à inexistência de uma área a montante próxima ao cemitério, com dimensões suficientes para realização do ensaio, e que fosse isen- ta de interferências causadas pela linha de alta tensão presente no 12,20 m entorno do cemitério. Segundo Orellana (1972), um valor anômalo deve diminuir ou ultrapassar em pelo menos duas ou três vezes o valor de background. Os altos valores de resistividade aparente que ocorrem na seção IE-12 demonstraram que essa área é isenta de anomalias conduti- vas proveniente de contaminação por necrochorume. Os valores de 14,80 m resistividades entre 700 e 2.600 Ω.m relacionam-se ao solo argilo- arenoso, areno-argiloso e aos sedimentos arenosos carreados por es- coamento superficial e depositados em curvas de nível do local. Os valores de resistividade entre 150 e 700 Ω.m correlacionam-se com uma camada de solo argilo-arenosa saturados. Os valores de resis- Fluxo d' Água Subterrânea tividade elétrica inferiores a 150 Ω.m correlacionam-se aos siltitos Poço de Monitoramento Delimitação da Provável argilosos da Formação Corumbataí. Pluma de Contaminação A Figura 11 apresenta o mapa 3D de resistividade elétrica para os Resistividade em ohm.m cinco níveis de investigação que corresponde a uma profundidade de 4,16 a 14,8 m, segundo o modelo do software RES2DINV. 0 20 75 250 900 2000 3000 Observam-se, no mapa, duas prováveis plumas de contaminação no primeiro nível de investigação: uma na direção SW e outra a SE, Figura 11 – Mapa 3D de resistividade elétrica para os cinco níveis de investigação ambas seguindo a direção do fluxo subterrâneo. A provável pluma a 334 Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336
  • 9. Investigação de cemitérios por meio de Métodos Geofísicos SW inicia-se sob a quadra 9 e se estende sob as quadras 5, 6, 3 e 2. As Conclusões anomalias condutivas podem ser também observadas nas seções geo- elétricas das linhas de IE-2, 3 e 7 e nos primeiros níveis geoelétricos O modelo geoelétrico da área externa ao cemitério apresenta uma das SEVs-7, 8 e 12. Já a provável pluma a SE inicia-se sob a quadra 8 camada de 4 m de material argilo-siltoso a SE do cemitério e mate- e se estende sob as quadras 4, 1, uma parte do canteiro central e fora rial argilo-arenoso e areno-argiloso a NE, NW e SW. Na área interna, dos limites do cemitério. Essas anomalias condutivas são observadas há uma camada pouco espessa de aterro de sedimentos arenosos. nas seções geoelétricas IE-2, 3 e 5. Abaixo da camada de aterro, ocorre um material argilo-siltoso nas No mapa do segundo nível de investigação, há uma provável quadras a leste do cemitério, e argilo-arenoso nas quadras a oeste do pluma de contaminação na direção SE, provavelmente a extensão da cemitério, em ambas as direções, provenientes dos siltitos argilosos pluma do nível anterior. Essa pluma inicia-se entre a quadra 8 e 4, se da Formação Corumbataí. estende até a quadra 1 e também para a área externa do cemitério. Há dois sentidos de fluxo subterrâneo no cemitério, um sentido Há uma provável pluma de contaminação na direção SE no ter- a SW e o outro a SE, com profundidade do nível freático no período ceiro nível de investigação, iniciando-se sob a quadra 4 e se estenden- de estiagem, entre 3,1 e 5,1 m. do sob a quadra 1 e fora dos limites do cemitério. O cemitério apresenta condições desfavoráveis na percolação Observa-se, no mapa para o quarto nível de investigação, que, na do necrochorume devido à predominância de um material argiloso. maioria das quadras, ocorrem valores baixos de resistividade elétri- No entanto, existem condições favoráveis para a ocorrência do fe- ca, que representam os materiais geológicos saturados da Formação nômeno conservativo de saponificação e a expansão em baixa pro- Corumbataí. Já o mapa para o quinto nível apresenta valores baixos fundidade da pluma de contaminante, devido à baixa profundidade de resistividade elétrica em toda a área do cemitério, representando do nível freático. os materiais geológicos saturados da Formação Corumbataí. Pelas diversas anomalias condutivas em zona não saturada e Após a identificação das prováveis plumas por meio do mapea- por duas prováveis plumas de contaminação, uma na direção SW mento das mesmas, recomenda-se a instalação de seis poços de mo- e outra a SE – a última se prolongando em grande profundidade nitoramento nos locais designados na Figura 11. O primeiro poço – o cemitério de Vila Rezende passa de uma área suspeitamente (P1) teria como função o controle da água subterrânea em meio contaminada para uma área confirmadamente contaminada por não contaminado a montante do fluxo da água subterrânea, na área necrochorume. do cemitério (background); os poços P2 e P3 se localizariam onde se mapearam pela investigação geoelétrica as prováveis plumas de Agradecimentos contaminação; os poços P4, P5 e P6 seriam localizados na área ex- terna do cemitério, a jusante na direção do fluxo subterrâneo e das À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior plumas de contaminação. (Capes) pelo auxílio na execução deste trabalho. Referências ALMEIDA, A.M.; MACÊDO, J.A.B. Parâmetros físico-químicos de ______. Norma L1.040: Implantação de cemitérios. São Paulo, 1999. caracterização da contaminação do lençol freático por necrochorume. In: SEMINÁRIO DE GESTÃO AMBIENTAL – um convite a DENT, B.B. Hydrogeological studies at botany cemetery. M.Sc. Project Interdisciplinariedade, Anais..., Juiz de Fora: Instituto Viana Report. Sydney: University of Technology of Sydney, 1995. Junior, 2005. GOLDEN SOFTWARE. Surfer version 8.0: surface mapping system. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 335, Colorado, USA: Golden Software, 2002. 1 CD-Rom. de 3 de abril de 2003. Dispõe sobre o licenciamento ambiental de cemitérios. 2003. Disponível em: http://www.aguaseaguas.ufjf.br/ INTERPEX LIMITED. IX1D v.2.0: Instruction manual. Colorado, USA: RESOLUCAO%20conama335%20CEMITERIOS.pdf. Acesso em: 13 Golden, 2008. Disponível em: http://www.interpex.com/ix1d/ix1d_ set. 2006. version.htm. Acesso em: 21 mai. 2008. COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Manual LOKE, M.H. RES2DINV ver. 3.54 for Windows 98/Me/2000/NT/XP: Rapid de gerenciamento de áreas contaminadas. Programa Cetesb/GTZ. São 2D Resistivity IP Inversion using the least-squares method. Penang, Paulo, 2001. Malaysia: Geotomo Software, 2004. Disponível em: http://www. Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336 335
  • 10. Silva, R.W.C. Malagutti Filho, W. geophysik.tu-freiberg.de/assets/media/Personal/rub/Praktika/ res2dinv. ORELLANA, E. Prospección geoeléctrica en corriente continua. Madrid: pdf. Acesso em: 21 mai. 2008. Paraninfo, 1972. Biblioteca Técnica Philips. MATOS, B.A. Avaliação da ocorrência e do transporte de microrganismo PACHECO, A. Os cemitérios como risco potencial para as águas de no aqüífero freático do cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, município abastecimento. Revista do Sistema de Planejamento e Administração de São Paulo. 2001. 113 f. Tese (Doutorado em Recursos Minerais e Metropolitana, São Paulo, ano IV, n. 17, p. 25-31, 1986. Hidrogeologia) – Escola Politécnica da USP São Paulo, 2001. , PANNATIER, Y. Variowin: software for spatial data analysis in 2D. New MIGLIORINI, R.B. Cemitérios como fonte de poluição em aqüíferos: York: Springer-Verlag, 1996. estudo do cemitério Vila Formosa na bacia Sedimentar de São Paulo. 1994. 74 f. Dissertação (Mestrado em Recursos Minerais e Hidrogeologia) WARD, S.H. Resistivity and polarization methods. In: WARD, S.H. Geotechnical – Instituto de Geociências da USP São Paulo, 1994. , and environmental geophysics. Tulsa: SEG, 1990. v. 3, p. 147-189. 336 Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 327-336