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"A prevalência da SIDA em Portugal continua a ter os mais altos níveis da Europa e o único
país com pior estatística do que o nosso é a Estónia, no Leste europeu, o que significa que
não conseguimos pôr em marcha nestes anos todos um projeto nacional seguro e eficaz
para reduzir a prevalência dos casos de VIH/SIDA",
Professor Machado Caetano

"Em Portugal, durante o ano de 2012 foram notificados 1551 novos casos de infeção por
VIH, dos quais 776 casos com diagnóstico no próprio ano. A análise das características
demográficas destes últimos revela que 41,1% residiam no distrito de Lisboa, a maioria
(70,7%) registou-se em homens, a idade mediana à data de diagnóstico foi de 41,0 anos e
28,4% dos casos referiam ter nascido fora de território nacional. A sua classificação de
acordo com o estádio clínico revela que 391 (50,4%) foram identificados como portadores
assintomáticos, enquanto 247 (31,8%) se encontravam no estádio de SIDA.
A transmissão sexual foi assinalada na maioria dos casos, com 490 (63,1%) a referirem
transmissão heterossexual e 187 (24,1%) a indicarem infeção decorrente de relações
sexuais entre homens. Estes últimos correspondem a 34,1% dos casos registados para o
sexo masculino.
A transmissão associada ao consumo de drogas foi registada em 78 casos, que
correspondem a 10,0% do total de diagnósticos para o ano em análise.
Em 32 (4,1%) dos casos diagnosticados em 2012 foi identificada infeção pelo VIH do tipo 2.
A pneumonia por Pneumocystis jiroveci foi a patologia mais frequentemente referida nos
casos de SIDA. Foram notificados 139 óbitos ocorridos durante o ano de 2012.
Em 31 de Dezembro de 2012 o total acumulado de casos de infeção VIH, notificados em
Portugal desde 1985 ascendia a 42 580, dos quais 17 373 se encontravam no estádio de
SIDA.
A análise das tendências registadas para os anos mais recentes revela um decréscimo no
número total de casos de infeção VIH diagnosticados anualmente, também verificado para
os casos de SIDA.
No respeitante às características demográficas, observa-se um aumento na proporção de
novos casos de infeção VIH registados em homens, a idade mediana à data do diagnóstico
apresenta

tendência

crescente,

com

exceção

dos

casos

referindo

transmissão

homo/bissexual, e a proporção de casos que refere ter nascido fora de Portugal regista
também um incremento.
Quanto ao modo de transmissão, verifica-se uma redução acentuada no número de casos
associados ao consumo de drogas e aumento dos casos que referem o sexo entre homens
como comportamento de risco para a infeção.
Da vigilância dos casos de SIDA é ainda possível constatar um decréscimo do número
absoluto e percentual de casos que referem tuberculose como patologia definidora de
estádio, e um aumento da proporção de casos referindo pneumonia por Pneumocystis
jiroveci.
Relativamente aos óbitos notificados observa-se uma tendência decrescente no número
anual de mortes em casos de infeção VIH e SIDA cujos óbitos são notificados.
Os dados apresentados demonstram que a infeção VIH persiste em Portugal e documentam
a evolução do perfil epidemiológico ao longo dos trinta anos da história da epidemia no
país. O conhecimento desta dinâmica, particularmente das tendências mais recentes, é da
maior importância para o desenho e otimização dos programas de intervenção,
fundamentais para a redução da incidência da infeção VIH e SIDA no país".

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A prevalência da sida em portugal continua a ter os mais altos níveis da europa e o único país com pior estatística do que o nosso é a estónia

  • 1. "A prevalência da SIDA em Portugal continua a ter os mais altos níveis da Europa e o único país com pior estatística do que o nosso é a Estónia, no Leste europeu, o que significa que não conseguimos pôr em marcha nestes anos todos um projeto nacional seguro e eficaz para reduzir a prevalência dos casos de VIH/SIDA", Professor Machado Caetano "Em Portugal, durante o ano de 2012 foram notificados 1551 novos casos de infeção por VIH, dos quais 776 casos com diagnóstico no próprio ano. A análise das características demográficas destes últimos revela que 41,1% residiam no distrito de Lisboa, a maioria (70,7%) registou-se em homens, a idade mediana à data de diagnóstico foi de 41,0 anos e 28,4% dos casos referiam ter nascido fora de território nacional. A sua classificação de acordo com o estádio clínico revela que 391 (50,4%) foram identificados como portadores assintomáticos, enquanto 247 (31,8%) se encontravam no estádio de SIDA. A transmissão sexual foi assinalada na maioria dos casos, com 490 (63,1%) a referirem transmissão heterossexual e 187 (24,1%) a indicarem infeção decorrente de relações sexuais entre homens. Estes últimos correspondem a 34,1% dos casos registados para o sexo masculino. A transmissão associada ao consumo de drogas foi registada em 78 casos, que correspondem a 10,0% do total de diagnósticos para o ano em análise. Em 32 (4,1%) dos casos diagnosticados em 2012 foi identificada infeção pelo VIH do tipo 2. A pneumonia por Pneumocystis jiroveci foi a patologia mais frequentemente referida nos casos de SIDA. Foram notificados 139 óbitos ocorridos durante o ano de 2012. Em 31 de Dezembro de 2012 o total acumulado de casos de infeção VIH, notificados em Portugal desde 1985 ascendia a 42 580, dos quais 17 373 se encontravam no estádio de SIDA. A análise das tendências registadas para os anos mais recentes revela um decréscimo no número total de casos de infeção VIH diagnosticados anualmente, também verificado para os casos de SIDA.
  • 2. No respeitante às características demográficas, observa-se um aumento na proporção de novos casos de infeção VIH registados em homens, a idade mediana à data do diagnóstico apresenta tendência crescente, com exceção dos casos referindo transmissão homo/bissexual, e a proporção de casos que refere ter nascido fora de Portugal regista também um incremento. Quanto ao modo de transmissão, verifica-se uma redução acentuada no número de casos associados ao consumo de drogas e aumento dos casos que referem o sexo entre homens como comportamento de risco para a infeção. Da vigilância dos casos de SIDA é ainda possível constatar um decréscimo do número absoluto e percentual de casos que referem tuberculose como patologia definidora de estádio, e um aumento da proporção de casos referindo pneumonia por Pneumocystis jiroveci. Relativamente aos óbitos notificados observa-se uma tendência decrescente no número anual de mortes em casos de infeção VIH e SIDA cujos óbitos são notificados. Os dados apresentados demonstram que a infeção VIH persiste em Portugal e documentam a evolução do perfil epidemiológico ao longo dos trinta anos da história da epidemia no país. O conhecimento desta dinâmica, particularmente das tendências mais recentes, é da maior importância para o desenho e otimização dos programas de intervenção, fundamentais para a redução da incidência da infeção VIH e SIDA no país".