1) O governo grego liderado pelo partido Syriza capitulou diante de seus credores da União Europeia após tentar chantageá-los para obter perdão de dívidas.
2) Após um referendo em que os gregos apoiaram o governo, a UE se recusou a ceder e forçou o governo grego a aceitar um acordo muito mais rigoroso.
3) A derrota do Syriza representa um grande revés para a extrema-esquerda na Europa, que não será levada a sério se tentar enf
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
A capitulação da grécia diante de seus credores
1. 1
A CAPITULAÇÃO DA GRÉCIA DIANTE DE SEUS CREDORES
Fernando Alcoforado*
O artigo A capitulação do arrogante populismo do Syriza - e por que a
extrema-esquerda europeia está acabada, publicado pelo Instituto Von
Mises Brasil no website http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2140# apresenta
uma excelente análise sobre os recentes acontecimentos na Grécia. Em síntese, este
artigo informa o seguinte:
- Desde a ascensão ao governo grego no início de 2015, o primeiro-ministro grego
Alexis Tsipras, do partido Syriza de extrema esquerda e seu ex-ministro das finanças,
Yanis Varoufakis adotaram a estratégia de chantagear a Alemanha e toda a União
Europeia, ameaçando darem o calote da dívida e com isso destruir todo o arranjo do
euro caso não obtivessem, de um lado, o perdão das dívidas do governo, e de outro,
mais pacotes de ajuda sem contrapartidas. Varoufakis estava convencido de que Angela
Merkel e seus pares acabariam cedendo às chantagens para evitar um possível
desmembramento da moeda única.
- Para mostrar que tal postura tinha apoio popular, ambos convocaram um referendo
para perguntar à população grega se ela aceitava as condições impostas pela Troika
(União Europeia, Banco Central Europeu e FMI). A população grega, dando amplo
respaldo ao governo, votou maciçamente no não.
- A Troika, com a União Europeia à frente, não apenas não cedeu às chantagens, como
ainda se mostrou disposta a fazer com que o governo grego se enforcasse com a própria
corda. E foi aí que toda a estratégia grega se desmoronou: Tsipras revelou que estava
sem rumo e sem estratégia após sua vitória no referendo; que o próprio referendo havia
sido uma farsa; e que ele nunca desejou sair do euro imaginando que as consequências
poderiam ser catastróficas.
- Tsipras foi o primeiro covarde a gritar "arrego!". E, após todas as bravatas e bazófias,
ele teve de recuar e ceder em praticamente tudo: a estratégia de Varoufakis o havia
colocado em uma ratoeira e Tsipras optou por não "morrer matando", o que o obrigou a
capitular com desonras.
- Menos de uma semana após a vitória de Tsipras no referendo, a Troika não apenas
conseguiu fazer com que Tsipras entregasse a cabeça de Varoufakis, como ainda o
humilhou ainda mais, obrigando-o a votar no Parlamento grego um acordo muito mais
rigoroso do que aquele que havia sido proposto antes do referendo.
- Tsipras não apenas capitulou e recuou, como ainda, em troca de suas bravatas, acabou
sendo obrigado a aceitar um acordo muito mais duro do que o original em troca de um
novo pacote de socorro.
- Para manter o apoio financeiro ao país e estender um novo pacote de socorro no valor
de € 86 bilhões de euros, a União Europeia impôs várias exigências drásticas à Grécia,
dentre elas: novo aumento de impostos, reformas no sistema de aposentadorias e
pensões (elevando a idade de aposentadoria para 67 anos; atualmente é de 50 anos para
as mulheres e de 55 anos para os homens), privatização do setor elétrico (a menos que
2. 2
se encontre medidas alternativas com o mesmo efeito), e criação de leis que assegurem
"cortes de gastos automáticos" caso o governo não cumpra as metas de superávit fiscal.
- Como garantia a esse novo empréstimo de € 86 bilhões de euros, a Troika impôs que o
governo grego transfira € 50 bilhões em ativos estatais para fundos independentes
supervisionados pela Troika.
- A derrota do Syriza foi absoluta, por mais que seus partidários se apeguem à
desesperada justificativa de que Tsipras conseguiu um compromisso de reestruturação
da dívida grega.
Pode-se afirmar que a capitulação do governo grego representa um gigantesco desgaste
para a extrema-esquerda na Europa e no mundo e que somente crentes inflexíveis irão
levar a sério, novamente, qualquer partido da extrema-esquerda que tenha como
plataforma de campanha fazer frente ao capital financeiro internacional. O Syriza repete
o fracasso dos partidos de esquerda no mundo, inclusive no Brasil com os governos de
Lula e Dilma Rousseff, que se dobraram aos ditames da capital financeiro. Esta teria
sido uma vitória de grande importância para a União Europeia porque vergou Tsipras
que foi eleito com a promessa de se opor aos programas de austeridade impostos pela
Troika ao governo grego. Com a aprovação do acordo, pelos próximos três anos, a
União Europeia dará dinheiro ao governo grego para que este pague juros sobre os
títulos gregos que estão em posse de várias agências da União Europeia. Ao final
desses três anos, o ciclo será reiniciado. É uma jornada sem fim. Ambos os lados
empurrarão com a barriga enquanto puderem.
Ao capitular, o governo grego do partido Syriza não levou em conta, por exemplo, a
experiência vitoriosa da Islândia na Escandinávia no enfrentamento do capital
financeiro quando eclodiu a crise financeira nos Estados Unidos que foi atingido de
forma desastrosa, tal como no resto da Europa. Na Islândia, a especulação financeira
levou os três principais bancos à falência. A taxa de desemprego se multiplicou por
nove entre 2008 e 2010, ao passo que, antes, o país gozava de pleno emprego. A dívida
da Islândia representava 900% do PIB e a moeda nacional se desvalorizou 80% em
relação ao euro. O país caiu em uma profunda recessão, com uma diminuição do PIB
em 11% em dois anos.
Em 2009, quando o governo da Islândia quis aplicar as medidas de austeridade exigidas
pelo FMI em troca de uma ajuda financeira de 2,1 bilhões de euros, uma forte
mobilização popular o obrigou a renunciar. Nas eleições antecipadas, as forças de
esquerda ganhou a maioria absoluta no Parlamento. Assim, ao contrário das outras
nações da União Europeia na mesma situação, que aplicaram escrupulosamente as
recomendações do FMI que exigiam medidas de austeridade severas, como na Grécia,
Irlanda, Itália ou Espanha, a Islândia escolheu uma via alternativa. Na Islândia, o
governo deixou os bancos quebrarem. Eram instituições privadas. Não foi injetado
dinheiro para salvá-las. Quando, em 2008, os três principais bancos do país – Glitnir,
Landsbankinn e Kaupthing – desmoronaram, o Estado islandês se negou a injetar neles
fundos públicos, tal como havia feito o resto da Europa. Em vez disso, realizou sua
nacionalização. Os responsáveis pelo desastre econômico islandês foram presos,
inclusive o ex-primeiro-ministro Geir Haarde.
3. 3
Atualmente, os resultados da política econômica e social islandesa têm sido
espetaculares. Enquanto a União Europeia se encontra em plena recessão, a Islândia se
beneficiou de uma taxa de crescimento de 2,1% em 2011 e 2,7% em 2012, além de uma
taxa de desemprego de 6%. O país até se deu ao luxo de realizar o reembolso antecipado
de suas dívidas ao FMI. Esses resultados só foram possíveis porque a Islândia rechaçou
a terapia de choque neoliberal e elaborou um programa de estímulo econômico
alternativo e eficiente. O governo islandês aplicou medidas totalmente contrárias às que
o FMI preconizava que permitiu preservar o precioso modelo nórdico de proteção
social. Ressalte-se que a Islândia dispõe de um índice de desenvolvimento humano
bastante elevado.
O caso da Islândia demonstra que existe uma alternativa possível às políticas de
austeridade que são aplicadas na Europa e, atualmente, no Brasil com o ajuste fiscal.
Estas, além de serem economicamente ineficientes, são politicamente custosas e
socialmente insustentáveis. Ao escolher colocar o interesse geral acima do interesse dos
mercados, a Islândia mostra o caminho ao resto do continente e ao mundo para escapar
do beco sem saída do neoliberalismo. O fato de que, depois disso, a Islândia esteja se
recuperando muito melhor que os europeus oprimidos pela “austeridade” é a explicação
para o silêncio quase absoluto da mídia internacional sobre esse país. A mídia silencia
sobre a Islândia que humilhou o sistema financeiro.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).