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1 
Ayurveda 
Os especialistas garantem que, 
graças às descobertas da ciência 
médica, o homem moderno caminha na 
direcção da quarta idade. O ideal 
alquímico da vida eterna pode ter 
ficado para trás, mas não há quem não 
sonhe em viver mais e melhor. No 
mundo de hoje, a saúde – esta fonte 
natural nem sempre renovável – 
passou a ser o bem mais precioso. O 
Ayurveda, uma ciência indiana tão 
antiga quanto o homem, define a saúde 
como uma condição de harmonia 
interna e externa capaz de habitar o 
ser humano no buscar dos seus 
objectivos mais profundos e 
permanentes. Para a medicina 
Ayurveda, ser saudável é uma 
condição normal e toda a terapia deve 
ser baseada no restabelecimento desse 
estado natural. Por isso, é também 
chamada de”natureza que 
restabelece”. Vinod Verma (director da 
New Way Health Organization na 
Índia) 
O que proponho é uma digressão guiada ao mais antigo sistema de medicina 
conhecido, visitando a sua história, filosofia, princípios básicos, avaliação da condição 
humana e formas de tratamento. Para os leitores menos experimentados da filosofia 
oriental, sugiro que não façam um juízo definitivo, sem primeiro terem efectuado uma 
leitura completa e minuciosa do texto. 
Origem histórica 
Por muito que valorizemos no Ocidente, as nossa raízes civilizacionais no Médio 
Oriente, é a misteriosa Índia que é reconhecida como o berço da civilização. Os
historiadores acreditam que os primeiros hindus habitaram a Meseta do Pamir há 6.000 
anos antes de Cristo, mas segundo estudos recentes, os Vedas parecem ter sido 
compilados há mais de 14.000 anos. 
2 
Não é sem razão que os antigos médicos hindus são considerados verdadeiros 
sacerdotes, conhecedores não só dos problemas do corpo físico como da alma humana, 
mas também da própria essência e origem do homem. É na Índia milenar que vamos 
encontrar as bases do mais antigo e misterioso sistema médico organizado de que se tem 
notícias: o Ayurveda. 
O Ayurveda, ou medicina védica, significa “ciência da vida ou do conhecimento 
dos ciclos da vida” e faz parte dos Vedas. O sistema ayurvédico, com aproximadamente 
5.000 Anos, é uma ciência completa, que inclui aspectos físicos e espirituais da vida. O 
seu princípio básico é que a mente exerce a mais profunda influência no corpo e, advoga 
que a boa saúde é resultado directo de viver em harmonia com o Universo. O seu 
objectivo é obter o equilíbrio do corpo e da mente, não numa perspectiva de eternidade, 
como foi ambicionada em tempos remotos, mas para numa vida longa e feliz. 
Os Vedas são hinos religiosos da tradição hindu, fonte das principais filosofias 
da Índia. A Medicina Védica encontra­se 
em dois dos quatro Vedas: o Rig Veda e o 
Atharva Veda. Nos Vedas a religião, mitologia, magia e a medicina são coisas 
inseparáveis, o que levou alguns autores a afirmar que a medicina Védica, foi um 
sistema mágico­religioso, 
baseado no contacto com o sobrenatural. A doença, segundo 
os Vedas, era resultante da invasão de espíritos malignos e demoníacos e que para 
afastá­los 
eram necessários rituais e sacrifícios feitos por sacerdote ou Brâmanes. 
Segundo textos do período védico tardio (900 a 500 a.C.) os médicos e a 
medicina foram desacreditados pela hierarquia sacerdotal dos Brâmanes, que 
censuravam os médicos pela sua associação com todo o tipo de pessoas, o que os 
tornava impuros. Os médicos estavam, de facto, em contacto com pessoas das castas 
mais baixas, devido à sua profissão e isto, tornava­nos 
impuros na visão dos Brâmanes. 
O dogmatismo da religião hegemónica dos Vedas, levou a medicina e os 
médicos a refugiarem­se 
noutras tradições sem castas, ou seja, não védicas, pois a 
tradição védica considerava a medicina inadequada para o sacerdote e os médicos 
impuros. 
No primeiro milénio antes da nossa era, surgiram duas tradições que estavam 
relacionadas com as práticas médicas, mas ambas não védicos, ou seja, sem a restrição 
do rígido sistema de castas. 
Estas tradições não védicas deram origem a uma medicina nova que veio a 
rivalizar com a medicina mágico­religiosa 
dos Vedas. O novo sistema era baseado na 
observação dos fenómenos naturais e das suas influências no ser humano, de uma forma 
racional, a nova abordagem a saúde não estava limitada pelo rígido sistema de castas e, 
era baseado no empirismo e no racionalismo. 
As tradições não védicas, foram o motor adequado para a formação da medicina 
empírico­racional 
que de uma forma diferente da medicina mágico­religiosa 
dos Vedas, 
baseada em fenómenos sobrenaturais, está estruturada na relação do ser humano com os 
fenómenos da natureza.
Esta medicina tornou­se 
tão popular na Índia antiga, que os hindus brâmanes 
resolveram incorporá­la 
no corpo de conhecimento dos Vedas e passaram a denominá­la 
Ayurveda ou literalmente, conhecimento da vida e, divulgaram a ideia que a raiz do 
Aurveda está nos Vedas, porém não existe em nenhum dos hinos qualquer referência ao 
Ayurveda como está descrito pelos seus autores. 
3 
Pelo estudo dos Vedas e dos textos clássicos do Ayurveda verificou­se 
que 
houve uma adaptação progressiva do paradigma da medicina mágico­religiosa 
dos 
Vedas, baseada no contacto com o sobrenatural, para uma medicina empírico racional, 
através da observação dos fenómenos naturais. 
Estas tradições, não védicas, foram os budistas e os ascetas errantes que 
prevaleciam na Índia na segunda metade do primeiro milénio antes de Cristo. 
O Ayurveda é uma medicina indiana que foi desenvolvida a partir da época de 
Buda, no século V a.C. e propõe uma vida em harmonia com as leis da natureza, mas 
também uma vida útil à sociedade como um todo. Na Medicina Ayuvedica saúde é um 
estado de felicidade e, para o alcançar, o ser humano deve trilhar um caminho de auto­conhecimento. 
Como dizia o oráculo de Delphos na Grécia antiga:”conhece­te 
a ti 
mesmo e conhecerás o universo e os deuses”. 
A doença, para o Ayurveda, é muito mais que a manifestação de sintomas 
desagradáveis ou perigosos à manutenção da vida. O Ayurveda, como ciência integral, 
considera que a doença inicia­se 
muito antes de chegar à fase em que ela finalmente 
pode ser percebida. Assim, pequenos desequilíbrios tendem a aumentar com o passar do 
tempo, se não forem corrigidos, originando a enfermidade muito antes de podemos 
percebê­la. 
Polarização – O movimento constante 
Os indianos, como mais tarde Parménides com o seu Eon, recusavam a ideia de 
Vazio Absoluto, a densidade nula, privilegiando em seu lugar o Ser no sentido mais 
abstracto, a Existência omnipresente e estática, imutável, perfeita. 
A partir da polarização, os elementos assim formados estarão em constante 
processo de atracção e repulsão, ou em atrito, determinando a própria dinâmica da vida: 
pólos contrários atraem­se 
e, sem modificarem a sua estrutura, geram uma terceira 
coisa. Tudo aquilo que adquire então uma conotação polar está sujeito a transformações 
contínuas. O processo só chega a um fim quando o mecanismo arquetípico da criação 
determina uma acção de retorno, ocasião em que a Substância Original recebe de volta 
aquilo que teve origem no seu próprio seio. 
Entre a criação e manifestação de um Universo e o que lhe sucede, há um 
período de repouso, onde a matéria é caótica ou não manifestada, denominado Pralaya. 
Pralaya quer dizer em sânscrito dissolução, mas sem destruição, pois a dissolução 
conduz à recreação.
A Essência Una, infinita e desconhecida existe em toda a eternidade, que ora é 
activa – Manvatara ­ora 
é passiva – Pralaya – em sucessões alternadas, regulares e 
harmoniosas. 
Ao iniciar­se 
um período de actividade dá­se 
a expansão daquela Essência Una 
do mesmo modo, quando sobrevém a condição passiva, efectua­se 
a contracção da 
Essência e, a anterior da criação desfaz­se 
gradual e progressivamente, o universo 
visível desintegra­se, 
os seus elementos dispersam­se. 
Uma expiração da Essência 
desconhecida produz o mundo (o universo), uma inspiração fá­lo 
desaparecer. 
Peregrino é o nome dado à nossa Mônada (ser individual) durante o seu ciclo de 
encarnações. É o único Princípio imortal e eterno que existe em nós, sendo uma parcela 
indivisível do todo integral, o Espírito Universal, de onde emana e no qual é absorvido 
4 
no final do ciclo. A peregrinação é obrigatória para todas as almas através do Ciclo da 
Encarnação. Nenhum Buddhi puramente espiritual (Alma Divina) pode ter uma 
existência consciente independente antes que haja passado por todas as formas 
elementares do mundo fenomenal do Manvatara, à custa dos próprios esforços 
regulados pelo karma, escalando assim todos os degraus de inteligência, desde o Manas 
(entendimento) inferior até ao Manas superior; desde o mineral a planta ao Arcanjo 
mais sublime. 
Neste estágio de Pralaya as Gunas encontram­se 
em perfeito equilíbrio, todas as 
potências e energias que aparecem no Universo manifestado, repousam numa 
inactividade; porém, quando o equilíbrio se rompe, produz­se 
uma forma, uma 
manifestação e, toda a manifestação ou forma é produto da Prakriti em que há 
predomínio de uma sobre as duas restantes. Nem Sattava nem Tamas podem por si só 
entrar em actividade; requerem o impulso do motor e da acção (Rajas) para se 
colocarem em movimento e desenvolver as suas propriedades características. Vimos, 
deste modo, como é sempre a paixão ou desejo que catapulta para a manifestação (e, 
assim, para o fenómeno encarnador, por via do apego, rompendo a unidade ou 
homogeneidade primordial. 
Cessa o Estado de Pralaya, de Abstracção ou Repouso. A partir daí, os dois 
pólos da Natureza, o espírito (Purusha) e a matéria (Prakriti) “agindo sobre as três 
Gunas dão origem aos “cinco Grandes Elementos” que são a base e a causa do Universo 
Fenomenal em todas as numerosas e constantemente mutáveis formas e aparências”. 
Purusha fornece a energia a Prakriti através das três Gunas, procedendo de Prakriti os 
Tattvas ou princípios. 
Constatamos, igualmente, como todo o ser, todo o fenómeno ou toda a 
movimentação existente no universo manifestado corresponde à expressão 
predominante de uma ou duas das Gunas. É assim com o ser humano e com cada um 
dos seus pensamentos, sentimentos, acções, palavras, escolhas ou graus evolutivos; é 
assim com os animais ou as plantas; é assim com todas as formas materiais. 
É relativamente fácil reconhecer o homem tamásico: caracteriza­se 
pela sua 
letargia, pela sua insensibilidade, pela lentidão e inanimidade das reacções psicológicas, 
pela reacção quase exclusiva a estímulos brutais ou grosseiros, que são aqueles que lhe 
agradam e despertam interesse. É o néscio conformado. Este tipo de ser humano vai ser
oportunamente e progressivamente despertado pelos choques rajásicos que, nesse 
sentido, são úteis e necessários. 
O homem rajásico, que hoje predomina, sobretudo, nos meios mais urbanos e 
cosmopolitas, é ávido, passional e egoísta, insaciável na busca de coisas para o seu eu 
pessoal, sempre agitado e excitado, embora à superfície, pelos impactos externos. É 
activo no sentido de reactivo. O seu pensamento é predominantemente desordenado, 
incapaz de uma síntese. Julga­se 
inteligente mas está perdido na ilusão. Está polarizado 
nos níveis de Kama­Mnas, 
ou seja, da Alma Animal, da mente (Manas) escravizada 
pelo desejo egoísta (Kama). A civilização contemporânea é eminentemente rejásica… 
O homem sáttvico é um tipo humano superior, mais interiorizado, capaz de 
encontrar uma síntese lúcida no meio dos impactos externos, dos quais se vai deixando 
de tornar dependente. É o homem que encontra os Valores da Harmonia, da Justiça, da 
Verdade, da Sabedoria, e que se desapega das coisas que satisfazem o desejo egoísta. É 
o homem polarizado nos níveis superiores do Mental, em Buddni­Manas, 
ou seja, a 
5 
Mente (Manas) iluminada por Buddhi (Razão Pura, Discernimento, Intuição). Pelo 
exposto, é uma raridade… 
Também na manifestação da Divindade verifica­se 
o ritmo, isto é, o período 
activo e passivo. Na verdade, o Absoluto jamais pode estar em repouso, pois representa 
o movimento intrínseco e transcendente, que gera e mantém a vida, embora a nossa 
limitada compreensão o perceba como uma imobilidade absoluta, o vazio. 
Assim, a Substância Eterna se polariza e se despolariza, voltando 
constantemente ao “Não­Ser”, 
o Não Manifestado ou Para­Brahmam, 
numa sucessão 
que a sabedoria oriental chama de “os dias e as noites de Brahma”. No período da 
“noite Brahma”, a vida entra em latência, ou numa condição absoluta; no “dia de 
Brahma, a vida acorda para a actividade, entrando na sua fase relativa. 
Os princípios fundamentais da existência 
Para os antigos mestres da Índia, a existência tinha dois princípios fundamentais: 
Purusha, o principio espiritual ou a consciência superior ou Atmam; e Prakriti, ou a 
natureza material, o principio criativo ou a força de criação dos mundos físicos. 
Purusha é alimentado pelo fogo cósmico chamado Fohat; Prakriti é alimentado por 
Kundalini, fogo cósmico antagónico e complementar a Foaht. 
Dessas duas grandes forças, que inicialmente estavam juntas, surge a 
Inteligência Cósmica, ou Mahat, que contém as sementes de toda a manifestação da 
vida e à qual as leis da Natureza são inerentes. Esta Inteligência Cósmica também está 
presente no ser humano como “Inteligência pura”, ou Eu Superior. É através do Eu 
Superior que se desperta para a vida universal, atinge o seu pleno desenvolvimento 
espiritual e pode alcançar a iluminação, ou seja, a felicidade no seu sentido mais amplo 
e profundo. 
O Eu Superior é também chamado de Buddhi ou princípio búdico e representa, 
ainda, a capacidade de percepção, a capacidade de discernir entre realidade e ilusão.
Ao obedecer às leis da evolução, a Inteligência Cósmica projecta­se 
em direcção aos 
mundos materiais, dando origem ao ego, ou Ahamkara. Assim, somente o nosso 
limitado sentido de individualidade nos separa da unidade da vida. O ego manifesta­se 
através da mente condicionada, de um estado de consciência mais grosseiro denominado 
Manas (ou mental inferior), que representa a nossa auto­imagem, 
nosso universo 
conceptual particular, e que, por sua vez, cria o campo do pensamento limitado dentro 
do qual nos confinamos. Além disso, o ego funciona como uma ponte para o 
inconsciente colectivo, que é também uma dimensão condicionante, manifestando­se 
no 
campo mental como Chitta, o turbilhão dos pensamentos. Devido a Chitta, o ser 
humano permanece sob a influência de latências ancestrais, de compulsões e de 
impulsos passionais próprios das consciências inferiores. 
O retorno à unidade com a Natureza 
O Ayurveda, em contra partida, aponta para uma vida em harmonia com a 
Inteligência Cósmica, onde a nossa inteligência se aperfeiçoa e através da qual 
retornamos à unidade com a Natureza. Só a partir dela é possível encontrar o verdadeiro 
6 
Eu, mergulhar no domínio do espírito; ou Purusha. Este é o fundamento do Ayurveda, 
assim como o Yoga que também tem as suas raízes nos Vedas, e funciona como base 
para a psicologia ayurvédica. 
O retorno a Purusha exige o despertar da inteligência que está constantemente 
sob o comando do ego. É o ego, por sua vez, que se antagoniza à consciência do Eu 
Superior e é a base de todo o desvio da Natureza. Nesse sentido, segundo o Ayurveda, a 
saúde é um estado que só existe se houver harmonia com Prakriti, a natureza fenomenal. 
A doença ou Vikruti, é gerada pela condição artificial de distanciamento da Natureza; 
assim, segundo o Ayurveda todas as moléstias, excepto aquelas que ocorrem por 
acidente, são provocadas por desequilíbrios resultantes de um estágio inferior da 
consciência individual. 
Gunas 
Gunas, são as três qualidades da matéria. Atributos fundamentais da Natureza, 
as gunas são a fonte de todas as características que associamos ao ser humano. Gunas 
são condições segundo as quais a matéria cósmica surge e se desenvolve. A matéria da 
qual o universo é feito em qualquer de seus estados, resulta de uma combinação de três 
qualidades: Sattva (ritmo), Rajas (movimento), Tamas (inércia.). 
No nível físico, Sattva é harmonia; Rajas é actividade; Tamas é inércia. 
No nível mental, Sattava é verdade; Rajas é paixão; Tamas é indifrença. 
Segundo o BhagavadGita 5 – São estes atributos que vinculam a alma ao corpo 
ou o Espírito à matéria.
Prakriti, a natureza material, possui três qualidades básicas, três atributos 
primários denominados Gunas que podem também ser entendido como impulsos 
naturais ou instintos: Sattva, o princípio da inteligência, da fluidez, da suavidade e da 
harmonia; Rajás, o princípio da energia mental racional, da turbulência, de emoção, da 
impulsividade; e Tamas, o princípio da obscuridade, da ignorância e da resistência. 
Cada um desses atributos é necessário na Natureza e cumpre funções 
específicas. No entanto, Sattava é a qualidade mais adequada à mente, enquanto Rajás e 
Tamas representam impurezas no plano mental e enfraquecem o poder de percepção e 
discernimento espiritual. 
Samkhya é um dos seis sistemas tradicionais da filosofia hindu e um dos mais 
antigos. O sistema Samkhya é atribuído ao sábio védico Kapila (cerca de 500 a.C.) e é 
conhecido como o “método racional”. 
Dele deriva o conceito de guna (qualidades materiais ou “potências”). Postula 
uma cosmologia em que os resultados estão implicados nas causas e em que o universo 
permanece constante, nada lhe é acrescentado ou extraído. Tudo é uma manifestação ou 
mutação do que existiu sempre. Deste modo, a morte é meramente um estado transitório 
que leva a outros estados. Neste ponto, o Samkhya tem um paralelo na teoria científica 
moderna da conservação da matéria e da energia. Samkhya não reconhece deuses ou 
sacrifícios. 
A tradição indiana considera o Samkhya como o mais antigo darçana. Darçana é 
o nome utilizado para designar um conjunto de seis escolas tradicionais que foram 
7 
responsáveis pelo ressurgimento e restabelecimento da espiritualidade na Índia num 
período entre 100 a.C. a 500 d.C., marcado pelo desenvolvimento lógico e racional da 
religião Hindu, actuando como um movimento contra o dogmatismo brâmane e uma 
tentativa de provar a supremacia do Hinduísmo sobre o Budismo. 
O sentido do termo Samkhya parece ter sido o de “discriminado”, já que o 
objectivo principal desta filosofia era o de dissociar o espírito (Purusha) da matéria 
(Prakriti). 
Os cinco elementos 
Das três gunas surgem os cinco elementos da Natureza: éter ou espaço (Akashs), 
ar (Vayu), fogo (Tejas), água (Apas) e terra (Prithivi). 
De Sattva, que consiste de claridade, surge o elemento éter. De Rajás, que consiste de 
energia, surge o elemento fogo. De Tamas, que consiste de inércia, surge a terra. Entre 
Sattava e Rajás origina­se, 
ténue e móvel, o elemento ar. E de Rajás e Tamas surge a 
água, resultado da combinação entre mobilidade e inércia. 
Os cinco elementos integram a essência da Natureza, os seus nomes não 
significam propriamente o substantivo comum específico, mas o princípio que anima 
cada um dos elementos. Assim, Tejas não é exactamente o fogo comum, mas o alento 
vital subtil, fluido, instável, quente e forte ­a 
matriz imaterial que dá origem ao fogo 
físico. Já o elemento Akashs é de difícil compreensão para a mente humana, pois está 
relacionado ao aspecto mais superior da energia cósmica mais ténue.
Os cinco elementos correspondem ainda aos cinco estados da matéria e aos cinco 
sentidos: sólido, olfactivo (Prithivi­terra); 
líquido, gustativo (Apas­água); 
radiante, 
visual (Tejas­fogo); 
gasoso, táctil (Vayu­ar) 
e etéreo, auditivo (Akasha­éter); 
eles 
determinam as cinco densidades da matéria visível e invisível do Universo e 
relacionam­se 
também a aspectos mentais, psicológicos e emocionais do ser humano. 
De acordo com as características dos cinco elementos, a Medicina Védica emprega nos 
tratamentos diferentes recursos, como plantas medicinais, sais, músicas, aromas, pontos 
acupunturais, etc. para promover o restabelecimento do equilíbrio de um ou vários 
elementos. 
Os três doshas 
Também de origem sânscrita, apalavra dosha pode ser traduzida como 
“princípios metabólicos”. Considera­se 
que o fundamento do Ayurveda reside 
exactamente no conceito dos três doshas – Vata – Pitta – Kapha, os trêss princípios 
básicos metabólicos que ligam a mente e o corpo. Eles têm origem na diferente mistura 
de pares dos cinco elementos: do éter e do ar surge Vata; do fogo e de um aspecto da 
água vem Pitta: e da água e da terra surge Kapha. 
Através dos elementos e dos doshas, o Ayurveda determina a natureza básica do 
indivíduo e estabelece uma linha de tratamento adequada às suas necessidades reais. 
No seu estado normal, ou seja, em equilíbrio, Vata mantém a energia da vontade, 
governa a inspiração do ar atmosférico, a exalação, o movimento, as descargas dos 
impulsos, o equilíbrio dos tecidos e a acuidade dos sentidos. Quando exacerbado, ele 
8 
causa secura, desidratação, escurecimento, descoloração, desejo de tepidez, tremores, 
distensão abdominal, prisão de ventre, enfraquecimento, insónia, redução da acuidade 
sensorial (visão, audição, tacto, paladar e olfacto), incoerência ao se expressar e fadiga. 
Vata localiza­se 
no cólon, (sua sede) e tende quando em desequilíbrio a acumular­se 
nos 
quadris, coxas, ouvidos, ossos e no sentido do tacto. Pitta em condições normais, é 
responsável pela digestão, pelo calor, pela percepção visual, pela fome, sede, pelas 
condições da pele, pela suavidade do corpo, pela inteligência, determinação e coragem. 
Quando agravado, causa coloração amarelada da urina, das fezes, dos olhos e da pele; 
pode também provocar fome e sede excessivas, sensação de queimadura em qualquer 
parte do corpo e dificuldade em dormir. Pitta situa­se 
no intestino delgado (sua sede), 
no estômago, no suor, no tecido gordurosa, sangue, plasma, linfa e no sentido da visão. 
Kapha por sua vez, é responsável pela firmeza e pela estabilidade, pela manutenção dos 
fluidos corporais, pela lubrificação das articulações em geral, pelas emoções positivas 
como as de paz, amor e compaixão. Quando exacerbado reduz a capacidade digestiva e 
provoca a acumulação do muco, sensação de exaustão, de frio, de peso, palidez, 
dificuldade de respirar, tosse e um desejo excessivo de dormir. Kapha localiza­se 
no 
peito (sua sede), na garganta, cabeça, pâncreas, costelas, estômago, nariz e língua. 
Os três doshas podem ser reconhecidos segundo os seus atributos ou qualidades 
­Vata 
é seco, frio, móvel, áspero, variável, leve e rápido. É o mais poderoso dos doshas, 
governa os movimentos e lidera Pitta e Kapha.
­Pitta 
é quente, luminoso, fluido, levemente oleoso, de odor ácido, governa o calor, a 
temperatura e todas as reacções químicas do corpo, o metabolismo. 
­Kapha 
é frio, pesado, vagaroso, oleoso, inerte, liso, denso, opaco, doce, constante, 
viscoso e macio. Responsável pelo controle da estrutura corporal, mantém a substância 
material, o peso e a coesão do corpo. 
Descobrindo a natureza básica 
Adquirido por ocasião do nascimento, o Prakriti de cada um, ou seja a sua 
constituição individual, mantêm­se 
constante durante toda a vida. Embora existam três 
tipos básicos de dosha, entre eles ocorrem diversas combinações e variações. As 
características indicadas a seguir, servem de referência para localizarmos a origem do 
desequilíbrio e para maior exactidão são divididos em cinco sub­doshas. 
VATA 
As pessoas de constituição Vata tendem a ser pouco desenvolvidas fisicamente. 
Esguias, suas veias e tendões musculares são proeminentes e visíveis. Em geral a sua 
pele é morena, fria, áspera, seca ou rachada e, pode apresentar verrugas ou pintas, quase 
sempre escuras. Uma pessoa de Vata pode ser alta ou baixa, mas sua ossatura é sempre 
delicada, com juntas pronunciadas devido ao reduzido desenvolvimento muscular. Tem 
mãos e pés frios, cabelos frequentemente ondulados e ralos, cílios finos. Os olhos, 
pequenos e vivos, costumam ser fundos, com a conjuntiva seca e ligeiramente 
escurecida. Unhas frágeis e ásperas; o nariz curvo ou arrebitado. O apetite e a digestão 
de Vata variam muito: ele pode, às vezes, fazer refeições abundantes e em outros 
momentos não ter a menor fome. Em geral prefere bebidas quentes. A urina tende a ser 
escassa, as fezes secas, em pequenas quantidades, com tendência para a prisão de 
9 
ventre. Raramente transpira demais. O sono é leve, agitado e curto. São pessoas 
geralmente criativas, dinâmicas, atentas e impacientes. Falam com rapidez, movem­se 
e 
andam apressadamente, mas logo se cansam. São flexíveis, aprendem e esquecem 
rápido e tendem à dispersão mental. Ajustam­se 
com facilidade às mudanças, embora 
sejam por vezes indecisas ou impacientes. Precisam desenvolver a tolerância, a 
confiança e a coragem. Podem pensar demais e preocupar­se 
excessivamente, sendo 
com frequência muito nervosas; tendem a se deixar afligir pelo medo e pela ansiedade. 
PITTA 
As pessoas de constituição Pitta são de altura média, apresentando 
desenvolvimento muscular, peso e estrutura óssea moderados. Podem ter verrugas ou 
sardas de cor castanha ou azulada. A tez das pessoas do tipo Pitta é geralmente clara, 
avermelhada, amarelada ou próxima ao tom de cobre. A pele é suave, morna, de aspecto 
saudável, mas facilmente irritável. O cabelo é fino, sedoso, vermelho ou castanho, com 
tendência a ficar grisalho precocemente ou calvície. Os olhos podem ser cinza, verdes 
ou castanhos­claros, 
com propensão à fraqueza. A conjuntiva é comummente húmida e 
acobreada, as unhas delicadas; o nariz é aquilino e a sua ponta aguda, pode se mostrar 
vermelhada. Em termos fisiológicos, os indivíduos de Pitta são dotados de um 
metabolismo vigoroso, têm bom apetite e boa digestão. Ingerem grande volume de
alimentos, de líquidos e preferem as bebidas geladas. Dormem pouco, embora o seu 
sono seja profundo. As fezes são volumosas e amareladas. Geralmente transpiram 
demais. A temperatura corporal é comummente alta e as extremidades mantêm­se 
mornas. Não toleram muito o calor nem a luz solar. Inteligentes e perspicazes, as 
pessoas de Pitta aprendem rápido e podem ser bons oradores. Emocionalmente tendem à 
irritabilidade, ao ciúme, ao ódio, à ira. São ambiciosas e facilmente se tornam líderes. 
KAPHA 
As pessoas do tipo Kapha têm bom desenvolvimento físico e muscular, com 
tendência ao excesso de peso. Veias e tendões são aparentes devido a pele geralmente 
fina. Sua tez é clara, branca ou pálida; a pele é suave, oleosa, húmida e fria. O cabelo 
pode ser escuro ou louro liso ou anelado, mas é sempre grosso e abundante. Os olhos 
são densos, pretos ou azuis, com a conjuntiva pronunciada, raramente avermelhada. 
Fisiologicamente, as pessoas de Kapha possuem pouco apetite, embora regular; a 
digestão, porém, é lenta e, em geral, ingerem menos alimentos que os os outros tipos. 
Os seus movimentos são calmos. Sua evacuação é regular, as fezes suaves, pálidas e de 
eliminação lenta. A transpiração é moderada. O sono é pesado, prolongado ou 
excessivo. Os indivíduos de Kapha são pacientes, calmos e sempre bem dispostos. São 
caracteristicamente tolerantes, compreensíveis e amáveis. No aspecto emocional 
negativo, tendem à ganância, ao domínio, à inveja e à possessividade. Demoram para 
aprender, mas têm excelente memória. 
A terapêutica pela alimentação 
A escolha dos alimentos é o primeiro passo para uma vida saudável, de acordo 
com as leis da Natureza. Para restabelecer a saúde, ou o equilíbrio entre Vata, Pitta e 
Kapha, a tradição da medicina indiana tem como prática principal determinar uma 
rectificação alimentar, só lançando mão de outros tratamentos se o paciente retornar 
com as mesmas queixas após ter seguido à risca a dieta recomendada Essa terapia 
10 
baseia­se 
na divisão dos alimentos segundo as três qualidades ou gunas – Satta, Rajás e 
Tamas ­, 
na relação dos seis sabores e na influência que exercem sobre os doshas. 
A classificação dos alimentos segundo as três gunas é a seguinte: 
SATTVA – Alimentos que aguçam o discernimento, a sensibilidade, as faculdades 
superiores, que favorecem a meditação, geram a leveza, bem­estar 
e felicidade. São 
todos aqueles e sabor doce ou adocicado, leves, frescos, vitais, que não se deterioram 
facilmente. Neste grupo estão o leite, 0 mel de abelhas, os cereais integrais, as frutas e 
sabor suave, as castanhas e amêndoas, a manteiga, os óleos vetais leves, alguns grão de 
leguminosas, os lacticínios não fermentados e praticamente todos os alimentos de sabor 
doce. 
RAJAS – Alimentos de classificação intermediária, geralmente exercem efeito 
estimulante, tónico ou excitante. Neste grupo estão as carnes frescas de boi, as carnes 
brancas frescas, algumas bebidas alcoólicas mais leves (vinho suave, cerveja, licores
etc.), as sementes leguminosas em geral (feijão, ervilhas, grão­de­bico), 
café, o chá­mate, 
algumas hortaliças, como o rabanete, o nabo ardido, o pimentão, a beringela, o 
tomate, a batata inglesa etc. O tabaco, sob todas as suas formas, é um produto do grupo 
Rajas. 
TAMAS – Opostos aos alimentos da Sattva: geralmente pesados, e gosto acentuado, 
picantes, ácidos, excessivamente amargos, fermentados, densos, conservados, 
defumados, desvitalizados, de odor forte. Tornam aqueles que os consomem carregados 
com as qualidades de Tamas; irritadiços, lerdos, embotados, preguiçosos, com fortes 
odores corpóreos, passivos intolerantes, passionais, glutões e compulsivos. Neste grupo 
estão os alimentos animais, principalmente os conservados (salsichas, linguiças, 
presunto, salame, mortadela, partes salgadas de porco, etc.), os queijos fortes, ovos, 
conservas, a pimenta forte, os molhos irritantes, as bebidas alcoólicas, os fritos, os 
alimentos decompostos, defumados, industrializados e excessivamente curtidos. 
A alimentação e os doshas 
Além da selecção com base nos três gunas, os alimentos são escolhidos em 
função dos sabores, do aspecto, da densidade ou da temperatura. Segundo a medicina 
védica existem seis sabores básicos – doce, salgado, acido, picante e adstringente – e 
seis atributos principais – quente, frio, pesado, leve, seco e oleoso que exercem 
influências marcantes sobre os doshas: 
­Vata 
é equilibrado pelos sabores salgados, ácido e doce e por alimentos pesados, 
oleosos e quentes: é perturbado por alimentos picantes, amargos, adstringentes, leves, 
secos e frios. 
­Pitta 
é equilibrado por alimentos doces, amargos, adstringentes, frios, pesados e secos; 
é perturbado por alimentos picantes, ácidos, salgados, leves e oleosos. 
­Kapha 
é equilibrado por alimentos ou bebidas picantes, amargos, adstringentes, leves, 
secos e quentes; é perturbado pelos sabores doces, ácido e salgado e pelos alimentos 
pesados, oleosos e frios. 
11 
Devido a estas relações, uma mesma refeição pode provocar sensações diferentes entre 
pessoas de constituições diferentes. Por isso, a medicina védica considera fundamental 
adequar a dieta à natureza de cada pessoa. 
A dieta perfeita 
Em princípio, a alimentação ideal é aquela em que prevalecem os alimentos de 
Sattva. No entanto, como as gunas, do mesmo modo que os dosaha, agem de modo 
interligado, o que importa é uma alimentação equilibrada e de acordo com a 
constituição individual. Assim, uma dieta essencialmente baseada em alimentos de 
Sattva seria mais recomendável àqueles que levam uma ida meditativa, religiosa, muito
calma; de modo geral, o aconselhável é o equilíbrio entre alimentos, com maior 
tendência aos de Sattva e com a ingestão apenas eventual daqueles ligados a Tamas. 
Medicamentos e técnicas 
Além das dietas especiais, o Ayurveda emprega remédios naturais e muitos 
outros recursos preventivos e curativos. Para equilibrar o Prakriti, a medicina védica 
dispõe de uma infinidade de medicamentos preparados pela combinação de ervas, sais, 
produtos minerais, bem como extractos, pomadas e óleos especiais. Não se restringem a 
aplicações paliativas ou superficiais com o objectivo de eliminar sintomas: são 
preparados especificamente para cada tipo de paciente e não para a “doença” que ele 
apresenta. 
As Ervas Medicinais 
Tanto para a medicina ocidental quanto para a oriental, as ervas medicinais 
ocupam posição de destaque no campo terapêutico. A medicina oriental, porém, atribui­lhe 
uma importância infinitamente maior. Embora escolhidas como recurso terapêutico 
a partir das suas propriedades farmacológicas, ou seja, conforme a sua acção específica 
(diurética, laxativa, analgésica, anti espasmódica, etc.), elas são particularmente 
seleccionadas segundo a sua capacidade de equilibrar, estimular ou reduzir os três 
doshas. A medicina védica escolhe uma ou várias ervas para determinado tratamento 
com base também em elementos não considerados pela fitoterapia ocidental, como o 
gosto da planta, o tipo das suas folhas, seu crescimento, a sua estação, a sua cor, tipo de 
flores e de frutos. Todas estas características são valiosas a partir da identificação do 
Prakriti a que se adequam. Além dos chás, dos extractos frescos, dos sumos, dos 
emplastros, dos unguentos, pomadas, óleos medicinais e demais formas clássicas de uso 
das ervas, a medicina védica reserva um capítulo muito especial e detalhado sobre as 
ervas aromáticas e as usadas como temperos culinários, pois cada uma delas também 
exerce influência no equilíbrio dos dosahas. 
As massagens com óleos especiais e o emprego da terapia dos aromas estão 
entre as técnicas do Ayurveda. Outro importante meio terapêutico utilizado pelo 
Ayurveda são os óleos preparados com extractos vegetais especiais. Pode­se 
equilibrar 
Vat, Pitta ou Kapha com composições de uma ou árias ervas ou pelo simples uso de um 
12 
óleo vegetal, como o de amêndoa ou de gargelim, ao azeite de oliva ou óleos voláteis de 
sementes de flores. A sua aplicação por meio de massagens visa a estimulação da pele e 
a consequente absorção da propriedade medicinal da planta. Algumas massagens podem 
ser feitas pela própria pessoa, mas outras exigem a interferência de técnicos, pois em 
geral são aplicadas como parte de um plano terapêutico mais amplo. O Ayurveda 
emprega ainda muitas outras técnicas, de entre as quais podemos citar: a musicoterapia 
(Gandharva Veda), que busca o equilíbrio dos doshas pela audição de músicas especiais 
chamadas ragas, vocais ou instrumentais, cânticos (mantras); ­a 
aroma terapia, que 
emprega perfumes raros, essências florais, flores silvestres e resinas aromáticas para
enviar sinais específicos aos doshas. De maneira geral, Vata é equilibrado por uma 
mistura de aromas quentes, doces e ácidos como manjericão, laranja, gerânio­rosa, 
cravo da Índia; Pitta é equilibrado por uma mistura de aromas doces e frios como 
sândalo, rosa menta e Jasmim; Kapha é equilibrado por uma mistura de aromas quentes, 
mas com toques condimentados como zimbro, eucalipto, cânfora e manjerona. 
Pranayama, o equilíbrio pela respiração. 
Uma técnica que harmoniza os doshas e regula a distribuição da energia cósmica 
pelo organismo. Pranayama é uma palavra de origem sânscrita: prana significa “energia 
vital” e yama, “acção, actividade, movimento”. 
Embora em termos gerais, o Ayurveda classifique cinco tipos de prana, cada um 
deles governando órgãos ou áreas do corpo, em síntese o prana é apenas um: o prana 
aéreo, ou Vayu, a principal fonte directa de energia cósmica para os seres vivos que 
respiram o ar atmosférico. Captado pelas vias respiratórias, é imediatamente distribuído 
pelo organismo; a sua carência ou má distribuição possibilita o surgimento de doenças a 
partir da desarmonia entre os doshas, que absorvem “vorazmente” prana. Uma vez que 
prana aéreo esteja em condições ideais de equilíbrio quantitativo e qualitativo, todos os 
outros tipos de Prana também tendem ao equilíbrio, o mesmo ocorrendo em relação aos 
três doshas. 
A técnica do pranayama 
Para regularizar o ritmo da respiração. 
1 – Escolha um local calmo e sem ruídos, de preferência isolado das outras pessoas. 
2 – O horário ideal é ao amanhecer, quando o ar está mais carregado de prana. 
3 – Sente­se 
confortavelmente com as costas erectas e os pés apoiados no chão. Feche 
os olhos e procure relaxar, deixando a mente tranquila. 
4 – Inicie o exercício comprimindo suavemente a narina direita com o polegar e 
exalando pela narina esquerda. Inale suavemente pela narina esquerda e feche­a 
com os 
dedos médio e anelar, exalando suave e lentamente pela narina direita. Inale pela narina 
direita, repetindo o processo de alternar as narinas durante cinco minutos. Depois, 
recoste­se 
e permaneça de olhos fechados por dois ou três minutos. Lembre­se 
de iniciar 
o exercício exalando e terminar inalando, de modo suave e normal 
13 
Realizado diariamente, o exercício de respiração polarizada traz uma sensação de 
equilíbrio, serenidade e bem­estar, 
que tende a crescer à medida que se aperfeiçoa ao 
método com a prática constante. 
Os cinco tipos de prana
1 – Prana – Concentra­se 
no cérebro e move­se 
para baixo, governando a respiração. 
Está ligado à inteligência, à sensibilidade, às funções motoras primárias. Penetra no 
corpo pelo chakra da coroa, situado no alto da cabeça e, pela inspiração do ar passando 
pelas narinas. É o principal tipo de energia cósmica. 
2 – Vyana – Concentra­se 
no coração. Age no corpo inteiro, governando o sistema 
circulatório, as articulações e os músculos. É captado do ar inspirado nos pulmões e da 
energia dos alimentos. 
3 – Samana – Concentra­se 
no intestino delgado; governa o aparelho digestivo e é 
captado principalmente pela energia vital dos alimentos vivos (sementes, frutas, etc.). 
4 – Udhana – Concentra­se 
na região da garganta e governa a fala, o teor da voz, a força 
vital, a força de vontade, o esforço, a memória e a exalação de ar. É captado sobretudo 
da energia que advém do chakra da garganta. 
5 – Apana – Concentra­se 
no baixo­ventre, 
governando a evacuação, a micção, a 
ejaculação, o fluxo menstrual e o processo do parto. É captado pelos chakras localizados 
na base da coluna e nos órgãos genitais. 
Os três canais de energia 
O pranayama é uma técnica para equilibrar a energia vital, que, ao penetrar no 
organismo, polariza­se 
num aspecto negativo ou positivo (o Yin e o Yang da medicina 
cninesa). 
Entrando pelas narinas, o prana polarizado percorre inicialmente os canais 
principais de energia localizados ao longo da coluna vertebral. Esses canais são também 
polares e, segundo o Ayurveda, recebem os nomes de Ida, Pingala e Sushuma, este o 
canal central e o mais importante dos três. Ida, ou canal lunar (negativo), inicia­se 
na 
narina esquerda e desce serpenteando ao longo da coluna vertebral em volta de 
Sushuma. Pingala, o canal solar (positivo), inicia­se 
na narina direita e acompanha 
simetricamente Ida. Cada um carrega energias prânicas que se polarizam a partir das 
narinas. Juntos, os três canais formam uma imagem que se assemelha a duas serpentes 
harmoniosamente enroscadas numa haste; dessa figura originou­se 
o tradicional 
caduceu de Mercúrio, que simboliza a medicina. 
Este é na verdade, o antigo símbolo da medicina tibetana, cujos procedimentos 
visam a restauração por meio do reequilíbrio das energias prânicas nos três canais 
principais do organismo. Para a antiga medicina tibetana, não apenas as doenças físicas, 
mas inclusive as de carácter psíquico ou mental são provocadas por alterações 
energéticas nesses canais. A partir deles toda a energia vital é distribuída para o 
organismo e é através deles, ainda, que os centros de energia, ou chakras, se 
comunicam. Assim, toda a energia emocional não somente é influenciável pelos três 
canais, como também – e principalmente – os influencia. 
14 
Flores num Campo Quântico 
Quase ninguém questiona o facto de que o seu corpo teve um começo e se 
aproxima inexoravelmente de um fim. Mas estas ideias são crenças culturais e não
factos absolutos. O corpo humano não tem começo e fim definidos, está constantemente 
recriando­se 
a cada dia. 
Se estamos constantemente a nos criarmos, nunca é tarde para começarmos a 
formar os corpos que desejamos, em vez de cometermos o engano de continuarmos 
presos aos que já temos. Realizamos um acto criativo cada vez que respiramos. As 
moléculas do ar são caóticas e dispersas ao acaso, mas quando entram no nosso corpo 
adquirem, como por magia, um propósito e uma identidade. Que acto poderia ser mais 
criativo? Vejamos o que acontece com um único átomo de oxigénio quando respiramos. 
Em poucos milésimos de segundo, ele atravessa as membranas húmidas e quase 
transparentes dos pulmões, aderindo à hemoglobina no interior de das células vermelhas 
do sangue. Nesse instante ocorre uma notável transformação. A célula, que era de um 
tom azul­escuro, 
quase negro pela falta de hemoglobina, muda de cor com essa 
substância, adquirindo um tom vermelho­claro 
e brilhante; o átomo de ar que vagava a 
esmo, transforma­se 
subitamente em nós próprios. Ele acaba de cruzar o limite invisível 
entre algo sem vida e o que vive sessenta segundos depois, o mesmo átomo, o mesmo 
átomo de oxigénio completará um circuito pela corrente sanguínea por todo o nosso 
corpo. Nesse período, quase metade do oxigénio do corpo sairá do sangue para se 
transformar numa célula do rim, num músculo bíceps, num neurónio ou noutro tecido 
qualquer. O átomo permanecerá nesse tecido durante um período que pode variar entre 
poucos minutos e um ano, realizando todas as funções de que somos capazes. Um 
átomo de oxigénio pode fazer parte de um pensamento feliz se aderir a um 
neurotransmissor, ou pode provocar medo, ligando­se 
a uma molécula de adrenalina. 
Pode alimentar uma célula cerebral com glicose ou sacrificar­se 
ao transforma­se 
em 
parte de um glóbulo branco que deve atacar uma bactéria invasora. É assim que corre o 
rio da vida, o rio do corpo, fluindo com inteligência e criatividade. 
Sendo a respiração o ritmo fundamental da vida e o que apoia todos os outros, a 
respiração pode ser considerada o acto mais criativo do nosso corpo. A maneira correcta 
de respirar cria a sintonia entre as nossas células e os ritmos da natureza. À medida que 
vamos adquirindo uma respiração mais natural e refinada, ficamos mais armados com a 
natureza. Muitas rotinas ayurvédicas ajudam a equilibrar a respiração. São indicados os 
exercícios dos três doshas, assim como a suave respiração polarizada, ou Pranayama, 
que podemos praticar diariamente durante alguns minutos. O lema é viver em sintonia 
com o nosso corpo mecânico quântico. A rotina mais importante a seguir é a que 
transcende, é o acto de entrar em contacto com o nosso nível quântico: Meditação 
Transcendental, que deverá ser praticada todos os dias durante alguns minutos, de 
manhã e à tarde. De acordo com o Ayurveda, é esse o modo de elevar a existência 
comum a um plano superior. Se executarmos alguns processos correctamente, a 
tendência inerente ao corpo de conservar o equilíbrio cuidará do resto. 
“É nosso dever como o resto da humanidade sermos perfeitamente saudáveis, porque 
somos as ondas do oceano da consciência e ao adoecermos, mesmo pouco, rompemos a 
harmonia cósmica” 
15 
Não nos podemos ver a nós mesmos como um organismo isolado no tempo e no 
espaço, ocupando um metro e meio cúbico de volume e durante sete ou oito décadas.
Mais correcto é ver­nos 
como um célula do corpo cósmico, com direito a usufruir 
os privilégios da condição cósmica, inclusive a saúde perfeita. 
Como diz outro verso védico, “A inteligência interior do corpo é o maior e 
supremo génio da natureza. Ela espelha a sabedoria do cosmos”. Esse génio está no 
seu íntimo, é uma parte de seu molde que não pode ser apagada. No nível mecânico 
quântico não existem fronteiras nítidas que os separem do restante do universo. Estamos 
todos equilibrados entre o infinito e o infinitesimal. Os memos prótons encontrados no 
coração das estrelas, que vivem ao menos cinco biliões de anos, residem em nós. Os 
neutrinos que penetram a cruzam a Terra em poucos milionésimos de segundo também 
são parte de nós por breve instante. Nós somos; um rio fluente de átomos e moléculas 
reunidos dos vários cantos do cosmo. Nós somos; um afloramento de energia formando 
ondas que se espiam pelo campo unificado. Nós somos; um reservatório de inteligência 
que não pode ser exaurido, pois a natureza é inexaurível. 
A ideia de que o universo é um organismo que vive, respira e pensa, que seria 
considerada ridícula na geração passada, talvez venha a comprovar­se 
como princípio 
fundamental de uma ciência nova. 
Se assim for, o Ayurveda logo atingirá grande proeminência como a primeira 
medicina quântica do nosso tempo. 
Para o homem moderno, a doença não é uma necessidade mas sim uma escolha. 
A natureza não nos impôs uma bactéria ou um vírus que cause enfartes, diabetes, 
cancro, artrite ou osteoporose. Essas são, em geral, dúbias criações do homem. 
Este trabalho foi feito a partir da consulta e até do aproveitamento de alguns 
textos, de sites sobre o tema, na sua maioria de origem indiana.
Ayurveda, a antiga medicina indiana

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Ayurveda, a antiga medicina indiana

  • 1. 1 Ayurveda Os especialistas garantem que, graças às descobertas da ciência médica, o homem moderno caminha na direcção da quarta idade. O ideal alquímico da vida eterna pode ter ficado para trás, mas não há quem não sonhe em viver mais e melhor. No mundo de hoje, a saúde – esta fonte natural nem sempre renovável – passou a ser o bem mais precioso. O Ayurveda, uma ciência indiana tão antiga quanto o homem, define a saúde como uma condição de harmonia interna e externa capaz de habitar o ser humano no buscar dos seus objectivos mais profundos e permanentes. Para a medicina Ayurveda, ser saudável é uma condição normal e toda a terapia deve ser baseada no restabelecimento desse estado natural. Por isso, é também chamada de”natureza que restabelece”. Vinod Verma (director da New Way Health Organization na Índia) O que proponho é uma digressão guiada ao mais antigo sistema de medicina conhecido, visitando a sua história, filosofia, princípios básicos, avaliação da condição humana e formas de tratamento. Para os leitores menos experimentados da filosofia oriental, sugiro que não façam um juízo definitivo, sem primeiro terem efectuado uma leitura completa e minuciosa do texto. Origem histórica Por muito que valorizemos no Ocidente, as nossa raízes civilizacionais no Médio Oriente, é a misteriosa Índia que é reconhecida como o berço da civilização. Os
  • 2. historiadores acreditam que os primeiros hindus habitaram a Meseta do Pamir há 6.000 anos antes de Cristo, mas segundo estudos recentes, os Vedas parecem ter sido compilados há mais de 14.000 anos. 2 Não é sem razão que os antigos médicos hindus são considerados verdadeiros sacerdotes, conhecedores não só dos problemas do corpo físico como da alma humana, mas também da própria essência e origem do homem. É na Índia milenar que vamos encontrar as bases do mais antigo e misterioso sistema médico organizado de que se tem notícias: o Ayurveda. O Ayurveda, ou medicina védica, significa “ciência da vida ou do conhecimento dos ciclos da vida” e faz parte dos Vedas. O sistema ayurvédico, com aproximadamente 5.000 Anos, é uma ciência completa, que inclui aspectos físicos e espirituais da vida. O seu princípio básico é que a mente exerce a mais profunda influência no corpo e, advoga que a boa saúde é resultado directo de viver em harmonia com o Universo. O seu objectivo é obter o equilíbrio do corpo e da mente, não numa perspectiva de eternidade, como foi ambicionada em tempos remotos, mas para numa vida longa e feliz. Os Vedas são hinos religiosos da tradição hindu, fonte das principais filosofias da Índia. A Medicina Védica encontra­se em dois dos quatro Vedas: o Rig Veda e o Atharva Veda. Nos Vedas a religião, mitologia, magia e a medicina são coisas inseparáveis, o que levou alguns autores a afirmar que a medicina Védica, foi um sistema mágico­religioso, baseado no contacto com o sobrenatural. A doença, segundo os Vedas, era resultante da invasão de espíritos malignos e demoníacos e que para afastá­los eram necessários rituais e sacrifícios feitos por sacerdote ou Brâmanes. Segundo textos do período védico tardio (900 a 500 a.C.) os médicos e a medicina foram desacreditados pela hierarquia sacerdotal dos Brâmanes, que censuravam os médicos pela sua associação com todo o tipo de pessoas, o que os tornava impuros. Os médicos estavam, de facto, em contacto com pessoas das castas mais baixas, devido à sua profissão e isto, tornava­nos impuros na visão dos Brâmanes. O dogmatismo da religião hegemónica dos Vedas, levou a medicina e os médicos a refugiarem­se noutras tradições sem castas, ou seja, não védicas, pois a tradição védica considerava a medicina inadequada para o sacerdote e os médicos impuros. No primeiro milénio antes da nossa era, surgiram duas tradições que estavam relacionadas com as práticas médicas, mas ambas não védicos, ou seja, sem a restrição do rígido sistema de castas. Estas tradições não védicas deram origem a uma medicina nova que veio a rivalizar com a medicina mágico­religiosa dos Vedas. O novo sistema era baseado na observação dos fenómenos naturais e das suas influências no ser humano, de uma forma racional, a nova abordagem a saúde não estava limitada pelo rígido sistema de castas e, era baseado no empirismo e no racionalismo. As tradições não védicas, foram o motor adequado para a formação da medicina empírico­racional que de uma forma diferente da medicina mágico­religiosa dos Vedas, baseada em fenómenos sobrenaturais, está estruturada na relação do ser humano com os fenómenos da natureza.
  • 3. Esta medicina tornou­se tão popular na Índia antiga, que os hindus brâmanes resolveram incorporá­la no corpo de conhecimento dos Vedas e passaram a denominá­la Ayurveda ou literalmente, conhecimento da vida e, divulgaram a ideia que a raiz do Aurveda está nos Vedas, porém não existe em nenhum dos hinos qualquer referência ao Ayurveda como está descrito pelos seus autores. 3 Pelo estudo dos Vedas e dos textos clássicos do Ayurveda verificou­se que houve uma adaptação progressiva do paradigma da medicina mágico­religiosa dos Vedas, baseada no contacto com o sobrenatural, para uma medicina empírico racional, através da observação dos fenómenos naturais. Estas tradições, não védicas, foram os budistas e os ascetas errantes que prevaleciam na Índia na segunda metade do primeiro milénio antes de Cristo. O Ayurveda é uma medicina indiana que foi desenvolvida a partir da época de Buda, no século V a.C. e propõe uma vida em harmonia com as leis da natureza, mas também uma vida útil à sociedade como um todo. Na Medicina Ayuvedica saúde é um estado de felicidade e, para o alcançar, o ser humano deve trilhar um caminho de auto­conhecimento. Como dizia o oráculo de Delphos na Grécia antiga:”conhece­te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”. A doença, para o Ayurveda, é muito mais que a manifestação de sintomas desagradáveis ou perigosos à manutenção da vida. O Ayurveda, como ciência integral, considera que a doença inicia­se muito antes de chegar à fase em que ela finalmente pode ser percebida. Assim, pequenos desequilíbrios tendem a aumentar com o passar do tempo, se não forem corrigidos, originando a enfermidade muito antes de podemos percebê­la. Polarização – O movimento constante Os indianos, como mais tarde Parménides com o seu Eon, recusavam a ideia de Vazio Absoluto, a densidade nula, privilegiando em seu lugar o Ser no sentido mais abstracto, a Existência omnipresente e estática, imutável, perfeita. A partir da polarização, os elementos assim formados estarão em constante processo de atracção e repulsão, ou em atrito, determinando a própria dinâmica da vida: pólos contrários atraem­se e, sem modificarem a sua estrutura, geram uma terceira coisa. Tudo aquilo que adquire então uma conotação polar está sujeito a transformações contínuas. O processo só chega a um fim quando o mecanismo arquetípico da criação determina uma acção de retorno, ocasião em que a Substância Original recebe de volta aquilo que teve origem no seu próprio seio. Entre a criação e manifestação de um Universo e o que lhe sucede, há um período de repouso, onde a matéria é caótica ou não manifestada, denominado Pralaya. Pralaya quer dizer em sânscrito dissolução, mas sem destruição, pois a dissolução conduz à recreação.
  • 4. A Essência Una, infinita e desconhecida existe em toda a eternidade, que ora é activa – Manvatara ­ora é passiva – Pralaya – em sucessões alternadas, regulares e harmoniosas. Ao iniciar­se um período de actividade dá­se a expansão daquela Essência Una do mesmo modo, quando sobrevém a condição passiva, efectua­se a contracção da Essência e, a anterior da criação desfaz­se gradual e progressivamente, o universo visível desintegra­se, os seus elementos dispersam­se. Uma expiração da Essência desconhecida produz o mundo (o universo), uma inspiração fá­lo desaparecer. Peregrino é o nome dado à nossa Mônada (ser individual) durante o seu ciclo de encarnações. É o único Princípio imortal e eterno que existe em nós, sendo uma parcela indivisível do todo integral, o Espírito Universal, de onde emana e no qual é absorvido 4 no final do ciclo. A peregrinação é obrigatória para todas as almas através do Ciclo da Encarnação. Nenhum Buddhi puramente espiritual (Alma Divina) pode ter uma existência consciente independente antes que haja passado por todas as formas elementares do mundo fenomenal do Manvatara, à custa dos próprios esforços regulados pelo karma, escalando assim todos os degraus de inteligência, desde o Manas (entendimento) inferior até ao Manas superior; desde o mineral a planta ao Arcanjo mais sublime. Neste estágio de Pralaya as Gunas encontram­se em perfeito equilíbrio, todas as potências e energias que aparecem no Universo manifestado, repousam numa inactividade; porém, quando o equilíbrio se rompe, produz­se uma forma, uma manifestação e, toda a manifestação ou forma é produto da Prakriti em que há predomínio de uma sobre as duas restantes. Nem Sattava nem Tamas podem por si só entrar em actividade; requerem o impulso do motor e da acção (Rajas) para se colocarem em movimento e desenvolver as suas propriedades características. Vimos, deste modo, como é sempre a paixão ou desejo que catapulta para a manifestação (e, assim, para o fenómeno encarnador, por via do apego, rompendo a unidade ou homogeneidade primordial. Cessa o Estado de Pralaya, de Abstracção ou Repouso. A partir daí, os dois pólos da Natureza, o espírito (Purusha) e a matéria (Prakriti) “agindo sobre as três Gunas dão origem aos “cinco Grandes Elementos” que são a base e a causa do Universo Fenomenal em todas as numerosas e constantemente mutáveis formas e aparências”. Purusha fornece a energia a Prakriti através das três Gunas, procedendo de Prakriti os Tattvas ou princípios. Constatamos, igualmente, como todo o ser, todo o fenómeno ou toda a movimentação existente no universo manifestado corresponde à expressão predominante de uma ou duas das Gunas. É assim com o ser humano e com cada um dos seus pensamentos, sentimentos, acções, palavras, escolhas ou graus evolutivos; é assim com os animais ou as plantas; é assim com todas as formas materiais. É relativamente fácil reconhecer o homem tamásico: caracteriza­se pela sua letargia, pela sua insensibilidade, pela lentidão e inanimidade das reacções psicológicas, pela reacção quase exclusiva a estímulos brutais ou grosseiros, que são aqueles que lhe agradam e despertam interesse. É o néscio conformado. Este tipo de ser humano vai ser
  • 5. oportunamente e progressivamente despertado pelos choques rajásicos que, nesse sentido, são úteis e necessários. O homem rajásico, que hoje predomina, sobretudo, nos meios mais urbanos e cosmopolitas, é ávido, passional e egoísta, insaciável na busca de coisas para o seu eu pessoal, sempre agitado e excitado, embora à superfície, pelos impactos externos. É activo no sentido de reactivo. O seu pensamento é predominantemente desordenado, incapaz de uma síntese. Julga­se inteligente mas está perdido na ilusão. Está polarizado nos níveis de Kama­Mnas, ou seja, da Alma Animal, da mente (Manas) escravizada pelo desejo egoísta (Kama). A civilização contemporânea é eminentemente rejásica… O homem sáttvico é um tipo humano superior, mais interiorizado, capaz de encontrar uma síntese lúcida no meio dos impactos externos, dos quais se vai deixando de tornar dependente. É o homem que encontra os Valores da Harmonia, da Justiça, da Verdade, da Sabedoria, e que se desapega das coisas que satisfazem o desejo egoísta. É o homem polarizado nos níveis superiores do Mental, em Buddni­Manas, ou seja, a 5 Mente (Manas) iluminada por Buddhi (Razão Pura, Discernimento, Intuição). Pelo exposto, é uma raridade… Também na manifestação da Divindade verifica­se o ritmo, isto é, o período activo e passivo. Na verdade, o Absoluto jamais pode estar em repouso, pois representa o movimento intrínseco e transcendente, que gera e mantém a vida, embora a nossa limitada compreensão o perceba como uma imobilidade absoluta, o vazio. Assim, a Substância Eterna se polariza e se despolariza, voltando constantemente ao “Não­Ser”, o Não Manifestado ou Para­Brahmam, numa sucessão que a sabedoria oriental chama de “os dias e as noites de Brahma”. No período da “noite Brahma”, a vida entra em latência, ou numa condição absoluta; no “dia de Brahma, a vida acorda para a actividade, entrando na sua fase relativa. Os princípios fundamentais da existência Para os antigos mestres da Índia, a existência tinha dois princípios fundamentais: Purusha, o principio espiritual ou a consciência superior ou Atmam; e Prakriti, ou a natureza material, o principio criativo ou a força de criação dos mundos físicos. Purusha é alimentado pelo fogo cósmico chamado Fohat; Prakriti é alimentado por Kundalini, fogo cósmico antagónico e complementar a Foaht. Dessas duas grandes forças, que inicialmente estavam juntas, surge a Inteligência Cósmica, ou Mahat, que contém as sementes de toda a manifestação da vida e à qual as leis da Natureza são inerentes. Esta Inteligência Cósmica também está presente no ser humano como “Inteligência pura”, ou Eu Superior. É através do Eu Superior que se desperta para a vida universal, atinge o seu pleno desenvolvimento espiritual e pode alcançar a iluminação, ou seja, a felicidade no seu sentido mais amplo e profundo. O Eu Superior é também chamado de Buddhi ou princípio búdico e representa, ainda, a capacidade de percepção, a capacidade de discernir entre realidade e ilusão.
  • 6. Ao obedecer às leis da evolução, a Inteligência Cósmica projecta­se em direcção aos mundos materiais, dando origem ao ego, ou Ahamkara. Assim, somente o nosso limitado sentido de individualidade nos separa da unidade da vida. O ego manifesta­se através da mente condicionada, de um estado de consciência mais grosseiro denominado Manas (ou mental inferior), que representa a nossa auto­imagem, nosso universo conceptual particular, e que, por sua vez, cria o campo do pensamento limitado dentro do qual nos confinamos. Além disso, o ego funciona como uma ponte para o inconsciente colectivo, que é também uma dimensão condicionante, manifestando­se no campo mental como Chitta, o turbilhão dos pensamentos. Devido a Chitta, o ser humano permanece sob a influência de latências ancestrais, de compulsões e de impulsos passionais próprios das consciências inferiores. O retorno à unidade com a Natureza O Ayurveda, em contra partida, aponta para uma vida em harmonia com a Inteligência Cósmica, onde a nossa inteligência se aperfeiçoa e através da qual retornamos à unidade com a Natureza. Só a partir dela é possível encontrar o verdadeiro 6 Eu, mergulhar no domínio do espírito; ou Purusha. Este é o fundamento do Ayurveda, assim como o Yoga que também tem as suas raízes nos Vedas, e funciona como base para a psicologia ayurvédica. O retorno a Purusha exige o despertar da inteligência que está constantemente sob o comando do ego. É o ego, por sua vez, que se antagoniza à consciência do Eu Superior e é a base de todo o desvio da Natureza. Nesse sentido, segundo o Ayurveda, a saúde é um estado que só existe se houver harmonia com Prakriti, a natureza fenomenal. A doença ou Vikruti, é gerada pela condição artificial de distanciamento da Natureza; assim, segundo o Ayurveda todas as moléstias, excepto aquelas que ocorrem por acidente, são provocadas por desequilíbrios resultantes de um estágio inferior da consciência individual. Gunas Gunas, são as três qualidades da matéria. Atributos fundamentais da Natureza, as gunas são a fonte de todas as características que associamos ao ser humano. Gunas são condições segundo as quais a matéria cósmica surge e se desenvolve. A matéria da qual o universo é feito em qualquer de seus estados, resulta de uma combinação de três qualidades: Sattva (ritmo), Rajas (movimento), Tamas (inércia.). No nível físico, Sattva é harmonia; Rajas é actividade; Tamas é inércia. No nível mental, Sattava é verdade; Rajas é paixão; Tamas é indifrença. Segundo o BhagavadGita 5 – São estes atributos que vinculam a alma ao corpo ou o Espírito à matéria.
  • 7. Prakriti, a natureza material, possui três qualidades básicas, três atributos primários denominados Gunas que podem também ser entendido como impulsos naturais ou instintos: Sattva, o princípio da inteligência, da fluidez, da suavidade e da harmonia; Rajás, o princípio da energia mental racional, da turbulência, de emoção, da impulsividade; e Tamas, o princípio da obscuridade, da ignorância e da resistência. Cada um desses atributos é necessário na Natureza e cumpre funções específicas. No entanto, Sattava é a qualidade mais adequada à mente, enquanto Rajás e Tamas representam impurezas no plano mental e enfraquecem o poder de percepção e discernimento espiritual. Samkhya é um dos seis sistemas tradicionais da filosofia hindu e um dos mais antigos. O sistema Samkhya é atribuído ao sábio védico Kapila (cerca de 500 a.C.) e é conhecido como o “método racional”. Dele deriva o conceito de guna (qualidades materiais ou “potências”). Postula uma cosmologia em que os resultados estão implicados nas causas e em que o universo permanece constante, nada lhe é acrescentado ou extraído. Tudo é uma manifestação ou mutação do que existiu sempre. Deste modo, a morte é meramente um estado transitório que leva a outros estados. Neste ponto, o Samkhya tem um paralelo na teoria científica moderna da conservação da matéria e da energia. Samkhya não reconhece deuses ou sacrifícios. A tradição indiana considera o Samkhya como o mais antigo darçana. Darçana é o nome utilizado para designar um conjunto de seis escolas tradicionais que foram 7 responsáveis pelo ressurgimento e restabelecimento da espiritualidade na Índia num período entre 100 a.C. a 500 d.C., marcado pelo desenvolvimento lógico e racional da religião Hindu, actuando como um movimento contra o dogmatismo brâmane e uma tentativa de provar a supremacia do Hinduísmo sobre o Budismo. O sentido do termo Samkhya parece ter sido o de “discriminado”, já que o objectivo principal desta filosofia era o de dissociar o espírito (Purusha) da matéria (Prakriti). Os cinco elementos Das três gunas surgem os cinco elementos da Natureza: éter ou espaço (Akashs), ar (Vayu), fogo (Tejas), água (Apas) e terra (Prithivi). De Sattva, que consiste de claridade, surge o elemento éter. De Rajás, que consiste de energia, surge o elemento fogo. De Tamas, que consiste de inércia, surge a terra. Entre Sattava e Rajás origina­se, ténue e móvel, o elemento ar. E de Rajás e Tamas surge a água, resultado da combinação entre mobilidade e inércia. Os cinco elementos integram a essência da Natureza, os seus nomes não significam propriamente o substantivo comum específico, mas o princípio que anima cada um dos elementos. Assim, Tejas não é exactamente o fogo comum, mas o alento vital subtil, fluido, instável, quente e forte ­a matriz imaterial que dá origem ao fogo físico. Já o elemento Akashs é de difícil compreensão para a mente humana, pois está relacionado ao aspecto mais superior da energia cósmica mais ténue.
  • 8. Os cinco elementos correspondem ainda aos cinco estados da matéria e aos cinco sentidos: sólido, olfactivo (Prithivi­terra); líquido, gustativo (Apas­água); radiante, visual (Tejas­fogo); gasoso, táctil (Vayu­ar) e etéreo, auditivo (Akasha­éter); eles determinam as cinco densidades da matéria visível e invisível do Universo e relacionam­se também a aspectos mentais, psicológicos e emocionais do ser humano. De acordo com as características dos cinco elementos, a Medicina Védica emprega nos tratamentos diferentes recursos, como plantas medicinais, sais, músicas, aromas, pontos acupunturais, etc. para promover o restabelecimento do equilíbrio de um ou vários elementos. Os três doshas Também de origem sânscrita, apalavra dosha pode ser traduzida como “princípios metabólicos”. Considera­se que o fundamento do Ayurveda reside exactamente no conceito dos três doshas – Vata – Pitta – Kapha, os trêss princípios básicos metabólicos que ligam a mente e o corpo. Eles têm origem na diferente mistura de pares dos cinco elementos: do éter e do ar surge Vata; do fogo e de um aspecto da água vem Pitta: e da água e da terra surge Kapha. Através dos elementos e dos doshas, o Ayurveda determina a natureza básica do indivíduo e estabelece uma linha de tratamento adequada às suas necessidades reais. No seu estado normal, ou seja, em equilíbrio, Vata mantém a energia da vontade, governa a inspiração do ar atmosférico, a exalação, o movimento, as descargas dos impulsos, o equilíbrio dos tecidos e a acuidade dos sentidos. Quando exacerbado, ele 8 causa secura, desidratação, escurecimento, descoloração, desejo de tepidez, tremores, distensão abdominal, prisão de ventre, enfraquecimento, insónia, redução da acuidade sensorial (visão, audição, tacto, paladar e olfacto), incoerência ao se expressar e fadiga. Vata localiza­se no cólon, (sua sede) e tende quando em desequilíbrio a acumular­se nos quadris, coxas, ouvidos, ossos e no sentido do tacto. Pitta em condições normais, é responsável pela digestão, pelo calor, pela percepção visual, pela fome, sede, pelas condições da pele, pela suavidade do corpo, pela inteligência, determinação e coragem. Quando agravado, causa coloração amarelada da urina, das fezes, dos olhos e da pele; pode também provocar fome e sede excessivas, sensação de queimadura em qualquer parte do corpo e dificuldade em dormir. Pitta situa­se no intestino delgado (sua sede), no estômago, no suor, no tecido gordurosa, sangue, plasma, linfa e no sentido da visão. Kapha por sua vez, é responsável pela firmeza e pela estabilidade, pela manutenção dos fluidos corporais, pela lubrificação das articulações em geral, pelas emoções positivas como as de paz, amor e compaixão. Quando exacerbado reduz a capacidade digestiva e provoca a acumulação do muco, sensação de exaustão, de frio, de peso, palidez, dificuldade de respirar, tosse e um desejo excessivo de dormir. Kapha localiza­se no peito (sua sede), na garganta, cabeça, pâncreas, costelas, estômago, nariz e língua. Os três doshas podem ser reconhecidos segundo os seus atributos ou qualidades ­Vata é seco, frio, móvel, áspero, variável, leve e rápido. É o mais poderoso dos doshas, governa os movimentos e lidera Pitta e Kapha.
  • 9. ­Pitta é quente, luminoso, fluido, levemente oleoso, de odor ácido, governa o calor, a temperatura e todas as reacções químicas do corpo, o metabolismo. ­Kapha é frio, pesado, vagaroso, oleoso, inerte, liso, denso, opaco, doce, constante, viscoso e macio. Responsável pelo controle da estrutura corporal, mantém a substância material, o peso e a coesão do corpo. Descobrindo a natureza básica Adquirido por ocasião do nascimento, o Prakriti de cada um, ou seja a sua constituição individual, mantêm­se constante durante toda a vida. Embora existam três tipos básicos de dosha, entre eles ocorrem diversas combinações e variações. As características indicadas a seguir, servem de referência para localizarmos a origem do desequilíbrio e para maior exactidão são divididos em cinco sub­doshas. VATA As pessoas de constituição Vata tendem a ser pouco desenvolvidas fisicamente. Esguias, suas veias e tendões musculares são proeminentes e visíveis. Em geral a sua pele é morena, fria, áspera, seca ou rachada e, pode apresentar verrugas ou pintas, quase sempre escuras. Uma pessoa de Vata pode ser alta ou baixa, mas sua ossatura é sempre delicada, com juntas pronunciadas devido ao reduzido desenvolvimento muscular. Tem mãos e pés frios, cabelos frequentemente ondulados e ralos, cílios finos. Os olhos, pequenos e vivos, costumam ser fundos, com a conjuntiva seca e ligeiramente escurecida. Unhas frágeis e ásperas; o nariz curvo ou arrebitado. O apetite e a digestão de Vata variam muito: ele pode, às vezes, fazer refeições abundantes e em outros momentos não ter a menor fome. Em geral prefere bebidas quentes. A urina tende a ser escassa, as fezes secas, em pequenas quantidades, com tendência para a prisão de 9 ventre. Raramente transpira demais. O sono é leve, agitado e curto. São pessoas geralmente criativas, dinâmicas, atentas e impacientes. Falam com rapidez, movem­se e andam apressadamente, mas logo se cansam. São flexíveis, aprendem e esquecem rápido e tendem à dispersão mental. Ajustam­se com facilidade às mudanças, embora sejam por vezes indecisas ou impacientes. Precisam desenvolver a tolerância, a confiança e a coragem. Podem pensar demais e preocupar­se excessivamente, sendo com frequência muito nervosas; tendem a se deixar afligir pelo medo e pela ansiedade. PITTA As pessoas de constituição Pitta são de altura média, apresentando desenvolvimento muscular, peso e estrutura óssea moderados. Podem ter verrugas ou sardas de cor castanha ou azulada. A tez das pessoas do tipo Pitta é geralmente clara, avermelhada, amarelada ou próxima ao tom de cobre. A pele é suave, morna, de aspecto saudável, mas facilmente irritável. O cabelo é fino, sedoso, vermelho ou castanho, com tendência a ficar grisalho precocemente ou calvície. Os olhos podem ser cinza, verdes ou castanhos­claros, com propensão à fraqueza. A conjuntiva é comummente húmida e acobreada, as unhas delicadas; o nariz é aquilino e a sua ponta aguda, pode se mostrar vermelhada. Em termos fisiológicos, os indivíduos de Pitta são dotados de um metabolismo vigoroso, têm bom apetite e boa digestão. Ingerem grande volume de
  • 10. alimentos, de líquidos e preferem as bebidas geladas. Dormem pouco, embora o seu sono seja profundo. As fezes são volumosas e amareladas. Geralmente transpiram demais. A temperatura corporal é comummente alta e as extremidades mantêm­se mornas. Não toleram muito o calor nem a luz solar. Inteligentes e perspicazes, as pessoas de Pitta aprendem rápido e podem ser bons oradores. Emocionalmente tendem à irritabilidade, ao ciúme, ao ódio, à ira. São ambiciosas e facilmente se tornam líderes. KAPHA As pessoas do tipo Kapha têm bom desenvolvimento físico e muscular, com tendência ao excesso de peso. Veias e tendões são aparentes devido a pele geralmente fina. Sua tez é clara, branca ou pálida; a pele é suave, oleosa, húmida e fria. O cabelo pode ser escuro ou louro liso ou anelado, mas é sempre grosso e abundante. Os olhos são densos, pretos ou azuis, com a conjuntiva pronunciada, raramente avermelhada. Fisiologicamente, as pessoas de Kapha possuem pouco apetite, embora regular; a digestão, porém, é lenta e, em geral, ingerem menos alimentos que os os outros tipos. Os seus movimentos são calmos. Sua evacuação é regular, as fezes suaves, pálidas e de eliminação lenta. A transpiração é moderada. O sono é pesado, prolongado ou excessivo. Os indivíduos de Kapha são pacientes, calmos e sempre bem dispostos. São caracteristicamente tolerantes, compreensíveis e amáveis. No aspecto emocional negativo, tendem à ganância, ao domínio, à inveja e à possessividade. Demoram para aprender, mas têm excelente memória. A terapêutica pela alimentação A escolha dos alimentos é o primeiro passo para uma vida saudável, de acordo com as leis da Natureza. Para restabelecer a saúde, ou o equilíbrio entre Vata, Pitta e Kapha, a tradição da medicina indiana tem como prática principal determinar uma rectificação alimentar, só lançando mão de outros tratamentos se o paciente retornar com as mesmas queixas após ter seguido à risca a dieta recomendada Essa terapia 10 baseia­se na divisão dos alimentos segundo as três qualidades ou gunas – Satta, Rajás e Tamas ­, na relação dos seis sabores e na influência que exercem sobre os doshas. A classificação dos alimentos segundo as três gunas é a seguinte: SATTVA – Alimentos que aguçam o discernimento, a sensibilidade, as faculdades superiores, que favorecem a meditação, geram a leveza, bem­estar e felicidade. São todos aqueles e sabor doce ou adocicado, leves, frescos, vitais, que não se deterioram facilmente. Neste grupo estão o leite, 0 mel de abelhas, os cereais integrais, as frutas e sabor suave, as castanhas e amêndoas, a manteiga, os óleos vetais leves, alguns grão de leguminosas, os lacticínios não fermentados e praticamente todos os alimentos de sabor doce. RAJAS – Alimentos de classificação intermediária, geralmente exercem efeito estimulante, tónico ou excitante. Neste grupo estão as carnes frescas de boi, as carnes brancas frescas, algumas bebidas alcoólicas mais leves (vinho suave, cerveja, licores
  • 11. etc.), as sementes leguminosas em geral (feijão, ervilhas, grão­de­bico), café, o chá­mate, algumas hortaliças, como o rabanete, o nabo ardido, o pimentão, a beringela, o tomate, a batata inglesa etc. O tabaco, sob todas as suas formas, é um produto do grupo Rajas. TAMAS – Opostos aos alimentos da Sattva: geralmente pesados, e gosto acentuado, picantes, ácidos, excessivamente amargos, fermentados, densos, conservados, defumados, desvitalizados, de odor forte. Tornam aqueles que os consomem carregados com as qualidades de Tamas; irritadiços, lerdos, embotados, preguiçosos, com fortes odores corpóreos, passivos intolerantes, passionais, glutões e compulsivos. Neste grupo estão os alimentos animais, principalmente os conservados (salsichas, linguiças, presunto, salame, mortadela, partes salgadas de porco, etc.), os queijos fortes, ovos, conservas, a pimenta forte, os molhos irritantes, as bebidas alcoólicas, os fritos, os alimentos decompostos, defumados, industrializados e excessivamente curtidos. A alimentação e os doshas Além da selecção com base nos três gunas, os alimentos são escolhidos em função dos sabores, do aspecto, da densidade ou da temperatura. Segundo a medicina védica existem seis sabores básicos – doce, salgado, acido, picante e adstringente – e seis atributos principais – quente, frio, pesado, leve, seco e oleoso que exercem influências marcantes sobre os doshas: ­Vata é equilibrado pelos sabores salgados, ácido e doce e por alimentos pesados, oleosos e quentes: é perturbado por alimentos picantes, amargos, adstringentes, leves, secos e frios. ­Pitta é equilibrado por alimentos doces, amargos, adstringentes, frios, pesados e secos; é perturbado por alimentos picantes, ácidos, salgados, leves e oleosos. ­Kapha é equilibrado por alimentos ou bebidas picantes, amargos, adstringentes, leves, secos e quentes; é perturbado pelos sabores doces, ácido e salgado e pelos alimentos pesados, oleosos e frios. 11 Devido a estas relações, uma mesma refeição pode provocar sensações diferentes entre pessoas de constituições diferentes. Por isso, a medicina védica considera fundamental adequar a dieta à natureza de cada pessoa. A dieta perfeita Em princípio, a alimentação ideal é aquela em que prevalecem os alimentos de Sattva. No entanto, como as gunas, do mesmo modo que os dosaha, agem de modo interligado, o que importa é uma alimentação equilibrada e de acordo com a constituição individual. Assim, uma dieta essencialmente baseada em alimentos de Sattva seria mais recomendável àqueles que levam uma ida meditativa, religiosa, muito
  • 12. calma; de modo geral, o aconselhável é o equilíbrio entre alimentos, com maior tendência aos de Sattva e com a ingestão apenas eventual daqueles ligados a Tamas. Medicamentos e técnicas Além das dietas especiais, o Ayurveda emprega remédios naturais e muitos outros recursos preventivos e curativos. Para equilibrar o Prakriti, a medicina védica dispõe de uma infinidade de medicamentos preparados pela combinação de ervas, sais, produtos minerais, bem como extractos, pomadas e óleos especiais. Não se restringem a aplicações paliativas ou superficiais com o objectivo de eliminar sintomas: são preparados especificamente para cada tipo de paciente e não para a “doença” que ele apresenta. As Ervas Medicinais Tanto para a medicina ocidental quanto para a oriental, as ervas medicinais ocupam posição de destaque no campo terapêutico. A medicina oriental, porém, atribui­lhe uma importância infinitamente maior. Embora escolhidas como recurso terapêutico a partir das suas propriedades farmacológicas, ou seja, conforme a sua acção específica (diurética, laxativa, analgésica, anti espasmódica, etc.), elas são particularmente seleccionadas segundo a sua capacidade de equilibrar, estimular ou reduzir os três doshas. A medicina védica escolhe uma ou várias ervas para determinado tratamento com base também em elementos não considerados pela fitoterapia ocidental, como o gosto da planta, o tipo das suas folhas, seu crescimento, a sua estação, a sua cor, tipo de flores e de frutos. Todas estas características são valiosas a partir da identificação do Prakriti a que se adequam. Além dos chás, dos extractos frescos, dos sumos, dos emplastros, dos unguentos, pomadas, óleos medicinais e demais formas clássicas de uso das ervas, a medicina védica reserva um capítulo muito especial e detalhado sobre as ervas aromáticas e as usadas como temperos culinários, pois cada uma delas também exerce influência no equilíbrio dos dosahas. As massagens com óleos especiais e o emprego da terapia dos aromas estão entre as técnicas do Ayurveda. Outro importante meio terapêutico utilizado pelo Ayurveda são os óleos preparados com extractos vegetais especiais. Pode­se equilibrar Vat, Pitta ou Kapha com composições de uma ou árias ervas ou pelo simples uso de um 12 óleo vegetal, como o de amêndoa ou de gargelim, ao azeite de oliva ou óleos voláteis de sementes de flores. A sua aplicação por meio de massagens visa a estimulação da pele e a consequente absorção da propriedade medicinal da planta. Algumas massagens podem ser feitas pela própria pessoa, mas outras exigem a interferência de técnicos, pois em geral são aplicadas como parte de um plano terapêutico mais amplo. O Ayurveda emprega ainda muitas outras técnicas, de entre as quais podemos citar: a musicoterapia (Gandharva Veda), que busca o equilíbrio dos doshas pela audição de músicas especiais chamadas ragas, vocais ou instrumentais, cânticos (mantras); ­a aroma terapia, que emprega perfumes raros, essências florais, flores silvestres e resinas aromáticas para
  • 13. enviar sinais específicos aos doshas. De maneira geral, Vata é equilibrado por uma mistura de aromas quentes, doces e ácidos como manjericão, laranja, gerânio­rosa, cravo da Índia; Pitta é equilibrado por uma mistura de aromas doces e frios como sândalo, rosa menta e Jasmim; Kapha é equilibrado por uma mistura de aromas quentes, mas com toques condimentados como zimbro, eucalipto, cânfora e manjerona. Pranayama, o equilíbrio pela respiração. Uma técnica que harmoniza os doshas e regula a distribuição da energia cósmica pelo organismo. Pranayama é uma palavra de origem sânscrita: prana significa “energia vital” e yama, “acção, actividade, movimento”. Embora em termos gerais, o Ayurveda classifique cinco tipos de prana, cada um deles governando órgãos ou áreas do corpo, em síntese o prana é apenas um: o prana aéreo, ou Vayu, a principal fonte directa de energia cósmica para os seres vivos que respiram o ar atmosférico. Captado pelas vias respiratórias, é imediatamente distribuído pelo organismo; a sua carência ou má distribuição possibilita o surgimento de doenças a partir da desarmonia entre os doshas, que absorvem “vorazmente” prana. Uma vez que prana aéreo esteja em condições ideais de equilíbrio quantitativo e qualitativo, todos os outros tipos de Prana também tendem ao equilíbrio, o mesmo ocorrendo em relação aos três doshas. A técnica do pranayama Para regularizar o ritmo da respiração. 1 – Escolha um local calmo e sem ruídos, de preferência isolado das outras pessoas. 2 – O horário ideal é ao amanhecer, quando o ar está mais carregado de prana. 3 – Sente­se confortavelmente com as costas erectas e os pés apoiados no chão. Feche os olhos e procure relaxar, deixando a mente tranquila. 4 – Inicie o exercício comprimindo suavemente a narina direita com o polegar e exalando pela narina esquerda. Inale suavemente pela narina esquerda e feche­a com os dedos médio e anelar, exalando suave e lentamente pela narina direita. Inale pela narina direita, repetindo o processo de alternar as narinas durante cinco minutos. Depois, recoste­se e permaneça de olhos fechados por dois ou três minutos. Lembre­se de iniciar o exercício exalando e terminar inalando, de modo suave e normal 13 Realizado diariamente, o exercício de respiração polarizada traz uma sensação de equilíbrio, serenidade e bem­estar, que tende a crescer à medida que se aperfeiçoa ao método com a prática constante. Os cinco tipos de prana
  • 14. 1 – Prana – Concentra­se no cérebro e move­se para baixo, governando a respiração. Está ligado à inteligência, à sensibilidade, às funções motoras primárias. Penetra no corpo pelo chakra da coroa, situado no alto da cabeça e, pela inspiração do ar passando pelas narinas. É o principal tipo de energia cósmica. 2 – Vyana – Concentra­se no coração. Age no corpo inteiro, governando o sistema circulatório, as articulações e os músculos. É captado do ar inspirado nos pulmões e da energia dos alimentos. 3 – Samana – Concentra­se no intestino delgado; governa o aparelho digestivo e é captado principalmente pela energia vital dos alimentos vivos (sementes, frutas, etc.). 4 – Udhana – Concentra­se na região da garganta e governa a fala, o teor da voz, a força vital, a força de vontade, o esforço, a memória e a exalação de ar. É captado sobretudo da energia que advém do chakra da garganta. 5 – Apana – Concentra­se no baixo­ventre, governando a evacuação, a micção, a ejaculação, o fluxo menstrual e o processo do parto. É captado pelos chakras localizados na base da coluna e nos órgãos genitais. Os três canais de energia O pranayama é uma técnica para equilibrar a energia vital, que, ao penetrar no organismo, polariza­se num aspecto negativo ou positivo (o Yin e o Yang da medicina cninesa). Entrando pelas narinas, o prana polarizado percorre inicialmente os canais principais de energia localizados ao longo da coluna vertebral. Esses canais são também polares e, segundo o Ayurveda, recebem os nomes de Ida, Pingala e Sushuma, este o canal central e o mais importante dos três. Ida, ou canal lunar (negativo), inicia­se na narina esquerda e desce serpenteando ao longo da coluna vertebral em volta de Sushuma. Pingala, o canal solar (positivo), inicia­se na narina direita e acompanha simetricamente Ida. Cada um carrega energias prânicas que se polarizam a partir das narinas. Juntos, os três canais formam uma imagem que se assemelha a duas serpentes harmoniosamente enroscadas numa haste; dessa figura originou­se o tradicional caduceu de Mercúrio, que simboliza a medicina. Este é na verdade, o antigo símbolo da medicina tibetana, cujos procedimentos visam a restauração por meio do reequilíbrio das energias prânicas nos três canais principais do organismo. Para a antiga medicina tibetana, não apenas as doenças físicas, mas inclusive as de carácter psíquico ou mental são provocadas por alterações energéticas nesses canais. A partir deles toda a energia vital é distribuída para o organismo e é através deles, ainda, que os centros de energia, ou chakras, se comunicam. Assim, toda a energia emocional não somente é influenciável pelos três canais, como também – e principalmente – os influencia. 14 Flores num Campo Quântico Quase ninguém questiona o facto de que o seu corpo teve um começo e se aproxima inexoravelmente de um fim. Mas estas ideias são crenças culturais e não
  • 15. factos absolutos. O corpo humano não tem começo e fim definidos, está constantemente recriando­se a cada dia. Se estamos constantemente a nos criarmos, nunca é tarde para começarmos a formar os corpos que desejamos, em vez de cometermos o engano de continuarmos presos aos que já temos. Realizamos um acto criativo cada vez que respiramos. As moléculas do ar são caóticas e dispersas ao acaso, mas quando entram no nosso corpo adquirem, como por magia, um propósito e uma identidade. Que acto poderia ser mais criativo? Vejamos o que acontece com um único átomo de oxigénio quando respiramos. Em poucos milésimos de segundo, ele atravessa as membranas húmidas e quase transparentes dos pulmões, aderindo à hemoglobina no interior de das células vermelhas do sangue. Nesse instante ocorre uma notável transformação. A célula, que era de um tom azul­escuro, quase negro pela falta de hemoglobina, muda de cor com essa substância, adquirindo um tom vermelho­claro e brilhante; o átomo de ar que vagava a esmo, transforma­se subitamente em nós próprios. Ele acaba de cruzar o limite invisível entre algo sem vida e o que vive sessenta segundos depois, o mesmo átomo, o mesmo átomo de oxigénio completará um circuito pela corrente sanguínea por todo o nosso corpo. Nesse período, quase metade do oxigénio do corpo sairá do sangue para se transformar numa célula do rim, num músculo bíceps, num neurónio ou noutro tecido qualquer. O átomo permanecerá nesse tecido durante um período que pode variar entre poucos minutos e um ano, realizando todas as funções de que somos capazes. Um átomo de oxigénio pode fazer parte de um pensamento feliz se aderir a um neurotransmissor, ou pode provocar medo, ligando­se a uma molécula de adrenalina. Pode alimentar uma célula cerebral com glicose ou sacrificar­se ao transforma­se em parte de um glóbulo branco que deve atacar uma bactéria invasora. É assim que corre o rio da vida, o rio do corpo, fluindo com inteligência e criatividade. Sendo a respiração o ritmo fundamental da vida e o que apoia todos os outros, a respiração pode ser considerada o acto mais criativo do nosso corpo. A maneira correcta de respirar cria a sintonia entre as nossas células e os ritmos da natureza. À medida que vamos adquirindo uma respiração mais natural e refinada, ficamos mais armados com a natureza. Muitas rotinas ayurvédicas ajudam a equilibrar a respiração. São indicados os exercícios dos três doshas, assim como a suave respiração polarizada, ou Pranayama, que podemos praticar diariamente durante alguns minutos. O lema é viver em sintonia com o nosso corpo mecânico quântico. A rotina mais importante a seguir é a que transcende, é o acto de entrar em contacto com o nosso nível quântico: Meditação Transcendental, que deverá ser praticada todos os dias durante alguns minutos, de manhã e à tarde. De acordo com o Ayurveda, é esse o modo de elevar a existência comum a um plano superior. Se executarmos alguns processos correctamente, a tendência inerente ao corpo de conservar o equilíbrio cuidará do resto. “É nosso dever como o resto da humanidade sermos perfeitamente saudáveis, porque somos as ondas do oceano da consciência e ao adoecermos, mesmo pouco, rompemos a harmonia cósmica” 15 Não nos podemos ver a nós mesmos como um organismo isolado no tempo e no espaço, ocupando um metro e meio cúbico de volume e durante sete ou oito décadas.
  • 16. Mais correcto é ver­nos como um célula do corpo cósmico, com direito a usufruir os privilégios da condição cósmica, inclusive a saúde perfeita. Como diz outro verso védico, “A inteligência interior do corpo é o maior e supremo génio da natureza. Ela espelha a sabedoria do cosmos”. Esse génio está no seu íntimo, é uma parte de seu molde que não pode ser apagada. No nível mecânico quântico não existem fronteiras nítidas que os separem do restante do universo. Estamos todos equilibrados entre o infinito e o infinitesimal. Os memos prótons encontrados no coração das estrelas, que vivem ao menos cinco biliões de anos, residem em nós. Os neutrinos que penetram a cruzam a Terra em poucos milionésimos de segundo também são parte de nós por breve instante. Nós somos; um rio fluente de átomos e moléculas reunidos dos vários cantos do cosmo. Nós somos; um afloramento de energia formando ondas que se espiam pelo campo unificado. Nós somos; um reservatório de inteligência que não pode ser exaurido, pois a natureza é inexaurível. A ideia de que o universo é um organismo que vive, respira e pensa, que seria considerada ridícula na geração passada, talvez venha a comprovar­se como princípio fundamental de uma ciência nova. Se assim for, o Ayurveda logo atingirá grande proeminência como a primeira medicina quântica do nosso tempo. Para o homem moderno, a doença não é uma necessidade mas sim uma escolha. A natureza não nos impôs uma bactéria ou um vírus que cause enfartes, diabetes, cancro, artrite ou osteoporose. Essas são, em geral, dúbias criações do homem. Este trabalho foi feito a partir da consulta e até do aproveitamento de alguns textos, de sites sobre o tema, na sua maioria de origem indiana.