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14 | ECONOMIA | PÚBLICO,SÁB16AGO2014
10 km
OCEANO PACÍFICO
OCEANO ATLÂNTICO
Um século a ligar o mundo
Em 1914, os EUA concretizaram um sonho antigo de unir o oceano Atlântico ao Pacífico, encurtando as
distâncias e transformando as relações comerciais a nível mundial. Em 2015 deverá estar concluído
um gigantesco projecto de alargamento do Canal do Panamá. João Pedro Pereira e Célia Rodrigues
Cronologia
A travessia de 82 quilómetros tornou a navegação entre os dois
oceanos muito mais rápida
Lago Miraflores
Comporta de
Miraflores
Comporta de Gatún
Comporta Pedro Miguel
Corte Culebra
(Gaillard cut)
Lago Gatún
425 km2, 26m acima do nível médio do mar
Oceano PacíficoOceano Atlântico
Comprimento da travessia: 82 km
O Panamá torna-se independente
da Colômbia, com apoio
norte-americano. O país vende
aos EUA, a título perpétuo e
mediante um pagamento anual, o
direito de construir uma ligação
entre o Atlântico e o Pacífico.
Cerca de 20 anos antes, a França
tentara o mesmo, mas desistiu
após milhares de mortes devido a
doenças tropicais.
Os EUA começam a construir o
canal, aproveitando o que os
franceses já tinham feito. No final
do ano, trabalhavam nas
escavações cerca de 3500
homens. Nesta fase, o plano ainda
era fazer uma passagem
inteiramente ao nível do mar.
Surgem os primeiros casos de
febre amarela entre os
trabalhadores, levando a que
alguns se demitam.
A 15 de Agosto, é feita a
cerimónia inaugural do canal,
com a travessia do navio
americano SS Ancon.
No entanto, o canal já estava a
funcionar e a primeira
travessia tinha sido feita em
Janeiro, por uma embarcação
francesa. A cerimónia foi
circunspecta, dado estar em
curso a I Guerra Mundial.
Com receio de bombardeamentos
japoneses durante a II Guerra
Mundial, os EUA começam a
construir um terceiro conjunto de
eclusas (a estrutura responsável por
elevar e descer os navios ao longo
do canal), que não chegou a ser
finalizado. O Panamá deixa de ser
um protectorado americano.
Alargada para um mínimo de 225 metros e
aprofundada 15,5 metros. Retirou-se 8,7 milhões
de metros cúbicos de material subaquático
O alargamento do canal de navegação do Atlântico
de 198 para 225 metros precisou da dragagem de
uma área de 13,8 km de extensão. Com a
construção do canal de acesso para as novas
eclusas, a obra incluiu a dragagem e escavação
seca de cerca de 17,9 milhões de metros cúbicos de
material.
Foram retirados cerca de 30 milhões de metros
cúbicos de água e lama para aprofundar e alargar
os canais de navegação no Lago Gatún e no Corte
Culebra
A travessia é feita através de conjuntos de eclusas, que elevam e baixam os navios, e de um
enorme lago criado artificialmente. A expansão será feita quer do lado do Oceano Atlântico, quer
do Pacífico e terá dois novos canais que incluem um sistema inovador de reutilização da água e
que permite maior rapidez na abertura e fecho das comportas. As novas vias permitirão o tráfego
de navios de maiores dimensões.
Comporta de Pedro Miguel
Comporta de Gatún
Barragem de Gatún
Barragem
de Madden
Comporta de Miraflores
Cidade do Panamá
Lago Gatún
Rio Chagres
Corte Culebra
“Shortcut” Banana
Arraiján
Gamboa
Colón
Cativá
a
O Lago Gatún foi
criado pela construção
da barragem no rio
Chagres. Há 100 anos
eram considerados a
maior barragem e lago
artificial do mundo.
13.660 (em 2013)
24h58m
(inclui tempo de espera)
5% do comércio mundial
passa por aqui
Trânsito de navios Tempo do percurso Comércio
Entrada do Atlântico
Entrada do Pacífico
Dragagem de Gatún e do Corte Culebra
9391419140913091
Estavam previstos grandes festejos
para a abertura da gigantesca obra
de engenharia. Uma esquadra
internacional de navios de guerra
deveria sair de S. Francisco, na
Califórnia, e rumar pelo Pacífico até
um dos extremos do Canal do
Panamá, onde decorria uma grande
feira internacional. A construção
tinha terminado, após dez anos de
trabalhos, sem derrapagens de
tempo ou de orçamento, mas com
um custo de 5600 mortes,
provocadas por acidentes e doenças
tropicais.
Porém, o eclodir da I Guerra
Mundial levou a que a primeira
travessia oficial fosse um
acontecimento relativamente
discreto, protagonizado a 15 de
Agosto de 1914 pelo navio a vapor
americano SS Ancon, que até aí
funcionara como meio de transporte
de materiais de construção do canal.
Ao permitir uma passagem de navios
muito mais rápida entre o oceano
Atlântico e o Pacífico, o canal do
Panamá — sonhado já no século XVI
pelo rei Carlos I de Espanha e
tentado no século XIX pelos
franceses — transformou a economia
mundial, encurtando a distância
entre a Ásia e a Europa e entre as
duas costas dos EUA. Até aí, as
ligações marítimas entre os dois
oceanos tinham de ser feitas pelo
Cabo Horn, no extremo meridional
da América do Sul. A rota era não
apenas muito mais longa, mas
também significativamente mais
perigosa.
O canal foi controlado durante todo
o século XX pelos EUA, uma
situação que teve um impacto
crucial nos acontecimentos políticos
da região. Em 1989, numa rápida
intervenção militar, as forças
americanas depuseram o ditador
Manuel Noriega, no seguimento de
um escalar da tensão provocada
pela presença dos EUA na zona. Os
americanos colocaram na
presidência um político pró-EUA.
Actualmente, de acordo com a
agência estatal panamiana que gere
o canal, 5% das transacções
comerciais de todo o mundo passam
pelos cerca de 80 quilómetros de
travessia artificial ao longo do istmo
do Panamá. Em 2013, passaram no
canal 13.660 navios, a grande
maioria dos quais de navegação de
alto mar (cerca de 12% das
embarcações eram trânsito local),
um tráfego ligeiramente abaixo dos
dois anos anteriores, quebra que um
projecto de ampliação que está em
curso espera ajudar a inverter. O
impacto na economia local é
também gigantesco. No ano
passado, foram cobrados 1850
milhões de dólares em portagens e o
canal emprega cerca de dez mil
pessoas.
O declínio do tráfego nos anos
recentes acontece porque alguns
navios de maiores dimensões não
podem fazer a travessia, mas
também por quebras no comércio
provocadas pelo abrandamento da
economia global, explica a
Autoridade do Canal do Panamá, no
relatório anual de 2013, apontando a
crise financeira de alguns países da
zona euro.
Contrariamente à construção
original, a expansão sofreu
percalços orçamentais que, este
ano, ameaçaram atrasar
significativamente a obra. A
Autoridade do Canal do Panamá
acabou por chegar a acordo com
algumas das principais construtoras,
que exigiam 1600 milhões de
dólares por custos inesperados. O
custo do projecto deverá acabar por
rondar os sete mil milhões de
dólares.
Com a ampliação, que deverá estar
concluída no próximo ano, e que
permitirá o trânsito de navios
maiores, as travessias do Canal do
Panamá poderão representar 7% do
comércio mundial.
:saifargotoFsretueR,moc.stcaflanacamanap//:ptth;moc.amanapedlanacim//:ptth;moc.lanacnap.www;muesuMlanaCamanaPehT:setnoF Reuters, José Miguel Gomez, Andrew Winning, Alberto Lowe, mariana Bazo; AFP, HO, Orlando Sierra, Rodrigo Arangua
Novas eclusas
Novas eclusas
Oceano
Pacífico
Oceano
Atlântico
N
PÚBLICO,SÁB16AGO2014 | ECONOMIA | 15
A eclusa é esvaziada para que
o nivel da água fique igual em
ambos os lados da comporta
É aberta a primeira comporta e
o barco entra
Fecha-se a primeira comporta,
bombeia-se a água e o nível da
água e o barco sobem
Já ao mesmo nível, abre-se a
segunda comporta para que o
barco saia
Como funcionam as eclusas
Os futuros navios panamax
Dimensões máximas
de navegabilidade actuais
Já foram construídos navios que podem chegar a 18.000 TEU
Nova geração
Navios actuais
12 m 305 m
14 m 347 m
Bacias de poupança de água
O lago Gatún abastece o canal e serve de reservatório à capital. Durante as
chuvas a água acumulada é perdida para os oceanos, na abertura e fecho das
comportas. Na estação seca as reservas de água atingem níveis baixos. O novo
sistema minimiza o impacto destes factores mantendo níveis sustentáveis de
reserva de água doce
O tamanho das eclusas determina a largura e comprimento dos navios. Alguns
dos navios de maiores dimensões já têm de fazer a travessia durante o dia para
permitir um controlo preciso da posição. Em alguns pontos do canal, é impossível
o trânsito de dois navios de grandes dimensões a navegar em direcções opostas.
Permite encher as câmaras de inundação entre dez
a 17 minutos e reutilizar 60% da água necessária
para cada passagem
Câmara de
inundação
Bacias
Válvulas
A água é recuperada para as bacias pela força
da gravidade na passagem do navio seguinte
40% da água usada
vem do lago Gatún
através destes
canais
Passariam dois
comboios
8,3m
6,5m
5000 TEU*
13.000 TEU
São necessárias locomotivas para
manter os navios em posição correcta
durante a travessia
Rebocadores conduzem os navios pelos
canais de navegação
Confrontos entre
panamianos e
americanos levam à
morte de 21 habitantes
locais e de três soldados
dos EUA. O sentimento
antiamericano crescia e
no Panamá havia quem
defendesse que o
estatuto do canal devia
ser renegociado.
O Presidente dos EUA, Jimmy
Carter, e o general Omar
Torrijos, do Panamá, assinam
um tratado para que o canal
passe para controlo
panamiano a 31 de Dezembro
de 1999. O acordo implicava
que o canal se mantivesse
sempre neutral.
Começa o trânsito nocturno, graças
a um novo sistema de iluminação.
Os EUA invadem o
Panamá, depois de o
ditador militar Manuel
Noriega, que fora
durante anos um aliado,
ter declarado um estado
de guerra entre os dois
países. Os EUA
colocaram Guillermo
Endara no cargo de
presidente.
Como acordado duas décadas
antes, os EUA cedem o
controlo do Canal do Panamá.
Começam as obras
de ampliação do
canal, um projecto
com um orçamento
de 5250 milhões de
dólares, para
permitir a passagem
de navios de maior
dimensão, os
chamados
postpanamax.
700299919891779166914691
*TEU = Twenty-foot Equivalent Unit, unidade equivalente a um contentor de tamanho padrão
Com Rita Cabral
Novo complexo de eclusas
427m
30m
55m
+ 82 metros que as câmaras
existentes
Aumenta a capacidade e a flexibilidade das operações de fecho e abertura
do sistema e permite manutenção dos portões no local sem a necessidade
de removê-los
+ 30 metros
58 m
10 m
30 m
Maior portagem Custo de
construção
Custo da
expansão
Menor portagemSão necessáriosFuncionários Taxa de conclusão
41024191
281
milhões € milhões €
106.000€ 72,0seõhlim002 € 3930
Crown Princess
(cruzeiro)
de litros de água
para um navio
cruzar a via
Em 2013 das obras de
ampliação
Richard Halliburton
(a nado)
Peso médio: 3300 ton.
80 piscinas
olímpicas
≈10.098 76% em Junho,
Eclusas de Miraflores
Câmara de inundação
Comportas
Rebocador
Locomotiva

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  • 1. 14 | ECONOMIA | PÚBLICO,SÁB16AGO2014 10 km OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO Um século a ligar o mundo Em 1914, os EUA concretizaram um sonho antigo de unir o oceano Atlântico ao Pacífico, encurtando as distâncias e transformando as relações comerciais a nível mundial. Em 2015 deverá estar concluído um gigantesco projecto de alargamento do Canal do Panamá. João Pedro Pereira e Célia Rodrigues Cronologia A travessia de 82 quilómetros tornou a navegação entre os dois oceanos muito mais rápida Lago Miraflores Comporta de Miraflores Comporta de Gatún Comporta Pedro Miguel Corte Culebra (Gaillard cut) Lago Gatún 425 km2, 26m acima do nível médio do mar Oceano PacíficoOceano Atlântico Comprimento da travessia: 82 km O Panamá torna-se independente da Colômbia, com apoio norte-americano. O país vende aos EUA, a título perpétuo e mediante um pagamento anual, o direito de construir uma ligação entre o Atlântico e o Pacífico. Cerca de 20 anos antes, a França tentara o mesmo, mas desistiu após milhares de mortes devido a doenças tropicais. Os EUA começam a construir o canal, aproveitando o que os franceses já tinham feito. No final do ano, trabalhavam nas escavações cerca de 3500 homens. Nesta fase, o plano ainda era fazer uma passagem inteiramente ao nível do mar. Surgem os primeiros casos de febre amarela entre os trabalhadores, levando a que alguns se demitam. A 15 de Agosto, é feita a cerimónia inaugural do canal, com a travessia do navio americano SS Ancon. No entanto, o canal já estava a funcionar e a primeira travessia tinha sido feita em Janeiro, por uma embarcação francesa. A cerimónia foi circunspecta, dado estar em curso a I Guerra Mundial. Com receio de bombardeamentos japoneses durante a II Guerra Mundial, os EUA começam a construir um terceiro conjunto de eclusas (a estrutura responsável por elevar e descer os navios ao longo do canal), que não chegou a ser finalizado. O Panamá deixa de ser um protectorado americano. Alargada para um mínimo de 225 metros e aprofundada 15,5 metros. Retirou-se 8,7 milhões de metros cúbicos de material subaquático O alargamento do canal de navegação do Atlântico de 198 para 225 metros precisou da dragagem de uma área de 13,8 km de extensão. Com a construção do canal de acesso para as novas eclusas, a obra incluiu a dragagem e escavação seca de cerca de 17,9 milhões de metros cúbicos de material. Foram retirados cerca de 30 milhões de metros cúbicos de água e lama para aprofundar e alargar os canais de navegação no Lago Gatún e no Corte Culebra A travessia é feita através de conjuntos de eclusas, que elevam e baixam os navios, e de um enorme lago criado artificialmente. A expansão será feita quer do lado do Oceano Atlântico, quer do Pacífico e terá dois novos canais que incluem um sistema inovador de reutilização da água e que permite maior rapidez na abertura e fecho das comportas. As novas vias permitirão o tráfego de navios de maiores dimensões. Comporta de Pedro Miguel Comporta de Gatún Barragem de Gatún Barragem de Madden Comporta de Miraflores Cidade do Panamá Lago Gatún Rio Chagres Corte Culebra “Shortcut” Banana Arraiján Gamboa Colón Cativá a O Lago Gatún foi criado pela construção da barragem no rio Chagres. Há 100 anos eram considerados a maior barragem e lago artificial do mundo. 13.660 (em 2013) 24h58m (inclui tempo de espera) 5% do comércio mundial passa por aqui Trânsito de navios Tempo do percurso Comércio Entrada do Atlântico Entrada do Pacífico Dragagem de Gatún e do Corte Culebra 9391419140913091 Estavam previstos grandes festejos para a abertura da gigantesca obra de engenharia. Uma esquadra internacional de navios de guerra deveria sair de S. Francisco, na Califórnia, e rumar pelo Pacífico até um dos extremos do Canal do Panamá, onde decorria uma grande feira internacional. A construção tinha terminado, após dez anos de trabalhos, sem derrapagens de tempo ou de orçamento, mas com um custo de 5600 mortes, provocadas por acidentes e doenças tropicais. Porém, o eclodir da I Guerra Mundial levou a que a primeira travessia oficial fosse um acontecimento relativamente discreto, protagonizado a 15 de Agosto de 1914 pelo navio a vapor americano SS Ancon, que até aí funcionara como meio de transporte de materiais de construção do canal. Ao permitir uma passagem de navios muito mais rápida entre o oceano Atlântico e o Pacífico, o canal do Panamá — sonhado já no século XVI pelo rei Carlos I de Espanha e tentado no século XIX pelos franceses — transformou a economia mundial, encurtando a distância entre a Ásia e a Europa e entre as duas costas dos EUA. Até aí, as ligações marítimas entre os dois oceanos tinham de ser feitas pelo Cabo Horn, no extremo meridional da América do Sul. A rota era não apenas muito mais longa, mas também significativamente mais perigosa. O canal foi controlado durante todo o século XX pelos EUA, uma situação que teve um impacto crucial nos acontecimentos políticos da região. Em 1989, numa rápida intervenção militar, as forças americanas depuseram o ditador Manuel Noriega, no seguimento de um escalar da tensão provocada pela presença dos EUA na zona. Os americanos colocaram na presidência um político pró-EUA. Actualmente, de acordo com a agência estatal panamiana que gere o canal, 5% das transacções comerciais de todo o mundo passam pelos cerca de 80 quilómetros de travessia artificial ao longo do istmo do Panamá. Em 2013, passaram no canal 13.660 navios, a grande maioria dos quais de navegação de alto mar (cerca de 12% das embarcações eram trânsito local), um tráfego ligeiramente abaixo dos dois anos anteriores, quebra que um projecto de ampliação que está em curso espera ajudar a inverter. O impacto na economia local é também gigantesco. No ano passado, foram cobrados 1850 milhões de dólares em portagens e o canal emprega cerca de dez mil pessoas. O declínio do tráfego nos anos recentes acontece porque alguns navios de maiores dimensões não podem fazer a travessia, mas também por quebras no comércio provocadas pelo abrandamento da economia global, explica a Autoridade do Canal do Panamá, no relatório anual de 2013, apontando a crise financeira de alguns países da zona euro. Contrariamente à construção original, a expansão sofreu percalços orçamentais que, este ano, ameaçaram atrasar significativamente a obra. A Autoridade do Canal do Panamá acabou por chegar a acordo com algumas das principais construtoras, que exigiam 1600 milhões de dólares por custos inesperados. O custo do projecto deverá acabar por rondar os sete mil milhões de dólares. Com a ampliação, que deverá estar concluída no próximo ano, e que permitirá o trânsito de navios maiores, as travessias do Canal do Panamá poderão representar 7% do comércio mundial. :saifargotoFsretueR,moc.stcaflanacamanap//:ptth;moc.amanapedlanacim//:ptth;moc.lanacnap.www;muesuMlanaCamanaPehT:setnoF Reuters, José Miguel Gomez, Andrew Winning, Alberto Lowe, mariana Bazo; AFP, HO, Orlando Sierra, Rodrigo Arangua Novas eclusas Novas eclusas Oceano Pacífico Oceano Atlântico N PÚBLICO,SÁB16AGO2014 | ECONOMIA | 15 A eclusa é esvaziada para que o nivel da água fique igual em ambos os lados da comporta É aberta a primeira comporta e o barco entra Fecha-se a primeira comporta, bombeia-se a água e o nível da água e o barco sobem Já ao mesmo nível, abre-se a segunda comporta para que o barco saia Como funcionam as eclusas Os futuros navios panamax Dimensões máximas de navegabilidade actuais Já foram construídos navios que podem chegar a 18.000 TEU Nova geração Navios actuais 12 m 305 m 14 m 347 m Bacias de poupança de água O lago Gatún abastece o canal e serve de reservatório à capital. Durante as chuvas a água acumulada é perdida para os oceanos, na abertura e fecho das comportas. Na estação seca as reservas de água atingem níveis baixos. O novo sistema minimiza o impacto destes factores mantendo níveis sustentáveis de reserva de água doce O tamanho das eclusas determina a largura e comprimento dos navios. Alguns dos navios de maiores dimensões já têm de fazer a travessia durante o dia para permitir um controlo preciso da posição. Em alguns pontos do canal, é impossível o trânsito de dois navios de grandes dimensões a navegar em direcções opostas. 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Começa o trânsito nocturno, graças a um novo sistema de iluminação. Os EUA invadem o Panamá, depois de o ditador militar Manuel Noriega, que fora durante anos um aliado, ter declarado um estado de guerra entre os dois países. Os EUA colocaram Guillermo Endara no cargo de presidente. Como acordado duas décadas antes, os EUA cedem o controlo do Canal do Panamá. Começam as obras de ampliação do canal, um projecto com um orçamento de 5250 milhões de dólares, para permitir a passagem de navios de maior dimensão, os chamados postpanamax. 700299919891779166914691 *TEU = Twenty-foot Equivalent Unit, unidade equivalente a um contentor de tamanho padrão Com Rita Cabral Novo complexo de eclusas 427m 30m 55m + 82 metros que as câmaras existentes Aumenta a capacidade e a flexibilidade das operações de fecho e abertura do sistema e permite manutenção dos portões no local sem a necessidade de removê-los + 30 metros 58 m 10 m 30 m Maior portagem Custo de construção Custo da expansão Menor portagemSão necessáriosFuncionários Taxa de conclusão 41024191 281 milhões € milhões € 106.000€ 72,0seõhlim002 € 3930 Crown Princess (cruzeiro) de litros de água para um navio cruzar a via Em 2013 das obras de ampliação Richard Halliburton (a nado) Peso médio: 3300 ton. 80 piscinas olímpicas ≈10.098 76% em Junho, Eclusas de Miraflores Câmara de inundação Comportas Rebocador Locomotiva