Um rio chega ao deserto e tenta atravessá-lo, mas sua água desaparece na areia. As areias sussurram que o rio deve permitir-se ser levado pelo vento ao invés de lutar contra a areia. A princípio o rio recusa a sugestão, mas acaba percebendo que é levado pelo vento em forma de vapor e cai como chuva em outra região, formando um rio novamente.
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A lenda das areias
1. Vindo desde as suas origens, em distantes montanhas, passando por inúmeros
acidentes de terreno nas regiões campestres, um rio, finalmente, alcançou as
areias do deserto. E do mesmo modo como vencera as outras barreiras, o rio
tentou atravessar esta de agora, mas se deu conta que suas águas mal tocavam a
areia, nela desapareciam.
Estava convicto, no entanto, de que fazia parte do seu destino cruzar aquele
deserto. Embora não visse como fazê-lo. Então, uma voz misteriosa, saida do
deserto arenoso, sussurrou: o rio cruza o deserto, o mesmo pode fazer o rio.
O rio objetou estar se arremessando contra as areias, sendo assim absorvido.
Equanto o vento podia voar, conseguindo desta maneira fazer a travessia.
As areias disseram: arrojando-se com violência como vem fazendo não conseguirá
cruzá-lo. Assim desaparecerá ou se transformará num pântano. Deve permitir em
ser absorvido pelo vento e conduzido ao seu destino.
Tal sugestão não era aceitável para o rio. Afinal de contas, nunca fora
absorvido. Não queria perder a sua individualidade. Como poderia recuperar mais
tarde?
O vento desempenha esta função: eleva a água, a conduz sobre o deserto e depois,
caindo em forma de chuva, a água novamente se converte num rio.
O rio recusava-se a acreditar nas areias.
Pois assim é, e se não acredita, não se tornará outra coisa senão um pântano. E
um pântano não é, certamente, a mesma coisa que um rio. Você não pode, em
hipotese alguma, continuar assim. Sua parte essencial será transportada e
formará novamente um rio. Você é chamado assim, ainda hoje, pode não saber qual
a sua parte essencial.
Ao ouvir tais palavras, certos ecos começaram a ressoar nos pensamentos mais
profundos do rio. Recordou, vagamente, um estágio em que ele, ou uma parte dele,
não sabia qual, fora transportada nos braços do vento, e que isso era uma coisa
muito natural.
O rio elevou, então, seus vapores nos acolhedores braços do vento, que o
conduziu para o alto e para bem longe, deixando-o cair suavemente tão logo tinha
alcançado o topo de uma motannha, milhas e milhas mais distante. E porque tivera
suas dúvidas, o rio pode recordar e gravar com firmeza os detalhes daquela
experiencia, e reconheceu a sua verdadeira identidade.
Então, as areias sussurraram: nós temos o conhecimento porque vemos essa
operação ocorrer dias após dia, e porque nós, as areias, nos estendemos por todo
o caminho que vai desde as margens do rio até a montanha.
E é por isso que se diz que o caminnho pelo qual o rio da vida tem que seguir em
sua travessia está escrito nas areias.