O documento discute a situação econômica do Uruguai, que luta para se modernizar apesar de ter uma economia historicamente baseada na agricultura. A falta de industrialização é um obstáculo importante, e o país tenta atrair investimentos de empresas como papeleiras para tentar reverter o alto desemprego. O documento também apresenta o caso de uma família sem-teto que luta para sobreviver nas ruas de Montevidéu.
1. | 20 | ZERO HORA > DOMINGO | 27 | MAIO | 2007
Economia >
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Vírus ameaçam
celulares modernos
Página 24
Consumidor gaúcho muda uma das
maiores redes de varejo do Brasil
Páginas 26 e 27
Editora executiva: Maria Isabel Hammes > 3218-4701. Editora: Christianne Schmitt > 3218-4702. Coordenador de produção: Thiago Copetti > 3218-4306
SEBASTIÃO RIBEIRO
Diante da estátua e do mausoléu do General Artigas, em Montevidéu, no Uruguai, Grisel e os filhos lutam para sobreviver, pois passaram a fazer parte de um contingente que cresceu no país: os pobres
Por um lugar
mista Gabriela Mordecki, da Univer-
sidad de la República.
Em 2002, todo o país sofreu um
baque. O corralito – confisco de con-
tas na Argentina – fez com que os
ao sol
argentinos retirassem seus depósitos
do Uruguai. O efeito foi uma quebra
Encravado entre o Brasil e a Ar- no sistema financeiro que afetou to-
gentina e com população e Produ- da a população. Somente em 2005, o
to Interno Bruto (PIB) menores do país se recuperou do prejuízo.
que os do Rio Grande do Sul, o No mesmo ano, elegeu o socialis-
Uruguai luta para conquistar seu ta Tabaré Vázquez como presidente.
espaço no mapa de investimentos Da mesma maneira que Luiz Inácio
internacionais. Neste domingo e Lula da Silva no Brasil, Tabaré evi-
na segunda-feira, Zero Hora mos- tou radicalizações. Conteve gastos
tra um Uruguai que se tornou públicos e manteve o país aberto a
um país envelhecido e agora investimentos estrangeiros.
tenta se modernizar. – Hoje, tem muita gente que vo-
uruguaio e professor de economia – Queres conversar sobre quê? So- único objetivo no momento é conse- tou no Tabaré decepcionada. Mas a
Enviado especial/Montevidéu da Universidade Federal do Rio bre Deus? – pergunta a moça. guir R$ 62 para pagar a dívida com a conjuntura econômica é adversa.
SEBASTIÃO RIBEIRO Grande do Sul. – Eu não acredito em Deus. Se Ele pensão. Enquanto não consegue, vi- Uma das iniciativas para tentar re-
A agropecuária representa 11,9% existisse, não estaríamos na rua – ra-se como pode. Em uma sacola, le- verter isso são os investimentos das
Um passeio pelos da atividade econômica. A indús- acrescenta o menino mais velho. va pão, geléia e pizzas – sobras de um papeleiras – comenta o economista
supermercados de tria, 18,9%, mas grande parte dela café da manhã de um hotel. Alfredo Meneghetti, professor da
Montevidéu identifi- apenas processa os produtos primá- Vale mais a pena pedir – Não tenho como trabalhar ten- Pontifícia Universidade Católica do
ca um dos principais rios, como leite e carne. Dos 10 dinheiro do que ser faxineira do quatro filhos para criar. Como fa- Rio Grande do Sul.
entraves para o futuro maiores setores exportadores do xineira, ganharia 30 pesos (R$ 2,72) As papeleiras são as duas empre-
do Uruguai: a falta da industrializa- Uruguai, oito são do agronegócio, A mulher é Grisel Peres, 33 anos. por hora. Não paga a diária da pen- sas de celulose que estão se insta-
ção. Nas embalagens, não só de sendo que as exportações de carne O garoto ateu é Brian, 14 anos, filho são (o equivalente a R$ 15) e a comi- lando no Uruguai. Juntas, a finlan-
produtos eletrônicos mais sofistica- bovina respondem por 20% de to- dela. Com eles, está o irmão menor, da. Na rua, ganho mais – diz. desa Botnia e a espanhola Ence de-
dos, mas também de alimentos e das as vendas externas do país. O Lucas, três anos. Outros dois filhos Quando a produção primária teve vem investir US$ 1,8 bilhão – mais
até da erva-mate – da qual o uru- efeito disso é uma taxa de desem- estão na escola, que freqüentam papel central na economia mundial, de 10% do PIB no país.
guaio típico não abre mão –, predo- prego de 11,6% no ano passado. mesmo sem ter um lar. Há quatro o Uruguai viveu tempos áureos. Na A planta da Botnia já começou a
minam as inscrições: “indústria Hoje, é difícil atravessar a Praça dias a família estava na rua. Foram 2ª Guerra Mundial, por exemplo, fa- operar em fase de testes na locali-
brasileira” ou “indústria argentina”. Independência – onde fica a estátua despejados da pensão onde mora- turou muito exportando conservas dade de Fray Bentos. A Ence iria
– Essa falta de dinamismo se de- e o mausoléu do General Artigas, vam por falta de pagamento. de carne e lã. A indústria têxtil uru- para o mesmo local, mas cedeu à
ve à base excessivamente agrícola herói uruguaio – sem ser interrom- Grisel mantém uma aparência dig- guaia era uma das mais fortes do pressão dos argentinos, que protes-
da economia uruguaia. Nunca se pido por algum mendigo. Ao ser na – “ontem, estava frio, mas me ba- mundo. Mas a ascensão dos sintéti- tam contra as papeleiras na locali-
conseguiu implantar uma indús- questionada, uma pedinte acompa- nhei na fonte da praça, usei até xam- cos e a concorrência chinesa fizeram dade vizinha, e define um novo lu-
tria forte – testemunha Juan Pla, nhada de duas crianças, reage. pu”, conta, alisando os cabelos. Seu o setor perder força, relata a econo- gar para investir.