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BIOMEDIOLOGY OF THE SUBLIMINAL SOUND IN THE MEDIA:
AN ETHICAL APPROACH
- FLÁVIO MÁRIO DE ALCÂNTARA CALAZANS
http:www.calazans.ppg.br
PHILOSOPHY DOCTOR IN COMMUNICATION SCIENCES (ECA-USP-BRAZIL).
Professor LIVRE-DOCENTE in UNESP.
Address: Clay Presgrave do Amaral, 13, ZIP 11055-370, Santos, SP, Brazil
Telephone: +55 (13) 3284-3754
E-mail: calazans@bignet.com.br
&
-SARA MELISSA MÜLLER
saramuller@click21.com.br
Bachelor degree in Social Communication - FURB, Blumenau, SC, Brazil Specialization in New
Medias, Radio and TV - FURB, Blumenau, SC, Brazil, 1996-2000.
Professor at UNOESC, SC, Brazil.
Address: Alberto Müller Street #87, Formosa Village, ZIP 89023-040, Blumenau, SC, Brazil
Telephone: +55 (47) 322-0387 / + 55 (11) 3742-1101 / Fax: +55 (47) 336-0680
E-mail: saramuller@click21.com.br
ABSTRACT
The Biomediology analyzes the ethical application of subliminal sonic technology in the
background music (periferical audition) manipulating fisiologically the emotions, from ancient
China and India, to the Medium Age prohibiting the interval trítono (Diabolos) and even
sonoplastic processors as the Mark VI reducing thefts in supermarkets, advertising jingles and
telejournalist news, this use is against the brazilian Advertising Ethical Code (article22) and
brazilian Consumer Defense Code (article 36), being, therefore, anti-ethical.
KEY-WORDS
Biomediology, Ethics, Subliminal Sounds, Jingles.
1. INTRODUÇÃO
Objetiva-se efetuar um levantamento das tecnologias sonoras empregadas pelos meios e
comunicação auditiva em suas técnicas de ocultação ou dissimulação de estímulos com
intencionalidade de obter resultados fisiológicos inconscientes/subliminares no receptor/ouvinte.
Aplicando os conceitos da Biomidiologia, pode-se investigar a existência ou não de signagem
subliminar sonora com o objetivo de manipulação emocional do ouvinte, seja em cinema, comerciais
de televisão ou Jingles publicitários.
A metodologia empregada será Hipotética-Dedutiva, em conformidade com o "Modus Tolens" de
Popper, buscando falsear a hipótese de tipologia intuitiva proposta da "inexistência de toda e qualquer
signagem subliminar sonora no decorrer do Século XX", falseada por meio da coleta, identificação e
análise de espécimes midiáticos oriundos da Videosfera (Mídia Eletrônica), aplicado ao estudo de
casos em uma pesquisa exploratória com coleta de peças publicitárias e com apoio de base
bibliográfica.
A fase segunda será a avaliação ética e deontológica de tais recursos.
2. BIOMIDIOLOGIA DO SOM SUBLIMINAR NA PROPAGANDA.
“Há sons no silencio, dando ordens, sugestionando, manipulando” (CALAZANS, 1992, p. 54).
“Não faça aos outros o que não queres que façam a ti” (Bíblia. Mateus, 7:12).
Os efeitos da música tem sido registrados em diversas culturas; na antiga China o LIKI (livro
cerimonial de protocolo e etiqueta) já discorre sobre harmonia e dissonância na musica ambiente e as
relações entre os convidados; e o LIVRO DA MÚSICA escrito no período de Wou Li (147-178 Antes
de Cristo) há estudos sobre notas musicais (escala pentatônica) e efeitos políticos, sociais e
psicológicos, no entendimento chinês, a música tem efeitos despercebidos nas pessoas, daí a
importância da música gerando um ambiente.
Os indianos consideravam dois aspectos musicais: MARGA (leis permanentes, arquétipos do
inconsciente coletivo, wolksgeist) e DESHI (modismos que variam, estreótipos, zeitgeist), e registram
efeitos da música como energia ou vibração influenciando o crescimento das plantas e o temperamento
de animais (mais tarde um tratado de cura pela música dos Persas afirmaria que “a música acalma as
feras”, e tal axioma corre depois por todo o mundo greco-romano)
Autores como o filósofo grego Pitágoras também descreveram o poder do som e seus efeitos
sobre a psique humana.
Os gritos de guerra (SLUARG GAURM –SLOGAN) refletem um arquétipo musical, proferido
em um intervalo que corresponde a uma quarta aumentada (Dó, Fá sustenido) um intervalo que geraria
medo no inimigo, os chineses denominam tal intervalo como JWEI-PIN , os hindus o empregavam em
rituais noturnos, e os ocidentais reconhecem que tal intervalo tem um aspecto angustiante, inquietante
e desagradável.
Este intervalo chegou a ser proibido pelos musicistas religiosos católicos, denominado
DIABOLUS IN MUSICA , foi empregado por Berlioz na SINFONIA FANTÁSTICA e por Wagner
nos momentos mágicos de suas óperas com simbolismos maçônicos.
Este intervalo de três tons, o TRÍTONO, como entre fá e si, em efeito inverso ao da oitava,
enquanto a oitava é estável, o trítono é instável, baseado na relação 32 / 45 pulsos melódicos (Wisnik,
1999, p. 82, 83) e tal corte separa, divide, desune, di-solve, o solve da alquimia, a função do
diabolus...por tal efeito psíquico o trítono é proibido no canto gregoriano como o símbolo da
dissonância, do desacordo, da discordância e rebelião, sendo censurado, calado, evitado, omitido,
esquecido a força, negado, reprimido, ausente - in absentia.
Tal preocupação evidencia a consciência e o cuidado com o poder e os efeitos subliminares da
música no corpo (biológico) e na mente (psicológico) humana.
Bio em grego significa VIDA (como em Biologia) e MIDIOLOGIA é uma Teoria criado por
Régis Debray em 1993-Paris, como releitura atualizada das teorias do pesquisador canadense
MacLuhan sobre as tecnologias da comunicação.
A BIOMIDIOLOGIA pode ser definida como um ramo de pesquisa derivado da Midiologia o
qual estuda as relações Biossemióticas entre signos veiculados pela midiosfera, mídia eletrônica
(Videosfera-Televisão, Internet, etc.) os quais afetam direta ou indiretamente formas de vida biológica
quer seja em sua fisiologia ou comportamento.
Didaticamente, a Biomidiologia, pode ser comparada, apenas em termos alegóricos de analogia
cognitiva, a quando uniram a Engenharia Eletrônica e a Engenharia Mecânica criando a
MECATRÔNICA, que é a base da Robótica, Biônica e Automação Industrial; ou como quando
uniram a Química e a Biologia criando a BIOQUÍMICA, e a Biologia e a Física criando a
BIOFÍSICA; a Biomidiologia contribuirá para a compreensão dos fenômenos da Comunicação de
Massas em sua esfera de eficácia biológica.
Desde o Século XVIII os Professores Doutores do Leste Europeu praticam a divisão do
conhecimento em duas grandes áreas:
-Ciências da Natureza (Naturwissensaften) cujos métodos são EXPLICATIVOS (Erklarung),
como a Física, Biologia e BIOFÍSICA (vida influenciada pelas forças da natureza, do ambiente,
ecossistema, vida reagindo a estímulos de ondas de luz-óptica, ou ondas sonoras-acústica).
-Ciências do Espírito (Gemienenwissensaften) cujos métodos são da COMPREENSÃO
(Verstehen); a interpretação (Hermenêutica) dos signos (Semiótica) culturais, psico-antropológicos, a
linguagem da Arte e Mídia-Comunicação (Midiologia).
A BIOMIDIOLOGIA surge como uma das disciplinas cuja proposta é o cruzamento heurístico
entre ambos os paradigmas: Naturwissensaften (BIO) e Gemienenwissensaften (MIDIOLOGIA).
A Biomidiologia permite compreender, por exemplo, como o desenho animado Pokémon
causou "epilepsia televisiva" e internou em hospitais centenas de telespectadores inocentes com um
pisca-pisca de luzes subliminares ativando a glândula Pineal e liberando a Melatonina que realiza
a síntese do neurotransmissor Serotonina, quebrando cadeias de alcalóides do sangue,
possibilitando evitar, deste modo, novas agressões midiáticas à Saúde Pública.
O médico e músico Wilson Luiz Sanvito (1992, p. 4) condena os vários estudos
sobre a capacidade da música em influenciar o cérebro, o corpo físico e as emoções. Para ele, a música
afeta fisicamente por possuir um ritmo (pulsações) e um tempo (compasso), como as funções
biológicas. O cérebro parece analisar os estímulos sonoros através de padrões de referência tendo
como modelo freqüências harmônicas, no caso da música. Por experiências realizadas com anestesia
dos hemisférios cerebrais, ficou demonstrado que, enquanto o hemisfério direito controla os sons sem
conteúdos lingüísticos, a altura do som e a identificação dos acordes musicais, o lado esquerdo
controla o ritmo musical. Este fato contradiz o que se acreditava até há pouco tempo, que os sons
musicais fossem inteiramente controlados pelo hemisfério não dominante para a linguagem,
geralmente o direito. Sanvito (1992, p. 4) “Se uma música de determinada freqüência, ritmo e
tonalidade influência os ritmos elétricos do cérebro provocando relaxamento (ondas alfa) ou
sonolência (ondas delta), outro tipo de música pode provocar hiperexcitabilidade do cérebro
traduzida por alerta, excitação dos nervos e mesmo um ataque epilético.” (SANVITO,
1992, p. 4).
Ainda de acordo com o autor, os sons seguem dois caminhos para chegar ao cérebro: Um chega
ao centro auditivo do cérebro no 1º lobo temporal, onde são captados e interpretados. Este mesmo lobo
cerebral alberga boa parte do sistema límbico, que lida com as emoções, principalmente ao lado direito
do cérebro, e participa na memorização dos eventos no dia a dia.
A outra vertente conecta-se com o cérebro vegetativo, que controla funções com a
respiração, circulação, digestão, hormonal e outras.
No caso da freqüência que é o número de ciclos por segundo de um determinado som,
sabemos que as vibrações rápidas provocam tensão nervosa enquanto as lentas tendem a relaxar.
Já com a intensidade, que se relaciona à amplitude das vibrações, observa-se que a música alta
pode levar ao arrebatamento e chega a ser opressiva. A música suave, além de
intimista, produz serenidade. (SANVITO, 1992, p. 4).
A música, sendo uma forma de expressão e comunicação não-verbal, ao ser canalizada para o
cérebro estimula a imaginação, a fantasia evoca recordações, enfim dispara gatilhos emocionais. E
Manfred Clynes, que é músico e doutor em neurologia/engenharia pela Universidade de Melbourne,
citado por Sanvito (1992, p. 4), postula que: “[...] as emoções existem por si mesmas como padrões
potenciais do sistema nervoso e podem ser desencadeadas pela música, independentemente de
associações específicas com pessoas ou eventos. Isto significa que certas passagens musicais, de
acordo com sua forma ou estrutura, podem gerar respostas tais como alegria, amor ou reverência”.
Esta padronização é capaz de descrever certos estados afetivo-emocionais caracterizados pelas
músicas na TV:
Terror, medo, pânico: notas graves e com instrumentos que produzam registros graves (trombones,
contrabaixo, saxofone e instrumentos de percussão);
Tristeza: som de oboés, flautas, violinos ou clarinetes, que emitem movimentos lentos e tempos
longos;
Alegria: músicas 'brilhantes', de júbilo, às vezes com movimentos rápidos;
Raiva: escalas musicais rápidas, sons fortes, graves ou agudos e com ocorrências surpreendedoras;
Momentos românticos: similares às da tristeza;
Violência: movimentos rápidos, de caráter forte e sonoridade 'brilhante', similares à raiva;
Suspense: instrumentos de registro baixo ou com notas agudas intermitentes. (SALINAS apud
BATAN, 1992, p. 31).
O maior ou menor número de vibrações por segundo determinam a altura de um
som; estas vibrações por segundo são chamadas hertz.
O ouvido humano tem capacidade de perceber conscientemente freqüências que variam entre
20 e 20.000 hertz.
Para Salinas (1994), as vozes graves possuem um ar de respeito e poder superior ao das vozes
agudas. O tom grave, e na grande maioria das vezes uma voz masculina, das narrações esportivas, de
documentários, de apresentadores de noticias, de comerciais, etc.. Os súbitos impulsos sonoros, de
durações curtas, geram surpresa e chamam a atenção; as ocorrências longas e contínuas são colocadas
rapidamente pelo cérebro na audição periférica e subliminar. A duração dos sons está ligada também à
velocidade, isto é, quanto mais curto, maior a sensação de rapidez, quanto mais longa, mais lenta.
Nos audiovisuais, as falas com durações fonéticas curtas denunciam temperamentos ou estados
de animo: agitação, ação, tensão, perturbação, etc. Falas lentas e pausadas em durações longas
simbolizam tranqüilidade, sabedoria, racionalidade, controle, preguiça. Na música, cada nota tem uma
duração específica ao ponto que na escritura musical os símbolos de representação estão codificados
de acordo com o tempo de execução da nota: uma semibreve corresponde ao tempo mais longo, e uma
semifusa corresponde ao tempo mais curto. O silêncio, por sua vez, que representa a ausência de
alturas, ganha valores significativos em suas durações. As pausas silenciosas podem trazer as
sensações de medo, dúvida, espera e angústia, por exemplo. .
Um som com amplitude constante gera um grau de tensão suspenso na dúvida de se vai
terminar, diminuir ou aumentar.
Muito ao contrário de outros órgãos dos sentidos, os ouvidos são expostos e vulneráveis. Pode-
se fechar os olhos se desejar, mas os ouvidos estão sempre devassáveis aos estímulos sonoros, posto
que encontram-se sempre abertos. Os olhos podem focalizar e apontar uma vontade, enquanto os
ouvidos captam todos os sons do horizonte, em todas as direções.
A audição é pura recepção. O ato de ouvir limita-se a receber um sinal sonoro e determinar a
ele um sentido. Ouvir é um estado passivo e de contemplação.
Para Salinas (1994), há duas formas de audição, a saber, a audição focalizada e a audição
periférica, classificação que por si só já revela a dimensão da capacidade seletiva do processo auditivo.
O som dos comerciais está constantemente pulsando a atenção auditiva, brincando com as relações de
figura e fundo (Gestalt). O som da publicidade joga o nebuloso espaço entre a razão e a emoção, entre
aquilo que é ouvido atentamente (focalizado) e aquilo que é ouvido distraidamente (periférico).
Em uma propaganda para a televisão tomando como exemplo, o receptor percebe antes a
imagem, e o áudio neste contexto seria classificado como "música de fundo" pois há muitas
informações sendo transmitidas em um pequeno espaço de tempo. Esses elementos que ficam em
segundo plano seriam um fundo subliminar. Segundo o Princípio Poetzle, todos os sons que não são
percebidos conscientemente atuariam de forma subliminar, recebemos múltiplas mensagens, e nossa
atenção seletiva filtra e focaliza um único canal sensório, deixando todo o resto como subliminar. Tais
informações entram "de contrabando" e se depositam na memória subliminar ou subconsciente. Os
pensamentos e idéias não-iluminados, esquecidos, não deixam de existir: encontram-se em estado
latente, adormecidos num estado subliminar, além do limite da atenção consciente ou da memória, o
que não impede que a qualquer momento possam surgir.
Brown (1976 apud CALAZANS, 1992) afirma que, em 1910, H. Ohms demonstrou
cientificamente o efeito subliminar de palavras reduzidas a sons inaudíveis. O psicogalvanômetro é um
instrumento que mede mudanças fisiológicas causadas por reações emocionais. Conhecido
popularmente como "detector de mentiras", pode demonstrar que uma pessoa tem relações emocionais,
físicas a palavras ou sons que não ouviu conscientemente.
Key (1977), no livro Media Sexploitation, descreve diversos subliminares sonoros, inclusive
explica a decupagem dos efeitos sincronizados na mixagem ou edição do filme O exorcista. Segundo o
autor, o reforço que o som causa na imagem é a causa do sucesso deste filme de terror, pois foi
realizado com sofisticada engenharia de som subliminar, conquistando Oscar de melhor trilha sonora
pela inovação. Friedkin, o responsável, explica que aplicou diversos tipos de subliminar no fundo
sonoro, por exemplo:
1. Som do enxame de abelhas furiosas, zunindo em dezesseis freqüências diferentes mixadas - o
consciente as ouve como um único som. Seres humanos reagem com medo e ansiedade ao som das
abelhas, mesmo se nunca ouviram tal som desperta o desejo de fugir, esconder-se, e o medo de sofrer
dores. Friedkin explica que, segundo Jung, tal som seria um arquétipo. Este som foi plantado na edição
em ondas crescentes antes das cenas de maior tensão e suspense.
2. Som dos gritos de porcos sendo degolados. A menina Reagan ao ser possuída pelo demônio vai
sendo maquiada gradualmente a cada cena para parecer-se com um porco, enquanto 'ouve-se'
subliminarmente estes guinchos angustiantes. Gemidos de casais no momento do orgasmo: nas cenas
de exorcismo, com a moça e o padre a sós, foi inserido fundo subliminar reproduzindo clímax
orgásmico. Key em entrevista realizada, afirma que 50% das mulheres abordadas confirmaram sua
excitação sexual com a cena em apreço.
3. Som no silêncio. As pausas silenciosas do filme eram silêncio eletrônico, com fundo de baixa
freqüência inaudível zumbindo. Estes silêncios formam uma série de platôs que gradualmente
aumentam em volume e diminuem de intervalo de tempo de aparição antes dos momentos de clímax.
Os silêncios são empregados para produzir tensão emocional, tornando-se mais e mais
freqüentes e pesados num fluxo de tensão-clímax-relaxamento-tensão.
4. Dublagem. A voz de Reagan vai sendo cuidadosamente sintetizada e mixada até ser totalmente
dublada pela voz de Mercedes McCambridge, atriz com uma voz profunda e sensual. Key demonstra
diversas técnicas empregadas pela engenharia de som subliminar. Ora, sons de abelhas prestam-se a
anúncios de seguros de vida, planos de saúde e tudo o que envolva o cérebro réptil, as
motivações de Maslow relativas a segurança. Já a cena dos porcos guinchando e a maquiagem da atriz
é uma demonstração da intersemiose subliminar som-imagem. Na cena sadomasoquista do exorcismo
os gemidos de orgasmos mostram o poder dos estímulos sexuais subliminares. (KEY apud
CALAZANS, 1992, p. 51-52).
Segundo o exemplo em Calazans (1992) no Brasil, em 1989, Zé Rodrix realizou um jingle para
o Chevrolet da General Motors, cujo ritmo era de 80 ciclos por minuto. Segundo Zé Rodrix, o ritmo do
coração de uma mãe amamentando o filho, ouvido pelo recém-nascido, é um som que o bebê sempre
vai associar a conforto, tranqüilidade, segurança e prazer, Essas sensações o jingle queria associar
subliminarmente ao carro.
Rodrix afirma que se baseou em pesquisas do grupo Pink Floyd que apontaram o ritmo de 80
ciclos como o de maior efeito subliminar sobre o auditório - cobaias involuntárias destas tecnologias
experimentais em seus shows.
Um dos produtos à venda é o "Mark VI - audio subliminal processor", um equipamento
eletrônico que ajusta o som para um volume subliminar abaixo de 20 ciclos por segundo, mixado à
música de fundo que toca em supermercados e lojas de departamentos. A voz de fundo fica repetindo
todo o tempo a frase "sou honesto, não roubo", o que já reduziu em 30% o índice de furtos em 81
supermercados de quatro estados dos Estados Unidos. (CALAZANS, 1992, p. 54).
Becker vendeu seu áudio-processador para doutrinação subliminar anti-roubo em
supermercados e lojas de departamentos. O dispositivo reduziu em cerca de quarenta por cento o
roubo numa grande cadeia de supermercados, que também pôde perceber uma redução de sessenta por
cento na rotatividade anual de mão-de-obra. O doutor Becker conseguiu reduzir as reclamações dos
funcionários via doutrinação subliminar. Seu programa anti-roubo reduziu significativamente as
prisões dentro das lojas. Após oito meses, o gerente de uma loja relatou uma completa reviravolta na
diferença nas caixas registradoras, na rotatividade de mão-de-obra e nas atitudes negativas dos
funcionários, além de ter conseguido reduzir em cinqüenta por cento o pessoal encarregado do
estoque, mantendo o mesmo nível e eficiência. A diferença nas caixas caiu de uma média de cento e
vinte e cinco dólares por semana para menos de dez dólares. As reclamações de fregueses contra os
caixas virtualmente desapareceram. As mercadorias danificadas pelos encarregados de estoque
diminuíram um terço. Os furtos caíram de cinqüenta mil dólares a cada seis meses para menos de treze
mil dólares. Em outra cadeia de supermercados, a rotatividade da mão-de-obra caiu pela metade em
onze meses.
Becker demonstra preocupação com a ética da persuasão subliminar. Mas há um paradoxo
envolvido. Se a pessoa é avisada que será submetida a informação subliminar, a eficácia é reduzida. Se
ela não é avisada, seus direitos constitucionais legais e éticos podem estar sendo violados (GOODKIN
e PHILLIPS apud KEY, 1996, p. 49).
Outro empreendedor que desenvolveu dispositivos de modificação de comportamento é o
presidente da Proactive Systems de Portland (Oregon), David Tyler. As fitas subliminares de Tyler
ajustam os níveis de som em baixo volume às modificações no volume do som ambiente. A Proactive
Systems Inc. está envolvida principalmente com a prevenção a roubos. Tyler considera-se um
benfeitor da sociedade, evitando que os consumidores sejam presos por roubo a lojas, que os
empregados sejam pegos furtando e, conseqüentemente, demitidos e que os donos de lojas percam
para os ladrões cinco cents de cada dólar vendido. Tyler chega a antever preços mais baixos depois
que a doutrinação subliminar tornar todas as pessoas honestas, um objetivo válido, mas improvável.
ETHOS significa em grego SER, o lugar onde se é, se está, onde se habita, reside, a morada do
homem, daí:
Ethos- Ética; o ser, o ideal , metafísico, teórico e geral-ontologia.
Mores- Moral; os costumes (consuetas-consuetudinário), a prática , individual ou de grupo,
datada no tempo e espaço geográfico (mos, moris, moral e morada-um estar sempre, continuidade,
habito, habitar, habitat), para Hegel-moralidade (sittlichkeit). Esta divisão de ética e moral acima
inicia-se com pós kantianos como Schelling.
Aristóteles diz no livro “Ética a Nicomaco” que o homem é um animal político ,
etimologicamente, a palavra polis origina-se em “pelein”, vicejar e brotar, florescer, cultivar uma
amizade, cultivar um relacionamento, cultivar a cultura de uma comunidade, permanecer, residir
(plantar, regar, esperar florescer e colher o cultivado em uma continuidade); morar é habitar e
continuar, desenvolver o habitat, ter hábitos constantes, costumes que desenvolvem uma cultura de
urbanidade, a cidade estado, e viver em paz colaborando com os outros, o com-viver, cooperar, o amor
de que fala o biólogo chileno Maturana.
Bérgson considerava que tudo surge da “DURÉE”, da duração, desta continuidade e
relacionamento, o homem animal político realiza-se e constrói-se (autopoiesis de maturana) na
convivência social.
Deste modo, ser ético é ser permanente, coerente, habitar e morar, a continuidade dos atos cria a
reputação ética inserida em um continuum de registros históricos dos antecedentes passados os quais
fazem antever e prever os atos.
Desta etimologia, percebe-se que o conceito de Ética abrange comportamentos humanos
contínuos e relacionais com outros homens e com a morada do homem, como habitualmente age,
costumes –hábitos (mores) e o habitat – morada como meio, o ambiente.
Heidegger denomina esta constante DASEIN, um Ser-aí, presença no mundo, afetando e sendo
afetado pela circunstância, tal ser-aí influenciando e sendo afetuosamente influenciado teria cuidado
com os que o cercam, solícito, solidário, cuidadoso, previdente e carinhoso (o amor que fala Maturana
como base do convívio e cooperação entre todos para adaptar-se e sobreviver enquanto espécie,
preservando o ambiente), este cuidado com o outro é CURA em latim e SORGE em alemão, e visa a
uma continuidade de colaborações e cooperação (na morada –habitat), a um projeto futuro, longínquo
e distante no horizonte ético.
Horizonte Ético é uma referência ou modelo ideal futuro, distante, à frente na linha do horizonte,
algo que se deseja ser enquanto indivíduo e comunidade, teleologia .
Um horizonte estreito e restrito é um projeto de vida singular, como o egoísta, cujo projeto de
vida é sua própria felicidade, conforto e bem estar pessoal, seus atos passador, presentes e futuros
dirigem-se para construir sua felicidade pessoal e individual, desconsidera a comunidade, o meio
ambiente, o outro, tudo está em segundo plano e é descartável, pessoas são vistas como objetos a
serem usados para seus fins utilitaristas, competitivo, como explica Maturana, é nocivo e destrutivo,
seu paradigma de comportamento é anti-social e autofágico, a longo prazo é suicida, pois se propagar
esta postura e for imitado, toda a comunidade implode no que Hobbes denominava “a guerra de todos
contra todos”, o egoísta e oportunista vive a curto prazo, seu projeto de vida coleciona antecedentes de
traições e destruição de relacionamentos, evidenciando não ser merecedor de confiança e
impossibilitando a continuidade, a morada, o habitat da civilização cultivada...a mídia e a velocidade
tecnológica propiciam um descartável resultado da sobrecarga de dados, overdose de contatos das
superpopulosas megalópolis nas quais o egoísta conta com a pouca memória, o estresse que ocasiona
esquecimento e brinda-o com a impunidade e a certeza do retorno triunfante se deixar o tempo apagar
as cicatrizes de seus atos.
A visão de manipulação utilitarista de funcionários ou consumidores empregando som
subliminar seria exemplo de reificação, reduzindo a pessoa a objeto, sem o cuidado e carinho
cultivado, sem esta ética de pelein-polis, um horizonte estreito que manipula e subestima, invade a
individualidade e privacidade, ameaça até a saúde mental do ouvinte inadvertido, sendo, pois, anti-
ética e condenável a priori, pois viola um axioma ético, político, jurídico e teológico da civilização
judaico-cristã, o princípio do livre-arbítrio.
Pela deontologia viola também o disposto no artigo 22 do Código de ética dos
Publicitários do Brasil, que exige serem os anúncios e mensagens assumidos e explícitos sem
dissimulações, o que também exige o Código de Defesa dos Consumidores do Brasil em seu artigo 36,
assim, independente de reflexões teóricas, tecnicamente o emprego de sons subliminares com o
objetivo de manipular ou induzir os ouvintes é anti-ético e ilegal.
Por outro lado, um horizonte ético amplo considera a coletividade, o ambiente, quem assume tal
projeto de vida ético coletivo age com respeito para com os outros e o ambiente, cultiva as amizades e
relações a longo prazo, demonstra na continuidade seus verdadeiros valores, construindo uma
reputação sólida, consistente, coerente, íntegra- integridade, dignidade, honradez.
Não existe mais um paradigma ético normativo pronto e acabado, composto de princípios
revelados por divindades metafísico-mitológicas, a ética do Século XXI precisa ir sendo construída e
nunca acaba de ser reformada a cada caso, inserida em seu caráter de historicidade, diacronia, a
circunstância que nos rodeia e muda a cada momento com novas variáveis (clonagem,
nanotecnologias, engenharia genética -eugenia, transgênicos, biomidiologia, som subliminar, etc) .
Podemos esperar do futuro que tal futuro seja o resultado dos atos e pactos que realizamos no
presente, nosso futuro é o futuro que estamos construindo...a sabedoria popular recolhe ditos e
provérbios registrados pela paremiologia, como: ”quem semeia ventos, colhe tempestades”, e
ponderemos sobre as conseqüências de admitir como precedente o amplo emprego de tais tecnologias
descritas acima.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do exposto, constata-se que o ouvido é um receptor sensorial contínuo, que não é passível de
uma voluntariedade ou escolha, nunca fecha-se ao estímulo acústico, às ondas sonoras propagadas
pelo ar, estando perpetuamente passivo, receptivo e indefeso.
Já desde os povos antigos tais quais os chineses, indianos e gregos tem-se a consciência dos
efeitos bio-fisiológicos do som, dos gritos de guerra tribais (Sluarg Gaurms-slogans e palavras-de-
ordem políticas e de torcidas esportivas) chegando até mesmo à proibição do intervalo trítono nas
partituras medievais pelo efeito subliminar de rebelião ou dissonância (Diabolos).
Ritmos afetam o ritmo cardíaco e influenciam biomidiologicamente o hemisfério esquerdo do
cérebro, ao passo que a tonalidade, timbre e melodia afetam o hemisfério direito.
O ouvido humano registra freqüências entre 20 e 20 mil hertz e vibração rápida oprime, ao
contrário de suaves que relaxam, efeitos psicológicos conhecidos até em musico-terapia; som curto
estressa e agita, som longo relaxa, como os mantras e cantigas de ninar do folclore e sabedoria popular
sabem empiricamente.
A audição pode ser focalizada ou de fundo (Gestalt) sendo a de fundo a audição periférica ou
subliminar: - o locutor fala com voz grave-masculina no telejornal ou rádio imprimindo
subliminarmente credibilidade e respeitabilidade, enquanto o fundo musical é periférico-despercebido-
subliminar da atenção criando o clima emocional (medo gerado por notas graves e instrumentos de
percussão; tristeza por melodias lentas e longas; raiva e indignação induzidas por agudos, etc)
comprovando a manipulação subliminar do ouvinte-telespectador.
No cinema tais técnicas são exemplificadas pelo filme EXORCISTA , na publicidade jingles
como o a Chevrolet empregavam ritmo de batimento cardíaco para sugerir subliminarmente proteção
maternal e segurança subliminarmente associada ao carro por reflexo condicionado.
Tais tecnologias sonoras deontológicamente são condenáveis pelo artigo 22 do Código de ética
dos Publicitários do Brasil, e juridicamente proibidas pelo Código de Defesa dos Consumidores do
Brasil em seu artigo 36.
Deste modo, fica comprovado o emprego intencional e metódico de tecnologia sonora para
obter efeito biomidiológico subliminar assim evidenciando ser falseada a hipótese de tipologia
intuitiva proposta da "inexistência de toda e qualquer signagem subliminar sonora no decorrer do
Século XX", comprovada e documentada a existência de estímulos subliminares sonoros no Século
XX e nos anteriores com a consciência planejada dos efeitos do fundo musical desde culturas
ancestrais como a chinesa e indiana até o cinema de entretenimento e a publicidade contemporânea do
Século XXI .
4. BIBLIOGRAFIA
BATAN, Marco Antônio. Propaganda: o domínio através do som: o estudo da influência do som nos
comerciais de televisão. São Paulo, 1992. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) − Escola
de Comunicação e Artes), Universidade de São Paulo.
CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara. Propaganda Subliminar Multimídia. 6. edição, São Paulo,
Summus Editorial, 1999. (Coleção Novas Buscas em Comunicação, vol. 42)-ISBN 85-323-0411.
capítulo O SOM NO SILÊNCIO, p.44 -58.
___.“Biomidiologia aplicada ao Pokemón” in: Encontros culturais Portugal-Japão-Brasil, editora
Manole, São Paulo, 2002, ISBN 85-204-1759-0, páginas 69 a 122).
___. ECOLOGIA E BIOMIDIOMOLOGIA. São Paulo:Editora Plêiade, 2002. ISBN 85-85795.
___. Subliminal for a new world . In: .Communication for a new world: brazilian perspectives
(brasilian papers selecteds and appresenteds on the 18th
Conference of the International Association
for Mass Comunication Research. IAMCR.) . Marques de Melo, José.(Org.). Escola de Comunicações
e Artes da USP, 1993. p.77-87.
KEY, J. Steven. Media sexploitation. Nova York: Signet Books, 1977.
KEY, Wilson Bryan. A era da manipulação. 2. ed. São Paulo: Scritta, 1996.
KOSOVSKI, Éster (org.). Ética na Comunicação. Terceira Edição, Rio de Janeiro: Mauad, 1995,
ISBN 85-85756-12-8
____. OS ASPECTOS SUBLIMINARES DO ÁUDIO NA COMUNICAÇÃO –
UMA ABORDAGEM INTRODUTÓRIA. Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado ao Curso de
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, do Centro de Ciências Humanas e da Comunicação
da Universidade Regional de Blumenau – FURB.Orientadora: Profª Clara Maria Von Hohendorff
(MSc).2000.
PEGORARO, Olinto A. .Ética e Bioética, da subsistência à existência. Petrópolis: Vozes, 2002, ISBN
85 326 2690 4
SALINAS, Fernando de Jesús Giraldo. O som na telenovela: articulações som e receptor. São Paulo,
1994. Tese (Doutorado) − Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo.
SANVITO, Wilson Luiz. Ouvindo com o cérebro. São Paulo, Jornal da Tarde, 12 set. 1992. p. 4.
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das
Letras, 1999.

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  • 1. BIOMEDIOLOGY OF THE SUBLIMINAL SOUND IN THE MEDIA: AN ETHICAL APPROACH - FLÁVIO MÁRIO DE ALCÂNTARA CALAZANS http:www.calazans.ppg.br PHILOSOPHY DOCTOR IN COMMUNICATION SCIENCES (ECA-USP-BRAZIL). Professor LIVRE-DOCENTE in UNESP. Address: Clay Presgrave do Amaral, 13, ZIP 11055-370, Santos, SP, Brazil Telephone: +55 (13) 3284-3754 E-mail: calazans@bignet.com.br & -SARA MELISSA MÜLLER saramuller@click21.com.br Bachelor degree in Social Communication - FURB, Blumenau, SC, Brazil Specialization in New Medias, Radio and TV - FURB, Blumenau, SC, Brazil, 1996-2000. Professor at UNOESC, SC, Brazil. Address: Alberto Müller Street #87, Formosa Village, ZIP 89023-040, Blumenau, SC, Brazil Telephone: +55 (47) 322-0387 / + 55 (11) 3742-1101 / Fax: +55 (47) 336-0680 E-mail: saramuller@click21.com.br
  • 2. ABSTRACT The Biomediology analyzes the ethical application of subliminal sonic technology in the background music (periferical audition) manipulating fisiologically the emotions, from ancient China and India, to the Medium Age prohibiting the interval trítono (Diabolos) and even sonoplastic processors as the Mark VI reducing thefts in supermarkets, advertising jingles and telejournalist news, this use is against the brazilian Advertising Ethical Code (article22) and brazilian Consumer Defense Code (article 36), being, therefore, anti-ethical. KEY-WORDS Biomediology, Ethics, Subliminal Sounds, Jingles. 1. INTRODUÇÃO Objetiva-se efetuar um levantamento das tecnologias sonoras empregadas pelos meios e comunicação auditiva em suas técnicas de ocultação ou dissimulação de estímulos com intencionalidade de obter resultados fisiológicos inconscientes/subliminares no receptor/ouvinte. Aplicando os conceitos da Biomidiologia, pode-se investigar a existência ou não de signagem subliminar sonora com o objetivo de manipulação emocional do ouvinte, seja em cinema, comerciais de televisão ou Jingles publicitários. A metodologia empregada será Hipotética-Dedutiva, em conformidade com o "Modus Tolens" de Popper, buscando falsear a hipótese de tipologia intuitiva proposta da "inexistência de toda e qualquer signagem subliminar sonora no decorrer do Século XX", falseada por meio da coleta, identificação e análise de espécimes midiáticos oriundos da Videosfera (Mídia Eletrônica), aplicado ao estudo de casos em uma pesquisa exploratória com coleta de peças publicitárias e com apoio de base bibliográfica. A fase segunda será a avaliação ética e deontológica de tais recursos. 2. BIOMIDIOLOGIA DO SOM SUBLIMINAR NA PROPAGANDA. “Há sons no silencio, dando ordens, sugestionando, manipulando” (CALAZANS, 1992, p. 54). “Não faça aos outros o que não queres que façam a ti” (Bíblia. Mateus, 7:12).
  • 3. Os efeitos da música tem sido registrados em diversas culturas; na antiga China o LIKI (livro cerimonial de protocolo e etiqueta) já discorre sobre harmonia e dissonância na musica ambiente e as relações entre os convidados; e o LIVRO DA MÚSICA escrito no período de Wou Li (147-178 Antes de Cristo) há estudos sobre notas musicais (escala pentatônica) e efeitos políticos, sociais e psicológicos, no entendimento chinês, a música tem efeitos despercebidos nas pessoas, daí a importância da música gerando um ambiente. Os indianos consideravam dois aspectos musicais: MARGA (leis permanentes, arquétipos do inconsciente coletivo, wolksgeist) e DESHI (modismos que variam, estreótipos, zeitgeist), e registram efeitos da música como energia ou vibração influenciando o crescimento das plantas e o temperamento de animais (mais tarde um tratado de cura pela música dos Persas afirmaria que “a música acalma as feras”, e tal axioma corre depois por todo o mundo greco-romano) Autores como o filósofo grego Pitágoras também descreveram o poder do som e seus efeitos sobre a psique humana. Os gritos de guerra (SLUARG GAURM –SLOGAN) refletem um arquétipo musical, proferido em um intervalo que corresponde a uma quarta aumentada (Dó, Fá sustenido) um intervalo que geraria medo no inimigo, os chineses denominam tal intervalo como JWEI-PIN , os hindus o empregavam em rituais noturnos, e os ocidentais reconhecem que tal intervalo tem um aspecto angustiante, inquietante e desagradável. Este intervalo chegou a ser proibido pelos musicistas religiosos católicos, denominado DIABOLUS IN MUSICA , foi empregado por Berlioz na SINFONIA FANTÁSTICA e por Wagner nos momentos mágicos de suas óperas com simbolismos maçônicos. Este intervalo de três tons, o TRÍTONO, como entre fá e si, em efeito inverso ao da oitava, enquanto a oitava é estável, o trítono é instável, baseado na relação 32 / 45 pulsos melódicos (Wisnik, 1999, p. 82, 83) e tal corte separa, divide, desune, di-solve, o solve da alquimia, a função do diabolus...por tal efeito psíquico o trítono é proibido no canto gregoriano como o símbolo da dissonância, do desacordo, da discordância e rebelião, sendo censurado, calado, evitado, omitido, esquecido a força, negado, reprimido, ausente - in absentia. Tal preocupação evidencia a consciência e o cuidado com o poder e os efeitos subliminares da música no corpo (biológico) e na mente (psicológico) humana.
  • 4. Bio em grego significa VIDA (como em Biologia) e MIDIOLOGIA é uma Teoria criado por Régis Debray em 1993-Paris, como releitura atualizada das teorias do pesquisador canadense MacLuhan sobre as tecnologias da comunicação. A BIOMIDIOLOGIA pode ser definida como um ramo de pesquisa derivado da Midiologia o qual estuda as relações Biossemióticas entre signos veiculados pela midiosfera, mídia eletrônica (Videosfera-Televisão, Internet, etc.) os quais afetam direta ou indiretamente formas de vida biológica quer seja em sua fisiologia ou comportamento. Didaticamente, a Biomidiologia, pode ser comparada, apenas em termos alegóricos de analogia cognitiva, a quando uniram a Engenharia Eletrônica e a Engenharia Mecânica criando a MECATRÔNICA, que é a base da Robótica, Biônica e Automação Industrial; ou como quando uniram a Química e a Biologia criando a BIOQUÍMICA, e a Biologia e a Física criando a BIOFÍSICA; a Biomidiologia contribuirá para a compreensão dos fenômenos da Comunicação de Massas em sua esfera de eficácia biológica. Desde o Século XVIII os Professores Doutores do Leste Europeu praticam a divisão do conhecimento em duas grandes áreas: -Ciências da Natureza (Naturwissensaften) cujos métodos são EXPLICATIVOS (Erklarung), como a Física, Biologia e BIOFÍSICA (vida influenciada pelas forças da natureza, do ambiente, ecossistema, vida reagindo a estímulos de ondas de luz-óptica, ou ondas sonoras-acústica). -Ciências do Espírito (Gemienenwissensaften) cujos métodos são da COMPREENSÃO (Verstehen); a interpretação (Hermenêutica) dos signos (Semiótica) culturais, psico-antropológicos, a linguagem da Arte e Mídia-Comunicação (Midiologia). A BIOMIDIOLOGIA surge como uma das disciplinas cuja proposta é o cruzamento heurístico entre ambos os paradigmas: Naturwissensaften (BIO) e Gemienenwissensaften (MIDIOLOGIA). A Biomidiologia permite compreender, por exemplo, como o desenho animado Pokémon causou "epilepsia televisiva" e internou em hospitais centenas de telespectadores inocentes com um pisca-pisca de luzes subliminares ativando a glândula Pineal e liberando a Melatonina que realiza a síntese do neurotransmissor Serotonina, quebrando cadeias de alcalóides do sangue, possibilitando evitar, deste modo, novas agressões midiáticas à Saúde Pública. O médico e músico Wilson Luiz Sanvito (1992, p. 4) condena os vários estudos sobre a capacidade da música em influenciar o cérebro, o corpo físico e as emoções. Para ele, a música afeta fisicamente por possuir um ritmo (pulsações) e um tempo (compasso), como as funções
  • 5. biológicas. O cérebro parece analisar os estímulos sonoros através de padrões de referência tendo como modelo freqüências harmônicas, no caso da música. Por experiências realizadas com anestesia dos hemisférios cerebrais, ficou demonstrado que, enquanto o hemisfério direito controla os sons sem conteúdos lingüísticos, a altura do som e a identificação dos acordes musicais, o lado esquerdo controla o ritmo musical. Este fato contradiz o que se acreditava até há pouco tempo, que os sons musicais fossem inteiramente controlados pelo hemisfério não dominante para a linguagem, geralmente o direito. Sanvito (1992, p. 4) “Se uma música de determinada freqüência, ritmo e tonalidade influência os ritmos elétricos do cérebro provocando relaxamento (ondas alfa) ou sonolência (ondas delta), outro tipo de música pode provocar hiperexcitabilidade do cérebro traduzida por alerta, excitação dos nervos e mesmo um ataque epilético.” (SANVITO, 1992, p. 4). Ainda de acordo com o autor, os sons seguem dois caminhos para chegar ao cérebro: Um chega ao centro auditivo do cérebro no 1º lobo temporal, onde são captados e interpretados. Este mesmo lobo cerebral alberga boa parte do sistema límbico, que lida com as emoções, principalmente ao lado direito do cérebro, e participa na memorização dos eventos no dia a dia. A outra vertente conecta-se com o cérebro vegetativo, que controla funções com a respiração, circulação, digestão, hormonal e outras. No caso da freqüência que é o número de ciclos por segundo de um determinado som, sabemos que as vibrações rápidas provocam tensão nervosa enquanto as lentas tendem a relaxar. Já com a intensidade, que se relaciona à amplitude das vibrações, observa-se que a música alta pode levar ao arrebatamento e chega a ser opressiva. A música suave, além de intimista, produz serenidade. (SANVITO, 1992, p. 4). A música, sendo uma forma de expressão e comunicação não-verbal, ao ser canalizada para o cérebro estimula a imaginação, a fantasia evoca recordações, enfim dispara gatilhos emocionais. E Manfred Clynes, que é músico e doutor em neurologia/engenharia pela Universidade de Melbourne, citado por Sanvito (1992, p. 4), postula que: “[...] as emoções existem por si mesmas como padrões potenciais do sistema nervoso e podem ser desencadeadas pela música, independentemente de associações específicas com pessoas ou eventos. Isto significa que certas passagens musicais, de acordo com sua forma ou estrutura, podem gerar respostas tais como alegria, amor ou reverência”. Esta padronização é capaz de descrever certos estados afetivo-emocionais caracterizados pelas músicas na TV:
  • 6. Terror, medo, pânico: notas graves e com instrumentos que produzam registros graves (trombones, contrabaixo, saxofone e instrumentos de percussão); Tristeza: som de oboés, flautas, violinos ou clarinetes, que emitem movimentos lentos e tempos longos; Alegria: músicas 'brilhantes', de júbilo, às vezes com movimentos rápidos; Raiva: escalas musicais rápidas, sons fortes, graves ou agudos e com ocorrências surpreendedoras; Momentos românticos: similares às da tristeza; Violência: movimentos rápidos, de caráter forte e sonoridade 'brilhante', similares à raiva; Suspense: instrumentos de registro baixo ou com notas agudas intermitentes. (SALINAS apud BATAN, 1992, p. 31). O maior ou menor número de vibrações por segundo determinam a altura de um som; estas vibrações por segundo são chamadas hertz. O ouvido humano tem capacidade de perceber conscientemente freqüências que variam entre 20 e 20.000 hertz. Para Salinas (1994), as vozes graves possuem um ar de respeito e poder superior ao das vozes agudas. O tom grave, e na grande maioria das vezes uma voz masculina, das narrações esportivas, de documentários, de apresentadores de noticias, de comerciais, etc.. Os súbitos impulsos sonoros, de durações curtas, geram surpresa e chamam a atenção; as ocorrências longas e contínuas são colocadas rapidamente pelo cérebro na audição periférica e subliminar. A duração dos sons está ligada também à velocidade, isto é, quanto mais curto, maior a sensação de rapidez, quanto mais longa, mais lenta. Nos audiovisuais, as falas com durações fonéticas curtas denunciam temperamentos ou estados de animo: agitação, ação, tensão, perturbação, etc. Falas lentas e pausadas em durações longas simbolizam tranqüilidade, sabedoria, racionalidade, controle, preguiça. Na música, cada nota tem uma duração específica ao ponto que na escritura musical os símbolos de representação estão codificados de acordo com o tempo de execução da nota: uma semibreve corresponde ao tempo mais longo, e uma semifusa corresponde ao tempo mais curto. O silêncio, por sua vez, que representa a ausência de alturas, ganha valores significativos em suas durações. As pausas silenciosas podem trazer as sensações de medo, dúvida, espera e angústia, por exemplo. . Um som com amplitude constante gera um grau de tensão suspenso na dúvida de se vai terminar, diminuir ou aumentar.
  • 7. Muito ao contrário de outros órgãos dos sentidos, os ouvidos são expostos e vulneráveis. Pode- se fechar os olhos se desejar, mas os ouvidos estão sempre devassáveis aos estímulos sonoros, posto que encontram-se sempre abertos. Os olhos podem focalizar e apontar uma vontade, enquanto os ouvidos captam todos os sons do horizonte, em todas as direções. A audição é pura recepção. O ato de ouvir limita-se a receber um sinal sonoro e determinar a ele um sentido. Ouvir é um estado passivo e de contemplação. Para Salinas (1994), há duas formas de audição, a saber, a audição focalizada e a audição periférica, classificação que por si só já revela a dimensão da capacidade seletiva do processo auditivo. O som dos comerciais está constantemente pulsando a atenção auditiva, brincando com as relações de figura e fundo (Gestalt). O som da publicidade joga o nebuloso espaço entre a razão e a emoção, entre aquilo que é ouvido atentamente (focalizado) e aquilo que é ouvido distraidamente (periférico). Em uma propaganda para a televisão tomando como exemplo, o receptor percebe antes a imagem, e o áudio neste contexto seria classificado como "música de fundo" pois há muitas informações sendo transmitidas em um pequeno espaço de tempo. Esses elementos que ficam em segundo plano seriam um fundo subliminar. Segundo o Princípio Poetzle, todos os sons que não são percebidos conscientemente atuariam de forma subliminar, recebemos múltiplas mensagens, e nossa atenção seletiva filtra e focaliza um único canal sensório, deixando todo o resto como subliminar. Tais informações entram "de contrabando" e se depositam na memória subliminar ou subconsciente. Os pensamentos e idéias não-iluminados, esquecidos, não deixam de existir: encontram-se em estado latente, adormecidos num estado subliminar, além do limite da atenção consciente ou da memória, o que não impede que a qualquer momento possam surgir. Brown (1976 apud CALAZANS, 1992) afirma que, em 1910, H. Ohms demonstrou cientificamente o efeito subliminar de palavras reduzidas a sons inaudíveis. O psicogalvanômetro é um instrumento que mede mudanças fisiológicas causadas por reações emocionais. Conhecido popularmente como "detector de mentiras", pode demonstrar que uma pessoa tem relações emocionais, físicas a palavras ou sons que não ouviu conscientemente. Key (1977), no livro Media Sexploitation, descreve diversos subliminares sonoros, inclusive explica a decupagem dos efeitos sincronizados na mixagem ou edição do filme O exorcista. Segundo o autor, o reforço que o som causa na imagem é a causa do sucesso deste filme de terror, pois foi realizado com sofisticada engenharia de som subliminar, conquistando Oscar de melhor trilha sonora
  • 8. pela inovação. Friedkin, o responsável, explica que aplicou diversos tipos de subliminar no fundo sonoro, por exemplo: 1. Som do enxame de abelhas furiosas, zunindo em dezesseis freqüências diferentes mixadas - o consciente as ouve como um único som. Seres humanos reagem com medo e ansiedade ao som das abelhas, mesmo se nunca ouviram tal som desperta o desejo de fugir, esconder-se, e o medo de sofrer dores. Friedkin explica que, segundo Jung, tal som seria um arquétipo. Este som foi plantado na edição em ondas crescentes antes das cenas de maior tensão e suspense. 2. Som dos gritos de porcos sendo degolados. A menina Reagan ao ser possuída pelo demônio vai sendo maquiada gradualmente a cada cena para parecer-se com um porco, enquanto 'ouve-se' subliminarmente estes guinchos angustiantes. Gemidos de casais no momento do orgasmo: nas cenas de exorcismo, com a moça e o padre a sós, foi inserido fundo subliminar reproduzindo clímax orgásmico. Key em entrevista realizada, afirma que 50% das mulheres abordadas confirmaram sua excitação sexual com a cena em apreço. 3. Som no silêncio. As pausas silenciosas do filme eram silêncio eletrônico, com fundo de baixa freqüência inaudível zumbindo. Estes silêncios formam uma série de platôs que gradualmente aumentam em volume e diminuem de intervalo de tempo de aparição antes dos momentos de clímax. Os silêncios são empregados para produzir tensão emocional, tornando-se mais e mais freqüentes e pesados num fluxo de tensão-clímax-relaxamento-tensão. 4. Dublagem. A voz de Reagan vai sendo cuidadosamente sintetizada e mixada até ser totalmente dublada pela voz de Mercedes McCambridge, atriz com uma voz profunda e sensual. Key demonstra diversas técnicas empregadas pela engenharia de som subliminar. Ora, sons de abelhas prestam-se a anúncios de seguros de vida, planos de saúde e tudo o que envolva o cérebro réptil, as motivações de Maslow relativas a segurança. Já a cena dos porcos guinchando e a maquiagem da atriz é uma demonstração da intersemiose subliminar som-imagem. Na cena sadomasoquista do exorcismo os gemidos de orgasmos mostram o poder dos estímulos sexuais subliminares. (KEY apud CALAZANS, 1992, p. 51-52). Segundo o exemplo em Calazans (1992) no Brasil, em 1989, Zé Rodrix realizou um jingle para o Chevrolet da General Motors, cujo ritmo era de 80 ciclos por minuto. Segundo Zé Rodrix, o ritmo do coração de uma mãe amamentando o filho, ouvido pelo recém-nascido, é um som que o bebê sempre vai associar a conforto, tranqüilidade, segurança e prazer, Essas sensações o jingle queria associar subliminarmente ao carro.
  • 9. Rodrix afirma que se baseou em pesquisas do grupo Pink Floyd que apontaram o ritmo de 80 ciclos como o de maior efeito subliminar sobre o auditório - cobaias involuntárias destas tecnologias experimentais em seus shows. Um dos produtos à venda é o "Mark VI - audio subliminal processor", um equipamento eletrônico que ajusta o som para um volume subliminar abaixo de 20 ciclos por segundo, mixado à música de fundo que toca em supermercados e lojas de departamentos. A voz de fundo fica repetindo todo o tempo a frase "sou honesto, não roubo", o que já reduziu em 30% o índice de furtos em 81 supermercados de quatro estados dos Estados Unidos. (CALAZANS, 1992, p. 54). Becker vendeu seu áudio-processador para doutrinação subliminar anti-roubo em supermercados e lojas de departamentos. O dispositivo reduziu em cerca de quarenta por cento o roubo numa grande cadeia de supermercados, que também pôde perceber uma redução de sessenta por cento na rotatividade anual de mão-de-obra. O doutor Becker conseguiu reduzir as reclamações dos funcionários via doutrinação subliminar. Seu programa anti-roubo reduziu significativamente as prisões dentro das lojas. Após oito meses, o gerente de uma loja relatou uma completa reviravolta na diferença nas caixas registradoras, na rotatividade de mão-de-obra e nas atitudes negativas dos funcionários, além de ter conseguido reduzir em cinqüenta por cento o pessoal encarregado do estoque, mantendo o mesmo nível e eficiência. A diferença nas caixas caiu de uma média de cento e vinte e cinco dólares por semana para menos de dez dólares. As reclamações de fregueses contra os caixas virtualmente desapareceram. As mercadorias danificadas pelos encarregados de estoque diminuíram um terço. Os furtos caíram de cinqüenta mil dólares a cada seis meses para menos de treze mil dólares. Em outra cadeia de supermercados, a rotatividade da mão-de-obra caiu pela metade em onze meses. Becker demonstra preocupação com a ética da persuasão subliminar. Mas há um paradoxo envolvido. Se a pessoa é avisada que será submetida a informação subliminar, a eficácia é reduzida. Se ela não é avisada, seus direitos constitucionais legais e éticos podem estar sendo violados (GOODKIN e PHILLIPS apud KEY, 1996, p. 49). Outro empreendedor que desenvolveu dispositivos de modificação de comportamento é o presidente da Proactive Systems de Portland (Oregon), David Tyler. As fitas subliminares de Tyler ajustam os níveis de som em baixo volume às modificações no volume do som ambiente. A Proactive Systems Inc. está envolvida principalmente com a prevenção a roubos. Tyler considera-se um benfeitor da sociedade, evitando que os consumidores sejam presos por roubo a lojas, que os
  • 10. empregados sejam pegos furtando e, conseqüentemente, demitidos e que os donos de lojas percam para os ladrões cinco cents de cada dólar vendido. Tyler chega a antever preços mais baixos depois que a doutrinação subliminar tornar todas as pessoas honestas, um objetivo válido, mas improvável. ETHOS significa em grego SER, o lugar onde se é, se está, onde se habita, reside, a morada do homem, daí: Ethos- Ética; o ser, o ideal , metafísico, teórico e geral-ontologia. Mores- Moral; os costumes (consuetas-consuetudinário), a prática , individual ou de grupo, datada no tempo e espaço geográfico (mos, moris, moral e morada-um estar sempre, continuidade, habito, habitar, habitat), para Hegel-moralidade (sittlichkeit). Esta divisão de ética e moral acima inicia-se com pós kantianos como Schelling. Aristóteles diz no livro “Ética a Nicomaco” que o homem é um animal político , etimologicamente, a palavra polis origina-se em “pelein”, vicejar e brotar, florescer, cultivar uma amizade, cultivar um relacionamento, cultivar a cultura de uma comunidade, permanecer, residir (plantar, regar, esperar florescer e colher o cultivado em uma continuidade); morar é habitar e continuar, desenvolver o habitat, ter hábitos constantes, costumes que desenvolvem uma cultura de urbanidade, a cidade estado, e viver em paz colaborando com os outros, o com-viver, cooperar, o amor de que fala o biólogo chileno Maturana. Bérgson considerava que tudo surge da “DURÉE”, da duração, desta continuidade e relacionamento, o homem animal político realiza-se e constrói-se (autopoiesis de maturana) na convivência social. Deste modo, ser ético é ser permanente, coerente, habitar e morar, a continuidade dos atos cria a reputação ética inserida em um continuum de registros históricos dos antecedentes passados os quais fazem antever e prever os atos. Desta etimologia, percebe-se que o conceito de Ética abrange comportamentos humanos contínuos e relacionais com outros homens e com a morada do homem, como habitualmente age, costumes –hábitos (mores) e o habitat – morada como meio, o ambiente. Heidegger denomina esta constante DASEIN, um Ser-aí, presença no mundo, afetando e sendo afetado pela circunstância, tal ser-aí influenciando e sendo afetuosamente influenciado teria cuidado com os que o cercam, solícito, solidário, cuidadoso, previdente e carinhoso (o amor que fala Maturana como base do convívio e cooperação entre todos para adaptar-se e sobreviver enquanto espécie, preservando o ambiente), este cuidado com o outro é CURA em latim e SORGE em alemão, e visa a
  • 11. uma continuidade de colaborações e cooperação (na morada –habitat), a um projeto futuro, longínquo e distante no horizonte ético. Horizonte Ético é uma referência ou modelo ideal futuro, distante, à frente na linha do horizonte, algo que se deseja ser enquanto indivíduo e comunidade, teleologia . Um horizonte estreito e restrito é um projeto de vida singular, como o egoísta, cujo projeto de vida é sua própria felicidade, conforto e bem estar pessoal, seus atos passador, presentes e futuros dirigem-se para construir sua felicidade pessoal e individual, desconsidera a comunidade, o meio ambiente, o outro, tudo está em segundo plano e é descartável, pessoas são vistas como objetos a serem usados para seus fins utilitaristas, competitivo, como explica Maturana, é nocivo e destrutivo, seu paradigma de comportamento é anti-social e autofágico, a longo prazo é suicida, pois se propagar esta postura e for imitado, toda a comunidade implode no que Hobbes denominava “a guerra de todos contra todos”, o egoísta e oportunista vive a curto prazo, seu projeto de vida coleciona antecedentes de traições e destruição de relacionamentos, evidenciando não ser merecedor de confiança e impossibilitando a continuidade, a morada, o habitat da civilização cultivada...a mídia e a velocidade tecnológica propiciam um descartável resultado da sobrecarga de dados, overdose de contatos das superpopulosas megalópolis nas quais o egoísta conta com a pouca memória, o estresse que ocasiona esquecimento e brinda-o com a impunidade e a certeza do retorno triunfante se deixar o tempo apagar as cicatrizes de seus atos. A visão de manipulação utilitarista de funcionários ou consumidores empregando som subliminar seria exemplo de reificação, reduzindo a pessoa a objeto, sem o cuidado e carinho cultivado, sem esta ética de pelein-polis, um horizonte estreito que manipula e subestima, invade a individualidade e privacidade, ameaça até a saúde mental do ouvinte inadvertido, sendo, pois, anti- ética e condenável a priori, pois viola um axioma ético, político, jurídico e teológico da civilização judaico-cristã, o princípio do livre-arbítrio. Pela deontologia viola também o disposto no artigo 22 do Código de ética dos Publicitários do Brasil, que exige serem os anúncios e mensagens assumidos e explícitos sem dissimulações, o que também exige o Código de Defesa dos Consumidores do Brasil em seu artigo 36, assim, independente de reflexões teóricas, tecnicamente o emprego de sons subliminares com o objetivo de manipular ou induzir os ouvintes é anti-ético e ilegal. Por outro lado, um horizonte ético amplo considera a coletividade, o ambiente, quem assume tal projeto de vida ético coletivo age com respeito para com os outros e o ambiente, cultiva as amizades e
  • 12. relações a longo prazo, demonstra na continuidade seus verdadeiros valores, construindo uma reputação sólida, consistente, coerente, íntegra- integridade, dignidade, honradez. Não existe mais um paradigma ético normativo pronto e acabado, composto de princípios revelados por divindades metafísico-mitológicas, a ética do Século XXI precisa ir sendo construída e nunca acaba de ser reformada a cada caso, inserida em seu caráter de historicidade, diacronia, a circunstância que nos rodeia e muda a cada momento com novas variáveis (clonagem, nanotecnologias, engenharia genética -eugenia, transgênicos, biomidiologia, som subliminar, etc) . Podemos esperar do futuro que tal futuro seja o resultado dos atos e pactos que realizamos no presente, nosso futuro é o futuro que estamos construindo...a sabedoria popular recolhe ditos e provérbios registrados pela paremiologia, como: ”quem semeia ventos, colhe tempestades”, e ponderemos sobre as conseqüências de admitir como precedente o amplo emprego de tais tecnologias descritas acima. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Do exposto, constata-se que o ouvido é um receptor sensorial contínuo, que não é passível de uma voluntariedade ou escolha, nunca fecha-se ao estímulo acústico, às ondas sonoras propagadas pelo ar, estando perpetuamente passivo, receptivo e indefeso. Já desde os povos antigos tais quais os chineses, indianos e gregos tem-se a consciência dos efeitos bio-fisiológicos do som, dos gritos de guerra tribais (Sluarg Gaurms-slogans e palavras-de- ordem políticas e de torcidas esportivas) chegando até mesmo à proibição do intervalo trítono nas partituras medievais pelo efeito subliminar de rebelião ou dissonância (Diabolos). Ritmos afetam o ritmo cardíaco e influenciam biomidiologicamente o hemisfério esquerdo do cérebro, ao passo que a tonalidade, timbre e melodia afetam o hemisfério direito. O ouvido humano registra freqüências entre 20 e 20 mil hertz e vibração rápida oprime, ao contrário de suaves que relaxam, efeitos psicológicos conhecidos até em musico-terapia; som curto estressa e agita, som longo relaxa, como os mantras e cantigas de ninar do folclore e sabedoria popular sabem empiricamente. A audição pode ser focalizada ou de fundo (Gestalt) sendo a de fundo a audição periférica ou subliminar: - o locutor fala com voz grave-masculina no telejornal ou rádio imprimindo subliminarmente credibilidade e respeitabilidade, enquanto o fundo musical é periférico-despercebido-
  • 13. subliminar da atenção criando o clima emocional (medo gerado por notas graves e instrumentos de percussão; tristeza por melodias lentas e longas; raiva e indignação induzidas por agudos, etc) comprovando a manipulação subliminar do ouvinte-telespectador. No cinema tais técnicas são exemplificadas pelo filme EXORCISTA , na publicidade jingles como o a Chevrolet empregavam ritmo de batimento cardíaco para sugerir subliminarmente proteção maternal e segurança subliminarmente associada ao carro por reflexo condicionado. Tais tecnologias sonoras deontológicamente são condenáveis pelo artigo 22 do Código de ética dos Publicitários do Brasil, e juridicamente proibidas pelo Código de Defesa dos Consumidores do Brasil em seu artigo 36. Deste modo, fica comprovado o emprego intencional e metódico de tecnologia sonora para obter efeito biomidiológico subliminar assim evidenciando ser falseada a hipótese de tipologia intuitiva proposta da "inexistência de toda e qualquer signagem subliminar sonora no decorrer do Século XX", comprovada e documentada a existência de estímulos subliminares sonoros no Século XX e nos anteriores com a consciência planejada dos efeitos do fundo musical desde culturas ancestrais como a chinesa e indiana até o cinema de entretenimento e a publicidade contemporânea do Século XXI . 4. BIBLIOGRAFIA BATAN, Marco Antônio. Propaganda: o domínio através do som: o estudo da influência do som nos comerciais de televisão. São Paulo, 1992. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) − Escola de Comunicação e Artes), Universidade de São Paulo. CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara. Propaganda Subliminar Multimídia. 6. edição, São Paulo, Summus Editorial, 1999. (Coleção Novas Buscas em Comunicação, vol. 42)-ISBN 85-323-0411. capítulo O SOM NO SILÊNCIO, p.44 -58. ___.“Biomidiologia aplicada ao Pokemón” in: Encontros culturais Portugal-Japão-Brasil, editora Manole, São Paulo, 2002, ISBN 85-204-1759-0, páginas 69 a 122). ___. ECOLOGIA E BIOMIDIOMOLOGIA. São Paulo:Editora Plêiade, 2002. ISBN 85-85795.
  • 14. ___. Subliminal for a new world . In: .Communication for a new world: brazilian perspectives (brasilian papers selecteds and appresenteds on the 18th Conference of the International Association for Mass Comunication Research. IAMCR.) . Marques de Melo, José.(Org.). Escola de Comunicações e Artes da USP, 1993. p.77-87. KEY, J. Steven. Media sexploitation. Nova York: Signet Books, 1977. KEY, Wilson Bryan. A era da manipulação. 2. ed. São Paulo: Scritta, 1996. KOSOVSKI, Éster (org.). Ética na Comunicação. Terceira Edição, Rio de Janeiro: Mauad, 1995, ISBN 85-85756-12-8 ____. OS ASPECTOS SUBLIMINARES DO ÁUDIO NA COMUNICAÇÃO – UMA ABORDAGEM INTRODUTÓRIA. Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado ao Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, do Centro de Ciências Humanas e da Comunicação da Universidade Regional de Blumenau – FURB.Orientadora: Profª Clara Maria Von Hohendorff (MSc).2000. PEGORARO, Olinto A. .Ética e Bioética, da subsistência à existência. Petrópolis: Vozes, 2002, ISBN 85 326 2690 4 SALINAS, Fernando de Jesús Giraldo. O som na telenovela: articulações som e receptor. São Paulo, 1994. Tese (Doutorado) − Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo. SANVITO, Wilson Luiz. Ouvindo com o cérebro. São Paulo, Jornal da Tarde, 12 set. 1992. p. 4. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.