O documento descreve a eleição do autor para a prefeitura de Bagé em 2001 após anos tentando. Ao assumir, eles encontraram problemas como estradas em mau estado, mas conseguiram maquinário emprestado para consertá-las, surpreendendo até adversários. Isso marcou o início de um governo para todos sem distinção política ou social.
1. *Memórias de Um Tempo é uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa
gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.
m janeiro de 2001 assumimos a Prefeitura
Ede Bagé, após vencer uma das mais
agressivas disputas eleitoral da História do
município. Eu já havia disputado o cargo nos
pleitos de 1985, 1992 e 1996, sem sucesso. Era
um sonho de nossa geração. Em 96 chegamos
perto, respaldados por uma aliança que incluía
partidos de grande densidade eleitoral à época,
como o PMDB, que ofereceu Elói Thomas como
vice, e o PDT, que, após lançar Luis Kalil, retirou a
candidatura e passou a nos apoiar. Faltou pouco.
Em 2000, não foi uma disputa qualquer. O tom de
radicalização ditado pela candidatura adversária
na busca da reeleição do projeto que governava o
município fez com que senhoras saíssem aos
bairros e vilas com belas roupas, batendo de casa
em casa. Como se estivessem indo a um evento
social. O discurso, especialmente no final da
campanha, era de que conosco na Prefeitura,
Bagé se transformaria num “mar de sem terras”.
Acreditamos que, se a eleição ocorresse alguns
dias depois, poderíamos perder mais uma vez.
O eleitorado que ainda estava indeciso ou que não
tinha convicção do voto pela mudança começou a
ficar ainda mais em dúvida. Compensaria
arriscar? Apostar no novo? O medo quase venceu
a esperança.
Assumimos em 1º de janeiro de 2001 e, entre
outros problemas, encontramos as únicas três
patrolas do município estragadas. As estradas do
interior em péssimo estado e a colheita da safra
de grãos por iniciar no mês de fevereiro. Fomos ao
governador Olívio Dutra e ao então diretor do
Daer, Hideraldo Caron, com quem conseguimos a
cedência, por empréstimo, de maquinário em
volume suficiente para promover a recuperação
emergencial das estradas do interior.
Gesto que causou surpresas, tanto para os que
estavam conosco na eleição quanto para nossos
adversários. Como poderia um governo do PT
estabelecer como uma de suas primeiras ações a
recuperação das estradas por onde transitavam
os fazendeiros? Seria possível um governo que,
segundo os adversários, transformaria Bagé num
“mar de sem terras”, dedicar aquele olhar para os
que, há poucos meses, fizeram o impossível para
impedir sua eleição?
Começávamos ali a demarcar a postura que
simbolizaria os oito anos de nossa gestão. Nosso
governo seria para todos, sem olhar a ideologia, o
amor clubístico ou a religião dos que se
beneficiariam das obras, projetos e programas
executados pela Prefeitura.
Iniciava ali um governo para todos.
Para todos*