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7ª Bienal de Arte Contemporânea de Berlim
Artistas ativistas de vários países expõem seus trabalhos
na capital alemã até 1º de julho.
Julie Krauniski, de Berlim.
10.05.2012
De exposição de arte contemporânea pouco tem a Bienal de Berlim (Berlin Biennale).
Diferente das mostras de arte atual, esta é extremamente politizada. “Quando não
necessário, pretendemos evitar a exibição de qualquer obra que indique o objeto
artístico. Arte é bem-vinda neste projeto, mas ela deve sempre ter um conteúdo
político.”, declarou Igor Stokfiszewski, da equipe do evento. O conjunto é como um
grande grito de socorro em meio às barbaridades cometidas, principalmente, por
governos ditatoriais contra a população, nações poderosas contra fracas, sistema
financeiro em detrimento do estado social e outras. Instalações, fotografias,
ilustrações, grafites e documentários denunciam a violação dos direitos humanos e a
brutalidade capitalista, enquanto soluções são propostas em palestras e debates.
No pátio de entrada da Kunst-Werke, principal galeria da Bienal, há uma imensa chave
de ferro com escritos em árabe. Com a concessão dos palestinos, o objeto foi retirado
da entrada do Campo de Refugiados Aida, assinado pelos moradores e trazido para a
exposição. Ele representa as chaves das casas de todos os Palestinos que tiveram de
deixar seus lares em 1948, acreditando que o retorno seria iminente. Há mais de 60
anos, as chaves têm sido passadas de pais para filhos, simbolizando o desejo de voltar
à terra perdida.
Dentro da galeria, o público entra em contato com o trabalho do artista palestino
Khaled Jarrar. Ele decidiu declarar a existência de um não-Estado. Khaled criou o
carimbo de passaporte “Estado da Palestina”, desenvolvendo, assim, uma campanha
baseada na resistência pacífica. A estampa representa um país soberano em oposição
à segregação imposta por Israel. Aqueles que concordam com a causa podem carimbar
o documento de viagem na própria Kunst-Werke. Centenas de pessoas de
nacionalidades tão distintas quanto alemã, israelense e norte-americana já declararam
a soberania palestina. As fotos das intervenções nos passaportes estão expostas na
galeria.
Na entrada do hall inferior, um display diz: “Ask yourself hard questions”. É lá que
ativistas dos movimentos sociais 15M, Occupy e Indignados estão acampados desde o
dia 27 de abril. O objetivo é criar um espaço aberto para todos os interessados em
participar ativamente, discutir questões sociais, políticas e econômicas e “mudar o
mundo”. Umas das ramificações do Occupy lá presentes, o Blockupy Frankfurt,
organizou a ocupação do espaço em frente ao Banco Central Europeu, entre os dias 16
e 19 de maio, em ato de indignação pela quantidade enorme de dinheiro público
usada para socorrer o setor financeiro. “As pessoas não pagarão por uma crise que
elas não causaram”, diz o manifesto Occupy Biennale.
Toda a carga política da Bienal de Berlim vem do Krytyka Polityczna (Crítica Política) –
organização de Varsóvia (Polônia) formada por intelectuais, artistas, educadores e
jornalistas que seguem a tradição da intelligentsia russa do século 19. O termo refere-
se a intelectuais engajados em direitos humanos e questões políticas, econômicas e
sociais. Segundo seu manisfesto, o grupo polonês tem como objetivo melhorar a
existência da humanidade. Foi a intelligentsia que deu início, por exemplo, ao
movimento anticomunista no leste europeu. O curador da Bienal, Artur Żmijewski, é o
diretor artístico da revista homônima do Krytyka Polityczna. Um considerável número
de colaboradores, conselheiros e artistas da exposição são também ativistas da
organização de Varsóvia.

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  • 1. 7ª Bienal de Arte Contemporânea de Berlim Artistas ativistas de vários países expõem seus trabalhos na capital alemã até 1º de julho. Julie Krauniski, de Berlim. 10.05.2012 De exposição de arte contemporânea pouco tem a Bienal de Berlim (Berlin Biennale). Diferente das mostras de arte atual, esta é extremamente politizada. “Quando não necessário, pretendemos evitar a exibição de qualquer obra que indique o objeto artístico. Arte é bem-vinda neste projeto, mas ela deve sempre ter um conteúdo político.”, declarou Igor Stokfiszewski, da equipe do evento. O conjunto é como um grande grito de socorro em meio às barbaridades cometidas, principalmente, por governos ditatoriais contra a população, nações poderosas contra fracas, sistema financeiro em detrimento do estado social e outras. Instalações, fotografias, ilustrações, grafites e documentários denunciam a violação dos direitos humanos e a brutalidade capitalista, enquanto soluções são propostas em palestras e debates. No pátio de entrada da Kunst-Werke, principal galeria da Bienal, há uma imensa chave de ferro com escritos em árabe. Com a concessão dos palestinos, o objeto foi retirado da entrada do Campo de Refugiados Aida, assinado pelos moradores e trazido para a exposição. Ele representa as chaves das casas de todos os Palestinos que tiveram de deixar seus lares em 1948, acreditando que o retorno seria iminente. Há mais de 60 anos, as chaves têm sido passadas de pais para filhos, simbolizando o desejo de voltar à terra perdida. Dentro da galeria, o público entra em contato com o trabalho do artista palestino Khaled Jarrar. Ele decidiu declarar a existência de um não-Estado. Khaled criou o carimbo de passaporte “Estado da Palestina”, desenvolvendo, assim, uma campanha baseada na resistência pacífica. A estampa representa um país soberano em oposição à segregação imposta por Israel. Aqueles que concordam com a causa podem carimbar o documento de viagem na própria Kunst-Werke. Centenas de pessoas de nacionalidades tão distintas quanto alemã, israelense e norte-americana já declararam a soberania palestina. As fotos das intervenções nos passaportes estão expostas na galeria. Na entrada do hall inferior, um display diz: “Ask yourself hard questions”. É lá que ativistas dos movimentos sociais 15M, Occupy e Indignados estão acampados desde o dia 27 de abril. O objetivo é criar um espaço aberto para todos os interessados em participar ativamente, discutir questões sociais, políticas e econômicas e “mudar o mundo”. Umas das ramificações do Occupy lá presentes, o Blockupy Frankfurt, organizou a ocupação do espaço em frente ao Banco Central Europeu, entre os dias 16 e 19 de maio, em ato de indignação pela quantidade enorme de dinheiro público
  • 2. usada para socorrer o setor financeiro. “As pessoas não pagarão por uma crise que elas não causaram”, diz o manifesto Occupy Biennale. Toda a carga política da Bienal de Berlim vem do Krytyka Polityczna (Crítica Política) – organização de Varsóvia (Polônia) formada por intelectuais, artistas, educadores e jornalistas que seguem a tradição da intelligentsia russa do século 19. O termo refere- se a intelectuais engajados em direitos humanos e questões políticas, econômicas e sociais. Segundo seu manisfesto, o grupo polonês tem como objetivo melhorar a existência da humanidade. Foi a intelligentsia que deu início, por exemplo, ao movimento anticomunista no leste europeu. O curador da Bienal, Artur Żmijewski, é o diretor artístico da revista homônima do Krytyka Polityczna. Um considerável número de colaboradores, conselheiros e artistas da exposição são também ativistas da organização de Varsóvia.