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Todas essas transformacóes impactam, pois, o conceito de "mode-
los", Esses, ao longo da História, foram tangíveis, pessoas "de carne e
osso". Em casa, o pai ou a máe ou ambos (o que nao mais acontece). Na
Sociedade, eram pessoas notáveis, conhecidas, imitadas.
Hoje, embora exista urna cosmética em torno dos comportamentos
de artistas e esportistas, os modelos comecam a adquirir outro tipo de
conotacáo. Podem, por exemplo, ser um comportamento, cuja origem se
perde no emaranhado de ínformacóes das redes virtuais - surgem pa-
lavras, express6es, maneirismos, gestos, acóes de que se tém vaga ou
nenhuma ideia de como nasceram, firmaram-se e por quais motivos se
propagaram.
Concluí-se que a rede social pode servir para aproximar pessoas de
modelos positivos, criando, pois, referenciais igualmente positivos, como
também pode aproximá-las de modelos negativos, com efeitos prováveis
sobre a delínquéncia e a criminalidade.
Sob essa segunda ática, citem-se:
• cresce a prática de realizar aquisicóes por meio virtual ou, no
mínimo, de praticá-las sob a influencia das ínformacóes obti-
das através dele;
• a maioria da populacáo jovem participa de redes sociais; disso
resulta excepcional efeito de penetracáo e massificacáo, prati-
camente inexistente no século passado; acontecimentos políti-
cos e sociais em todo o mundo comprovam esse quadro;
• as redes sociais estruturam-se em linguagem convidativa ao
público jovem, o que contribuí para urna retroalimentacáo po-
sitiva do processo: o indivíduo sente-se acolhido (as vezes, pro-
tegido pelo anonimato) e participa mais; ao fazé-lo, estimula o
aperfeicoamento de processos destinados a captar e reter sua
partícipacáo, e assim sucessivamente;
• os sítios de relacionamento sao elementos fundamentais para
orientar e comandar atitudes e comportamentos de crescente
parcela da populacáo jovem. Ocupam espa<;osque, tradicio-
nalmente, pertenciam a familia, ªº grupo próximo e as enti-
dades de ensino. Essas últimas, por forca do absoluto fracasso
do modelo de ensino brasileiro (apontado com veeméncia em
inúmeras reportagens e em publicacóes especializadas), viram
sua capacidade de influenciar bastante reduzida nas últimas
décadas. O grupo próximo incluí a própria rede.
86 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
A visáo sistémica do comportamento humano possibilita integrar to-
dos os conhecimentos anteriores.
Fonkert (2000, p. 106) alerta que "a pessoa nao é um ser isolado, mas
um membro ativo e reativo de grupos sociais". Na concepcáo sistémica,
as pessoas participam de uma rede de relacoee em que cada integrante in-
flui e é influenciado pelos demais. Essa concepcáo foi amplamente estu-
2.7 A VISÁO SISTEMICA
Assim é que as páginas policiais encontram-se povoadas de noticias
de crimes, dos mais diversos tipos, planejados, preparados e até acompa-
nhados a partir de informacóes colhidas por meio das redes de dados e
relacionamentos sociais.
As redes virtuais propiciam sensacáo de seguran~a e privacidade,
evidente em comportamentos como os de armazenar dados, fotos e in-
formacóes (a Polícia especializada possui inúmeros exemplos pungentes,
como acontece comos casos de sequestro, pedofilia e outros). Elas tam-
bém possibilitam ao indivíduo temeroso de se expor físicamente, mas ca-
paz da participacáo intelectual, a atuar como organizador e estimulador
dessas acóes, a ponto de exercer o papel de líder virtual, enquanto outros
fazem o "trabalho sujo".
Novas modalidades de a~ao criminosa continuam a aparecer e exigí-
ráo novas competencias para serem contidas. Abre-se vasto campo para
treinamento das equipes de prevencáo e repressáo e urna série de interro-
gacóes a respeito dos procedimentos que possam ser adotados para a re-
cuperacáo desses indivíduos. Isso remete, também, a quest6es complexas
relacionadas com sigilo das informacóes e métodos de busca e apreensáo,
necessários tanto para a investigacáo como para a prevencáo.
• a combinacáo de confrontas em via pública, entre grupos de
pessoas violentas (por exemplo, em início ou final de eventos
esportivos);
• a aglutinacáo de vándalos para depredar o patrimonio público;
• a organízacáo de acóes entre malfeitores (para roubar, seques-
trar etc.);
• a exposicáo de críancas e adolescentes apornografía ou assédio
sexual etc.
Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 87
Todo sistema compóe-se de subsistemas, organízacóes internas es-
pecializadas, com objetivos e metas específicos, relativa independencia e
culturas particulares. O conjunto dos subsistemas, bem como os elemen-
tos que os constituem, formam o sistema maior.
Sao comuns aliancas e coalizñes entre subsistemas e entre os elemen-
tos que compñem cada um deles. Unióes internas (entre empregados, em-
pregados e superiores, sócios, familiares, detentas) criam subsistemas.
Aliancas sao unióes ocasionadas pelas identidades de interesse, sim-
patias e afeto entre pessoas, na busca de objetivos comuns. Reserva-se o
termo coaliziio para os casos em que as pessoas unem-se por oposicáo a
outras (estratégia comum entre grupos rivais). As coalizóes tém caráter
mais transitório, naturalmente, do que as aliancas,
Conflitos, coalizóes e aliancas entre grupos internos fazem parte do
desenvolvimento de todos os sistemas e contribuem para que eles ama-
durecam e se desenvolvam. Mal conduzidos ou com propósitos inade-,
quados (DESIDERIO, 1993, p. 8), podem enfraquecer o sistema. Conso-
2.7.1 Subsistemas:conflitose aliancas
dada e desenvolvida pelo conceituado médico argentino SalvadorMi-
nuchin(1921), criador da Terapia Estrutural Familiar.
No interior de qualquer sistema (família, empresa, instituicáo de
qualquer natureza), coexistem forcas de natureza aposta: de um lado,
a busca de preservar o status quo; de outro, a tendencia de evoluir e am-
pliar as fronteiras, incorporar novas participantes, ampliar o campo de
acáo. No sistema doente, contudo, podem prevalecer forcas destrutivas:
rancores, invejas e outros sentimentos enfraquecem os laces e chegam a
provocar a autodestruicáo.
Em um sistema, o que acontece com qualquer integrante afeta a to-
dos; o comportamento resultante, visto como um todo, nao é a simples
soma do comportamento de cada urna das partes.
A definicáo precisa do que seja um sistema inclui a determinacáo de
seus limites e, portante, é sempre relativa. O sistema familiar, por exem-
plo, pode ampliar-se para estender suas fronteiras ao trabalho, ao clube,
a escala, as relacóes familiares, principalmente nos tempos atuais em que
"a familia se tornou aberta, diversa e plural'' (CARBONERA, 2000, p. 14).
88 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
, .
e crencas propnos.
Os padróes de funcionamento de cada sistema pressupñem o de-
sempenho, por seus integrantes, de determinados papéis. Falhas nesse
desempenho contribuem para a nao funcionalidade do sistema e dos
subsistemas que o compóem,
Os comportamentos sexuais abusivos intrafamiliares, na perspectiva
sistémica, associam-se a confusii.o de papéis, que torna os subsistemas dis-
funcionais. Assim, a satisfacáo do desejo sexual de um dos cóniuges pode
acorrer com a crianca que lhe proporciona o carinho que o outro nao lhe
dá. Essa traca de papéis costuma vir acompanhada da imposicáo de um se-
gredo que o medo da violencia (e/ ou crencas irracionais) se encarrega de
manter e, até, acentuar. Surgem coaliz6es: pai e filha, máe e filho.
Os papéis encontram-se em contínua transformacáo e acompanham
a evolucáo da sociedade. Nos sistemas familiares, por exemplo, encon-
tram-se mais e mais mullieres chefiando o lar; também se tornam comuns
os lares monoparentais (BILAC, apud CHAVES, in CEVERNY, 2006, p. 56)
e ganha relevancia o papel do pai no cuidado coma prole (CHAVES,
in CEVERNY, 2006).
O sistema, para lidar comos desafios externos, desenvolve padrñes de
funcionamento.
Há sistemas que desenvolvem padróes de funcionamento nitida-
mente nao funcionais, se consideradas as leis e as regras da sociedade. Or-
ganízacóes de tráfico de drogas, contrabando, desvios de recursos finan-
ceiros, assaltos organizados, sequestros constituem exemplos típicos. O
que se mostra funcional na perspectiva do próprio sistema revela-se nao
funcional sob a ótica da sociedade e de outros sistemas.
Existem, pois, sistemas que subsistem as custas da própria nao fun-
cionalidade; seus integrantes, incapazes de participar da sociedade
maior, recusam-se a seguir-lhe os padróes de funcionamento. Isso nao
priva tais sistemas de operarem segundo padrees e critérios de elevada
sofisticacáo, por meio de procedimentos complexos que solicitam valores
2.7.2 Padrñes de funcionamento
mem extraordinária energía e, quando nao produzem o crescimento, o
resultado é o aposto. Exemplos desse fenómeno sao as separacóes, os
rompimentos de sociedades.
Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 89
A emocáo afeta as narrativas e faz com que os envolvidos (litigantes
e testemunhas) acrescentem, distorcam e omitam informacóes- as vezes,
inconscientemente.
Em situacóes como a de Pedro e Sílvio, a falta de cornunicacáo é óbvia,
bem como suas consequéncias; os acontecimentos que envolvem Guguinha,
Celso, Mari Ida, Wladimir e seu pai, entretanto, contérn urna história que pre-
cisa ser ouvida para se compreender o que acorre no presente.
As narrativas dos participantes de conflitos revelam, em geral, gra-
ves deficiencias de comunicacáo.
Celso e Luciana, pouco a pouco, deixaram de se comunicar. As mensa-
gens, a partir de um certo ponto, passam a ser meras tracas de estímulos agres-
sivos. A explosáo de Helena nao foi simples circunstancia de um momento; a
comunicacáo entre ela e Carol já se deteriorarahá algum tempo e o desenlace
coroou a impossibilidade de convergéncia, cuja explicitacáo nao seria possí-
vel ou aceitável. Guguinha acostumou-se ao isolamento em relacáo aos pais
- comunicava-se comos amigos da escuderia.
No sistema disfuncional, as comunicacóes internas ou com o am-
biente apresentam-se encobertas, distorcidas, e geram elevada tensáo
emocional.
2.7.3 Conteúdo da comunicacáo
Ocorre, entre os indivíduos, o fenómeno da "incorporacáo dos pa-
péis"; as expectativas de desempenho refletem-se no sistema de arencas deles
e daqueles que com eles convivem e tornam-se determinantes em seus
comportamentos. Se o papel requer agressividade,o indivíduo incorpora-
-a ao seu repertório; se requer autoridade, passa a praticá-la, e assim por
diante. O filme Águias em chamas mostra, em urna única e significativa
cena, a transformacdo de comportamento motivada pela mudanca de papel de
um indivíduo [filme de 1948, dirigido por Henry King, explora motiva-
<;ao, lideranca, comportamento em grupo].
90 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
Os sistemas vivos possuem ciclos vitais divididos em fases. Na evo-
lucáo de urna fase para outra, surge um período de iransicdo; toda mudan-
ca ocasiona conflitos.
2.7.4 Ciclos vitais
O produto das narrativas nao sao os fatos reais, mas as imagens que
os envolvidos possuem dos acontecimentos e de seus relacionamentos
(depoimentos aparentemente contraditórios de [oana e Gilberto, caso 1.1,
sao exemplos disso).
O significado das narrativas é mediado pela linguagem, aqual cada siste-
ma imprime características próprias. Expressóes como "querido", "amor",
"bandido"; frases do tipo "eu tive vontade mesmo era de acabar com ele",
11
ainda mato aquele desgracado" e outras recebem significados específicos
que váo muito além da palavra. A compreensáo da linguagem influencia na
interpretacáo das narrativas e na compreensáo do funcionamento do pen-
samento dos envolvidos e, em decorréncia, de seus comportamentos.
Na linguagem se expressa a intencáo de dominacáo e controle, o de-
sejo de ser amado, o sentimento de amor, o arrependimento, a vontade
de perdoar, a raiva, o despeito, o desprezo. O conteúdo de cada palavra
traz dimensóes socioculturais específicas da história de cada pessoa, das
familias, das organízacóes e da sociedade em geral, e assim deve ser en-
tendido e analisado. A palavra müe, por exemplo, tem conotacóes insus-
peitas dependendo de quema emite e de quem a ouve.
• inferencias arbiirárias: conclusóes sem evidencias que as apóiem;
• hipergeneralizacdo: conclusóes tiradas a partir de urna ou outra
situacáo,
,
E comum que os envolvidos pensem de modo pouco satisfatórw e se
deixem dominar por emocóes negativas. Os aspectos negativos das nar-,
rativas dominam a cena e acentuam "distorcóes cognitivas" (RANGE;,
DAl"l'ILIO, apud RANGE, 1995, p. 177) do tipo:
Elas tornam possível identificar detalhes da história e padróes de
comportamento que permitem compreender o funcionamento do siste-
ma. Por isso, nao se devem perder de vista as narrativas trazidas pelas
'
partes e testemunhas. As vezes, detalhes aparentemente banais (para o
observador externo) sao cruciais.
Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 91
Fronteiras sao delimitacóes que os subsistemas estabelecem entre si,
dentro de um sistema maior, e que os sistemas estabelecem em relacáo
a outros sistemas. Elas indicam "limiares que nño devem ser ultrapassados e
também as condicoee sob as quais elas sao permeáveis" (MINUCHIN; l1INU-
CHIN; COLAPINTO, 1999, p. 25). As fronteiras estabelecem, para cada
integrante, os limites de seu espa<;ovital e o início do espa<;odos outros.
As tracas de informacóes, positivas ou negativas, através das fron-
teiras, afetam o funcionamento do sistema como um todo, porque a per-
2.7.5 Fronteirasentresistemase subsistemas
Esses momentos obrigam ao redesenho dos subsistemas, ao estabe-
lecimento de novas tipos de aliancas e coalizóes, a fíxacáo de novas pa-
dróes de funcionamento e revisáo das normas formais e informais que
regem os comportamentos dentro de sistema e nas transacñes entre ele e
o meio. Desenvolvem-se novas formas de comunicacáo.
Todas estas transformacóes podem representar ganhos defuncionalida-
de, e isso fortalecerá e consolidará o sistema; podem, entretanto, signifi-
car redufiio e existiráo prejuízos na passagem para nova fase. A mudanca
pode até promover a dissolucáo do sistema; por exemplo, urna filha casa-
-se e seus pa1s separam-se.
• adolescencia, que será estudada em capítulo específico;
• casamento de filhos;
• falecimento, principalmente de filho ou filha jovem;
• mudanca de cidade (especialmente para adolescentes);
• aquisicóes e fusñes de empresas; falencia;
• inclusáo e exclusáo de sócios;
• mudanca de emprego etc.
A maneira como o sistema assimila esses conflitos pode ser construti-
va, isto é, o sistema aprende com ele e melhora seus padróes de funciona-
mento, ou destrutiva, quando acontece o aposto.
Nas transicóes entre fases do ciclo vital, o sistema sempre se encentra
mais vulnerável. Alguns desses períodos de transicáo sao bastante reco-
nhecidos por seu impacto:
92 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
meabilidade delas expressa como se dá o acesso as áreas demarcadas, o
sentido e a intensidade da privacidade que determinam. Bleger (1989b),
referindo-se a eficiencia dos grupos (urna configuracáo especial de siste-
ma), destaca que ela se encontra na complementaridade de seus mem-
bros, com comunícacáo autentica, alto grau de coesáo e permeabilidade
de fronteiras.
As fronteiras desempenham importante papel nos relacionamentos.
Diversos autores, por exemplo, assinalam a nebulosa divisao defronteiras
e de indiierenciadio de papéis nas familias em que ocorre violencia sexual;
essa situacáo difusa dificulta a revelacáo das ocorréncias e distorce a vi-
sao de mundo da vítima. Nas empresas, ocorre algo semelhante: frontei-
ras nao bem delimitadas entre áreas organizacionais engendram graves
conflitos de responsabilidade e autoridade. O mesmo acontece quando
relacóes de negócio misturam-se com as sociais e familiares.
Fronteiras extremamente permeáveis ou impermeáveis geram con-
flitos. As primeiras sao representadas por famílias cujos integrantes ex-
perimentam fuséio emocional intensa; seus integrantes amam-se e odeiam-
-se com notável intensidade, e uns nao vivem sem os outros. Há familias,
entretanto, cujos integrantes tornaram-se absolutamente desagregados
(uns nao vivem comos outros); ocorre baixa fusáo emocional, indicando
a impermeabilidade das fronteiras (BOWEN, apud GARNEIRO; SAM-
PAIO, 2002, p. 47). Isso acontece em empresas, escolas, instituicóes de
todos os tipos.
As fronteiras refletem o funcionamento dos subsistemas e do siste-
ma. Mau funcionamento torna-as menos nítidas, inadequadamente per-
meáveis, rígidas, emaranhadas ou fluidas em demasia.
Entender o funcionamento das fronteiras facilita a cornpreensáo das
comunicacóes no interior do sistema e entre ele e o ambiente.
A impermeabilidade nao é, necessariamente, um mal ou um defeito:
no sistema penitenciário, ela se faz relativamente necessária, para evi-
tar que a indispensável proximidade entre o pessoal administrativo e os
detentos comprometa a seguranc;a do próprio sistema. Por outro lado, a
permeabilidade é desejável para a reíntegracáo social, ao aproximar so-
ciedade e cárcere.
A impermeabilidade da fronteira entre Amália e Haroldo, no caso se-
guinte, é conhecida e típica de muitos lares.
Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 93
Muitas demandas existem porque indivíduos perdem o senso de rea-
lidade e desenvolvema falsa crenca de que os sistemas aos quais perten-
cem tém a obrigacáo de responder a todas elas.
2.7.6 Sistema social
Os comportamentos habituais do casal, que em algum lugar dopas-
sado experimentaram convergencia, hoje se distanciam; isso compro-
mete o afeto, a atracáo sexual, o diálogo conjugal indispensável a um
bom relacionamento.
Passaram-se oito anos e os dais evoluíram em direcóes nao conver-
gentes. Se, para Amália, prevalecem, agora, o sentimento e a intuicáo, o
mesmo nao acontece com Haroldo (cuja ponto de vista nao se encentra
relatado).
Criaram-se fronteiras impermeáveis entre eles. A comunicacáo entrou
em falencia e as visóes de mundo se distanciaram. Existe um nítido fe-
nómeno de percepcáo: para Amália, ele nao a espera para jantar; contu-
do, a espera pode ser exaustiva para quem vem de um longo período de
trabalho. O que faz o homem trocar a mulher pela TV? Ele percebe isso?
Condicionou-se ao ritual "sofá-controle remoto"?
A exploracáo da situacáo, sob diferentes áticas, possibilita ao(s)
advogado(s) aventardiversas solucóes, que váo desde a separacáo consen-
sual, passando pela mediacáo e, até mesmo, o simples aconselhamento.
Amália, enfermeira plantonista de UTI, procura advogado com a inten-
c;ao de separar-sede Haroldo, bancário. Casadoshá oito anos, sem filhos, ela
relata a convivencia pouco harmoniosa e o quanto tem sido difícil suportar o
encontro diário. Ela revela que dá grande importancia ajantarem juntos,ainda
que tarde da noite, em funcáo do horário em que chega do trabalho; entretan-
to, segundo ela, para Haroldo importa a satisfaoáo imediata de suas necessi-
dades. Ele nao suporta esperá-la; quando ela chega, ele já jantou e assistea
programasde TV, nao lhe proporcionando a atencáo desejada.
Segundo Amál ia, estasituacáoafasta-oscada vez mais e, por isso, ela pre-
tende a separacáo. Acredita que o marido irá criar problemas e provocar urna
"provável batalha judicial".
Caso 2.8 - Trocada pela TV
94 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
A legislacáo caminha em urna velocidade nem sempre compatível
com a evolucáo cultural; vezes há em que ela se atrasa; em outras, se
antecipa.
Mudancas culturais recentes e transformacóes de valores devem ser
absorvidas pelos sistemas existentes, e isso nem sempre acorre com a
presteza necessária ou desejável. A intolerancia com o comportamen-
to homossexual, em inúmeras familias, é um exemplo típico; o mesmo
acontece com a aceitacáo da mulher como a 11
chefe" do núcleo familiar.
O cotidiano, assinala Francesco Alberoni, é social. Segundo o soció-
logo italiano, "é sempre urn pensamento alheio que nos penetra, monta
nas nossas costas e nos faz caminhar com ele" (ALBERONI, 1987,p. 107).
Se o sistema social mais amplo tem relevancia do ponto de vista sis-
témico, o mesmo acontece com aquele próximo ao indivíduo e seu nú-
cleo de convivencia, que incluí trabalho, escala e outras entidades (clube,
igreja etc.).
Há situacñes em que o conflito no trabalho é consequente ou antece-
dente do que acorre na familia (FISHMAN, 1998, p. 143).A familia pode
exaurir o indivíduo, levando-o a conflitar no trabalho e vice-versa. Um
comportamento explosivo no transito pode ser apenas o reflexo de urna
conjugacáo de tensóes para as quais o indivíduo nao encentra válvula
de seguran<;a, transformando-se em urna panela de pressáo, prestes a
explodir - basta um pequeno desencadeante, por exemplo, urna colisáo
numa rotatória ...
Destaque-se que a inclusáo do social - micro e macro - na compreen-
sao dos fenómenos comportamentais do ponto de vista sistémico nao ne-
gligencia as emocóes das pessoas. Toda ocorréncia sistémica contém ele-
mentos emocionais que a permeiam, ainda que de maneira sutil e, na
aparencia, distante.
A visáo sistémica também nao se limita ao desenho de fluxos de co-
munícacáo entre os subsistemas e a identificacáo de fronteiras e de mo-
mentos do ciclo vital; ela incluí a identifícacáo das emocóes presentes, a
influencia que exercem sobre as pessoas e as consequéncias dos estados
emocionais sobre cada urna delas.
Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 95
• compreende que nao é perfeito;
• entende que nao pode ser tuda para todos;
Entende-se como indivíduo "mentalmente saudável" aquele que
(VOCE, 1991, p. 5):
3.1 CONCEITOS DE SAÚDE MENTAL E TRANSTORNO MENTAL
Este capítulo tem por objetivo transmitir ao leitor conhecimentos es-
senciais para a compreensáo dos conceitos de saúde mental e de trans-
tornomental. Apresentam-seas descricñesdos transtornosmentaismais
frequentes e encerra-se com consideracóes a respeito do Exame de Esta-
do Mental.
Femando Pessoa (2006,p. 177)
. . . nós níio sabemos o que é siio ou doente na
vida social.
Saúde mentale transtornomental
3
O transtornomental impossibilita atuar dentro de padróes de norma-
lidade,aceites comotais no ambiente do indivíduo, e isso se toma percep-
tível para os demais. Destaque-se que "normalidade e anormalidade existem
em um continuum [... ]. Aprimeira vista, pessoas com distúrbios psicológicos siio
geralmente indistintas daquelas que niio os iém" (WEITEN, 2002,p. 411).
Efetivamente, "delimitar os conceitos de saúde e doenca mental nao é ta-
refa fácil, como também definir a nodio de saúde e de normalidade mental. .. as
fronteiras siio, em boa medida, relativas, circunstanciais e mutantes", assinalam
Gomes e Melina (1997, p. 226). Por isso, o diagnóstico por profissionais
especializados é indispensável.
As características dos transtornos, orgánicos ou mentáis, transfor-
mam-se com o passar do tempo. Novos sao identificados, alguns acen-
tuam-se, enquanto outros apresentam reducáo, Por exemplo, registra-se
perceptível aumento de transtornos associados a estresse.
O mesmo acontece comos resultados dos diagnósticos, explica Thomas
Szasz (1996, p. 12), professor emérito de Psiquiatríana State University
• funfoes mentais superiores recebem interferencia, dificultando ou
afetando a atuacáo (por exemplo, o indivíduo nao consegue
lembrar-se de compromissos);
• atividades da vida diaria, rotineiras, usualmente necessárias, so-
frem comprometimento em algum grau.
A pessoa sadia "muda construtos pessoais que se originam de predicoes
refutadas pela experiencia. A pessoa nao sadia [... ] tem urna teoria sobre con-
seouéncias [... ] que nao funciona, mas nao consegue mudá-la" (KELLY, apud
HALL;LINDZEY;CAMPBELL,2000,p. 329).
A expressáo transtorno mental, adotada em lugar de 11
doenca", acom-
panha o critério da CID-10 (1993, p. 5): o desvío ou conflito social sozi-
nho, sem comprometimento do funcionamento do indioiduo, nao deve ser in-
cluído em transtorno mental. Há comprometimento quando:
• vivencia urna vasta gama de emocóes:
• enfrenta desafíos e mudancas da vida cotidiana;
• procura ajuda para lidar com traumas e transicóes importantes
(nao se considera onipotente).
Saúde Mental e Transtomo Mental 97
Questáo sempre presente no estudo e na observacáo dos comporta-
mentos, e muitas vezes lembrada para tentar justificar delitos, é o papel
representado pelo instinto, o "esquema de comportamento herdado, próprio de
urna espécie animal, que pouco varia de um indivíduo para outro, que se desenro-
la segundo urna sequéncia temporal pouco susceptível de alieracies e que parece
corresponder a urnafinalidade" (LAPLANCHE; PONTALIS, 1995,p. 241).
Observacáo:
As pessoas modificam seus comportamentos, involuntariamente, ao
se perceberem observadas ou sabendo que isso acorre ou possa aconte-
cer: delinquentes, vítimas, testemunhas, profissionais do direito nao fa-
zem excecáo.
Hawthorne demonstrou, cientificamente,a existencia da ieairalizacdo,
em sua célebre e, sob alguns aspectos, surpreendenteexperienciacom tra-
balhadores (HUFFMAN; VERNOY; VERNOY, 2003, p. 651). Compreen-
de-se, pois, o alerta de Skinner.
Os comportamentosacontecem em um esquema de referencia de valores
e expectativas. Modificam-se como tempo e, em geral, sao contingenciais.
Skinner(1992,p.31)
O estudo distorce a coisa estudada.
3.2 COMPORTAMENTO USUAL: PERSONALIDADE
of New York: pelo fato de serem "inierpreiadies sociais, eles variam de tempo
em tempo e de cultura a cultura". Exemplo: homossexualidade.
A observacáo comprova que DORT (doenca ocupacionalrelacionada
ao trabalho), queixa comum, geradora de inúmeros afastamentos do tra-
balho e acóes indenizatórias, manifesta-se com maior incidencia em algu-
mas categorías profissionais e menos em outras, ainda que as atividades re-
petitivas sejam semelhantes; isso sugere urna conotacáo emocionala qual
devem estar atentos médicos do trabalho e advogados trabalhistas, tanto
os que representam o empregado, como os patronais.
98 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
Em um ambiente sob controle (por exemplo, na presenc;a de juiz ou
delegado de polícia), urna pessoa pode se mostrar dócil, porque na cor-
te de [ustica ou na delegacia nao se encontram condícóes estimulado-
ras da agressividade; contudo, a mesma pessoa pode mostrar-se agres-
conforme a situacáo na qual acorre, bem como de acordo com proprieda-
des da acáo e que é possível considerar que os seres humanos atuam a par-
tir de urna determinada história pessoal, bem como a partir de um contex-
to, composto por inúmeras variáveis, como o ambiente social, económico,
cultural, político.
Kaplan e Sadock (1993, p. 556) conceituam personalidade como a "to-
talidade relativamente estável e previsível dos traros emocionais e comporiamen-
tais que caracterizam a pessoa na vida cotidiana, sob condicñes normais".
Estabilidade, contudo, nao significa imutabilidade; Gordon Allport
transmite adequadamente essa compreensáo: "personalidade é a organiza-
fªº dinámica, dentro do indivíduo, daqueles sistemas psicofísicos que determi-
nam seus ajustamentos únicos ao ambiente" (CAMPBELL;HALL; LINDZEY,
2000,p. 228).
A personalidade, acentue-se, "só se manifesta quando a pessoa está se
comportando em reladio a um ou mais indivíduos", presentes ou nao, reais ou
ilusórios (BRAGHIROLLIet al., 1998,p. 141). Trata-se de urna "entidade
hipotética que niio pode ser isolada de situaroes interpessoais, e o comporiamen-
to interpessoal é tudo o que podemos observar da personalidade" (SULLIVAN,
apud BRAGHIROLLI et al., 1998, p. 138).
Kienen e Wolff (2002,p. 17-19) assinalam que o comportamento varia
3.2..1 Personalidade
Para Lundin (1977,p. 61), os reflexos (movimentos automáticos ante
estimulacáo, como o reflexo patelar) e o engatinhar do bebe constituem
exemplos da limitada quantidade desse tipo de comportamento. O pro-
cesso de cioilizadio afasta o indivíduo do 11
comportamento por instinto" e
o conduz a práticas em contradicáo com a predisposícáo orgáníco-anató-
mica (como as adotadas para evacuar e dar a luz).
O comportamento por instinto praticamente nao existe enao sao acei-
táveis argumentos fundamentados na resposta instintiva para justificá-lo.
Saúde Mental e Transtomo Mental 99
As emocóes do momento, entretanto, temo poder de alterar a pre-
dominancia de urna ou mais características e conduzem a comportamen-
tos imprevisíveis ou inesperados, sem que isso indique qualquer tipo de
transtorno mental.
As características de personalidade nao se manifestam de maneira
isolada; elas apresentam-se sobrepostas, intercaladas e alternadas, de-
As descrícóes apresentadas a seguir sao úteis para descrever com-
portamentos, porém nao para preve-los, principalmente em situacóes de
grande emocáo, como acorre nos conflitos, depoimentos, julgamentos
e outras.
Nao há personalidade "normal" ou características normais. Todos as apre-
sentam em maior ou menor grau, combinadas de infinitas maneiras, o
que torna cada mdivíduo único em sua maneira de se comportar. Cada
característica possui aspectos positivos e negativos, dependendo da situa-
:ªº e intensidade com que se apresentam; portanto, nenhuma é absolu-
tamente "boa" ou "má".
3.2.2 Características de personalidade
siva em casa, no transito ou no trabalho. Muda o ambiente, modifica-se
o comportamento.
Diversas classificacóes nao científicas de personalidade procuraram
relacionar o tipo físico com o comportamento típico do indivíduo (gordo -
alegre, magro - sisudo etc.). O único resultado prático é a inducáo de
pré-julgamentos; desprovidos de sentido, nao consideram fatores cru-
ciais como as influencias do meio, a educacáo recebida, o ambiente de
trabalho e a cultura em que o indivíduo encontra-se Inserido.
Sintetizando as defínícóes apresentadas, conceitua-se personalidade
como a condicáo estável e duradoura dos comportamentos da pessoa, embo-
ra nao permanente.
Os comportamentos típicos, estáveis, persistentes que formam o padriio
por meio do qual o indivíduo se comporta em suas relacóes, nas mais
diversas situacóes do convívio social, de trabalho e familiar, recebem a
denominacáo de características de personalidade. As manifest(lfóes dessas
características formam a imagem mental, para os observadores, do com-
portamento mais esperado dessa pessoa em cada tipo de circunstancia.
100 Psicologiajurídíca · Fiorelli, Mangini
• Olavo, o pai zeloso do caso 2.4, demonstra consciencia social,
representada pelo senso de dever em relacáo ao filho, mal cui-
dado pela máe, empolgada com o futebol. A pessoa atua, até
mesmo em prejuízo próprio, pelo bem comurn.
• Nao se pode dizer o mesmo daquele que se aproveita da posi-
<;ao que ocupa para obter vantagens próprias; nesse caso, do-
mina a característica antissocial, cujas paradigmas sao o trafi-
cante de drogas e o sequestrador. O antissocial age para prejudicar
a sociedade; Everaldo e Betáo, apresentados no caso 2.5, cons-
tituem exemplos.
• Entretanto, olhe-se Betáo mais de perto e se encontrará um in-
divíduo dotado de praticidade; ele se concentra no momento
presente e na maneira mais direta de atuar; talvez seja o caso
de Cleuza, a mamáe camisa 10, e de Dídio, no caso 1.4, que nao
resistiu as roupas acenando-Ihedo varal.
• Ao indivíduo prático, contrapóe-se o imaginativo. Amália, tro-
cada pela TV no caso 2.8, deixou-se conduzir pela ilusáo de
um casamento romántico, com o desfrute de urna intimidade
aconchegante ao final do dia, prolongando o namoro indefini-
damente. Essa sua característica de sonhar levou-a a conflitar
com Haroldo.
• Haroldo, por outro lado, além de bastante prático, tinha ou-
tra característica que ela descobriu tardiamente: urn incomodo
(para ela) distanciamento afetivo. A TV lhe proporciona urna
campánula vídeo-acústica onde imerge. Ele nao procura outras
companhias. O fria, eficiente e distante caixa bancário repre-
senta o esquizóide. Nao busca afeto; nao porque nao gasta das
pessoas, nao porque tem receio de conviver com elas; simples-
mente, nao aprecia o contato mais íntimo.
• Haroldo e Amália sao pessoas índependentes, capazes de condu-
zir plenamente suas vidas profissionais; entretanto, ela precisa
pendendo da situacáo vivenciada pelo indivíduo, podendo urna ou mais
de urna revelar-secom maior intensidade, dependendo da situacáo.
As mais conhecidas e identificadas encontram-se a seguir exemplifi-
cadas e descritas:
Saúde Mental e Transtorno Mental 101

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  • 1. Todas essas transformacóes impactam, pois, o conceito de "mode- los", Esses, ao longo da História, foram tangíveis, pessoas "de carne e osso". Em casa, o pai ou a máe ou ambos (o que nao mais acontece). Na Sociedade, eram pessoas notáveis, conhecidas, imitadas. Hoje, embora exista urna cosmética em torno dos comportamentos de artistas e esportistas, os modelos comecam a adquirir outro tipo de conotacáo. Podem, por exemplo, ser um comportamento, cuja origem se perde no emaranhado de ínformacóes das redes virtuais - surgem pa- lavras, express6es, maneirismos, gestos, acóes de que se tém vaga ou nenhuma ideia de como nasceram, firmaram-se e por quais motivos se propagaram. Concluí-se que a rede social pode servir para aproximar pessoas de modelos positivos, criando, pois, referenciais igualmente positivos, como também pode aproximá-las de modelos negativos, com efeitos prováveis sobre a delínquéncia e a criminalidade. Sob essa segunda ática, citem-se: • cresce a prática de realizar aquisicóes por meio virtual ou, no mínimo, de praticá-las sob a influencia das ínformacóes obti- das através dele; • a maioria da populacáo jovem participa de redes sociais; disso resulta excepcional efeito de penetracáo e massificacáo, prati- camente inexistente no século passado; acontecimentos políti- cos e sociais em todo o mundo comprovam esse quadro; • as redes sociais estruturam-se em linguagem convidativa ao público jovem, o que contribuí para urna retroalimentacáo po- sitiva do processo: o indivíduo sente-se acolhido (as vezes, pro- tegido pelo anonimato) e participa mais; ao fazé-lo, estimula o aperfeicoamento de processos destinados a captar e reter sua partícipacáo, e assim sucessivamente; • os sítios de relacionamento sao elementos fundamentais para orientar e comandar atitudes e comportamentos de crescente parcela da populacáo jovem. Ocupam espa<;osque, tradicio- nalmente, pertenciam a familia, ªº grupo próximo e as enti- dades de ensino. Essas últimas, por forca do absoluto fracasso do modelo de ensino brasileiro (apontado com veeméncia em inúmeras reportagens e em publicacóes especializadas), viram sua capacidade de influenciar bastante reduzida nas últimas décadas. O grupo próximo incluí a própria rede. 86 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
  • 2. A visáo sistémica do comportamento humano possibilita integrar to- dos os conhecimentos anteriores. Fonkert (2000, p. 106) alerta que "a pessoa nao é um ser isolado, mas um membro ativo e reativo de grupos sociais". Na concepcáo sistémica, as pessoas participam de uma rede de relacoee em que cada integrante in- flui e é influenciado pelos demais. Essa concepcáo foi amplamente estu- 2.7 A VISÁO SISTEMICA Assim é que as páginas policiais encontram-se povoadas de noticias de crimes, dos mais diversos tipos, planejados, preparados e até acompa- nhados a partir de informacóes colhidas por meio das redes de dados e relacionamentos sociais. As redes virtuais propiciam sensacáo de seguran~a e privacidade, evidente em comportamentos como os de armazenar dados, fotos e in- formacóes (a Polícia especializada possui inúmeros exemplos pungentes, como acontece comos casos de sequestro, pedofilia e outros). Elas tam- bém possibilitam ao indivíduo temeroso de se expor físicamente, mas ca- paz da participacáo intelectual, a atuar como organizador e estimulador dessas acóes, a ponto de exercer o papel de líder virtual, enquanto outros fazem o "trabalho sujo". Novas modalidades de a~ao criminosa continuam a aparecer e exigí- ráo novas competencias para serem contidas. Abre-se vasto campo para treinamento das equipes de prevencáo e repressáo e urna série de interro- gacóes a respeito dos procedimentos que possam ser adotados para a re- cuperacáo desses indivíduos. Isso remete, também, a quest6es complexas relacionadas com sigilo das informacóes e métodos de busca e apreensáo, necessários tanto para a investigacáo como para a prevencáo. • a combinacáo de confrontas em via pública, entre grupos de pessoas violentas (por exemplo, em início ou final de eventos esportivos); • a aglutinacáo de vándalos para depredar o patrimonio público; • a organízacáo de acóes entre malfeitores (para roubar, seques- trar etc.); • a exposicáo de críancas e adolescentes apornografía ou assédio sexual etc. Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 87
  • 3. Todo sistema compóe-se de subsistemas, organízacóes internas es- pecializadas, com objetivos e metas específicos, relativa independencia e culturas particulares. O conjunto dos subsistemas, bem como os elemen- tos que os constituem, formam o sistema maior. Sao comuns aliancas e coalizñes entre subsistemas e entre os elemen- tos que compñem cada um deles. Unióes internas (entre empregados, em- pregados e superiores, sócios, familiares, detentas) criam subsistemas. Aliancas sao unióes ocasionadas pelas identidades de interesse, sim- patias e afeto entre pessoas, na busca de objetivos comuns. Reserva-se o termo coaliziio para os casos em que as pessoas unem-se por oposicáo a outras (estratégia comum entre grupos rivais). As coalizóes tém caráter mais transitório, naturalmente, do que as aliancas, Conflitos, coalizóes e aliancas entre grupos internos fazem parte do desenvolvimento de todos os sistemas e contribuem para que eles ama- durecam e se desenvolvam. Mal conduzidos ou com propósitos inade-, quados (DESIDERIO, 1993, p. 8), podem enfraquecer o sistema. Conso- 2.7.1 Subsistemas:conflitose aliancas dada e desenvolvida pelo conceituado médico argentino SalvadorMi- nuchin(1921), criador da Terapia Estrutural Familiar. No interior de qualquer sistema (família, empresa, instituicáo de qualquer natureza), coexistem forcas de natureza aposta: de um lado, a busca de preservar o status quo; de outro, a tendencia de evoluir e am- pliar as fronteiras, incorporar novas participantes, ampliar o campo de acáo. No sistema doente, contudo, podem prevalecer forcas destrutivas: rancores, invejas e outros sentimentos enfraquecem os laces e chegam a provocar a autodestruicáo. Em um sistema, o que acontece com qualquer integrante afeta a to- dos; o comportamento resultante, visto como um todo, nao é a simples soma do comportamento de cada urna das partes. A definicáo precisa do que seja um sistema inclui a determinacáo de seus limites e, portante, é sempre relativa. O sistema familiar, por exem- plo, pode ampliar-se para estender suas fronteiras ao trabalho, ao clube, a escala, as relacóes familiares, principalmente nos tempos atuais em que "a familia se tornou aberta, diversa e plural'' (CARBONERA, 2000, p. 14). 88 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
  • 4. , . e crencas propnos. Os padróes de funcionamento de cada sistema pressupñem o de- sempenho, por seus integrantes, de determinados papéis. Falhas nesse desempenho contribuem para a nao funcionalidade do sistema e dos subsistemas que o compóem, Os comportamentos sexuais abusivos intrafamiliares, na perspectiva sistémica, associam-se a confusii.o de papéis, que torna os subsistemas dis- funcionais. Assim, a satisfacáo do desejo sexual de um dos cóniuges pode acorrer com a crianca que lhe proporciona o carinho que o outro nao lhe dá. Essa traca de papéis costuma vir acompanhada da imposicáo de um se- gredo que o medo da violencia (e/ ou crencas irracionais) se encarrega de manter e, até, acentuar. Surgem coaliz6es: pai e filha, máe e filho. Os papéis encontram-se em contínua transformacáo e acompanham a evolucáo da sociedade. Nos sistemas familiares, por exemplo, encon- tram-se mais e mais mullieres chefiando o lar; também se tornam comuns os lares monoparentais (BILAC, apud CHAVES, in CEVERNY, 2006, p. 56) e ganha relevancia o papel do pai no cuidado coma prole (CHAVES, in CEVERNY, 2006). O sistema, para lidar comos desafios externos, desenvolve padrñes de funcionamento. Há sistemas que desenvolvem padróes de funcionamento nitida- mente nao funcionais, se consideradas as leis e as regras da sociedade. Or- ganízacóes de tráfico de drogas, contrabando, desvios de recursos finan- ceiros, assaltos organizados, sequestros constituem exemplos típicos. O que se mostra funcional na perspectiva do próprio sistema revela-se nao funcional sob a ótica da sociedade e de outros sistemas. Existem, pois, sistemas que subsistem as custas da própria nao fun- cionalidade; seus integrantes, incapazes de participar da sociedade maior, recusam-se a seguir-lhe os padróes de funcionamento. Isso nao priva tais sistemas de operarem segundo padrees e critérios de elevada sofisticacáo, por meio de procedimentos complexos que solicitam valores 2.7.2 Padrñes de funcionamento mem extraordinária energía e, quando nao produzem o crescimento, o resultado é o aposto. Exemplos desse fenómeno sao as separacóes, os rompimentos de sociedades. Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 89
  • 5. A emocáo afeta as narrativas e faz com que os envolvidos (litigantes e testemunhas) acrescentem, distorcam e omitam informacóes- as vezes, inconscientemente. Em situacóes como a de Pedro e Sílvio, a falta de cornunicacáo é óbvia, bem como suas consequéncias; os acontecimentos que envolvem Guguinha, Celso, Mari Ida, Wladimir e seu pai, entretanto, contérn urna história que pre- cisa ser ouvida para se compreender o que acorre no presente. As narrativas dos participantes de conflitos revelam, em geral, gra- ves deficiencias de comunicacáo. Celso e Luciana, pouco a pouco, deixaram de se comunicar. As mensa- gens, a partir de um certo ponto, passam a ser meras tracas de estímulos agres- sivos. A explosáo de Helena nao foi simples circunstancia de um momento; a comunicacáo entre ela e Carol já se deteriorarahá algum tempo e o desenlace coroou a impossibilidade de convergéncia, cuja explicitacáo nao seria possí- vel ou aceitável. Guguinha acostumou-se ao isolamento em relacáo aos pais - comunicava-se comos amigos da escuderia. No sistema disfuncional, as comunicacóes internas ou com o am- biente apresentam-se encobertas, distorcidas, e geram elevada tensáo emocional. 2.7.3 Conteúdo da comunicacáo Ocorre, entre os indivíduos, o fenómeno da "incorporacáo dos pa- péis"; as expectativas de desempenho refletem-se no sistema de arencas deles e daqueles que com eles convivem e tornam-se determinantes em seus comportamentos. Se o papel requer agressividade,o indivíduo incorpora- -a ao seu repertório; se requer autoridade, passa a praticá-la, e assim por diante. O filme Águias em chamas mostra, em urna única e significativa cena, a transformacdo de comportamento motivada pela mudanca de papel de um indivíduo [filme de 1948, dirigido por Henry King, explora motiva- <;ao, lideranca, comportamento em grupo]. 90 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
  • 6. Os sistemas vivos possuem ciclos vitais divididos em fases. Na evo- lucáo de urna fase para outra, surge um período de iransicdo; toda mudan- ca ocasiona conflitos. 2.7.4 Ciclos vitais O produto das narrativas nao sao os fatos reais, mas as imagens que os envolvidos possuem dos acontecimentos e de seus relacionamentos (depoimentos aparentemente contraditórios de [oana e Gilberto, caso 1.1, sao exemplos disso). O significado das narrativas é mediado pela linguagem, aqual cada siste- ma imprime características próprias. Expressóes como "querido", "amor", "bandido"; frases do tipo "eu tive vontade mesmo era de acabar com ele", 11 ainda mato aquele desgracado" e outras recebem significados específicos que váo muito além da palavra. A compreensáo da linguagem influencia na interpretacáo das narrativas e na compreensáo do funcionamento do pen- samento dos envolvidos e, em decorréncia, de seus comportamentos. Na linguagem se expressa a intencáo de dominacáo e controle, o de- sejo de ser amado, o sentimento de amor, o arrependimento, a vontade de perdoar, a raiva, o despeito, o desprezo. O conteúdo de cada palavra traz dimensóes socioculturais específicas da história de cada pessoa, das familias, das organízacóes e da sociedade em geral, e assim deve ser en- tendido e analisado. A palavra müe, por exemplo, tem conotacóes insus- peitas dependendo de quema emite e de quem a ouve. • inferencias arbiirárias: conclusóes sem evidencias que as apóiem; • hipergeneralizacdo: conclusóes tiradas a partir de urna ou outra situacáo, , E comum que os envolvidos pensem de modo pouco satisfatórw e se deixem dominar por emocóes negativas. Os aspectos negativos das nar-, rativas dominam a cena e acentuam "distorcóes cognitivas" (RANGE;, DAl"l'ILIO, apud RANGE, 1995, p. 177) do tipo: Elas tornam possível identificar detalhes da história e padróes de comportamento que permitem compreender o funcionamento do siste- ma. Por isso, nao se devem perder de vista as narrativas trazidas pelas ' partes e testemunhas. As vezes, detalhes aparentemente banais (para o observador externo) sao cruciais. Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 91
  • 7. Fronteiras sao delimitacóes que os subsistemas estabelecem entre si, dentro de um sistema maior, e que os sistemas estabelecem em relacáo a outros sistemas. Elas indicam "limiares que nño devem ser ultrapassados e também as condicoee sob as quais elas sao permeáveis" (MINUCHIN; l1INU- CHIN; COLAPINTO, 1999, p. 25). As fronteiras estabelecem, para cada integrante, os limites de seu espa<;ovital e o início do espa<;odos outros. As tracas de informacóes, positivas ou negativas, através das fron- teiras, afetam o funcionamento do sistema como um todo, porque a per- 2.7.5 Fronteirasentresistemase subsistemas Esses momentos obrigam ao redesenho dos subsistemas, ao estabe- lecimento de novas tipos de aliancas e coalizóes, a fíxacáo de novas pa- dróes de funcionamento e revisáo das normas formais e informais que regem os comportamentos dentro de sistema e nas transacñes entre ele e o meio. Desenvolvem-se novas formas de comunicacáo. Todas estas transformacóes podem representar ganhos defuncionalida- de, e isso fortalecerá e consolidará o sistema; podem, entretanto, signifi- car redufiio e existiráo prejuízos na passagem para nova fase. A mudanca pode até promover a dissolucáo do sistema; por exemplo, urna filha casa- -se e seus pa1s separam-se. • adolescencia, que será estudada em capítulo específico; • casamento de filhos; • falecimento, principalmente de filho ou filha jovem; • mudanca de cidade (especialmente para adolescentes); • aquisicóes e fusñes de empresas; falencia; • inclusáo e exclusáo de sócios; • mudanca de emprego etc. A maneira como o sistema assimila esses conflitos pode ser construti- va, isto é, o sistema aprende com ele e melhora seus padróes de funciona- mento, ou destrutiva, quando acontece o aposto. Nas transicóes entre fases do ciclo vital, o sistema sempre se encentra mais vulnerável. Alguns desses períodos de transicáo sao bastante reco- nhecidos por seu impacto: 92 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
  • 8. meabilidade delas expressa como se dá o acesso as áreas demarcadas, o sentido e a intensidade da privacidade que determinam. Bleger (1989b), referindo-se a eficiencia dos grupos (urna configuracáo especial de siste- ma), destaca que ela se encontra na complementaridade de seus mem- bros, com comunícacáo autentica, alto grau de coesáo e permeabilidade de fronteiras. As fronteiras desempenham importante papel nos relacionamentos. Diversos autores, por exemplo, assinalam a nebulosa divisao defronteiras e de indiierenciadio de papéis nas familias em que ocorre violencia sexual; essa situacáo difusa dificulta a revelacáo das ocorréncias e distorce a vi- sao de mundo da vítima. Nas empresas, ocorre algo semelhante: frontei- ras nao bem delimitadas entre áreas organizacionais engendram graves conflitos de responsabilidade e autoridade. O mesmo acontece quando relacóes de negócio misturam-se com as sociais e familiares. Fronteiras extremamente permeáveis ou impermeáveis geram con- flitos. As primeiras sao representadas por famílias cujos integrantes ex- perimentam fuséio emocional intensa; seus integrantes amam-se e odeiam- -se com notável intensidade, e uns nao vivem sem os outros. Há familias, entretanto, cujos integrantes tornaram-se absolutamente desagregados (uns nao vivem comos outros); ocorre baixa fusáo emocional, indicando a impermeabilidade das fronteiras (BOWEN, apud GARNEIRO; SAM- PAIO, 2002, p. 47). Isso acontece em empresas, escolas, instituicóes de todos os tipos. As fronteiras refletem o funcionamento dos subsistemas e do siste- ma. Mau funcionamento torna-as menos nítidas, inadequadamente per- meáveis, rígidas, emaranhadas ou fluidas em demasia. Entender o funcionamento das fronteiras facilita a cornpreensáo das comunicacóes no interior do sistema e entre ele e o ambiente. A impermeabilidade nao é, necessariamente, um mal ou um defeito: no sistema penitenciário, ela se faz relativamente necessária, para evi- tar que a indispensável proximidade entre o pessoal administrativo e os detentos comprometa a seguranc;a do próprio sistema. Por outro lado, a permeabilidade é desejável para a reíntegracáo social, ao aproximar so- ciedade e cárcere. A impermeabilidade da fronteira entre Amália e Haroldo, no caso se- guinte, é conhecida e típica de muitos lares. Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 93
  • 9. Muitas demandas existem porque indivíduos perdem o senso de rea- lidade e desenvolvema falsa crenca de que os sistemas aos quais perten- cem tém a obrigacáo de responder a todas elas. 2.7.6 Sistema social Os comportamentos habituais do casal, que em algum lugar dopas- sado experimentaram convergencia, hoje se distanciam; isso compro- mete o afeto, a atracáo sexual, o diálogo conjugal indispensável a um bom relacionamento. Passaram-se oito anos e os dais evoluíram em direcóes nao conver- gentes. Se, para Amália, prevalecem, agora, o sentimento e a intuicáo, o mesmo nao acontece com Haroldo (cuja ponto de vista nao se encentra relatado). Criaram-se fronteiras impermeáveis entre eles. A comunicacáo entrou em falencia e as visóes de mundo se distanciaram. Existe um nítido fe- nómeno de percepcáo: para Amália, ele nao a espera para jantar; contu- do, a espera pode ser exaustiva para quem vem de um longo período de trabalho. O que faz o homem trocar a mulher pela TV? Ele percebe isso? Condicionou-se ao ritual "sofá-controle remoto"? A exploracáo da situacáo, sob diferentes áticas, possibilita ao(s) advogado(s) aventardiversas solucóes, que váo desde a separacáo consen- sual, passando pela mediacáo e, até mesmo, o simples aconselhamento. Amália, enfermeira plantonista de UTI, procura advogado com a inten- c;ao de separar-sede Haroldo, bancário. Casadoshá oito anos, sem filhos, ela relata a convivencia pouco harmoniosa e o quanto tem sido difícil suportar o encontro diário. Ela revela que dá grande importancia ajantarem juntos,ainda que tarde da noite, em funcáo do horário em que chega do trabalho; entretan- to, segundo ela, para Haroldo importa a satisfaoáo imediata de suas necessi- dades. Ele nao suporta esperá-la; quando ela chega, ele já jantou e assistea programasde TV, nao lhe proporcionando a atencáo desejada. Segundo Amál ia, estasituacáoafasta-oscada vez mais e, por isso, ela pre- tende a separacáo. Acredita que o marido irá criar problemas e provocar urna "provável batalha judicial". Caso 2.8 - Trocada pela TV 94 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
  • 10. A legislacáo caminha em urna velocidade nem sempre compatível com a evolucáo cultural; vezes há em que ela se atrasa; em outras, se antecipa. Mudancas culturais recentes e transformacóes de valores devem ser absorvidas pelos sistemas existentes, e isso nem sempre acorre com a presteza necessária ou desejável. A intolerancia com o comportamen- to homossexual, em inúmeras familias, é um exemplo típico; o mesmo acontece com a aceitacáo da mulher como a 11 chefe" do núcleo familiar. O cotidiano, assinala Francesco Alberoni, é social. Segundo o soció- logo italiano, "é sempre urn pensamento alheio que nos penetra, monta nas nossas costas e nos faz caminhar com ele" (ALBERONI, 1987,p. 107). Se o sistema social mais amplo tem relevancia do ponto de vista sis- témico, o mesmo acontece com aquele próximo ao indivíduo e seu nú- cleo de convivencia, que incluí trabalho, escala e outras entidades (clube, igreja etc.). Há situacñes em que o conflito no trabalho é consequente ou antece- dente do que acorre na familia (FISHMAN, 1998, p. 143).A familia pode exaurir o indivíduo, levando-o a conflitar no trabalho e vice-versa. Um comportamento explosivo no transito pode ser apenas o reflexo de urna conjugacáo de tensóes para as quais o indivíduo nao encentra válvula de seguran<;a, transformando-se em urna panela de pressáo, prestes a explodir - basta um pequeno desencadeante, por exemplo, urna colisáo numa rotatória ... Destaque-se que a inclusáo do social - micro e macro - na compreen- sao dos fenómenos comportamentais do ponto de vista sistémico nao ne- gligencia as emocóes das pessoas. Toda ocorréncia sistémica contém ele- mentos emocionais que a permeiam, ainda que de maneira sutil e, na aparencia, distante. A visáo sistémica também nao se limita ao desenho de fluxos de co- munícacáo entre os subsistemas e a identificacáo de fronteiras e de mo- mentos do ciclo vital; ela incluí a identifícacáo das emocóes presentes, a influencia que exercem sobre as pessoas e as consequéncias dos estados emocionais sobre cada urna delas. Perspectivas Teóricas (a Eterna Busca da Realidade) 95
  • 11. • compreende que nao é perfeito; • entende que nao pode ser tuda para todos; Entende-se como indivíduo "mentalmente saudável" aquele que (VOCE, 1991, p. 5): 3.1 CONCEITOS DE SAÚDE MENTAL E TRANSTORNO MENTAL Este capítulo tem por objetivo transmitir ao leitor conhecimentos es- senciais para a compreensáo dos conceitos de saúde mental e de trans- tornomental. Apresentam-seas descricñesdos transtornosmentaismais frequentes e encerra-se com consideracóes a respeito do Exame de Esta- do Mental. Femando Pessoa (2006,p. 177) . . . nós níio sabemos o que é siio ou doente na vida social. Saúde mentale transtornomental 3
  • 12. O transtornomental impossibilita atuar dentro de padróes de norma- lidade,aceites comotais no ambiente do indivíduo, e isso se toma percep- tível para os demais. Destaque-se que "normalidade e anormalidade existem em um continuum [... ]. Aprimeira vista, pessoas com distúrbios psicológicos siio geralmente indistintas daquelas que niio os iém" (WEITEN, 2002,p. 411). Efetivamente, "delimitar os conceitos de saúde e doenca mental nao é ta- refa fácil, como também definir a nodio de saúde e de normalidade mental. .. as fronteiras siio, em boa medida, relativas, circunstanciais e mutantes", assinalam Gomes e Melina (1997, p. 226). Por isso, o diagnóstico por profissionais especializados é indispensável. As características dos transtornos, orgánicos ou mentáis, transfor- mam-se com o passar do tempo. Novos sao identificados, alguns acen- tuam-se, enquanto outros apresentam reducáo, Por exemplo, registra-se perceptível aumento de transtornos associados a estresse. O mesmo acontece comos resultados dos diagnósticos, explica Thomas Szasz (1996, p. 12), professor emérito de Psiquiatríana State University • funfoes mentais superiores recebem interferencia, dificultando ou afetando a atuacáo (por exemplo, o indivíduo nao consegue lembrar-se de compromissos); • atividades da vida diaria, rotineiras, usualmente necessárias, so- frem comprometimento em algum grau. A pessoa sadia "muda construtos pessoais que se originam de predicoes refutadas pela experiencia. A pessoa nao sadia [... ] tem urna teoria sobre con- seouéncias [... ] que nao funciona, mas nao consegue mudá-la" (KELLY, apud HALL;LINDZEY;CAMPBELL,2000,p. 329). A expressáo transtorno mental, adotada em lugar de 11 doenca", acom- panha o critério da CID-10 (1993, p. 5): o desvío ou conflito social sozi- nho, sem comprometimento do funcionamento do indioiduo, nao deve ser in- cluído em transtorno mental. Há comprometimento quando: • vivencia urna vasta gama de emocóes: • enfrenta desafíos e mudancas da vida cotidiana; • procura ajuda para lidar com traumas e transicóes importantes (nao se considera onipotente). Saúde Mental e Transtomo Mental 97
  • 13. Questáo sempre presente no estudo e na observacáo dos comporta- mentos, e muitas vezes lembrada para tentar justificar delitos, é o papel representado pelo instinto, o "esquema de comportamento herdado, próprio de urna espécie animal, que pouco varia de um indivíduo para outro, que se desenro- la segundo urna sequéncia temporal pouco susceptível de alieracies e que parece corresponder a urnafinalidade" (LAPLANCHE; PONTALIS, 1995,p. 241). Observacáo: As pessoas modificam seus comportamentos, involuntariamente, ao se perceberem observadas ou sabendo que isso acorre ou possa aconte- cer: delinquentes, vítimas, testemunhas, profissionais do direito nao fa- zem excecáo. Hawthorne demonstrou, cientificamente,a existencia da ieairalizacdo, em sua célebre e, sob alguns aspectos, surpreendenteexperienciacom tra- balhadores (HUFFMAN; VERNOY; VERNOY, 2003, p. 651). Compreen- de-se, pois, o alerta de Skinner. Os comportamentosacontecem em um esquema de referencia de valores e expectativas. Modificam-se como tempo e, em geral, sao contingenciais. Skinner(1992,p.31) O estudo distorce a coisa estudada. 3.2 COMPORTAMENTO USUAL: PERSONALIDADE of New York: pelo fato de serem "inierpreiadies sociais, eles variam de tempo em tempo e de cultura a cultura". Exemplo: homossexualidade. A observacáo comprova que DORT (doenca ocupacionalrelacionada ao trabalho), queixa comum, geradora de inúmeros afastamentos do tra- balho e acóes indenizatórias, manifesta-se com maior incidencia em algu- mas categorías profissionais e menos em outras, ainda que as atividades re- petitivas sejam semelhantes; isso sugere urna conotacáo emocionala qual devem estar atentos médicos do trabalho e advogados trabalhistas, tanto os que representam o empregado, como os patronais. 98 Psicologíajurídica · Fíorelli, Mangíni
  • 14. Em um ambiente sob controle (por exemplo, na presenc;a de juiz ou delegado de polícia), urna pessoa pode se mostrar dócil, porque na cor- te de [ustica ou na delegacia nao se encontram condícóes estimulado- ras da agressividade; contudo, a mesma pessoa pode mostrar-se agres- conforme a situacáo na qual acorre, bem como de acordo com proprieda- des da acáo e que é possível considerar que os seres humanos atuam a par- tir de urna determinada história pessoal, bem como a partir de um contex- to, composto por inúmeras variáveis, como o ambiente social, económico, cultural, político. Kaplan e Sadock (1993, p. 556) conceituam personalidade como a "to- talidade relativamente estável e previsível dos traros emocionais e comporiamen- tais que caracterizam a pessoa na vida cotidiana, sob condicñes normais". Estabilidade, contudo, nao significa imutabilidade; Gordon Allport transmite adequadamente essa compreensáo: "personalidade é a organiza- fªº dinámica, dentro do indivíduo, daqueles sistemas psicofísicos que determi- nam seus ajustamentos únicos ao ambiente" (CAMPBELL;HALL; LINDZEY, 2000,p. 228). A personalidade, acentue-se, "só se manifesta quando a pessoa está se comportando em reladio a um ou mais indivíduos", presentes ou nao, reais ou ilusórios (BRAGHIROLLIet al., 1998,p. 141). Trata-se de urna "entidade hipotética que niio pode ser isolada de situaroes interpessoais, e o comporiamen- to interpessoal é tudo o que podemos observar da personalidade" (SULLIVAN, apud BRAGHIROLLI et al., 1998, p. 138). Kienen e Wolff (2002,p. 17-19) assinalam que o comportamento varia 3.2..1 Personalidade Para Lundin (1977,p. 61), os reflexos (movimentos automáticos ante estimulacáo, como o reflexo patelar) e o engatinhar do bebe constituem exemplos da limitada quantidade desse tipo de comportamento. O pro- cesso de cioilizadio afasta o indivíduo do 11 comportamento por instinto" e o conduz a práticas em contradicáo com a predisposícáo orgáníco-anató- mica (como as adotadas para evacuar e dar a luz). O comportamento por instinto praticamente nao existe enao sao acei- táveis argumentos fundamentados na resposta instintiva para justificá-lo. Saúde Mental e Transtomo Mental 99
  • 15. As emocóes do momento, entretanto, temo poder de alterar a pre- dominancia de urna ou mais características e conduzem a comportamen- tos imprevisíveis ou inesperados, sem que isso indique qualquer tipo de transtorno mental. As características de personalidade nao se manifestam de maneira isolada; elas apresentam-se sobrepostas, intercaladas e alternadas, de- As descrícóes apresentadas a seguir sao úteis para descrever com- portamentos, porém nao para preve-los, principalmente em situacóes de grande emocáo, como acorre nos conflitos, depoimentos, julgamentos e outras. Nao há personalidade "normal" ou características normais. Todos as apre- sentam em maior ou menor grau, combinadas de infinitas maneiras, o que torna cada mdivíduo único em sua maneira de se comportar. Cada característica possui aspectos positivos e negativos, dependendo da situa- :ªº e intensidade com que se apresentam; portanto, nenhuma é absolu- tamente "boa" ou "má". 3.2.2 Características de personalidade siva em casa, no transito ou no trabalho. Muda o ambiente, modifica-se o comportamento. Diversas classificacóes nao científicas de personalidade procuraram relacionar o tipo físico com o comportamento típico do indivíduo (gordo - alegre, magro - sisudo etc.). O único resultado prático é a inducáo de pré-julgamentos; desprovidos de sentido, nao consideram fatores cru- ciais como as influencias do meio, a educacáo recebida, o ambiente de trabalho e a cultura em que o indivíduo encontra-se Inserido. Sintetizando as defínícóes apresentadas, conceitua-se personalidade como a condicáo estável e duradoura dos comportamentos da pessoa, embo- ra nao permanente. Os comportamentos típicos, estáveis, persistentes que formam o padriio por meio do qual o indivíduo se comporta em suas relacóes, nas mais diversas situacóes do convívio social, de trabalho e familiar, recebem a denominacáo de características de personalidade. As manifest(lfóes dessas características formam a imagem mental, para os observadores, do com- portamento mais esperado dessa pessoa em cada tipo de circunstancia. 100 Psicologiajurídíca · Fiorelli, Mangini
  • 16. • Olavo, o pai zeloso do caso 2.4, demonstra consciencia social, representada pelo senso de dever em relacáo ao filho, mal cui- dado pela máe, empolgada com o futebol. A pessoa atua, até mesmo em prejuízo próprio, pelo bem comurn. • Nao se pode dizer o mesmo daquele que se aproveita da posi- <;ao que ocupa para obter vantagens próprias; nesse caso, do- mina a característica antissocial, cujas paradigmas sao o trafi- cante de drogas e o sequestrador. O antissocial age para prejudicar a sociedade; Everaldo e Betáo, apresentados no caso 2.5, cons- tituem exemplos. • Entretanto, olhe-se Betáo mais de perto e se encontrará um in- divíduo dotado de praticidade; ele se concentra no momento presente e na maneira mais direta de atuar; talvez seja o caso de Cleuza, a mamáe camisa 10, e de Dídio, no caso 1.4, que nao resistiu as roupas acenando-Ihedo varal. • Ao indivíduo prático, contrapóe-se o imaginativo. Amália, tro- cada pela TV no caso 2.8, deixou-se conduzir pela ilusáo de um casamento romántico, com o desfrute de urna intimidade aconchegante ao final do dia, prolongando o namoro indefini- damente. Essa sua característica de sonhar levou-a a conflitar com Haroldo. • Haroldo, por outro lado, além de bastante prático, tinha ou- tra característica que ela descobriu tardiamente: urn incomodo (para ela) distanciamento afetivo. A TV lhe proporciona urna campánula vídeo-acústica onde imerge. Ele nao procura outras companhias. O fria, eficiente e distante caixa bancário repre- senta o esquizóide. Nao busca afeto; nao porque nao gasta das pessoas, nao porque tem receio de conviver com elas; simples- mente, nao aprecia o contato mais íntimo. • Haroldo e Amália sao pessoas índependentes, capazes de condu- zir plenamente suas vidas profissionais; entretanto, ela precisa pendendo da situacáo vivenciada pelo indivíduo, podendo urna ou mais de urna revelar-secom maior intensidade, dependendo da situacáo. As mais conhecidas e identificadas encontram-se a seguir exemplifi- cadas e descritas: Saúde Mental e Transtorno Mental 101