SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
Novos gerentes: formação, seleção e avaliação
Flavio Farah*
RESUMO
Este texto é um resumo do estudo principal.
Introdução – Gerentes e novos gerentes
Gerentes. Em qualquer empresa, gerente é um indivíduo que dirige o trabalho de outras pessoas e
que, portanto, é responsável pelo trabalho dessas pessoas. A missão de todos os gerentes, em qual-
quer tipo de organização e em todos os níveis dentro de uma organização, é manter um ambiente no
qual grupos de indivíduos possam cumprir tarefas e objetivos pré-estabelecidos. Gerentes eficazes
favorecem o alcance de resultados por parte de sua equipe. Em contraste, maus gestores podem cus-
tar caro para suas organizações.
Gerentes de primeiro nível. Na hierarquia das empresas, uma das categorias gerenciais é a dos ge-
rentes de primeiro nível, que são os gestores de nível hierárquico mais baixo na organização. Esses
gerentes supervisionam apenas funcionários não gerentes – eles não dirigem o trabalho de outros
gerentes. É comum os gerentes de primeiro nível serem chamados de supervisores, mas também po-
dem possuir outros títulos, tais como coordenador, encarregado, chefe de seção, chefe de setor, líder
de turma, líder de produção ou líder de projeto.
Uma das necessidades básicas de qualquer empresa é dispor de gerentes de primeiro nível compe-
tentes. Os supervisores competentes na gestão de pessoas influenciam os subordinados no sentido
de: a) melhor desempenho; b) mais comprometimento; c) menor tendência a deixar a organização.
Em contraste, supervisores incompetentes provocam aumento no índice de rotatividade.
Transição. O ingresso de um funcionário não gerente na carreira gerencial não é uma promoção,
mas sim, uma mudança de carreira, pois a maior parte das competências que o funcionário já possui
pouco o ajudarão no exercício da gerência. Quando um funcionário passa a ocupar o posto de ge-
rente de primeiro nível, ele precisa realizar uma mudança extremamente crítica: abandonar a execu-
ção para, imediatamente, assumir a gestão, ou seja, em vez de executar tarefas, ele deve passar a to-
mar providências para que o trabalho seja feito pela equipe. Para um profissional não-gerente, acos-
tumado a realizar atividades técnicas, essa é uma mudança drástica e muito difícil porque implica
assumir, a curtíssimo prazo, uma nova identidade profissional, com tarefas e responsabilidades radi-
calmente diferentes daquelas exercidas no antigo cargo técnico. Isto significa deixar de ver-se como
executante para enxergar-se como gestor. Além da mudança de identidade, a transição exige, tam-
bém em curto prazo, uma quantidade enorme de aprendizagem por parte do indivíduo. Em tais con-
dições, os requisitos da transição – grande mudança e grande aprendizagem – obrigam o profissio-
nal a transformar-se profundamente.
Conclusão. Conclui-se, pois, que, quando se pensa em preparar gestores, a prioridade deve recair
sobre os gerentes de primeiro nível. Primeiro, em razão de sua importância para as empresas; se-
gundo, por um aspecto específico da ascenção a esse nível que é a mudança drástica representada
pelo ingresso na carreira gerencial; terceiro, pela exigência de uma grande quantidade de aprendiza-
gem por parte dos candidatos à gerência; quarto, porque gestores de primeiro nível mal escolhidos e
mal formados se transformarão em maus executivos, caso cheguem a essa posição.
Situação atual
Seleção
Problemas. Embora os processos de seleção de gerentes de primeiro nível variem de empresa para
empresa, eles possuem alguns problemas que se repetem. Por exemplo, é comum que os novos ge-
rentes ingressem na carreira gerencial por indicação do superior direto, o que compromete a eficácia
da escolha em razão do despreparo do superior. Outro problema frequente é estabelecer que apenas
os funcionários de melhor desempenho podem participar do processo. Uma terceira dificuldade é
que os candidatos aceitam a promoção à gerência pelas razões erradas.
Sigilo. Outra questão relativa ao processo de seleção de novos gerentes é o dilema sigilo  transpa-
rência. O primeiro aspecto do sigilo refere-se à decisão de se informar a um profissional que ele es-
tá sendo cogitado para ingresso na carreira gerencial. O segundo aspecto é a existência das seguin-
tes normas rígidas: a) as opiniões emitidas nas reuniões dos Comitês de Carreira são confidenciais;
b) a comunicação de uma decisão (promoção, transferência etc.) é feita sem apresentar as justificati-
vas que a fundamentaram e sem que os descontentes tenham o direito de contestar a decisão.
Favorecimento de trainees. Costuma-se favorecer os trainees em relação aos outros funcionários.
Os programas de trainees destinam-se a selecionar candidatos recém-formados que serão treinados
para ocupar posições gerenciais. Como consequência, os funcionários da casa – em particular os ex-
estagiários que foram efetivados – tendem a ser discriminados, recebendo menos atenção e tendo
menos oportunidades de ingresso na carreira gerencial do que os trainees recém-contratados. Esse
pode ser um erro custoso: a empresa pode estar desprezando técnicos de bom potencial gerencial.
Formação
Apesar da importância da gerência de primeiro nível para as empresas, da dificuldade de transição
para a carreira gerencial e da necessidade de os candidatos a gerente adquirirem grandes volumes de
conhecimentos e habilidades, profissionais jovens têm assumido cargos de supervisão sem preparo
adequado. Um dos possíveis motivos para a falta de qualificação dos novos gerentes são as defi-
ciências da grade curricular dos cursos de Administração, que não fornecem a seus alunos as com-
petências gerenciais necessárias. Se os bacharéis em Administração concluem o curso sem ter ad-
quirido as competências de que precisam para ingressar na carreira gerencial, então é pouco prová-
vel que os graduados em outros cursos superiores possuam essas competências e menos provável
ainda que os não graduados as possuam.
Avaliação
Para decidir quem deve ser promovido à carreira gerencial, muitas empresas utilizam Comitês de
Carreira e avaliam seus talentos segundo duas dimensões: desempenho e potencial. O próprio pro-
cesso avaliativo, porém, constitui outra fonte de problemas, que precisam ser examinados.
Avaliação de desempenho. A primeira questão que se coloca é se faz sentido avaliar o desempenho
de um candidato a ingresso na carreira gerencial. Considerando-se que desempenho de um profis-
sional é o conjunto dos resultados e comportamentos apresentados por ele, parece não fazer sentido
avaliar os resultados exibidos por um técnico porque, como tal, sua missão é executar atividades pa-
ra obter resultados, ao passo que, como gerente, ele deverá fazer com que sua equipe execute as ati-
vidades necessárias à geração dos resultados previstos. No tocante a comportamentos, se o profis-
sional for deficiente em quaisquer aspectos dessa área, essas deficiências poderão ser supridas me-
diante treinamento adequado. A questão, portanto, não é se o profissional possui uma dada compe-
tência, mas se tem capacidade para adquiri-la, ou seja, se tem potencial.
Conclui-se, pois, que parece ser inútil avaliar o desempenho passado de um candidato a ingresso na
carreira gerencial. A esse respeito, um equívoco comum é promover um profissional à gerência co-
mo prêmio por seu bom desempenho como técnico. A promoção a um cargo gerencial, todavia, não
deve ser encarada como prêmio. Quem deve ser promovido a gerente é aquele que tem potencial pa-
ra sê-lo, independentemente de seu desempenho como técnico, pela simples razão de que o poten-
cial e as competências requeridas de um gerente são diferentes dos exigidos do técnico. Outra razão
é que o profissional que tem bom desempenho como técnico pode não ter interesse na gerência, sen-
do contraproducente forçar ou induzir qualquer funcionário a aceitar a carreira gerencial.
Avaliação de potencial. Quando se trata de avaliar o potencial, a questão torna-se mais grave: as
empresas têm realizado a avaliação de potencial de candidatos à gerência por meio de instrumentos
que não se baseiam em uma definição desse construto ou que se baseiam em conceitos equivocados.
Falta a tais instrumentos, portanto, um requisito essencial: a validade de construto.* Em tais condi-
ções, a avaliação de potencial dos gerentes e candidatos à gerência tende a produzir informações
não confiáveis para a tomada de decisão.
Situação típica
Temos, portanto, a seguinte situação típica: em dado momento, um profissional é surpreendido pela
informação de que vai ser promovido a gerente. Ele agradece a promoção, aceitando-a tacitamente,
mas sem desejá-la, sem saber ao certo se a deseja ou desejando-a pelas razões erradas. Ele ingressa
na carreira gerencial sem ter formação como gerente e sem saber o que significa ser gestor, pois
nunca pôde conhecer as realidades da carreira gerencial. Mesmo quando está certo de que não dese-
ja ser gerente ou não tem certeza do que quer, o profissional aceita a promoção provavelmente por-
que supõe que recusá-la seria uma ofensa ou por acreditar que, se recusá-la, ficará mal visto pela
empresa e prejudicará seu futuro na organização.
Desempenho
O resultado da seleção e formação inadequadas é que a maioria dos novos gerentes falham, provo-
cando deficiências de desempenho e aumento de rotatividade em toda a equipe. Mais grave: é fre-
quente que os profissionais se vejam forçados a ingressar na carreira gerencial ou que nela ingres-
sem voluntariamente e depois se arrependam da decisão.
Conclusão
Conclui-se, pois, que o processo de seleção de novos gerentes possui várias deficiências que com-
prometem fortemente sua eficácia.
* Validade de construto é um conceito da Psicometria.
Proposta
Para evitar as deficiências apontadas anteriormente e aumentar a probabilidade de se elegerem bons
candidatos à gerência, é necessário: 1º) elaborar e implantar um programa de formação de novos ge-
rentes; 2º) corrigir as deficiências da avaliação de potencial; 3º) elaborar e implantar um processo
mais eficaz de seleção de novos gerentes.
Formação. O conteudo ideal de um curso de formação de supervisores é composto pelas competên-
cias que um supervisor precisa possuir. Essa relação de competências denomina-se PC – Perfil de
Competências – do supervisor. Para se elaborar o PC do supervisor, é conveniente tomar como pon-
to de partida a DC – Descrição de Cargo – ideal do cargo de supervisor, que é uma relação de tare-
fas, deveres e responsabilidades ideais do cargo. De posse da DC ideal, pode-se elaborar a relação
das competências necessárias para realizar as respectivas atividades, relação essa que constituirá o
PC do supervisor. O PC representa o conteudo ideal de um curso de formação de novos gerentes.
Avaliação de potencial. É preciso adotar um conceito psicológico de potencial e, para medi-lo, es-
colher instrumentos coerentes com a definição.
Seleção. Propõe-se um novo processo interno composto das seguintes etapas:
Etapa 1 – Inscrição dos candidatos
Etapa 2 – Palestra
Etapa 3 – Vivência
Etapa 4 – Avaliação de potencial 1
Etapa 5 – Avaliação de potencial 2
Etapa 6 – Avaliação de potencial 3
Etapa 7 – Formação
Etapa 8 – Treinamento prático e desenvolvimento
Etapa 9 – Promoção provisória
Regras do processo seletivo. Os candidatos serão avaliados nas etapas de 4 a 9. Na etapa 1 haverá
apenas uma verificação de cumprimento dos pré-requisitos para inscrição. Nas etapas 2 e 3 não ha-
verá avaliação. Os candidatos poderão desistir em qualquer etapa, inclusive durante a etapa 9. A de-
sistência deverá ser formalizada por escrito pelo candidato e não precisará ser justificada. Será con-
siderado desistente o candidato que não comparecer para cumprir uma etapa. Os candidatos aprova-
dos em uma das etapas de 4 a 7 passarão à etapa seguinte. Os candidatos aprovados na etapa 8 serão
classificados como habilitados para ingresso na carreira gerencial. Os candidatos que desistirem,
bem como os reprovados em uma das etapas de 4 a 8, serão excluidos do processo e continuarão em
suas funções atuais. Quando surgir uma vaga de gerente de primeiro nível, será escolhido um dos
habilitados, o qual assumirá o posto em caráter provisório e passará por um período de experiência
(etapa 9). Se for aprovado na experiência, a promoção será tornada definitiva; caso contrário, retor-
nará ao cargo anterior.
* Flavio Farah é Mestre em Administração de Empresas, Professor Universitário, Especialista em Ética e autor
do livro Ética na Gestão de Pessoas. Contato: farah@flaviofarah.com

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Paf mat2ciclo p-11
Paf mat2ciclo p-11Paf mat2ciclo p-11
Paf mat2ciclo p-11
bibaevst
 
Romeu ferreira queiroz
Romeu ferreira queirozRomeu ferreira queiroz
Romeu ferreira queiroz
megacidadania
 
Ass comunidades virtuais
Ass comunidades virtuaisAss comunidades virtuais
Ass comunidades virtuais
Vitor Paisante
 
José rodrigues borba
José rodrigues borbaJosé rodrigues borba
José rodrigues borba
megacidadania
 
Como insertar un video de you tube en powerpoint
Como insertar un video de you tube en powerpointComo insertar un video de you tube en powerpoint
Como insertar un video de you tube en powerpoint
antonio547
 
Reflexo no espelho_partido
Reflexo no espelho_partidoReflexo no espelho_partido
Reflexo no espelho_partido
Luciana Schmitt
 
Novo ciclo, exploração e transformação florestal lda
Novo ciclo, exploração e transformação florestal ldaNovo ciclo, exploração e transformação florestal lda
Novo ciclo, exploração e transformação florestal lda
Inês Gonçalves
 
Padrões e simetrias a1
Padrões e simetrias a1Padrões e simetrias a1
Padrões e simetrias a1
eb1penha4
 
Puerto salvador allende
Puerto salvador allendePuerto salvador allende
Puerto salvador allende
nolvai
 

Destaque (20)

Paf mat2ciclo p-11
Paf mat2ciclo p-11Paf mat2ciclo p-11
Paf mat2ciclo p-11
 
El Valor de la Puntualidad
El Valor de la PuntualidadEl Valor de la Puntualidad
El Valor de la Puntualidad
 
Romeu ferreira queiroz
Romeu ferreira queirozRomeu ferreira queiroz
Romeu ferreira queiroz
 
Ass comunidades virtuais
Ass comunidades virtuaisAss comunidades virtuais
Ass comunidades virtuais
 
Vietnã
VietnãVietnã
Vietnã
 
Reposteria 10 español informatica
Reposteria 10 español informaticaReposteria 10 español informatica
Reposteria 10 español informatica
 
José rodrigues borba
José rodrigues borbaJosé rodrigues borba
José rodrigues borba
 
Como insertar un video de you tube en powerpoint
Como insertar un video de you tube en powerpointComo insertar un video de you tube en powerpoint
Como insertar un video de you tube en powerpoint
 
EMSR nORTEe
EMSR nORTEeEMSR nORTEe
EMSR nORTEe
 
Avaliação 1º bimestre 15 9º ano ens. fund.
Avaliação 1º bimestre 15   9º ano ens. fund.Avaliação 1º bimestre 15   9º ano ens. fund.
Avaliação 1º bimestre 15 9º ano ens. fund.
 
Jogos computacionais
Jogos computacionaisJogos computacionais
Jogos computacionais
 
Reflexo no espelho_partido
Reflexo no espelho_partidoReflexo no espelho_partido
Reflexo no espelho_partido
 
Informatie bij het Sasje
Informatie bij het SasjeInformatie bij het Sasje
Informatie bij het Sasje
 
DIAPOSITIVA
DIAPOSITIVADIAPOSITIVA
DIAPOSITIVA
 
Novo ciclo, exploração e transformação florestal lda
Novo ciclo, exploração e transformação florestal ldaNovo ciclo, exploração e transformação florestal lda
Novo ciclo, exploração e transformação florestal lda
 
TECNOLOGÍA
TECNOLOGÍATECNOLOGÍA
TECNOLOGÍA
 
A imagem semelhanca_deus
A imagem semelhanca_deusA imagem semelhanca_deus
A imagem semelhanca_deus
 
Colaciones
ColacionesColaciones
Colaciones
 
Padrões e simetrias a1
Padrões e simetrias a1Padrões e simetrias a1
Padrões e simetrias a1
 
Puerto salvador allende
Puerto salvador allendePuerto salvador allende
Puerto salvador allende
 

Mais de Flavio Farah

Queixas trabalhistas contra empresas asiáticas: abaixo o relativismo ético
Queixas trabalhistas contra empresas asiáticas: abaixo o relativismo éticoQueixas trabalhistas contra empresas asiáticas: abaixo o relativismo ético
Queixas trabalhistas contra empresas asiáticas: abaixo o relativismo ético
Flavio Farah
 

Mais de Flavio Farah (20)

O risco de votar em candidatos populistas
O risco de votar em candidatos populistasO risco de votar em candidatos populistas
O risco de votar em candidatos populistas
 
Modelos de gestão da Ética Empresarial
Modelos de gestão da Ética EmpresarialModelos de gestão da Ética Empresarial
Modelos de gestão da Ética Empresarial
 
Ética Empresarial e Governança Corporativa
Ética Empresarial e Governança CorporativaÉtica Empresarial e Governança Corporativa
Ética Empresarial e Governança Corporativa
 
CBGP - Comunidade Brasileira de Gestão de Pessoas - proibida a entrada de doc...
CBGP - Comunidade Brasileira de Gestão de Pessoas - proibida a entrada de doc...CBGP - Comunidade Brasileira de Gestão de Pessoas - proibida a entrada de doc...
CBGP - Comunidade Brasileira de Gestão de Pessoas - proibida a entrada de doc...
 
Ética e Relações Humanas na conduta do professor universitário
Ética e Relações Humanas na conduta do professor universitárioÉtica e Relações Humanas na conduta do professor universitário
Ética e Relações Humanas na conduta do professor universitário
 
Para ser bom professor é preciso, sim, ter vocação
Para ser bom professor é preciso, sim, ter vocaçãoPara ser bom professor é preciso, sim, ter vocação
Para ser bom professor é preciso, sim, ter vocação
 
Gerente autoritário: uma das principais causas dos problemas de Gestão de Pes...
Gerente autoritário: uma das principais causas dos problemas de Gestão de Pes...Gerente autoritário: uma das principais causas dos problemas de Gestão de Pes...
Gerente autoritário: uma das principais causas dos problemas de Gestão de Pes...
 
Estratégia empresarial
Estratégia empresarialEstratégia empresarial
Estratégia empresarial
 
Como escolher um candidato a Presidente da República
Como escolher um candidato a Presidente da RepúblicaComo escolher um candidato a Presidente da República
Como escolher um candidato a Presidente da República
 
Medidas anticorrupção
Medidas anticorrupçãoMedidas anticorrupção
Medidas anticorrupção
 
Fixação de metas: uma prática sem sentido, nociva e ilegítima
Fixação de metas: uma prática sem sentido, nociva e ilegítimaFixação de metas: uma prática sem sentido, nociva e ilegítima
Fixação de metas: uma prática sem sentido, nociva e ilegítima
 
O preconceito contra o conhecimento teórico e a importância prática da teoria
O preconceito contra o conhecimento teórico e a importância prática da teoriaO preconceito contra o conhecimento teórico e a importância prática da teoria
O preconceito contra o conhecimento teórico e a importância prática da teoria
 
Os cursos de administração formam administradores (int)
Os cursos de administração formam administradores (int)Os cursos de administração formam administradores (int)
Os cursos de administração formam administradores (int)
 
Misérias morais da imprensa brasileira
Misérias morais da imprensa brasileiraMisérias morais da imprensa brasileira
Misérias morais da imprensa brasileira
 
Participação acionária de administradores e empregados: legalidade e moralidade
Participação acionária de administradores e empregados: legalidade e moralidadeParticipação acionária de administradores e empregados: legalidade e moralidade
Participação acionária de administradores e empregados: legalidade e moralidade
 
Competência: um conceito indispensável
Competência: um conceito indispensávelCompetência: um conceito indispensável
Competência: um conceito indispensável
 
Avaliação de desempenho: uma tragédia recorrente
Avaliação de desempenho: uma tragédia recorrenteAvaliação de desempenho: uma tragédia recorrente
Avaliação de desempenho: uma tragédia recorrente
 
Queixas trabalhistas contra empresas asiáticas: abaixo o relativismo ético
Queixas trabalhistas contra empresas asiáticas: abaixo o relativismo éticoQueixas trabalhistas contra empresas asiáticas: abaixo o relativismo ético
Queixas trabalhistas contra empresas asiáticas: abaixo o relativismo ético
 
Retenção de talentos - Resumo
Retenção de talentos - ResumoRetenção de talentos - Resumo
Retenção de talentos - Resumo
 
Testes de personalidade em seleção de pessoas: benéficos ou danosos?
Testes de personalidade em seleção de pessoas: benéficos ou danosos?Testes de personalidade em seleção de pessoas: benéficos ou danosos?
Testes de personalidade em seleção de pessoas: benéficos ou danosos?
 

Novos gerentes: formação, seleção e avaliação

  • 1. Novos gerentes: formação, seleção e avaliação Flavio Farah* RESUMO Este texto é um resumo do estudo principal. Introdução – Gerentes e novos gerentes Gerentes. Em qualquer empresa, gerente é um indivíduo que dirige o trabalho de outras pessoas e que, portanto, é responsável pelo trabalho dessas pessoas. A missão de todos os gerentes, em qual- quer tipo de organização e em todos os níveis dentro de uma organização, é manter um ambiente no qual grupos de indivíduos possam cumprir tarefas e objetivos pré-estabelecidos. Gerentes eficazes favorecem o alcance de resultados por parte de sua equipe. Em contraste, maus gestores podem cus- tar caro para suas organizações. Gerentes de primeiro nível. Na hierarquia das empresas, uma das categorias gerenciais é a dos ge- rentes de primeiro nível, que são os gestores de nível hierárquico mais baixo na organização. Esses gerentes supervisionam apenas funcionários não gerentes – eles não dirigem o trabalho de outros gerentes. É comum os gerentes de primeiro nível serem chamados de supervisores, mas também po- dem possuir outros títulos, tais como coordenador, encarregado, chefe de seção, chefe de setor, líder de turma, líder de produção ou líder de projeto. Uma das necessidades básicas de qualquer empresa é dispor de gerentes de primeiro nível compe- tentes. Os supervisores competentes na gestão de pessoas influenciam os subordinados no sentido de: a) melhor desempenho; b) mais comprometimento; c) menor tendência a deixar a organização. Em contraste, supervisores incompetentes provocam aumento no índice de rotatividade. Transição. O ingresso de um funcionário não gerente na carreira gerencial não é uma promoção, mas sim, uma mudança de carreira, pois a maior parte das competências que o funcionário já possui pouco o ajudarão no exercício da gerência. Quando um funcionário passa a ocupar o posto de ge- rente de primeiro nível, ele precisa realizar uma mudança extremamente crítica: abandonar a execu- ção para, imediatamente, assumir a gestão, ou seja, em vez de executar tarefas, ele deve passar a to- mar providências para que o trabalho seja feito pela equipe. Para um profissional não-gerente, acos- tumado a realizar atividades técnicas, essa é uma mudança drástica e muito difícil porque implica assumir, a curtíssimo prazo, uma nova identidade profissional, com tarefas e responsabilidades radi- calmente diferentes daquelas exercidas no antigo cargo técnico. Isto significa deixar de ver-se como executante para enxergar-se como gestor. Além da mudança de identidade, a transição exige, tam- bém em curto prazo, uma quantidade enorme de aprendizagem por parte do indivíduo. Em tais con- dições, os requisitos da transição – grande mudança e grande aprendizagem – obrigam o profissio- nal a transformar-se profundamente. Conclusão. Conclui-se, pois, que, quando se pensa em preparar gestores, a prioridade deve recair sobre os gerentes de primeiro nível. Primeiro, em razão de sua importância para as empresas; se- gundo, por um aspecto específico da ascenção a esse nível que é a mudança drástica representada pelo ingresso na carreira gerencial; terceiro, pela exigência de uma grande quantidade de aprendiza- gem por parte dos candidatos à gerência; quarto, porque gestores de primeiro nível mal escolhidos e mal formados se transformarão em maus executivos, caso cheguem a essa posição.
  • 2. Situação atual Seleção Problemas. Embora os processos de seleção de gerentes de primeiro nível variem de empresa para empresa, eles possuem alguns problemas que se repetem. Por exemplo, é comum que os novos ge- rentes ingressem na carreira gerencial por indicação do superior direto, o que compromete a eficácia da escolha em razão do despreparo do superior. Outro problema frequente é estabelecer que apenas os funcionários de melhor desempenho podem participar do processo. Uma terceira dificuldade é que os candidatos aceitam a promoção à gerência pelas razões erradas. Sigilo. Outra questão relativa ao processo de seleção de novos gerentes é o dilema sigilo  transpa- rência. O primeiro aspecto do sigilo refere-se à decisão de se informar a um profissional que ele es- tá sendo cogitado para ingresso na carreira gerencial. O segundo aspecto é a existência das seguin- tes normas rígidas: a) as opiniões emitidas nas reuniões dos Comitês de Carreira são confidenciais; b) a comunicação de uma decisão (promoção, transferência etc.) é feita sem apresentar as justificati- vas que a fundamentaram e sem que os descontentes tenham o direito de contestar a decisão. Favorecimento de trainees. Costuma-se favorecer os trainees em relação aos outros funcionários. Os programas de trainees destinam-se a selecionar candidatos recém-formados que serão treinados para ocupar posições gerenciais. Como consequência, os funcionários da casa – em particular os ex- estagiários que foram efetivados – tendem a ser discriminados, recebendo menos atenção e tendo menos oportunidades de ingresso na carreira gerencial do que os trainees recém-contratados. Esse pode ser um erro custoso: a empresa pode estar desprezando técnicos de bom potencial gerencial. Formação Apesar da importância da gerência de primeiro nível para as empresas, da dificuldade de transição para a carreira gerencial e da necessidade de os candidatos a gerente adquirirem grandes volumes de conhecimentos e habilidades, profissionais jovens têm assumido cargos de supervisão sem preparo adequado. Um dos possíveis motivos para a falta de qualificação dos novos gerentes são as defi- ciências da grade curricular dos cursos de Administração, que não fornecem a seus alunos as com- petências gerenciais necessárias. Se os bacharéis em Administração concluem o curso sem ter ad- quirido as competências de que precisam para ingressar na carreira gerencial, então é pouco prová- vel que os graduados em outros cursos superiores possuam essas competências e menos provável ainda que os não graduados as possuam. Avaliação Para decidir quem deve ser promovido à carreira gerencial, muitas empresas utilizam Comitês de Carreira e avaliam seus talentos segundo duas dimensões: desempenho e potencial. O próprio pro- cesso avaliativo, porém, constitui outra fonte de problemas, que precisam ser examinados. Avaliação de desempenho. A primeira questão que se coloca é se faz sentido avaliar o desempenho de um candidato a ingresso na carreira gerencial. Considerando-se que desempenho de um profis- sional é o conjunto dos resultados e comportamentos apresentados por ele, parece não fazer sentido avaliar os resultados exibidos por um técnico porque, como tal, sua missão é executar atividades pa- ra obter resultados, ao passo que, como gerente, ele deverá fazer com que sua equipe execute as ati-
  • 3. vidades necessárias à geração dos resultados previstos. No tocante a comportamentos, se o profis- sional for deficiente em quaisquer aspectos dessa área, essas deficiências poderão ser supridas me- diante treinamento adequado. A questão, portanto, não é se o profissional possui uma dada compe- tência, mas se tem capacidade para adquiri-la, ou seja, se tem potencial. Conclui-se, pois, que parece ser inútil avaliar o desempenho passado de um candidato a ingresso na carreira gerencial. A esse respeito, um equívoco comum é promover um profissional à gerência co- mo prêmio por seu bom desempenho como técnico. A promoção a um cargo gerencial, todavia, não deve ser encarada como prêmio. Quem deve ser promovido a gerente é aquele que tem potencial pa- ra sê-lo, independentemente de seu desempenho como técnico, pela simples razão de que o poten- cial e as competências requeridas de um gerente são diferentes dos exigidos do técnico. Outra razão é que o profissional que tem bom desempenho como técnico pode não ter interesse na gerência, sen- do contraproducente forçar ou induzir qualquer funcionário a aceitar a carreira gerencial. Avaliação de potencial. Quando se trata de avaliar o potencial, a questão torna-se mais grave: as empresas têm realizado a avaliação de potencial de candidatos à gerência por meio de instrumentos que não se baseiam em uma definição desse construto ou que se baseiam em conceitos equivocados. Falta a tais instrumentos, portanto, um requisito essencial: a validade de construto.* Em tais condi- ções, a avaliação de potencial dos gerentes e candidatos à gerência tende a produzir informações não confiáveis para a tomada de decisão. Situação típica Temos, portanto, a seguinte situação típica: em dado momento, um profissional é surpreendido pela informação de que vai ser promovido a gerente. Ele agradece a promoção, aceitando-a tacitamente, mas sem desejá-la, sem saber ao certo se a deseja ou desejando-a pelas razões erradas. Ele ingressa na carreira gerencial sem ter formação como gerente e sem saber o que significa ser gestor, pois nunca pôde conhecer as realidades da carreira gerencial. Mesmo quando está certo de que não dese- ja ser gerente ou não tem certeza do que quer, o profissional aceita a promoção provavelmente por- que supõe que recusá-la seria uma ofensa ou por acreditar que, se recusá-la, ficará mal visto pela empresa e prejudicará seu futuro na organização. Desempenho O resultado da seleção e formação inadequadas é que a maioria dos novos gerentes falham, provo- cando deficiências de desempenho e aumento de rotatividade em toda a equipe. Mais grave: é fre- quente que os profissionais se vejam forçados a ingressar na carreira gerencial ou que nela ingres- sem voluntariamente e depois se arrependam da decisão. Conclusão Conclui-se, pois, que o processo de seleção de novos gerentes possui várias deficiências que com- prometem fortemente sua eficácia. * Validade de construto é um conceito da Psicometria.
  • 4. Proposta Para evitar as deficiências apontadas anteriormente e aumentar a probabilidade de se elegerem bons candidatos à gerência, é necessário: 1º) elaborar e implantar um programa de formação de novos ge- rentes; 2º) corrigir as deficiências da avaliação de potencial; 3º) elaborar e implantar um processo mais eficaz de seleção de novos gerentes. Formação. O conteudo ideal de um curso de formação de supervisores é composto pelas competên- cias que um supervisor precisa possuir. Essa relação de competências denomina-se PC – Perfil de Competências – do supervisor. Para se elaborar o PC do supervisor, é conveniente tomar como pon- to de partida a DC – Descrição de Cargo – ideal do cargo de supervisor, que é uma relação de tare- fas, deveres e responsabilidades ideais do cargo. De posse da DC ideal, pode-se elaborar a relação das competências necessárias para realizar as respectivas atividades, relação essa que constituirá o PC do supervisor. O PC representa o conteudo ideal de um curso de formação de novos gerentes. Avaliação de potencial. É preciso adotar um conceito psicológico de potencial e, para medi-lo, es- colher instrumentos coerentes com a definição. Seleção. Propõe-se um novo processo interno composto das seguintes etapas: Etapa 1 – Inscrição dos candidatos Etapa 2 – Palestra Etapa 3 – Vivência Etapa 4 – Avaliação de potencial 1 Etapa 5 – Avaliação de potencial 2 Etapa 6 – Avaliação de potencial 3 Etapa 7 – Formação Etapa 8 – Treinamento prático e desenvolvimento Etapa 9 – Promoção provisória Regras do processo seletivo. Os candidatos serão avaliados nas etapas de 4 a 9. Na etapa 1 haverá apenas uma verificação de cumprimento dos pré-requisitos para inscrição. Nas etapas 2 e 3 não ha- verá avaliação. Os candidatos poderão desistir em qualquer etapa, inclusive durante a etapa 9. A de- sistência deverá ser formalizada por escrito pelo candidato e não precisará ser justificada. Será con- siderado desistente o candidato que não comparecer para cumprir uma etapa. Os candidatos aprova- dos em uma das etapas de 4 a 7 passarão à etapa seguinte. Os candidatos aprovados na etapa 8 serão classificados como habilitados para ingresso na carreira gerencial. Os candidatos que desistirem, bem como os reprovados em uma das etapas de 4 a 8, serão excluidos do processo e continuarão em suas funções atuais. Quando surgir uma vaga de gerente de primeiro nível, será escolhido um dos habilitados, o qual assumirá o posto em caráter provisório e passará por um período de experiência (etapa 9). Se for aprovado na experiência, a promoção será tornada definitiva; caso contrário, retor- nará ao cargo anterior. * Flavio Farah é Mestre em Administração de Empresas, Professor Universitário, Especialista em Ética e autor do livro Ética na Gestão de Pessoas. Contato: farah@flaviofarah.com