A Engenharia brasileira está sendo sucateada devido a três fatores: (1) a precariedade do ensino superior que forma engenheiros deficientes, (2) a insuficiência de engenheiros para atender à demanda nacional, e (3) a incompetência do governo que realiza obras de baixa qualidade com projetos mal elaborados e falta de planejamento. Isto está levando ao sucateamento da engenharia brasileira e sua incapacidade de contribuir para o desenvolvimento do país, especialmente na área de infraestrutura.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Sucateamento da engenharia brasileira
1. SUCATEAMENTO DA ENGENHARIA BRASILEIRA
Fernando Alcoforado*
(Artigo publicado na página Opinião do jornal A Tarde de 24/10/2013)
A Engenharia brasileira está sendo sucateada devido a três fatores. O primeiro deles diz
respeito à precariedade do sistema de ensino no Brasil que impacta fortemente e
negativamente na formação do engenheiro pela Universidade brasileira; o segundo
concerne à insuficiência de engenheiros para atender a demanda nacional; e, o terceiro
resulta da incompetência do governo brasileiro em todos os níveis que se caracteriza
pela execução de obras de baixa qualidade por conta de projetos mal elaborados e falta
de planejamento.
Um fato impressionante é que a cada 150 mil estudantes que ingressam no curso de
engenharia em nosso país, apenas 48 mil se formam, ou seja, somente 32%. Esta
situação resulta da péssima qualidade do ensino médio, sobretudo em matemática e
ciências porquanto os alunos não têm capacidade de acompanhar os cursos. Uma das
causas da insuficiência de engenheiros no Brasil resulta, entre outros fatores, da
desistência ou evasão dos alunos durante o curso que é de 60%. A evasão acontece no
primeiro e no segundo ano principalmente devido à formação deficiente em matemática
e física do estudante no ensino médio que tem dificuldade para acompanhar o curso.
Além do número de engenheiros no Brasil ser insuficiente devido à evasão dos alunos,
outra causa da carência de engenheiros reside no fato de muitos deles não trabalharem
na profissão. Segundo o IPEA, em 2008, o número de graduados em Engenharia era de
aproximadamente 750 mil profissionais, enquanto que o estoque de empregos formais
nas ocupações típicas destes trabalhadores era de 211,7 mil. Em outras palavras, para
cada dois graduados em engenharia trabalhando em ocupações típicas de sua formação,
há outros cinco exercendo outras ocupações, desempregados, exercendo atividades
como profissionais não assalariados e trabalhando em outros países.
De acordo com estudo do Conselho Nacional da Indústria (CNI), para dar conta da
demanda por engenheiros, seria necessário formar 60 mil engenheiros por ano no Brasil.
Mas o que acontece no Brasil é que apenas 48 mil obtêm este diploma a cada ano. O
IPEA estima que em 2015, caso o crescimento do PIB fique em 5% ao ano, serão
necessários 1,155 milhões de engenheiros. E, com crescimento de 7% ao ano, serão
necessários 1,462 milhão de engenheiros. A projeção para 2022 aponta a necessidade de
1,565 milhões de engenheiros em ocupações típicas.
A insuficiência na formação dos engenheiros na Universidade soma-se à sua carência
para atender as necessidades do País. Esta situação é lamentável porque está levando ao
sucateamento da engenharia brasileira e sua consequente incapacidade de colaborar com
a execução das obras necessárias ao desenvolvimento do Brasil, sobretudo no campo da
infraestrutura. É fundamental considerar que a engenharia consultiva é a base para o
crescimento do país porque sem projetos bem feitos o Brasil não tem como crescer.
Bons projetos e serviços de engenharia consultiva dependem fundamentalmente de
equipes bem estruturadas, formadas por profissionais experientes no desenvolvimento
de trabalhos nas mais diversas áreas abrangidas pelos setores de transportes, energia,
telecomunicações, edificações, saneamento, entre várias outras. A situação atual
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2. contribui para a falta de projetos básicos e executivos competentemente elaborados
atuando como um obstáculo para a infraestrutura do país.
Para se desenvolver, o Brasil, não pode abandonar a sua Engenharia à sua própria sorte
e, com o melhor uso desta, deve alavancar seu progresso econômico e social e evitar a
eterna dependência tecnológica em relação ao exterior. É preciso não esquecer que as
grandes mudanças que vêm ocorrendo na vida das pessoas, no mundo moderno, foram
geradas pela tecnologia. O Brasil precisa da Engenharia porque é ela que transforma o
conhecimento acumulado em universidades e centros de pesquisa em produtos e
serviços disponibilizados à sociedade. Os engenheiros e suas entidades representativas
precisam se mobilizar para reverter a lamentável situação em que está relegada a
engenharia brasileira.
*Fernando Alcoforado, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona.
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