SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 12
Baixar para ler offline
A bruxa
e o
caldeirão
Ilustrações de
Nuno Castelo
História de
José Leon Machado
Ficha Técnica
Título: A Bruxa e o Caldeirão
© Copyright José Leon Machado e Nuno Castelo
Todos os direitos reservados, 2006-2008
Quando preparava
uma sopa com uns
olhinhos de couve
para o jantar, a
bruxa constatou que
o caldeirão estava
furado. Não era muito,
não senhor. Um
furo pequeníssimo,
quase invisível a olho
nu, mas demasiado
evidente para o
olho de uma bruxa
experimentada como
ela. Era todavia
o suficiente para,
pinga que pinga, ir
vertendo os líquidos
e ir apagando o fogo.
Nunca tal lhe tinha
sucedido.
3
Foi consultar o livro
de feitiços, adquirido
no tempo em que
andara a tirar o curso
superior de bruxaria
por correspondência,
folheou-o de ponta
a ponta, confirmou
no índice e nada
encontrou sobre a
forma de resolver o
caso. Que haveria de
fazer? Uma bruxa sem
caldeirão era como
padeiro sem forno.
De que forma poderia
ela agora preparar as
horríveis poções?
Para as coisas mais
corriqueiras tinha a
reserva dos frascos.
Mas se lhe aparecia
um daqueles casos
em que era necessário
preparar na hora uma
mistela?
4
Como o caso da
filha de um aldeão
que engolira uma
nuvem e foi preciso
fazer um vomitório
especial com trovisco,
rosmaninho, três
dentes de alho, uma
semente de abóbora
seca, uma asa de
morcego e cinco
aparas de unhas de
gato.
Se a moça vomitou
a nuvem? Pois não
haveria de vomitar?
Com a potência do
remédio, além da
nuvem, vomitou uma
grande chuvada de
granizo que furou os
telhados das casas em
redor.
5
Era muito aborrecido
aquele furo no
caldeirão. Nem a sopa
do dia-a-dia podia
cozinhar. Mantinha-
-se a pão e água, que
remédio, enquanto
não encontrasse uma
forma de resolver o
caso.
Matutou dias seguidos
no assunto e começou
a desconfiar se o
mercador que lhe
vendera o caldeirão
na feira há muitos
anos atrás a não
teria enganado com
material de segunda
categoria. A ela, bruxa
inexperiente e a dar os
primeiros passos nas
artes mágicas, podia
facilmente ter-lhe
dado um caldeirão
com defeito.
6
Decidiu então ir à
próxima feira e levar o
caldeirão ao mercador.
Procurando na
secção das vendas de
apetrechos de cozinha,
a bruxa verificou
que o mercador já
não era o mesmo.
Era neto do outro e,
claro, não se lembrava
– nem podia – das
tropelias comerciais
do seu falecido avô.
Ficou desapontada.
Perguntou-lhe,
todavia, o que podia
fazer com o caldeirão
furado. O mercador
mirou-o, remirou-o,
sopesou-o com ambas
as mãos e disse:
– Este está bom é
para você pôr ao pé
da porta a fazer de
vaso. Com uns pés
de sardinheiras ficava
bem bonito.
7
A bruxa irritou-se
com a sugestão e, não
fosse a gente toda ali
na feira a comprar e a
vender, transformava-
-o em sapo. Acabou
por dizer:
– A solução parece
boa, sim senhor. Mas
diga-me cá: Se ponho
o caldeirão a fazer de
vaso, onde cozinho eu
depois?
– Neste novo que aqui
tenho e com um preço
muito em conta...
A bruxa olhou para o
caldeirão que o merca-
dor lhe apontava, so-
bressaindo num monte
de muitos outros, de
um brilhante aver-
melhado, mesmo a
pedir que o levassem.
A bruxa, que tinha os
seus brios de mulher,
ficou encantada.
8
O mercador
aproveitou a ocasião
para tecer os maiores
elogios ao artigo,
gabando a dureza e
a grossura do cobre,
os rendilhados da
barriga, o feitio da
asa em meia lua, a
capacidade e o peso,
tão leve como um
bom caldeirão podia
ser, fácil de carregar
para qualquer lado.
– Pois bem, levo-o.
O mercador esfregou
as mãos de contente.
– Mas aviso-o
– acrescentou a bruxa.
– Se lhe acontecer o
mesmo que ao outro,
pode ter a certeza de
que o transformarei
em sapo.
O mercador riu-se do
disparate enquanto
embrulhava o artigo.
9
A bruxa pagou três
moedas de prata e
foi para casa muito
satisfeita com a
compra. O caldeirão
era realmente uma
maravilha. Bonito
na sua cor nova e
brilhante, cozia uma
sopa enquanto o diabo
esfrega um olho.
E então para preparar
infusões, decocções,
unguentos e outras
mistelas mágicas,
pode dizer-se sem
exagero que era bem
melhor do que uma
panela de pressão.
10
Em relação ao
caldeirão velho,
a bruxa seguiu o
conselho do mercador:
pô-lo à entrada
de casa, mas, em
vez de uns pés de
sardinheiras, plantou-
-lhe duas hastes de
arruda, por ser esta
erva muito boa contra
o mau olhado.
O caldão velho, além
de servir de vaso,
tinha também uma
outra função: quando
o rato de estimação da
bruxa acordava pela
manhã, fazia dele a
sua casa-de-banho.
11
Os anos foram
passando e a bruxa
continuou no seu
labor. Até que um dia
deu por um furo no
novo e agora velho
caldeirão. Rogou uma
praga tamanha que
o neto do segundo
mercador que lho
vendera, a essa hora,
em vez de estar a
comer o caldo na mesa
com a família, estava
num charco a apanhar
moscas.
12

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Cuento el Patito Feo
Cuento el Patito FeoCuento el Patito Feo
Cuento el Patito FeoCEREP2016
 
Tico o-coelhinho-de-orelhas-caídas
Tico o-coelhinho-de-orelhas-caídasTico o-coelhinho-de-orelhas-caídas
Tico o-coelhinho-de-orelhas-caídasElisangela Terra
 
La niña de las zapatillas rojas
La niña de las zapatillas rojasLa niña de las zapatillas rojas
La niña de las zapatillas rojassilviargu
 
Cuento de el zapatero magico
Cuento de el zapatero magicoCuento de el zapatero magico
Cuento de el zapatero magicoEd Black
 
A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo Deisy Quintero
 
Jogo boneco de neve
Jogo boneco de neveJogo boneco de neve
Jogo boneco de neveAldalu
 
El leprecaun
El leprecaunEl leprecaun
El leprecaunsilviargu
 
A palavra feia de Alberto
A palavra feia de Alberto A palavra feia de Alberto
A palavra feia de Alberto Nute JPA
 
A onça e o gambá
A onça e o gambáA onça e o gambá
A onça e o gambáTaniaantunes
 
A história do Amigo da Onça
A história do Amigo da OnçaA história do Amigo da Onça
A história do Amigo da OnçaLuiz Carlos Dias
 
Mimi no fundo do mar [modo de compatibilidade]
Mimi no fundo do mar [modo de compatibilidade]Mimi no fundo do mar [modo de compatibilidade]
Mimi no fundo do mar [modo de compatibilidade]Carla Jorge
 
mi_dia_de_suerte
mi_dia_de_suertemi_dia_de_suerte
mi_dia_de_suerteJenny Mel
 
Aovelhinha 091102045213-phpapp01
Aovelhinha 091102045213-phpapp01Aovelhinha 091102045213-phpapp01
Aovelhinha 091102045213-phpapp01maru090902
 

Destaque (20)

Blanco pesaresi
Blanco pesaresiBlanco pesaresi
Blanco pesaresi
 
Cuento Infantil Pinocho
Cuento Infantil Pinocho Cuento Infantil Pinocho
Cuento Infantil Pinocho
 
A vaquinha sumiu
A vaquinha sumiuA vaquinha sumiu
A vaquinha sumiu
 
Cuento de los tres cerditos
Cuento de los tres cerditosCuento de los tres cerditos
Cuento de los tres cerditos
 
Cuento el Patito Feo
Cuento el Patito FeoCuento el Patito Feo
Cuento el Patito Feo
 
A bruxa cartuxa
A bruxa cartuxaA bruxa cartuxa
A bruxa cartuxa
 
Tico o-coelhinho-de-orelhas-caídas
Tico o-coelhinho-de-orelhas-caídasTico o-coelhinho-de-orelhas-caídas
Tico o-coelhinho-de-orelhas-caídas
 
La niña de las zapatillas rojas
La niña de las zapatillas rojasLa niña de las zapatillas rojas
La niña de las zapatillas rojas
 
Cuento de el zapatero magico
Cuento de el zapatero magicoCuento de el zapatero magico
Cuento de el zapatero magico
 
A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo A horta do senhor lobo
A horta do senhor lobo
 
Jogo boneco de neve
Jogo boneco de neveJogo boneco de neve
Jogo boneco de neve
 
El leprecaun
El leprecaunEl leprecaun
El leprecaun
 
A palavra feia de Alberto
A palavra feia de Alberto A palavra feia de Alberto
A palavra feia de Alberto
 
St patricksdaypowerpoint1
St patricksdaypowerpoint1St patricksdaypowerpoint1
St patricksdaypowerpoint1
 
A onça e o gambá
A onça e o gambáA onça e o gambá
A onça e o gambá
 
A história do Amigo da Onça
A história do Amigo da OnçaA história do Amigo da Onça
A história do Amigo da Onça
 
Auuuuuuu
AuuuuuuuAuuuuuuu
Auuuuuuu
 
Mimi no fundo do mar [modo de compatibilidade]
Mimi no fundo do mar [modo de compatibilidade]Mimi no fundo do mar [modo de compatibilidade]
Mimi no fundo do mar [modo de compatibilidade]
 
mi_dia_de_suerte
mi_dia_de_suertemi_dia_de_suerte
mi_dia_de_suerte
 
Aovelhinha 091102045213-phpapp01
Aovelhinha 091102045213-phpapp01Aovelhinha 091102045213-phpapp01
Aovelhinha 091102045213-phpapp01
 

Semelhante a A bruxa e_o_caldeirao (20)

Abruxaeocaldeirao
AbruxaeocaldeiraoAbruxaeocaldeirao
Abruxaeocaldeirao
 
Abruxaeocaldeirao
AbruxaeocaldeiraoAbruxaeocaldeirao
Abruxaeocaldeirao
 
A bruxa e_o_caldeirao
A bruxa e_o_caldeiraoA bruxa e_o_caldeirao
A bruxa e_o_caldeirao
 
Abruxaeocaldeirao
AbruxaeocaldeiraoAbruxaeocaldeirao
Abruxaeocaldeirao
 
A bruxa e o caldeirão
A bruxa e o caldeirãoA bruxa e o caldeirão
A bruxa e o caldeirão
 
111
111111
111
 
111
111111
111
 
abruxaeocaldeirao-946801142
 abruxaeocaldeirao-946801142 abruxaeocaldeirao-946801142
abruxaeocaldeirao-946801142
 
A bruxa e o caldeirão
A bruxa e o caldeirãoA bruxa e o caldeirão
A bruxa e o caldeirão
 
A bruxa e o caldeirão
A bruxa e o caldeirãoA bruxa e o caldeirão
A bruxa e o caldeirão
 
111
111111
111
 
A bruxa e o caldeirão josé leon machado
A bruxa e o caldeirão josé leon machadoA bruxa e o caldeirão josé leon machado
A bruxa e o caldeirão josé leon machado
 
111
111111
111
 
A bruxa e o caldeirão
A  bruxa e o caldeirãoA  bruxa e o caldeirão
A bruxa e o caldeirão
 
111
111111
111
 
A bruxa e o caldeirao
A bruxa e o caldeiraoA bruxa e o caldeirao
A bruxa e o caldeirao
 
A bruxa e o caldeirão josé leon machado
A bruxa e o caldeirão josé leon machadoA bruxa e o caldeirão josé leon machado
A bruxa e o caldeirão josé leon machado
 
A bruxa e o caldeirão
A bruxa e o caldeirãoA bruxa e o caldeirão
A bruxa e o caldeirão
 
A bruxa e o caldeirao
A bruxa e o caldeiraoA bruxa e o caldeirao
A bruxa e o caldeirao
 
A Bruxa e o Caldeirão!
A Bruxa e o Caldeirão!A Bruxa e o Caldeirão!
A Bruxa e o Caldeirão!
 

Último

PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioDomingasMariaRomao
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorEdvanirCosta
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇJaineCarolaineLima
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfmaurocesarpaesalmeid
 
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanholaSLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanholacleanelima11
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSOLeloIurk1
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOAulasgravadas3
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfWagnerCamposCEA
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 

Último (20)

PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
ATIVIDADE - CHARGE.pptxDFGHJKLÇ~ÇLJHUFTDRSEDFGJHKLÇ
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
 
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanholaSLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 

A bruxa e_o_caldeirao

  • 1. A bruxa e o caldeirão Ilustrações de Nuno Castelo História de José Leon Machado
  • 2. Ficha Técnica Título: A Bruxa e o Caldeirão © Copyright José Leon Machado e Nuno Castelo Todos os direitos reservados, 2006-2008
  • 3. Quando preparava uma sopa com uns olhinhos de couve para o jantar, a bruxa constatou que o caldeirão estava furado. Não era muito, não senhor. Um furo pequeníssimo, quase invisível a olho nu, mas demasiado evidente para o olho de uma bruxa experimentada como ela. Era todavia o suficiente para, pinga que pinga, ir vertendo os líquidos e ir apagando o fogo. Nunca tal lhe tinha sucedido. 3
  • 4. Foi consultar o livro de feitiços, adquirido no tempo em que andara a tirar o curso superior de bruxaria por correspondência, folheou-o de ponta a ponta, confirmou no índice e nada encontrou sobre a forma de resolver o caso. Que haveria de fazer? Uma bruxa sem caldeirão era como padeiro sem forno. De que forma poderia ela agora preparar as horríveis poções? Para as coisas mais corriqueiras tinha a reserva dos frascos. Mas se lhe aparecia um daqueles casos em que era necessário preparar na hora uma mistela? 4
  • 5. Como o caso da filha de um aldeão que engolira uma nuvem e foi preciso fazer um vomitório especial com trovisco, rosmaninho, três dentes de alho, uma semente de abóbora seca, uma asa de morcego e cinco aparas de unhas de gato. Se a moça vomitou a nuvem? Pois não haveria de vomitar? Com a potência do remédio, além da nuvem, vomitou uma grande chuvada de granizo que furou os telhados das casas em redor. 5
  • 6. Era muito aborrecido aquele furo no caldeirão. Nem a sopa do dia-a-dia podia cozinhar. Mantinha- -se a pão e água, que remédio, enquanto não encontrasse uma forma de resolver o caso. Matutou dias seguidos no assunto e começou a desconfiar se o mercador que lhe vendera o caldeirão na feira há muitos anos atrás a não teria enganado com material de segunda categoria. A ela, bruxa inexperiente e a dar os primeiros passos nas artes mágicas, podia facilmente ter-lhe dado um caldeirão com defeito. 6
  • 7. Decidiu então ir à próxima feira e levar o caldeirão ao mercador. Procurando na secção das vendas de apetrechos de cozinha, a bruxa verificou que o mercador já não era o mesmo. Era neto do outro e, claro, não se lembrava – nem podia – das tropelias comerciais do seu falecido avô. Ficou desapontada. Perguntou-lhe, todavia, o que podia fazer com o caldeirão furado. O mercador mirou-o, remirou-o, sopesou-o com ambas as mãos e disse: – Este está bom é para você pôr ao pé da porta a fazer de vaso. Com uns pés de sardinheiras ficava bem bonito. 7
  • 8. A bruxa irritou-se com a sugestão e, não fosse a gente toda ali na feira a comprar e a vender, transformava- -o em sapo. Acabou por dizer: – A solução parece boa, sim senhor. Mas diga-me cá: Se ponho o caldeirão a fazer de vaso, onde cozinho eu depois? – Neste novo que aqui tenho e com um preço muito em conta... A bruxa olhou para o caldeirão que o merca- dor lhe apontava, so- bressaindo num monte de muitos outros, de um brilhante aver- melhado, mesmo a pedir que o levassem. A bruxa, que tinha os seus brios de mulher, ficou encantada. 8
  • 9. O mercador aproveitou a ocasião para tecer os maiores elogios ao artigo, gabando a dureza e a grossura do cobre, os rendilhados da barriga, o feitio da asa em meia lua, a capacidade e o peso, tão leve como um bom caldeirão podia ser, fácil de carregar para qualquer lado. – Pois bem, levo-o. O mercador esfregou as mãos de contente. – Mas aviso-o – acrescentou a bruxa. – Se lhe acontecer o mesmo que ao outro, pode ter a certeza de que o transformarei em sapo. O mercador riu-se do disparate enquanto embrulhava o artigo. 9
  • 10. A bruxa pagou três moedas de prata e foi para casa muito satisfeita com a compra. O caldeirão era realmente uma maravilha. Bonito na sua cor nova e brilhante, cozia uma sopa enquanto o diabo esfrega um olho. E então para preparar infusões, decocções, unguentos e outras mistelas mágicas, pode dizer-se sem exagero que era bem melhor do que uma panela de pressão. 10
  • 11. Em relação ao caldeirão velho, a bruxa seguiu o conselho do mercador: pô-lo à entrada de casa, mas, em vez de uns pés de sardinheiras, plantou- -lhe duas hastes de arruda, por ser esta erva muito boa contra o mau olhado. O caldão velho, além de servir de vaso, tinha também uma outra função: quando o rato de estimação da bruxa acordava pela manhã, fazia dele a sua casa-de-banho. 11
  • 12. Os anos foram passando e a bruxa continuou no seu labor. Até que um dia deu por um furo no novo e agora velho caldeirão. Rogou uma praga tamanha que o neto do segundo mercador que lho vendera, a essa hora, em vez de estar a comer o caldo na mesa com a família, estava num charco a apanhar moscas. 12