Charles Teixeira perdeu uma perna em um acidente em 2005 e se tornou deficiente físico. Desde então, ele se dedicou ao esporte de forma profissional, treinando tênis, vela e ciclismo diversas vezes por semana. Apesar das dificuldades de locomoção, Charles busca competir em campeonatos nacionais e internacionais para incentivar outros deficientes físicos.
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
Entrevista Charles Teixeira
1. Florianópolis, novembro de 2009 COMPORTAMENTO E SOCIEDADE Quatro
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De amador a multiatleta exemplar
Charles Teixeira tem uma perna só e não para. Pratica tênis, vela e anda de bicicleta por Florianópolis
Diego Cardoso
Diego Cardoso
Nayara D’Alama
U
m acidente em 2005 mudou a
vida do ex-vigilante e manobrista
Charles Teixeira, 33 anos. Perdeu
uma perna, aposentou-se, mas não
deixou de ter força de vontade. O
tênis, que era sua distração, hoje é meta profis-
sional. Além diso, Teixeira treina mais dois es-
portes. Pedala sozinho pela cidade e passa por
todos os problemas de mobilidade de um defi-
ciente físico pelas ruas da capital catarinense.
Após ganhar campeonatos locais e estaduais,
ele quer chegar mais longe. O QUATRO foi até
as quadras de tênis da Universidade Federal de
Santa Catarina e conversou com o atleta que dá
exemplo de persistência.
Teixeira durante treino nas quadras da UFSC, de olho em um campeonato internacional de tênis em São Paulo
Quatro - Há quanto tempo você treina?
Charles Teixeira - O tênis faz dois anos. Há
quatro, sofri um acidente e um ano depois, conheci A mídia também não divulga esse tipo de cam-
Diego Cardoso
o basquete, o que deu incentivo a outros esportes, peonato, não traz isso pro conhecimento do
como natação, handebol... O próprio tênis, que é público. Só aqui na Universidade e em lugares
um dos esportes que eu me dedico mais. muito restritos que há esse tipo de modalida-
4 - Quantas vezes por semana você treina? de. A gente sofre um pouco com isso, mas esta-
CT - Treino cinco vezes por semana: de segun- mos batalhando e talvez com esse campeonato
da a quinta-feira e sábado pela manhã. de expressão internacional melhore para mim e
4 - Quanto dura o treino por semana? para os meus companheiros que sempre estão
CT – Geralmente, duas horas por dia. No sá- presentes treinando.
bado é um pouquinho mais puxado, das nove da 4 - Quais as dificuldades na hora do jogo
manhã ao meio dia. Tenho um Campeonato Inter- de tênis?
nacional de Tênis em São Paulo em vista agora no CT - A dificuldade de se alcançar a bola é um
dia 19. Vamos ver como a gente vai se sair! pouco mais complicada e o esporte adaptado dá
4 - É o primeiro campeonato? oportunidade para a bola quicar duas vezes, é a
CT - É o primeiro fora. Houve quatro internos única regra que muda. O ângulo da quadra fica
aqui na UFSC e teve um em Gaspar, que foi o um pouco menor em relação ao tênis normal,
Campeonato Catarinense. Eu levei todos até en- pois você está mais baixo sentado na cadeira de
tão! (risos) Estou sem adversários em Santa Ca- rodas. Mas as dificuldades têm que ser ultra-
tarina. passadas e o esporte... o resultado compensa,
4 - E quais as expectativas para o próximo com certeza.
campeonato? 4 - Você virou atleta depois que sofreu o
CT - Segundo os professores e as pessoas que acidente?
acompanham meu treinamento, tenho um bom de- CT - Sim, gostava muito de esporte antes,
senvolvimento na cadeira. Está tudo correndo bem mas era sempre por lazer. Agora, já é mais para
e espero que eu vá bem nesses cam- rendimento mesmo e o intuito é
peonatos. de levar esse campeonato.
Charles treina 5 vezes por semana até 2 horas por dia
4 - Que outros esportes você
pratica?
“A locomoção fica 4 - Como se tornou deficiente
físico?
CT - Também pratico a vela bem mais difícil, CT - Sofri um acidente auto- sempre quando é possível, eu tento vir para a Uni-
adaptada uma vez por semana, que
é um projeto novo aqui em Floria-
mas nada que a mobilístico, fui atropelado por um
carro, estava de moto. Após duas
versidade pedalando.
4 - E o ônibus adaptado, funciona bem aqui?
nópolis. Em dezembro eu fui parti- força de vontade semanas, tive que amputar o mem- CT - Eu acho que para cadeirantes fica um pou-
cipar do Campeonato Brasileiro de
Vela Adaptada em São Paulo. Além
não resolva” bro. Mas aceitei desde o princípio
já que não tinha o que fazer, né?
co a desejar. Como eu tenho uma certa mobilidade
e consigo andar com a prótese, até tenho que an-
disso, estive, em agosto, no Cam- Foi muito difícil, sofri muito com dar de muleta, fica um pouco mais fácil para mim.
peonato Brasileiro de Handebol no Paraná, fui dores, ainda sofro. A locomoção fica bem mais di- Mas eu creio que para o cadeirante é bem com-
convidado pelo pessoal de lá pra participar. fícil, mas nada que a força de vontade não resolva. plicado. É difícil porque há falta de respeito de
4 - E ganhou alguma premiação lá? Não são problemas, são desafios que a gente têm muita gente que no ônibus não dá lugar para o de-
CT - Em São Paulo, eu fiquei entre os três me- no dia a dia. ficiente sentar, só vai se dar conta que é amputado
lhores na fase classificatória e na segunda parte 4 - Você é de Florianópolis? depois que está saltando, aí pede desculpas... O
eu fiquei em sexto. O pessoal em São Paulo é mais CT - Sou, sou manezinho. manezinho até absorve mais esses problemas dos
acostumado, enquanto aqui estamos começando. 4 - Como você se desloca em Florianópolis? deficientes, mas o pessoal que vem de fora deixa
4 - Você tem intenção de jogar profissional- CT - Eu geralmente utilizo o ônibus. Comecei a um pouco de lado isso, pensa muito em si.
mente? andar de bicicleta também, consigo pedalar, é um
4
CT - Eu pretendo ser profissional. Já fui ran- pouco dificultoso, mas é prazeroso, a locomoção
queado pela Federação Catarinense de Tênis. A fica mais rápida. Eu já fui atropelado duas vezes Descobrimos que um grupo de deficientes trei-
busca de um Campeonato Brasileiro é intensa da depois do acidente. Quem atropela só vai se dar na tênis nas quadras da UFSC. O tema é cer-
minha parte. O problema está nas autoridades que conta quando vê o ciclista no chão. No meu caso tamente delicado, e não poderíamos abordar
não dão nenhum apoio, até a própria Associação até com a prótese, às vezes, eu caio, aí tem que qualquer pessoa de qualquer forma. Foi assim
Florianopolitana de Deficientes Físicos (AFLO- tirar a prótese, a prótese cai. A gente fica com que conhecemos Charles.
DEF) fica um pouco a desejar em relação a isso. um pouco de medo, um certo receio de andar. Mas Bastidores em http://migre.me/bUzs