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Como a globalização afetou as classes trabalhadoras

  • 1. Mudanças  na  Comunicação  Política,  por  Augusto  Rodrigues     Lições  trazidas  pelas  eleições  de  2016  na  Europa  e  nos  EUA:  precisamos  estar   atentos  às  transformações  no  mundo  globalizado,  manifestas  nas  eleições  que   ocorreram  recentemente,  com  a  vitória  do  Brexit  no  Reino  Unido,  e  o   surpreendente  êxito  de  Donald  Trump  nos  Estados  Unidos,  a  derrota  de  Matteo   Renzi  na  Italia  e  pelas  eleições  na  Áustria.       Mudanças  de  caráter  mundial  trazem,  pela  primeira  vez,  uma  reação   internacional  à  forma  como  a  globalização  tem  sido  implantada.  Cada  vez  mais,   há  consenso  sobre  um  fenômeno  comum,  em  todos  os  acontecimentos  políticos   recentes:  os  perdedores  da  globalização  resolveram  manifestar  seu   descontentamento  e  rejeição  à  forma  como  este  processo  tem  acontecido.     Pesquisas  de  opinião  nos  informam  que  a  maioria  dos  eleitores  sentem-­‐se   profundamente  ressentidos  com  a  vida  que  estão  levando,  sentem-­‐se  também   abandonados  pelos  partidos  e  pelos  governos.  Isso  não  deveria  nos  surpreender.   Ao  contrário,  deveríamos  nos  perguntar  porque  este  fenômeno  demorou  tanto   tempo  para  acontecer.  Basta  notar  que  as  tecnologias  da  informação,   disseminadas,  no  mundo  todo  pela  globalização,  ao  trazer  novas  formas  de   trabalhar,  muito  mais  economizadoras  de  recursos  e  de  tempo,  sacrificaram   milhões  e  milhões  de  empregos,  eliminaram  muitas  profissões,  reduzindo  por   isso  a  renda  de  grupos  grandes  de  trabalhadores.     Essas  tecnologias,  ao  mesmo  tempo  que  reduziam  o  preço  dos  bens  produzidos,   aumentando  a  produção  mundial  de  mercadorias  e  serviços,  trazendo  benefícios   para  quase  todos  e  tirando  centenas  de  milhões  de  pessoas  da  pobreza,  criou   uma  economia  de  alta  produtividade  mas,  em  contrapartida,  de  baixa   empregabilidade.     Assim,  não  é  gratuito  que  a  insatisfação  esteja  se  manifestando  exatamente  nas   regiões  desindustrializadas  da  Europa  e  dos  EUA,  que,  em  um  passado  recente,   votavam  tradicionalmente  e  majoritariamente  no  Partido  Trabalhista,  no  Reino   Unido,  e  no  Partido  Democrata,  nos  EUA.     A  migração  das  classes  médias  trabalhadoras  para  candidatos  e  temas   conservadores  e  populistas  pode  também  ser  explicado  pela  sua  orfandade   política,  já  que  o  Partido  Trabalhista  e  o  Partido  Democrata,  na  Inglaterra  e  nos   Estados  Unidos,  foram  se  tornando,  aos  poucos,  partidos  das  políticas  de   identidade,  defendendo  os  interesses  dos  negros,  mulheres,  migrantes,   ambientalistas,  da  comunidade  LGBT,  das  minorias  enfim,  esquecendo-­‐se  de   defender  também  os  interesses  econômicos,  o  emprego  e  a  renda  da  grande   massa  de  trabalhadores,  que,  naquele  momento,  sofria  os  impactos  da   globalização  econômica.    
  • 2. Tudo  indica  também  que  a  forma  como  o  Governo  Democrata  de  Barack  Obama   enfrentou  a  crise  de  2008  foi  uma  das  causas  da  derrocada  do  partido,  em  2016,   já  que  ela  passou  muito  mais  pelo  apoio  ao  sistema  financeiro,  em  perigo,  do  que   pela  implantação  de  políticas  de  proteção  de  parte  da  classe  trabalhadora  branca   empobrecida,  que,  durante  a  crise,  precisava  do  apoio  do  estado,  pois  estava   perdendo  seus  empregos,  aposentadorias  e  residências.     Mas  essa  maior  confiança  nos  paradigmas  da  economia  do  que  nas  dimensões   integrativas  da  política  não  é  o  único  responsável  pelo  mal-­‐estar  dos  eleitores.   Outro  fator  foi  o  avanço  desses  processos  de  emancipação  das  minorias  que   entrou  em  choque  com  a  sociedade  tradicional,  ainda  existente  nas  pequenas   cidades  e  nas  comunidades  rurais.     Nestes  termos,  como  solicita  Francis  Fukuyama,  ‘A  elite  liberal  que  criou  o   sistema  global  precisa  ouvir  agora  as  vozes  raivosas  que  gritam  diante  dos   portões.  É  preciso  pensar  em  duas  questões,  que  foram  esquecidas,  igualdade   social  e  identidade,  como  questões  de  primeira  ordem,  que  precisam  ser   equacionadas  e  resolvidas.’