O documento descreve a história da moeda brasileira desde o fim do Regime Militar em 1985 até a implantação do Plano Real em 1994, período marcado por altas taxas de inflação e várias tentativas frustradas de estabilização monetária através de planos como o Cruzado, Cruzado Novo e Cruzeiro. Somente o Real conseguiu controlar a hiperinflação a partir de 1994.
1. Planos Econômicos
A última eleição indireta de um candidato civil, em 1985, marca o fim
do Regime Militar, mas a transição para a democracia só se consolida
em 1988, no governo Sarney, quando é promulgada a nova
Constituição por uma Assembléia Constituinte. A volta aos padrões
democráticos não é suficiente para superar os graves problemas
sociais e econômicos advindos da inflação e do endividamento externo.
Para enfrentar seus desafios, os governos dos Presidentes José Sarney
e Fernando Collor irão praticar sete planos consecutivos de combate à
inflação: Cruzado (início de 1986), Cruzadinho (meados de 1986),
Cruzado II (final de 1986), Bresser (junho de 1987), Verão (janeiro de
1989), Collor (março de 1990) e Collor 2 (janeiro de 1991). O fracasso
ou má condução desses planos levou o país a uma hiperinflação, com a
moeda desvalorizada em três decimais duas vezes no período de três
anos. Somente em 1994, com a elaboração do Plano Real, durante o
governo Itamar Franco, e sua manutenção e desenvolvimento no
governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o país veio a
conhecer uma relativa estabilidade monetária, ora e outra ameaçada
pelas sucessivas crises dos mercados internacionais.
O Cruzado
Como medida de combate à inflação, o governo Sarney adota em 1986
novo padrão monetário, o cruzado, equivalente a mil vezes a moeda
anterior, o cruzeiro, e representado por Cz$. A exemplo dos
procedimentos anteriores, as cédulas do antigo padrão recebem um
carimbo com indicação do valor correspondente em cruzados. A efígie
do Presidente Juscelino Kubitschek, que figurava nas cédulas de
100.000 cruzeiros, volta a aparecer na nova nota de 100 cruzados.
Posteriormente, novas cédulas são postas em circulação, contendo a
legenda DEUS SEJA LOUVADO. Figuras da vida cultural brasileira são
agora introduzidas em vez dos tradicionais vultos da história política:
em 1987 e 1988, além da nota de 500 cruzados com a efígie do
compositor Villa-Lobos, circulam as de 1.000 com o retrato do escritor
Machado de Assis, de 5.000 com o do pintor Cândido Portinari e de
10.000 com o do cientista Carlos Chagas.
2. 100 cruzados, Centenário da Lei Áurea, aço inoxidável, 1988
No lugar das antigas moedas de cruzeiro, foram cunhadas, entre 1986
e 1988, as moedas de aço inoxidável de 50, 20, 10, 5 e 1 centavos; as
de 5 e 1 cruzados, que substituíram as cédulas de 5.000 e 1.000
cruzeiros; e, de 1987 a 1988, as de 10 cruzados também em aço. As
moedas de 100 cruzados surgiram em 1988 para comemorar o
centenário da assinatura da Lei Áurea e traziam a efígie de criança,
homem ou mulher negros, junto com a saudação africana Axé. O
conjunto de estrelas ao lado do valor simbolizava o número cem, para
facilitar a leitura pelos deficientes visuais.
O Cruzado Novo
200 cruzados novos, Centenário República,
prata, 1989. No ano de 1989, verifica-se nova desvalorização de três
decimais no padrão monetário, que passou a denominar-se cruzado
novo, representado por NCz$, procedendo-se à carimbagem das
cédulas de 10.000, 5.000 e 1.000 cruzados, que passaram a valer 10,
5 e 1 cruzados novos. Entram em circulação as cédulas de 100 e 50
cruzados novos, homenageando os poetas Cecília Meireles e Carlos
Drummond de Andrade e, para comemorar a passagem do centenário
da Proclamação da República, a de 200 cruzados novos. No ano
seguinte, faz-se a última emissão em papel-moeda desse padrão, a
cédula de 500 cruzados novos, que homenageia o naturalista Augusto
Ruschi.
3. 100 cruzados novos, Banco Central do Brasil, estampa A, 1989
Quanto às moedas, ainda em comemoração ao centenário da
Proclamação da República, foram cunhadas em 1989 as de prata, no
valor de 200 cruzados novos, e as de aço inoxidável, no valor de 1
cruzado novo, com a efígie da República. Entre 1989 e 1990, foram
cunhadas moedas de aço inoxidável de 50, 10, 5 e 1 centavos de
cruzado novo, tendo no reverso estrelas que simbolizavam os
algarismos do valor em braile. Traziam, respectivamente, a figura da
rendeira, garimpeiro, jangadeiro e boiadeiro.
O Cruzeiro
1000 cruzeiros, Banco Central do Brasil, estampa A, 1990
Em 1990, nova reforma monetária modificou a unidade do sistema,
que volta a denominar-se cruzeiro, sem que houvesse entretanto
alteração dos valores. As cédulas de 500, 200, 100 e 50 cruzados
novos receberam carimbos apenas para corrigir a designação da
moeda. Houve, em seguida, a emissão das cédulas definitivas naqueles
valores, salvo das notas de 50 cruzeiros, que foram substituídas por
moedas. A inflação desenfreada exigiu a emissão de cédulas de valores
mais elevados: a primeira, de 1.000 cruzeiros, homenageava o
sertanista Cândido Rondon; em seguida, circularam duas cédulas de
5.000 cruzeiros, a primeira, provisória, com a efígie da República, e a
segunda, definitiva, dedicada ao maestro e compositor Carlos Gomes.
Em 1991, circulam as notas de 10.000 cruzeiros, com a figura do
médico Vital Brazil, e a de 50.000 cruzeiros, com a do folclorista Luís
da Câmara Cascudo, esta última introduzindo, em caráter
experimental, três barras verticais e paralelas acima dos algarismos
indicativos do valor, para auxiliar sua identificação por pessoas com
4. deficiência visual. Em 1992, aparece a nota de 100.000 cruzeiros,
trazendo no anverso o desenho de um beija-flor e, no reverso, as
cataratas do Iguaçu. Em 1993, no auge da inflação, surge a cédula de
maior valor de face já impressa no Brasil: a de 500.000 cruzeiros,
dedicada ao escritor Mário de Andrade, retomando assim as
homenagens a expoentes da cultura brasileira.
500 cruzeiros, V Centenário do Descobrimento da América, prata,
1992. Quanto à moedagem, foram cunhadas em 1990, nos valores de
50, 10, 5 e 1 cruzeiros, peças de aço inoxidável, tendo no reverso a
representação de tipos humanos brasileiros, como a baiana, o
seringueiro e o salineiro. A partir de 1991, deixa de ser fabricada a
moeda de 1 cruzeiro e, no ano seguinte, são lançadas as de 1.000, 500
e 100 cruzeiros, sempre de aço inoxidável, retratando a fauna
brasileira.
Em 1992 surge a moeda de 5.000 cruzeiros, em aço inoxidável,
dedicada aos 200 anos da morte de Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes. Neste ano também são lançadas as moedas comemorativas
do V Centenário do Descobrimento da América e da II Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
5. O Cruzeiro Real
5, 10, 50 e 100 cruzeiros reais, aço inoxidável, 1993
Em 1993, já no governo Itamar Franco, a moeda é novamente
desvalorizada em três decimais: o cruzeiro passa a chamar-se
cruzeiro real, representado por CR$, com as duas letras grafadas em
maiúsculas para diferenciá-lo do Cr$ da unidade anterior. As cédulas
de 500.000, 100.000 e 50.000 cruzeiros recebem um carimbo,
passando a representar 500, 100 e 50 cruzeiros reais. Nesse mesmo
ano surgiram as cédulas definitivas do novo padrão, nos valores de
5.000 e 1.000 cruzeiros reais (originalmente desenhadas para
representar 5 milhões e 1 milhão de cruzeiros, que não chegaram a
entrar em circulação), a primeira trazendo a figura do gaúcho
(acompanhando a série dos tipos regionais) e a segunda, a efígie do
educador Anísio Teixeira. Os crescentes índices de inflação, que
atingiram mais de 40% em abril de 1994, levaram ao lançamento da
cédula de 50.000 cruzeiros reais, mostrando outro tipo regional, a
baiana.
5000 cruzeiros reais, Banco Central do Brasil,
estampa A, 1994, reverso
As poucas moedas do padrão cruzeiro real, sempre cunhadas em aço
inoxidável, acompanhavam a temática da fauna brasileira: as de 10
cruzeiros reais traziam a figura do tamanduá e a de 5 a da arara.
Completando a série, surgiram em fins de 1993 as de 100 e 50
cruzeiros reais com os desenhos do lobo-guará e da onça-pintada, em
substituição aos mesmos valores expressos em papel-moeda.
6. O Real
25 centavos, aço inoxidável, 1994
Tendo a inflação alcançado o alarmante índice de 3.700% nos
primeiros onze meses de duração do cruzeiro real, o governo Itamar
Franco passou a adotar, a partir de março de 1994, um indexador
único da economia, designado Unidade Real de Valor (URV), para
estabelecer uma proporção entre salários e preços, que se
transformaria em nova moeda quando todos os preços, em tese,
estivessem estáveis em termos de URV.
Essa estabilidade pressuposta ocorreu a 1° de julho de 1994, quando a
URV, equivalendo a 2.700 cruzeiros reais, passou a valer 1 real,
representado pelo símbolo R$. As cédulas do novo padrão, impressas
tanto no país quanto no estrangeiro, com matrizes fornecidas pela
Casa da Moeda do Brasil, acompanhavam a temática da fauna
brasileira, tendo as notas de 100, 50, 10, 5 e 1 reais respectivamente
as figuras da garoupa, onça-pintada, arara, garça e beija-flor. Todos os
valores tinham estampada a efígie da República no anverso.
Grande ênfase foi dada às moedas: surgiram na mesma data, nos
valores de 1 real e de 50, 10, 5 e 1 centavos, cunhadas em aço
inoxidável, tendo numa das faces a efígie da República. Meses depois,
dada à escassez de troco, tornou-se necessária a cunhagem de
moedas de 25 centavos, também de aço inoxidável, com os mesmos
elementos das demais, porém com o desenho alterado para permitir
melhor identificação.
1 real, Banco Central do Brasil, estampa A, 1994, reverso. Em 1994,
procedeu-se à cunhagem de várias moedas comemorativas: a de
prata, de 2 reais, para festejar os 300 anos de instalação da primeira
7. Casa da Moeda do Brasil; e as de ouro, de 20 reais, e de prata, de 4
reais, para homenagear o quarto campeonato de futebol, conquistado
pela seleção brasileira na Copa dos Estados Unidos. Em 1995, o Banco
Central do Brasil, responsável pela emissão de moeda no país, também
celebrou a passagem dos 30 anos do início de suas atividades com o
lançamento da moeda de prata de 3 reais; e o piloto Ayrton Senna foi
homenageado com a cunhagem de moedas de ouro e de prata,
respectivamente nos valores de 20 e de 2 reais; celebrando o
cinqüentenário da Organização das Nações Unidas para a Alimentação
e a Agricultura – FAO, foram cunhadas moedas de aço inoxidável nos
valores de 25 e 10 centavos, trazendo no anverso imagens alusivas à
agricultura e reverso idêntico às em circulação.
Em 1998, procurando valorizar o conceito do dinheiro metálico entre a
população brasileira, o governo lançou nova família de moedas mais
pesadas e facilmente diferenciáveis, para atender à demanda da
sociedade, principalmente de idosos e deficientes visuais.
A partir de abril do ano 2000, o Branco Central colocou em circulação
uma cédula de 10 reais, comemorativa dos 500 anos do
Descobrimento do Brasil, feita de polímero, material plástico ultra-
resistentes, que permite a aposição de elementos de segurança de
última geração, até agora inéditos no meio circulante brasileiro. A nota
contém na face a efígie de Pedro Álvares Cabral, cujo nome aparece
abreviado (Pedro A. Cabral), o mapa quot;Terra Brasilisquot;, a legenda
indicativa do valor sobre a qual foram aplicadas microimpressões; no
verso, uma estilização do mapa do Brasil com quadros impressos por
calcografia e off-set, nos quais aparecem fisionomias típicas do povo
brasileiro (índio, branco, negro e mestiço). Um fio de segurança
percorre anota de alto a baixo, com propriedade magnética para leitura
por equipamento eletrônico de seleção e contagem. Há ainda
impressões em alto relevo, fundos especiais, filtro verificador, imagem
latente e elemento visível sob luz ultravioleta, que dificultam
sobremaneira a contrafação da cédula.
Bibliografia:
http://leandrobrito.br.tripod.com/moedas.htm
http://indoafundo.com