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Campinas/SP - Combate à
pichação fracassa e marca dos
vândalos predomina
Prefeitura não tem balanço e jogo do empurra paralisa o
programa de revitalização.
“Programa de Combate a Pichação”, iniciado em março de 2009
pela Prefeitura de Campinas, ainda não mostrou exatamente a
que veio. A cidade continua com suas principais praças e
monumentos pichados, como é o caso do Largo das Andorinhas,
quase em frente à prefeitura, e da estátua do ex-presidente
Campos Sales, no Centro. Na administração municipal, os
envolvidos não possuem um balanço do que foi feito, nem entram
em um acordo sobre a responsabilidade pelo programa. Jogo do
empurra de um lado, poluição visual por todos os outros.
Uma das intenções da prefeitura era incentivar os lojistas da
região central a pintarem suas faixadas que estavam pichadas,
mas os aliados são agora críticos do programa. “Realmente os
comerciantes não aderiram. Era algo opcional. Eles compravam
tinta de uma forma mais barata e pagavam a prefeitura para que
usassem a mão de obra dos reeducandos, mas o programa não
vingou”, conta Adriana Flosi, presidente da Associação
Comercial e Industrial de Campinas (Acic).
Para Adriana, a campanha foi um fracasso, pois não conseguiu
atingir seu objetivo, que era de diminuir a pichação na
cidade. “A prefeitura tinha que exigir e cobrar mais. Deveria
acontecer uma campanha constante sobre este assunto”, afirma.
Fracasso anunciado
Entre os órgãos da prefeitura responsáveis pelo programa,
estava o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas
(Condepacc). A coordenadora do órgão, Deise Ribeiro, também
participou das ações de combate a pichação. “Aquilo foi a
primeira etapa. O primeiro contato com o problema. Repintamos
vários locais, porque vimos que era uma ação necessária. Foi
uma medida paliativa, sabíamos que não teríamos resultados
expressivos”, explica a coordenadora.
Sobre o pouco tempo do programa antipichação, Deise Ribeiro
esclarece: “O programa tem várias etapas. Nós finalizamos a
primeira ano passado. Existe a possibilidade de voltar ainda
este ano, mas não sei quando”, justifica.
Jogo do empurra
A coordenadora do Condepacc também se justificou sobre a falta
de um balanço final de todo o programa realizado em 2009.
Deise afirmou que os relatórios e atividades feitas sob
responsabilidade do Condepacc foram entregues a Secretaria de
Comunicação. O secretário Francisco Lagos, responsável pela
pasta, disse não se lembrar dos resultados finais e que se
afastou do programa por motivos de saúde. Segundo Lagos, o
secretário de Serviços Públicos, Flávio Augusto Ferrari de
Senço, poderia esclarecer as dúvidas sobre o programa.
O secretário de Serviços Públicos respondeu, via assessoria,
que não tinha nada preciso para falar sobre o assunto. De
acordo com sua assessoria de imprensa, apesar de não haver uma
campanha de conscientização, as ações paliativas contra
pichação continuam com o trabalho das reeducandas, que
recentemente limparam monumentos da cidade. Sem muitos
resultados, já que as praças continuam pichadas.
A Guarda Municipal (GM) também participou do programa de
combate pichação. Segundo Marco Aurélio Sotto, assessor da GM,
na época do programa não foi feito nenhum patrulhamento
especial para o combate a ação dos pichadores. “A guarda se
baseou, e continua se baseando, em três áreas: denúncia,
monitoramento através de câmeras e flagrante”, afirmou.
Na ausência de políticas claras de combate ao problema, os
pichadores desafiam a própria Guarda Municipal. Um dos prédios
pichados é o Palácio dos Azulejos, prédio tombado e antiga
sede da administração municipal, que fica na esquina da Rua
Regente Feijó com a Avenida Moraes Sales. É a mesma quadra da
sede da Guarda Municipal, na Moraes Sales. Uma das principais
funções da guarda é exatamente zelar pelo patrimônio público.
Ação desesperada
Enquanto os responsáveis não entram num acordo sobre o passado
e o futuro do programa, as marcas dos pichadores estão por
toda a cidade, com tendência a crescimento. Para o artista
plástico especializado em grafite Hélio Cabelin, o programa de
combate a pichação foi uma ação “desesperada” dos órgãos
responsáveis. “O trabalho não está sendo feito como deveria.
Deve haver uma ação socioeducativa e um questionamento sobre o
que leva as pessoas a picharem”, diz o artista.
Para Cabelin, o grafite é uma linguagem que contrapõe à
pichação e deve ser usado para atrair as pessoas que picham a
cidade. “Eu trabalhei em um projeto ensinando grafite para ex-
pichadores em Hortolândia. Isso mostra que dá pra fazer um
trabalho legal, tirando esse pessoal desse mundo”. Ele lembra
que a pichação é um problema social e que deixa uma ferida na
sociedade. “Essas pessoas estão marginalizadas. Temos que
trazê-las de volta”.
Quanto mais alto melhor
O adolescente e ex-pichador Leandro (nome fictício), hoje com
16 anos, começou a pichar aos 14 anos. “Comecei porque queria
expressar meus sentimentos e me mostrar para os outros”. Ele
diz que há uma disputa pelos lugares mais altos da cidade, já
que são os mais difíceis de pichar. “Tinha casos em que agente
levava escada. O lugar mais alto é sempre o melhor, porque
todo mundo pode ver sua ‘marca’”.
Leandro diz que nunca temeu ser pego pela polícia e que só
parou de pichar porque o feitiço virou contra o feitiçeiro.
“Parei porque picharam a minha casa. Aquilo não foi legal. Daí
eu percebi o que eu estava fazendo e decidi parar”, diz o
adolescente.
De acordo com dados da Empresa Municipal de Desenvolvimento de
Campinas (Emdec), das 5.417 placas da cidade, cerca de 30% são
substituídas por causa de atos de vandalismo, incluindo a
pichação. Dos R$ 200 mil mensais investidos na implantação de
sinalização, cerca de 30% são utilizados apenas para a
manutenção de placas danificadas devido a atos de vandalismo,
ou seja, cerca de R$ 60 mil. Com tal valor seria possível
adquirir 300 placas novas; ou colocar semáforos modernos com
contagem regressiva em cruzamentos da cidade.
O programa
Além da Acic, o programa da prefeitura tem a Câmara dos
Dirigentes Lojistas (CDL), a Ceprocamp e a Instituição Liberty
como parceiros. Apesar da falta de um balanço oficial, nos
oito primeiros meses alguns prédios foram recuperados, como o
Palácio da Mogiana, o Centro de Convivência Cultural e o
Palácio dos Azuleijos, que voltou a ser pichado. O projeto
previa que outros 139 imóveis e equipamentos da prefeitura
danificados por pichações fossem revitalizados, mas não se
sabe quais imóveis foram recuperados.
Palácio da Mogiana é um exemplo que, se fosse colocado
integralmente em prática, o programa poderia melhorar a cara
da cidade. O local, localizado no Guanabara, foi repintado e
recebeu iluminação nova. “Tivemos uma repercussão
interessante. Com a iluminação, a ação dos pichadores foi
inibida e o palácio está há 13 meses sem pichação”, lembra a
presidente da Acic.
A prefeitura ainda incentivou um concurso de grafite, que
premiou os cinco melhores colocados. Ao total, foram
distribuídos R$ 7 mil aos ganhadores.
Porém, os bons exemplos param por aí. Com o fim do programa a
cidade ficou sem alternativa para o problema da pichação.
Tanto Adriana Flosi, da Acic, como Deise Ribeiro, do
Condepacc, concordam que é preciso um programa constante para
conscientizar e mudar o comportamento dos pichadores, para
resolver o problema na sua base.
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Combate à pichação em Campinas fracassa por falta de políticas claras

  • 1. Campinas/SP - Combate à pichação fracassa e marca dos vândalos predomina Prefeitura não tem balanço e jogo do empurra paralisa o programa de revitalização. “Programa de Combate a Pichação”, iniciado em março de 2009 pela Prefeitura de Campinas, ainda não mostrou exatamente a que veio. A cidade continua com suas principais praças e monumentos pichados, como é o caso do Largo das Andorinhas, quase em frente à prefeitura, e da estátua do ex-presidente Campos Sales, no Centro. Na administração municipal, os envolvidos não possuem um balanço do que foi feito, nem entram em um acordo sobre a responsabilidade pelo programa. Jogo do empurra de um lado, poluição visual por todos os outros. Uma das intenções da prefeitura era incentivar os lojistas da região central a pintarem suas faixadas que estavam pichadas, mas os aliados são agora críticos do programa. “Realmente os comerciantes não aderiram. Era algo opcional. Eles compravam tinta de uma forma mais barata e pagavam a prefeitura para que usassem a mão de obra dos reeducandos, mas o programa não vingou”, conta Adriana Flosi, presidente da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic). Para Adriana, a campanha foi um fracasso, pois não conseguiu atingir seu objetivo, que era de diminuir a pichação na cidade. “A prefeitura tinha que exigir e cobrar mais. Deveria acontecer uma campanha constante sobre este assunto”, afirma. Fracasso anunciado
  • 2. Entre os órgãos da prefeitura responsáveis pelo programa, estava o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). A coordenadora do órgão, Deise Ribeiro, também participou das ações de combate a pichação. “Aquilo foi a primeira etapa. O primeiro contato com o problema. Repintamos vários locais, porque vimos que era uma ação necessária. Foi uma medida paliativa, sabíamos que não teríamos resultados expressivos”, explica a coordenadora. Sobre o pouco tempo do programa antipichação, Deise Ribeiro esclarece: “O programa tem várias etapas. Nós finalizamos a primeira ano passado. Existe a possibilidade de voltar ainda este ano, mas não sei quando”, justifica. Jogo do empurra A coordenadora do Condepacc também se justificou sobre a falta de um balanço final de todo o programa realizado em 2009. Deise afirmou que os relatórios e atividades feitas sob responsabilidade do Condepacc foram entregues a Secretaria de Comunicação. O secretário Francisco Lagos, responsável pela pasta, disse não se lembrar dos resultados finais e que se afastou do programa por motivos de saúde. Segundo Lagos, o secretário de Serviços Públicos, Flávio Augusto Ferrari de Senço, poderia esclarecer as dúvidas sobre o programa. O secretário de Serviços Públicos respondeu, via assessoria, que não tinha nada preciso para falar sobre o assunto. De acordo com sua assessoria de imprensa, apesar de não haver uma campanha de conscientização, as ações paliativas contra pichação continuam com o trabalho das reeducandas, que recentemente limparam monumentos da cidade. Sem muitos resultados, já que as praças continuam pichadas. A Guarda Municipal (GM) também participou do programa de combate pichação. Segundo Marco Aurélio Sotto, assessor da GM, na época do programa não foi feito nenhum patrulhamento especial para o combate a ação dos pichadores. “A guarda se
  • 3. baseou, e continua se baseando, em três áreas: denúncia, monitoramento através de câmeras e flagrante”, afirmou. Na ausência de políticas claras de combate ao problema, os pichadores desafiam a própria Guarda Municipal. Um dos prédios pichados é o Palácio dos Azulejos, prédio tombado e antiga sede da administração municipal, que fica na esquina da Rua Regente Feijó com a Avenida Moraes Sales. É a mesma quadra da sede da Guarda Municipal, na Moraes Sales. Uma das principais funções da guarda é exatamente zelar pelo patrimônio público. Ação desesperada Enquanto os responsáveis não entram num acordo sobre o passado e o futuro do programa, as marcas dos pichadores estão por toda a cidade, com tendência a crescimento. Para o artista plástico especializado em grafite Hélio Cabelin, o programa de combate a pichação foi uma ação “desesperada” dos órgãos responsáveis. “O trabalho não está sendo feito como deveria. Deve haver uma ação socioeducativa e um questionamento sobre o que leva as pessoas a picharem”, diz o artista. Para Cabelin, o grafite é uma linguagem que contrapõe à pichação e deve ser usado para atrair as pessoas que picham a cidade. “Eu trabalhei em um projeto ensinando grafite para ex- pichadores em Hortolândia. Isso mostra que dá pra fazer um trabalho legal, tirando esse pessoal desse mundo”. Ele lembra que a pichação é um problema social e que deixa uma ferida na sociedade. “Essas pessoas estão marginalizadas. Temos que trazê-las de volta”. Quanto mais alto melhor O adolescente e ex-pichador Leandro (nome fictício), hoje com 16 anos, começou a pichar aos 14 anos. “Comecei porque queria expressar meus sentimentos e me mostrar para os outros”. Ele diz que há uma disputa pelos lugares mais altos da cidade, já
  • 4. que são os mais difíceis de pichar. “Tinha casos em que agente levava escada. O lugar mais alto é sempre o melhor, porque todo mundo pode ver sua ‘marca’”. Leandro diz que nunca temeu ser pego pela polícia e que só parou de pichar porque o feitiço virou contra o feitiçeiro. “Parei porque picharam a minha casa. Aquilo não foi legal. Daí eu percebi o que eu estava fazendo e decidi parar”, diz o adolescente. De acordo com dados da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), das 5.417 placas da cidade, cerca de 30% são substituídas por causa de atos de vandalismo, incluindo a pichação. Dos R$ 200 mil mensais investidos na implantação de sinalização, cerca de 30% são utilizados apenas para a manutenção de placas danificadas devido a atos de vandalismo, ou seja, cerca de R$ 60 mil. Com tal valor seria possível adquirir 300 placas novas; ou colocar semáforos modernos com contagem regressiva em cruzamentos da cidade. O programa Além da Acic, o programa da prefeitura tem a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), a Ceprocamp e a Instituição Liberty como parceiros. Apesar da falta de um balanço oficial, nos oito primeiros meses alguns prédios foram recuperados, como o Palácio da Mogiana, o Centro de Convivência Cultural e o Palácio dos Azuleijos, que voltou a ser pichado. O projeto previa que outros 139 imóveis e equipamentos da prefeitura danificados por pichações fossem revitalizados, mas não se sabe quais imóveis foram recuperados. Palácio da Mogiana é um exemplo que, se fosse colocado integralmente em prática, o programa poderia melhorar a cara da cidade. O local, localizado no Guanabara, foi repintado e recebeu iluminação nova. “Tivemos uma repercussão
  • 5. interessante. Com a iluminação, a ação dos pichadores foi inibida e o palácio está há 13 meses sem pichação”, lembra a presidente da Acic. A prefeitura ainda incentivou um concurso de grafite, que premiou os cinco melhores colocados. Ao total, foram distribuídos R$ 7 mil aos ganhadores. Porém, os bons exemplos param por aí. Com o fim do programa a cidade ficou sem alternativa para o problema da pichação. Tanto Adriana Flosi, da Acic, como Deise Ribeiro, do Condepacc, concordam que é preciso um programa constante para conscientizar e mudar o comportamento dos pichadores, para resolver o problema na sua base. Fonte original da notícia