Desafio intermodal mostra alternativas sustentáveis ao automóvel
1. E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 3 0 D E S E T E M B R O D E 2 0 0 7
2 CLASSIFICADOSVEÍCULOS
ROLIMÃ
A IDEOLOGIA SOCIAL DO CARRO A MOTOR
“Quando o carro foi inventado, ele o foi para prover poucos dos muito ricos com um privilégio completamente
sem precedentes: viajar muito mais rapidamente do que todos os demais. Ninguém até então tinha sonhado
GURU DA MASSA CRÍTICA com isso. A velocidade de todas as carroças era essencialmente a mesma, fosse você rico ou pobre. As bela). Além disso, é o transporte mais
carruagens dos ricos não eram mais velozes do que as carroças dos camponeses, e trens carregavam todos na caro e, se considerado o número de pas-
O filósofo austríaco André Gorz foi en- mesma velocidade (não possuiam velocidades diferentes até eles começarem a competir com o automóvel e o sageiros, é, junto com a motocicleta, o
contrado morto segunda-feira, em casa, avião). Assim, até a virada do século, a elite não viajava em uma velocidade diferente do povo. O carro a motor mais poluente. Quem fez o trajeto
em Vosnon, na França. Suicidou-se jun- iria mudar tudo isso. Pela primeira vez, as diferenças de classe foram estendidas à velocidade e aos meios de usando a baldeação entre o metrô e o
to com a esposa. Colaborador da revista transporte. Ao contrário de todos os proprietários anteriores de meios de locomoção, o relacionamento do ônibus gastou R$ 0,28 a menos do que
Les Temps Modernes, fundada por Jean motorista com seu veículo viria a ser aquele do usuário e consumidor – e não do proprietário e do mestre. Este os que foram de carro e chegou 6 minu-
Paul Sartre, chegou a fazer parte do con- veículo, em outras palavras, obrigaria o proprietário a consumir e usar uma gama de serviços comerciais e tos depois na Savassi. Isso porque a bal-
selho editorial da publicação na década produtos industriais que somente poderiam ser fornecidos por um terceiro. A independência aparente do deação se mostrou a melhor opção de
de 40, e depois fundou a Le Nouvel Ob- proprietário do automóvel apenas escondia a dependência radical real.” transporte coletivo.
servateur, nos anos 60. Também foi au-
tor de diversas obras, algumas traduzi- DESAFIO INTERMODAL PREJUDICADO Quem optou pelo ôni-
das para o português, entre elas Miséria bus direto, a linha 4111, que liga os
do presente, riqueza possível: Crítica da MODALIDADE TEMPO DISTÂNCIA VELOCIDADE CAL* CO** HC*** CUSTO bairros Dom Cabral e Anchieta, pas-
divisão do trabalho: e O imaterial: co- sando pelo Padre Eustáquio e também
Motocicleta 21m16s 8,80km 25,14km/h 38 48,40g 10,56g R$0,52 pelo Centro, levou 1h10m9s. Só 4 mi-
nhecimento, valor e capital. Mas Gorz, Ciclista 1 28m41s 8,80km 18,86km/h 224 0 0 0
que morreu aos 84 anos, também pode Ciclista 2 30m58s 8,80km 17,60km/h 293 0 0 0
nutos mais rápido do que o analista de
ser lembrado por seu célebre texto: A Ciclista 3 37m12s 9,80km 15,89km/h 258 0 0 0 sistemas Humberto Guerra, que fez o
ideologia social do carro a motor (1973) Corrida 42m05s 8,30km 11,86km/h 712 0 0 0 trajeto a pé. É claro que ele escolheu o
(trecho no centro da página), que fez Automóvel 44m37s 8,80km 12km/h 262 17,60g 2,64g R$2,28 trajeto mais curto, passando pela Ave-
Metrô + ônibus 50m06s 10,30km 12,36km/h 118 16,35g 2,34g R$2 nida Amazonas, mas como tinha que
dele referência para o movimento co- Ônibus + caminhada 1h04m37s 9,10km 8,53km/h 695 11,45g 1,64g R$2
nhecido como “massa crítica”, que arti- Ônibus com baldeação 1h05m58s 9,40km 8,68km/h 118 51,23g 7,33g R$4 passar na esquina da Avenida Afonso
cula o Dia Mundial Sem Carro, comemo- Ônibus direto 1h10m09s 11,30km 9,69km/h 297 61,59g 8,81g R$2 Pena com Rua da Bahia, teve que alon-
rado na semana passada. Caminhada 1h14m15s 8,60km 6,97km/h 1.218 0 0 0 gar a caminhada. “Se não fosse isso, te-
ria ganhado do ônibus”, afirma.
*Gasto xalórico / **Emissão de Monóxido de xarbono / *** Emissão de hidrocarbonetos
APOCALIPSE Gorz explana de forma
clara e direta, como os bons filósofos fa- REVELAÇÃO Aos 39 anos, há oito Hum-
zem, que o automóvel é uma das várias bertoabandonouoautomóvel.“Quando
estupidezes do homem e que prejudi- DESAFIO No sábado, 22, o Dia Mundial quina da Avenida Afonso Pena com metrado. Depois do resultado e com me mudei para perto do meu trabalho,
ca o convívio social. O texto é difundi- Sem Carro, foi organizado um passeio Rua da Bahia e fotografar o local, eleito base em dados do Programa de Con- passei a ir a pé. Já andava de bicicleta nos
do por diversos blogs e sites dos cicloa- ciclístico pela Avenida do Contorno. como ponto central. A largada na PUC trole de Poluição de Ar por Veículos fins de semana e, com o tempo, comecei
tivistas (os ciclistas engajados em dimi- Mas o interessante e já elaborado em foi às 18h15, horário de trânsito conges- Automotores (Proconve) do Instituto a usá-la no dia-a-dia. Até que um dia fui
nuir o avanço sem freio e enfumaçado outras cidades do mundo e que, pela tionado. O objetivo foi mostrar que o Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), ligar o carro e a bateria estava arriada.
dos veículos a motor). As palavras dele primeira vez, realizou-se de forma efi- automóvel não é tão bom quanto apa- e dos números da distância percorrida, Descobri que não precisava mais dele”,
estão na coletânea Apocalipse motori- ciente na capital mineira foi o desafio renta ser, mesmo que o design provo- os organizadores, membros do Mou- lembra. Com o tempo, transformou o
zado (Editora Conrad, R$ 17,60), que intermodal. Prova na qual 11 pessoas cador e a rica publicidade insistam em tain Bike BH (www.moutainbike- acaso em questão ideológica, se uniu aos
reúne outras de mesmo tom sobre o te- saíram do portão da PUC Minas, no revelar que por cima das quatro rodas bh.com.br), calcularam as emissões de outros ciclistas em discussões em fóruns
ma e em conjunto capitulam o livreto Bairro Coração Eucarístico, na Região existe um totem do consumo, que as- poluentes de cada meio. na internet. Forma um núcleo daquilo
– bíblia do movimento crescente no Noroeste, usando diversos meios de socia a propriedade à felicidade. que é chamado de Massa Crítica. “A cida-
Brasil –, inclusive em Belo Horizonte, transporte e chegaram a um ponto da NO ALVO O objetivo foi conseguido de está saturada. O barulho da cidade é o
que com sua topografia acidentada exi- Savassi, na Região Centro-Sul. ARSENAL Todos os voluntários saíram com louvor. O automóvel chegou em barulho dos automóveis. As pessoas es-
ge fôlego e força dos que se aventuram equipados com aparelhos para medir sexto lugar. Perdeu para os voluntários tão sedentárias e pegam o carro para ir
a se locomover sem carro. DESMASCARAMENTO Para is- a freqüência cardíaca e o gasto calóri- que fizeram o percurso correndo, de na padaria, ao lado de casa”,
so, tiveram que passar na es- co, e ainda tiveram o tempo crono- bicicleta e de motocicleta (leia ta- constata Humberto.
STR/AFP
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