Dilma leu reportagem sobre tortura sofrida em Juiz de Fora em 1972, mas preferiu não comentar. O relato repercutiu entre setores do governo e da sociedade civil, que destacaram a importância de testemunhos como o de Dilma para desconstruir versões da ditadura e esclarecer violações de direitos humanos na época. A Comissão da Anistia reconheceu indenizações a vítimas de tortura no valor total de R$2,4 bilhões.
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POLÍTICA 5
Antes de deixar o Brasil ontem, rumo ao México, Dilma lê reportagem do EM sobre a violência
sofrida por ela em Juiz de Fora. Matéria repercute entre setores do governo e da sociedade civil
Presidente opta
ROBERTO STUCKERT FILHO/PR
Presidente
Dilma
desembarcou
ontem no
México para
pelo silêncio
participar da
reunião do G20
BERTHA MAAKAROUN,
DENISE ROTHENBURG E RENATA MARIZ
Logo de manhã, antes de dei-
xar o Brasil rumo ao México, on-
de participa de reunião do G20, a
presidente Dilma Rousseff leu a
reportagem do Estado de Minas
sobre a tortura por ela sofrida em
Juiz de Fora (MG), em 1972, mas
preferiu o silêncio. Entre setores
do governo e da sociedade civil,
entretanto, os relatos contunden-
tes da mandatária do país foram
motivo de muita repercussão. Se-
cretário nacional de Justiça e pre-
sidente da Comissão de Anistia
do Ministério de Justiça, Paulo
Abrão destacou a importância de
testemunhos como o de Dilma
ao Conselho Estadual de Indeni-
zação às Vítimas de Tortura para
desconstruir as verdades produ-
zidas pela ditadura.
“A riqueza do testemunho de
Dilma Rousseff na comissão esta-
dual é recorrente nesses quase 11
anos de julgamentos. Esse caso
ajuda a divulgarmos para a socie-
dadeaimportânciadoarquivodas
vítimas”, afirma Abrão. A divulga-
çãodorelatodapresidentereacen-
deu, na Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) – seção Minas Gerais,
o debate encerrado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), que consi-
derou a anistia ampla, para os dois
lados – agentes do Estado e atores
da resistência. “Nós, da OAB, conti-
nuamos a entender que a Lei da
Anistia não prospera diante da si-
tuação fática do crime da tortura.
Temos de continuar a exigir puni-
ção”, disse Luís Cláudio Chaves,
presidente da OAB-MG.
No mesmo coro, o presidente
da OAB no Rio de Janeiro, Wadih
Damous, lembrou a importância
da Comissão da Verdade, que pre-
tende esclarecer violações de direi-
tos humanos ocorridas no perío-
do da ditadura. “O fato de a presi-
dentetersidotorturadaemJuizde
Fora era desconhecido de todos, o
que mostra a amplitude e a res-
ponsabilidade dos trabalhos que a
Comissão da Verdade terá que de-
senvolver”, afirmou Wadih. Ele se
disse impressionado com a con-
tundência do depoimento de Dil-
ma reproduzido pela reportagem.
“É muito difícil conter a indigna-
ção diante do relato da presidente
Dilma. São sofrimentos extraordi-
nários que não encontram parale-
lo no cotidiano das nossas vidas.”
Para o deputado Cândido Vac-
carezza (PT-SP), conhecer mais um
relato de tortura sofrida pela pre-
sidente da República colabora pa-
ra a conscientização da sociedade,
especialmente no momento em
que a Comissão da Verdade come-
çou a funcionar. “Todas essas his-
tórias servem para as pessoas sa-
berem a verdade, os fatos ocorri-
dos, para que eles nunca mais se
repitam”, destacou o petista.
“Sãodepoimentosqueservirão
para a história. Essas pessoas que
superam a dor e contam o que vi-
veram contribuem para a história
de todos e a história do Brasil na-
queles anos tão difíceis”, afirmou
Márcio Santiago, coordenador
executivo da Comissão Estadual
de Indenização às Vítimas de Tor-
tura de Minas Gerais.
Em 20 mil dos 60 mil proces-
sos julgados, entre os 70 mil rece-
bidos pela Comissão da Anistia
desde 28 de agosto de 2001, quan-
do foi instalada, cidadãos tive-
ram reconhecido o direito a inde-
nizações no valor máximo de
R$ 100 mil, que, juntas, somam
R$ 2,4 bilhões.
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