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E STA D O D E M I N A S   ●   S E G U N D A - F E I R A ,   1 8   D E   J U N H O   D E   2 0 1 2



                                                                                 POLÍTICA                                                                                               5




Antes de deixar o Brasil ontem, rumo ao México, Dilma lê reportagem do EM sobre a violência
sofrida por ela em Juiz de Fora. Matéria repercute entre setores do governo e da sociedade civil


Presidente opta
                                                                                                                                           ROBERTO STUCKERT FILHO/PR
                                                                                                                                                                       Presidente
                                                                                                                                                                       Dilma
                                                                                                                                                                       desembarcou
                                                                                                                                                                       ontem no
                                                                                                                                                                       México para




pelo silêncio
                                                                                                                                                                       participar da
                                                                                                                                                                       reunião do G20




       BERTHA MAAKAROUN,
DENISE ROTHENBURG E RENATA MARIZ

    Logo de manhã, antes de dei-
xar o Brasil rumo ao México, on-
de participa de reunião do G20, a
presidente Dilma Rousseff leu a
reportagem do Estado de Minas
sobre a tortura por ela sofrida em
Juiz de Fora (MG), em 1972, mas
preferiu o silêncio. Entre setores
do governo e da sociedade civil,
entretanto, os relatos contunden-
tes da mandatária do país foram
motivo de muita repercussão. Se-
cretário nacional de Justiça e pre-
sidente da Comissão de Anistia
do Ministério de Justiça, Paulo
Abrão destacou a importância de
testemunhos como o de Dilma
ao Conselho Estadual de Indeni-
zação às Vítimas de Tortura para
desconstruir as verdades produ-
zidas pela ditadura.
    “A riqueza do testemunho de
Dilma Rousseff na comissão esta-
dual é recorrente nesses quase 11
anos de julgamentos. Esse caso
ajuda a divulgarmos para a socie-
dadeaimportânciadoarquivodas
vítimas”, afirma Abrão. A divulga-
çãodorelatodapresidentereacen-
deu, na Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) – seção Minas Gerais,
o debate encerrado pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), que consi-
derou a anistia ampla, para os dois
lados – agentes do Estado e atores
da resistência. “Nós, da OAB, conti-
nuamos a entender que a Lei da
Anistia não prospera diante da si-
tuação fática do crime da tortura.
Temos de continuar a exigir puni-
ção”, disse Luís Cláudio Chaves,
presidente da OAB-MG.
    No mesmo coro, o presidente
da OAB no Rio de Janeiro, Wadih
Damous, lembrou a importância
da Comissão da Verdade, que pre-
tende esclarecer violações de direi-
tos humanos ocorridas no perío-
do da ditadura. “O fato de a presi-
dentetersidotorturadaemJuizde
Fora era desconhecido de todos, o
que mostra a amplitude e a res-
ponsabilidade dos trabalhos que a
Comissão da Verdade terá que de-
senvolver”, afirmou Wadih. Ele se
disse impressionado com a con-
tundência do depoimento de Dil-
ma reproduzido pela reportagem.
“É muito difícil conter a indigna-
ção diante do relato da presidente
Dilma. São sofrimentos extraordi-
nários que não encontram parale-
lo no cotidiano das nossas vidas.”
    Para o deputado Cândido Vac-
carezza (PT-SP), conhecer mais um
relato de tortura sofrida pela pre-
sidente da República colabora pa-
ra a conscientização da sociedade,
especialmente no momento em
que a Comissão da Verdade come-
çou a funcionar. “Todas essas his-
tórias servem para as pessoas sa-
berem a verdade, os fatos ocorri-
dos, para que eles nunca mais se
repitam”, destacou o petista.
    “Sãodepoimentosqueservirão
para a história. Essas pessoas que
superam a dor e contam o que vi-
veram contribuem para a história
de todos e a história do Brasil na-
queles anos tão difíceis”, afirmou
Márcio Santiago, coordenador
executivo da Comissão Estadual
de Indenização às Vítimas de Tor-
tura de Minas Gerais.
    Em 20 mil dos 60 mil proces-
sos julgados, entre os 70 mil rece-
bidos pela Comissão da Anistia
desde 28 de agosto de 2001, quan-
do foi instalada, cidadãos tive-
ram reconhecido o direito a inde-
nizações no valor máximo de
R$ 100 mil, que, juntas, somam
R$ 2,4 bilhões.


   LEIA AMANHÃ
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   PARA OS MILITANTES DE BH

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  • 1. E STA D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 1 8 D E J U N H O D E 2 0 1 2 POLÍTICA 5 Antes de deixar o Brasil ontem, rumo ao México, Dilma lê reportagem do EM sobre a violência sofrida por ela em Juiz de Fora. Matéria repercute entre setores do governo e da sociedade civil Presidente opta ROBERTO STUCKERT FILHO/PR Presidente Dilma desembarcou ontem no México para pelo silêncio participar da reunião do G20 BERTHA MAAKAROUN, DENISE ROTHENBURG E RENATA MARIZ Logo de manhã, antes de dei- xar o Brasil rumo ao México, on- de participa de reunião do G20, a presidente Dilma Rousseff leu a reportagem do Estado de Minas sobre a tortura por ela sofrida em Juiz de Fora (MG), em 1972, mas preferiu o silêncio. Entre setores do governo e da sociedade civil, entretanto, os relatos contunden- tes da mandatária do país foram motivo de muita repercussão. Se- cretário nacional de Justiça e pre- sidente da Comissão de Anistia do Ministério de Justiça, Paulo Abrão destacou a importância de testemunhos como o de Dilma ao Conselho Estadual de Indeni- zação às Vítimas de Tortura para desconstruir as verdades produ- zidas pela ditadura. “A riqueza do testemunho de Dilma Rousseff na comissão esta- dual é recorrente nesses quase 11 anos de julgamentos. Esse caso ajuda a divulgarmos para a socie- dadeaimportânciadoarquivodas vítimas”, afirma Abrão. A divulga- çãodorelatodapresidentereacen- deu, na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – seção Minas Gerais, o debate encerrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que consi- derou a anistia ampla, para os dois lados – agentes do Estado e atores da resistência. “Nós, da OAB, conti- nuamos a entender que a Lei da Anistia não prospera diante da si- tuação fática do crime da tortura. Temos de continuar a exigir puni- ção”, disse Luís Cláudio Chaves, presidente da OAB-MG. No mesmo coro, o presidente da OAB no Rio de Janeiro, Wadih Damous, lembrou a importância da Comissão da Verdade, que pre- tende esclarecer violações de direi- tos humanos ocorridas no perío- do da ditadura. “O fato de a presi- dentetersidotorturadaemJuizde Fora era desconhecido de todos, o que mostra a amplitude e a res- ponsabilidade dos trabalhos que a Comissão da Verdade terá que de- senvolver”, afirmou Wadih. Ele se disse impressionado com a con- tundência do depoimento de Dil- ma reproduzido pela reportagem. “É muito difícil conter a indigna- ção diante do relato da presidente Dilma. São sofrimentos extraordi- nários que não encontram parale- lo no cotidiano das nossas vidas.” Para o deputado Cândido Vac- carezza (PT-SP), conhecer mais um relato de tortura sofrida pela pre- sidente da República colabora pa- ra a conscientização da sociedade, especialmente no momento em que a Comissão da Verdade come- çou a funcionar. “Todas essas his- tórias servem para as pessoas sa- berem a verdade, os fatos ocorri- dos, para que eles nunca mais se repitam”, destacou o petista. “Sãodepoimentosqueservirão para a história. Essas pessoas que superam a dor e contam o que vi- veram contribuem para a história de todos e a história do Brasil na- queles anos tão difíceis”, afirmou Márcio Santiago, coordenador executivo da Comissão Estadual de Indenização às Vítimas de Tor- tura de Minas Gerais. Em 20 mil dos 60 mil proces- sos julgados, entre os 70 mil rece- bidos pela Comissão da Anistia desde 28 de agosto de 2001, quan- do foi instalada, cidadãos tive- ram reconhecido o direito a inde- nizações no valor máximo de R$ 100 mil, que, juntas, somam R$ 2,4 bilhões. LEIA AMANHÃ A DESCONHECIDA ESTELA PARA OS MILITANTES DE BH