4. Era uma vez uma senhora velha,
anafada, muito enfeitada que
tinha um gato novo muito
lustroso, com fita verde em redor
do pescoço e um guizo dourado,
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Era um gato de salão, se assim se lhe podia chamar, tinha
boas maneiras, miar delicado e fino, unhas cortadas,
dormia numa almofada de veludo e só comia peixe sem
pele e sem espinha. As suas patas almofadadas nunca
tinham pisado a rua, nunca tinham trepado aos telhados,
percorriam apenas as salas alcatifadas.
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Certo dia, estava o gato refastelado a descansar de não fazer
nada quando viu, mesmo à sua frente, um rato a comer-lhe
do prato.
Deu um pulo, o guizo tocou, o rato subiu pelos cortinados.
Felício ficou a cheirá-lo, de nariz no ar, à espera que o rato
descesse. Mas não descia. Dançava lá em cima, chiava,
cantarolando:
8. Ó gato Felício,
tu vem-me apanhar
És gato de sala,
Não sabes caçar!2012/2013 8Biblioteca/CRE
12. Ao ver-se troçado, deixou-se o
gato cair em tal tristeza que não
mais comeu nem dormiu.
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13. Enrolado em mantas, levou-o a
dona ao veterinário, que o
observou da cabeça até às
patas, tirando-lhe o guizo para
lhe apalpar o pescoço.
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14. - Este gato não tem dentes furados, nem espinhas
na garganta, nem dores de barriga, nem seja o que
for. Deve sofrer algum desgosto.
- Sofrer de um desgosto, o gato Felício, se não lhe
falta nada?
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17. A senhora quase desmaiou, o veterinário
abriu a boca, e enquanto o diabo esfrega um
olho o rato saltou para o chão, do chão para a
janela, desta para a rua. Atrás dele o gato, atrás a
senhora, depois o veterinário.
O rato esgueirou-se, o gato fugiu, a
senhora voltou para casa a chorar, o veterinário
foi para o consultório a rir.
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18. Pela cidade, pelos campos, pelos
jardins, pelos telhados, corriam o rato
e o gato, até que treparam ao alto da
chaminé da casa onde moravam.
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19. O gato abriu a boca, esticou quanto pôde as unhas
cortadas e zás… ia agarrar o rato quando este caiu pela
chaminé abaixo.
- Desta vez não me escapas! – gritou-lhe o gato, e
atirou-se também.
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20. Pobre rato, pobre gato!
Mergulharam num panelão.
Nadava o rato contente no meio
da sopa, afogava-se o gato, que
não sabia nadar.
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21. Então duas gordas lágrimas
tombaram dos olhos do rato e logo
duas patitas empurraram o Felício
para a borda, ajudando-o a sair.
O gato pingado, reconhecido, abraçou o rato
pingão, e ambos, pingando sopa, atravessaram a
cozinha, o corredor,
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22. e foram deitar-se lado a lado, na almofada de veludo. E desde
essa hora ficaram amigos.
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