2. Sejam bichos do sertão,
do campo ou de casa, e tenham
pata, barbatana ou asa,
e venham lá donde venham,
juntos neste livro são
BICHOS DE TRAZER POR CASA.
3. Ai burro,
burrinho,
bichinho
sem sorte,
tu és bom e forte,
mas chamam-te burro!
De pêlo comprido,
fazia sentido
chamares-te peludo.
De orelha esquisita,
seria catita
chamares-te orelhudo.
De rabo bandeado
num tal desatino,
seria engraçado
chamares-te rabino.
Mas – ai! - não gostaram
de ouvir o teu zurro
e só se lembraram
do nome de burro!
Tu andas nas noras
que regam as hortas;
tu trazes cenouras
até nossas portas;
tu vais ao moinho
com sacos de trigo
que dão o pãozinho…
Ai burro,
burrinho,
tu és nosso amigo!
Mas só porque és
um pouco casmurro
(ou muito, talvez),
chamaram-te burro!
Chamaram-te burro,
bichinho
sem sorte,
tão bom e tão forte,
tão nosso amiguinho…
mas burro,
burrinho!
BURRINHO
4. GIRAFA
Tenho pena da girafa
de pescoço grandalhão:
- Como é que a pobre se abafa,
tendo uma constipação?
Coitadinho da girafa!
Quando eu me constipo, posso
arranjar um cachecol.
Mas com aquele pescoço…
Safa!
Pobre da girafa!
- Vou oferecer-lhe um lençol.
5. SENHOR PERU
Senhor peru, não gosto dessas modos
com que trata vizinhos e vizinhas.
Nem olha… Sejam patos ou galinhas,
parece que se julga o rei de todos.
Muito inchado… Porquê, senhor peru?
Lá porque tem um lindo casabeque,
escusa de pôr sempre a cauda em leque
e fazer voz de papo: glu-glu-glu.
Senhor peru, há muita gente nobre
que se esquece de que há gente mais pobre
mas mais limpa e alegre, mais feliz.
Tão vaidoso, porquê? Vaidoso e bronco.
Senhor peru careca e com um monco,
- vá limpar esse ranho do nariz!
6. CANGURU
O canguru,
bicho amigo,
tem um baú no umbigo.
Quando um bebé canguru
ainda não anda a pé
ou tem frio de andar nu,
logo a mamã canguru,
sem carrinho de bebé,
abre o baú
onde
esconde
o menino canguru, amigo
canguruzito
de baùzito
no umbigo.
7. CORUJA
Ó coruja de olhos grandes,
arregalados,
enormes,
toda a noite andas e pias,
mas de dia nunca andas
entre os bichos acordados, não andas nem pias,
dormes,
ó coruja de olhos grandes.
És quase como o morcego
que, vendo o sol, fica cego,
E, embora sejas mazinha,
como de dia és ceguinha,
coruja, eu sou teu amigo…
mas não consigo
encontrar-te.
Que pena eu tenho de ti!
Procurei-te por todas a parte,
árvores, torres e muros,
não consegui
encontrar-te.
Para que de dia andes,
quero dar-te
os meus óculos escuros,
ó coruja de olhos grandes.
8. ADIVINHA
C om quatro patinhas, o rabo curtinho,
O relhas compridas, peludo – é verdade –
E sempre a mexer o nariz quando come,
L ouco por cenouras e alfaces, louquinho,
H á tanto no campo como na cidade.
O nome não digo. Qual é o seu nome?
9. POMBO – CORREIO
Um dia uma nuvenzinha
que parecia uma bolinha,
veio sobre a minha casinha,
ficou parada no ar.
E eu gritei: “Ó nuvenzinha
tão branquinha e redondinha,
gostava que fosses minha
para contigo brincar.”
Mas, tão alta, a nuvenzinha
não me podia escutar.
Foi então que resolvi
escrever-lhe uma cartinha
dizendo “gosto de ti”,
e atirei a carta ao ar.
E a cartinha deu um salto,
voou ao céu a cartinha,
subiu tão alto, tão alto
que chegou à nuvenzinha.
Mas então a nuvenzinha
que parecia uma bolinha
tão branquinha e redondinha
que eu queria que fosse minha
para com ela brincar,
ficou no céu quietinha,
ficou parada a olhar
p´ra mim na minha casinha.
e a nuvenzinha não veio…
mas mandou-me uma cartinha,
uma cartinha que eu li,
uma cartinha que eu leio
e que diz “gosto de ti”.
O portador da cartinha
foi o meu pombo-correio.
10. CARACOL
Caracol
da casa às costas
e de pauzinhos ao Sol,
tão mole
e que tanto gostas
de passear no jardim,
já não me enganas a mim.
Assim vagaroso
e mole,
és um menino preguiçoso,
caracol,
e não gostas
da escola
e vens de malinha às costas
porque fugiste da escola
para brincar no jardim.
Não é assim,
caracol?
E por seres mandrião
e casmurro,
sabes o que são
esses pauzinhos ao Sol?
São orelhas de burro,
caracol!
11. Gosto da cabra
com ar pacato,
pêlo barato,
tão pobrezita.
Gosto da cabra
com duas tetas
e dois cornichos
voz feiazita,
mas sem as tretas
nem os caprichos
dos outros bichos,
nada esquisita.
Gosto da cabra,
acho-a bonita.
Gosto da cabra
porque tem fome
- tem tanta fome!
Se ninguém der,
não se atrapalha,
vai onde calha
para comer
e tudo come,
ervas ou palha
ou o que houver.
Gosto da cabra
porque trabalha
para viver:
desce ao barranco,
sobe ao penedo,
num passo franco,
sempre p´rá frente,
sempre sem medo.
Gosto da cabra,
acho-a valente.
Gosto da cabra
até por ter
tão feio o nome.
Gosto da cabra
só por saber
que, se eu tiver
um dia fome
e me agachar
debaixo dela
para mamar,
eu já sei que ela
fica quieta,
não vai fugir
nem dar um grito:
sabe fingir
que uma pessoa
mamando a teta
é um cabrito.
Gosto da cabra,
acho-a tão boa!
E como a cabra
gosta da gente,
cabra cabrita
simples e boa,
nada esquisita,
como é valente,
acho-a bonita,
gosto da cabra.
Gosto da cabra,
amiga minha,
amiga cabra,
cabra amiguinha,
cabra cabrinha.
CABRA CABRINHA
12. HIPOPÓTAMO
Vi o hipopótamo em certa
tarde no Jardim Zoológico
e, como é lógico,
quis vê-lo de boca aberta
(a boca dele, não a minha)
E disse-lhe em voz meiguinha
e bem educada:
“Ó hipopótamo, abre a boquinha.”
E o hipopótamo…nada.
Depois tive a ideia louca
de fazê-lo bocejar.
Cheguei-me mais para ele:
“Ó hipopótamo, abre a boca.”
E abri muito a boca
(a minha boca, não a dele).
E o hipopótamo…só a olhar.
Então peguei numa couve
e comecei a gritar:
“Ó hipopótamo,
ouve,
agarra!”
E o hipopótamo…abriu a bocarra.
13. Com o bico curvo p´ra baixo
e outro de penas em cima
da cabeça, a imitá-lo,
branca catatua, eu acho
que do papagaio és prima:
também falas quando falo.
Com um bico na cabeça
e voz de cana rachada,
ó catatua infeliz,
falas sempre com a pressa
de quem fala e não diz nada
ou não percebe o que diz.
Com o bico mesmo bico
catas as penas e as patas,
- que triste mania a tua.
Junto a ti é que eu não fico,
a mim é que tu não catas…
Cata-te a ti, catatua!
CATATUA
14. RATO
Raivoso, o rato com fome
ratou à rica terrina,
à terrina rara e fina,
rijos retratos de queijo.
Rota, a terrina que eu vejo
a rir do rato, contou-me:
“Quem rata e ri? Pense e diga.
O raio do rato ratou-me,
ratei ao rato a barriga…”
15. PINGUIM
Cá para mim
o pinguim
é o bicho mais vaidoso
e teimoso
que há neste mundo sem fim.
Vive no Polo Sul,
onde tudo é gelado
(mar branco, não azul).
Pois se lá forem vê-lo,
anda sempre em cabelo
muito bem penteado.
O frio corta
como uma faca
e ele não se importa,
só veste casaca.
Com um frio daqueles,
neves, ventos, chuvas,
eu usava luvas,
casaco de peles,
gorro
de veludo…
e tudo
com forro.
Mas o pinguim,
isso sim!
Vaidoso,
teimoso,
esquisito,
deve ter fraca
a cachimónia:
acha bonito
vestir casaca
que é traje
de cerimónia.
E, viaje ou não viaje,
em Lisboa ou no Polo,
o tolo pinguim
-que tolo!
que tolo!-
anda sempre assim.
16. PICA-PAU
Pica-pau,
acho que és mau
agora
quando
te ouço lá fora
picando
as árvores do jardim
aqui pertinho da escola.
Pobre de mim
que te ouço
lá fora
e que não posso
sair da escola!
Ora
assim não:
vai-te embora,
pica-pau
Ou então…
Ó pica-pau,
podes entrar na escola
e ficar
e até picar
a valer
o que te der
na tola.
Valeu?
Ó meu
pica-pau
bem-vindo,
que lindo
seria eu
e os meus colegas
vermos
um pica-pau
sem termos,
picando às cegas,
picando à toa
madeira boa,
uma cadeira,
o tecto e o chão,
uma carteira,
a porta ou então
o rodapé
inteiro…
ou mesmo até
o ponteiro
da senhora
professora.
Pica-pau,
não sejas mau.
Ó pica-pau,
entra e fica,
pica,
pica,
pica-pau.
17. AVESTRUZ
Em muitas coisas que tem e faz,
o avestruz é um rei, um ás.
É a maior ave, saibam vocês,
e vê mais longe que a águia talvez.
No meio da selva vive feliz:
caçam-no, montam-no e nada diz.
Mais que um cavalo corre veloz.
Tem lindas plumas, não é feroz.
Pescoço e pernas sem fim e nus,
e a cabecinha que o avestruz
lá no alto traz
(dois metros ou três)
e só por um triz
não voa… é atroz
numa ave de truz.
Mas o avestruz
acha a vida boa
só porque não sabe
que é ave
e não voa.
18. PEIXINHO VERMELHO
Eu disse uma vez:
“Peixinho vermelho,
tu és novo ou velho?
És grande ou pequeno?
És loiro ou moreno?
Tu, sabes como és?”
E do seu aquário
o peixinho vermelho
respondeu-me assim:
“É extraordinário
perguntar-me a mim.
Quem nunca ao espelho
se viu nem mirou,
não sabe como é.
Eu moro num espelho
- é muito esquisito –
não sei como sou.
Diga-me você!”
E eu disse: “És bonito,
peixinho vermelho.”