O documento conta a história do desenvolvimento da escrita desde os primeiros registros pictográficos nas cavernas até a invenção do pergaminho. A fada explica ao livro recém-nascido que os primeiros registros humanos eram desenhos nas paredes de cavernas, e que a escrita evoluiu para representar não só objetos, mas também ideias e sons, tendo surgido primeiro na Mesopotâmia. Posteriormente, o papiro tornou-se um suporte importante no Antigo Egito, e mais tarde o pergaminho substituiu
3. Sentiu, de repente, que estava vivo.
Esperneou, esticou-se com gosto ...
- Hum! Camo me sinto bem! E que lugar tão calmo e tão maravilhoso!
Tudo tão verdinho à minha volta! E que calorzinho tão agradável!
Deve vir daquele sol tão amarelo e tão redondo!
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4. Pestanejou, estonteado pela intensidade da luz.
Estendeu o olhar e, um pouco adiante, divisou algumas pessoas
atarefadas, que andavam de um lado para o outro; viu também
alguns carros que não só circulavam a grande velocidade, como
também faziam bastante barulho.
- Afinal parece que me enganei! Acabei de nascer e os
meus ouvidos já não aguentam tanta violência. Ah! Espera ...
Parece que se aproxima alguém.
De facto, um homem sozinho, de aspeto severo e
segurando com energia uma pasta preta, caminhava na sua
direção.
- Desculpe, pode dizer-me se ... - começou.
Mas nada aconteceu. 0 homem nem sequer se desviou;
parecia que não o tinha visto.
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5. -Que distraído! Devia ir muito preocupado ...
Rapidamente deixou de pensar no homem que se afastava, pois
duas pessoas aproximavam-se, a conversar amenamente.
- Ei, vocês al, desculpem ... - gritou com mais força- gostava de
saber ...
Também desta vez nada aconteceu. Entusiasmadas com a
conversa, nem sequer ouviram chamar.
- Afinal, o que é que se passa comas pessoas? Não consigo
perceber nada. Por que é que não me ouvem? Porque é que não
param?
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6. Naquele memento, e para piorar a situação, começou a sentir
uma comichão muito desconfortável dentro de si.
-Hum! Que chatice! 0 que é que se passa comigo? Não basta
as pessoas não me darem importância?
E desviou o olhar, um pouco aborrecido já, procurando a
razão daquele desconforto. Mas o que viu, deixou-o
completamente desnorteado.
-Que horror! Estou tão sujo! 0 que é isto? Ah! Por isso é que
as pessoas não me olhavam! Entende agora por que razão não
me davam importância. Que horror! E que vergonha! 0 que é
que eu poderei fazer? Estou tão feio e tão sujo, tantas
coisas pretas dentro de mim! Assim, nunca, nunca irei
encontrar alguém que goste de mim ...
E palavras não eram ditas, desatou a chorar desconsolado.
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7. Estava tão preocupado com a sua desdita que deixou de
ouvir as pessoas e os carros e deixou de apreciar o sol e a
relva fresquinha que o envolvia.
- Ninguém me ouve, ninguém me ajuda! Que infeliz sou!
- Tem calma!
-Calma, como é que eu posso ... o quê? Mas ... está alguém a
falar comigo!- E limpou apressadamente as lagrimas.-
Quem és tu? Onde estás?
- Aqui, mesmo ao teu lado!
-Ah!
- Já me vês?
- Sim. - E continuou a esfregar os olhos húmidos. - Mas ...
és diferente! És diferente daquelas pessoas ali. ..
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8. - Claro que sou diferente! Eu sou uma fada!
- Uma fada?
- Sim, eu explico-te. Ainda sabes poucas coisas, pois
acabaste de nascer. É natural que estejas desesperado
com o que está a acontecer contigo. Mas eu estou aqui
para te ajudar. Desde que acredites em mim.
- Está bem, eu acredito. Alias, tenho de acreditar, pois
foste a única que me ouviu.
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9. E enquanto a fada sorria daquela espontaneidade, ele continuou:
- Como é que te chamas?
-Eu sou a fada dos livros.- E esvoaçou colocando-se mesmo ao
seu lado.- Esta pena é a minha varinha de condão e ela poderá
realizar o teu mais profundo desejo, desde que o faças com o
coração.
Não podia acreditar no que os seus tenros ouvidos escutavam!
Estava salvo!
Completamente salvo!
- 0 quê? Mas é isso mesmo ... Oh! Obrigado, muito obrigado!-
disse.
- E continuou, depois de saborear durante alguns segundos a
sua recente felicidade: - Quero que me limpes! Como vês,
estou muito sujo. Quem é que ia gostar de mim assim? Não
poderei encontrar amigos, nem colegas. Por isso o meu desejo
é que ...
Mas não pôde continuar, porque se apercebeu de que as suas
palavras ensombravam o rosto daquela simpática e gentil fada.
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10. - Não pode ser? - insistia ele. - Não disseste que com essa
pena podias ...
- Sim, na verdade, posso, mas ...
- Então, vá la, neste momento s6 quero isso. Há algum
problema? - teimava.
- Não, não há- respondeu a fada.- Posso fazer o que pedes,
mas ... é que ... é a primeira vez que me fazem semelhante
pedido.
- 0 quê?
- Sim, tu és um livro, já te esqueceste?
- Bem, não ...
- Os livros são feitos pelas homens e os homens depositam
neles ideias, emoções, sentimentos, histórias ... E como é que
o fazem? Através das letras e das palavras que se
transformam em sequências, em textos ...
- Mas, então ... isto preto ... são ...
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11. - Exactamente! São palavras! Sem elas, tu deixarás de ter
sentido. As palavras convivem com os homens há muito
tempo e eles precisam delas para viver, para se relacionar
com os outras. Elas fazem mover o mundo.
- 0 quê? Mas eu achava que ...
- Deixa lá, não faz mal, pela menos já aprendeste que és
importante para muita gente.
-Sim, já percebi, no entanto gostaria de saber ...
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12. - Tudo o que quiseres. Estou aqui para responder às tuas dúvidas.
-Se sou assim tao importante, porque é que quando chamei as
pessoas elas nem sequer desviaram o olhar na minha direção?
A fada dos livros sorriu, de novo confiante. Aquele pequeno livro
estava na verdade a surpreendê-la.
- Sabes, pequeno livro, a tua força está no teu interior, naquilo que
transmites aos homens e eles sé te valorizam verdadeiramente
quando te conhecem. Sem a verdade do teu interior, não passas de
um pedaço de papel, um invólucro com folhas e encadernação, como
qualquer outro.
0 pequeno livro estava estupefacto.
- Sinto-me muito envergonhado. Pensei mal das pessoas, de mim ...
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13. - Não te preocupes. É natural, muitas vezes, não entendemos
determinadas coisas. Mas já está tudo mais claro, não é verdade?
Espera, lembrei-me agora que ... talvez seja importante saberes ...
- 0 quê? 0 quê? - perguntou o pequeno livro, com ansiedade.
- E se eu te contasse a história dos teus antepassados? Talvez
pudesses perceber melhor ...
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- Os meus antepassados?
- Claro, todos nós temos uma história. Todos nós
temos uma família e a tua é, de facto, muito antiga. E
graças ao passa do que podemos preparar o futuro e
compreender o presente.
- Tu falas tão bem!
- Graças às palavras! Elas mantém viva a história da
humanidade! Como tal, vou usá-las para perceberes a
razão da tua existência.
- Sou todo ouvidos.
- Vou contar-te como tudo aconteceu. Chega-te mais
para aqui.
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15. 0 pequeno livro aconchegou-se ao lado daquela figura que de tão
branca e transparente quase passava despercebida, no entanto
guardava tanta sabedoria.
- Em qualquer comunidade civilizada,- começou ela- os livros são
considerados uma necessidade primordial e qualquer pessoa tem
acesso ao livro. Todos sabem o que é, embora seja mais
considerado por uns do que por outros. - Fez uma pequena pausa
e olhou-o com carinho.
- Ao longo da história da humanidade, o homem tem manifestado
o desejo de registar os acontecimentos mais importantes da sua
vida.
Assim, os primeiros registos do homem pré-histórico foram
encontrados em pedras e nas paredes das cavernas; muitos
assinalavam algumas experiências da sua vida, como, por
exemplo, as caçadas. Desta forma, estes desenhos, aos quais
podemos chamar também símbolos pictográficos, eram
associados aos objectos.
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16. - Mas que palavras difíceis! Sabes que acabei de nascer e ainda não
estou muito preparado para entender algumas coisas! - ripostou o
pequeno livro.
-Está bem- respondeu sorrindo a fada,- prometo que vou tornar o
relato mais acessível. Mas continuando, além dos registos na pedra, e
com o evoluir dos tempos, foram-se descobrindo outros materiais,
como o metal, a cerâmica, as placas de argila,
as folhas de palmeira e até os anéis de osso.
- E como é que esses registos se transformaram em palavras, ou em
escrita?
A fada ficou boquiaberta. Que perspicácia!
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17. - Bem, não se sabe muito bem, porque o tempo conservou alguns
segredos, mas o que é certo é que eles se desenvolveram e
originaram a escrita, que passou a representar não sé objectos,
mas também ideias e sons.
- Ai, ai, ai, ai! Assim não compreendo. Estás a faltar ao
prometido! E quem foi então o grande inventor? Ou não houve?
A fada riu com gosto. .
- Claro que sim - respondeu. - Pensa-se que a escrita surgiu na
Suméria, três a quatro mil anos antes do nascimento de Cristo,
e porque era feita com o auxílio de objectos em forma de de
cunha chamava-se escrita cuneiforme; era também
pictográfica, pois desenhava-se um objecto que representava
uma ideia.
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- E ... não podes ... especificar melhor?
- Claro. Como já te expliquei, desenhava-se um animal para o
representar.
-Mas diz-me: se já passou tanto tempo, como é que se descobriu?
- Foi graças ao trabalho dos arqueólogos ...
- Dos quê?
- São pessoas que estudam e investigam o nosso passado. Com as
escavações, por exemplo, encontraram lajotes de argila onde os
sumérios registavam a sua história. Serviam-se de estiletes ou de
osso e escreviam na argila húmida que posteriormente era cozida. 0
barro foi, assim, um suporte de escrita muito resistente e
sobreviveu a muitos incêndios. No entanto, não se manteve sempre
assim. Um passo extraordinariamente importante foi dado no antigo
Egipto: cerca de dois mil anos antes do nascimento de Cristo já a
técnica do papiro se encontrava extraordinariamente desenvolvida.
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19. - 0 papiro?
- Sim, era uma nova forma de registo da escrita. 0
papiro era feito a partir de uma folha vegetal, na qual
se podia escrever, depois de comprimida e seca. E a
escrita, ainda hoje conhecida, era a hieroglífica. A
historia do Egipto foi legada à posteridade graças aos
rolos de papiro encontrados nos túmulos. Também em
Roma era usual encontrar-se o cilindro de papiro, um
rolo que ia desenrolando conforme ia sendo lido.
Chegava a atingir seis ou sete metros.
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- Tanto? Devia ser muito difícil de transportar!
- É certo que sim, no entanto, só algumas pessoas tinham
acesso a ele, nem todas sabiam ler e escrever. E depois,
como se tratava de um material muito frágil, havia o perigo
de se furar quando se escrevia ou de se deteriorar com a
água e com a humidade.
Aquela fada falava com tanto entusiasmo, pensou o pequeno
livro. Como é que ela sabia tanto? Talvez já tivesse muita
idade. No entanto, parecia tão jovem! Talvez fosse da
sabedoria que possuía!
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- Sabe-se que, posteriormente - continuou ela, - os egípcios
começaram a servir-se da pele de animais para escrever, mas só
dois séculos antes da era cristã o pergaminho, mais resistente do
que o papiro, se começou a generalizar. 0 pergaminho era feito da
pele de animais, como da cabra, do vitelo ou do bezerro, e tinha a
vantagem de poder ser escrito dos dois lados, criando-se assim o
códice, que é uma
compilação de páginas e já não um rolo. Claro que era muito mais
fácil de manusear. Ainda hoje é possível ver códices antigos do
século II depois de Cristo.
- Espera, espera, estas a fornecer-me muita informação ao mesmo
tempo.
- É assim, a nossa historia é muito rica.
- Então, recapitulando, os meus antepassados chamavam-se argila,
papiro e pergaminho. Certo?
22. - Certo!
- E depois?
- Ainda não estás aborrecido?
- Claro que não, bem pelo contrário, estou a achar
este relato histórico bem interessante.
- Ainda bem. Estás a ver estas árvores?
- Sim, parecem muito úteis, dão-nos sombra e são muito bonitas.
- E não só. Muitas delas são levadas para grandes fábricas, e da
madeira, depois de passar por várias transformações, obtém-se o
papel. É graças a elas que tu existes.
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23. - Ah! Então os homens devem ter muito respeito por elas.
- Deviam, digo eu, mas nem sempre o fazem. Por vezes provocam
incêndios e florestas inteiras são completamente devastadas. No
entanto, já há muitas pessoas preocupadas com a situação que
defendem a preservação da natureza e a reciclagem.
- E o que é a reciclagem? - Claro que o pequeno livro não pôde deixar
de questionar mais uma vez.
- É uma forma de transformar o papel já utilizado em papel útil.
- Parabéns a essas pessoas. Assim não é preciso abater tantas
árvores!
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- Tens razão. Mas vamos continuar. Precisamos de recuar no tempo.
Nesta viagem hist6rica, vamos parar no ano 105 depois de Cristo, na
China. Atribui-se a invenção do papel a Ts'ai Lun, pois conhece-se a
comunicação que fez ao Imperador Ho Ti sobre o processo de
fabricação do papel, tendo como base a mistura de casca de árvores,
cânhamo e redes de pesca. No entanto, só nos séculos seguintes se
começou a vulgarizar este novo método, tendo chegado à Europa no
século XII. 0 papel, pouco a pouco, substituiu o pergaminho. Para o
processo de manufactura do livro, foi necessário construir moinhos
de papel. Nestes, misturavam-se fibras vegetais desintegradas com
água e espalhava-se essa mistura numa rede que deixava escoar a
água. A película que ficava, depois de seca, constituía o papel.
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- Mas que trabalho!
- É verdade, sem trabalho nada se consegue. Estamos na Idade
Média e não podemos falar desta época sem referir o importante
contributo dos monges copistas, ou escribas, que se dedicavam à
reprodução das obras. Durante muito tempo continuaram a utilizar
o pergaminho; adoptaram o papel quando este começou a ser
divulgado. Desta forma, conservavam a cultura da antiguidade e
muitos faziam-no com tanto amor que criaram autênticas obras de
arte, pois enriqueciam os livros com ornamentações, desenhos a
ouro, etc. Ainda se conservam alguns exemplares em folhas de
pergaminho ou de papiro, no entanto, muitos milhares perderam-
se para sempre. Devemos falar ainda do importante papel das
Universidades para o incremento da escrita.
A fada olhou o pequeno livro de soslaio. Esperava que ele a
interrompesse, mas nada aconteceu desta vez.
Estaria ele aborrecido? Quando se preparava para continuar, o
pequeno livro comentou:
26. Disseste que a nossa historia é muito rica e tens razão. Se não
a conhecêssemos, poderíamos sentir-nos vazios, não achas?
- Acho - consentiu a fada.
- Este comentário foi só para descansares um pouco, mas já
agora, podes dizer--me o que é uma universidade?
- É uma escola frequentada por adolescentes, depois de uma
preparação noutras escolas. Antigamente era só frequentada
por nobres e por padres.
- E os outros, não tinham direito?
- As pessoas do povo não eram letradas, trabalhavam no campo
e pensava-se que não precisavam de ler nem de escrever.
- Que injustiça!
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27. - Concordo contigo e ainda bem que tudo mudou. Hoje toda a
gente tem oportunidade de aprender.
- Podes continuar.
- Entretanto, um novo salto acontece: a invenção da imprensa.
Ela surge também na China, onde aparecem os primeiros livres
impressos, pensa-se que por volta do ano 1000 e consistia na
gravação do conteúdo de cada página do livro em argila cozida ou
em blocos de madeira; depois esses blocos eram mergulhados em
tinta e o conteúdo era transferido para o papel. Surgiu também
a impressão em caracteres móveis ou tipos separados, mais
facilmente reutilizáveis.
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28. Na Europa, atribui-se a Gutenberg o desenvolvimento e
aperfeiçoamento desta técnica, na Alemanha, entre 1440 e 1450.
Os exemplares mais antigos de impressão, e que lhe são atribuídos,
são um pequeno fragmente de um poema sibilino em alemão,
conhecido como o "Fragmento do Julgamento do Mundo", alguns
pedaços de páginas de uma gramatica latina e a Bíblia das 42 linhas.
Depois foi evoluindo até aos nossos dias.
- Deixa-me fazer-te uma pergunta- interrompeu o pequeno livro.
- Tudo o que quiseres. Estou aqui para isso.
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- E então os copistas deixaram de ser necessários? 0 que é que
lhes aconteceu?
- Bem, essa é uma pergunta curiosa. A inovação é sempre um
desafio. E os copistas tiveram de aceitar que se tratava de um
processo mais barato e acessível. Embora muitos continuassem a
fazer o mesmo trabalho artístico, a grande maioria abandonou
os mosteiros. E como eram monges e eram pessoas cultas,
transformaram-se em professores dos meninos nobres.
- Então o papel é mais um elemento a juntar à minha família.
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30. - E dos mais importantes! No século XVIII surgem novas técnicas
ligadas à tipografia, que dão um novo incremente ao livro. Mas foi no
século XIX que as novas invenções vieram melhorar o processo. A
prensa mecânica com o rolo cilíndrico, onde o papel é pressionado
sobre a matriz por um rolo, veio aumentar a tiragem. 0 papel,
inicialmente feito com trapos, foi substituído pelo papel de posta
mecânica, usando-se a madeira, sobre a qual já falamos, como
matéria-prima. Por último, com a ajuda do linótipo, a máquina de
compor, a montagem dos caracteres tornou-se mais rápida.
- 0 tempo é mestre e na verdade tudo evolui.
- Claro, e não pára, podes ter a certeza. Não se sabe como se irá
desenvolver, mas, imagina, já há o livro electrónico, que tem como
suporte o computador.
- E qualquer pessoa pode escrever um livro?
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31. - Não é assim tão fácil! Em primeiro lugar, devemos ter em conta o
autor.
- É outro elemento da minha família?
- Ah! Ah! Ah! Consegues manter sempre o bom humor. Pode ser,
nunca tinha pensado nele dessa maneira, mas podes considerá-la
também um elemento muito importante. 0 autor é o criador do texto,
sem ele, não há livro.
- É como uma espécie de fada?- interrompeu de novo o pequeno livro.
- Sim. 0 escritor ou o autor, sozinho ou em grupo, cria um texto e
escreve-o; depois dirige-se à editora, que é uma empresa constituída
por várias pessoas e onde tratam da ilustração, se for necessário, da
encadernação, da paginação ...
- E qualquer pessoa pode ser autor ou escritor?
- Bem, para se publicar um livro é preciso que o texto seja bonito,
que desenvolva um assunto interessante, enfim, que a editora ache
que o livro vai ser lido pelas pessoas. 0 autor deve escrever bem,
como é claro!
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32. - Então, fazer um livro é um processo bastante demorado!
- Exactamente. Por isso é que os livros são importantes. Por
isso é que tu és importante. Para ser acessível a todos muita
gente trabalha neles. Os livros guardam segredos e
mistérios que s6 podem ser desvendados quando abertos e
lidos.
0 pequeno livro inspirou profundamente. Como era bom
aprender a crescer!
- Como é que te posso agradecer, querida fada?
A fada respondeu com outra pergunta:
- Ainda queres realizar o teu desejo?
- Não, claro que não, que ideia! - respondeu com prontidão.
- Depois de tudo isto, aprendi que nunca devemos ser
precipitados quando tomarmos uma decisão.
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33. - Mas ainda tens o teu desejo. Não sei se te disse que todos os
livros podem apresentar um. Tu ainda não enunciaste o teu.
- Bem, na verdade, não sei muito bem ... Posso perguntar-te que
tipo de desejos há?
- Depende. Alguns livres pedem para viajar, outros preferem
ficar com crianças, há outros ainda que querem ficar nas
bibliotecas, onde conhecem muita gente ...
- 0 que é uma biblioteca?
- É uma espécie de templo ou de museu, onde há muitos livros,
antigos, novos, de todas as espécies e onde as pessoas vão para
ler e trabalhar.
- Já sei!- interrompeu o pequeno livro. - Quero visitar uma
biblioteca.
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34. - 0 quê? - perguntou a fada.
Aquele pequeno livro estava a ser um verdadeiro desafio à sua
paciência. Primeiro queria que o limpasse, porque se achava sujo,
agora queria visitar uma biblioteca em vez de pedir simplesmente
que queria ficar numa! Não podia pedir e pronto? Bom, talvez ele
tivesse sido colocado ali para testar não só a sua paciência, mas
também a sua capacidade de ultrapassar as dificuldades.
A fada estava tão envolvida nos seus pensamentos que só ouviu o
pequeno livro quando este a chamou pela terceira vez.
- Então, querida fada? É possível ou não?
- Sim, sim, desculpa, estava distraída.
- Estava a perguntar-te se é possível visitar uma biblioteca.
-Ah! Claro que é.
- É que ... ficaste um pouco perturbada!
- Sim, confesso-te que sim. És muito perspicaz. Mas é também a
primeira vez que alguém me faz esse pedido e ...
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35. - Desculpa, fada dos livros, estou a dar-te muito
trabalho, não é?
- Não precisas de pedir desculpa. Já te disse que
estou aqui para te ajudar. Eu levo-te lá.
Foi simplesmente maravilhoso! Bastou um leve toque
com a varinha e num ápice encontraram-se em
frente a um edifício branco, bastante sóbrio.
Algumas pessoas entravam, outras saíam.
- Esta é que é uma biblioteca?
- Sim, o que estamos a ver é o edifício; contudo não
devemos avaliar nada pelo exterior. Temos de a
conhecer por dentro e para isso é preciso entrar.
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36. - E estas pessoas são as donas?
A fada sorriu mais uma vez, mas não estranhou a pergunta. Já se
habituara à pertinência das questões daquele pequeno livro.
- De certa forma sim, são elas que a mantêm viva. Embora haja
bibliotecas particulares, esta é publica e pertence a todos, pois
todos podem entrar e ler nas salas próprias ou então levar os
livros para casa, mediante o compromisso de os devolver, claro.
Por aqui já passou muita gente e estou convencida de que cada
ano que passa mais valorizada é. As pessoas têm necessidade de
aprender e de se enriquecer.
- Olha, vai ali um grupo de meninos. Eu pensei que ...
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37. - ... que fosse apenas para os adultos? Onde é que foste buscar essa
ideia? Há um espaço também para as crianças. Como te disse, é um
lugar público, mas nem sempre foi assim.
- Não?
- É mais uma história, mas tu já estás cansado de me ouvir.
- Não, não! - interrompeu o livro - podes contar. Eu gosto muito de
saber.
- Bom, a história da biblioteca acompanhou o percurso do livro. Na
antiguidade, havia bibliotecas minerais, e eram assim chamadas, pois
os registos eram feitos nas tabuinhas de argila, das quais já te falei.
Pensa-se que a biblioteca mais antiga pertenceu ao rei Assurbanipal,
o ultimo rei dos assírios, que viveu no século VII a. C .. Apesar de ser
um rei muito poderoso e cruel, era conhecido como um estudioso e a
biblioteca continha uma colectânea de obras, sobre vários assuntos,
em caracteres cuneiformes, e particularmente sobre aquilo que se
sabe dos povos da Mesopotâmia. Continha milhares de textos
em tabuinhas de argila.
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38. -Os antepassados já eram muito inteligentes!
- Sem duvida! A história conserva também a memória de outra
biblioteca muito importante: a biblioteca da Alexandria, no século III
a. C., que foi considerada uma das maiores do mundo. Estava situada
na cidade egípcia de Alexandria e nela havia mais de quatrocentos mil
rolos de papiro.
- Tantos? E ... ainda existem?
- Infelizmente foi destruída varias vezes e muitos documentas
perderam-se.
-Que pena!
- Há pouco tempo foi construída, no entanto, uma nova biblioteca,
perto do lugar onde a antiga se encontrava, e pretende ser o centro
cultural mais antigo do mundo. Contém cerca de quatrocentos mil
livros e está apetrechada com sistemas tecnológicos avançados, pois é
ainda das mais modernas do munda. E como sei que gostas destas
informações, acrescento que a maior é a biblioteca Lenine, de
Moscovo, com vinte milhões de volumes.
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39. -Que grande família eu tenho!- comentou o pequeno livra, radiante.
-Camo vês, ela acompanha a história do livro e conserva a história
da humanidade. E como a história da humanidade, também ela
sofreu muitos reveses ...
- E o que é isso?
- Bem, são desventuras ou contrariedades, mas as bibliotecas têm
sobrevivido. Por exemplo, na Idade Média, quase foram extintas.
- E porquê?
- Quando cresceres, vais descobrir muita coisa e compreenderás
melhor o que te digo agora. Os livros conservam, camo sabes,
conhecimentos e sabedorias de homens bons que se preocuparam
com o crescimento da humanidade e com a divulgação desses
saberes. Mas, ao mesmo tempo, a história tem também homens que
procuraram travar o fluxo desse conhecimento e tudo fizeram
para concretizar os seus objectivas. Par exemple, mandaram
queimar livros ...
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40. - 0 quê? E na Idade Média aconteceu isso?
- Sim, noutras épocas mais recentes também. Na Idade Média, os
mosteiros, onde trabalhavam os escribas ou copistas, de quem já
te falei, foram os esconderijos de muitos livros.
- Coitados dos copistas, se bem me lembro, quando foi inventada a
imprensa, ficaram sem trabalho, não é verdade?
- Ficaram, mas em compensação, a imprensa permitiu que a cultura
chegasse a muita gente. Ah! Já me esquecia de te dizer e talvez
te interesse. Há também bibliotecas móveis que levam os livros às
pessoas que não podem deslocar-se ao lugar onde elas estão
situadas.
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41. Biblioteca móvel? Talvez fosse uma oportunidade de conhecer gente ...
Com a conversa, não se tinham apercebido de que estavam à porta.
-Vamos entrar. Aqui é a recepção. E aqui que as pessoas pedem
autorização para entrar e fazem a sua inscrição como leitores.
Encontramos varias secções: aqui, a dos jornais, ali a sala da leitura, a
sala dos computadores ...
E a fada dos livros ia mostrando, apontando ... Mas o pequeno livro não a
ouvia. Que fenómeno extraordinário. Tantos livros! Ficou tão
emocionado, que se sentiu perdido no meio de toda aquela família. E
desejou ser enorme, ou então uma fada para poder abraça-los a todos.
- Olha- disse, virando-se para a fada,- as crianças que vimos la fora!
- É evidente. Há aqui uma zona destinada às crianças, com livros, jogos,
brinquedos ...
- E estão tao felizes!
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42. Foi nesse momento que o pequeno livro tomou a decisão. Mas não a
comunicou à fada. Precisava ainda de lhe fazer algumas perguntas.
- Estes livros estão bem vestidos!
A fada deu uma gargalhada satisfeita.
-Tu és mesmo original- respondeu.- Nunca tinha pensado nas
encadernações como vestidos, mas está bem. A encadernação
também faz parte do livro. Com ela, ele fica protegido, embora
sirva ainda para embelezamento. Como muito bem reparaste, fica
mais atraente. Estes são livros antigos. No início eram recobertos
com placas de madeira e forrados com couro ou pergaminho. A
partir do século XV iniciou-se a encadernação com ornamentos de
ouro e a tabua de madeira foi substituída por papelão.
Hoje o trabalho é feito na editora com material resistente. Embora
ainda haja edições ornamentadas ...
- ... o cuidado é com o interior, não é verdade?
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43. - É verdade, sim.
- Mais uma curiosidade: quem toma conta desta enorme casa,
destes livras todos?
- Há muita gente que trabalha aqui, no entanto o responsável
máximo é o bibliotecário ou a bibliotecária.
- É assim ... outra espécie de fada?
- Podes chamar-lhe assim. E a pessoa responsável pela
organização, pela pesquisa e pela aquisição dos livras.
- Aqui parece funcionar tudo muito bem.
-Sim, acho que as pessoas aqui são felizes e ...
- Está bem. Já me decidi.
- 0 quê? Assim de repente? - perguntou, admirada.
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44. - Já tomei a decisão. Vou ficar aqui. Mas quero ficar na secção
das crianças.
- Claro. Não podia ser de outra maneira. Tu és um livro infantil!
- 0 quê? Por que razão não me disseste logo?
- Ah! Ah! Ah! Eu precisava de ter um segredo comigo. Os
segredos são tao divertidos!
- Sua fada malandra! Vou ter saudades tuas!
- Não vais, não! Quando sentires os afagos e o carinho daqueles
meninos, vais viver só para isso. Foi muito bom conhecer-te.
- Obrigado, mais uma vez. Adeus!
- Adeus, pequeno livro, sê feliz!
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45. Desviou um pouco o olhar à procura, talvez, de um
lugar simpático para ficar e, quando se apercebeu,
já estava sozinho. Mas não foi por muito tempo.
Uma senhora muito sorridente vinha na sua direcção
e pegou nele com muito carinho.
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46. -Ah! Um livro novo! Mas que bonito! Meninos! Venham ver! Um
livro novo! Quem quer ouvir o que ele nos diz?
0 pequeno livro estremeceu de emoção ...
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