1. Belloṷesus Īsarnos
A
Religião
Céltica
5º. EBDRC
Recife – PE
18 a 20/04/2014
ANDEDION UEDIIUMI DIIIUION RISUN ARTIU MAPON ARUERIIATIN LOPITES SNIEÐÐDIC SOS BRIXTIA ANDERON
2. A Religião Céltica
I Paleografia
• Galo-grega
• Galo-romana
II Arqueologia & Iconografia
III Literatura
IV Conclusões
• Antes da Conquista Romana
• Período Céltico-Romano
• Além da Gallia: Britannia, Germania, Hispania
• Antiguidade tardia: cristianismo x tradição
4. СЄΓΟΜΑΡΟС
ΟΥΙΛΛΟΝЄΟϹ
ΤΟΟΥΤ ΙΟΥϹ
ΝΑΜΑΥϹΑΤΙϹ
ЄΙѠΡΟΥΒΗΛΗ
ϹΑΜΙϹΟϹΙΝ
ΝЄΜΗΤΟΝ
Segomaros
Ṷilloneos
toṷtius
Namaṷsatis
eiōru Bēlē
sami sosin
nemēton
Segomaros,
filho de Willonis,
cidadão
de Namausos, ofereceu a Bele
sama este
nemeton.
5. Inscrição de Ṷebrumaros
Ṷebrumaros
dede Taranoṷ
bratu decantem
Ο Υ Η Β Ρ Ο Υ Μ Α Ρ Ο Ϲ
Δ Є Δ Є ΤΑ ΡΑ Ν Ο Ο Υ
ΒΡΑΤΟΥ ΔЄΚΑΝΤЄΜ Ṷebrumaros
deu/ofereceu a Taranus
em agradecimento a décima.
7. Martialis, filho de
Dannotalos, ofereceu
este edifício a Ucuetis
e aos ferreiros que
adoram Ucuetis em
Alésia.
MARTIALIS DANNOTAL
I EVRV . VCVETE . SOSIN
CELICNON ETIC
GOBEDBI . DVGIIONTIO
VCVETIN
IN [...] ALISIIA
10. con ađđedillí etic se couitoncnaman [ou poncnaman?]
tonc siíontío meíon ponc se sit bue
tid ollon reguccambion exsops
pissíiumí tsoc cantírtssu ison son [ou rissuis onson?]
bissíet luge dessummiíis luge
dessumíis luge dessumíís luxe
11. Puy-de-Dôme,
maciço central, nas
proximidades de
Clermont-Ferrand
(Augustodunum)
No topo, as ruínas do
templo (3.600 m2, c. 140
d. C.) dedicado a
Mercurius, descobertas
em 1873.
II Arqueologia
& Iconografia
15. Templo de Hercules Magusanus, deus
maior dos Batavos, em Empel, Germania
Inferior (atualmente Países Baixos)
Templo de Nehalennia,
em Cuijk, Países Baixos
17. Templo clássico romano: Minerva Sulis
(Aquae Sulis, hoje Bath, county Somerset, Inglaterra)
• Aedes: a habitação do deus, a estrutura que abriga a imagem da
deidade.
• * Delubrum
• Templum: recinto sacrado; tecnicamente, o espaço definido para a
prática augural.
• Fanum: área de chão consagrado e o santuário nela construído. Na Gallia
romana, os fana eram frequentemente construídos sobre um sítio sagrado
céltico e influenciados pelas estruturas anteriormente existentes.
Possuíam um espaço central (cella) e uma galeria deambulatória ao redor,
ambos quadrados. Esses santuários também podem ser encontrados na
Grã-Bretanha romana.
18. T I B [E R I O] C A E S A R E
AVG[VSTO] IOVI OPTVM[O]
MAXSUMO
N A V T A E P A R I S I A C I
[P V] B L I C E P O S I E R V
N[T]
A Tibério César Augusto
e a Júpiter, o Melhor e
Maior, os marinheiros
parísios publicamente
ergueram este
monumento.
Reconstrução do Pilar dos Marinheiros
19. Bloco inferior: Fort[una]
com Iuno?; duas deusas;
Mars com consorte
(Venus?); Mercurius com
Rosmerta?
Segundo bloco: dedicatória; 3
homens armados imberbes;
Eurises (3 homens armados
barbados); Senan[t] V[-]tlon[--
--] (três figuras de perfil,
coroadas e vestindo túnicas,
sendo 2 femininas e 1
masculina)
21. III. a - Antes da Conquista Romana
Sópatros (séc. III a. C.) apud Athenaios
Naukratites (séc. III d. C.), Deipnosophistes (O
Banquete dos Sábios), IV, 51.
E Magnus, imediatamente tomando a palavra
disse: "O universalmente excelentíssimo
Laurentius enfrentou bem e de forma
inteligente esse cão faminto quanto à sopa de
lentilhas. Eu, entretanto, como os ‘Gálatas’ do
páfio Sópatros, entre os quais é costume,
sempre que alcançam grande sucesso na
guerra, sacrificar seus prisioneiros aos deuses"
[...]
22. Kallimakhos (310/305 - 240 a. C.), Eis Dēlon (Hino a Delos),
v. 171-185.
"Sim, e num dia em teu porvir cairá sobre nós uma luta
comum, quando os Titãs de uma época recente levantarem
contra os helenos a espada bárbara e a guerra céltica, e
desde o mais distante ocidente arremeterem como flocos de
neve e numerosos como as estrelas ao agrupar-se mais
densamente no céu; fortalezas também (e as aldeias lócrias
e os cumes de Delfos) e as planícies de Crisa e os vales
continentais ficarão apinhados de uma ponta à outra e
contemplarão a densa fumaça de seu vizinho que arde em
chamas e não mais apenas por ouvir falar; porém já junto ao
templo verão as fileiras dos inimigos e já junto a minhas
trípodes as espadas e os cinturões cruéis e os odiosos
escudos, que provocarão uma jornada maléfica à insensata
tribo dos Gálatas".
23. Anyte de Tegea (séc. III a. C.), in Anthologia Graeca (começo do séc. XIV d. C.).
Sobre as Virgens de Mileto
Vamos então, querida Mileto! Doce terra nativa, adeus!
Os males ultrajantes temeremos dos gauleses desregrados enquanto aqui
vivermos,
Três virgens da raça milésia a esse destino terrível constrangidas
Pelo Ares céltico; entretanto, contentes morremos por não termos jamais
testemunhado
Sanguinolentos esponsais, nem nos termos rebaixado a ser vis escravas de
nossos inimigos.
Ao contrário, a Hades agradecemos, gentil curador de nossos padecimentos.
24. Pseudo-Aristotéles (384 - 322 A. C.), Magikos (Sobre a Magia) e Sotíon (séc. II a.
C.), Diadokhe ton philosophon (Sucessão dos Filósofos) apud Diógenes Laértios
(séc. III d. C.), Bioi kai gnomais ton en philosophian eudokimesanton (Vidas e
Opiniões dos Filósofos Eminentes).
I, § 1: Há alguns que dizem ter o estudo da filosofia iniciado entre os bárbaros.
Salientam que os persas têm seus Magos, os babilônios ou assírios seus Caldeus e
os indianos seus Gimnosofistas; e entre os celtas e os gauleses há as pessoas
chamadas Druidas ou Semnotheoi ("os Sagrados"?), citando para essa afirmação
a autoridade do “Sobre a Magia" de Aristotéles e de Sotíon no vigésimo terceiro
livro da sua "Sucessão dos Filósofos".
I, § 6: Entretanto, aqueles que defendem a teoria da origem da filosofia entre os
bárbaros prosseguem explicando as diferentes formas que esta assumiu em
diferentes países. Quanto aos Gimnosofistas e aos Druidas, dizem-nos que
comunicam sua filosofia por meio de enigmas, exortando os homens a
reverenciar os deuses, abster-se de fazer o mal e praticar a bravura.
25. Tiberius Catius Asconius Silius Italicus (ca. 28 - ca. 103 d. C.), Punicorum Libri
Septemdecim (Poema em Dezessete Livros sobre a Guerra Púnica, 218 - 201 a.
C.), III, v. 340 - 43.
Os celtas conhecidos como Hiberi também vieram.
Para eles é glorioso cair em combate,
mas consideram errado cremar um guerreiro que morre desse modo.
Eles acreditam que ele será transportado aos deuses se seu corpo,
jazendo no campo de batalha, for devorado por um abutre faminto.
26. Marcus Tullius Cicero (106-43 a.C.), Oratio pro Marco Fonteio (Discurso em
Defesa de Marcus Fonteius).
§§ 9-10: [...] Pois outras nações empreendem guerras em defesa de seus
sentimentos religiosos; eles [os gauleses] intentam batalhas contra a religião de
todos os outros povos. Outras nações, ao engajar-se na guerra, imploram a
sanção e o perdão dos deuses; eles empreenderam guerra contra os próprios
deuses imortais. Essas são as nações que no passado marcharam tão longe de
suas terras até atingir Delfos para atacar e pilhar o santuário de Apolo Pítico e o
oráculo do mundo inteiro. Por essas mesmas nações, tão piedosas, tão
escrupulosas em dar seu testemunho, foi o Capitólio sitiado e esse Júpiter, sob
cujo nome nossas ancestrais decidiram que a boa fé de todas as testemunhas
seria prometida. Por fim, pode qualquer coisa parecer sagrada ou solene aos
olhos desses homens que, quando sob a influência de um medo qualquer e
chegando a acreditar ser necessário propiciar os deuses imortais, poluem seus
altares e templos com vítimas humanas? Assim, não podem prestar à religião a
honra devida sem primeiro a violar com sua perversidade. Pois quem ignora que,
ainda nos dias de hoje, conservam o costume bárbaro e selvagem de sacrificar
homens?
27. Gaius Iulis Caesar (100 - 44 a. C.), Commentarii de Bello Gallico
(Comentários sobre a Guerra da Gallia).
VI, 13: Uma grande quantidade de rapazes vem aos Druidas para
instrução, tendo-os em grande respeito. Sem dúvida, os Druidas são os
juízes em todas as controvérsias públicas e privadas. Se qualquer crime foi
cometido, se qualquer homicídio foi perpetrado, se há quaisquer
questões relativas a herança, ou qualquer controvérsia a respeito de
limites, os Druidas decidem o caso e determinam as punições. Se
qualquer um ignorar sua decisão, essa pessoa é banida de todos os
sacrifícios – uma punição extremamente severa entre os gauleses.
Aqueles que são assim condenados são considerados criminosos
detestáveis. Todos se afastam deles e não lhes falarão, temendo algum
dano por causa do contato com eles e não recebem justiça nem honra
por qualquer feito digno.
28. Gaius Iulis Caesar (100 - 44 a. C.), Commentarii de Bello Gallico
(Comentários sobre a Guerra da Gália).
VI, 16: Todos os gauleses são muito devotados à religião e, por causa
disso, aqueles que são afligidos com alguma doença terrível ou enfrentam
perigos na batalha realizarão sacrifícios humanos ou, ao menos,
prometerão fazê-lo. Os Druidas são os ministros em tais ocasiões. Eles
acreditam que, a menos que a vida de um homem seja oferecida pela
vida de outro, a dignidade dos deuses imortais será insultada. Isso é
verdade para os sacrifícios públicos e para os privados. Alguns construirão
enormes figuras que enchem com pessoas vivas e então lhes põem fogo,
perecendo todos nas chamas. Eles acreditam que a execução de ladrões e
de outros criminosos é a mais agradável aos deuses, mas, quando for
reduzido o número de pessoas culpadas, eles matarão também os
inocentes.
29. Gaius Iulis Caesar (100 - 44 a. C.), Commentarii de Bello Gallico
(Comentários sobre a Guerra da Gália).
VI, 17: O principal deus dos gauleses é Mercúrio e há imagens dele em
toda parte. Diz-se que é o inventor de todas as artes, o guia de cada
viagem e jornada e o deus mais influente nos negócios e questões
financeiras. Depois dele, adoram Apolo, Marte, Júpiter e Minerva. Esses
deuses têm as mesmas áreas de influência que entre os outros povos.
Apolo afasta as doenças, Minerva é a mais influente nos ofícios, Júpiter
governa o céu e Marte é o deus da guerra.
30. III.b - Período Céltico-Romano
Valerius Maximus (reinado de Tiberius, 14 a 37 d. C.), Factorum et Dictorum
Memorabilium, II, 6, §§ 10-11.
Deixando Marselha, encontramos este antigo costume dos gauleses. Estes
dizem que muitas vezes se emprestavam somas de dinheiro a ser pagas no
mundo inferior, pois estavam convencidos de que as almas são imortais. Diria
que são tolos esses homens vestidos de calças, caso sua opinião não fosse a
mesma de Pitágoras com seu manto.
Se a filosofia dos gauleses trai seu amor ao lucro e à usura, a dos Cimbros e
Celtiberos exala paixão e coragem. Estes de fato estremecem de alegria no
campo de batalha, na esperança de encontrar um fim glorioso e abençoado.
Quando adoecem, ficam tristes como as pessoas condenadas a uma morte
vergonhosa e miserável. Os Celtiberos também consideram como um ultraje
sobreviver em batalha àquele a cuja existência dedicaram a sua. Admiremos a
magnanimidade desses dois povos que fizeram questão de garantir por meio de
seu valor a salvação do país e de mostrar a seus amigos uma lealdade sem
falhas.
31. Marcus Annaeus Lucanus (39 - 65 d. C.), Bellum Civile siue Pharsalia (Sobre a
Guerra Civil ou Farsália), L. I, v. 392-465.
[...] e aqueles que com sangue maldito pacificam
o selvagem Teutates, de Esus os santuários hórridos,
e os altares de Taranis, cruéis como aqueles
amados pela Diana dos Citas.
Também vós, Bardos, que por vossos louvores
Escolheis as almas valentes daqueles que pereceram em batalha
Para conduzi-los a uma morada imortal, espalhastes agora sem temor
Vossos cantos incontáveis.
E vós, ó Druidas, depostas as armas,
a ritos bárbaros e a costumes retornais sinistros.
A vós somente os deuses e numes celestes
é dado conhecerdes ou não os conhecerdes; bosques retirados
vossas moradas e florestas longínquas;
se veraz quanto cantais, dos homens as sombras
não as silentes moradas de Érebo e do profundo Dis
os reinos pálidos buscam: dirige-os o sopro da vida
a outro mundo; de uma longa vida, se quanto cantais conheceis,
a morte é o meio.
32. Pomponius Mela (séc. I d. C.), De Chorographia (ou De situ orbis, Descrição do
Mundo).
III, 2, §§ 14 - 15: Ela [refere-se à costa exterior da Gallia] é habitada por povos
orgulhosos, supersticiosos e outrora tão bárbaros que viam os sacrifícios
humanos como o gênero de holocausto mais eficaz e o mais agradável aos
deuses. Esse costume abominável não mais existe, porém dele ainda restam
traços, pois, conquanto agora se abstenham de imolar os homens que escolhem,
conduzem-nos ao altar e tiram-lhes um pouco de sangue. Possuem, contudo,
seu próprio tipo de eloquência e professores de sabedoria, druidas. Estes
afirmam conhecer o tamanho e a forma do mundo, os movimentos dos céus e a
vontade dos deuses. Ensinam muitas coisas aos mais nobres da nação em um
período de formação que dura até vinte anos, encontrando-se em segredo, seja
numa gruta ou em bosques isolados. Um de seus preceitos chegou ao
conhecimento comum, a saber, que as almas são eternas e há outra vida junto
aos mortos e isso foi permitido manifestamente porque torna a multidão mais
pronta para a guerra e é também por essa razão que queimam ou enterram com
seus mortos coisas que lhes seriam apropriadas em vida e que, em tempos
passados, até costumavam adiar a conclusão de negócios e o pagamento das
dívidas até sua chegada ao outro mundo e havia alguns que se lançavam de
bom grado às piras funerárias de seus parentes para com estes compartilhar a
nova vida.
33. Claudius Aelianus (175 - 235 d. C.), Poikílē Historía (Histórias Variadas, título
em latim: Varia Historia), XXII, § 23.
Da bravura dos celtas. Ouço dizer que, dentre todas as nações, nenhuma
enfrenta os perigos com tanta intrepidez quanto os celtas. Àqueles que nos
prélios sucumbiram gloriosamente, compõem canções para celebrá-los e vão
coroados de flores para os combates. Orgulhosos de seus grandes feitos,
elevam troféus para os legar à posteridade, conforme o costume grego.
Parece-lhes tão vergonhoso fugir de um perigo que muitas vezes não se
dignam a sair de uma casa que está a desabar e desmoronar e que as
chamas começam a envolver. Muitos aguardam resolutamente a preamar.
Alguns avançam totalmente armados contra a correnteza e suportam o
choque das ondas, opondo-lhes suas lanças e espadas desembainhadas,
como se pudessem atemorizar ou ferir um tal inimigo.
34. Gaius Plinius Secundus (23 d. C. - 79 d. C.), Naturalis Historia (História
Natural), XXX, § 13.
Ritos bárbaros eram encontrados na Gallia até uma época de que eu
mesmo posso lembrar. Pois foi então que o imperador Tiberius passou um
decreto por meio do Senado colocando fora da lei seus Druidas e esses tipos
de adivinhos e médicos. Mas por que menciono isso a respeito de uma prática
que cruzou o mar e alcançou os confins da terra? Pois mesmo hoje a Britannia
realiza ritos com tal cerimônia que acreditarias terem sido eles a fonte dos
extravagantes persas. É surpreendente como povos distantes são tão
semelhantes em tais práticas. E não se pode superestimar a dívida enorme
que temos para com os Romanos por dar um fim a tais horrores, que
consideravam ato sumamente sagrado matar um ser humano e
absolutamente salutar comê-lo.
35. III. c - Além da Gallia: Britannia, Germania, Hispania
Strábon (64/63 a. C. - 24 d. C.), Geographiká (Geografia), L. IV, V, §4.
Além de algumas pequenas ilhas ao redor da Britannia, há também uma
grande ilha, Ierne, que se estende paralelamente à Britannia ao norte, sendo
sua largura maior que seu comprimento. A respeito dessa ilha nada tenho de
preciso a dizer, exceto que seus habitantes são mais selvagens do que os
Britanos, uma vez que são antropófagos e também glutões, bem como porque,
uma vez que consideram como algo honroso devorar seus pais quando de sua
morte e abertamente têm intercurso não somente com as outras mulheres,
porém também com suas mães e irmãs; entretanto, estou dizendo isso apenas
com o entendimento de que não tenho testemunhas confiáveis para tais
informações; ainda assim no tocante à questão da antropofagia, diz-se que esse
é também o costume dos citas e que, em casos de necessidade provocada pelos
cercos, os Celtas, os Iberos e diversos outros povos praticaram-na.
36. Lucius (ou Claudius) Cassius Dio Cocceianus (c. 155 - 235 d. C.), Historia
Romana, L. LXII, VII, §3.
Aqueles capturados pelos Britanos eram submetidos a todas as
torturas imagináveis. A pior e mais terrível atrocidade era a seguinte:
despidas, suspendiam as mais nobres mulheres [da colônia romana] e então
cortavam seus seios e costuravam-nos em suas bocas, de modo que as
vítimas parecessem estar comendo-os; depois, impalavam essas mulheres
em estacas afiadas em todo o comprimento de seus corpos. Tudo isso fazia-se
acompanhar de sacrifícios, banquetes e indecência geral, tanto no
conjunto de seus santuários como particularmente no bosque sagrado de
Andate. Esse é o nome que dão à deusa Victoria, a quem dedicam a mais
alta reverência.
37. Publius (ou Gaius) Cornelius Tacitus (c. 56 – c. 117 d. C.), Germania, §39.
Os Semnones afirmam ser os mais antigos e nobres do Sueui e sua
posição é apoiada pela religião. Em datas predeterminadas, cada uma de
suas linhagens envia um representante ao bosque sacro consagrado por
presságios ancestrais e temor primevo e onde uma matança pública de
vítimas humanas celebra as origens terríveis de seus ritos bárbaros.
38. Strábon (64/63 a. C. - 24 d. C.), Geographiká (Geografia), L. III, IV, §16.
[...] os habitantes [da Iberia] têm padrões morais muito baixos, pois não
mostram nenhuma estima pelo viver racional, mas almejam somente saciar
suas necessidades físicas e instintos animais. A menos, claro está, que se
considere viver racionalmente o banhar-se em urina choca e com esta lavar
os dentes, pois sabe-se que o fazem tanto os Iberos como suas mulheres e
os Cantabros juntamente com os povos circundantes. Esse costume, bem
como o hábito de dormir no chão, é compartilhado pelos Celtas. Alguns
dizem que os Galaicos não têm deuses, mas os Celtiberos e outros ao norte
sacrificam a um deus do ciclo lunar sem nome à noite, em frente às portas
de suas casas, com a família inteira dançando junta por toda a noite.
39. III.d - Antiguidade tardia: cristianismo x tradição
Hippolytus (170 – 235 d. C.), Philosophúmena
(Ensinamentos Filosóficos; título alternativo: Katà
pasôn hairéseon élenkhos/Refutatio Omnium
Haeresium, i. e., Refutação de Todas as Heresias), I,
22.
E os druidas célticos exploraram com a máxima
minúcia a filosofia pitagórica depois que Zamolxis,
trácio de nascimento, um servo de Pitágoras, tornou-se
para eles o fomentador dessa doutrina. Eis que,
após a morte de Pitágoras, Zamolxis, para lá dirigindo-se,
tornou-se-lhes o desenvolvedor dessa filosofia. Os
celtas consideram-nos profetas e videntes em razão
de lhes predizerem certos eventos futuros por meio
de cálculos e números conforme a arte pitagórica, a
respeito de cujos métodos não ficaremos em silêncio,
uma vez que alguns neles encontraram inspiração
para heresias; os druidas, no entanto, recorrem
também a ritos mágicos.
40. Eusebius Sophronius Hieronymus (c. 347 –
30/09/420 d. C.), Adversus Iouinianum Libri Duo
(Dois Livros contra Iouinianus), II, §7.
Porque deveria falar de outras nações quando
eu mesmo, então um jovem em visita à Gallia, ouvi
que os Atticoti, uma tribo britânica, comem carne
humana e que, embora se deparem com manadas
de suínos e rebanhos de gado grande ou diminuto
nas florestas, têm o costume de cortar as nádegas
dos pastores e os seios de suas mulheres e
consideram-nos coma as mais excelentes
guloseimas? Os Escotos não possuem esposas
próprias; não obstante leiam a República de Plato e
tomem Cato como seu líder, homem algum entre
eles tem sua própria esposa, porém, como animais
selvagens, entregam-se à luxúria que toma seus
corações.
41. Concilium Arelatense (Concílio de Arles, c. 452),
cânon 23.
Se na diocese de qualquer bispo houver
descrentes ou celebrações do fogo ou veneração
das árvores, fontes ou pedras, caso tal bispo
negligenciar sua erradicação, ele será
considerado com culpado de blasfêmia.
Menir de Plouguernével, Côtes-d’Armor,
Bretanha
42. Concilium Namnetense (Concílio de Nantes, c. 658),
cânon 20.
Solicita-se aos bispos e a seus assistentes que
tenham grande cuidado para que as árvores
consagradas aos demônios, que as pessoas comuns
adoram e veneram tanto que não ousam quebrar-lhes
sequer um galho, sejam arrancadas inclusive com suas
raízes e totalmente incineradas. Também as pedras, que
se encontram no locais arruinados e nas sedes
arborizadas de enganos demoníacos, são tolamente
veneradas e recebem juramentos e reverência; devem
ser escavadas inteiramente e lançadas em locais onde
seus adoradores jamais possam encontrá-las. E deve-se
ressaltar a todos o pecado terrível que é a adoração dos
ídolos.
43. Vita Sancti Symphoriani, Vida de São Symphorianus (Gallia, séc. IV d. C.), III.
[...] pois os cultos de Berecynthia, Apollo e Diana são praticados com
especial entusiasmo. por conseguinte, uma multidão de pessoas fora
convocada à celebração pagão de Berecynthia, a mãe dos demônios. [...]
Symphorianus disse: "Os estudos dos santos têm mostrado que também
Diana é um demônio, o qual, passando pelos vales estreitos e banhando-se
em locais escondidos da floresta, tem semeado as sementes venenosas de
sua arte mágica nas mentes de homens desavisados, pois seu epíteto é
Triuia e ela fica à espera onde três caminhos se cruzam.
44. Vita Sancti Eugendi, Vida de São Eugendus (começo do séc. VIII d. C.), § 32.
Eu, Eugendus, servo de Cristo, ensino-te esta fórmula escrita: "Espírito
da cobiça e do ódio e da fornicação e do amor, espírito da loucura e da
possessão diânica e do meio-dia e do dia e da noite e todos os tipos de
espírito impuro, parti de quem quer que carregue este escrito consigo.
Ordeno-te pelo próprio filho do Deus vivo: que saiais rapidamente e
tenhais cuidado de nunca mais retornes a esta pessoa. Amém. Aleluia.
45. Algumas observâncias da religião popular na Gallaecia do séc. VI d. C.
Martinus Dumiensis (ca. 515 – 579/80), De Correctione Rusticorum (Sobre a
Correção dos Campônios).
I. Determinadas árvores eram objeto de especial veneração, pois acreditava-se
fossem habitadas por espíritos benignos.
II. Jogar pão nas fontes (para aliviar doenças, aumentar a fertilidade?).
III. Reverenciar certas pedras como sagradas, nelas acendendo velas, bem como
em encruzilhadas e em determinadas fontes e árvores.
IV. Murmurar encantamentos e nomes de deuses sobre ervas e fazer amarrações.
V. Oferecer frutas e vinho a um tronco de árvore (em uma lareira?).
VI. Cerimônias domésticas de purificação realizadas por especialistas.
VII. Borrifar as paredes de uma casa recém-construída com o sangue de uma ave
sacrificada.
VIII. Colocar um ramo de loureiro na entrada da casa.
IX. Invocar a deusa dos ofícios durante a realização destes.
X. Encantamentos para prejudicar uma pessoa por meio de dano a algo que com
ela tivesse estado em contato.
XI. Observar com que pé uma pessoa adentra um recinto e disso retirar um
presságio.
XII. Retirar presságios do voo dos pássaros e de espirros.
XIII. Celebrar o primeiro dia de cada mês como sagrado para Juno.
46. XIV. Mulheres esperarem até a quinta-feira para casar.
XV. Recorrer à astrologia para determinar os melhores dias para iniciar a
construção de uma casa, uma plantação e casar.
XVI. Começar o ano no 1º. de janeiro, venerando ratos e traças nessa ocasião e
honrando os deuses com alimentos dispostos em uma mesa, para que
retribuíssem com abundância no resto do ano.
XVII. Mascarar-se de animais em 1º. de janeiro.
XVIII. Venerar Mercúrio na quarta-feira e fazer pilhas de pedras nas
encruzilhadas, lançando uma pedra a cada vez que se passa pelo local, e
dedicando-as a Mercúrio.
XIX. Adorar os espíritos do mar, fontes e florestas.
XX. Não trabalhar na quinta-feira em honra a Júpiter.
47. Indiculum Superstitionum et Paganiarum
É uma coleção de capitulares (atos administrativos e legislativos emanados da
corte dos francos nas dinastias merovíngias e carolíngias, especialmente na época
de Carlos Magno, 742/747/748 - 814; eram formalmente divididas em capitula,
plural de capitulum) que identificavam e condenavam crenças pagãs no norte da
Gallia e entre os saxões à época de sua subjugação e conversão por Carlos Magno
durante as Guerras Saxônicas (772-804).
I. De sacrilegio ad sepulchra mortuorum.
II. De sacrilegio super defunctos id est dadsisas.
III. De spurcalibus in Februario.
IV. De casulis id est fanis.
V. De sacrilegiis per aecclesias.
VI. De sacris siluarum quae nimidas uocant.
VII. De hiis quae faciunt super petras.
VIII. De sacris Mercurii, uel Iouis.
IX. De sacrificio quod fit alicui sanctorum.
X. De filacteriis et ligaturis.
XI. De fontibus sacrificiorum.
XII. De incantationibus.
XIII. De auguriis uel auium uel equorum uel bouum stercora uel sternutationes.
XIV. De diuinis vel sortilogis.
48. XV. De igne fricato de ligno id est nodfyr.
XVI. De cerebro animalium.
XVII. De obseruatione pagana in foco, uel in inchoatione rei alicuius.
XVIII. De incertis locis que colunt pro sacris.
XIX. De petendo quod boni uocant sanctae Mariae.
XX. De feriis quae faciunt Ioui vel Mercurio.
XXI. De lunae defectione, quod dicunt Vinceluna.
XXII. De tempestatibus et cornibus et cocleis.
XXIII. De sulcis circa uillas.
XXIV. De pagano cursu quem yrias nominant, scissis pannis uel calciamentis.
XXV. De eo, quod sibi sanctos fingunt quoslibet mortuos.
XXVI. De simulacro de consparsa farina.
XXVII. De simulacris de pannis factis.
XXVIII. De simulacro quod per campos portant.
XXIX. De ligneis pedibus vel manibus pagano ritu.
XXX. De eo, quod credunt, quia femine lunam comendet, quod possint corda
hominum tollere juxta paganos.
49. Pequeno Índice das Superstições e Práticas Pagãs
É uma coleção de capitulares (atos administrativos e legislativos emanados da
corte dos francos nas dinastias merovíngias e carolíngias, especialmente na época
de Carlos Magno, 742/747/748 - 814; eram formalmente divididas em capitula,
plural de capitulum) que identificavam e condenavam crenças pagãs no norte da
Gallia e entre os saxões à época de sua subjugação e conversão por Carlos Magno
durante as Guerras Saxônicas (772-804).
I. Dos sacrilégios junto aos túmulos dos mortos.
II. Dos sacrilégios com relação aos mortos, isto é dadsisas (valgaldr).
III. Dos ritos pagãos (spurcalia, "profanações") celebrados em fevereiro.
IV. Das cabanas ou pequenos templos.
V. Dos sacrilégios nas igrejas.
VI. Dos santuários nos bosques a que chamam nimidas.
VII. Do que está sendo feito nas pedras.
VIII. Dos sacrifícios a Mercurius (Woden) ou Iuppiter (Donar).
IX. Dos serviços sacrificiais para certos entes tidos como sagrados.
X. Do uso de amuletos e ligaduras.
XI. Dos sacrifícios nas fontes.
XII. Sobre os encantamentos (galdr).
50. XIII. Dos augúrios ou predições pelo esterco ou espirros das aves, dos cavalos e do
gado (völva ou spákona).
XIV. Dos videntes e adivinhos.
XV. Do fogo da madeira friccionada, isto é, nodfyr (need-fire).
XVI. Dos cérebros de animais.
XVII. Sobre a observação pagã do fogo ou no início de cada coisa.
XVIII. Sobre lugares duvidosos que consideram como sagrados (nemeta).
XIX. Das invocações que os bem intencionados dizem ser de Santa Maria.
XX. Das celebrações que fazem para Iuppiter (Donar) ou Mercurius (Woden).
XXI. Do eclipse da lua, que chamam uinceluna.
XXII. Das tempestades e chifres de touros e lesmas.
XXIII. Dos sulcos ao redor das herdades.
XXIV. Do costume pagão a que chamam frias (ou yrias), roupas rasgadas ou
calçados.
XXV. Daqueles que consideram ser santos todos os mortos.
XXVI. Da imagem feita com farinha espalhada.
XXVII. Da imagem feita com pano.
XXVIII. Da imagem que carregam pelos campos.
XXIX. Da oferenda de mãos e pés de madeira conforme o rito pagão.
XXX. Daqueles que acreditam que as mulheres que podem encantar a lua possam
tomar os corações dos homens conforme os pagãos.
51. Conclusão 1
Fontes antigas não podem ser usadas para:
Reconstruir com precisão a religião gaulesa no período da independência.
Tirar conclusões definitivas sobre a religião da Irlanda pré-cristã.
Mapear as características da antiga religião céltica.
• Adoração sem imagens
• Prática muito difundida do sacrifício humano
• A doutrina druídica da metempsicose
• A importância dos "bosques sagrados"
Motivos muito difundidos
na imaginação greco-romana
a respeito das
religiões das culturas do
norte da Europa e
generalizados demais para
permitir seu uso como
testemunho confiável a
respeito das realidades dos
celtas antigos.
IV - Conclusões
52. Conclusão 2
Fontes antigas podem ser usadas para:
Examinar a disseminação e uso de lugares-comuns narrativos.
Argumentar em favor de um modo etnográfico relativamente estático
na maior parte da literatura antiga.
Destacar a dependência da literatura medieval em relação a esses
motivos.
Enfatizar a amplitude a o caráter intercambiável das representações
mentais romanas sobre os povos ditos bárbaros da Europa setentrional.
Demonstrar a diferença entre os estereótipos literários da elite e a
religião popular galo-romana.
Verificar que o preconceito religioso era sobretudo passivo, podendo
ser ativado em momentos de ameaça externa ou insegurança interna.