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NOVA HISTORIA
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DO RENASCIMENTO
Jean Delumeau considera 0 Renascimento enquanto "pro- Volume I
rnocao do Ocidente numa epoca em que a civilizacao da
Europa ultrapassou , de modo decisivo, as civilizacoes que
lhe eram paralel as' '. Encarado numa perspectiva de "desa-
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fio e resposta" , 0 Renascimento passa pela "cntica do pen- o
sarnento clerical da ldade Media, pela recuperacao f-
demografica, pelos progressos tecnicos , pela aventura marf- Z
tima, por uma estetica nova , par urn cristianismo reelabo- l1.J
rado e rejuvenescido". 0 regresso a Antiguidade , "0 l
aparente regresso as fontes da beleza, do saber e da reli- "'"
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giao foi apenas urn meio de progredir" . Nesta obra em dois rJJ
volumes encontrarnos a origem dos movimentos e das pro- セ
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FICHA TECNICA
Titulo original: La Civilisation de La Renaissance
Traducao: Manuel Ruas
Capa: Jose Antunes
Ilustracao da capa: as Embaixadores (1533), de Hans Holbein, 0 Moco.
National Gallery, Londres
Impressao e Acabamento: Rolo & Filhos - Artes Graficas, Lda.
Deposito Legal n? 80745/94
ISBN 972-33-1000-7
Copyright: © B. Arthaud, Paris, 1964
© Editorial Estampa, Lda., Lisboa, 1983
para a lingua portuguesa.
INDICE
Volume I
i
.
J
f,
Agradecimentos 13
Prefacio , . 15
lntroduciio
A PROMO(:AO DO OCIDENTE
- 0 termo «Renascimento»: uma etiqueta c6moda ... ... ... 19
- 0 dinamismo da civilizacao ocidental .. . ... ... '" ... ... 20
­ 0 melhor e 0 pior .,. ... .., ... ...... ... '" ... ... ... ... 21
-- Relnterpretacao do Renascimento por uma exploracao em
profundidade ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. . ... ... ... ... 22
Primeira Parte
LINHAS DE forセa
Cap. I ­ A explosiio da nebulosa crista ... '" ... 27
- Panorama politico da Europa cerca de 1320 . 27
- Panorama politico da Europa cerca de 1620 .. 31
- Supressao do ideal de uma Cristandade ... ... 37
- Nascimento das consciencias nacionais ... ... 42
Cap. 11- A Asia, a America e a conluntura europela '" 49
- Mundos ex6ticos atraentes e temiveis ... ... 49
- As causas das viagens de Descobrimentos . 53
- As etapas dos Descobrimentos ... ... . .. 61
- A implantacao iberica na America '" ... ... ... '" 67
- Conjuntura econ6mica e producao de metais preciosos ... ... 72
- Coniuntura e movimento demografico na Europa nos se-
culos XIV e XV; a tese «catastroflcas ...... '" '" ... '" 78
­ Crftica da tese «catastrofica» 79
­ 0 progresso ap6s 1450 ... 81
7
Cap. 111- Renascimento e Antiguidade .. 85 Cap. VII- Um primeiro capitalismo '" 217
- Urn desprezo injustificado da Idade Media 85 - A «commenda» 217
- Idade Media e Antiguidade ... ... ... ... 87 - Companhias com sucursais e companhias com filiais 218
- A renovacao da arte gotica ap6s 0 seculo XIII ... 89 - A firma Medicis 220
- Rostos e paisagens ... ... ... ... ... ... ... ... YRセ I - Homeas de neg6cios do seculo XVI: os Fugger '" 223
- Urn melhor conhecimento dos textos antigos 95 I, - Homens de neg6cios do seculo XVI: os financeiros genoveses 227
- Renascimento e arqueologia ... ... ... ... ... 99 r, - Emprestimos reais e dlvida publica ... '" ... ... '" ... ... 228
- A Antiguidade como fonte de inspiracao ... 102 - Dos «Merchant adventurers. a «Oost Indische Kompagnie» 231
- Do omamentismo ao purismo ... ... ... ... ... 106

- Estruturas capitalistas . ... ...... ... ... ... ... ... ... ... 232
- Uma certa falta de respeito pela Antiguidade ... ... ... . 112 - Promocao do quantitativo ... ... ... ... ... ... ... ... ... 236
- Uma civilizacao nova ultrapassa a civilizacao dos Antigos .. 114 - A grande transferencia no Ocidente '" 239
-
- Realizacoes do Renascimento no plano artfstico 117
Cap. VIII - As cidades e 0 campo ... ... ... 247
Cap. IV - 0 Renascimento como Reiorma da Igreia ... 121
- A hist6ria rural e uma hist6ria im6vel? '" 247
- 0 Grande Cisma e a epoca dos concilios 121 ' - Abandonos e progressos 249
- Os eabusos» na Igreja .,. ... ... ... ... 124 - Plantas novas. As trocas botanicas e zoologicas entre a Eu-
­ Reforma e «Contra­Reforma» ". .,. ... 126 'I ropa e a America ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .., 252
­ Reves da tolerancia ... .. . ... ... .. . .. . ... ... .. . 131 ­ Os rendimentos no Ocidente ... ... ... ... '" ... 253
­ Os «abusos»: explicacao insuficiente da Reforma 134 ­ 0 desenvolvimento demografico nas cidades .. 255
­ Subida e afirmacao da piedade popular ... ... 136 "I ­ 0 urbanismo: a «commoditas» '" 258
­ A nova importancia dos leigos na Igreja ... ... 138 ­ 0 urbanismo: a «voluptas» ... ... '" 261
­ 0 individualismo religioso ... ... ... ... ... ... 141 I' ­ Paisagens urbanas do seculo XVI: 0 exemplo romano '" 266
­ 0 sentimento de culpa ... ... ... ... ... ... ... 143 (I ­ Castelos e jardins '" ... ... ... .. . ... ... ... ... ... 269
­ 0 crescimento das capitais ... .. . ... ... ... ... ... 272
Ii
..
Segunda Parte , Cap. IX ­ Mobilidade social. Ricos e pobres 277
I
. I
A VIDA MATERIAL ­ Mobilidade horizontal 277
­ Mobilidade vertical ... ... ... ... ... .. . ... ... ... 279
I
Cap. V ­ 0 progresso tecnico ... ... ... 151 ­ Alargamento do fosso entre ricos e pobres 282
I ­ 0 mundo dos ricos e 0 mundo dos pobres 285
­ Uma civilizacao mais tecnica ... lSI , I ­ 0 vestuario dos ricos e 0 vestuario dos pobres '" '" 288
­ Os «engenheiros do Renascimento» 154
­ A mesa dos ricos e a mesa dos pobres ... ... ... ... 290
­ Leonardo, tecnico . 159
­ Algumas realizacoes espectaculares do Renascimento 161
­ Os transportes terrestres ... .,. ... 163
­Navios e navegacao ...... '" ...... 166
­ Progresso no trabalho dos texteis 172
­ Os relogios ... ... ... . . 174
­ Minas e metalurgia ... 176 I
­ A artilharia ... ... ... 181 I
­ As armas portateis ... ... 185 I
­ A fortificacao guarnecida de bastiOes 187
­ Nascimento e progresso da imprensa 190 I
,
­A gravura . 193
­ 0 trabalho no vidro ... 194
­ Arte e tecnica ... 197
Cap. VI ­ A tecnica dos negOcios ... 199
­ 0 conservantismo das corporacoes 199
­ 0 seguro marftimo ... ... '" 202
­ A contabilidade e os bancos 204
­ A letra de cambio ... 207 Jl
­ Cambios e especulacao ... 209
11
8
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AGRADECIMENTOS
r
Este livro, obra imperieita, mais imperjeito seria sem os conselhos
de amigos a quem desejo aqui agradecer. Em primeiro lugar a Jacques
Le Gof], autor do notcfvel volume que antecede este ('). A nossa amizade,
que e jd de um quarto de seculo, permitiu­me beneliciar do contribute
da sua vasta cultura, do seu conhecimento do Leste europeu e da sua
biblioteca. Em Rennes, os meus colegas historiadores Jean Meyer e Andre
Mussat, bem como 0 sr. Rousseau, director da Biblioteca Municipal, res-
ponderam com competencia e gentileza as muitas perguntas que lhes
liz. Quero manijestar­lhes a minha gratidiio. Hd ainda 0 [acto, recon-
[ortante para um autor, de eu ter entrado em contacto com uma pessoa
tiio solicita como 0 director literdrio das «£ditions B. Arthaud», Sylvain
Contou. As nossas longas converses sobre 0 Renascimento e sobre os
problemas que este livro levantava [izeram­me descobrir nele um amigcfvel
interlocutor, com quem simpatizei desde 0 primeiro momento. Sorridente
e eficaz, Dominique Raoul­Duval reuniu os variados elementos que eu
lhe ia entregando - texto, imagens, mapas, indice documental, cronolo-
gia-, equilibrou­os, completou­os com rara competencia e adaptou­os
uns aos outros de modo a [ormar um todo homogeneo. Quanto d lcono-
grafia, realizada por Josette Champinot e Ana Pacheco, mostra, bem
melhor que as minhas palavras, a cultura e 0 senso artistico de quem
nos proporcionou as belas imagens deste livro.
o Autor
{'} A CivilitC/fao do Ocidente Medieval, publicado nesta 」ッャ・セャゥッN (N. do E.)
13
PREFACIO
r:
Esta cゥカゥャゥコ。セゥゥッ do Renascimento, que [icamos a dever a Jean Delu-
meau, vem agora inserir-se entre os dois volumes que Jacques Le Goff
e Pierre Chaunu jci publicaram nesta colecciio, dedicados, respectivamente,
d Idade Media e d Europa Classica. Embora, nos aspectos gerais, esteiam
todos em conformidade com a estrutura escolhida para a totalidade da
serie «Grandes CivilizafOeS» (''), estrutura que corresponde aos desejos e
necessidades do leitor e the permite sentir-se numa paisagem que the e
jci familiar, cada um destes livros tem a sua face peculiar. De facto, slio
produto da rejlexiio de historiadores com temperamentos bem diferentes.
Sempre abarcando os assuntos em toda a sua amplidiio, cada um deles
iluminou 0 seu de modo original e pessoal. Isso corresponde perfeitamente
ao proprio espirito desta colecciio. Era nosso proposito que a clareza da
exposiciio e a riqueza dos injormes niio excluissem nem sequer ocultassem
a originalidade das opinioes. As pesquisas recentemente realizadas vieram
abrir novas perspectivas que mostram a uma luz por vezes imprevista
os problemas ainda niio resolvidos. Niio era iusto que se pudesse deplorar
a sua ausencia nestes trabalhos.
Devido aos seus anteriores estudos, que tinham incidido sobre a vida
economtca e social da Roma do seculo XVI, J. Delumeau estava espe-
cialmente habilitado a renovar um assunto que jci [oi centro de tantos
ensaios e de tantas sinteses. 0 plano que ele adoptou para tratar esse
vasto movimento de civilizafiio coberto pelo termo Renascimento e de
uma nitidez e de uma clareza verdadeiramente classicas. 0 triptico da
Historia, das realidades da vida de todos os dias e da mentalidade e
aspirafOes novas permitiu-lhe ordenar harmoniosamente os conhecimentos
e as reflexbes que colheu no seu passado de erudito. 0 que na sua expo-
(1) Coleccao das Editions B. Artaud, a que pertence esta obra. (N. do T.j
15
セj'
sir;iio impressiona e, sem duvida, a escrupulosa prudencia que transparece
ao longo de todos os capitulos e de todas as pdginas. Dar iuizos de
conjunto sabre ウゥエオセッ・ウ muito complexas e que, em tal ou tal aspecto,
ainda siio imperjeitamente conhecidas parece-lhe perigoso e, muitas vezes,
temerdrio e ele sente necessidade de matizar a 。ーイ・」ゥセゥゥッ para que ela niio
va alem dos limites impostos pelo presente estado das iniormacoes dis-
ponlveis e pela complexidade dos [actos. Logo Ii partida, 0 proprio termo
Renascimento, que devemos ao humanismo italiano, parece-lhe insu-
/iciente e quase inlusto. Renascimento pressupl'Je, pelo menos, um tor-
por, um sono previa. Ora e ilusorio buscar uma nltida ruptura na trama
continua dos tempos. Portanto, 0 valor extensivo do termo sera limitado
d ideia, justa e precisa, da promociio do Ocidente e do avanr;o que este
rapidamente tomou sobre as civilizar;i5es paralelas.
Dd ウ。エゥウヲセゥゥッ que J. Delumeau tenha acentuado como convinha as
ligar;i5es com 0 passado sem ignorar 0 valor da renovaciio. Assim se pode
medir melhor a importdncia do progresso material e tecnico do seculo XVI
europeu e se aprecia com maior iusteza 0 impeto surpreendente das
ョ。カ・ァセo・ウ e a multlplicidade das grandes descobertas planetarias que
alargaram, quase brutolmente, 0 limitado horizonte dos seus con-
tempordneos, 0 aparecimento da imprensa, que veio, no momenta exacto,
dar resposta a um profundo apelo da curiosidade humana, 0 progresso,
enlim, da civllizaciio urbana com 0 desenvolvimento de tecnicas destina-
das a um grande futuro, como a da banca. Esta rejlexiio, salda da boca
de um observador espantado, «a arte da guerra e agora tal que e preciso
aprende-Ia de novo de dois em dois anos», tem um sabor terrivelmente
moderno. De facto, nessa epoca, 0 aperfeir;oamento do armamento obri-
gava a constantes modificar;oes da tdetica e da estrategia e os rapidos
progressos da オエゥャゥコセゥゥッ do canhiio forr;aram a invenr;iio de novas e efi-
cazes formas de amuralhamentos e ヲッイエゥヲゥ」セo・ウN
Talvez seja, precisamente, esta nor;iio de modernismo que. no fim
do estudo, aparer;a com maior evidencia e com mais viva claridade.
o Renascimento, ligado por numerosas fibras aos seculos anteriores, mos-
tra, porem, na figura dos seus homens e das suas obras, trar;os e cores
que preludiam de forma espantosa os caracteres do nosso tempo. Sem
dUvida que se niio deve procurar alhures a origem dos movimentos e das
profundas 。ウーゥイセッ・ウ do nosso tempo. Promor;iio do indivlduo, da pessoa,
イ・。「ゥャゥエセゥゥッ da mulher, reforma da ・、オ・セゥゥッ - que se pretende que
seja uma verdadeira ヲッイュセゥゥッ do homem e id niio uma inutil sobrecarga
do esplrito, esmagado por um fardo de conhecimentos -, イ・カ。ャッイゥコセゥゥッ
do corpo e da educar;iio fisica, reflexiio pessoal e livre sobre 0 homem,
a sua natureza e a sua religiiio, Impeto entusidstico, enfim, para as con-
quistas literarias e tecnicas e gosto apaixonado da g16ria que faz reviver
as mais belas tendencias da Grecia e de Roma, pois niio e verdade que
tudo isso, que pertence verdadeiramente ao seculo XVI europeu, nos
surge ao mesmo tempo como as:runto nossa?
16
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o movimento humanista e 0 regresso ao antigo niio devem ter para
nos uma ressondncia apenas artistica e literaria. No [undo, e toda uma
nova [ilosojia da vida que se elabora e se define. Os Antigos servem,
neste aspecto, de modelos e de inspiradores e a ligar;iio com eles e muito
projundamente sentida. Mas aquila que [undamenta de novo modo a
valorizaciio do corpo humano e pl:Opoe como objectivo supremo da vida
um equilibrio harmonioso entre 0 desenvolvimento da alma e 0 desen-
volvimento do corpo e uma rejlexiio viva e pessoal. A pedagogic de
Rabelais, e depots a de Montaigne, prenunciando a de Rousseau, mode-
lam-se na natureza humana e dejinem com clareza 0 objectivo funda-
mental de toda a educaciio: niio mutilar 0 hom em, mas desenvolve-lo
harmoniosamente na sua totalidade; e a educaciio [isica e os cuidados com
o corpo tem de encontrar 0 lugar que merecem.
Quanta Ii instruciio propriamente dita, os principios de um Montaigne
siio validos hoje como 0 eram ha perto de quatro seculos; e 0 nosso ensino
tenta, sem sempre 0 conseguir, conjormar-se a eles. Formar a capacidade
de iutzo, evitar, antes do mais, sobrecarregar a memoria com um amdl-
gama de conhecimentos tantas vezes inuteis - eis as regras que todos
aceitamos mas que ainda hoje e bem dijicil levar Ii pratica. E no entanto
o ensino s6 desempenhara verdadeiramente 0 seu papel quando a crianr;a
puder passar tudo pelo crivo da sua inteligencia sem «arrumar nada na
cabeca apenas pela autoridade de quem lho diz».
Hti muito quem hoje se sinta pouco Ii vontade na leitura de Mon-
taigne por causa do cardcter ainda arcaico do frances da epoca, desse
frances que 0 ardor apaixonado dos poetas da PIeiade contribuiu para
impor ao seu seculo. Mas e preciso ler e reler Montaigne, saborear a
apetitosa frescura do seu estilo, 0 rebrilhar das suas palavras e das suas
frases. E preciso observd-Io, como ele desejava e como nos convida a
faze-Io, na sua «maneira simples, natural e corrente, sem contenr;iio nem
artificio». A sabedoria a que ele aspirava e que soube alcanr;ar e, real-
mente, aquela que convem Ii condir;iio do homem. Qual niio e 0 prazer
que sentimos ao reler esta definir;iio de um ensino que tem de ensincir
a pensar: «Quem vai atrds de outrem nada segue e nada encontra: nada
procura mesmo. Non sumus sub rege, sibi quisque se vindicet (')>>? No
dia em que todos os povos - mas estara proximo esse dia? - se confor-
marem a semelhante regra poderemos certamente falar tambem de um
verdadeiro Renascimento.
Raymond Bloch
(') Niio dependernos de urn rei; Que cada urn seja senhor de si proprio. (N. do T.)
17
introduセao
A PROMO<;AO DO OCIDENTE
I
i

,I;
.)
A nossa compreensao do perfodo que vai de Filipe, 0 Belo a Henri.
que IV ficaria muito facilitada se fossem suprimidos dos livros de His-
t6ria dois termos solidarios e solidariamente inexactos: «Idade Media»
e ᆱr・ョセセセAAAャsXjbセZ ..J:om isso se..。セイAセ⦅A_eLァNRAAAャNセYNGャゥャLャセ⦅NpAセᆳ
セッNョアセゥエセセN Ficar­se­ia, especialmegte•. )j.YXe_ q!l,ilieia­de...1eL. baYidQ...!!m
corte 「イオセセq]Zアオ・ZZZゥ・ゥッN ...ウ・ー。イ。iZNLNNオNュ。NNセN・L・・XGᄋ de Mセ ...de Jim petiQdo de
treyM.
Criada pelos humanistas italianos e retomada por Vasari, a nocao
de uma ressurreicao das letras e das artes gracas ao reencontro com a
Antiguidade foi, seguramente, fecunda como fecundos sao todos os mani-
festos lancados em todos os seculos por novas geracoes conquistadoras.
Essa ョッセセー si&!ljfica jlH,ntwje,..diWlW;§w'a.. カセdエ。、・ dS イ・オセ。ᆪF^N Teve
em si a inevitave! injustica das abruptas declaracoes de adolescentes, que
rompem ou creem romper com os gostos e as categorias mentais 'dos
seus antecessores. Mas 0 termo «Renascimento», mesmo na acepcao estrita
dos humanistas, que 0 aplicavam, essencialmente, a literatura e as artes
plasticas, parece­nos actualmente insuficiente. Parece rejeitar, como bar-
baras, as criacoes simultaneamente solidas e misteriosas da arte romanica
e aqueloutras, mais esbeltas e dinamicas, da idade g6tica. Nao da conta
nem de Dante, nem de Villon, nem da pintura flamenga do seculo XV.
E, principalmente, ao ser alargado as dimensOes de uma civilizacao pela
historiografia romantica, mostrou­se inadequado. Nao afirmou Burckhardt
­ que nao tinha em conta a economia ­, ha ja urn seculo, que, no
essencial, 0 Renascimento nao fora uma ressurreicao da Antiguidade?
Ora, se dermos aos factos da economia e a tecnica 0 lugar que lhes cabe,
o jufzo de Burckhardt ganha ainda mais verdade. Pois 0 regresso a Anti-
.ァオゥセョN。、。 ゥョヲャオゥオセ。N ...ェAQセNN、。jュュZ・ョウ[ャMッオMセMZイ・ャqゥゥッM mecl.-
nico, nem no ゥー・イイ・ゥセV。ュ・ャQエッM、。ᄋ。エGエQャィ。ヲャ。LNNNNオ・ュNNjャqNセAAAセAA\」NyキZョNエッNNNNN、。
. contahilidade por partjdas dgln'adas, nem no da _ktra..de ambie..eu­das
セセウ bancarias, Mas as palavras temmuita vida. Impoem­se­nos contra
a nossa pr6pria vontade. Com que haveriamos de substituir a palavra
«Renascimento))? Com que outro vocabulo designariamos essa grande
evolucao que levou os nossos antepassados a mais ciencia, mais conhe-
cimentos, maior dominio do mundo natural, maior amor pela beleza?
Na falta de melhor, conservei, portanto, ao longo de todo este trabalho,
a palavra consagTada pelo uso. Mas que fique entendido:esta palavra ja
nao pode ter 0 sentido original. No ambito de uma Historia total, significa
(e nao pode significar outra coisa) a ーイセュッイ[ゥゥッ do Ocident« ョオュ。セセャャo」。
em que a 」ゥカゥャゥコ。セ。ッ da Europa ufiropassou, de modo decisivo, as£!Y..iP-
セアゥゥイイfャゥGゥイ。ュMー。イ。イ・イ。ウN No teiiipo" cfaspiiiildrasc:ri.lZadas:'atecnica
ヲエui。B、セGaイ。「・ウ・ Chineses igualavam, e suplantavam ate, a tecnica
e a cultura dos Ocidentais. Em 1600 ja nao era assim. Propus­me, pois,
estudar 0 porque e 0 como da ascensao do Ocidente no momento em
que ele elaborou uma civilizacao de tal modo superior que, seguidamente,
se imp6s pouco a pouco a todo 0 mundo.
*
Os diversos espacos atribuidos ao Renascimento slio tantos quantos
os historiadores. Na minha optica, os J2!,.oblemas da periodiEl£ao ­ um
dos pesadelos da historiografia ao debrucar­se sobre a epoca mtermedia
que separou a idade feudal da era de Descartes ­ perdiam acuidade. Optei
por .uffill hlSi6ria longa, sem tentar estabelecer cortes artificiais. Tudo 0
que se mostrasse como elemento de progresso seria chamado a figurar
numa vasta paisagem que se estende do fim do seculo XIll ate a aurora
do seculo XVII e que vai da Bretanha "8," Mosc6V:ia':"'­Em­'contr­apartida,
visto 'que "t,(j(Jli­a construcao hist6rica tern, necessariamente, rejeic
oes
e
silencios, deixei de lado, as mais das vezes, os factores de estagnac
ao-
que indiscutivelmente pesaram Duma civilizaCao, apesar deles, rica de
inovacOes. 0 quadro geral estava assim delineado e era evidente que 0
Renascimento aqui proposto nao se revelaria especialmente artistico nem
particularmente italiano. 0 acento t6nico AZU[セゥセL n<:> 、スjャ。ュセュッ de .セqAj。
a.Europa. A ciencia pict6rica "98 Van Eyell; e as miniaturas do rei Rene,
a lnvencao do alto forno e a realizacao da caravela, as antecipacOes pro-
feticas de Nicolau de Cusa e 0 irenismo de Erasmo pareceram­me signifi-
car a promocao do Ocidente no mesmo pe que os estudos de perspectiva
de Piero della Francesca e de Leonardo. E certo, no ・ョセャqNjャu・MN。NNャAaaゥNAャL
ー・イッウウ・オウィセBュ。ゥゥゥsエ。ウN⦅ZゥゥNゥqウBZウ・オウ artistas, pelos seus homens de neg6-
」ゥッセセゥッウ ウ・オウオセqNFcョセゥイqlセャ」ゥウ seusGセN。セセAAゥセNウ[ NARエdAAヲェゥNセNセᆳ
guardll,O. principal..reSllOnsa.vcLpe1D..&flUl4e NャANケセN・オイッーaN
o historiador fica confundido perante 0 dinamismo que hi um
milenio 0 Ocidente tem vindo a mostrar. Durante 0 perlodo abrangido
pelo nosso estudo, nem 0 peso das estruturas e tknicas rurais nem 0
conservantismo das corporacOes nem a esclerose das tradicOes escolasti-
cas conseguiram equilibrar as forcas de movimento, cuio poder se mani-
10
festou sempre com nova energia. Porque essa energia? 0 legado da civi-
lizacao greco­romana, 0 contributo fecundante do cristianismo, 0 clima
temperado, as terras ferteis ­ eis at outros tantos factores, sem duvida
a juntar a muitos outros, que favoreceram os homens que se tinham
concentrado no Oeste do continente euro­asiatico. Mas tambem nao fal-
taram as provacoes: umas naturais, como a Peste Negra; outras provo-
cadas pelo ioso das competicoes politicas, economicas e religiosas. Entre
­:::> 1320 e 1450 abateu­se sobre a Europa uma co91uncao de 、・ウァイ。セlーイゥᆳ
GPゥセッ・ウL ep1dem1aS; ァオ・ゥGイャAセLァyュセaヲoZM⦅セNュA。ャ da mOrtaIfaaae;'dlininuiCao
da producao de metais preciosos, avanco dos­'TiiICOS;desafios'essesque
foraw vencittos com coragem e'·com genio:­A'hist6fia do Renascimento
e a hist6ria desses desafios e dessas respostas. A crftica do pensameiill>
clerical da Idade Media, a recuperacao 、・ュッァイ。ヲャ」。セBッウーイッァイ・sウッウMゥセ」ョゥᆳ
cos;ii'lvell.tura: maritima; iiiia"e­sfehca nova, urn cristiaiiISiiio'reeIabolido
.i"'rejiivenescldo":­'eli"'os'principais elementos da resposta do Ocidente as
tao variadas dificuldades que no seu caminho se haviam acumulado.
ᆱZqエZセAゥNRNNNセMMHエZセpqsセZ pode­se aqui reconhecer a terminologia de A. Toyn-
bee, e eu penso que ela traduz admiravelmente 0 fen6meno do Renas-
cimento. Mas nao vou mais alem na esteira desse grande historiador
Ingles, Vistas a uma certa distancia, a historia da Humanidade em geral
e, mais especialmente, a da humanidade ocidental parecem menos uma
sucessao de crescimentos e de desagregacoes que uma marcha para diante,
entrecortada, e certo, de paragens e regressoes; mas paragens e regressoes
apenas provis6rias. E verdade que houve porcoes de humanidade local-
mente falhadas, mas a Humanidade, globalmente considerada, nunca
deixou de progredir de seculo em seculo, e isso tambem nos perlodos de
conjuntura desfavoravel, Assim, e sem negligenciar 0 estudo da conjun-
tura na epoca do Renascimento, insisti principalmente nas modificacoes
das estruturas materiais e mentais que permitiriam a civilizacao europeia
avancar, entre os seculos XIII e XVII, no caminho do seu extraordi-
nario destino.
*
Identificar urn caminho nao implica acha­lo sempre belo, como nlio
implica que nao haja outro possfvel. Como ao historiador compete com-
preender e nao julgar, nao procurei saber se 0 perlodo do Renascimento
deveria ser preferido a «idade das catedraiss ou privilegiado em relacao
ao «grande seculos. Para que essa estranha mas frequente distribuicao
de premios? Por isso olio apresentei um Renascimento em que tudo fosse .
exitos e beleza. Pelo contrario, a mais elementar obrigacao de lucidez
conduz­nos a declarar que os seculos XV e XVI viram, de certo modo,
um aumento de obscurantismo ­ 0 obscurantismo dos alquimistas, dos
astrologos, das feiticeiras e dos cacadores de feiticeiras. Continuaram a
dar relevo a tipos de homens ­ por exemplo, os condottieri­ e de sen-
21
timentos, como 0 desejo de vinganca, que durante muito tempo foram
tidos por caracteristicos do syNャャ。ᄃNᆪゥーiセNョエHI⦅ quando, na verdade, consti-
tuiam heranca do periodo anterior. Tempo de 6dios, de lutas terriveis,
de processos insensatos, aepoca de Barba­Azul.e Torquemada, dos
AAQセセァセセMaqNセNNeYェセqウ⦅セャゥBLョYゥNセセMM 、qゥNセセuエNYセ・セエセ[ ゥューイセウウゥomNセNqャ「セュ
o historiador do seculo XX pela dureza da sua vida social. Nao s6
'" N⦅セ⦅ョG .­­"'­'­ セ
inaugl/l"ou a deportacao dos⦅n・ァイセウ Pa.I."a. 0 Novo .. Mundo como tambem
alargou, ョ。MーイVーイi。Geオイッー。セ 0 fosso que separava()s· humildes dos privi-
Iegiados, Os ricos tomaram­se mais ricos, os pobres passaram a ser mais
pobres. Nlio se repisou ja muito a ascensao da burguesia na epoca de
Jacques Coeur, dos Medicis.N・NNdNqDᆬNオセョセ・イ_ A realidade e mais 」odャーャゥセセ。L
pois os novos­ricos .IlPJessa.ram"sc a ー。Nウウ。イMNlイゥ」ャゥゥ。N。ZZアゥゥ・MGェセェid 'se' viu
renovada e insuflada. Claro que ela foi cada vez mais d6cll ・ョゥMイ・ャ。セ。ッ
ao Principe. m。ウBGゥゥセュ por isso deixou de ser..a.. classe..possuidora. E, ao
converter­se a culture ­ fen6meno cuja­'lmportancia ainda nao foi bas-
tante salientada ­, impcs a civilizacao ocidental uma estetica e uns gos-
tos aristocraticos que tinham por contrapartida 0 desprezo pelo trabalho
manual.
Raramente numa fase da Hist6ria 0 melhor ombreou tanto com 0
pior como no tempo de Savonarola e dos Borgia, de Santo Inacio e do
Aretino. Por isso YMNNeᆪAQNャャセNウiエエッ⦅セGANNセセ ...。Nセ ...I!0.ssos olhos. .c01l!0 um
ッᆪセセ⦅wャNN、・N⦅」ッョエイ。、ェセL um concerto por vezes estridente de aspiracoes
divergentes, uma diffcil concomitancia da vontade de poderio e de uma
ciencia ainda balbuciante, do desejo de beleza e de um apetite malslio
pelo horrivel, uma mistura de simplicidade e de complicacoes, de pureza
e de sensualidade, de caridade e de 6dio. Recusei­me, portanto, a mutilar
o Renascimento e a nao ver nele, como H. Haydn, senao um espirito
anticientifico ou, em sentido oposto, como E. Battisti, senao a caminhada
para 0 racional. Nisso residem 0 seu caracter desconcertante, a sua com-
plexidade e a sua inesgotavel riqueza. Por exemplo, ao dar ao numero,
na tradicao dos pitagoricos, urn caracter quase mistico e religioso, 0
Renascimento foi, todavia, condnzido, por esse caminho indirecto, para
o quantitativo e para a ョッセゥゥッ cientificamente fecunda segundo a qual a
Matematica constitui 0 teeido do Universo.
*
o Renascimento tinha 0 gosto dos caminhos escusos. E por isso que
ainda hoje 0 regresso a Antiguidade obceca certos espiritos que preten-
dem avaliar a epoca de Leonardo em ヲオョセ。ッ desse aspecto e Ihe repro-
yam ter­se deixado atrasar por aquele passado ja de h3. muito suplantado.
Na verdade, 0 aparente regresso as fontes da heleza, do saber e da reli-
giao foi apenas urn meio de progredir. Alegremente se «pilhou os templos
de Atenas e de Roma» para omamentar os de fイ。ョセL de Espanha e de
Inglaterra. A partir do seculo XVI identificou­se em Miguel Angelo 0
22
maior artista 'de todos os tempos. Demoliu­se Arist6teles com base em
Platao e Arquimedes. Colombo descobriu as Antilhas gracas aos erros
de catculo de Ptolomeu. Lutero e Calvino, julgando restaurar a Igreja
primitiva, deram uma face nova ao cristianismo. 0 Renascimento, que
se comprazia com os «emblemaes e os criptogramas, dissimilou a sua
profunda originalidade e 0 seu desejo de novidade por tras de um hie-
r6glifo que ainda causa ensanos: a falsa imagem de um resresso ao
passado.
Atrave, de contradiCOes, e por caminhos complicados, mas sempre
sonhando com paraisos mitol6gicos ou com impossivei"utopias, 0 Renas-
cimento deu um extraordimirio saito para diante. Nunca uma civilizacao
dera tao grande lugar a pintura e a musica, nem erguera ao ceu tao
altas cupulas, nem elevara ao nivel da alta Iiteratura tantas hnguas
nacionais encerradas em tao exiguo espaco. Nunca no passado da Huma-
nidade tinham surgido tantas Invencces em tao pouco tempo. セ
Renascimento foi, especialmente, progresso tecnico, deu ao homem do
OCidente malOr­dOiiiIiiTo·sobre Um­'milttdo"mairbem cOIilieddo:­EnsIDou_
Nゥィ・。。イイ。カ・ウウ。イosᄋVセ・エエィッウ[G。ヲ。「イゥセエヲ・エイッ fundido, aservir­se das armas
de fogo, a eontar as horas com Urn motor, a imprimir, a utilizar dia a dia
a­Teria'de cambici e"oseguro rnarltimo.
MMセセセ・ウュセ エセセーッ セZZZBGZGーイッァイ・ウウNッ __espiritual paralelo ao progresso mate-
rial ­, iniciou 。ャゥ「・イエ。セ。ッ do individuo ao tira­lo do seu anonimato
ュ・、ゥ・カ。イ・Mッッュ・c。ョ、ッ。Bq・ウ・ュッ。ゥG。ᄁゥゥセイHョヲ。ウ TimltlrCQe"S" coTecHvas: Burck-
hardt observoii­delormageiilaI'estil'ClITaeteristie­lf (fa­epoca'­que estuda va.
Todos os seus sucessores 0 tem de seguir nesse caminho, mas sublinhando
quao doloroso foi esse nascimento do homem modemo, acompanhado por
um sentimento de solidao e de pequenez. Os contemporaneos de Lutero
e de Du BeIIay descobriram­se pecadores e frageis, sujeitos as ameacas
do Diabo e das estrelas. Houve uma melancolia do Renascimento. E tal-
vez nao tenha sido errado ­ sob condicao de se nao tomar a f6rmula em
mau sentido ­ 0 definir­se a doutrina da ェオウエゥヲゥ」。セ。ッ pela fe como urn
«romantismo da consolaCao». Mas falar apenas de descoberta do Homem
e dizer muito pouco, A historiografia recente demonstrou que 0 Renas-
cimento foi tambem descoberta da ・イゥ。ョセ。L da familia, no sentido estrito
da palavra, do casamento e da esposa, A civilizacao ocidental fez­se entao
menos antifeminista, menos hostil ao amor no lar, mais sensivel a fragili-
dade e a delicadeza da crianca,
o cristianismo viu­se nessa altura perante uma nova mentalidade,
uma mentalidade complexa, feita do receio da danacao, da necessidade
de devocao pessoal, da 。ウーゥイ。セッ a uma cultura mais laica e do desejo
de integracao da vida e da heleza na religiao. 0 anarquismo religioso
dos seculos XIV e XV levou, sim, a uma ruptura, mas tambem a um
cristianismo rejuvenescido, mais estruturado, mais aberto as realidades
do dia a dia, mais habitflveI pelos leigos, mais permeavel a beleza do
corpo e do mundo. 0 Renascimento foi, sem duvida, sensual; e optou,
23
por vezes, especialmente em Padua, por uma filosofia materialista. Mas
o seu paganismo, mais aparente que real, iludiu certos espfritos que bus-
cavam, principalmente, 0 aned6tico e 0 escandaloso. Deslumbrado com a
beleza do corpo, pede restituir­lhe 0 seu legftimo lugar na arte e na
L- vida. Mas, com isso, nlio aspirava a romper com 0 cristianismo. A maioria
dos pintores representou com igual conviccao as cenas bfblicas e os nus
mitol6gicos. Ao faze­lo, nlio tinham 0 sentimento de estar em contra-
dieao consigo pr6prios. A mensagem de Lorenzo Valla foi compreendida:
cristianismo nao significava, forcosamente, ascetismo. A laicizacao e a
humanizacao da religiao nao constitufram, nos seculos XV e XVI, urna
descristianizacao,
Esta explicacao convida a outra, de natureza diferente. Ambas,
porem, provem do mesmo desejo de explorar em profundidade um
perfodo que tern sido fascinante principalmente pelo seu cenario, as suas
festas e os seus excesses. Pois nao irfamos aqui ceder Afacilidade e apre-
sentar urn Renascimento em que 0 veneno dos Borgia, as cortesas de
Veneza, os casarnentos de Henrique VITI e os bailes da corte dos Valois
tivessem posicao de primeiro plano. Em vez disso, 0 que deve chamar as
atencoes sao as transformaeoes de incalculavel alcance, escondidas por
falsas perspectivas como as que todas as epocas tem. Seguindo John
U. Nef, acentuei, portanto, a promocao do quantitativo e a elevacao do
espirito de abstraccao e de organizacao, a lenta mas firme consolidacao
de uma mentalidade mais experimental e mais cientifica.
Fugindo a caminhos muito trilhados, A anedota e ao superficial,
desejoso de oferecer uma sintese nova e de empreender uma reinterpre-
tacao do Renascimento, tive todavia a constante preocupacao de evitar
o paradoxo e as formulas, que atordoam mas nao convencem. Procurei,
em vez disso, demonstrar, esclarecer, fomecer ao leitor uma documentacao
tao vasta quanto possivel. Quando estava a escrever este livro veio­me
muito A mem6ria uma frase de Calvino. No fim da vida, ao dar uma
olhadela as suas obras, Calvino disse: «esforcei­me por alcancar a simpli-
cidades. Tambem euprocurei fazer 0 mesmo.
Estas poucas paginas de introducao tiveram a finalidade de criar
uma ligacao, uma cumplicidade entre 0 leitor e 0 autor. Eu devia a quem
viesse a ler­me as explicacbes necessarias, Chegou agora 0 momento de
recolher­me e dar Iugar ao assunto que tratei; mas nao sem mostrar 0
plano seguido. A primeira parte constitui uma colocacao dos principals
factos nos quatro dominios: politico, econ6mico, cultural e religioso.
A segunda euma penetracao no interior das realidades concretas da vida
quotidiana. A terceira, paralela A segunda, mas na ordem espiritual, pro-
cum identificar uma mentalidade diferente da do passado e captar a vinda
a superficie de novos sentimentos.
'4
PRIMEIRA PARTE
LINHAS DE forセa
I
L ._
CAPITULO I
A EXPLOSAO DA NEBULOSA CRISTA
A importancia da Europa na epoca do Renascimento nao esta no
ーャ。ョッ⦅セNNAAAッFイャゥヲゥセッNMaM sua.populacao, em-tlSOO;--atfidii imcnitiilgia cern
milhoes de habitantes, quando, segundo parece, era este 0 mimero de
habitantes cia india no principio do seculo XVI: 30 ou 40 milh6es no
Decao e 60 milhoes no Norte. A China, por volta de 1500, teria ja
53 milh6es de almas; e 60 em 1578. Claro que a Africa e a America
tambem eram pouco povoaclas em relacao a imensidao dos seus territ6-
rios: arrisca­se a calcular em relacao aAfrica uns 50 milhoes de habitantes
no principio do seculo XVI; quanto a America, hesita­se entre os 40 e os
80 milhoes, Mas em ambos esses continentes havia vastas zonas desertas
a separar nucleos de povoamento muito intenso. A plataforma vulcanica
mexicsna (cerca de 510000 km") teria 25 milh6es de habitantes quando
Cortez • C) e os Espanh6is irromperam nesse mundo ate entao desconhe-
cido dos Europeus. 0 Imperio inca, no inicio do seculo XVI, reuniria 8 a
10 milhoes de siibditos. Ora a Franca, considerada nos seus actuais limites
territoriais, tinha menos de 15 milhoes de habitantes em 1320; e nao e
certo que, em 1620, tenha ultrapassado os 18 milhoes, Entre estas duas
datas, por causa das pestes, das fornes, das guerras, 0 progresso demogra-
fico cia Europa foi muito fraco. A Italia passou, talvez, de 10 a 12 milhoes
de almas; a Alemanha (nas fronteiras de 1937) de 12 a 15 milh6es; a
Espanha de 6 rnilhoes e meio a 8 milh6es e meio; a Inglaterra e a
Esc6cia, juntas, de 4 a 5 milh6es e meio. Vale ainda a pena fazer notar
que, no principio do seculo XVI, as mais importantes cidades do mundo
estavam fora da esfera cia civilizaeao ocidental. Assim, Constantino-
pla> e Mexico, duas capitals que se ignoravam mutuamente, teriam, a
primeira, 250000 habitantes e a segunda 300000, mais, portanto, que
Paris (talvez 200000 almas) e Napoles> (cerca de 150000). Mas era
na Europa, e mais especialmente no Oeste do continente, que estavam 0
dinamismo e as chaves do futuro.
{I} As palavras assinaladas no texto com urn asterisco correspondem artigos do
«Indice Documental» no fim desta obra. (N. do E.)
17
---
Descobrir-se-a uma primeira prova desse dinamismo ao comparar
dois mapas da Europa: 0 de 1320 e 0 de 1620. Entre estas duas datas,
quantas エイ。ョウヲッイュ。セッ・ウA No iniSio NYYNMウM・」NyjNqjァyQNN。LLセcZDウAjj。L j「セABゥ」。
esta repartida em cinco estados: Navarra, Aragao, _
Castela, portugal e 0
セセiNAAセ}ヲセイイセョ。、。BpNYイエオセ。ャ nao pOs ­amd­a pe'-e-m:-Africa. S6em 14fs,
1-.--.
ao apoderar-se de セLサヲM fara, Castela, rasgada por querelas intestinas
ao longo de todo 0 seculo XIV, e derrotada em 1319 por Granada e em
1343 por Algeciras. Em contrapartida, Aragao, mais vigoroso, tenta criar
urn imperio mediterranico.
_ A fイセ、・NNyゥャゥセ⦅ VI· de _
Valois -:- que sobe ao trono em 1328-
セセ bイオセセAAゥゥゥs ..iiaojnduiMetz. nem gイセョq「ャ・N nem _Mar·
selha nem Montpellier, sem falar, naturalmente, de Estrasburgo ou de
ー・イーiァョ。イゥセイケッョB・ウセG na fronteira do ducado da Sab6ia. Bordeus, Baiona
e toda a セNセセュ comQ•.o­ponthieu....estio em maos iiiglesas,'embOfa
orel deInglaterra ainda aceite prestar homenagem ao seu suserano de
Franca. A bイ・セQIィNャAN⦅セ⦅jjjjuAAQァセLj[lュ[ャNAエYAエオ・iャエ・NM iDdepende.nte.
Quaritl,i tnglaterra, conseguiu, nlio sem dificuldade, anexar 0 Pais
de Gales _ que, porem, s6 no reinado de Henrique VIII· sera total-
mente absorvido. Esta, no entanto, em mas relacoes com 0 reino da
Esc6cia, vizinho e rival. A Irlanda ja e uma especie de co16nia inglesa,
mas uma co16nia desprezada, cuja costa oriental e a unica regiao efecti-
vamente dominada por Eduardo III·, feito rei de Inglaterra em 1327.
o Imperio esta entregue, de uma forma cronica e duravel, セ anar-
quia e セ impotencia. Mas a Liga Hanseatica, nascida em meados do se-
culo XII da penetracao germanica nas costas do Baltico, constitui uma
potencia. Em 1370 formara urna ヲ・、・イ。セャゥッ de setenta e sete cidades,
capaz de impor ao rei da Dinamarca, pela paz de Stralsund, a isencao de
direitos alfandegarios aos navios hanseaucoe que atravessassem 0 Sund.
Em 1375 0 imperador Carlos IV consasrara a grandeza da Hansa· diri-
gindo­se a Lubeck em visita solene. Mas, na Alemanha do principio do
seculo XIV, 0 Brandeburgo ainda nao pertence aos Hohenrollern, que s6
em 1415 0 adquirirlio. Quanto aos Habsburgos, duques da Austria e da
Estiria, sofreram derrotas nas lutas contra os sオゥセッウ ­ a cッョヲ・、・イ。セャゥッ
data de 1291 _ e nlio possuem ainda a Carlntia, nem 0 Tirol nem a
Carniola. S6 em 1440, com Frederico III, obteriio a coroa imperial.
A noroeste, os Paises Baixos ainda nlio nasceram como unidade politica.
A leste, 0 seculo XIV e urna epoca brilhante para 0 reino da Boemia,
parte integrante do Imperio セ qual estao Iigadas a Moravia e a Silesia.
A dinastia dos Luxemburgos instala­se em Praga em 1310. S6 se extin-
guira em 1437. 0 seu apogeu situa­se no reinado de Carlos IV, rei da
Boemia de 1347 a 1378, rei da GennAnia desde 1346, coroado imperador
em 1355, que foi 0 fundador da Universidade de Fraga.
Os imperadores, teoricamente, tern direitos de tutela numa parte da
Italia; mas esta, na realidade, escapa­se­lhes. As viagens de Henrique VII.
em 1312, e de Luis de Baviera, em 1328, セ peninsula redundaram em
1&
mm Domlnio das Ordens
Will TeutOnicas
ffi@l セセセQjッ b、セ。セNZjッ XIV
m:m Domlnios Otomanos
Ilttttl cerea de 1350
セ PossessOes dos reis I'
セ de Inglaterra
セ Possessdes dos Habsbur:
l1liPossessees venezianas
Bremen Cidades hanseatlcas-
セAAAA Possesslles genovesas
IE KIPTCHAK: ⦅セ
RElNO セM T
mAAAAセエイッセ
セ Caft'a
セ ­­­-
REINO REINO
doセ ZElANmAS セ DOS HAFSIDAS
セセ
1. A EUROPA NO IN/C/O DO SECULO XIV.
fracassos. A urn tempo esplendorosa e dividida, a Italia e formada por
muitos pequenos estados que fazem, cada urn, 0 seu pr6prio [ogo. A si-
tuacao, portanto, e muito fluida: vai modificar­se muitas vezes entre 1320·
e 1620. Depois das Vesperas Sicilianas de 1282, a Sicilia pertence a Ara-
gao, que anexa a Sardenha em 1325. Mas s6 a partir de 1442 havera urn
Reino das Duas Sicflias, estendido, portanto, セ Italia do SuI. Mais a norte,
os feudais parecem senhores do «Estado eclesiastico», que 0 papado aban-
donou ao instalar­se, em 1309, em Avinhlio. Em Florenca ", onde Dante,
exilado em 1302, nlio podera voltar, as lutas intestinas nlio estorvam os
negocios. A cidade do Arno, porem, grande centro bancario e thtil,
ainda domina apenas urn pequeno territ6rio e s6 tera acesso ao mar em
1406 depois de veneer Pisa. Em Millio·, os Visconti· comeearam uma
carreira que sera brilhante ­ principalmente no fim do seculo XIV e na
primeira metade do seculo XV. Em 1395­1397, Gian Galeazzo recebera
do imperador os titulos de duque de Millio e da Lombardia. Bloqueada
por terra pelos Apeninos, Genova. e no seculo XIV uma rica cidade
29
maritima, orgulhosa des suas Ieitorias do Mar Negro e do EgeIJ. CaITa.
na Crimeia, onde ternnnam as rotas terrestres do Extreme Oriente, per.
tence-lhe uesde 1286. Em frente da costa ce Asia Menor, usOO5, Chio!
e Sames cacm tambem em seu poder entre 1340 c 1360. Genova passa a
dominar a produc;ao e a venda do alumen .. oriental, especialmente 0 de
Foglia, a antiga Poceta. A .rumiga de Genova, Yeneza ., inccre,.<iS«-se tarn-
bern, antes de tude, pelo Mediterraneo Oriental, pels a IV cruzada Iizera
do doge «senncr de urn quarto e meio & Romania... Em 1320. a Sere-
mssima domina a lstria e a costa dalmata, possui 0 coo.dado de Cefal6nia,
o Negroponto (a Eubeia), 0 ducado de Naxos c a llha de Creta. 0 seu
comercio em Ccnstantinopla e activo. Tera de abandonar 0 Negrcponto
em 1470, mas Ja antes drssc tent ocupado Corfu, M6don e ebron. Insta-
tar-se-e ern Chipre em J489.
No centro da Europa, a Hungria e, no seculn XIV. uma grande
poteocla, nas maos de uma dinastia angevina desde 1308. Esse vasto
conrucrc de terrucnos inclui, a1em da Huugeta actual, a B6snia, a Cree-
cia, a Eslcvaquia e a Transilvania. 0 rei diipi5e de recursoe regularea e
de urn forte exercito. Os Luxcmburgcs sucederac aos Angevinos em 1397.
Depots 、ゥセL a ameaca turca e as crises Internes jevarao ao irene Matias
Corvino (rei de 1458 a ]490), que :JCfa um btj(hante mecenas.
A primeira metade do secure XIV ve, alem disso, desenvctver-se uma
grande servia, que aproveilou os イ・セG・ウ・ウ do iュセイゥッ Rizantino, ・ウエ・ョ、・ョセ
do-se do Damlbio ao Adrititieo e 。ャ」。セ。ョ、ッ 0 apogeu na epoca de
Estevao IX Du9.an (1331-1355). que tetminou a c:onquisla da Maced6nia,
ocupou a Albania, 0 Epiro e a Teisalia, dominou a Bulgaria e sonhou
conquistar Constantinopla. A sua morte, porem, foi a ruina desse efemero
imperio stnio, que se demloronaria definitivamente eIll Kossovo (1389)
sob os golpes dos Otomanos.
o Imperio Grego, restaurado em 1261, nao encontrou 0 poderio de
outros tempos. COlllinuando a Jutar contra 00 Latinos, Que se mantinham
no Peloponeso, os Basileus afastaram-se da Asia Menor. Ora a1 nasceu
o perigo. No principio do seculo IV, urna triho (urea, recltac;ada paia 0
litoral pelo.9 Mong6is ., 」ッュ・セオ a dar que faJar: eram 0.9 Otoman05·.
Cerca de 1350 oeupavam, em frente de c.onstanlinopJa. toila a parte
oriental do Mar de Marmara. ES$C territ6rio, eentrado em Brousse, tern
born 。」・セウッ ao Mar Negro e ao Egeu. Passando a Europa, os Otomanos
apoderam-se i1e Andrin6polis em 1362, veneem os Servios em Kossovo
em 1389e esro8gam em Nic6polis, em 1396, rn cruzados ocidentais, indis-
dplinados e comandados por loao Sem Medo, A Bulgaria e oonquistada;
セ Valal.luia pagat.6 tributo. A ineursao hrulal de TamerJao· na Asia
Menor e a derrota que cle innige a Bajazeto I em 1402 em Ankara dar1io
ao lmptrio Bizantino urna rootat6ria de cinquenta anos.
No (mal da ldade Media, a &cand"in4via tern 1.llJ'l papel apagado
apesar da uniio de Kalmar, conc1ufda em 1397 sob a egide da Dinamarca
e que jl.lntou os tJ!s reinos. Em eontrapartida. os steuJes XIV e XV
JO
assistiram A aseensao de Pol6nia e ao eecuo da Ordem Teut6n.ica, que
POr breve tempo dominara toea a costa do Baltieo, da PomerAnia ao
Narva. Em 1386. 0 duque pagio da Lituinia-um j。ァ・ャゥゥッセ」。ウッオ com
a herdeira do trono palaco e coeverteu-se ao ensuenamo. Assim se viram
unidas para qualm secujos uma pequena Pol6nia, repartjda pelos dois
Lades do Vistula, entre Cracovia e Torun, e uma vesta Lituania, que tinha
o Dniepre como efao e cuja! cjdades principals eram Vilna e Kiev. Em
1410, os cavaleiroa teutoruecs sotreram serja decreta em Grunwald
(Tannenberg), Em 1454, Dantzig cotocou-se sob a proteccao da Polonia.
Esse porto de mar esrava destinado a urn grande desenvolvlmenro.
No inlcic do seculo XIV e ainda demasiado cedo para fatar da
RUssia. Novgorod deve a sua prcsperidade a Hansa e 0 principado de
Moscovo e vassalo dos Mongols da Herda de ouro '. Apesar da preaenca
em Moscovo, a partir dessa epees, de urn patriarea ortccoxo nilo depen,
dente de Constantinopla, sera precise esperar ate Ivan )11 (1462.1505),
eo unificador das terras russas», para que a Mosc6via se impcnha a
Novgorod e se Jiberte da tutela mongol.
*
- vbemcs as paginas da Histona. Voltando eo mapa da Europa nas
vesperas da Guerra dos Trinta Anos, encontramo-Io proflUldamente ウゥュセ
plifjcado. 。オエ」ャャャ・MBa[ゥゥᄋTッゥjョイイ。ュ⦅セ em 1-479, 0 reino de Granada
desapareceu--em"i491:'-NaVafl'lf"fDtlnreIiaa-'em iS12. Entre 1580 e 1640,
a Espariiii--e-Vortugal tl'v1:!Mi:IiI:""tilD.9lD.O soberano:- Com- a foro;a das rique-
zas dO MbJCoe-(fo-'pe-ril,'"Seiiiion,,--das'16ii.!r/nquas Filipinas, disj'.Ondo
momentanearnente do セュNッ・イゥッ POrtllil.lh no Extremo Oriente e no Bea-
si/, セセiスNiAN。BN。ー・ウ。イ .das SI.l.3.9 derrotas ・セNヲNイ。ョ」。⦅」ZN⦅ョ。 ᆪi。ョ、セ・ウ e,_d:"
destrUlcilo da InvendveJ Armada 0581I), continua em (6'!Oa set a prJ-
ュ・イセ⦅Gー\ャエ・ZョsNゥNセ⦅セセeZセゥ。QN P6S5Ui na turopa ·od·aiSi:ilJaJXos MイゥQ・ゥゥゥjャッゥゥ。tウセ
o tranco-Condado, a-Charoles, 0 Milanb, presidios na costa toscana, 0
reino de イセ。ーッャ・ウL a Sjcilia e a S3rdenha.
A Franca que Henrique IV reergueu e mais rnodesta Que a Espanha
ュ。ウLセ。UエッN mats⦅ィoNᄃNRFセ・。N a'remo ocupa: ェセG アセャイッセjjエoゥM、・エ・Zュ⦅
torio aclual. 0 DeJfJnado foi recl.lperado"em-n-;r9, Montpellier em 1382,
a _イッカ・ゥゥセ。 ・セ⦅QTQQl s・ゥウGM。ョセGZZZGセャゥエセMッセセゥᄋGェェエセIAャセAAAeイゥ。ZNゥ・ャゥオョ・イ。AェBB A
coroa de fョュセ e atodas as suas possessoes no eontinenle, com excepCao
de oifitls, que­jOem J559 valcou A fイ。ョセN Ana da Bretanba casou com
Carlos VIII· em 1491; em .1532, 0 seu genm'Fi;ij:iciclLLlIiJiij-defmitiva_
meniiodUcado ao reine. 'Em'-eonLrajiartIda, afirani;3., sob Carlos VIII,
abandmioi.l 0 ArtOis, O"-Praneo-Condado e 0 Rossilhiio, adqtlirido por
Luis XI: en, 1argar uma boa pcesa em tn:xa da sombra italiana. Mazarino
e Luis XIV virio depois a reparar 0 erro. Mas, em 1559, I)S trl! bispad09
de lingua {ran,esa, Metz, Toul e Verdun, foram ane:rados e, em 1601,
Henriql.le IV, para libertar Lyon, adquiriu a bセウウ・L 0 Bugey e a regUlo
de Gex. Ape!lar da crise da guerra dos Cern Anos, do trocuso das ・クー・セ
31
_ Limhet tc6ricoo 60 Imperio
E§l ReiDo d& DiN"'ore.
[[[]] 1.""'0 do Sdc:il
セャ a POSIe"s <los HobeuoIlen.
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セMM -
[2Zl Poss. dos HobsbUlI doe v-
B Po.....s6es dos HobsbU!1l
de Modrid
U Posse..oes de Veneu
ROSSIA
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2. A EUROPA CERCA DE 1620.
dit;5es a Italia e do drama <las guerras religiosas, a Fnm!W8­, no inldo do
secure XVII, e um pais unido e rcbustc contra 0 qual nada puderam
Carlos V nem Filipe II.
Em 1620, a Inglaterra e a nscocta, de hi multo mutmunente hDStiJI,
tf:J;D.,­lW' 、セzゥNゥゥエcBwゥᄋッウL 0" mesmc sOberano. Estes reinos, エ・ゥZjNセ「oウ
adoptado a' lieforma, 'ffearao ­tifiidos para '0 ­futuro. Ainda do pouco po-
voedos, mas 0 destine dos BritAnicos estA ja eacedo com nitidez. A partir
de 1570 os ileUS aevics mercantes invadem 0 Med.iterrineO; N・ュセセ
marinheiros de Isabel desfazem a orllllhosa e _poderosa tentativa da
­ ­ GN⦅セ
QgセNNaイャzw、aN Em 1620, euetamCOte, os cPadres peregrinos. desem-
barcam na Am6rica do Norte:.
o lDlp6rio c;:omerva a sua estrutura balora e, OS seus m61tipll» Lセ」ioャャ
e priiicpisb, tluJloS quanaiS 65­ dia.A do ana. Mas as duas grandes flliiir-
12
ャゥjセ que virram a dominnr a cena da Europa Central ate 1918 estao jll.
a Iorjar 0 seu pcderio. A casa eleitoral dos Hohenzollern. nas カエNNウセイ。ウ da
gNセイイ。 dos tイゥョ。セ 。セMィLェ M、セᄋMN。、ャヲ[ゥエゥャッ」ゥy。Mセᄋ pYウNウ・ウセセ ャ・ウQセMMセM。
oeste: de urn Jade, 05 ducados de Cleves e a Marc.a (1614); e do outre a
Prussia, exterior aos limites do Imperio (J (18). Quanto aos Habsburgos
de Viena. comam na Burooa. nlio tapto por urna coroa ­iinpe­riaf,­que­Ules
nao da nepbllm real.pad.e£".. mOOD peJe hleep que ー。」セュ・ョエ・ consti-
tnfr';'; a moir dQ stcylo ,X.I.V. em,..
セッャエ。 、Yセ w.u:ilstQS da k­stria eda
Bstfna. Reinam, pais, num conjunto <ie- territories que se estendem do
Adnatico as fronteiras da Polonia, do vorarlberg a exrremidade oriental
da Eslovaquia. Possuem ainda varies territories mais a oeste, especialmcnte
na Alsacia. A Boemia, que no infcio do seculo XVII se fez maioritaria-
mente protestante, desejaria retomar a antiga independencia. A derrota
da Montanha Branca (1620) fe­Ia soudarta, para tres seculos, do destine
dos Habsburgos de Viena.
A Hansa perdeu ja, no principia do secure XVII, muito do seu pres-
tigio e do seu poderio. A Guerra des Trinta Anos vai dar­lhe urn golpe
mortal. Os navies holandeses tomam, eada vez mais, 0 lugar des hensea-
ncos. As .ProyJm:ias U ョゥ、セ⦅ウaッ⦅MLNAALiAAN ,!lQ.s.NpGANイZ。N、NッNクcャsN、ANNNィゥウエVABLゥaNNj\キZHIセゥ。
do secUlQ XVII. Em 1609, a Espanha, de f61ego perdido 」ッ⦅{{ャ⦅セ⦅セセセイイ。
d1­­­­.f'landresll. quea rneu comQ..Jlm cancr£::.­acertou­uma trigua que
イセ・」ゥ。N a titulo provi's6rio: a _ゥeM、セョjセAAセ⦅セAャZ⦅セゥᄃセセセceセセセ
calvinista. Em 1648 serA preciSQ­reconhecer a evidencia: 2 milh5es de
セ・セュ。ョッウL apinhados em 25000 km", estarao de posse do maier
imperio jamais vistc no mundo. Quanto A Belgica, existe ill. virtualmente
na Europa de 1620. Entre 1579 e 1585, Alexandre Famesio reconquistou
a Espanha os Parses Baixca meridionais, que passaram a ser um doe
baluartes da reforma catolica. Mas, em 1598, Filipe II faz deles urn
esrado autonomo, confiado a arquiduques. Quer dependente de Madrid
quer, mais tarde, de viena, a futura Belgica, fortalecida pelas tradkees
e hitos provenientes da sua prosperidade medieval, constitui it uma
unidade A parte.
Tambem a Sult;a confirmou a sua originalidade, quase atmgindo, a
partir do fim do secuto XV, as fronteiras actuaia Os sew scldadoe nzeram
tremer a Europa no tempo de Carlos, 0 Temerario s. A Sufca foi urn des
centres da Refonna. A paz ca vestefalla separa­ta­a ofidalmente do Im-
perio.
p⦅。⦅セMMAA⦅GANセ⦅nセjlNNAMMNQセMMNsッョAゥョ '!8_diセャャNNN ..&W1iriIl....JlQLYQlta
de QUセNNlNセセセrNNセ em lI1gUDS. aspectos de ponncpOf.......l"s__f!.I!..I!.teirns que h*.-
­de conservar ate A c.ampanha _
de Bona,NJ1e em QWセ Depcis da paz de
Lodi" Hイセ」ゥGQッオZウ・オュᄋM・アオャャjャLイゥッMェエN[ャゥセッ que ja ・ョエ。セ prefigurava 0
equilfbrio europeu do s6culo XVll ao sleulo XIX. Cinco estados mais jm_
ーッイエ。ョエ」ウNNNNqNャャセセセN HIセAセ 5!=:, 、セエャAセNAdZ 0 du.cado..d.c M),liQ".a r・ャャセセHェ」。 de
v・ョ・セ、lA⦅HIセセAA。 (feila gfao­ducado em 1569 em proveito dos M&lids);
os 、ッ⦅セッウ !emporais do papa e 0 reino de nVNーッAセN A Espanha domina
11
. ' ⦅セ⦅ セNL __BZGBLLZNセLセN⦅M -"".. ..セM ......,. .......クエNNキZイGゥBBBBセセMLᄋ MMセNNLMセG ,- ZMBBNZZLLセL
..MMMMMMMNZッii[LNセNZNZBNZ・h[[N .... -;;. ',,;',;,,_•.J. loe j"'tkd' t±·,"'it....."'---'--""'-....."',"",..tntd;Wt6iftt'A>H _.,
r· ,
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,
I
o primeiro e 0 ultimo destes cinco estadoa, de modo Que a liberdade
de accao des Quiros tres. c. com mais forte razac, dee pequenos pond-
padcs, esHI. muito Iimitada. veneza suporta com humnr este protectorado
d05 Habsburgos, mas preccupa-se gravemenle com a ameaca otomana.
Durante a guerra de 1469-1479, teve de ceder aos Turcos 0 Negruponto,
vanes ilhas do Mar Egeu e hastantes ponlos de apoio na Moreia e no
Epiro. Em 1571 _ no pr6prio ano da vit6ria de Lepanto -, veneza sat de
Chipre. Entendeu hastante cedo a gravidade do perigo otnmano e pro-
curou soluCOes de compensacao. A grande expans3.o veneziana na Terra
Finne data dQ principia do seculo XV; Vicenza e Verona foram anexa-
das em 1406, Udine em 1421, Brescia e Bergamo em 1428. Mas 0 que
e Veneza _ e, mais, 0 que e Genova, privada das feitorias orientais-
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"' • BNセLN⦅BGN Nセ ......__LN⦅セL 'k1l!'W"
·pt'Wltfher
.......... ..... . . ..... ' iWhW·t
.
J. A FRANCA EM /328, 1360 1]/J0 E 1429.
(S"s""do J. Le Goff, Le Moyen Age.)
no tempo da preponderancia espanhola? No mapa, muho pouco. Mas,
no plano da civihzacllo, 0 papel da Italia continua a ser muito importante,
mesmo ainda em 1620. Na verdade, a Italia dominou - e muito - os
tres seculos que van de Dante a Gafileu. Na peninsula, os estados mais
importantes nao sao, Ioreosamente, os mais brilhantes. Urbino foi a Ate-
nas do seculo XV e Ferrara - foi urn cos maiores focos do Renascimenro.
Do lado de Iii dn a、イゥャゥャゥ」ッ⦅LセHAャ 0 muodo olomano, セーAAGィ。、ッ
por tres cootmentes, de Buda a Bagdade, do Nilo a Crimeia, estendendo
mes'tiID a sua 、セュュ。イ[Zゥゥッ a uma parte do Norte de Africa. A cooquista
de YスョウAiZャNAャ⦅セNpjエャN。 ..--'1453), 0 fim do pequeno imperio grego de Trebi-
zenda (1461), セセセセッ ⦅セセスNᆪセR •.i!ID), a ocupacao de Belgrado (152l),
a derrota infligida em K'iobacs 0526) aos cavaleims hungaros e ao seu
rei Luis, que la ficou morto, a metodfca anexacao das Hhas do Egeu entre
1462 (Lesbos) e 1571 (Chipre) ヲセ・NイセャAAMNTqNェャNャャエaYNオイッNdNセ・[キセゥLL⦅ セセBaNjNiXN|Aャゥエッ
muculrnano ..セYN mesma._1emPO.sucessor de Mao::nt, «servidor das cidades
sanras». Na Europa e senhor dos Balcas, a sui do Save e do Danubio,
e da maior parte da Hungria. A Transilvama, a Moldavia e a valaquia
pagam-Ihe trtbuto. Em 1480, uma rorca turca desembarcara em Otranto.
eウアオ・」セMウ・ ュオゥエゥャZlyュセ ....YAAセjl「イゥャィゥュNiFNjセ⦅、ッ Nr・イセュ・ョエッ tremeu
perante Q. ー\[イゥk\ANjN|ャエセq ..・BNqャャセ⦅Nッ 。ーッァ・オNN、ッウNNN。ャoャャwwNセ。・ュjャ}Lョッ
ウ・」オjᆪセセNjqrMMsYNャAj[アセッLセqNNNmN。ァョゥヲゥャZッLBGLェセセNセLᆬNᄏN Os corsarlos turcos e
barbarescos coctiuuaram, mesmo depois de Lepanto, a visitar as costas
tirrenas. Lela-se 0 Didrio de Montaigne durante a sua viagem pela Italia
em 1581. Falaodo da regiao de Ostia, diz ele: «Os Papas, e em especial
este (Gregorio XIII -), fizeram erguer nesta costa maritima grandes lor-
res, ou atalaias, a cerca de uma milha umas das outras, para prover as
arremetidas que os Turcos aqui faziam frequentemente, ate no tempo das
vindinras. a fim de tomar gados e homens. Com estes torres, que estao
a urn tiro de canhac entre si, vao transmitindo os avlsos com t30 grande
rapidez que 0 alarme depressa voa ate Romas.
Os Jagel6es -, soberanos da Polonia e da Lituania reunidas entre
1386 e 1572, nem sempre forum Ielizes nos seus esrorcos de reststencia
aos Turcos: em 1444, Ladislau III foi derrotado per eles em Varna; no
infcio do seculo XVI, foi torccso entregar-lhes a Moldavia e a Bucovina.
Mas os reis da Pol6nia reinam, no seculo XVI, sobre urn vasto territ6rio
- demasiado vasto -, sem defesas naturals, que vai de Poznan ao baixo
Dniepre e das frontciras da Transilvania it actual Estonia. Houve uma
idilde de ouro polaca na epoca do Renascimenlo, especialmente sob Segis-
mundo I, que reinou de 1506 a 1548. Sua esposa era uma Sforza e a
COrle real era urn foco de humanismo. Mas, depois da extlncao da dines-
tia des Jagelces e do reinado de Bstevac Bl1thory (1576·1586), 0 pais, a
cujos destinos preside agora urn ramo da famflia Vasa·, encaminha-se
para diJjculdades cada vez maio res. A indisciplina da nobreza combina-.'le
com os perigos exteriores. A Pol6nia cstA rodeada de inimigos: Turcos,
Suecns, Moscoviw.
35
l
"" ">,;;z""j:kJ4¥l!Itio<'iiiiiI&wW oIl*'*"'..·dJa/¥' . . . . . .,:& "i '
,
-t. as CINCO GRANDIES EST,tDOS ITALIANOS EM /41}4.HU
(Segu"do " Delumeau セ J. Hee". La Fi.D du Moyen Age, lcs XVI' et XVII"
REINO
DA HUNGRU.
•
' <Z!J'
COlSElG,t, -..,;.- •
(deGht NセB >-
,;.-
, --
MAR 71RRBNO
....."
セQエZiNI
Em 1523, a guecia, seguindo Gustavo vasa, separou-se da Dina-
marca. A uniao de Kalmar sempre fora fragi}. Muito mais frAgil foi a
uniiio (1592­1595)da Po16nia e da Suecia no tempo de segisroUDdo I Vua.
Este rei, cat6lico, feria セ convic¢es de urns Suecia muito ligada A
Reforroa. A1em &550, os dois paises eram rivais no Bftltico. Em 1612,
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-BセBセGiBAGNセᄋGオッZ )- .;. •.. ," .-""'¥'Iii'f/-s'-5*
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! ­'6&.'1 " md fj-'WN&fHli£ithfit---d6hF-'&ttt - ' _ , , ' " t dW,w<),
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GustS'lO Adolfo reina hA ja onze anos, aonhando transformar 0 Baltico
Dum $"Iago suecc», e ja tirou aos RUS503 a Ingria e a Cerelia Oriental.
No inlclo do seculo XVII, Suecos e Polaeos enfrentam, de facio,
uma Russia que se vai afirmandc. Ivan III (1462­1505) cason com a
sobrinha do ultimo Besileus. Tomou insignias impertais e ree­se cbamar
«autocraras e esenhcre Em 1522, as Russos tiraram SmoJensk a Pojoma.
Depois disso, sotrem reveses a oeste mas, aprovenenoo­se da desagregaeao
des canatos mong6i:s. ocupam Kazan em 1552 e Astraca em 1554.
E a epoca de Ivan IV, 0 Terrfvel HQUSSセャsXTIN que, 300 subir ao trono,
tcmou 0 tftulo de «czar de todas as Russiass. A sua morte Ioi seguida
de perturbar;6es, como tambem 0 foi a morte de BOris Godunov em 1605.
Mas, oitn anos depois, Miguel 111 (J6JJ­I645) funda a dinastia dos Rcma-
nov. Enquanto a Polcnia e a Suecia se viio apagando, e precise contar
cada vez mais com a Russia.
*
No prmctpro do seculo XIV, a Europa em ainda uma nebuloSli de
rormae indecisas e de futuro incerto. Em 1620, pelo coorreno, as divisorias
pounces do continente aparecem, se nao finnes, pelo menos c1arificadas
e consolidadas nas sues grandes linhaa, Apesar do moment<1neo desapa,
recimeneo da Pol6nia no final do seculo XVIII, da independencia da Gre-
cia alguns anos depois e de vanes retoques aqui e atem, 0 mapa da Europa
nao ha­de ser em 1850 radicalmenle diferente do que era na ocasiao em
que rebentou a Guerra cos Triota Anos. Em resume, a epoca do Renas-
cimento, quer di2cr, esse grande perfodo de mutal;no que comecou no Ji-
reinado de Fjlipe Vl de Valois e terminou no de Luis XIII, e aquela
em que a Europa se define politicamente, descobrindo, pelo exemplo
italiano e pelo jogo da resistenda rrancesa as ambil;Oes doe Habsburgos,
a regra de ouro do eQuiLlhrio entre potencies. 0 ideal da unidade eurc-
peia, reafizada sob a autoridade do imperador, foi substitufdo per uma
retacso de rorcas.
Dante, em De monarchic, escrevia cerca de 1320: «Onde ja nada mnis
hi a desejar nao pode subsistir a cobka. Urna vez destrufdos os oblectos
que podemos cobiear, desaparecem tambem oa mcvimentos que com eles
se relacionam, Ora 0 Monarca (e assim que Dante designa 0 eimperador
da terra»j nada tern a deseja­, pais a sua jurisdilj:ii.o .'16 e limitada pelo
oeeano, 0 que nao e 0 caso dos outros principes, culos senhorios cordi-
nam com outros senhorios, como, per exemplo, 0 reino de Castela conflea
com 0 rcino de Aragao. 0 Monarca e, pols, entre todos os mortais, aquele
que maie sincemmente pede estar submetido A jusliCa­. Mas, no meio do
seculo XVI, 0 ingles John Cork, retomando as f6nnulas dos ェオイゥウエセ
de Filipe, 0 Bela, dizia orgu]hosamente: ll"Todas ns nal;oes sabem que 0
muito poderoso rei de Inglaterra e imperador no seu pr6prio reino e nao
depende de ninguem». Ser «imperador no .'leu pr6prio reino» queria dizer
37
L __
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que se repudiava, no fundo, a hierarquia feudal, que noutros tempos dis-
tinguia suseranos e v.assalos, sendc 0 imperador 0 suscrano des suseranos-
A Guerra dQS cern ADos ...eio provar que 0 sistema feudal nao se adaP-
tava jA a rcalidade. No momenla em que Eduardo Ill, em 1337. diri-
giu 0 desafio a Pilipe VI. seu suserano pela Guiana e pelo poothieu,
queria, principalmente, sublrair os seus domlnios continenLais a todo e
qualquer race de dependencla. De facto, DO rratado de Bretigny lI360),
loao 0 Bom .., prisionciro, teve de ceder ao seu antigo vassalo, em total
ーイッーセゥ・、。、・ _ e, portanto, sem homenagem ­, quase todo 0 Sudoeste da
pranca. Nao rnenos significativo e 0 rrarado de Arras, ccnciufdo em 1435
entre c。イャッセ VH" e Pilipe, 0 Born, duque da Borgonha. Este aceitava
abandoner a ahanca inglesa e, em rroca, Carlos Vll dava­Ibe variaa
le,
ecidades reais». em especial no Somme, e diepensava­v­ vitaliClamen de
toda e qualquer horaenageru ao rei de Franca.
como e que, em tais condtcoes, poderia 0 imperador conservar auto-
ndade efecliva sobre os sooeranos da Europa'! Claro que 0 mito imperial
nnha mona forca e continuava a inquielar os espirilm. Francisco I e
Carlos de Espanh,l foram concorrentes na ramose eleio;:lo de 1519. }'{a
イ・。ャゥ、。、・NャMᆪ。イA\QゥMyセ⦅jNAidャ[iセyAlェl NウセオNLェGャHャT⦅iALZNTL nio. UP. _
tit llode Lゥュセイ。、ッイ
ュ。siゥqセヲ。・オ[ZGjQ・NN ser..secbor..セ」エゥカッ de _
i.mportaILtes-t.eJrHQriQs. セNセエャoGゥZQYイ・ウ
.j, セ aセイ」・「ᆱQjセウ・N a .partir de 1522, de ser 、ゥヲゥ」セセッカ・イョ。イ ao
mesm leIUPD. 0 centre e o. セ da Europa e cedeu a seu irrnao' Fernando
o.
os territarios austriacoii. da casa dos Habsburgos. Em 1556, desmoraIizado
por nao ter conseguido sequer conse:rvar a unidade religiosa da Alemanha,
partilhou os seus dominios, dei,;ando a Fernando a Europa central e a
coroa imperial e a Filipe II a E:ipanha, os Paises Baixos, 0 Franco-
_Condado, as POSSe&'ioes italianas e a America. Conjunlo ainda demasiado
vasto para poder durar muito. 0 futuro pertencia, de facto, as conslruo;:6es
territorJilis baseadas num autentico sentimenlo nacionaL
Evidcntemenle que nem todas as colectividades nacionais conscgui-
ram vinl:ar no final da ldade Media e no inicio 、セ tempos modernos. HA
ゥョウオ」・セGLijウ a registar, especialmente naquela parte do territ6rio que a vaga
otom cobriu. Ai, as populao;:6e.s clobraram­se sobre si prQprias e espe-
raram,
ana
mais ou menos silenciosamente, por mdhores tempos. No que a
Botmia diz respeito, este esquema e roais matizado. A Boemia e5CapoU
a ocupao;:iiO lurca. A identidade national comeo;:ou a afirmar­se no tempo
de earliJS IV, 0 benfeitor de Praga, e ainda mais se afirmou na epoca
de Joao Hus:s, que pregava em checo e contribuiu para a eMJulsao (1409)
dos Alermles da Universidade da capital. As guerras hU5silas do stXuJo XV
tiveram leeS aspeclos: religioso. social e nacional. No principio do se-
'!­- culo XVlJ, 0 reino da Boemia, tendo na sua maior parle adoptado a Re-
forma, gozava de urn lugar privilegiado no coniunlo de lerrlt6rios gover-
naJo, pelos Habsburgos na Europa cenlral; e 0 soberano gostava de resi-
dir em Praga. A brutal politica religiosa de Fernando n. a revolta checa
que elaprovocou (1618), 0 esmagamento BOs Checos na Montanha Branca
38
,. ""'''''''''7'''1,,",1» }lPO ••,.,. "'"' 4=_. Wi;;; i,e §K''''''''
-
(620) e a repressao que se Jhe seguiu causaram urn eclipse do sennmeme
national da Boemia, onde a corte deixou de ser elecuva. E certo que (.I
reino conservou, teoricamenle, a independencia; Praga, principalmente.
transformou­se, all. epoca da reforma catolica, nJJIlJa cidade uarroca culos
rnonumentos conservam emocicnante beleza. Bstabeleceu­se uma especie
de colaboracao entre as camadas de elite checa e germanica, de tal modo
que e hlstoricamente Jatso falar­se, quanto aos secures XVII e XVlll, de
«ocupacao aterna» do pais. Mas a accao de rcao Huss • e a repreSSao que
veio depois da derrota da Montanba Branca tinham deixado イ・」ッイ、。セU・ウ
bastantes para se poder dar depois a rcoovacao nacional do seculo XIX.
em boa verdade, na Europa do Renascimento, Iorurn mais os exitos de
expansao nacional que os fracassos, quer nos paises ccidentais quer na
Russia ou na Suecia.
o「ォᆪセNイZAセセ[G ...JQda.'ci<l...o ..caso da. ltAlia.· Uaquiavel, 00 Prmcipe
(1516), damou e!Ilj;ij9 pelo !!oificadoi: que wobjljzassl!,:. esenergias naco,
nals·'e­',ii­;lutinasse.0 J2ais. eヲ・」エゥカ。ュ」ョエセLAャ⦅N エセャゥ。NL ⦅セョ「N・Nャ[N・jALMMMェAjャ。イエゥl、ッウ
fiiiii"iJ6­secuio' xv[MョゥッウVMPMカ。ゥカセュZュ。Zャセ '.O"Q.ue, emaa ァイ。NNカ・セNセN insta_
lacao de exercncs ・sエョゥNョAAセゥセッ[Bセ 、ゥセセ Iocais. Em 1494, Carlos­VIII
passou os Alpes e, «novo Ciro», entrou triunfante em Milao, em Parma,
em Florenca, em Roma c no SuI. Fez­se coroar «rei de Napoles, da Sicilia
e de Jerusalem». Mas, meses depots, os prtncipes de Italia e de ourros
parses coligaram­se conlra ele. Cados Vlll teve muita sorte ao conseguir.
em Fornua (Julho de 1495), a custa dc violenta batalha, abrir cammho
de イ・ァイセ a fイ。ョセ。N E apesar disso ja em 1499 Luis XII· mandava
outra vez. 0 cxercito frances para ltAlia. As ヲッイセ。ウ francesas ocUparaOi
Milao, cujo duque, Ludovico, 0 Mouro·, foi preso e deportado para
Loches, onde morreu. Senhor de Genova e da Lombardia, 0 rei de FranIOa
・セュ。ァッオ os Venezianos em 1509 em Agnadeilo. E facto quc, cinco anos
anres, tjvera de abandonar 0 sonho de Carlos Vlli c deixar 0 reino de
Napoles a Fernando de Aragao·. Em 1512, a «Sanla LigaQ, quc Julio II·,
ja reconciliado com os Venezianos, tinha erguido, expulsava de Milao os
Francescs dpesar da vitoria sem futuro de Gaston de Foix em Ravena.
Os reis de fイ。ョセ。 teimaram nas 。ュ「ゥセッ」ウ sobre Italia. 0 ana de
1515 viu 」ッュセ。イ 0 reinade de Francisco [ com a brilhante vilOria de
Marignano. Milao voltou a ser franccsa, mas nlo por muito tempo. Seis
anos depois, a cidade fugia 010 Roi Tres Chretien, cujos soldados foram
rapidamenle esmagados em Pavia (1525): 8000 Franceses morreram em
combale ou ficaram afogados no Tessino; os imperiais perderam apenas
700 homen:s, Com 0 tralado de Madrid (Janeiro de 1526), Francisco I
pareceu renunciar A ItAJia. Mas, pouCQs mcscs passados, criava COntra
Carlos V a Liga de Cognac e aproximava­se do Papa. 0 saque de Roma
provocou nova Olrremetida francesa ­ a de Laulrec ­ na Lombardia e
em direco;:ao a Napoles: novo fracasso, sancionado pela paz de Cambrai
(l529). Em 1535, porem, morreu 0 ultimo duque Sforza·, que sO nomi-
nalmente governava 0 Milanes, e cste passou para 0 domfnio directo de
39
...--1
j
Carlos V. A modo de protesto, c para ter LIma base dcnde pudesse partir
para ruturae tncursees no Sui, Francisco I manccu em 1536 ocepar a
Sabola e 0 Pie monte. onde as tropes rrenceses iicaram durante rnais de
vinte aeos. Francisco 1 linda em 1542 pcnsava em retornar Milio. Sob
Henrique II ., os soldados do rei de Franca guerrearam multas vezes em
Italia, Em 1551 lutavam contra Julio Ill· na regjao de Parma e de
Mirandola. No ano seguinte, Siena revoltou-se contra os do Imperio aos
gruos de Francia, Franc/a! E, em 1557, Francisco de Guise, cnamscc
peJo Papa Paulo I V • - ameecacc pdDII Espanhcis -r-, apareceu em Roma
e renton, sem resulrado, uma «ultima viagem a Napoles». A paz de
Cateau-Cambresis pes rim as cavalgadas rrancesas, mas nao acabou com
a presenva de tropes esrrangeiras em solo italianc, pois os Bspanhoie, que
ali tinbam chegado em 1504, ficaram ainda per mats de dais seculos.
Desk modo, a peninsula leve de sofre r, eo secujo XVI, a passagem
e a pesada pre.ell>;il de soldados Iranceses, sujcos, atemaes e espanh6is.
Assistiu, impctente, ao saquc de Roma em 1527, Ccrnandadas por urn
trances, as tropes imperiais - au seia, lausquenetes alemiles, muitoe deles
luteranos, Espanhois e ate Itajianos - tiveram enuto 0 sadtco prazer de
pilhar, violar e avntar uma ctdade que era consuferada a «Batli/ooja
modernas mas que toda a Europa invcjava, A Halia, porem, olio perdeu
alento. Nessa epees, apesar de Maquiave), nao aspirava a unidade polftica
mas tinha consciencia da sua unidade espintual e sabia que os Alpes
eram a sua frcnteira natural. Julio n exprirnia os senumentos dos seus
ccmpatrinras ao distlnguir os Italianos des «Barhamn que convmha
expulsar. Meio seculo depcis, tambem Paulo IV se esfcrcou per «libertar
a Italia des exercuos cstrangeirosa QZZAセウ lent.:lthas falharOIl1. :Mas os
E1;panJJ6is (laO coeseguiram, e nem sequcr tentaram, assimilar 0 Milafles.
(J reino de Napoles e a Sicflia- que coaservararn a lingua, 0 parrimonio
cultural c a mdiviuualldade que !hes eram prOprios. Ou nao e com
excessiva preesa Que se Iala da eltalia espanhclae dos secures XVI e
XVII? A realidade e muitc mais compnceda, prmcipairnerue quando pen-
samcs que Rome, Veneza e fャッイ・ョセ。 c:ontinuaram illdepcndellles, ュセュッ
lendo de contar, no plano das reJa,6es exteriores, com 0 poder espanhul.
Foi por isso que a me e v cspirito italianos puderam continuar a expan-
dir_se Iivremente nesses lees baluartes da civili:zacao ocidenlal. Seria por
acaso que tantos arlislas lombardos vinham instalar­se em ROlna na
セ・ァオ{ャ、。 metllde do s«ulo XV[? a novo esplendor e a crescente irradia-
.,;ao emanada da Cidade Etema na epoca da rdorma cal61ica e num
momenlo em que os papilll, セー・」uエiid・ョエ・ Siirto V (1585­1590), procum-
vam rdorcar a liberdade de aCl;aO da Santa se e do Estado edesiastico,
testemunham que a Ihilia tinha oonservado 0 essencial do seu genio e
l:ont.inuavll fiel ao grande passado que noutros tempos a colocou a cabelj:a
do mundo. Dividida, manttnha uma coerenc:ia interna que nl.lfica h<.tuvc::
na heter6clita イ」セョゥ。ッ de lerrit6dos que a FiJipe 11· ohedecia. Tarnbem
a Alemanha, iragmenJada, cntregue it guerra civil, conservava fronteil'3S
• 0
LNBMBLBLNセNBセNBLLNN .....セLNML BBGGGGGGGGGGGGGGGGGGMpLGセNNLrjェTQN| .",;,1..0'''''' 1.Q, 4.$2!;ZP;,k"04¥..jᆪDェェDl⦅セ '."""
Qitf'nWt Tit1:zrf('mn,( Yt'xf<r,tt Ov 'tTwnrr'.,-*±irftrt.u'
relalivamente ・セエャGZカ・ゥウ que rrcteseram urn capital cultural e urea ・ウーセ」ゥ・
de conscienda colecliva testemunbecos per Lutem COm eoqusncta.
Niio sera a falta de uma tal consci!lll.:ia l:oJectiva, tao Iortemente
desenvolvida nos Coniederados 5Uk:o!, cue explka em profundidade 0
_ Liorlte do S8lll<> Inpt'n"
セ PtlsseSll6es do Duqlle de bッセィャ
セjid advano de Fllipe+hn. (1419)
mmTセセウ de Pllipe+&m
fl'i!if& (1419.1467)
UAュAiaアャTゥウセ de (&rIo5-
wwa ­o­Temmm (1467­1477)
セt・イイゥエoイᄏウ l1blJle1idos!
It& ゥdイィセャi、。 da BorRonh;
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5. 0 PODEIUO IJA. BORGONIfA. NO SECULO XY.
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nacassc da nova LoIaTingia que os duques da Borgonha • quiseTam erguer
no rim do secuto XIV e no seculo XV? Bxtraindo as consequencias das
sncessivas ampliaOes do dominio hurguinhao e Iiel 11. linha polilica de
Filipe, 0 80m, Carlos, 0 'temerano (l467-1477) qurs, 0.0 ocupar a Atsacia,
a Lorena e a Champagne, juntar as sues possess6es do norte as do sul
e renner tim bloco imico, do Zuiderzee a Macoll e a Basileia. Luis XI·
e os Sllfl;os encarregaram-se de lho vedar. Mas, seja como for, essa cons-
rrucao territorial uemasiado apressada podia patecer artificial. Os habi-
tanres des Pafses Baixcs nunca se unham sentido cburguinhoes»: pro-
vam­no as repetidas revouas de Liege, Bruges c Ganci contra Pilipe, 0
Born, contra Carlos, 0 'remerano, contra Fijipe, 0 Belo e contra carlos V.
o Iracasso de tal consrrucnc deixava pressagiar 0 futuro desmembramento
do uuperio curopeu do. Espanha. As perturbaOt:s verificadas a partir de
1560 nos Paises Baixos uveram, sem duvida, mouvos rehgiosos; mas 0
atraso dos Estados Gerais, por obra dos ministros de Piiipe II, e a
Itostilidade para com os mihtares espanhcis explicam tamb(:m, em parte,
a revolta da Plandres. Se, pelo eontrano, os diversos territories dados pela
partrlha de 1556 aos Habsbnrgos de Viena vieram a constituir, durante
varies seculos, urn agrupamenlo relalivamenle solido, foi porque no seu
centro havia unl forte nueleo Que se esforou por germanizar as regiOes
perifericas.
Tao revelndor como 0 afundamenlo do. nova Lotaringia do ウセ」オャッ XV
t 0 do. monarquia franco­inglesa, que nao p6de nascer do. Guerra dos
Cem Anos, Em 1337, .Eduan.lo III, que tinha no continente a Guinea e 0
Ponthieu, nao conteote com desafiar 0 seu suserano, Filipe VI, conlestou-
­Jhe a coraa de Fran<;a e rcdamou­a para SI. t: verdade que, no Tralado
de Bret.igny, de 1360, Eduardo HI renunciou a essa coroa, mas Joao­o-
Born deu­Ihe peTto de urn エ・イセ da Frana. Sessenta anus mals tarde. 0
Tratado de Troyes deserdava 0 delfim Cados ­ 0 futuro Carlos VIl-
e dava em casamento, 0.0 filho de Henrique V, Catarina, filha de car-
los VI·. t'odia­sc ler (0 texlo do tratado: セaセ duas coroas, de Fran<;a
e de Inglaterra, ficario juntas para sempre e pertencerao a mesma pessoa,
a saber: nosso filho, 0 rei HenriQue, enQuanlo ele viver, e, depois dele,
aos ウ・Nャiセ herdeiroslI, Mas, em 1453, os ingleses ja 56 tinham Calais.
*
セcNセiセᆪ。ッ N、RセjセセNAᆪセGゥ⦅セRセNNウNNA。A⦅・AAN。 ・セョウ・YAャ・ョ」NェャA、q⦅NAャエZkiャydiN
GAエieセiスNセqNNNNNNセュM⦅tセ。NMLN、・ UlIl.a ⦅セqセセゥセェH・M」ッjャウ」ャ・GャYセlHIN。」エッョ。iL ..da._quaL
Joana de Arc foi comoventl: e­nobre.intt[]llt1l:... Joana eserevia em 1429
0.0 duque de' Bedford:' «Dai a Doozela, aqui envia'da por Deus, Rei do
Ceu, as chaves de todas as boas cidades que: teodes tornado e violado
em Frana. Eu vim aqd da parte de Deus, Rei do Ceu, para os escor·
raar para fora de toda a Frana... E nao julgueis que mais alguma vel
tereis de DeliS 0 reino de fイ。ョN[。Nセ
42
⦅BBセBGBBBLLBセL⦅NLNN\ セ^セABBGiゥ|セNBN⦅イセN[⦅ .''"'*'' ,'*Vi84iij:,""..
iWZtffW snM'··C".t"tfe nWe t ; ""e 'k t ' ' - - LLセBZBLG
leu' .... ­, ';'-+ 'iri'tMiEti!ttiWi'MtiiPh '_
Iogteses e Francese$. estavam, de facto, a descobrir tude aquilo que
os separava. 0 dito acerca do. efalsidades dos Ingleses parece ter nasctdo
no seculo XIV E foram­Ihes ainda encoorrados outros deteuos. Jean Le
Bel, conego de Liege (1290­1369), que de resto era revoravel a Eduardo Ill,
nao hesitava em julgar os Jnateses «commumente invejoSQs de todos OS
esl,rangeiros, quando estes lhea estiio acima, mesmo oos seus paJses...
A inveja alnda nao rot morta ern Ingjaierras Cerra de 1450, rot escrito
por urn frances 0 Debat des heraurs d'armes de France et d'Ang/elerre,
em que os senlimenlos anti­ingleses, acumutados ao Iongo do. Guerra dos
Cern Anos, nnharn redea solta: «A sombra da divisiio da Franca, rendes
pilhado e perturbado este reino e fizestes inumercs males». Acusacao
esta de que se faz eco 0 Livre de fa description des povs, de Gilles Le
BOUVier, escrirc na mesma epoca: eEssa nao;ao (a Inglalerra) tern gentes
creels e gentes sanguinarias.. E fazcm guerra a todos os povos do
mundo, tanto no mar como em terra». Tambem sao cupidos, mas habeis
roercadores. «Tudo aqu:lo que ganham nos paises estranhos onde vao,
enviam­no para 0 seu reino. E e per isso que este e rices.
No ja cnacc Dibal, cada urn des dois arautos husca os motives do.
supenoridade do seu pais. 0 da Franl;a invoca a geografia e 0 clima e
deelara ao seu rival Ingles: KO reino de rranp esta muito mals bern
situado que 0 vosso, pols esta entre as regl5es quentes e as regi6es frias;
as quenles, que estao para la dos monIes, sao dificcis de suportar. pelos
geandes e eitcessivos carores; e as frias, em que vos estais, sao muito
nocivas ao corpo humano, pois 0 Inverno come.;a Iii tao cedo e dura tanto
lempo, que as ー・ウセッ。ウ vivem a sofrer de frio e nao pode la crescer アオ。セ・
nenhllm fWlo, e 0 que cresce e mal formado e mal amadurecido. Mas em
Frana, que esla eutrc ambas, e no meio e onde repousa a virtude. e
onde 0 aT e doee e agrad:i.ve/; e lodos os frutos Ii crescem 。「オョ、。ョエ・ュセョエ・
e sao virtuosos e deliciosos, e as pessoas vivem alegremente e com mode-
ra30, セ・ュ demasiado calor nem demasiado Frio". Como es(amos longe do
seculo II, quando a Inglaterra parecia aos lelrados do Ocidente uma lIAtria
comum! Urn monge, Richard de Cluny, morto em .1188, nao Iinba pa.la-
veas 'ufjeientemente elogiosas para a lnglaterra, em cuia homa escreveu
um poema latino:
[l1g/a/erra, gleba fecunda, recanto fhlii do mundo...
[n/?lalerra, pais dM iogM. povo livre, nascido para a folia,
Pais (JJ?raddvel, que digo?, pars que e s6 alegria,
Que muLtI deve GOs Gau/eres, mas a quem II GdJia deve
l'udo 0 auf' ndn no de calf)'ante e de {lmtJrtivel,
Ao Dp!>rzl, cornrosto por urn frances em meados do seculo XV, res-
ponde, cern anos depois, 0 Debale between the heralds of Engl(Uld ami
France de John Coke. 0 aulor insular elogia, naluralmente, pela boca do
seu arauto, 0 que h.:i de agradavel, de valoroso e de rico em Inglaterra.
4J
T P •.• ",-
Dona Prudencla, encarregada de ajuizar, nao pede deixar de se prcnun-
cjar comra a Franca: «A minba sentence e que 0 reino de jnglaterre
devera sec conduzido para junio da Hcnra, de preferencla A prance. e
tomar Iugar a sua rlirerta; que vos, senhor araurc da Franca, em rcdas
as assembleia!i ondc ncnra se deva mosrrar, rcconhecais para sempre 0
vosso dever dando 0 Iugar ao arauro da Inglaterra.»
No rim do seculo XVI, 0 orgulbo nacional ingJes viria a lee em
Shakespeare urn vale genial. Em Ricardo II (cerca de 1595), Jcao de
Gand, antes de morrer, exaua a Inglaterra: cBle augusto irono de refs,
esta llha porta­ceptro, esra terra de majestade, estc a5senW de Marte,
este segundo Eden, este semiparaiso. esra rortalem construida para se
defender da tnvasao e das proezas da guerra, esta feliz raca dc hcrnens,
esrc pequenc universe, esta pedra preciosa ・ョァ。セャ。、。 num mar de pruta
que a defendc como urna rnuralha, ou como 0 rossc protector de urn
easteto, contra a inveja dos parses menos felizes.. ,», lsto e depois da
derrota da InvendvcJ Armada!
,0 que temos de coDlpreender que estA por tras 、。ウNNゥョェセAZェゥAウjN」A[Lエlセ「。M
ne
イッセセ e das セャpセイセセエLjゥ⦅cZ⦅qセ」ゥ・ョキ de"'S{to ((os outrns. a 03 Cpoca
do Renasdmento, ウアイァセ⦅j|セ ュ。セッイゥ。、qsNpqZvッウNLNャZNuエoーBBGsM Sabem jtt que
sacnlil'erentes. Os Francescs tern reputacao de jevianos, fervenles, incons'
tantes. No seculo XIV, Jean Le Bel asse"'era: «:, •• sempre prometerarn e
scmpre cumpriram mal». Duzento, anos depOlS, 0 embaixador veneziano
Marcanlonio Barbaro ddine­os assim: (Os Franceses sao naluralmenle
brioso.'i e orgulhosos. muito audazes nas 。」セo・ウ de guerra; por isso 0 seu
primeiro emhate emuito difieil de aguentar... Nos seus exercitos hi. rnuilO
entusiasmo e pouca ordem. Se pudessem dominar 0 seu ardor, os Fran-
ceses seriam invendveis.; mas a sua falta de ordem provem de 'lhes ser
imposslvei suponar por muito tcmpo as fadigas e os ゥョ」Vュッ、ッウセN No
sell Livre de la description des JXJYS, Gilles le Bouvier esforca­
se
por
caraclerizar povos, na¢CS e provincias. Os sオゥセッウ sao dados como {(genIe
cruel e rude». Quanto aos Escandinavos e aos Polacos, diz ele que saO
Lァ・ョエ・セ terriveis e furiosas, gentes sanguinarias que ferem antes ainda
daquel que estao cheios de カゥョィッセN Os Sicilianos sao ,grandrs crisHios
es
e muito ciurnentos das suas mulheres», os Napolitano! .gente grosseira
e rude. maus cat6licos e grandcs pecadorcs». Os Caste/hanos soo descrilos
enmo 'POllCO cornedores de earne e sao gente muito ゥイイゥエ。、ゥセ。L e ilndam
mal vestidos, mal 」。ャセ。、ッウ e mal dormidos, e sao mauS c:llo{icos, e isso
em tao born (ferW) pais». Gilles Le Bouvier faz, em contrapartida, 0
elogio dos Florentinos: «Estas gentes suportam comparar;ao com toda a
Cristandade; tudo 0 que ganham levam­no para a cidade de F1orem;a,
as
e por isso a cid.1de e lilo rica; estas genIes slio muilo bern comportad
e honeslamente vestidas e sao muito wbria, nO beber e no comer», Tam-
bern e prestada semelhante bomenagem ao Hainault, cujos hahitantes,
.nohres e comuns, sao gente mllilO honesta, bern veslida com bons lccidos
e 「ッ。セ plumas. e sao muilo bons mercadorrs, エイ。「。ャィ。、ッイ・セ e gcnte de
14
orrcos, bern munidos de baixetas de ccbre e de estanhc nas suas esta-
Iagens».
Paz­se jujzn sobre cs estrangelros, mas rambem sobre 0 proprio povo,
e as vezes sem piedade. No seu Apelo ci Nobre..a Crista do Nafoo Alemii,
Lutero (1520) nao receia evocar «0 abuso das vitualhas e das bebidas, de
que nos, Alemaes, fizemos 0 nosso vfclc particular e gracas ao qual nao
gozamos no estrangeirn de excelente イ・ーオエ。セゥゥッ[ jA nAo e possivel reme-
dia­Ic pela pregacao, de tal modo esse abuse se enraizou e tal 0 domlnio
que tern ja sobre nose. Donde 0 reformador ccnclui que compete as
auroridades civis lutar contra a embriaguez. Quanto a Montaigne (EnsaioJ,
II, Ix), avalia, de modo ir6nico, 0 valor Intelectual e a finura de espf-
rite de varies povos do Ocidente em runcao do sen comportamento na
guerra: «Urn senhor Italiano exprimlu uma vez, na minha presence, esta
cpiniac em desfavor da sua cacao: que a subtlleza des Italianos e a
vrvacidade das suas concepcoes era tao grande e que previam com tal
antecedencia os perigos e acidentes que lhea podiam advir que se nao
devia achar eerraebo que Iossem vlstos, munae vezes, na guerra, prover
a sua seguranca bern antes de ter reconheeidc 0 perjgo; que n6s e os
Espanhols nao eramos tao finos, lamos adiante e tinhamos de ver com
os o.lhos e toear com a mAo 0 perigo antes de assustar­DOs com ele, e
logo depois perdlamos a compostura; mas que os AlemAes e OS sオiセッウL
mais grosseiros e mais pesados, nao tinharn 0 senso de madificar as SUllS
opiniOe:s oem rnesmo quando jA estavam subjugados pdos goJpes do
inimigo».
Esta compreens1o de si e do:s outros, a nIvei dos poVOJ, explica bas-
tantes coisas desse periodo em que nasceu a Europa modema. Expliea
nao sO que os barOe:s franceses tenham afastado em 1328 Eduardo III.
neto de Filipe, 0 Belo, mas nascido em Inglaterlll, como tambtm que os
Portugueses, para nao se unirem a Castela ern 1385, tenham preferido ele-
ger urn rei bastardo, Joao I, fundador da dinastia de Avis, e que estes mes-
mas Portugueses, dois seculos e meio mais tarde. tenham recusado manter-
·se sob urn soberano espanhol: recusa de que nuceu a revolta de 1640. Esta
tomada de 」ッョウ、セョ」ゥ。 explica ainda que a palavra ­ e, mais ainda, a
ョッセ de ­ «fronteira» tenba gradualmente .substituldo, a partir do se-
culo XIV. a palavra e a realidade da «marca,. que as callindegas» :sejam,
no fim da Idade Media, uma inovaJ;Ao comum a todos os paIses da セ
Europa; que 0 mercantilismo se desenvolva como expreUiio econ6miea da
vontade de independencia; e que se tenha 」ッュ・セ。、ッ a definir, na senda
dos exemplos italianos, d.guas territoriais» ao longo das costas mariti­
mas dos varios Estados, tendo as tribunais maritimos surgido em Ingla.
terra em 1360 e em Franca em 1373.
Como esquecer, per outre lado, tudo 0 que houve de cnacionab no
comportamento religioso dos OcidentaiB a partir do sk:ula XIV? Catarina
de Siena pediu com rervor 0 regre.&!JO do papa «para entre as gentes de
Roma au de Italia,. A Inglaterra rrritou­se ao ver a fイ。ョセ p6r 0 papado
45
1-- _
-i,i'
'1;
];il
.
sob tutela. Os rnernbros do Concilio de Constanca - inieiativa revolueio-
nana _ agruparam­se per enacces». Alem­Reno, como alem­Maneha,
era­se cada vez mais hostil a fuga de dinheiros para Roma e a nomeacao
de beneficiados estrangeiros. A Reforma, que triunfou no seculo XVI em
metade da Europa, pede legiLimamente parecer, de certo ponte de vista,
como uma reaq:ao de individualismo nacional. No seu Apelo d Nobreza
Crisra da Nat;iio A/emil, Lutero escrevia: «N6s (Alemlies) temos 0 nome do
Imperio, mas 0 papa dispoe des nossos bens, da nossa honra, das nossas
pessoas, des nossas vldas, das nossas almas e de tudo aquilo que nos temos:
ha que trocar des Alemlies e pagar­Ihes com uusoes». Quanto ao rei de
Inglaterra, recebeu do Parlamento, em 1534, «0 direito de examiner,
repudiar, ordenar, corrjgir, reformar, repreender e emendar tais horro-
res, heresias, enormidades, abuses, ofensas e irregularidades... a fim de
conservar a paz, a unidade e a tranquilidade do reino, nao obstante qual-
quer uso, costume ou lei estrangeira e qualquer autoridade estrangeira».
Seria per acaso que 0 primeiro grande reformador smco, Zwingli, primei-
ramente paroco de Glaris, comecou a sua carreira protestando contra u
envio de mercenaries helvetieos para fora do pais?
Assim, 0 individualismo, do qual falaremos rnais adiante e que e urn
dos traces disrintivos do Renascimento, e percebido, antes de maie, ao
ntvel dos povos da Europa, que, ao diferenciarem­se e oporem­se uns aos
ourros de forma per vezes dramatlca, adquirem 0 sentimento da sua pro-
funda originalidade. Licao geradora de espirito entico e de relativismo e,
portanto, fecunda. A duvida met6dica de Montaigne ", antes da de Des-
cartes, viria permitir a crHica de bastantes preeoneeitos: «Qual a verdade
que estes montes limitam, e que e mentira no mundo que esta para la?».
A cada naclio sua verdade.
A partir do seculo XIV desenha­se uma nova geografia universitaria
que, a urn tempo, exprime e reforca a crescente diversificaclio da Europa.
Sao criadas universidades., designadamente em Praga (1347), Crac6via
(1364), Viena (1365), Col6nia (1388), Leipzig (1409), S1. Andrews (1413),
Lovaina (1425), Basileia (1459), Uppsala (1477), Copenhaga (1478), Al-
calA (1499), etc. Esta mulliplicaClio, aerescentando­se aos efeitos do Grande
Cisma e ao exodo de muitos c1erigos que, antes da Guerra dos cern Anos,
esludavam ern Paris, teve como resultado a diminuicao do recrutamento
intemacional das universidades e a ruina do sistema das «nacres», que
constituira ate enlio a chave da sua eslrutura. Oes
o hurnanismo. tambtm contribuiu para 0 nascimento das nac
europeias. Esta afirmaeao pode causar surpresa. Lorenzo Valla· reeusa-
va­5e a morrer pela palria, agregado de individuos em que nenhum lhe
devia ser mais querido que ele proprio. Erasrno, espfrito cosmopolita que
s6 escrevia em latUn, foi, nos anos que antecederam a Reforma, uma
especie de presidente da «republica das letras•. E, no entanto, 0 latUn
renovado serviu, especialmente, para exaltar a historia nacional. A ゥョゥ」ゥ。セ
tiva partiu de ltalia, com Flfavio Biondo, que comp&, entre 1439 e 1453,
46
NセB LLLBLLBBBGBBBGGGGGGGGGGGセGGGGGGZGGGZGGBGGGGGG[GGGGセGGGGGGGGMZ[セセGGGGyGGセGセセMセGp
uma His/aria da Decadencia do Imperio Romano (Historiarum ob tncuno-
none Romanorum Imperii decades) e uma Italia illustrate. Este humanista
dizia que, no seu tempo, gracas a beuevolencia divine e as qualidades
des ltalianos, a dignidade e a gloria da peninsula se manifestavam
de novo depois de urn eclipse de mil anos. Alem disso, dava, na Ltaua
illustrata, «a primeira representecao geograflca de toda a peninsula». Em
Espanha e em IngJaterra, os Italianos fizeram nascer 0 interesse pelas
antiguidades nacionais. Lucio Marineo, urn s.ieiliano que ensinava na
Ijniversidade de Salamanca, publicou em J495 urn De Hispania laudibur
e Polidoro Vergilio comecou em 1506, a pedido de Henrlque VII, a sua
grande Htuorta ang/ica. A redescoberta da Germania de Tacite, publicada
em 1500 per Conrad Celtis, suscitou na Alemanha toda uma Iiteratura,
escrita em latim mas resolutamente nacionalfsta, da qual e born exemplo
o dialogo Arminius, composto em 1520 por Ulrich von Huuen. Arminius
era 0 her6i naeional e 0 simbolo da resistencia alema contra Rome: alusao
evidente a revolta Iurerana conlra 0 papado.
Mas os humanislas nao se contentaram com escrcver em Iatim. Admi-
radores des escritores antigos, quiseram frequentemente imitA­los e igua-
la­los, cada urn na sua lingua. Ao Iazer isto, ccntinuaram, com novos
meios e baseando­se numa cultura muito mais vasta, a obra dos primeiros
grandes eseritores ­ Dante, Chaucer, Froissart, etc. ­ que tinham aberto
o eaminho as diversas lileraluras nacionais. No seculo XVI deseobre­se
na Europa, em toda " parte, a vontade expressa de prcmocao das linguas
vernacuias. Na sua eelebre Defense er illustration de fa langue fran-
caise (1529), Du Bellay s deplorava 0 desprezo dado, mesmo em Franca,
ao idioma frances: «Reservam­no para os generorinhos frivolos, baladas,
redondilhas, e outros temperos... Quando se qucr exprimir grandes ideias,
usa­se 0 ャ。エゥュセN Ronsard·, no prefacio da Fronciade, aconselha: «Usai
palavras puramenle ヲイ。ョ」・ウ。ウNセ Mais tarde, Agrippa d'Aubigne recordarA,
no prefaeio das Tragiques, estas palaveas de Ronsard: «Recomendo­vos
em testamento que nilo deixem, de modo algum, perder velhos lermos
e que os empregueis e os defendais audazmcnle contra os maraus que nlio
tem nor elegante 0 que nlio seja surripiado do lalim e do ゥエ。ャゥ。ョッセN
Assim, poetas e prosadores franceses do seculo XVI esforearam­se por
conservar as palaveas anligas, por inventar vocAbuios novos e por filro-
duzir na literalura nacional os «grandes generos» imitados dos Antigos:
ode, epopeia, tragedia, comedia, salira, epistola, ou dos Italianos: 0 &meto.
Nao hesitaram em pilhar Atenas e Roma para «enriquecer os templos
e altares» da Franca.
Na competieao inlemacional entre Ifnguas «vulgaresll, 0 toscano tinha,
desde 0 seeulo XIV, gracas a Daote, Petrarca e Boceacio., consideravel
avaneo em relaeao ao frances. Mas urn admirador de Virgilio e de Dante,
Sperone, esereveu em 1542 urna defesa da lingua de Florenea, 0 Dialogo
delle Ungue. de onde Du Bellay traduziu, pura e simplesmente, baslanles
trechos para a sua Defense. utilizando em favor do frances aquilo que
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1
o sell co/ega jtalia.no escrevera em peal do idioma toscenc. Tambem em
Portugal se eraucu a lingua nacional, 0 humanista Antonio Ferreira (I 528-
.1569), a quem se deve uma tragedia celebre (A Caslro), pode scr coo-
atceradc como urn Du Bellay portugues. Exclamou UDl dia: «Que fjoresca,
fale, cante, seia ouvida e viva a lingua portuguesa, e, onde quer que
va, se mostre orgulhosa W; 51 e altaQcjra». 0 ェョァャセウ Roger Ascbam (l5J5-
-1568), Que foi, por breve tempo, preceptor de Isabel e «0 mais popu-
lar doe educadores do seu tempo» ern Ingfaterra, devc ser comparado a
Du Bellay e a Ant6nio Ferreira. Todos tree estavam imbujdcs de culture
greco-romana. Ora todos eles beberam nesra culture 0 desejo de rorta-
Iecer e sen'it a.! Unguas dos seus pa!ses. Ascbam afirmava, no inicio do
seu Tosophilus, que pcderia ganhar maier rama se escrevesse em Iatim.
Mas, como 0 Ingles era ainda uma jjngua inferior, a mercA des iancrantes
e dos tecomretenres, queria contnbuir para 0 seu aperfeiccamentc Inrro-
duzindo-lhe os torneados e as e1egancias do latirn. A prcee illglc$S, dizia
ere, devia seguir a escola de Oce-o e de seneca. Na longinqua Pol6nia,
Nicolai Rei, a quem chamaram epai da literatura nacionale, nao dtscorrta
de modo diferente. Em todoa os seue escritos, especialmente oa sua obra-
.prima,o Espelho de Toaos 01 ESIQdos (1568), esrcrccu-se per cemonstrar
as possibilidades da lingua petaca em comparecco com 0 Iatirn.
Estell afor(:Os foram coroados de euto. 0 seculo XVI viu 0 deci-
sivo erguer das grandes literatures europeias: e 0 secuio de Ar.icsto e
de Maqulavel, de Luten) e de Rabelais, de Ronsard e de Spenser, de
Camees e de S. Joac da Cruz- Em 1620, data em que podemos, razcavej-
mente, cccslcerar conclufdo u ReLi81K:imento, Cervames e Sbakesreare
tjnham morrido ha"ja cuatrc aacs. Mas esta vitcria das Hnguas neclcnee
nio se aitua somenre DO cume da actividade intelectual. Encontramo-la.
lam'btm na vida profunda dos pavos. Na セーッ」。 em que 0 Mito de
Villen-Cotterets (1539) iropunha, no teino de Francisco I, 0 usa da Uo.gua
da lle-de-France, em ve.z do latim, nos escrims de juJus e de nourios,
o to.scano passa"a a ser a liogua de Roma e, portanto, da capital natural
da IUlia. Os papas do Renascimeoto, em especial all mセ、ゥ」Nゥウ (1513·1521
e 1523.1534), chamando aRoma artistas toscanos e povoando de Floren·
tinos a cUria e as secreLarw do Vaticano, foram os prindpais Autores
do n::cuo simultatteo do latim e do diaJecto romQneJCQ. Quanto il Reforma,
na medida em que fez mLemificar a leitura da Bfblia • pelo pova, auxiliou
poderosamente a consolidar e duundir セ Unguas vernacllias. Lutero foi,
sem querer. 0 Drincipal autor da unificacao, pelo menos relativa. dos fala-
res alemiie$.
No momeoto em que se alirmavam as nac(ies europeias, reforcava·se
a unidade da civilizacao ocidental: dois fen6menOi apareotemente contra-
dit6rios e, DO entllnto, solid6.ri03, cuja dialectica e uma das maiores
caracterlsliCWI do perlodo que estamos a estudar. A descoberta e explora-
cia dos Dluodos ex6ticos viria, ao mesmo tempo, avivar as tens6e5 entre
os Europeus e. precisar Binda filII.is a comnmdade d09 sellS deatin09.
セX
..セL
•.••.•.セLNNBNNNNNBLNL coo ,;>t:< "*1'"
CAPlTULo IT
A ASIA, A AMERICA E A CONIUNTURA
EUROPEIA
Em 1454, Constantinopla tinha cerdo havia urn ano; os Principes da
Europa, divididos. nao eram capeees de organizar uma contra-<Jfellsiva
comum COntra as Turcos. 0 humanista セョ・。 Silvio PicCOlomlni. lell:ado
pontjfical na Alemanha e futuro papa (Pic II "), escrevfa tristemenle a
urn amigo: lCPreferia que me chamassem mentor a que me ehamaS5em
profeta... Mas nAo POSSO acreditar que haja ntsto alguma coisa de born .
A Cristandade nac tern um chele <t quem [ados aceltem submeler-se .
o papa e 0 imperador veem os seus dire-ito.!! ignorndos. Nao M respeito
nem obediencia. Olbamos para 0 papa e pam a imperador como se
fossem liguras deccranvas, dotadas de エQエオャッセ va:rio!l de conterldos
LameDto.!I inutei, de urn letrado aberto l nova cultura mas que,
apesar disso, olhava para 0 panado. A ElU'OP4 、cセuャQゥ、。L 8 despeito das
suas rivalidades internas -ou, melhor, por caU!la delas_, ja estava a
(orja.- urn. :leU destino excepcional, abrindo as portas que davam para
lange. Na verdade, 03 Ocidentais de ha muito que aspiravam i4 a sair
dos seus territ6rios. Mia tinha 0 veneziano Marco Polo estado Ila China
de 1275 a 1291' No prjoC"1pio do seculo SC!Uillte, 0 papa nomeou, para
arcebi!lpo de Pequim, um mission4rio franciscano. Durante mais de cin-
qUcnta anos, uma rota comen:ial muito stgura, que alravessava toda a
A.sia e terminava nas feitorias genovesas do Mar Negro _ Tana e Caffa-,
permitiu Que viessern para a Europa 05 produtos chineses. (nfelizmente,
os progressos dos Thrcos. a partir de 1150, depres;;a inteTJluseram uma
barreirn entre a Europa e a China mongol. Os Portugueses, tocando 00
inlcio do sec:ulo XVI as costD.8 do Celeste Imperio, tiveram a imprenio
de tee descobeno urn mnndo Uio novo como aquele que Cortez enconlrou
ao penetrar no Mexico.
Mas a curiosidade europeia Iinha estado desperta. A prova esta nos
cento e trinta e oito manuscritos que nos ficaram do LivrtJ den Mara-
vi/has de Marco Polo. Henrique, 0 Navegador, セオャ。 urn; e Crist6v!lo
Colombo teve oa sua biblioteca um dos primeiro5 exemplares impre3sos
セY
P art fi; t'fnWhn 9 Wi jjrdtittu&Mf't., ' . , ._".!."
•••••Bゥm[|LGCAセ ... LセL
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A CIVILIZAÇÃO DO RENASCIMENTO
A CIVILIZAÇÃO DO RENASCIMENTO
A CIVILIZAÇÃO DO RENASCIMENTO
A CIVILIZAÇÃO DO RENASCIMENTO
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A CIVILIZAÇÃO DO RENASCIMENTO

  • 1. ­­ J NOVA HISTORIA 8 o セ セ 'Ci Jean Delumeau o - セ A CIVILIZAc;AO >­" o DO RENASCIMENTO Jean Delumeau considera 0 Renascimento enquanto "pro- Volume I rnocao do Ocidente numa epoca em que a civilizacao da Europa ultrapassou , de modo decisivo, as civilizacoes que lhe eram paralel as' '. Encarado numa perspectiva de "desa- jO'l fio e resposta" , 0 Renascimento passa pela "cntica do pen- o sarnento clerical da ldade Media, pela recuperacao f- demografica, pelos progressos tecnicos , pela aventura marf- Z tima, por uma estetica nova , par urn cristianismo reelabo- l1.J rado e rejuvenescido". 0 regresso a Antiguidade , "0 l aparente regresso as fontes da beleza, do saber e da reli- "'" U giao foi apenas urn meio de progredir" . Nesta obra em dois rJJ volumes encontrarnos a origem dos movimentos e das pro- セ fundas aspiracoes do nosso tempo. Bibliotecas Municipais de '1 Almada セ Biblioteca Central II ­ ...... R gM;Uj W" EOOB01001227 ! ii i illlil//セ QQ セGャャ ゥャAGAiセ III I!!/!ll! llii/J IIIAiiiiiセIlli1 I III "'­ ­ ­ ­ - Z w セ o c c i セ iJ 'if , " ISBN 972­33­1000­7 IIII 1111 9 "789723 310.009
  • 4. FICHA TECNICA Titulo original: La Civilisation de La Renaissance Traducao: Manuel Ruas Capa: Jose Antunes Ilustracao da capa: as Embaixadores (1533), de Hans Holbein, 0 Moco. National Gallery, Londres Impressao e Acabamento: Rolo & Filhos - Artes Graficas, Lda. Deposito Legal n? 80745/94 ISBN 972-33-1000-7 Copyright: © B. Arthaud, Paris, 1964 © Editorial Estampa, Lda., Lisboa, 1983 para a lingua portuguesa. INDICE Volume I i . J f, Agradecimentos 13 Prefacio , . 15 lntroduciio A PROMO(:AO DO OCIDENTE - 0 termo «Renascimento»: uma etiqueta c6moda ... ... ... 19 - 0 dinamismo da civilizacao ocidental .. . ... ... '" ... ... 20 ­ 0 melhor e 0 pior .,. ... .., ... ...... ... '" ... ... ... ... 21 -- Relnterpretacao do Renascimento por uma exploracao em profundidade ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. . ... ... ... ... 22 Primeira Parte LINHAS DE forセa Cap. I ­ A explosiio da nebulosa crista ... '" ... 27 - Panorama politico da Europa cerca de 1320 . 27 - Panorama politico da Europa cerca de 1620 .. 31 - Supressao do ideal de uma Cristandade ... ... 37 - Nascimento das consciencias nacionais ... ... 42 Cap. 11- A Asia, a America e a conluntura europela '" 49 - Mundos ex6ticos atraentes e temiveis ... ... 49 - As causas das viagens de Descobrimentos . 53 - As etapas dos Descobrimentos ... ... . .. 61 - A implantacao iberica na America '" ... ... ... '" 67 - Conjuntura econ6mica e producao de metais preciosos ... ... 72 - Coniuntura e movimento demografico na Europa nos se- culos XIV e XV; a tese «catastroflcas ...... '" '" ... '" 78 ­ Crftica da tese «catastrofica» 79 ­ 0 progresso ap6s 1450 ... 81 7
  • 5. Cap. 111- Renascimento e Antiguidade .. 85 Cap. VII- Um primeiro capitalismo '" 217 - Urn desprezo injustificado da Idade Media 85 - A «commenda» 217 - Idade Media e Antiguidade ... ... ... ... 87 - Companhias com sucursais e companhias com filiais 218 - A renovacao da arte gotica ap6s 0 seculo XIII ... 89 - A firma Medicis 220 - Rostos e paisagens ... ... ... ... ... ... ... ... YRセ I - Homeas de neg6cios do seculo XVI: os Fugger '" 223 - Urn melhor conhecimento dos textos antigos 95 I, - Homens de neg6cios do seculo XVI: os financeiros genoveses 227 - Renascimento e arqueologia ... ... ... ... ... 99 r, - Emprestimos reais e dlvida publica ... '" ... ... '" ... ... 228 - A Antiguidade como fonte de inspiracao ... 102 - Dos «Merchant adventurers. a «Oost Indische Kompagnie» 231 - Do omamentismo ao purismo ... ... ... ... ... 106 - Estruturas capitalistas . ... ...... ... ... ... ... ... ... ... 232 - Uma certa falta de respeito pela Antiguidade ... ... ... . 112 - Promocao do quantitativo ... ... ... ... ... ... ... ... ... 236 - Uma civilizacao nova ultrapassa a civilizacao dos Antigos .. 114 - A grande transferencia no Ocidente '" 239 - - Realizacoes do Renascimento no plano artfstico 117 Cap. VIII - As cidades e 0 campo ... ... ... 247 Cap. IV - 0 Renascimento como Reiorma da Igreia ... 121 - A hist6ria rural e uma hist6ria im6vel? '" 247 - 0 Grande Cisma e a epoca dos concilios 121 ' - Abandonos e progressos 249 - Os eabusos» na Igreja .,. ... ... ... ... 124 - Plantas novas. As trocas botanicas e zoologicas entre a Eu- ­ Reforma e «Contra­Reforma» ". .,. ... 126 'I ropa e a America ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .., 252 ­ Reves da tolerancia ... .. . ... ... .. . .. . ... ... .. . 131 ­ Os rendimentos no Ocidente ... ... ... ... '" ... 253 ­ Os «abusos»: explicacao insuficiente da Reforma 134 ­ 0 desenvolvimento demografico nas cidades .. 255 ­ Subida e afirmacao da piedade popular ... ... 136 "I ­ 0 urbanismo: a «commoditas» '" 258 ­ A nova importancia dos leigos na Igreja ... ... 138 ­ 0 urbanismo: a «voluptas» ... ... '" 261 ­ 0 individualismo religioso ... ... ... ... ... ... 141 I' ­ Paisagens urbanas do seculo XVI: 0 exemplo romano '" 266 ­ 0 sentimento de culpa ... ... ... ... ... ... ... 143 (I ­ Castelos e jardins '" ... ... ... .. . ... ... ... ... ... 269 ­ 0 crescimento das capitais ... .. . ... ... ... ... ... 272 Ii .. Segunda Parte , Cap. IX ­ Mobilidade social. Ricos e pobres 277 I . I A VIDA MATERIAL ­ Mobilidade horizontal 277 ­ Mobilidade vertical ... ... ... ... ... .. . ... ... ... 279 I Cap. V ­ 0 progresso tecnico ... ... ... 151 ­ Alargamento do fosso entre ricos e pobres 282 I ­ 0 mundo dos ricos e 0 mundo dos pobres 285 ­ Uma civilizacao mais tecnica ... lSI , I ­ 0 vestuario dos ricos e 0 vestuario dos pobres '" '" 288 ­ Os «engenheiros do Renascimento» 154 ­ A mesa dos ricos e a mesa dos pobres ... ... ... ... 290 ­ Leonardo, tecnico . 159 ­ Algumas realizacoes espectaculares do Renascimento 161 ­ Os transportes terrestres ... .,. ... 163 ­Navios e navegacao ...... '" ...... 166 ­ Progresso no trabalho dos texteis 172 ­ Os relogios ... ... ... . . 174 ­ Minas e metalurgia ... 176 I ­ A artilharia ... ... ... 181 I ­ As armas portateis ... ... 185 I ­ A fortificacao guarnecida de bastiOes 187 ­ Nascimento e progresso da imprensa 190 I , ­A gravura . 193 ­ 0 trabalho no vidro ... 194 ­ Arte e tecnica ... 197 Cap. VI ­ A tecnica dos negOcios ... 199 ­ 0 conservantismo das corporacoes 199 ­ 0 seguro marftimo ... ... '" 202 ­ A contabilidade e os bancos 204 ­ A letra de cambio ... 207 Jl ­ Cambios e especulacao ... 209 11 8 '1 11
  • 7. AGRADECIMENTOS r Este livro, obra imperieita, mais imperjeito seria sem os conselhos de amigos a quem desejo aqui agradecer. Em primeiro lugar a Jacques Le Gof], autor do notcfvel volume que antecede este ('). A nossa amizade, que e jd de um quarto de seculo, permitiu­me beneliciar do contribute da sua vasta cultura, do seu conhecimento do Leste europeu e da sua biblioteca. Em Rennes, os meus colegas historiadores Jean Meyer e Andre Mussat, bem como 0 sr. Rousseau, director da Biblioteca Municipal, res- ponderam com competencia e gentileza as muitas perguntas que lhes liz. Quero manijestar­lhes a minha gratidiio. Hd ainda 0 [acto, recon- [ortante para um autor, de eu ter entrado em contacto com uma pessoa tiio solicita como 0 director literdrio das «£ditions B. Arthaud», Sylvain Contou. As nossas longas converses sobre 0 Renascimento e sobre os problemas que este livro levantava [izeram­me descobrir nele um amigcfvel interlocutor, com quem simpatizei desde 0 primeiro momento. Sorridente e eficaz, Dominique Raoul­Duval reuniu os variados elementos que eu lhe ia entregando - texto, imagens, mapas, indice documental, cronolo- gia-, equilibrou­os, completou­os com rara competencia e adaptou­os uns aos outros de modo a [ormar um todo homogeneo. Quanto d lcono- grafia, realizada por Josette Champinot e Ana Pacheco, mostra, bem melhor que as minhas palavras, a cultura e 0 senso artistico de quem nos proporcionou as belas imagens deste livro. o Autor {'} A CivilitC/fao do Ocidente Medieval, publicado nesta 」ッャ・セャゥッN (N. do E.) 13
  • 8. PREFACIO r: Esta cゥカゥャゥコ。セゥゥッ do Renascimento, que [icamos a dever a Jean Delu- meau, vem agora inserir-se entre os dois volumes que Jacques Le Goff e Pierre Chaunu jci publicaram nesta colecciio, dedicados, respectivamente, d Idade Media e d Europa Classica. Embora, nos aspectos gerais, esteiam todos em conformidade com a estrutura escolhida para a totalidade da serie «Grandes CivilizafOeS» (''), estrutura que corresponde aos desejos e necessidades do leitor e the permite sentir-se numa paisagem que the e jci familiar, cada um destes livros tem a sua face peculiar. De facto, slio produto da rejlexiio de historiadores com temperamentos bem diferentes. Sempre abarcando os assuntos em toda a sua amplidiio, cada um deles iluminou 0 seu de modo original e pessoal. Isso corresponde perfeitamente ao proprio espirito desta colecciio. Era nosso proposito que a clareza da exposiciio e a riqueza dos injormes niio excluissem nem sequer ocultassem a originalidade das opinioes. As pesquisas recentemente realizadas vieram abrir novas perspectivas que mostram a uma luz por vezes imprevista os problemas ainda niio resolvidos. Niio era iusto que se pudesse deplorar a sua ausencia nestes trabalhos. Devido aos seus anteriores estudos, que tinham incidido sobre a vida economtca e social da Roma do seculo XVI, J. Delumeau estava espe- cialmente habilitado a renovar um assunto que jci [oi centro de tantos ensaios e de tantas sinteses. 0 plano que ele adoptou para tratar esse vasto movimento de civilizafiio coberto pelo termo Renascimento e de uma nitidez e de uma clareza verdadeiramente classicas. 0 triptico da Historia, das realidades da vida de todos os dias e da mentalidade e aspirafOes novas permitiu-lhe ordenar harmoniosamente os conhecimentos e as reflexbes que colheu no seu passado de erudito. 0 que na sua expo- (1) Coleccao das Editions B. Artaud, a que pertence esta obra. (N. do T.j 15 セj'
  • 9. sir;iio impressiona e, sem duvida, a escrupulosa prudencia que transparece ao longo de todos os capitulos e de todas as pdginas. Dar iuizos de conjunto sabre ウゥエオセッ・ウ muito complexas e que, em tal ou tal aspecto, ainda siio imperjeitamente conhecidas parece-lhe perigoso e, muitas vezes, temerdrio e ele sente necessidade de matizar a 。ーイ・」ゥセゥゥッ para que ela niio va alem dos limites impostos pelo presente estado das iniormacoes dis- ponlveis e pela complexidade dos [actos. Logo Ii partida, 0 proprio termo Renascimento, que devemos ao humanismo italiano, parece-lhe insu- /iciente e quase inlusto. Renascimento pressupl'Je, pelo menos, um tor- por, um sono previa. Ora e ilusorio buscar uma nltida ruptura na trama continua dos tempos. Portanto, 0 valor extensivo do termo sera limitado d ideia, justa e precisa, da promociio do Ocidente e do avanr;o que este rapidamente tomou sobre as civilizar;i5es paralelas. Dd ウ。エゥウヲセゥゥッ que J. Delumeau tenha acentuado como convinha as ligar;i5es com 0 passado sem ignorar 0 valor da renovaciio. Assim se pode medir melhor a importdncia do progresso material e tecnico do seculo XVI europeu e se aprecia com maior iusteza 0 impeto surpreendente das ョ。カ・ァセo・ウ e a multlplicidade das grandes descobertas planetarias que alargaram, quase brutolmente, 0 limitado horizonte dos seus con- tempordneos, 0 aparecimento da imprensa, que veio, no momenta exacto, dar resposta a um profundo apelo da curiosidade humana, 0 progresso, enlim, da civllizaciio urbana com 0 desenvolvimento de tecnicas destina- das a um grande futuro, como a da banca. Esta rejlexiio, salda da boca de um observador espantado, «a arte da guerra e agora tal que e preciso aprende-Ia de novo de dois em dois anos», tem um sabor terrivelmente moderno. De facto, nessa epoca, 0 aperfeir;oamento do armamento obri- gava a constantes modificar;oes da tdetica e da estrategia e os rapidos progressos da オエゥャゥコセゥゥッ do canhiio forr;aram a invenr;iio de novas e efi- cazes formas de amuralhamentos e ヲッイエゥヲゥ」セo・ウN Talvez seja, precisamente, esta nor;iio de modernismo que. no fim do estudo, aparer;a com maior evidencia e com mais viva claridade. o Renascimento, ligado por numerosas fibras aos seculos anteriores, mos- tra, porem, na figura dos seus homens e das suas obras, trar;os e cores que preludiam de forma espantosa os caracteres do nosso tempo. Sem dUvida que se niio deve procurar alhures a origem dos movimentos e das profundas 。ウーゥイセッ・ウ do nosso tempo. Promor;iio do indivlduo, da pessoa, イ・。「ゥャゥエセゥゥッ da mulher, reforma da ・、オ・セゥゥッ - que se pretende que seja uma verdadeira ヲッイュセゥゥッ do homem e id niio uma inutil sobrecarga do esplrito, esmagado por um fardo de conhecimentos -, イ・カ。ャッイゥコセゥゥッ do corpo e da educar;iio fisica, reflexiio pessoal e livre sobre 0 homem, a sua natureza e a sua religiiio, Impeto entusidstico, enfim, para as con- quistas literarias e tecnicas e gosto apaixonado da g16ria que faz reviver as mais belas tendencias da Grecia e de Roma, pois niio e verdade que tudo isso, que pertence verdadeiramente ao seculo XVI europeu, nos surge ao mesmo tempo como as:runto nossa? 16 ,- ( j ( j { ,.. セ , /> o movimento humanista e 0 regresso ao antigo niio devem ter para nos uma ressondncia apenas artistica e literaria. No [undo, e toda uma nova [ilosojia da vida que se elabora e se define. Os Antigos servem, neste aspecto, de modelos e de inspiradores e a ligar;iio com eles e muito projundamente sentida. Mas aquila que [undamenta de novo modo a valorizaciio do corpo humano e pl:Opoe como objectivo supremo da vida um equilibrio harmonioso entre 0 desenvolvimento da alma e 0 desen- volvimento do corpo e uma rejlexiio viva e pessoal. A pedagogic de Rabelais, e depots a de Montaigne, prenunciando a de Rousseau, mode- lam-se na natureza humana e dejinem com clareza 0 objectivo funda- mental de toda a educaciio: niio mutilar 0 hom em, mas desenvolve-lo harmoniosamente na sua totalidade; e a educaciio [isica e os cuidados com o corpo tem de encontrar 0 lugar que merecem. Quanta Ii instruciio propriamente dita, os principios de um Montaigne siio validos hoje como 0 eram ha perto de quatro seculos; e 0 nosso ensino tenta, sem sempre 0 conseguir, conjormar-se a eles. Formar a capacidade de iutzo, evitar, antes do mais, sobrecarregar a memoria com um amdl- gama de conhecimentos tantas vezes inuteis - eis as regras que todos aceitamos mas que ainda hoje e bem dijicil levar Ii pratica. E no entanto o ensino s6 desempenhara verdadeiramente 0 seu papel quando a crianr;a puder passar tudo pelo crivo da sua inteligencia sem «arrumar nada na cabeca apenas pela autoridade de quem lho diz». Hti muito quem hoje se sinta pouco Ii vontade na leitura de Mon- taigne por causa do cardcter ainda arcaico do frances da epoca, desse frances que 0 ardor apaixonado dos poetas da PIeiade contribuiu para impor ao seu seculo. Mas e preciso ler e reler Montaigne, saborear a apetitosa frescura do seu estilo, 0 rebrilhar das suas palavras e das suas frases. E preciso observd-Io, como ele desejava e como nos convida a faze-Io, na sua «maneira simples, natural e corrente, sem contenr;iio nem artificio». A sabedoria a que ele aspirava e que soube alcanr;ar e, real- mente, aquela que convem Ii condir;iio do homem. Qual niio e 0 prazer que sentimos ao reler esta definir;iio de um ensino que tem de ensincir a pensar: «Quem vai atrds de outrem nada segue e nada encontra: nada procura mesmo. Non sumus sub rege, sibi quisque se vindicet (')>>? No dia em que todos os povos - mas estara proximo esse dia? - se confor- marem a semelhante regra poderemos certamente falar tambem de um verdadeiro Renascimento. Raymond Bloch (') Niio dependernos de urn rei; Que cada urn seja senhor de si proprio. (N. do T.) 17
  • 10. introduセao A PROMO<;AO DO OCIDENTE I i ,I; .) A nossa compreensao do perfodo que vai de Filipe, 0 Belo a Henri. que IV ficaria muito facilitada se fossem suprimidos dos livros de His- t6ria dois termos solidarios e solidariamente inexactos: «Idade Media» e ᆱr・ョセセセAAAャsXjbセZ ..J:om isso se..。セイAセ⦅A_eLァNRAAAャNセYNGャゥャLャセ⦅NpAセᆳ セッNョアセゥエセセN Ficar­se­ia, especialmegte•. )j.YXe_ q!l,ilieia­de...1eL. baYidQ...!!m corte 「イオセセq]Zアオ・ZZZゥ・ゥッN ...ウ・ー。イ。iZNLNNオNュ。NNセN・L・・XGᄋ de Mセ ...de Jim petiQdo de treyM. Criada pelos humanistas italianos e retomada por Vasari, a nocao de uma ressurreicao das letras e das artes gracas ao reencontro com a Antiguidade foi, seguramente, fecunda como fecundos sao todos os mani- festos lancados em todos os seculos por novas geracoes conquistadoras. Essa ョッセセー si&!ljfica jlH,ntwje,..diWlW;§w'a.. カセdエ。、・ dS イ・オセ。ᆪF^N Teve em si a inevitave! injustica das abruptas declaracoes de adolescentes, que rompem ou creem romper com os gostos e as categorias mentais 'dos seus antecessores. Mas 0 termo «Renascimento», mesmo na acepcao estrita dos humanistas, que 0 aplicavam, essencialmente, a literatura e as artes plasticas, parece­nos actualmente insuficiente. Parece rejeitar, como bar- baras, as criacoes simultaneamente solidas e misteriosas da arte romanica e aqueloutras, mais esbeltas e dinamicas, da idade g6tica. Nao da conta nem de Dante, nem de Villon, nem da pintura flamenga do seculo XV. E, principalmente, ao ser alargado as dimensOes de uma civilizacao pela historiografia romantica, mostrou­se inadequado. Nao afirmou Burckhardt ­ que nao tinha em conta a economia ­, ha ja urn seculo, que, no essencial, 0 Renascimento nao fora uma ressurreicao da Antiguidade? Ora, se dermos aos factos da economia e a tecnica 0 lugar que lhes cabe, o jufzo de Burckhardt ganha ainda mais verdade. Pois 0 regresso a Anti- .ァオゥセョN。、。 ゥョヲャオゥオセ。N ...ェAQセNN、。jュュZ・ョウ[ャMッオMセMZイ・ャqゥゥッM mecl.- nico, nem no ゥー・イイ・ゥセV。ュ・ャQエッM、。ᄋ。エGエQャィ。ヲャ。LNNNNオ・ュNNjャqNセAAAセAA\」NyキZョNエッNNNNN、。 . contahilidade por partjdas dgln'adas, nem no da _ktra..de ambie..eu­das セセウ bancarias, Mas as palavras temmuita vida. Impoem­se­nos contra
  • 11. a nossa pr6pria vontade. Com que haveriamos de substituir a palavra «Renascimento))? Com que outro vocabulo designariamos essa grande evolucao que levou os nossos antepassados a mais ciencia, mais conhe- cimentos, maior dominio do mundo natural, maior amor pela beleza? Na falta de melhor, conservei, portanto, ao longo de todo este trabalho, a palavra consagTada pelo uso. Mas que fique entendido:esta palavra ja nao pode ter 0 sentido original. No ambito de uma Historia total, significa (e nao pode significar outra coisa) a ーイセュッイ[ゥゥッ do Ocident« ョオュ。セセャャo」。 em que a 」ゥカゥャゥコ。セ。ッ da Europa ufiropassou, de modo decisivo, as£!Y..iP- セアゥゥイイfャゥGゥイ。ュMー。イ。イ・イ。ウN No teiiipo" cfaspiiiildrasc:ri.lZadas:'atecnica ヲエui。B、セGaイ。「・ウ・ Chineses igualavam, e suplantavam ate, a tecnica e a cultura dos Ocidentais. Em 1600 ja nao era assim. Propus­me, pois, estudar 0 porque e 0 como da ascensao do Ocidente no momento em que ele elaborou uma civilizacao de tal modo superior que, seguidamente, se imp6s pouco a pouco a todo 0 mundo. * Os diversos espacos atribuidos ao Renascimento slio tantos quantos os historiadores. Na minha optica, os J2!,.oblemas da periodiEl£ao ­ um dos pesadelos da historiografia ao debrucar­se sobre a epoca mtermedia que separou a idade feudal da era de Descartes ­ perdiam acuidade. Optei por .uffill hlSi6ria longa, sem tentar estabelecer cortes artificiais. Tudo 0 que se mostrasse como elemento de progresso seria chamado a figurar numa vasta paisagem que se estende do fim do seculo XIll ate a aurora do seculo XVII e que vai da Bretanha "8," Mosc6V:ia':"'­Em­'contr­apartida, visto 'que "t,(j(Jli­a construcao hist6rica tern, necessariamente, rejeic oes e silencios, deixei de lado, as mais das vezes, os factores de estagnac ao- que indiscutivelmente pesaram Duma civilizaCao, apesar deles, rica de inovacOes. 0 quadro geral estava assim delineado e era evidente que 0 Renascimento aqui proposto nao se revelaria especialmente artistico nem particularmente italiano. 0 acento t6nico AZU[セゥセL n<:> 、スjャ。ュセュッ de .セqAj。 a.Europa. A ciencia pict6rica "98 Van Eyell; e as miniaturas do rei Rene, a lnvencao do alto forno e a realizacao da caravela, as antecipacOes pro- feticas de Nicolau de Cusa e 0 irenismo de Erasmo pareceram­me signifi- car a promocao do Ocidente no mesmo pe que os estudos de perspectiva de Piero della Francesca e de Leonardo. E certo, no ・ョセャqNjャu・MN。NNャAaaゥNAャL ー・イッウウ・オウィセBュ。ゥゥゥsエ。ウN⦅ZゥゥNゥqウBZウ・オウ artistas, pelos seus homens de neg6- 」ゥッセセゥッウ ウ・オウオセqNFcョセゥイqlセャ」ゥウ seusGセN。セセAAゥセNウ[ NARエdAAヲェゥNセNセᆳ guardll,O. principal..reSllOnsa.vcLpe1D..&flUl4e NャANケセN・オイッーaN o historiador fica confundido perante 0 dinamismo que hi um milenio 0 Ocidente tem vindo a mostrar. Durante 0 perlodo abrangido pelo nosso estudo, nem 0 peso das estruturas e tknicas rurais nem 0 conservantismo das corporacOes nem a esclerose das tradicOes escolasti- cas conseguiram equilibrar as forcas de movimento, cuio poder se mani- 10 festou sempre com nova energia. Porque essa energia? 0 legado da civi- lizacao greco­romana, 0 contributo fecundante do cristianismo, 0 clima temperado, as terras ferteis ­ eis at outros tantos factores, sem duvida a juntar a muitos outros, que favoreceram os homens que se tinham concentrado no Oeste do continente euro­asiatico. Mas tambem nao fal- taram as provacoes: umas naturais, como a Peste Negra; outras provo- cadas pelo ioso das competicoes politicas, economicas e religiosas. Entre ­:::> 1320 e 1450 abateu­se sobre a Europa uma co91uncao de 、・ウァイ。セlーイゥᆳ GPゥセッ・ウL ep1dem1aS; ァオ・ゥGイャAセLァyュセaヲoZM⦅セNュA。ャ da mOrtaIfaaae;'dlininuiCao da producao de metais preciosos, avanco dos­'TiiICOS;desafios'essesque foraw vencittos com coragem e'·com genio:­A'hist6fia do Renascimento e a hist6ria desses desafios e dessas respostas. A crftica do pensameiill> clerical da Idade Media, a recuperacao 、・ュッァイ。ヲャ」。セBッウーイッァイ・sウッウMゥセ」ョゥᆳ cos;ii'lvell.tura: maritima; iiiia"e­sfehca nova, urn cristiaiiISiiio'reeIabolido .i"'rejiivenescldo":­'eli"'os'principais elementos da resposta do Ocidente as tao variadas dificuldades que no seu caminho se haviam acumulado. ᆱZqエZセAゥNRNNNセMMHエZセpqsセZ pode­se aqui reconhecer a terminologia de A. Toyn- bee, e eu penso que ela traduz admiravelmente 0 fen6meno do Renas- cimento. Mas nao vou mais alem na esteira desse grande historiador Ingles, Vistas a uma certa distancia, a historia da Humanidade em geral e, mais especialmente, a da humanidade ocidental parecem menos uma sucessao de crescimentos e de desagregacoes que uma marcha para diante, entrecortada, e certo, de paragens e regressoes; mas paragens e regressoes apenas provis6rias. E verdade que houve porcoes de humanidade local- mente falhadas, mas a Humanidade, globalmente considerada, nunca deixou de progredir de seculo em seculo, e isso tambem nos perlodos de conjuntura desfavoravel, Assim, e sem negligenciar 0 estudo da conjun- tura na epoca do Renascimento, insisti principalmente nas modificacoes das estruturas materiais e mentais que permitiriam a civilizacao europeia avancar, entre os seculos XIII e XVII, no caminho do seu extraordi- nario destino. * Identificar urn caminho nao implica acha­lo sempre belo, como nlio implica que nao haja outro possfvel. Como ao historiador compete com- preender e nao julgar, nao procurei saber se 0 perlodo do Renascimento deveria ser preferido a «idade das catedraiss ou privilegiado em relacao ao «grande seculos. Para que essa estranha mas frequente distribuicao de premios? Por isso olio apresentei um Renascimento em que tudo fosse . exitos e beleza. Pelo contrario, a mais elementar obrigacao de lucidez conduz­nos a declarar que os seculos XV e XVI viram, de certo modo, um aumento de obscurantismo ­ 0 obscurantismo dos alquimistas, dos astrologos, das feiticeiras e dos cacadores de feiticeiras. Continuaram a dar relevo a tipos de homens ­ por exemplo, os condottieri­ e de sen- 21
  • 12. timentos, como 0 desejo de vinganca, que durante muito tempo foram tidos por caracteristicos do syNャャ。ᄃNᆪゥーiセNョエHI⦅ quando, na verdade, consti- tuiam heranca do periodo anterior. Tempo de 6dios, de lutas terriveis, de processos insensatos, aepoca de Barba­Azul.e Torquemada, dos AAQセセァセセMaqNセNNeYェセqウ⦅セャゥBLョYゥNセセMM 、qゥNセセuエNYセ・セエセ[ ゥューイセウウゥomNセNqャ「セュ o historiador do seculo XX pela dureza da sua vida social. Nao s6 '" N⦅セ⦅ョG .­­"'­'­ セ inaugl/l"ou a deportacao dos⦅n・ァイセウ Pa.I."a. 0 Novo .. Mundo como tambem alargou, ョ。MーイVーイi。Geオイッー。セ 0 fosso que separava()s· humildes dos privi- Iegiados, Os ricos tomaram­se mais ricos, os pobres passaram a ser mais pobres. Nlio se repisou ja muito a ascensao da burguesia na epoca de Jacques Coeur, dos Medicis.N・NNdNqDᆬNオセョセ・イ_ A realidade e mais 」odャーャゥセセ。L pois os novos­ricos .IlPJessa.ram"sc a ー。Nウウ。イMNlイゥ」ャゥゥ。N。ZZアゥゥ・MGェセェid 'se' viu renovada e insuflada. Claro que ela foi cada vez mais d6cll ・ョゥMイ・ャ。セ。ッ ao Principe. m。ウBGゥゥセュ por isso deixou de ser..a.. classe..possuidora. E, ao converter­se a culture ­ fen6meno cuja­'lmportancia ainda nao foi bas- tante salientada ­, impcs a civilizacao ocidental uma estetica e uns gos- tos aristocraticos que tinham por contrapartida 0 desprezo pelo trabalho manual. Raramente numa fase da Hist6ria 0 melhor ombreou tanto com 0 pior como no tempo de Savonarola e dos Borgia, de Santo Inacio e do Aretino. Por isso YMNNeᆪAQNャャセNウiエエッ⦅セGANNセセ ...。Nセ ...I!0.ssos olhos. .c01l!0 um ッᆪセセ⦅wャNN、・N⦅」ッョエイ。、ェセL um concerto por vezes estridente de aspiracoes divergentes, uma diffcil concomitancia da vontade de poderio e de uma ciencia ainda balbuciante, do desejo de beleza e de um apetite malslio pelo horrivel, uma mistura de simplicidade e de complicacoes, de pureza e de sensualidade, de caridade e de 6dio. Recusei­me, portanto, a mutilar o Renascimento e a nao ver nele, como H. Haydn, senao um espirito anticientifico ou, em sentido oposto, como E. Battisti, senao a caminhada para 0 racional. Nisso residem 0 seu caracter desconcertante, a sua com- plexidade e a sua inesgotavel riqueza. Por exemplo, ao dar ao numero, na tradicao dos pitagoricos, urn caracter quase mistico e religioso, 0 Renascimento foi, todavia, condnzido, por esse caminho indirecto, para o quantitativo e para a ョッセゥゥッ cientificamente fecunda segundo a qual a Matematica constitui 0 teeido do Universo. * o Renascimento tinha 0 gosto dos caminhos escusos. E por isso que ainda hoje 0 regresso a Antiguidade obceca certos espiritos que preten- dem avaliar a epoca de Leonardo em ヲオョセ。ッ desse aspecto e Ihe repro- yam ter­se deixado atrasar por aquele passado ja de h3. muito suplantado. Na verdade, 0 aparente regresso as fontes da heleza, do saber e da reli- giao foi apenas urn meio de progredir. Alegremente se «pilhou os templos de Atenas e de Roma» para omamentar os de fイ。ョセL de Espanha e de Inglaterra. A partir do seculo XVI identificou­se em Miguel Angelo 0 22 maior artista 'de todos os tempos. Demoliu­se Arist6teles com base em Platao e Arquimedes. Colombo descobriu as Antilhas gracas aos erros de catculo de Ptolomeu. Lutero e Calvino, julgando restaurar a Igreja primitiva, deram uma face nova ao cristianismo. 0 Renascimento, que se comprazia com os «emblemaes e os criptogramas, dissimilou a sua profunda originalidade e 0 seu desejo de novidade por tras de um hie- r6glifo que ainda causa ensanos: a falsa imagem de um resresso ao passado. Atrave, de contradiCOes, e por caminhos complicados, mas sempre sonhando com paraisos mitol6gicos ou com impossivei"utopias, 0 Renas- cimento deu um extraordimirio saito para diante. Nunca uma civilizacao dera tao grande lugar a pintura e a musica, nem erguera ao ceu tao altas cupulas, nem elevara ao nivel da alta Iiteratura tantas hnguas nacionais encerradas em tao exiguo espaco. Nunca no passado da Huma- nidade tinham surgido tantas Invencces em tao pouco tempo. セ Renascimento foi, especialmente, progresso tecnico, deu ao homem do OCidente malOr­dOiiiIiiTo·sobre Um­'milttdo"mairbem cOIilieddo:­EnsIDou_ Nゥィ・。。イイ。カ・ウウ。イosᄋVセ・エエィッウ[G。ヲ。「イゥセエヲ・エイッ fundido, aservir­se das armas de fogo, a eontar as horas com Urn motor, a imprimir, a utilizar dia a dia a­Teria'de cambici e"oseguro rnarltimo. MMセセセ・ウュセ エセセーッ セZZZBGZGーイッァイ・ウウNッ __espiritual paralelo ao progresso mate- rial ­, iniciou 。ャゥ「・イエ。セ。ッ do individuo ao tira­lo do seu anonimato ュ・、ゥ・カ。イ・Mッッュ・c。ョ、ッ。Bq・ウ・ュッ。ゥG。ᄁゥゥセイHョヲ。ウ TimltlrCQe"S" coTecHvas: Burck- hardt observoii­delormageiilaI'estil'ClITaeteristie­lf (fa­epoca'­que estuda va. Todos os seus sucessores 0 tem de seguir nesse caminho, mas sublinhando quao doloroso foi esse nascimento do homem modemo, acompanhado por um sentimento de solidao e de pequenez. Os contemporaneos de Lutero e de Du BeIIay descobriram­se pecadores e frageis, sujeitos as ameacas do Diabo e das estrelas. Houve uma melancolia do Renascimento. E tal- vez nao tenha sido errado ­ sob condicao de se nao tomar a f6rmula em mau sentido ­ 0 definir­se a doutrina da ェオウエゥヲゥ」。セ。ッ pela fe como urn «romantismo da consolaCao». Mas falar apenas de descoberta do Homem e dizer muito pouco, A historiografia recente demonstrou que 0 Renas- cimento foi tambem descoberta da ・イゥ。ョセ。L da familia, no sentido estrito da palavra, do casamento e da esposa, A civilizacao ocidental fez­se entao menos antifeminista, menos hostil ao amor no lar, mais sensivel a fragili- dade e a delicadeza da crianca, o cristianismo viu­se nessa altura perante uma nova mentalidade, uma mentalidade complexa, feita do receio da danacao, da necessidade de devocao pessoal, da 。ウーゥイ。セッ a uma cultura mais laica e do desejo de integracao da vida e da heleza na religiao. 0 anarquismo religioso dos seculos XIV e XV levou, sim, a uma ruptura, mas tambem a um cristianismo rejuvenescido, mais estruturado, mais aberto as realidades do dia a dia, mais habitflveI pelos leigos, mais permeavel a beleza do corpo e do mundo. 0 Renascimento foi, sem duvida, sensual; e optou, 23
  • 13. por vezes, especialmente em Padua, por uma filosofia materialista. Mas o seu paganismo, mais aparente que real, iludiu certos espfritos que bus- cavam, principalmente, 0 aned6tico e 0 escandaloso. Deslumbrado com a beleza do corpo, pede restituir­lhe 0 seu legftimo lugar na arte e na L- vida. Mas, com isso, nlio aspirava a romper com 0 cristianismo. A maioria dos pintores representou com igual conviccao as cenas bfblicas e os nus mitol6gicos. Ao faze­lo, nlio tinham 0 sentimento de estar em contra- dieao consigo pr6prios. A mensagem de Lorenzo Valla foi compreendida: cristianismo nao significava, forcosamente, ascetismo. A laicizacao e a humanizacao da religiao nao constitufram, nos seculos XV e XVI, urna descristianizacao, Esta explicacao convida a outra, de natureza diferente. Ambas, porem, provem do mesmo desejo de explorar em profundidade um perfodo que tern sido fascinante principalmente pelo seu cenario, as suas festas e os seus excesses. Pois nao irfamos aqui ceder Afacilidade e apre- sentar urn Renascimento em que 0 veneno dos Borgia, as cortesas de Veneza, os casarnentos de Henrique VITI e os bailes da corte dos Valois tivessem posicao de primeiro plano. Em vez disso, 0 que deve chamar as atencoes sao as transformaeoes de incalculavel alcance, escondidas por falsas perspectivas como as que todas as epocas tem. Seguindo John U. Nef, acentuei, portanto, a promocao do quantitativo e a elevacao do espirito de abstraccao e de organizacao, a lenta mas firme consolidacao de uma mentalidade mais experimental e mais cientifica. Fugindo a caminhos muito trilhados, A anedota e ao superficial, desejoso de oferecer uma sintese nova e de empreender uma reinterpre- tacao do Renascimento, tive todavia a constante preocupacao de evitar o paradoxo e as formulas, que atordoam mas nao convencem. Procurei, em vez disso, demonstrar, esclarecer, fomecer ao leitor uma documentacao tao vasta quanto possivel. Quando estava a escrever este livro veio­me muito A mem6ria uma frase de Calvino. No fim da vida, ao dar uma olhadela as suas obras, Calvino disse: «esforcei­me por alcancar a simpli- cidades. Tambem euprocurei fazer 0 mesmo. Estas poucas paginas de introducao tiveram a finalidade de criar uma ligacao, uma cumplicidade entre 0 leitor e 0 autor. Eu devia a quem viesse a ler­me as explicacbes necessarias, Chegou agora 0 momento de recolher­me e dar Iugar ao assunto que tratei; mas nao sem mostrar 0 plano seguido. A primeira parte constitui uma colocacao dos principals factos nos quatro dominios: politico, econ6mico, cultural e religioso. A segunda euma penetracao no interior das realidades concretas da vida quotidiana. A terceira, paralela A segunda, mas na ordem espiritual, pro- cum identificar uma mentalidade diferente da do passado e captar a vinda a superficie de novos sentimentos. '4 PRIMEIRA PARTE LINHAS DE forセa I
  • 14. L ._ CAPITULO I A EXPLOSAO DA NEBULOSA CRISTA A importancia da Europa na epoca do Renascimento nao esta no ーャ。ョッ⦅セNNAAAッFイャゥヲゥセッNMaM sua.populacao, em-tlSOO;--atfidii imcnitiilgia cern milhoes de habitantes, quando, segundo parece, era este 0 mimero de habitantes cia india no principio do seculo XVI: 30 ou 40 milh6es no Decao e 60 milhoes no Norte. A China, por volta de 1500, teria ja 53 milh6es de almas; e 60 em 1578. Claro que a Africa e a America tambem eram pouco povoaclas em relacao a imensidao dos seus territ6- rios: arrisca­se a calcular em relacao aAfrica uns 50 milhoes de habitantes no principio do seculo XVI; quanto a America, hesita­se entre os 40 e os 80 milhoes, Mas em ambos esses continentes havia vastas zonas desertas a separar nucleos de povoamento muito intenso. A plataforma vulcanica mexicsna (cerca de 510000 km") teria 25 milh6es de habitantes quando Cortez • C) e os Espanh6is irromperam nesse mundo ate entao desconhe- cido dos Europeus. 0 Imperio inca, no inicio do seculo XVI, reuniria 8 a 10 milhoes de siibditos. Ora a Franca, considerada nos seus actuais limites territoriais, tinha menos de 15 milhoes de habitantes em 1320; e nao e certo que, em 1620, tenha ultrapassado os 18 milhoes, Entre estas duas datas, por causa das pestes, das fornes, das guerras, 0 progresso demogra- fico cia Europa foi muito fraco. A Italia passou, talvez, de 10 a 12 milhoes de almas; a Alemanha (nas fronteiras de 1937) de 12 a 15 milh6es; a Espanha de 6 rnilhoes e meio a 8 milh6es e meio; a Inglaterra e a Esc6cia, juntas, de 4 a 5 milh6es e meio. Vale ainda a pena fazer notar que, no principio do seculo XVI, as mais importantes cidades do mundo estavam fora da esfera cia civilizaeao ocidental. Assim, Constantino- pla> e Mexico, duas capitals que se ignoravam mutuamente, teriam, a primeira, 250000 habitantes e a segunda 300000, mais, portanto, que Paris (talvez 200000 almas) e Napoles> (cerca de 150000). Mas era na Europa, e mais especialmente no Oeste do continente, que estavam 0 dinamismo e as chaves do futuro. {I} As palavras assinaladas no texto com urn asterisco correspondem artigos do «Indice Documental» no fim desta obra. (N. do E.) 17
  • 15. --- Descobrir-se-a uma primeira prova desse dinamismo ao comparar dois mapas da Europa: 0 de 1320 e 0 de 1620. Entre estas duas datas, quantas エイ。ョウヲッイュ。セッ・ウA No iniSio NYYNMウM・」NyjNqjァyQNN。LLセcZDウAjj。L j「セABゥ」。 esta repartida em cinco estados: Navarra, Aragao, _ Castela, portugal e 0 セセiNAAセ}ヲセイイセョ。、。BpNYイエオセ。ャ nao pOs ­amd­a pe'-e-m:-Africa. S6em 14fs, 1-.--. ao apoderar-se de セLサヲM fara, Castela, rasgada por querelas intestinas ao longo de todo 0 seculo XIV, e derrotada em 1319 por Granada e em 1343 por Algeciras. Em contrapartida, Aragao, mais vigoroso, tenta criar urn imperio mediterranico. _ A fイセ、・NNyゥャゥセ⦅ VI· de _ Valois -:- que sobe ao trono em 1328- セセ bイオセセAAゥゥゥs ..iiaojnduiMetz. nem gイセョq「ャ・N nem _Mar· selha nem Montpellier, sem falar, naturalmente, de Estrasburgo ou de ー・イーiァョ。イゥセイケッョB・ウセG na fronteira do ducado da Sab6ia. Bordeus, Baiona e toda a セNセセュ comQ•.o­ponthieu....estio em maos iiiglesas,'embOfa orel deInglaterra ainda aceite prestar homenagem ao seu suserano de Franca. A bイ・セQIィNャAN⦅セ⦅jjjjuAAQァセLj[lュ[ャNAエYAエオ・iャエ・NM iDdepende.nte. Quaritl,i tnglaterra, conseguiu, nlio sem dificuldade, anexar 0 Pais de Gales _ que, porem, s6 no reinado de Henrique VIII· sera total- mente absorvido. Esta, no entanto, em mas relacoes com 0 reino da Esc6cia, vizinho e rival. A Irlanda ja e uma especie de co16nia inglesa, mas uma co16nia desprezada, cuja costa oriental e a unica regiao efecti- vamente dominada por Eduardo III·, feito rei de Inglaterra em 1327. o Imperio esta entregue, de uma forma cronica e duravel, セ anar- quia e セ impotencia. Mas a Liga Hanseatica, nascida em meados do se- culo XII da penetracao germanica nas costas do Baltico, constitui uma potencia. Em 1370 formara urna ヲ・、・イ。セャゥッ de setenta e sete cidades, capaz de impor ao rei da Dinamarca, pela paz de Stralsund, a isencao de direitos alfandegarios aos navios hanseaucoe que atravessassem 0 Sund. Em 1375 0 imperador Carlos IV consasrara a grandeza da Hansa· diri- gindo­se a Lubeck em visita solene. Mas, na Alemanha do principio do seculo XIV, 0 Brandeburgo ainda nao pertence aos Hohenrollern, que s6 em 1415 0 adquirirlio. Quanto aos Habsburgos, duques da Austria e da Estiria, sofreram derrotas nas lutas contra os sオゥセッウ ­ a cッョヲ・、・イ。セャゥッ data de 1291 _ e nlio possuem ainda a Carlntia, nem 0 Tirol nem a Carniola. S6 em 1440, com Frederico III, obteriio a coroa imperial. A noroeste, os Paises Baixos ainda nlio nasceram como unidade politica. A leste, 0 seculo XIV e urna epoca brilhante para 0 reino da Boemia, parte integrante do Imperio セ qual estao Iigadas a Moravia e a Silesia. A dinastia dos Luxemburgos instala­se em Praga em 1310. S6 se extin- guira em 1437. 0 seu apogeu situa­se no reinado de Carlos IV, rei da Boemia de 1347 a 1378, rei da GennAnia desde 1346, coroado imperador em 1355, que foi 0 fundador da Universidade de Fraga. Os imperadores, teoricamente, tern direitos de tutela numa parte da Italia; mas esta, na realidade, escapa­se­lhes. As viagens de Henrique VII. em 1312, e de Luis de Baviera, em 1328, セ peninsula redundaram em 1& mm Domlnio das Ordens Will TeutOnicas ffi@l セセセQjッ b、セ。セNZjッ XIV m:m Domlnios Otomanos Ilttttl cerea de 1350 セ PossessOes dos reis I' セ de Inglaterra セ Possessdes dos Habsbur: l1liPossessees venezianas Bremen Cidades hanseatlcas- セAAAA Possesslles genovesas IE KIPTCHAK: ⦅セ RElNO セM T mAAAAセエイッセ セ Caft'a セ ­­­- REINO REINO doセ ZElANmAS セ DOS HAFSIDAS セセ 1. A EUROPA NO IN/C/O DO SECULO XIV. fracassos. A urn tempo esplendorosa e dividida, a Italia e formada por muitos pequenos estados que fazem, cada urn, 0 seu pr6prio [ogo. A si- tuacao, portanto, e muito fluida: vai modificar­se muitas vezes entre 1320· e 1620. Depois das Vesperas Sicilianas de 1282, a Sicilia pertence a Ara- gao, que anexa a Sardenha em 1325. Mas s6 a partir de 1442 havera urn Reino das Duas Sicflias, estendido, portanto, セ Italia do SuI. Mais a norte, os feudais parecem senhores do «Estado eclesiastico», que 0 papado aban- donou ao instalar­se, em 1309, em Avinhlio. Em Florenca ", onde Dante, exilado em 1302, nlio podera voltar, as lutas intestinas nlio estorvam os negocios. A cidade do Arno, porem, grande centro bancario e thtil, ainda domina apenas urn pequeno territ6rio e s6 tera acesso ao mar em 1406 depois de veneer Pisa. Em Millio·, os Visconti· comeearam uma carreira que sera brilhante ­ principalmente no fim do seculo XIV e na primeira metade do seculo XV. Em 1395­1397, Gian Galeazzo recebera do imperador os titulos de duque de Millio e da Lombardia. Bloqueada por terra pelos Apeninos, Genova. e no seculo XIV uma rica cidade 29
  • 16. maritima, orgulhosa des suas Ieitorias do Mar Negro e do EgeIJ. CaITa. na Crimeia, onde ternnnam as rotas terrestres do Extreme Oriente, per. tence-lhe uesde 1286. Em frente da costa ce Asia Menor, usOO5, Chio! e Sames cacm tambem em seu poder entre 1340 c 1360. Genova passa a dominar a produc;ao e a venda do alumen .. oriental, especialmente 0 de Foglia, a antiga Poceta. A .rumiga de Genova, Yeneza ., inccre,.<iS«-se tarn- bern, antes de tude, pelo Mediterraneo Oriental, pels a IV cruzada Iizera do doge «senncr de urn quarto e meio & Romania... Em 1320. a Sere- mssima domina a lstria e a costa dalmata, possui 0 coo.dado de Cefal6nia, o Negroponto (a Eubeia), 0 ducado de Naxos c a llha de Creta. 0 seu comercio em Ccnstantinopla e activo. Tera de abandonar 0 Negrcponto em 1470, mas Ja antes drssc tent ocupado Corfu, M6don e ebron. Insta- tar-se-e ern Chipre em J489. No centro da Europa, a Hungria e, no seculn XIV. uma grande poteocla, nas maos de uma dinastia angevina desde 1308. Esse vasto conrucrc de terrucnos inclui, a1em da Huugeta actual, a B6snia, a Cree- cia, a Eslcvaquia e a Transilvania. 0 rei diipi5e de recursoe regularea e de urn forte exercito. Os Luxcmburgcs sucederac aos Angevinos em 1397. Depots 、ゥセL a ameaca turca e as crises Internes jevarao ao irene Matias Corvino (rei de 1458 a ]490), que :JCfa um btj(hante mecenas. A primeira metade do secure XIV ve, alem disso, desenvctver-se uma grande servia, que aproveilou os イ・セG・ウ・ウ do iュセイゥッ Rizantino, ・ウエ・ョ、・ョセ do-se do Damlbio ao Adrititieo e 。ャ」。セ。ョ、ッ 0 apogeu na epoca de Estevao IX Du9.an (1331-1355). que tetminou a c:onquisla da Maced6nia, ocupou a Albania, 0 Epiro e a Teisalia, dominou a Bulgaria e sonhou conquistar Constantinopla. A sua morte, porem, foi a ruina desse efemero imperio stnio, que se demloronaria definitivamente eIll Kossovo (1389) sob os golpes dos Otomanos. o Imperio Grego, restaurado em 1261, nao encontrou 0 poderio de outros tempos. COlllinuando a Jutar contra 00 Latinos, Que se mantinham no Peloponeso, os Basileus afastaram-se da Asia Menor. Ora a1 nasceu o perigo. No principio do seculo IV, urna triho (urea, recltac;ada paia 0 litoral pelo.9 Mong6is ., 」ッュ・セオ a dar que faJar: eram 0.9 Otoman05·. Cerca de 1350 oeupavam, em frente de c.onstanlinopJa. toila a parte oriental do Mar de Marmara. ES$C territ6rio, eentrado em Brousse, tern born 。」・セウッ ao Mar Negro e ao Egeu. Passando a Europa, os Otomanos apoderam-se i1e Andrin6polis em 1362, veneem os Servios em Kossovo em 1389e esro8gam em Nic6polis, em 1396, rn cruzados ocidentais, indis- dplinados e comandados por loao Sem Medo, A Bulgaria e oonquistada; セ Valal.luia pagat.6 tributo. A ineursao hrulal de TamerJao· na Asia Menor e a derrota que cle innige a Bajazeto I em 1402 em Ankara dar1io ao lmptrio Bizantino urna rootat6ria de cinquenta anos. No (mal da ldade Media, a &cand"in4via tern 1.llJ'l papel apagado apesar da uniio de Kalmar, conc1ufda em 1397 sob a egide da Dinamarca e que jl.lntou os tJ!s reinos. Em eontrapartida. os steuJes XIV e XV JO assistiram A aseensao de Pol6nia e ao eecuo da Ordem Teut6n.ica, que POr breve tempo dominara toea a costa do Baltieo, da PomerAnia ao Narva. Em 1386. 0 duque pagio da Lituinia-um j。ァ・ャゥゥッセ」。ウッオ com a herdeira do trono palaco e coeverteu-se ao ensuenamo. Assim se viram unidas para qualm secujos uma pequena Pol6nia, repartjda pelos dois Lades do Vistula, entre Cracovia e Torun, e uma vesta Lituania, que tinha o Dniepre como efao e cuja! cjdades principals eram Vilna e Kiev. Em 1410, os cavaleiroa teutoruecs sotreram serja decreta em Grunwald (Tannenberg), Em 1454, Dantzig cotocou-se sob a proteccao da Polonia. Esse porto de mar esrava destinado a urn grande desenvolvlmenro. No inlcic do seculo XIV e ainda demasiado cedo para fatar da RUssia. Novgorod deve a sua prcsperidade a Hansa e 0 principado de Moscovo e vassalo dos Mongols da Herda de ouro '. Apesar da preaenca em Moscovo, a partir dessa epees, de urn patriarea ortccoxo nilo depen, dente de Constantinopla, sera precise esperar ate Ivan )11 (1462.1505), eo unificador das terras russas», para que a Mosc6via se impcnha a Novgorod e se Jiberte da tutela mongol. * - vbemcs as paginas da Histona. Voltando eo mapa da Europa nas vesperas da Guerra dos Trinta Anos, encontramo-Io proflUldamente ウゥュセ plifjcado. 。オエ」ャャャ・MBa[ゥゥᄋTッゥjョイイ。ュ⦅セ em 1-479, 0 reino de Granada desapareceu--em"i491:'-NaVafl'lf"fDtlnreIiaa-'em iS12. Entre 1580 e 1640, a Espariiii--e-Vortugal tl'v1:!Mi:IiI:""tilD.9lD.O soberano:- Com- a foro;a das rique- zas dO MbJCoe-(fo-'pe-ril,'"Seiiiion,,--das'16ii.!r/nquas Filipinas, disj'.Ondo momentanearnente do セュNッ・イゥッ POrtllil.lh no Extremo Oriente e no Bea- si/, セセiスNiAN。BN。ー・ウ。イ .das SI.l.3.9 derrotas ・セNヲNイ。ョ」。⦅」ZN⦅ョ。 ᆪi。ョ、セ・ウ e,_d:" destrUlcilo da InvendveJ Armada 0581I), continua em (6'!Oa set a prJ- ュ・イセ⦅Gー\ャエ・ZョsNゥNセ⦅セセeZセゥ。QN P6S5Ui na turopa ·od·aiSi:ilJaJXos MイゥQ・ゥゥゥjャッゥゥ。tウセ o tranco-Condado, a-Charoles, 0 Milanb, presidios na costa toscana, 0 reino de イセ。ーッャ・ウL a Sjcilia e a S3rdenha. A Franca que Henrique IV reergueu e mais rnodesta Que a Espanha ュ。ウLセ。UエッN mats⦅ィoNᄃNRFセ・。N a'remo ocupa: ェセG アセャイッセjjエoゥM、・エ・Zュ⦅ torio aclual. 0 DeJfJnado foi recl.lperado"em-n-;r9, Montpellier em 1382, a _イッカ・ゥゥセ。 ・セ⦅QTQQl s・ゥウGM。ョセGZZZGセャゥエセMッセセゥᄋGェェエセIAャセAAAeイゥ。ZNゥ・ャゥオョ・イ。AェBB A coroa de fョュセ e atodas as suas possessoes no eontinenle, com excepCao de oifitls, que­jOem J559 valcou A fイ。ョセN Ana da Bretanba casou com Carlos VIII· em 1491; em .1532, 0 seu genm'Fi;ij:iciclLLlIiJiij-defmitiva_ meniiodUcado ao reine. 'Em'-eonLrajiartIda, afirani;3., sob Carlos VIII, abandmioi.l 0 ArtOis, O"-Praneo-Condado e 0 Rossilhiio, adqtlirido por Luis XI: en, 1argar uma boa pcesa em tn:xa da sombra italiana. Mazarino e Luis XIV virio depois a reparar 0 erro. Mas, em 1559, I)S trl! bispad09 de lingua {ran,esa, Metz, Toul e Verdun, foram ane:rados e, em 1601, Henriql.le IV, para libertar Lyon, adquiriu a bセウウ・L 0 Bugey e a regUlo de Gex. Ape!lar da crise da guerra dos Cern Anos, do trocuso das ・クー・セ 31
  • 17. _ Limhet tc6ricoo 60 Imperio E§l ReiDo d& DiN"'ore. [[[]] 1.""'0 do Sdc:il セャ a POSIe"s <los HobeuoIlen. l セMM - [2Zl Poss. dos HobsbUlI doe v- B Po.....s6es dos HobsbU!1l de Modrid U Posse..oes de Veneu ROSSIA ,",' ..4>" 2. A EUROPA CERCA DE 1620. dit;5es a Italia e do drama <las guerras religiosas, a Fnm!W8­, no inldo do secure XVII, e um pais unido e rcbustc contra 0 qual nada puderam Carlos V nem Filipe II. Em 1620, a Inglaterra e a nscocta, de hi multo mutmunente hDStiJI, tf:J;D.,­lW' 、セzゥNゥゥエcBwゥᄋッウL 0" mesmc sOberano. Estes reinos, エ・ゥZjNセ「oウ adoptado a' lieforma, 'ffearao ­tifiidos para '0 ­futuro. Ainda do pouco po- voedos, mas 0 destine dos BritAnicos estA ja eacedo com nitidez. A partir de 1570 os ileUS aevics mercantes invadem 0 Med.iterrineO; N・ュセセ marinheiros de Isabel desfazem a orllllhosa e _poderosa tentativa da ­ ­ GN⦅セ QgセNNaイャzw、aN Em 1620, euetamCOte, os cPadres peregrinos. desem- barcam na Am6rica do Norte:. o lDlp6rio c;:omerva a sua estrutura balora e, OS seus m61tipll» Lセ」ioャャ e priiicpisb, tluJloS quanaiS 65­ dia.A do ana. Mas as duas grandes flliiir- 12 ャゥjセ que virram a dominnr a cena da Europa Central ate 1918 estao jll. a Iorjar 0 seu pcderio. A casa eleitoral dos Hohenzollern. nas カエNNウセイ。ウ da gNセイイ。 dos tイゥョ。セ 。セMィLェ M、セᄋMN。、ャヲ[ゥエゥャッ」ゥy。Mセᄋ pYウNウ・ウセセ ャ・ウQセMMセM。 oeste: de urn Jade, 05 ducados de Cleves e a Marc.a (1614); e do outre a Prussia, exterior aos limites do Imperio (J (18). Quanto aos Habsburgos de Viena. comam na Burooa. nlio tapto por urna coroa ­iinpe­riaf,­que­Ules nao da nepbllm real.pad.e£".. mOOD peJe hleep que ー。」セュ・ョエ・ consti- tnfr';'; a moir dQ stcylo ,X.I.V. em,.. セッャエ。 、Yセ w.u:ilstQS da k­stria eda Bstfna. Reinam, pais, num conjunto <ie- territories que se estendem do Adnatico as fronteiras da Polonia, do vorarlberg a exrremidade oriental da Eslovaquia. Possuem ainda varies territories mais a oeste, especialmcnte na Alsacia. A Boemia, que no infcio do seculo XVII se fez maioritaria- mente protestante, desejaria retomar a antiga independencia. A derrota da Montanha Branca (1620) fe­Ia soudarta, para tres seculos, do destine dos Habsburgos de Viena. A Hansa perdeu ja, no principia do secure XVII, muito do seu pres- tigio e do seu poderio. A Guerra des Trinta Anos vai dar­lhe urn golpe mortal. Os navies holandeses tomam, eada vez mais, 0 lugar des hensea- ncos. As .ProyJm:ias U ョゥ、セ⦅ウaッ⦅MLNAALiAAN ,!lQ.s.NpGANイZ。N、NッNクcャsN、ANNNィゥウエVABLゥaNNj\キZHIセゥ。 do secUlQ XVII. Em 1609, a Espanha, de f61ego perdido 」ッ⦅{{ャ⦅セ⦅セセセイイ。 d1­­­­.f'landresll. quea rneu comQ..Jlm cancr£::.­acertou­uma trigua que イセ・」ゥ。N a titulo provi's6rio: a _ゥeM、セョjセAAセ⦅セAャZ⦅セゥᄃセセセceセセセ calvinista. Em 1648 serA preciSQ­reconhecer a evidencia: 2 milh5es de セ・セュ。ョッウL apinhados em 25000 km", estarao de posse do maier imperio jamais vistc no mundo. Quanto A Belgica, existe ill. virtualmente na Europa de 1620. Entre 1579 e 1585, Alexandre Famesio reconquistou a Espanha os Parses Baixca meridionais, que passaram a ser um doe baluartes da reforma catolica. Mas, em 1598, Filipe II faz deles urn esrado autonomo, confiado a arquiduques. Quer dependente de Madrid quer, mais tarde, de viena, a futura Belgica, fortalecida pelas tradkees e hitos provenientes da sua prosperidade medieval, constitui it uma unidade A parte. Tambem a Sult;a confirmou a sua originalidade, quase atmgindo, a partir do fim do secuto XV, as fronteiras actuaia Os sew scldadoe nzeram tremer a Europa no tempo de Carlos, 0 Temerario s. A Sufca foi urn des centres da Refonna. A paz ca vestefalla separa­ta­a ofidalmente do Im- perio. p⦅。⦅セMMAA⦅GANセ⦅nセjlNNAMMNQセMMNsッョAゥョ '!8_diセャャNNN ..&W1iriIl....JlQLYQlta de QUセNNlNセセセrNNセ em lI1gUDS. aspectos de ponncpOf.......l"s__f!.I!..I!.teirns que h*.- ­de conservar ate A c.ampanha _ de Bona,NJ1e em QWセ Depcis da paz de Lodi" Hイセ」ゥGQッオZウ・オュᄋM・アオャャjャLイゥッMェエN[ャゥセッ que ja ・ョエ。セ prefigurava 0 equilfbrio europeu do s6culo XVll ao sleulo XIX. Cinco estados mais jm_ ーッイエ。ョエ」ウNNNNqNャャセセセN HIセAセ 5!=:, 、セエャAセNAdZ 0 du.cado..d.c M),liQ".a r・ャャセセHェ」。 de v・ョ・セ、lA⦅HIセセAA。 (feila gfao­ducado em 1569 em proveito dos M&lids); os 、ッ⦅セッウ !emporais do papa e 0 reino de nVNーッAセN A Espanha domina 11 . ' ⦅セ⦅ セNL __BZGBLLZNセLセN⦅M -"".. ..セM ......,. .......クエNNキZイGゥBBBBセセMLᄋ MMセNNLMセG ,- ZMBBNZZLLセL ..MMMMMMMNZッii[LNセNZNZBNZ・h[[N .... -;;. ',,;',;,,_•.J. loe j"'tkd' t±·,"'it....."'---'--""'-....."',"",..tntd;Wt6iftt'A>H _.,
  • 18. r· , L , I o primeiro e 0 ultimo destes cinco estadoa, de modo Que a liberdade de accao des Quiros tres. c. com mais forte razac, dee pequenos pond- padcs, esHI. muito Iimitada. veneza suporta com humnr este protectorado d05 Habsburgos, mas preccupa-se gravemenle com a ameaca otomana. Durante a guerra de 1469-1479, teve de ceder aos Turcos 0 Negruponto, vanes ilhas do Mar Egeu e hastantes ponlos de apoio na Moreia e no Epiro. Em 1571 _ no pr6prio ano da vit6ria de Lepanto -, veneza sat de Chipre. Entendeu hastante cedo a gravidade do perigo otnmano e pro- curou soluCOes de compensacao. A grande expans3.o veneziana na Terra Finne data dQ principia do seculo XV; Vicenza e Verona foram anexa- das em 1406, Udine em 1421, Brescia e Bergamo em 1428. Mas 0 que e Veneza _ e, mais, 0 que e Genova, privada das feitorias orientais- 34 "' • BNセLN⦅BGN Nセ ......__LN⦅セL 'k1l!'W" ·pt'Wltfher .......... ..... . . ..... ' iWhW·t . J. A FRANCA EM /328, 1360 1]/J0 E 1429. (S"s""do J. Le Goff, Le Moyen Age.) no tempo da preponderancia espanhola? No mapa, muho pouco. Mas, no plano da civihzacllo, 0 papel da Italia continua a ser muito importante, mesmo ainda em 1620. Na verdade, a Italia dominou - e muito - os tres seculos que van de Dante a Gafileu. Na peninsula, os estados mais importantes nao sao, Ioreosamente, os mais brilhantes. Urbino foi a Ate- nas do seculo XV e Ferrara - foi urn cos maiores focos do Renascimenro. Do lado de Iii dn a、イゥャゥャゥ」ッ⦅LセHAャ 0 muodo olomano, セーAAGィ。、ッ por tres cootmentes, de Buda a Bagdade, do Nilo a Crimeia, estendendo mes'tiID a sua 、セュュ。イ[Zゥゥッ a uma parte do Norte de Africa. A cooquista de YスョウAiZャNAャ⦅セNpjエャN。 ..--'1453), 0 fim do pequeno imperio grego de Trebi- zenda (1461), セセセセッ ⦅セセスNᆪセR •.i!ID), a ocupacao de Belgrado (152l), a derrota infligida em K'iobacs 0526) aos cavaleims hungaros e ao seu rei Luis, que la ficou morto, a metodfca anexacao das Hhas do Egeu entre 1462 (Lesbos) e 1571 (Chipre) ヲセ・NイセャAAMNTqNェャNャャエaYNオイッNdNセ・[キセゥLL⦅ セセBaNjNiXN|Aャゥエッ muculrnano ..セYN mesma._1emPO.sucessor de Mao::nt, «servidor das cidades sanras». Na Europa e senhor dos Balcas, a sui do Save e do Danubio, e da maior parte da Hungria. A Transilvama, a Moldavia e a valaquia pagam-Ihe trtbuto. Em 1480, uma rorca turca desembarcara em Otranto. eウアオ・」セMウ・ ュオゥエゥャZlyュセ ....YAAセjl「イゥャィゥュNiFNjセ⦅、ッ Nr・イセュ・ョエッ tremeu perante Q. ー\[イゥk\ANjN|ャエセq ..・BNqャャセ⦅Nッ 。ーッァ・オNN、ッウNNN。ャoャャwwNセ。・ュjャ}Lョッ ウ・」オjᆪセセNjqrMMsYNャAj[アセッLセqNNNmN。ァョゥヲゥャZッLBGLェセセNセLᆬNᄏN Os corsarlos turcos e barbarescos coctiuuaram, mesmo depois de Lepanto, a visitar as costas tirrenas. Lela-se 0 Didrio de Montaigne durante a sua viagem pela Italia em 1581. Falaodo da regiao de Ostia, diz ele: «Os Papas, e em especial este (Gregorio XIII -), fizeram erguer nesta costa maritima grandes lor- res, ou atalaias, a cerca de uma milha umas das outras, para prover as arremetidas que os Turcos aqui faziam frequentemente, ate no tempo das vindinras. a fim de tomar gados e homens. Com estes torres, que estao a urn tiro de canhac entre si, vao transmitindo os avlsos com t30 grande rapidez que 0 alarme depressa voa ate Romas. Os Jagel6es -, soberanos da Polonia e da Lituania reunidas entre 1386 e 1572, nem sempre forum Ielizes nos seus esrorcos de reststencia aos Turcos: em 1444, Ladislau III foi derrotado per eles em Varna; no infcio do seculo XVI, foi torccso entregar-lhes a Moldavia e a Bucovina. Mas os reis da Pol6nia reinam, no seculo XVI, sobre urn vasto territ6rio - demasiado vasto -, sem defesas naturals, que vai de Poznan ao baixo Dniepre e das frontciras da Transilvania it actual Estonia. Houve uma idilde de ouro polaca na epoca do Renascimenlo, especialmente sob Segis- mundo I, que reinou de 1506 a 1548. Sua esposa era uma Sforza e a COrle real era urn foco de humanismo. Mas, depois da extlncao da dines- tia des Jagelces e do reinado de Bstevac Bl1thory (1576·1586), 0 pais, a cujos destinos preside agora urn ramo da famflia Vasa·, encaminha-se para diJjculdades cada vez maio res. A indisciplina da nobreza combina-.'le com os perigos exteriores. A Pol6nia cstA rodeada de inimigos: Turcos, Suecns, Moscoviw. 35 l "" ">,;;z""j:kJ4¥l!Itio<'iiiiiI&wW oIl*'*"'..·dJa/¥' . . . . . .,:& "i '
  • 19. , -t. as CINCO GRANDIES EST,tDOS ITALIANOS EM /41}4.HU (Segu"do " Delumeau セ J. Hee". La Fi.D du Moyen Age, lcs XVI' et XVII" REINO DA HUNGRU. • ' <Z!J' COlSElG,t, -..,;.- • (deGht NセB >- ,;.- , -- MAR 71RRBNO ....." セQエZiNI Em 1523, a guecia, seguindo Gustavo vasa, separou-se da Dina- marca. A uniao de Kalmar sempre fora fragi}. Muito mais frAgil foi a uniiio (1592­1595)da Po16nia e da Suecia no tempo de segisroUDdo I Vua. Este rei, cat6lico, feria セ convic¢es de urns Suecia muito ligada A Reforroa. A1em &550, os dois paises eram rivais no Bftltico. Em 1612, 36 -BセBセGiBAGNセᄋGオッZ )- .;. •.. ," .-""'¥'Iii'f/-s'-5* ­ ..:­:",: ! ­'6&.'1 " md fj-'WN&fHli£ithfit---d6hF-'&ttt - ' _ , , ' " t dW,w<), i ' GustS'lO Adolfo reina hA ja onze anos, aonhando transformar 0 Baltico Dum $"Iago suecc», e ja tirou aos RUS503 a Ingria e a Cerelia Oriental. No inlclo do seculo XVII, Suecos e Polaeos enfrentam, de facio, uma Russia que se vai afirmandc. Ivan III (1462­1505) cason com a sobrinha do ultimo Besileus. Tomou insignias impertais e ree­se cbamar «autocraras e esenhcre Em 1522, as Russos tiraram SmoJensk a Pojoma. Depois disso, sotrem reveses a oeste mas, aprovenenoo­se da desagregaeao des canatos mong6i:s. ocupam Kazan em 1552 e Astraca em 1554. E a epoca de Ivan IV, 0 Terrfvel HQUSSセャsXTIN que, 300 subir ao trono, tcmou 0 tftulo de «czar de todas as Russiass. A sua morte Ioi seguida de perturbar;6es, como tambem 0 foi a morte de BOris Godunov em 1605. Mas, oitn anos depois, Miguel 111 (J6JJ­I645) funda a dinastia dos Rcma- nov. Enquanto a Polcnia e a Suecia se viio apagando, e precise contar cada vez mais com a Russia. * No prmctpro do seculo XIV, a Europa em ainda uma nebuloSli de rormae indecisas e de futuro incerto. Em 1620, pelo coorreno, as divisorias pounces do continente aparecem, se nao finnes, pelo menos c1arificadas e consolidadas nas sues grandes linhaa, Apesar do moment<1neo desapa, recimeneo da Pol6nia no final do seculo XVIII, da independencia da Gre- cia alguns anos depois e de vanes retoques aqui e atem, 0 mapa da Europa nao ha­de ser em 1850 radicalmenle diferente do que era na ocasiao em que rebentou a Guerra cos Triota Anos. Em resume, a epoca do Renas- cimento, quer di2cr, esse grande perfodo de mutal;no que comecou no Ji- reinado de Fjlipe Vl de Valois e terminou no de Luis XIII, e aquela em que a Europa se define politicamente, descobrindo, pelo exemplo italiano e pelo jogo da resistenda rrancesa as ambil;Oes doe Habsburgos, a regra de ouro do eQuiLlhrio entre potencies. 0 ideal da unidade eurc- peia, reafizada sob a autoridade do imperador, foi substitufdo per uma retacso de rorcas. Dante, em De monarchic, escrevia cerca de 1320: «Onde ja nada mnis hi a desejar nao pode subsistir a cobka. Urna vez destrufdos os oblectos que podemos cobiear, desaparecem tambem oa mcvimentos que com eles se relacionam, Ora 0 Monarca (e assim que Dante designa 0 eimperador da terra»j nada tern a deseja­, pais a sua jurisdilj:ii.o .'16 e limitada pelo oeeano, 0 que nao e 0 caso dos outros principes, culos senhorios cordi- nam com outros senhorios, como, per exemplo, 0 reino de Castela conflea com 0 rcino de Aragao. 0 Monarca e, pols, entre todos os mortais, aquele que maie sincemmente pede estar submetido A jusliCa­. Mas, no meio do seculo XVI, 0 ingles John Cork, retomando as f6nnulas dos ェオイゥウエセ de Filipe, 0 Bela, dizia orgu]hosamente: ll"Todas ns nal;oes sabem que 0 muito poderoso rei de Inglaterra e imperador no seu pr6prio reino e nao depende de ninguem». Ser «imperador no .'leu pr6prio reino» queria dizer 37
  • 20. L __ ..,------ que se repudiava, no fundo, a hierarquia feudal, que noutros tempos dis- tinguia suseranos e v.assalos, sendc 0 imperador 0 suscrano des suseranos- A Guerra dQS cern ADos ...eio provar que 0 sistema feudal nao se adaP- tava jA a rcalidade. No momenla em que Eduardo Ill, em 1337. diri- giu 0 desafio a Pilipe VI. seu suserano pela Guiana e pelo poothieu, queria, principalmente, sublrair os seus domlnios continenLais a todo e qualquer race de dependencla. De facto, DO rratado de Bretigny lI360), loao 0 Bom .., prisionciro, teve de ceder ao seu antigo vassalo, em total ーイッーセゥ・、。、・ _ e, portanto, sem homenagem ­, quase todo 0 Sudoeste da pranca. Nao rnenos significativo e 0 rrarado de Arras, ccnciufdo em 1435 entre c。イャッセ VH" e Pilipe, 0 Born, duque da Borgonha. Este aceitava abandoner a ahanca inglesa e, em rroca, Carlos Vll dava­Ibe variaa le, ecidades reais». em especial no Somme, e diepensava­v­ vitaliClamen de toda e qualquer horaenageru ao rei de Franca. como e que, em tais condtcoes, poderia 0 imperador conservar auto- ndade efecliva sobre os sooeranos da Europa'! Claro que 0 mito imperial nnha mona forca e continuava a inquielar os espirilm. Francisco I e Carlos de Espanh,l foram concorrentes na ramose eleio;:lo de 1519. }'{a イ・。ャゥ、。、・NャMᆪ。イA\QゥMyセ⦅jNAidャ[iセyAlェl NウセオNLェGャHャT⦅iALZNTL nio. UP. _ tit llode Lゥュセイ。、ッイ ュ。siゥqセヲ。・オ[ZGjQ・NN ser..secbor..セ」エゥカッ de _ i.mportaILtes-t.eJrHQriQs. セNセエャoGゥZQYイ・ウ .j, セ aセイ」・「ᆱQjセウ・N a .partir de 1522, de ser 、ゥヲゥ」セセッカ・イョ。イ ao mesm leIUPD. 0 centre e o. セ da Europa e cedeu a seu irrnao' Fernando o. os territarios austriacoii. da casa dos Habsburgos. Em 1556, desmoraIizado por nao ter conseguido sequer conse:rvar a unidade religiosa da Alemanha, partilhou os seus dominios, dei,;ando a Fernando a Europa central e a coroa imperial e a Filipe II a E:ipanha, os Paises Baixos, 0 Franco- _Condado, as POSSe&'ioes italianas e a America. Conjunlo ainda demasiado vasto para poder durar muito. 0 futuro pertencia, de facto, as conslruo;:6es territorJilis baseadas num autentico sentimenlo nacionaL Evidcntemenle que nem todas as colectividades nacionais conscgui- ram vinl:ar no final da ldade Media e no inicio 、セ tempos modernos. HA ゥョウオ」・セGLijウ a registar, especialmente naquela parte do territ6rio que a vaga otom cobriu. Ai, as populao;:6e.s clobraram­se sobre si prQprias e espe- raram, ana mais ou menos silenciosamente, por mdhores tempos. No que a Botmia diz respeito, este esquema e roais matizado. A Boemia e5CapoU a ocupao;:iiO lurca. A identidade national comeo;:ou a afirmar­se no tempo de earliJS IV, 0 benfeitor de Praga, e ainda mais se afirmou na epoca de Joao Hus:s, que pregava em checo e contribuiu para a eMJulsao (1409) dos Alermles da Universidade da capital. As guerras hU5silas do stXuJo XV tiveram leeS aspeclos: religioso. social e nacional. No principio do se- '!­- culo XVlJ, 0 reino da Boemia, tendo na sua maior parle adoptado a Re- forma, gozava de urn lugar privilegiado no coniunlo de lerrlt6rios gover- naJo, pelos Habsburgos na Europa cenlral; e 0 soberano gostava de resi- dir em Praga. A brutal politica religiosa de Fernando n. a revolta checa que elaprovocou (1618), 0 esmagamento BOs Checos na Montanha Branca 38 ,. ""'''''''''7'''1,,",1» }lPO ••,.,. "'"' 4=_. Wi;;; i,e §K'''''''' - (620) e a repressao que se Jhe seguiu causaram urn eclipse do sennmeme national da Boemia, onde a corte deixou de ser elecuva. E certo que (.I reino conservou, teoricamenle, a independencia; Praga, principalmente. transformou­se, all. epoca da reforma catolica, nJJIlJa cidade uarroca culos rnonumentos conservam emocicnante beleza. Bstabeleceu­se uma especie de colaboracao entre as camadas de elite checa e germanica, de tal modo que e hlstoricamente Jatso falar­se, quanto aos secures XVII e XVlll, de «ocupacao aterna» do pais. Mas a accao de rcao Huss • e a repreSSao que veio depois da derrota da Montanba Branca tinham deixado イ・」ッイ、。セU・ウ bastantes para se poder dar depois a rcoovacao nacional do seculo XIX. em boa verdade, na Europa do Renascimento, Iorurn mais os exitos de expansao nacional que os fracassos, quer nos paises ccidentais quer na Russia ou na Suecia. o「ォᆪセNイZAセセ[G ...JQda.'ci<l...o ..caso da. ltAlia.· Uaquiavel, 00 Prmcipe (1516), damou e!Ilj;ij9 pelo !!oificadoi: que wobjljzassl!,:. esenergias naco, nals·'e­',ii­;lutinasse.0 J2ais. eヲ・」エゥカ。ュ」ョエセLAャ⦅N エセャゥ。NL ⦅セョ「N・Nャ[N・jALMMMェAjャ。イエゥl、ッウ fiiiii"iJ6­secuio' xv[MョゥッウVMPMカ。ゥカセュZュ。Zャセ '.O"Q.ue, emaa ァイ。NNカ・セNセN insta_ lacao de exercncs ・sエョゥNョAAセゥセッ[Bセ 、ゥセセ Iocais. Em 1494, Carlos­VIII passou os Alpes e, «novo Ciro», entrou triunfante em Milao, em Parma, em Florenca, em Roma c no SuI. Fez­se coroar «rei de Napoles, da Sicilia e de Jerusalem». Mas, meses depots, os prtncipes de Italia e de ourros parses coligaram­se conlra ele. Cados Vlll teve muita sorte ao conseguir. em Fornua (Julho de 1495), a custa dc violenta batalha, abrir cammho de イ・ァイセ a fイ。ョセ。N E apesar disso ja em 1499 Luis XII· mandava outra vez. 0 cxercito frances para ltAlia. As ヲッイセ。ウ francesas ocUparaOi Milao, cujo duque, Ludovico, 0 Mouro·, foi preso e deportado para Loches, onde morreu. Senhor de Genova e da Lombardia, 0 rei de FranIOa ・セュ。ァッオ os Venezianos em 1509 em Agnadeilo. E facto quc, cinco anos anres, tjvera de abandonar 0 sonho de Carlos Vlli c deixar 0 reino de Napoles a Fernando de Aragao·. Em 1512, a «Sanla LigaQ, quc Julio II·, ja reconciliado com os Venezianos, tinha erguido, expulsava de Milao os Francescs dpesar da vitoria sem futuro de Gaston de Foix em Ravena. Os reis de fイ。ョセ。 teimaram nas 。ュ「ゥセッ」ウ sobre Italia. 0 ana de 1515 viu 」ッュセ。イ 0 reinade de Francisco [ com a brilhante vilOria de Marignano. Milao voltou a ser franccsa, mas nlo por muito tempo. Seis anos depois, a cidade fugia 010 Roi Tres Chretien, cujos soldados foram rapidamenle esmagados em Pavia (1525): 8000 Franceses morreram em combale ou ficaram afogados no Tessino; os imperiais perderam apenas 700 homen:s, Com 0 tralado de Madrid (Janeiro de 1526), Francisco I pareceu renunciar A ItAJia. Mas, pouCQs mcscs passados, criava COntra Carlos V a Liga de Cognac e aproximava­se do Papa. 0 saque de Roma provocou nova Olrremetida francesa ­ a de Laulrec ­ na Lombardia e em direco;:ao a Napoles: novo fracasso, sancionado pela paz de Cambrai (l529). Em 1535, porem, morreu 0 ultimo duque Sforza·, que sO nomi- nalmente governava 0 Milanes, e cste passou para 0 domfnio directo de 39
  • 21. ...--1 j Carlos V. A modo de protesto, c para ter LIma base dcnde pudesse partir para ruturae tncursees no Sui, Francisco I manccu em 1536 ocepar a Sabola e 0 Pie monte. onde as tropes rrenceses iicaram durante rnais de vinte aeos. Francisco 1 linda em 1542 pcnsava em retornar Milio. Sob Henrique II ., os soldados do rei de Franca guerrearam multas vezes em Italia, Em 1551 lutavam contra Julio Ill· na regjao de Parma e de Mirandola. No ano seguinte, Siena revoltou-se contra os do Imperio aos gruos de Francia, Franc/a! E, em 1557, Francisco de Guise, cnamscc peJo Papa Paulo I V • - ameecacc pdDII Espanhcis -r-, apareceu em Roma e renton, sem resulrado, uma «ultima viagem a Napoles». A paz de Cateau-Cambresis pes rim as cavalgadas rrancesas, mas nao acabou com a presenva de tropes esrrangeiras em solo italianc, pois os Bspanhoie, que ali tinbam chegado em 1504, ficaram ainda per mats de dais seculos. Desk modo, a peninsula leve de sofre r, eo secujo XVI, a passagem e a pesada pre.ell>;il de soldados Iranceses, sujcos, atemaes e espanh6is. Assistiu, impctente, ao saquc de Roma em 1527, Ccrnandadas por urn trances, as tropes imperiais - au seia, lausquenetes alemiles, muitoe deles luteranos, Espanhois e ate Itajianos - tiveram enuto 0 sadtco prazer de pilhar, violar e avntar uma ctdade que era consuferada a «Batli/ooja modernas mas que toda a Europa invcjava, A Halia, porem, olio perdeu alento. Nessa epees, apesar de Maquiave), nao aspirava a unidade polftica mas tinha consciencia da sua unidade espintual e sabia que os Alpes eram a sua frcnteira natural. Julio n exprirnia os senumentos dos seus ccmpatrinras ao distlnguir os Italianos des «Barhamn que convmha expulsar. Meio seculo depcis, tambem Paulo IV se esfcrcou per «libertar a Italia des exercuos cstrangeirosa QZZAセウ lent.:lthas falharOIl1. :Mas os E1;panJJ6is (laO coeseguiram, e nem sequcr tentaram, assimilar 0 Milafles. (J reino de Napoles e a Sicflia- que coaservararn a lingua, 0 parrimonio cultural c a mdiviuualldade que !hes eram prOprios. Ou nao e com excessiva preesa Que se Iala da eltalia espanhclae dos secures XVI e XVII? A realidade e muitc mais compnceda, prmcipairnerue quando pen- samcs que Rome, Veneza e fャッイ・ョセ。 c:ontinuaram illdepcndellles, ュセュッ lendo de contar, no plano das reJa,6es exteriores, com 0 poder espanhul. Foi por isso que a me e v cspirito italianos puderam continuar a expan- dir_se Iivremente nesses lees baluartes da civili:zacao ocidenlal. Seria por acaso que tantos arlislas lombardos vinham instalar­se em ROlna na セ・ァオ{ャ、。 metllde do s«ulo XV[? a novo esplendor e a crescente irradia- .,;ao emanada da Cidade Etema na epoca da rdorma cal61ica e num momenlo em que os papilll, セー・」uエiid・ョエ・ Siirto V (1585­1590), procum- vam rdorcar a liberdade de aCl;aO da Santa se e do Estado edesiastico, testemunham que a Ihilia tinha oonservado 0 essencial do seu genio e l:ont.inuavll fiel ao grande passado que noutros tempos a colocou a cabelj:a do mundo. Dividida, manttnha uma coerenc:ia interna que nl.lfica h<.tuvc:: na heter6clita イ」セョゥ。ッ de lerrit6dos que a FiJipe 11· ohedecia. Tarnbem a Alemanha, iragmenJada, cntregue it guerra civil, conservava fronteil'3S • 0 LNBMBLBLNセNBセNBLLNN .....セLNML BBGGGGGGGGGGGGGGGGGGMpLGセNNLrjェTQN| .",;,1..0'''''' 1.Q, 4.$2!;ZP;,k"04¥..jᆪDェェDl⦅セ '.""" Qitf'nWt Tit1:zrf('mn,( Yt'xf<r,tt Ov 'tTwnrr'.,-*±irftrt.u' relalivamente ・セエャGZカ・ゥウ que rrcteseram urn capital cultural e urea ・ウーセ」ゥ・ de conscienda colecliva testemunbecos per Lutem COm eoqusncta. Niio sera a falta de uma tal consci!lll.:ia l:oJectiva, tao Iortemente desenvolvida nos Coniederados 5Uk:o!, cue explka em profundidade 0 _ Liorlte do S8lll<> Inpt'n" セ PtlsseSll6es do Duqlle de bッセィャ セjid advano de Fllipe+hn. (1419) mmTセセウ de Pllipe+&m fl'i!if& (1419.1467) UAュAiaアャTゥウセ de (&rIo5- wwa ­o­Temmm (1467­1477) セt・イイゥエoイᄏウ l1blJle1idos! It& ゥdイィセャi、。 da BorRonh; q'" o f$ ,: ' セセ セ .._._,_.__ ;r. ᄋNセhuセ ........ € セ、 , • > セ • o , セ セ '" .,o '. 5. 0 PODEIUO IJA. BORGONIfA. NO SECULO XY. n
  • 22. L nacassc da nova LoIaTingia que os duques da Borgonha • quiseTam erguer no rim do secuto XIV e no seculo XV? Bxtraindo as consequencias das sncessivas ampliaOes do dominio hurguinhao e Iiel 11. linha polilica de Filipe, 0 80m, Carlos, 0 'temerano (l467-1477) qurs, 0.0 ocupar a Atsacia, a Lorena e a Champagne, juntar as sues possess6es do norte as do sul e renner tim bloco imico, do Zuiderzee a Macoll e a Basileia. Luis XI· e os Sllfl;os encarregaram-se de lho vedar. Mas, seja como for, essa cons- rrucao territorial uemasiado apressada podia patecer artificial. Os habi- tanres des Pafses Baixcs nunca se unham sentido cburguinhoes»: pro- vam­no as repetidas revouas de Liege, Bruges c Ganci contra Pilipe, 0 Born, contra Carlos, 0 'remerano, contra Fijipe, 0 Belo e contra carlos V. o Iracasso de tal consrrucnc deixava pressagiar 0 futuro desmembramento do uuperio curopeu do. Espanha. As perturbaOt:s verificadas a partir de 1560 nos Paises Baixos uveram, sem duvida, mouvos rehgiosos; mas 0 atraso dos Estados Gerais, por obra dos ministros de Piiipe II, e a Itostilidade para com os mihtares espanhcis explicam tamb(:m, em parte, a revolta da Plandres. Se, pelo eontrano, os diversos territories dados pela partrlha de 1556 aos Habsbnrgos de Viena vieram a constituir, durante varies seculos, urn agrupamenlo relalivamenle solido, foi porque no seu centro havia unl forte nueleo Que se esforou por germanizar as regiOes perifericas. Tao revelndor como 0 afundamenlo do. nova Lotaringia do ウセ」オャッ XV t 0 do. monarquia franco­inglesa, que nao p6de nascer do. Guerra dos Cem Anos, Em 1337, .Eduan.lo III, que tinha no continente a Guinea e 0 Ponthieu, nao conteote com desafiar 0 seu suserano, Filipe VI, conlestou- ­Jhe a coraa de Fran<;a e rcdamou­a para SI. t: verdade que, no Tralado de Bret.igny, de 1360, Eduardo HI renunciou a essa coroa, mas Joao­o- Born deu­Ihe peTto de urn エ・イセ da Frana. Sessenta anus mals tarde. 0 Tratado de Troyes deserdava 0 delfim Cados ­ 0 futuro Carlos VIl- e dava em casamento, 0.0 filho de Henrique V, Catarina, filha de car- los VI·. t'odia­sc ler (0 texlo do tratado: セaセ duas coroas, de Fran<;a e de Inglaterra, ficario juntas para sempre e pertencerao a mesma pessoa, a saber: nosso filho, 0 rei HenriQue, enQuanlo ele viver, e, depois dele, aos ウ・Nャiセ herdeiroslI, Mas, em 1453, os ingleses ja 56 tinham Calais. * セcNセiセᆪ。ッ N、RセjセセNAᆪセGゥ⦅セRセNNウNNA。A⦅・AAN。 ・セョウ・YAャ・ョ」NェャA、q⦅NAャエZkiャydiN GAエieセiスNセqNNNNNNセュM⦅tセ。NMLN、・ UlIl.a ⦅セqセセゥセェH・M」ッjャウ」ャ・GャYセlHIN。」エッョ。iL ..da._quaL Joana de Arc foi comoventl: e­nobre.intt[]llt1l:... Joana eserevia em 1429 0.0 duque de' Bedford:' «Dai a Doozela, aqui envia'da por Deus, Rei do Ceu, as chaves de todas as boas cidades que: teodes tornado e violado em Frana. Eu vim aqd da parte de Deus, Rei do Ceu, para os escor· raar para fora de toda a Frana... E nao julgueis que mais alguma vel tereis de DeliS 0 reino de fイ。ョN[。Nセ 42 ⦅BBセBGBBBLLBセL⦅NLNN\ セ^セABBGiゥ|セNBN⦅イセN[⦅ .''"'*'' ,'*Vi84iij:,"".. iWZtffW snM'··C".t"tfe nWe t ; ""e 'k t ' ' - - LLセBZBLG leu' .... ­, ';'-+ 'iri'tMiEti!ttiWi'MtiiPh '_ Iogteses e Francese$. estavam, de facto, a descobrir tude aquilo que os separava. 0 dito acerca do. efalsidades dos Ingleses parece ter nasctdo no seculo XIV E foram­Ihes ainda encoorrados outros deteuos. Jean Le Bel, conego de Liege (1290­1369), que de resto era revoravel a Eduardo Ill, nao hesitava em julgar os Jnateses «commumente invejoSQs de todos OS esl,rangeiros, quando estes lhea estiio acima, mesmo oos seus paJses... A inveja alnda nao rot morta ern Ingjaierras Cerra de 1450, rot escrito por urn frances 0 Debat des heraurs d'armes de France et d'Ang/elerre, em que os senlimenlos anti­ingleses, acumutados ao Iongo do. Guerra dos Cern Anos, nnharn redea solta: «A sombra da divisiio da Franca, rendes pilhado e perturbado este reino e fizestes inumercs males». Acusacao esta de que se faz eco 0 Livre de fa description des povs, de Gilles Le BOUVier, escrirc na mesma epoca: eEssa nao;ao (a Inglalerra) tern gentes creels e gentes sanguinarias.. E fazcm guerra a todos os povos do mundo, tanto no mar como em terra». Tambem sao cupidos, mas habeis roercadores. «Tudo aqu:lo que ganham nos paises estranhos onde vao, enviam­no para 0 seu reino. E e per isso que este e rices. No ja cnacc Dibal, cada urn des dois arautos husca os motives do. supenoridade do seu pais. 0 da Franl;a invoca a geografia e 0 clima e deelara ao seu rival Ingles: KO reino de rranp esta muito mals bern situado que 0 vosso, pols esta entre as regl5es quentes e as regi6es frias; as quenles, que estao para la dos monIes, sao dificcis de suportar. pelos geandes e eitcessivos carores; e as frias, em que vos estais, sao muito nocivas ao corpo humano, pois 0 Inverno come.;a Iii tao cedo e dura tanto lempo, que as ー・ウセッ。ウ vivem a sofrer de frio e nao pode la crescer アオ。セ・ nenhllm fWlo, e 0 que cresce e mal formado e mal amadurecido. Mas em Frana, que esla eutrc ambas, e no meio e onde repousa a virtude. e onde 0 aT e doee e agrad:i.ve/; e lodos os frutos Ii crescem 。「オョ、。ョエ・ュセョエ・ e sao virtuosos e deliciosos, e as pessoas vivem alegremente e com mode- ra30, セ・ュ demasiado calor nem demasiado Frio". Como es(amos longe do seculo II, quando a Inglaterra parecia aos lelrados do Ocidente uma lIAtria comum! Urn monge, Richard de Cluny, morto em .1188, nao Iinba pa.la- veas 'ufjeientemente elogiosas para a lnglaterra, em cuia homa escreveu um poema latino: [l1g/a/erra, gleba fecunda, recanto fhlii do mundo... [n/?lalerra, pais dM iogM. povo livre, nascido para a folia, Pais (JJ?raddvel, que digo?, pars que e s6 alegria, Que muLtI deve GOs Gau/eres, mas a quem II GdJia deve l'udo 0 auf' ndn no de calf)'ante e de {lmtJrtivel, Ao Dp!>rzl, cornrosto por urn frances em meados do seculo XV, res- ponde, cern anos depois, 0 Debale between the heralds of Engl(Uld ami France de John Coke. 0 aulor insular elogia, naluralmente, pela boca do seu arauto, 0 que h.:i de agradavel, de valoroso e de rico em Inglaterra. 4J
  • 23. T P •.• ",- Dona Prudencla, encarregada de ajuizar, nao pede deixar de se prcnun- cjar comra a Franca: «A minba sentence e que 0 reino de jnglaterre devera sec conduzido para junio da Hcnra, de preferencla A prance. e tomar Iugar a sua rlirerta; que vos, senhor araurc da Franca, em rcdas as assembleia!i ondc ncnra se deva mosrrar, rcconhecais para sempre 0 vosso dever dando 0 Iugar ao arauro da Inglaterra.» No rim do seculo XVI, 0 orgulbo nacional ingJes viria a lee em Shakespeare urn vale genial. Em Ricardo II (cerca de 1595), Jcao de Gand, antes de morrer, exaua a Inglaterra: cBle augusto irono de refs, esta llha porta­ceptro, esra terra de majestade, estc a5senW de Marte, este segundo Eden, este semiparaiso. esra rortalem construida para se defender da tnvasao e das proezas da guerra, esta feliz raca dc hcrnens, esrc pequenc universe, esta pedra preciosa ・ョァ。セャ。、。 num mar de pruta que a defendc como urna rnuralha, ou como 0 rossc protector de urn easteto, contra a inveja dos parses menos felizes.. ,», lsto e depois da derrota da InvendvcJ Armada! ,0 que temos de coDlpreender que estA por tras 、。ウNNゥョェセAZェゥAウjN」A[Lエlセ「。M ne イッセセ e das セャpセイセセエLjゥ⦅cZ⦅qセ」ゥ・ョキ de"'S{to ((os outrns. a 03 Cpoca do Renasdmento, ウアイァセ⦅j|セ ュ。セッイゥ。、qsNpqZvッウNLNャZNuエoーBBGsM Sabem jtt que sacnlil'erentes. Os Francescs tern reputacao de jevianos, fervenles, incons' tantes. No seculo XIV, Jean Le Bel asse"'era: «:, •• sempre prometerarn e scmpre cumpriram mal». Duzento, anos depOlS, 0 embaixador veneziano Marcanlonio Barbaro ddine­os assim: (Os Franceses sao naluralmenle brioso.'i e orgulhosos. muito audazes nas 。」セo・ウ de guerra; por isso 0 seu primeiro emhate emuito difieil de aguentar... Nos seus exercitos hi. rnuilO entusiasmo e pouca ordem. Se pudessem dominar 0 seu ardor, os Fran- ceses seriam invendveis.; mas a sua falta de ordem provem de 'lhes ser imposslvei suponar por muito tcmpo as fadigas e os ゥョ」Vュッ、ッウセN No sell Livre de la description des JXJYS, Gilles le Bouvier esforca­ se por caraclerizar povos, na¢CS e provincias. Os sオゥセッウ sao dados como {(genIe cruel e rude». Quanto aos Escandinavos e aos Polacos, diz ele que saO Lァ・ョエ・セ terriveis e furiosas, gentes sanguinarias que ferem antes ainda daquel que estao cheios de カゥョィッセN Os Sicilianos sao ,grandrs crisHios es e muito ciurnentos das suas mulheres», os Napolitano! .gente grosseira e rude. maus cat6licos e grandcs pecadorcs». Os Caste/hanos soo descrilos enmo 'POllCO cornedores de earne e sao gente muito ゥイイゥエ。、ゥセ。L e ilndam mal vestidos, mal 」。ャセ。、ッウ e mal dormidos, e sao mauS c:llo{icos, e isso em tao born (ferW) pais». Gilles Le Bouvier faz, em contrapartida, 0 elogio dos Florentinos: «Estas gentes suportam comparar;ao com toda a Cristandade; tudo 0 que ganham levam­no para a cidade de F1orem;a, as e por isso a cid.1de e lilo rica; estas genIes slio muilo bern comportad e honeslamente vestidas e sao muito wbria, nO beber e no comer», Tam- bern e prestada semelhante bomenagem ao Hainault, cujos hahitantes, .nohres e comuns, sao gente mllilO honesta, bern veslida com bons lccidos e 「ッ。セ plumas. e sao muilo bons mercadorrs, エイ。「。ャィ。、ッイ・セ e gcnte de 14 orrcos, bern munidos de baixetas de ccbre e de estanhc nas suas esta- Iagens». Paz­se jujzn sobre cs estrangelros, mas rambem sobre 0 proprio povo, e as vezes sem piedade. No seu Apelo ci Nobre..a Crista do Nafoo Alemii, Lutero (1520) nao receia evocar «0 abuso das vitualhas e das bebidas, de que nos, Alemaes, fizemos 0 nosso vfclc particular e gracas ao qual nao gozamos no estrangeirn de excelente イ・ーオエ。セゥゥッ[ jA nAo e possivel reme- dia­Ic pela pregacao, de tal modo esse abuse se enraizou e tal 0 domlnio que tern ja sobre nose. Donde 0 reformador ccnclui que compete as auroridades civis lutar contra a embriaguez. Quanto a Montaigne (EnsaioJ, II, Ix), avalia, de modo ir6nico, 0 valor Intelectual e a finura de espf- rite de varies povos do Ocidente em runcao do sen comportamento na guerra: «Urn senhor Italiano exprimlu uma vez, na minha presence, esta cpiniac em desfavor da sua cacao: que a subtlleza des Italianos e a vrvacidade das suas concepcoes era tao grande e que previam com tal antecedencia os perigos e acidentes que lhea podiam advir que se nao devia achar eerraebo que Iossem vlstos, munae vezes, na guerra, prover a sua seguranca bern antes de ter reconheeidc 0 perjgo; que n6s e os Espanhols nao eramos tao finos, lamos adiante e tinhamos de ver com os o.lhos e toear com a mAo 0 perigo antes de assustar­DOs com ele, e logo depois perdlamos a compostura; mas que os AlemAes e OS sオiセッウL mais grosseiros e mais pesados, nao tinharn 0 senso de madificar as SUllS opiniOe:s oem rnesmo quando jA estavam subjugados pdos goJpes do inimigo». Esta compreens1o de si e do:s outros, a nIvei dos poVOJ, explica bas- tantes coisas desse periodo em que nasceu a Europa modema. Expliea nao sO que os barOe:s franceses tenham afastado em 1328 Eduardo III. neto de Filipe, 0 Belo, mas nascido em Inglaterlll, como tambtm que os Portugueses, para nao se unirem a Castela ern 1385, tenham preferido ele- ger urn rei bastardo, Joao I, fundador da dinastia de Avis, e que estes mes- mas Portugueses, dois seculos e meio mais tarde. tenham recusado manter- ·se sob urn soberano espanhol: recusa de que nuceu a revolta de 1640. Esta tomada de 」ッョウ、セョ」ゥ。 explica ainda que a palavra ­ e, mais ainda, a ョッセ de ­ «fronteira» tenba gradualmente .substituldo, a partir do se- culo XIV. a palavra e a realidade da «marca,. que as callindegas» :sejam, no fim da Idade Media, uma inovaJ;Ao comum a todos os paIses da セ Europa; que 0 mercantilismo se desenvolva como expreUiio econ6miea da vontade de independencia; e que se tenha 」ッュ・セ。、ッ a definir, na senda dos exemplos italianos, d.guas territoriais» ao longo das costas mariti­ mas dos varios Estados, tendo as tribunais maritimos surgido em Ingla. terra em 1360 e em Franca em 1373. Como esquecer, per outre lado, tudo 0 que houve de cnacionab no comportamento religioso dos OcidentaiB a partir do sk:ula XIV? Catarina de Siena pediu com rervor 0 regre.&!JO do papa «para entre as gentes de Roma au de Italia,. A Inglaterra rrritou­se ao ver a fイ。ョセ p6r 0 papado 45
  • 24. 1-- _ -i,i' '1; ];il . sob tutela. Os rnernbros do Concilio de Constanca - inieiativa revolueio- nana _ agruparam­se per enacces». Alem­Reno, como alem­Maneha, era­se cada vez mais hostil a fuga de dinheiros para Roma e a nomeacao de beneficiados estrangeiros. A Reforma, que triunfou no seculo XVI em metade da Europa, pede legiLimamente parecer, de certo ponte de vista, como uma reaq:ao de individualismo nacional. No seu Apelo d Nobreza Crisra da Nat;iio A/emil, Lutero escrevia: «N6s (Alemlies) temos 0 nome do Imperio, mas 0 papa dispoe des nossos bens, da nossa honra, das nossas pessoas, des nossas vldas, das nossas almas e de tudo aquilo que nos temos: ha que trocar des Alemlies e pagar­Ihes com uusoes». Quanto ao rei de Inglaterra, recebeu do Parlamento, em 1534, «0 direito de examiner, repudiar, ordenar, corrjgir, reformar, repreender e emendar tais horro- res, heresias, enormidades, abuses, ofensas e irregularidades... a fim de conservar a paz, a unidade e a tranquilidade do reino, nao obstante qual- quer uso, costume ou lei estrangeira e qualquer autoridade estrangeira». Seria per acaso que 0 primeiro grande reformador smco, Zwingli, primei- ramente paroco de Glaris, comecou a sua carreira protestando contra u envio de mercenaries helvetieos para fora do pais? Assim, 0 individualismo, do qual falaremos rnais adiante e que e urn dos traces disrintivos do Renascimento, e percebido, antes de maie, ao ntvel dos povos da Europa, que, ao diferenciarem­se e oporem­se uns aos ourros de forma per vezes dramatlca, adquirem 0 sentimento da sua pro- funda originalidade. Licao geradora de espirito entico e de relativismo e, portanto, fecunda. A duvida met6dica de Montaigne ", antes da de Des- cartes, viria permitir a crHica de bastantes preeoneeitos: «Qual a verdade que estes montes limitam, e que e mentira no mundo que esta para la?». A cada naclio sua verdade. A partir do seculo XIV desenha­se uma nova geografia universitaria que, a urn tempo, exprime e reforca a crescente diversificaclio da Europa. Sao criadas universidades., designadamente em Praga (1347), Crac6via (1364), Viena (1365), Col6nia (1388), Leipzig (1409), S1. Andrews (1413), Lovaina (1425), Basileia (1459), Uppsala (1477), Copenhaga (1478), Al- calA (1499), etc. Esta mulliplicaClio, aerescentando­se aos efeitos do Grande Cisma e ao exodo de muitos c1erigos que, antes da Guerra dos cern Anos, esludavam ern Paris, teve como resultado a diminuicao do recrutamento intemacional das universidades e a ruina do sistema das «nacres», que constituira ate enlio a chave da sua eslrutura. Oes o hurnanismo. tambtm contribuiu para 0 nascimento das nac europeias. Esta afirmaeao pode causar surpresa. Lorenzo Valla· reeusa- va­5e a morrer pela palria, agregado de individuos em que nenhum lhe devia ser mais querido que ele proprio. Erasrno, espfrito cosmopolita que s6 escrevia em latUn, foi, nos anos que antecederam a Reforma, uma especie de presidente da «republica das letras•. E, no entanto, 0 latUn renovado serviu, especialmente, para exaltar a historia nacional. A ゥョゥ」ゥ。セ tiva partiu de ltalia, com Flfavio Biondo, que comp&, entre 1439 e 1453, 46 NセB LLLBLLBBBGBBBGGGGGGGGGGGセGGGGGGZGGGZGGBGGGGGG[GGGGセGGGGGGGGMZ[セセGGGGyGGセGセセMセGp uma His/aria da Decadencia do Imperio Romano (Historiarum ob tncuno- none Romanorum Imperii decades) e uma Italia illustrate. Este humanista dizia que, no seu tempo, gracas a beuevolencia divine e as qualidades des ltalianos, a dignidade e a gloria da peninsula se manifestavam de novo depois de urn eclipse de mil anos. Alem disso, dava, na Ltaua illustrata, «a primeira representecao geograflca de toda a peninsula». Em Espanha e em IngJaterra, os Italianos fizeram nascer 0 interesse pelas antiguidades nacionais. Lucio Marineo, urn s.ieiliano que ensinava na Ijniversidade de Salamanca, publicou em J495 urn De Hispania laudibur e Polidoro Vergilio comecou em 1506, a pedido de Henrlque VII, a sua grande Htuorta ang/ica. A redescoberta da Germania de Tacite, publicada em 1500 per Conrad Celtis, suscitou na Alemanha toda uma Iiteratura, escrita em latim mas resolutamente nacionalfsta, da qual e born exemplo o dialogo Arminius, composto em 1520 por Ulrich von Huuen. Arminius era 0 her6i naeional e 0 simbolo da resistencia alema contra Rome: alusao evidente a revolta Iurerana conlra 0 papado. Mas os humanislas nao se contentaram com escrcver em Iatim. Admi- radores des escritores antigos, quiseram frequentemente imitA­los e igua- la­los, cada urn na sua lingua. Ao Iazer isto, ccntinuaram, com novos meios e baseando­se numa cultura muito mais vasta, a obra dos primeiros grandes eseritores ­ Dante, Chaucer, Froissart, etc. ­ que tinham aberto o eaminho as diversas lileraluras nacionais. No seculo XVI deseobre­se na Europa, em toda " parte, a vontade expressa de prcmocao das linguas vernacuias. Na sua eelebre Defense er illustration de fa langue fran- caise (1529), Du Bellay s deplorava 0 desprezo dado, mesmo em Franca, ao idioma frances: «Reservam­no para os generorinhos frivolos, baladas, redondilhas, e outros temperos... Quando se qucr exprimir grandes ideias, usa­se 0 ャ。エゥュセN Ronsard·, no prefacio da Fronciade, aconselha: «Usai palavras puramenle ヲイ。ョ」・ウ。ウNセ Mais tarde, Agrippa d'Aubigne recordarA, no prefaeio das Tragiques, estas palaveas de Ronsard: «Recomendo­vos em testamento que nilo deixem, de modo algum, perder velhos lermos e que os empregueis e os defendais audazmcnle contra os maraus que nlio tem nor elegante 0 que nlio seja surripiado do lalim e do ゥエ。ャゥ。ョッセN Assim, poetas e prosadores franceses do seculo XVI esforearam­se por conservar as palaveas anligas, por inventar vocAbuios novos e por filro- duzir na literalura nacional os «grandes generos» imitados dos Antigos: ode, epopeia, tragedia, comedia, salira, epistola, ou dos Italianos: 0 &meto. Nao hesitaram em pilhar Atenas e Roma para «enriquecer os templos e altares» da Franca. Na competieao inlemacional entre Ifnguas «vulgaresll, 0 toscano tinha, desde 0 seeulo XIV, gracas a Daote, Petrarca e Boceacio., consideravel avaneo em relaeao ao frances. Mas urn admirador de Virgilio e de Dante, Sperone, esereveu em 1542 urna defesa da lingua de Florenea, 0 Dialogo delle Ungue. de onde Du Bellay traduziu, pura e simplesmente, baslanles trechos para a sua Defense. utilizando em favor do frances aquilo que 47 1
  • 25. o sell co/ega jtalia.no escrevera em peal do idioma toscenc. Tambem em Portugal se eraucu a lingua nacional, 0 humanista Antonio Ferreira (I 528- .1569), a quem se deve uma tragedia celebre (A Caslro), pode scr coo- atceradc como urn Du Bellay portugues. Exclamou UDl dia: «Que fjoresca, fale, cante, seia ouvida e viva a lingua portuguesa, e, onde quer que va, se mostre orgulhosa W; 51 e altaQcjra». 0 ェョァャセウ Roger Ascbam (l5J5- -1568), Que foi, por breve tempo, preceptor de Isabel e «0 mais popu- lar doe educadores do seu tempo» ern Ingfaterra, devc ser comparado a Du Bellay e a Ant6nio Ferreira. Todos tree estavam imbujdcs de culture greco-romana. Ora todos eles beberam nesra culture 0 desejo de rorta- Iecer e sen'it a.! Unguas dos seus pa!ses. Ascbam afirmava, no inicio do seu Tosophilus, que pcderia ganhar maier rama se escrevesse em Iatim. Mas, como 0 Ingles era ainda uma jjngua inferior, a mercA des iancrantes e dos tecomretenres, queria contnbuir para 0 seu aperfeiccamentc Inrro- duzindo-lhe os torneados e as e1egancias do latirn. A prcee illglc$S, dizia ere, devia seguir a escola de Oce-o e de seneca. Na longinqua Pol6nia, Nicolai Rei, a quem chamaram epai da literatura nacionale, nao dtscorrta de modo diferente. Em todoa os seue escritos, especialmente oa sua obra- .prima,o Espelho de Toaos 01 ESIQdos (1568), esrcrccu-se per cemonstrar as possibilidades da lingua petaca em comparecco com 0 Iatirn. Estell afor(:Os foram coroados de euto. 0 seculo XVI viu 0 deci- sivo erguer das grandes literatures europeias: e 0 secuio de Ar.icsto e de Maqulavel, de Luten) e de Rabelais, de Ronsard e de Spenser, de Camees e de S. Joac da Cruz- Em 1620, data em que podemos, razcavej- mente, cccslcerar conclufdo u ReLi81K:imento, Cervames e Sbakesreare tjnham morrido ha"ja cuatrc aacs. Mas esta vitcria das Hnguas neclcnee nio se aitua somenre DO cume da actividade intelectual. Encontramo-la. lam'btm na vida profunda dos pavos. Na セーッ」。 em que 0 Mito de Villen-Cotterets (1539) iropunha, no teino de Francisco I, 0 usa da Uo.gua da lle-de-France, em ve.z do latim, nos escrims de juJus e de nourios, o to.scano passa"a a ser a liogua de Roma e, portanto, da capital natural da IUlia. Os papas do Renascimeoto, em especial all mセ、ゥ」Nゥウ (1513·1521 e 1523.1534), chamando aRoma artistas toscanos e povoando de Floren· tinos a cUria e as secreLarw do Vaticano, foram os prindpais Autores do n::cuo simultatteo do latim e do diaJecto romQneJCQ. Quanto il Reforma, na medida em que fez mLemificar a leitura da Bfblia • pelo pova, auxiliou poderosamente a consolidar e duundir セ Unguas vernacllias. Lutero foi, sem querer. 0 Drincipal autor da unificacao, pelo menos relativa. dos fala- res alemiie$. No momeoto em que se alirmavam as nac(ies europeias, reforcava·se a unidade da civilizacao ocidental: dois fen6menOi apareotemente contra- dit6rios e, DO entllnto, solid6.ri03, cuja dialectica e uma das maiores caracterlsliCWI do perlodo que estamos a estudar. A descoberta e explora- cia dos Dluodos ex6ticos viria, ao mesmo tempo, avivar as tens6e5 entre os Europeus e. precisar Binda filII.is a comnmdade d09 sellS deatin09. セX ..セL •.••.•.セLNNBNNNNNBLNL coo ,;>t:< "*1'" CAPlTULo IT A ASIA, A AMERICA E A CONIUNTURA EUROPEIA Em 1454, Constantinopla tinha cerdo havia urn ano; os Principes da Europa, divididos. nao eram capeees de organizar uma contra-<Jfellsiva comum COntra as Turcos. 0 humanista セョ・。 Silvio PicCOlomlni. lell:ado pontjfical na Alemanha e futuro papa (Pic II "), escrevfa tristemenle a urn amigo: lCPreferia que me chamassem mentor a que me ehamaS5em profeta... Mas nAo POSSO acreditar que haja ntsto alguma coisa de born . A Cristandade nac tern um chele <t quem [ados aceltem submeler-se . o papa e 0 imperador veem os seus dire-ito.!! ignorndos. Nao M respeito nem obediencia. Olbamos para 0 papa e pam a imperador como se fossem liguras deccranvas, dotadas de エQエオャッセ va:rio!l de conterldos LameDto.!I inutei, de urn letrado aberto l nova cultura mas que, apesar disso, olhava para 0 panado. A ElU'OP4 、cセuャQゥ、。L 8 despeito das suas rivalidades internas -ou, melhor, por caU!la delas_, ja estava a (orja.- urn. :leU destino excepcional, abrindo as portas que davam para lange. Na verdade, 03 Ocidentais de ha muito que aspiravam i4 a sair dos seus territ6rios. Mia tinha 0 veneziano Marco Polo estado Ila China de 1275 a 1291' No prjoC"1pio do seculo SC!Uillte, 0 papa nomeou, para arcebi!lpo de Pequim, um mission4rio franciscano. Durante mais de cin- qUcnta anos, uma rota comen:ial muito stgura, que alravessava toda a A.sia e terminava nas feitorias genovesas do Mar Negro _ Tana e Caffa-, permitiu Que viessern para a Europa 05 produtos chineses. (nfelizmente, os progressos dos Thrcos. a partir de 1150, depres;;a inteTJluseram uma barreirn entre a Europa e a China mongol. Os Portugueses, tocando 00 inlcio do sec:ulo XVI as costD.8 do Celeste Imperio, tiveram a imprenio de tee descobeno urn mnndo Uio novo como aquele que Cortez enconlrou ao penetrar no Mexico. Mas a curiosidade europeia Iinha estado desperta. A prova esta nos cento e trinta e oito manuscritos que nos ficaram do LivrtJ den Mara- vi/has de Marco Polo. Henrique, 0 Navegador, セオャ。 urn; e Crist6v!lo Colombo teve oa sua biblioteca um dos primeiro5 exemplares impre3sos セY P art fi; t'fnWhn 9 Wi jjrdtittu&Mf't., ' . , ._".!." •••••Bゥm[|LGCAセ ... LセL 5 I