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Baixar para ler offline
Andressa Cristina
andressacrosa@hotmail.com
Joel Felipe Horácio
jofeho@hotmail.com
Thiago Peres
thiagoperes87@gmail.com
Educação: palavra essencial em todos os sentidos para
que exista qualidade de vida – no nível pessoal, profission-
al, educacional e comportamental. Nações cujas culturas são
prósperas com relação ao desenvolvimento humano prezam
por condições onde a produção intelectual é valorizada. Es-
tados Unidos, Alemanha, Japão e Canadá são exemplos de
países em que se associa o grau de desenvolvimento a um
alto índice de produção científica: respectivamente, 1º, 3º,
5º e 7º colocados nesse quesito, num ranking publicado em
outubro/2014 pela Reuters.
Com relação à pesquisa científica, o Brasil, neste mes-
mo ranking, saiu da 24ª para a 13ª colocação entre 1993 e
2013. Contudo, na corrida pelo desenvolvimento e busca de
conhecimento, a produção científica e tecnológica em solo
brasileiro tem encontrado diversos obstáculos: falta de es-
trutura,baixo investimento e cortes por parte do governo,di-
ficuldades burocráticas na obtenção de materiais necessários
às pesquisas. Em maio deste ano, a neurocientista brasileira
de extrema relevância no cenário mundial, Suzana Hercula-
no-Houzel, que atuava na UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), anunciou que deixaria o Brasil para poder
continuar com suas pesquisas – por motivo de falta de inves-
timento do poder público em pesquisas e afirmou ter recor-
rido ao crowdfunding (financiamento coletivo) para manter
as despesas de seu laboratório, pois não recebera os valores
com que contava. Este cenário é alarmante para uma nação
que tem altas pretensões de desenvolvimento e obteve, em
2015, PIB de R$ 5,9 trilhões.
Para superar situações que bloqueiem o êxodo de profis-
sionais qualificados, há de se rever como os investimentos
chegam ou deixam de chegar ao devido destino, fiscalizando
e fomentando a produção científica, que é capaz de guiar
um país a estradas mais frutíferas. Além disso, é importante
também que haja o respaldo da imprensa com relação à pro-
dução nacional, de grande interesse público, por ser paga
pela população e que deve ser feita em prol dela, transfor-
mando cenários e trazendo benefícios socioeconômicos. A
Ciência Caipira, portanto, tem a proposta de ser a ponte
que permite o trânsito de conhecimento acadêmico volta-
do à melhoria social, visando à inserção dessa temática no
cotidiano dos cidadãos.
Fotos
Bruna Campanhol
Clara Belchior
Guilherme Rola
Luis Carlos
Ilustrações
Camila Moura
Carlos Eduardo (Caricaturas)
Freepik.com
Projeto Gráfico
Bruno Martins
Eric Mateus
José Luan
Marcos Esterdi
Vildner Janei
Victor Grande
Diagramação
Bruno Martins
Eric Mateus
José Luan
Thiago Peres
Orientação
João Turquiai Jr.
Impressão
MX Gráfica
expediente
Redatores A falta de luzes para a trilha do conhecimento
editorial
SAÚDE
Cheese Abacaxi
pág. 07
Coiseras
pág. 06
Que bicho é esse?
pág. 20
NANOTECNOLOGIA
Novos rumos na Agricultura
pág. 16 à 19
CAPA
Bateria, não acabe agora!
pág. 12 à 15
Feira: a farmácia da natureza
pág. 08 à 11
SUMÁRIO
Pra lá da porteira!
pág. 21
TECNOLOGIA
O Futuro é das máquinas
pág. 26 à 29
INOVAÇÃO
Antidoto à vista
pág. 30 à 33
EDUCAÇÃO
Acessibilidade na palma da mão
pág. 34 à 37
BEM-ESTAR
Hora do banho
pág. 38 à 41
ARTIGO
Do laboratório
direto para sua casa
pág. 42
ENTREVISTA
Nelson Travnik, falando
diretamente do mundo da Lua
pág. 22 à 25
A pesquisa realizada por Ga-
briel Giancristofaro, do Instituto
de Ciências Matemáticas e de
Computação (ICMC) da USP,
em São Carlos, com o auxílio de
uma técnica computacional pode
determinar, automaticamente, se
os usuários do Instagram estão
felizes ou insatisfeitos.
Por meio de um algoritmo, é
possível analisar as imagens e
textos (legendas e comentários)
que são postados na rede social e
classificá-los como positivos ou
negativos.
O computador conta quantas
palavras tem cada frase e iden-
tifica, por exemplo, se o usuário
escreveu termos ofensivos, elo-
gios, algo em maiúsculo, ou en-
tão se repetiu alguma letra para
dar ênfase a um argumento. A
análise é feita juntamente com a
imagem para que o resultado seja
mais próximo da verdade, tendo
em vista que, às vezes, a pessoa
está sendo irônica no texto.
Tá feliz ou tá na bad?³
A Escola de Engenharia de São
Carlos da USP lançou uma son-
da experimental à estratosfera,
na missão denominada Garatéa.
O experimento consistiu em
enviar microrganismos encon-
trados em ambientes extremos
da Terra a fim de analisar seu
comportamento nas diversas
condições de estresse da alta
atmosfera.
Os alunos desenvolveram o
módulo com um sistema em-
barcado simplificado, que subiu
à estratosfera por meio de um
balão de gás hélio. Devido à
baixa pressão na altitude dese-
jada, o balão rompeu-se e o
aparelho retornou ao solo com
segurança por meio de um para-
quedas especialmente desen-
volvido para esse fim.
A proposta do grupo é desen-
volver e difundir tecnologias
aplicadas ao setor aeroespacial
para estimular e ampliar visibili-
dade dessa área no Brasil.
Houston, tamo chegando!²
Buscando uma maneira de
aproveitar esses resíduos desper-
diçados pelas construções civis,
o pesquisador Marcos Machado,
da Esalq/USP (Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz/
Universidade de São Paulo),
resolveu estudar esses materiais e
analisar qual a melhor forma de
reaproveitamento.
O pesquisador coletou diversos
materiais pela cidade e começou
a fazer os testes para melhor
aplicação, os materiais são tritu-
rados e com isso acabam geran-
do os “agregados”, que são mate-
riais que apresentam semelhança
às características minerais aos de
solos naturais. O estudo com-
prova que os resíduos descarta-
dos pelas construções podem ser
utilizados em cultivo de plantas,
dando a elas mais vidas e é uma
ótima fonte de nutrientes.
construindo plantas
mais saudáveis¹
Fontes: ¹Acom/Esalq ²EESC-USP ³ ICMC/USP
6
1
7
COLETA
ANÁLISE DAS
CONCENTRAÇÕES
TÓXICAS
ANÁLISE DE
FEITOS SOBRE
ORGANISMOS VIVOS
AVALIAÇÃO DAS
PROPRIEDADES
AGRONÔMICAS
CORREÇÕES NECESSÁRIAS
PARA A EFICIÊNCIA
DO MATERIAL
Etapas do
processo de
produção dos
agregados:
ANÁLISE DE
NUTRIENTES
TRITURAÇÃO
DOS RESÍDUOS
E
Cheese Picanha, Cheese Bur-
guer ou Triplo Burguer, quanta
tentação em um simples ham-
búrguer? Só de ler, tenho certeza
que você já mentalizou uma sa-
borosa mordida em seu sanduí-
che preferido.
Se você não tem problemas de
saúde e não precisa se importar
com o alto teor de gordura, co-
lesterol, gastrite, seja lá o que for,
você com certeza come um des-
ses hambúrgueres à vontade, e se
puder, ainda repete o feito, sem
pensar que isso pode ser prejudi-
cial a sua saúde.
Pensando em um consumo
saudável e nutricional des-
se alimento, a dou-
toranda em
Ciência e
Tecnologia de Alimentos da Es-
cola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz (Esalq/USP),Miriam
Selani, teve a ideia de estudar e
utilizar subprodutos do processa-
mento de frutas: maracujá, man-
ga e abacaxi, para que o alto teor
de gordura consumido ao comer
um hambúrguer seja alterado por
teores de fibras. Após a análise
das frutas e testes, o abacaxi aca-
bou sendo o mais adequado para
o desenvolvimento alimentício,
com isso, foram criados dois pro-
dutos: hambúrguer bovino com
fibra de abacaxi e óleo de canola
– substituto parcial da gordura e
extru-
sado de milho enriquecido com
fibra de abacaxi.
O estudo realizado em parceria
com o The Food Processing Cen-
ter, Department of Food Science
and Technology da University of
Nebraska/Lincoln, dos Estados
Unidos, é uma alternativa posi-
tiva para os consumidores que
desejam obter produtos mais
saudáveis, levando em conside-
ração os benefícios encontrados
no abacaxi, sem contar que é de
baixo custo e de fácil acesso. Os
hambúrgueres foram observados
e consumidos por provadores
treinados que analisaram da cor
até a suculência da carne. Segun-
do os provadores, o hambúrguer
de abacaxi e óleo de canola é
similar ao produto con-
vencional em todos os
tributos avaliados.
O hambúrguer
de abacaxi é um
alimento pro-
missor, pois
além de ter
vários be-
n e f í c i o s
nutricio-
nais, ele
pode ser be-
néfico à po-
pulação, bas-
ta saber se vai
agradar aos con-
sumidores e se terá
tanto sucesso como os
tradicionais. Já podemos
anotar o seu pedido?
cheese abacaxi
7
Saúde
8
Imagem | Camila Moura
9
A fruta dos deuses, a romã,
considerada pelos gregos como
símbolo de amor e fecundidade
também tem poderes medici-
nais. Sua casca, que geralmente é
descartada, pode ser mais bené-
fica à saúde do que imaginamos.
A casca da fruta possui uma
grande quantidade de substân-
cias que ajudam no combate ao
Alzheimer. A pesquisa realizada
por Maressa Mozerlle, doutora
em Ciência e Tecnologia de Al-
imentos da Esalq/USP (Escola
Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz). Testes feitos em an-
imais mostraram que aqueles
que foram tratados com a romã
apresentaram uma manutenção
na memória, o que não aconte-
cia com os animais que não eram
tratados com a fruta. Portanto,
não se esqueça dela na próxima
vez que for à feira!
Pesquisa realizada pela nutri-
cionaista Gizele Barankevicz,
da Esalq/USP, em parceria com
a FOP/Unicamp (Faculdade de
Odontologia de Piracicaba/Uni-
versidade Estadual de Campi-
nas), aponta que a cúrcuma (ou
açafrão-da-terra), aquele tem-
pero que deixa o arroz amere-
linho, é importante no preparo
de medicamentos, inclusive para
combater sintomas de depressão.
A cúrcuma é capaz de reduzir al-
guns comportamentos análogos à
depressão humana.
Durante os testes realizados, ra-
tos foram colocados em um tan-
que com água, e permaneceram
parados, sem expressar reações,
com um comportamento típico
deprimido. Ao ser aplicado a cúr-
cuma, eles começaram a esboçar
reações positivas, tentando na-
dar e fugir da situação, indican-
do que o composto tem sim, um
resultado positivo no combate à
depressão humana.
Lembra quando sua mãe dizia
que comer brócolis faz bem? Pois
é, ela estava certa! Um estudo
realizado por Patricia Bachiega,
pós-graduada em Ciência e Tec-
nologia de Alimentos, avalia o
efeito do brócolis suplementado
com selênio, durante seu cultivo,
no combate ao câncer em dois
aspectos: antioxidante e anti-
proliferativo. A pesquisa aponta
que a biofortificação indica au-
mento na atividade antioxidante
do vegetal. Seis tipos de células
tumorais foram utilizadas para
avaliar a atividade antiproliferati-
va: glioma (tumor em célula cere-
bral), mama, rim, pulmão, cólon
e queratinócito (célula produtora
da queratina) humano.
Os brotos não biofortificados
têm sua atividade antiprolifer-
ativa maior em células de rim e
mama, enquanto que os bioforti-
ficados apresentam a capacidade
de paralisar o crescimento desses
tipos de células. Ambos apresen-
tam capacidade para paralisar o
crescimento de células de rim,
mas as com selênio também são
capazes de induzir células de gli-
oma à morte.
O chá verde é o queridinho das
dietas: é de baixa caloria, possui
ação antioxidante, combate o co-
lesterol ruim, ajuda na digestão e
uma infinidade de coisas. Agora
há mais um motivo para ele fazer
parte da sua alimentação!
Estudos realizados na Facul-
culdade de Medicina da Unesp
(Universidade Estadual Paulista)
de São José do Rio Preto, pela
professora Paula Rahal, demon-
stram que um composto natural
encontrado no chá verde é capaz
de inibir a atividade do zika vírus.
A substância capaz de realizar tal
ação, o epigalocatequina galato
(EGCG), bloqueou a entrada do
vírus em células cultivadas em
laboratório.
O composto já é utilizado no
combate a outros tipos de vírus,
como o da hepatite C,influenza e
HIV. A pesquisa buscava atestar
se os mesmos efeitos seriam ob-
tidos para o zika vírus, o que foi
comprovado.
Comer manga e beber leite
mata? Essa era uma das grandes
dúvidas da nossa infância. Agora,
você já deve saber que isso era só
mais um mito.Mas comer manga
pode ser muito bom no combate
à diabete: é o que constatou um
grupo de pesquisadores da Esalq/
USP.
A grande quantidade de fibra
encontrada na fruta apresenta
efeito hipoglicemiante, processo
que leva a liberação da glicose
no estômago para o intestino e a
absorção mais lenta pelo organ-
ismo, evitando que seus níveis se
elevem de modo muito rápido e
intenso no sangue.
Na pesquisa, foram analisados
dois grupos de diabéticos. Um
deles recebeu uma dieta conten-
do 5% de manga e o outro uma
dieta sem a fruta, mas com out-
ros alimentos que controlam a
doença. Os resultados apontaram
uma baixa de 64% de baixa no
nível de glicemia dos pacientes
que receberam a manga.
A manga pode ser consumida
in natura ou em sorvetes, sucos,
saladas,mas com moderação,pois
a fruta é bem calórica. Ah, e rou-
bar manga é errado...
Além de saudáveis, as frutas
têm propriedades que vão além
do bem-estar, contribuindo para
que se evitem doenças. A pesqui-
sadora da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da Unesp de Ar-
araquara, Paula Souza Ferreira,
é autora de pesquisa que explora
o uso de flavanonas, compostos
encontrados em frutas cítricas
como laranja, limão e lima, que
agem como antioxidantes no or-
ganismo.
Os compostos têm surtido
efeito na dieta de camundongos,
roedores cuja genética é próxi-
ma à do ser humano. A ação das
flavanonas diminuem efeitos rel-
acionados ao excesso de gordu-
ra corporal. “Essas quantidades
foram capazes de diminuir a
perda de equilíbrio entre pro-
dução e eliminação de espécies
reativas do oxigênio no sangue
e fígado e impediram o aumen-
to da inflamação sistêmica nesses
animais. Isso é importante, pois
a inflamação crônica sistêmica
encontrada em grande parte de
pessoas obesas tem sido apontada
como sendo a causa de alterações
em órgãos importantes como o
fígado, levando ao desenvolvi-
mento de resistência à insulina,
ao alto nível de colesterol no
sangue e também à hipertensão
arterial”, explica a pesquisadora.
A bateria do celular sempre acaba naquele momento em que você mais precisa
dela. Projeto inovador pode fazer com que ela dure um pouco mais!
P
rovavelmente você já deve ter se
perguntado por que os smartpho-
nes estão cada vez mais modernos
e a bateria dura cada vez menos? Por que
não criam uma bateria mais resistente?
Bem, a resposta parece meio óbvia: para
o mercado, baterias mais duradouras
não são atrativas. “Com certeza existem
métodos para a criação de baterias mais
duráveis. E são aplicados quando há o
interesse, ou seja, custo benefício aten-
dido. Mas para o mercado atual fator
primordial ainda é a reposição em larga
escala pelo produto mais barato”, afirma
o mestrando em Tecnologia Leonardo
Rey Oliveira Lopes.
Texto | Thiago Peres
Imagem | Guilherme Rola
Bateria,não
acabeagora!
Capa
12
Claro que toda a tecnologia
do aparelho também contribuiu
para que as baterias durassem
cada vez menos, principalmente
a integração das redes 3G e 4G.
“É perceptível que em aparelhos
com acesso à internet, a bateria
dura muito menos. Antes tinha
telefones que a bateria durava
uma semana e, de repente, os no-
vos duravam um dia, no máximo.
Era preciso entender o motivo
disso”, avaliou Varese Salva-
dor Timóteo, professor e físico
formado na Unicamp (Univer-
sidade Estadual de Campinas),
ainda em 2009, quando iniciou
suas pesquisas que resultaram
no desenvolvimento de uma
metodologia capaz de gerar até
20% de economia em consumo
de energia em dispositivos com
acesso 3G e 4G.
Avaliação inicial. As medições
feitas nos aparelhos conectados
e desconectados apontavam os
novos canais implementados
para fazer a transmissão de
dados como os responsáveis por
aumentar o consumo de energia.
Isso ocorreria inevitavelmente
durante o uso da conexão de da-
dos, porém, neste caso, as coisas
não eram tão óbvias assim. “Um
dos problemas que nós percebe-
mos é que, muitas vezes, mesmo
quando os canais não estão sen-
do usados, eles ainda estão liga-
dos. O telefone tem um esquema
de funcionamento que desliga os
canais automaticamente quando
não utilizados e, mesmo assim,
os canais continuavam ligados
sem necessidade alguma”, explica
Timóteo.
Sempre Conectado. Segundo
o professor, uma das razões é o
que os especialistas chamam de
“Always On”, ou seja, Sempre
Online. Para Timóteo, criou-se
o conceito de que, se o aparelho
tem acesso à internet, ele deve
estar sempre conectado. “Você
não acessa o Facebook apenas
quando quer. Se alguém te man-
da uma mensagem, o telefone já
avisa, mesmo que você não que-
ira saber. E é isso que, no fundo,
faz com que ele gaste mais ainda,
pois o telefone fica o tempo
todo ligando os canais pra poder
pegar uma notificação deste tipo
de aplicativo”, explica.
Para solucionar este problema,
foi criada uma metodologia que
prevê o melhor momento para
ativar ou desativar os canais de
dados. Cada vez que os canais
são ativados, provenientes das
notificações, há um tempori-
zador que determina o quanto
tempo ele ficará ligado até ter a
certeza de que não receberá mais
nenhuma mensagem, para então,
ser desligado novamente. De
acordo com a pesquisa, cada op-
eradora determinou um valor de
tempo padrão, mas este sistema é
ineficiente, pois o valor do tem-
porizador não é adequado para
qualquer condição de tráfego dos
Desative o GPS
O GPS gasta muita bateria. Por isso,
mantenha-o desativado quando não for
necessário.
Desative as conexões
Não se esqueça de desativar o Wi-Fi e o
Bluetooth quando não estiverem em uso,já
que essas funções consomem bastante energia.
Controle do brilho
Bateria baixa? Reduza o brilho da tela imedi-
atamente.
Atualizações Automáticas
Deixar o smartphone nas atualizações au-
tomáticas é mais simples e até mesmo efici-
ente, porém sua bateria vai por água abaixo
sem você nem mesmo perceber.
Sem vibração
Tudo o que é feito no aparelho consome energia.
Caso você não esteja realmente precisando deste
recurso, desative-o.
Dicas para economizar bateria
14
dados.
Filtro da Kalman. Os pesqui-
sadores utilizaram no método
de previsão o modelo matemáti-
co criado por Rudolf Kalman,
conhecido como filtro de Kal-
man. Este filtro permite prever o
fluxo de pacotes recebidos pelo
dispositivo móvel. Deste modo,
a solução funciona dinamica-
mente em tempo real conforme
o tráfego da rede. Isso porque o
aparelho já não depende mais
dos valores fixos estipulados
pela operadora da rede. Com
o sistema, não são necessárias
alterações no padrão da rede,
nem no hardware do aparelho.
Os testes foram feitos apenas em
dispositivos Android. Porém, a
metodologia pode ser aplicada
em dispositivos com iOS, Bada,
Windows Mobile, B2G e de-
mais sistemas operacionais.
Sem você eu não
vivo!
Você provavelmente não se
lembra de como era a vida sem
celular, sem conexão 24 horas
por dia, ter o mundo todo na
palma da sua mão. Sem isso, o
mundo não funciona mais. Mas
e você? Funcionaria? O que seria
da sua vida um dia sem celular?
Os tempos modernos criam
também dependências moder-
nas. Uma delas é a Nomofobia,
causada pelo desconforto ou
angústia resultante da incapaci-
dade de comunicação através de
telefones celulares.
De acordo com uma pesqui-
sa britânica, 53% das pessoas
entrevistadas se sentem ansiosas
por causa da falta de bateria
ou crédito no celular. A mes-
ma porcentagem garante ficar
estressada em pensar na possib-
ilidade de perder o aparelho ou
de ficar sem sinal. “A tecnologia
veio como uma revolução no
processamento e velocidade da
informação, deixando todos
dependentes dela. A facilidade
de se estar conectado ao mundo
fez do ser humano um escravo
tecnológico”, explica a psicóloga
Maria Telma Moro.
Desespero. A estu-
dante Danielle Regi-
na de Souza Pereira,
21 anos, ganhou seu
primeiro celular aos 12
e de lá para cá não con-
seguiu mais ficar sem o
aparelho.“O
maior
tempo que
fiquei sem
celular foi
pelo período
de um dia,
quando
furtaram
meu tele-
fone, porém
no dia seguinte
providenciei um
novo”, conta. Ela também con-
fessa que não pode nem pensar
em ficar sem bateria.“Eu utilizo
o dispositivo na maior parte do
meu dia, assim que recebo o
alerta de bateria fraca, fico muito
aflita e a primeira coisa que faço
é procurar meu carregador, que,
a propósito sempre está comigo”,
diz.
Segundo a psicóloga Maria
Telma, a compulsão digital já foi
comparada em estudos tal qual a
dependência de cocaína.“Como
em qualquer dependência, per-
deu-se o controle sobre o tempo
de uso do celular, por conta da
facilidade de acesso, podendo
causar transtornos psicológicos
como depressão, crise de ab-
stinência, tal como nos depen-
dentes químicos, estresse digital,
ansiedade, queda no rendimento,
piora na qualidade de vida”,
alerta.
Quebrando mitos
1) Não é necessária a carga
inicial de 24 horas na bateria,
ou esperar que a carga com-
plete antes de usar o aparelho
pela primeira vez.
2) A bateria não “vicia” se você
tirar do carregador antes
dela carregar 100%.
3) Também não precisa
esperar a bateria descar-
regar totalmente antes
de recarregá-la novamente,
isto não muda a vida útil do
aparelho.
Acompulsãodigital
jáfoicomparada
emestudostal
qualdependência
decocaína
15
novosrumos
naagrigultura
Nanopesticidas trazem menos poluição, mais efetividade e aumentam
a segurança destes compostos
D
efensivos agrícolas fazem parte
da realidade de produtores de
diversos tipos de alimentos. O
impacto que causam pode ser diminuído
graças à nanotecnologia. O uso de agro-
tóxicos na produção de alimentos é uma
questão abrangente, que afeta diferen-
tes temas, como meio ambiente, saúde
humana e o possível desenvolvimento de
resistência por parte das pragas agrícolas.
Texto | Joel Felipe Horácio
Imagem | Camila Moura
Nanotecnologia
16
O professor Leonardo Fra-
ceto, da Unesp (Universidade
Estadual Paulista), de Sorocaba,
que lidera pesquisas em nano-
tecnologia aplicada à agricultu-
ra na instituição, desenvolveu,
juntamente de sua equipe, na-
nopesticidas, que seriam como os
pesticidas presentes no mercado,
a não ser pelo fato de que são
absurdamente menores.
Este fato permite aplicar as
substâncias que controlam pra-
gas nas plantas de forma mais
econômica, já que é lançada uma
quantidade mínima da solução, e
efetiva, pois a chance de conta-
to com o inseto problemático é
muito maior.
Dentre os resultados obtidos
nesse campo de pesquisa, Fra-
ceto aponta a formulação de um
nanoherbicida, reduzindo a toxi-
cidade do então herbicida, o que
contribui para um menor impac-
to ambiental. “Com a nanofor-
mulação, conseguimos reduzir
em dez vezes a concentração do
herbicida e obtivemos o mesmo
grau de efetividade, fato esse que
faz com que possamos aumentar
a segurança desses compostos”,
comenta.
Pequeno no tamanho, grande
no resultado. Como deixar o
herbicida, que, já na pulveri-
zação, é liberado em gotículas,
ainda menor? A resposta é a
encapsulação da solução, ou seja,
envolver o produto em matrizes
poliméricas ou lipídicas. Com
isso, o princípio ativo é capaz de
ultrapassar a cutícula cerosa do
vegetal (cobertura de cera imper-
meabilizante que evita a perda
de água para o ambiente, prote-
gendo-o de traumas mecânicos
e infecções) com mais eficiência,
bem como é reduzida a perda
do material por decomposição ao
entrar em contato com luz.
Professora de Química e dou-
tora em Geociências, Gislaine
Barana Delbianco explica que,
com as matrizes poliméricas e
lipídicas, o nanoherbicida ganha
em precisão. “Se lançado dire-
tamente, o herbicida atingiria
diversos seres vivos, e, além disso,
um desastre ambiental seria cau-
sado, pois não haveria o controle
dessas substâncias. Com as ma-
trizes, o composto é liberado na
hora certa, impedindo que o na-
noherbicida atinja os seres vivos
que não são alvos do produto.
Como exemplo, remédios têm
cápsulas poliméricas, que são fei-
tas para serem quebradas dentro
do nosso estômago – da mesma
forma, o produto vai se quebrar
dentro da planta, não no ar”.
Agrotóxicos e meio ambiente.
Para Gislaine, o uso de defensi-
vos agrícolas é indispensável para
suprir a demanda mundial por
alimentos. Além disso, a profes-
sora aponta o despreparo huma-
no ao manipular esses compostos
como um dos problemas que
levam à contaminação do meio
ambiente. “Com relação ao uso
de agrotóxicos, tudo depende
da dosagem. São como medica-
mentos: tornam-se venenos em
quantidades altas, mas em quan-
tias dosadas trazem benefícios.
Existem sete bilhões de pessoas
Um nanômetro
(nm), corres-
ponde a um
bilionésimo do
metro, ou seja,
um metro di-
vidido por um
bilhão!
Com a nanoformu-
lação, conseguimos
reduzir em dez
vezes a concentração
do herbicida e
obtivemos a mesma
efetividade
Foto: Dusan Kostic/Fotolia
18
no planeta. É impossível alimen-
tar toda a população sem esses
artifícios. O problema é a falta
de conhecimento das pessoas,
resultando em uso inadequado e
desproporcional”, defende.
Consequências do exagero.
Professora de Biologia, Valdineia
Silveira indica que o uso inade-
quado de agrotóxicos prejudica
tanto humanos quanto animais,
bem como afeta lençóis freáti-
cos e interfere na população de
micro-organismos que têm um
papel importante na reciclagem
de matéria orgânica. “Havendo
contaminação do solo a ponto de
interferir no processo natural de
reciclagem da matéria orgânica,
isso afeta, também, em longo
prazo, todo o processo de fotos-
síntese e, consequentemente, a
produção de O2, o que poderia
causar um desequilíbrio ambien-
tal preocupante. Em casos de uso
excessivo de alguma substância,
há a tendência de que organis-
mos atingidos se tornem mais
resistentes; ocorre a seleção na-
tural”, pontua.
Going on! Para dar continui-
dade à pesquisa, Fraceto firmou
parceria com grupos tanto no
Brasil quanto no exterior. Um
exemplo recente de parceria
internacional para o estudo de
nanotecnologia na agricultura e
meio ambiente é a firmada com
a escocesa Heriot-Watt Uni-
versity. “Nesta temática, cabe
destacar que não é um trabalho
apenas de meu grupo de pes-
quisa.Tenho muitas colabora-
ções nacionais e internacionais
que fazem com que possamos
desenvolver um trabalho com
caráter multidisciplinar. Nessa
abordagem, conseguimos extrair
a expertise de cada um dos gru-
pos colaboradores e os resultados
tem sido formidáveis”, finaliza.
1º Brasil
2º EUA
US$ 7,3 bilhões
3º China
5º França
4º Japão
US$ 2,8 bilhões
US$ 3,3 bilhões
US$ 4,8 bilhões
US$ 10 bilhões
Os países que mais utilizam agrotóxicos no mundo (em bilhões)
19
O professor e pesquisador
da Ufscar (Universidade Fed-
eral de São Carlos), de Araras,
Ricardo Fujihara, desenvolveu
um sistema digital de identi-
ficação de insetos de interesse
econômico. Com isso, a tarefa
de identificação e estudo de in-
setos que podem ser utilizados
de alguma forma torna-se mais
fácil.“O sistema foi desenvolvi-
do para atender a uma carên-
cia observada, a de materiais
relativos à Entomologia Geral,
ou seja, o estudo dos insetos, no
Brasil”, comenta.
Desenvolvimento. Foram
realizados levantamentos bi -
bliográficos em livros nacionais
e estrangeiros de Entomologia,
coleta de insetos em campo,
identificação de insetos em
laboratório e visitas a coleções
de referência e museus.
Após essas etapas, o sistema
digital foi construído, com a
inserção de fotografias e es-
quemas com a anatomia dos
animais, além de recursos como
animações 3D e glossário de
termos técnicos.“As imagens
em alta resolução foram pio-
neiras, aumentando a confi-
abilidade na identificação das
principais famílias de insetos
de importância econômica do
Brasil”, relata.
Predadores naturais. Doutor
em Ciências Biológicas, Gi-
uliano Grici Zacarin indica a
função de insetos capazes de
eliminar outros, considerados
pragas, contribuindo com o
ser humano.“Os predadores
procuram ativamente suas
presas, alimentando-se delas.
Eles podem ocorrer em grande
abundância em ambientes
agrícolas manejados de forma
adequada para a manutenção
do controle das diversas pra-
gas. Existem ainda os insetos
denominados parasitoides, que
geralmente colocam seus ovos
na superfície ou dentro de out-
ros insetos, seus hospedeiros,
destruindo-os durante o seu
desenvolvimento, contribuindo
assim, para o controle biológico
natural de pragas”, comenta.
Dentre os insetos economi-
camente importantes é possível
contabilizar as formigas la-
va-pé, vespas, etc. “Os insetos
são vitais para o meio ambiente,
pois contribuem para a reci-
clagem de muitos nutrientes e
são excelentes polinizadores”,
finaliza.
Que bicho é esse?
Se alimentam
geralmente de
néctar e são os
mais impor-
tantes agentes
de polinização,
inclusive de
diversas culturas
agrícolas, além
de produzirem
mel, própolis,
geleia real, cera.
Ricos em
proteínas, os
insetos com-
plementam o
cardápio de
aproximada-
mente dois bil-
hões de pessoas
em muitos países
ao redor do
mundo, predom-
inantemente em
partes da Ásia,
África e América
Latina.
Produtor de fios
de seda. Ao fim
de um período
de pouco mais de
um mês, a lagar-
ta torna-se ama-
relada e começa
a segregar um
fio que usa para
formar o casulo.
É esse casulo que
serve de fonte
para a seda.
Abelhas Gafanhotos Predadores Bicho-da-Seda
Durante todo
seu ciclo de vida
ou parcialmente
são organismos
de vida livre que
buscam ativa-
mente e matam
suas presas.
Normalmente
são maiores que
suas presa e pre-
cisam de mais do
que uma presa
para completar
seu ciclo de vida.
Alguns insetos bem comuns são muito importantes para a economia, seja na
agricultura, na alimentação ou em outros produtos utilizados no cotidano!
20
pra lá da
porteira!
“Papo Reto”, jogo que faz
parte do projeto “Gênero, sexo e
sexualidade: um diálogo entre o
lúdico, a intimidade e o contexto
de vida dos adolescentes”, criado
pela professora Vânia de Souza,
do Departamento de Enferma-
gem Materno-infantil e Saúde
Pública da UFMG (Universi-
dade Federal de Minas Gerais),
é um simulador de vida em que
jovens de 15 a 18 anos criam
personagens e debatem questões
sobre sexo e sexualidade em am-
bientes que simulam casa, escola,
rua e balada, sem a interferência
de adultos.
Segundo Vânia de Souza, a
experiência no trato com os
jovens mostrou que eles não se
sentem confortáveis para falar
sobre sexualidade com adultos e
pessoas mais velhas. A professora
destaca a necessidade de se criar
novas maneiras de abordar o
assunto com os jovens. Os jovens
criam perfis nas plataformas para
interagir entre si, após os pais
assinarem termo de consenti-
mento.
A estudante paranaense Maria
Vitória Valoto, desenvolveu um
projeto benéfico a quem tem in-
tolerância à lactose – substância
encontrada em produtos como o
leite e seus derivados.
O resultado da pesquisa é uma
cápsula que possui a enzima
lactase, uma substância que “der-
ruba” a lactose. A cápsula pode
ser reutilizável e traz mudanças
aos produtos, facilitando a vida
das pessoas, que passam a con-
sumir alimentos sem nenhuma
restrição. Para Maria, a criação
é promissora, uma vez que não
existem muitos remédios que
possam combater a lactose, e
a cápsula tem um custo bem
menor.
Toma esse
block²
Pesquisadores da Universidade
Federal do Pará (UFPa) reuti-
lizam materiais como copos
de café descartados e cascas de
coco de babaçu, para fazer pisos
para moradores de comunidades
carentes.
Para isso, a engenheira mecânica
Poliana Borges Bringel, analisou
os lixos e concluiu que a casca de
babaçu junto com o copo de café
formam uma mistura consistente
e ideal para ser transformados
em pisos. Além de ajudar as
comunidades carentes, o “piso
ecológico”, traz vários benefícios:
menor preço, conforto térmico e
menos peso.
A qualidade do produto é sem-
elhante aos pisos disponíveis no
mercado.
#fale
mais de
sexo³
Ecopiso¹
A Ciência além do Interior
Fontes: ¹Portal UFPA²Agência Brasil ³Portal de notícias da UFMG
21
NelsonTravnik,
falandodiretamente
domundodaLuaNenhum brasileiro foi à Lua (ainda), mas de certa forma ajudou a
chegar lá. Quer saber como? Então senta que lá vem história!
D
urante as aulas de ciências, na
escola, nós aprendemos muitas
coisas que os astrônomos e espe-
cialistas chamam de “astro-bobagens”. Por
exemplo: o Sol nasce sempre no Leste e se
põe sempre no Oeste, certo? Nem sempre!
Isso ocorre apenas duas vezes: nos equinó-
cios (ocasiões em que o dia e a noite duram
exatamente o mesmo tempo) de outono
e primavera. Quando observamos o pôr-
-do-sol, diariamente, ao longo de um ano,
notamos que, em certa época, o fenômeno
ocorre no horizonte mais à nossa esquerda
e, em outra, mais à direita. Uma astro-
bobagem não é exatamente uma informa-
ção errada, mas “uma informação ensinada
de uma maneira que seja mais fácil para
compreender”, explica Nelson Travnik.
Texto | Andressa Cristina e Thiago Peres
Imagem | Thiago Peres
Entrevista
22
Nelson Travnik é um astrônomo
brasileiro, professor, escritor e
fundador de diversos observa-
tórios, como o Observatório
Astronômico Flammarion, em
Matias Barbosa/MG, o Obser-
vatório Municipal de Americana
e do Observatório Astronômico
de Piracicaba (ambos no inte-
rior de São Paulo). Além disto,
Travnik foi um dos cinco obser-
vadores do país credenciados da
NASA-JPL durante as missões
Apollo (1968-1972) e tem seu
nome registrado no Dicionário
Enciclopédico de Astronomia e
Astronáutica.
Segundo Travnik, a astronomia
nos dias de hoje é fundamental
para a sobrevivência humana:
são os satélites artificiais que
mantêm alertas meteorológicos
que contribuem economicamen-
te na agricultura, que preveem
desastres naturais, salvando
vidas.Também são responsáveis
pelo funcionamento do GPS
(santo Waze), além de moni-
toramento diário de tudo o
que ocorre no espaço que pode
influenciar na vida na Terra. “Se
não fosse a astronomia o mundo
ainda estaria pelo menos 60 ou
70 anos atrasado em termos de
tecnologia”, afirma.
A equipe de reportagem da
Ciência Caipira foi até o Obser-
vatório Astronômico em Piraci-
caba e conversou com Travnik.
Quando você se interessou pela
astronomia?
Foi por meio de um amigo que
começou a me mostrar o céu. Eu
nunca havia olhado para o céu
antes. Comecei a observar, co-
nhecer as constelações, a locali-
zação dos planetas. Depois disso,
outro amigo se juntou conosco
e fundamos um observatório.
Observatório Astronômico
Flammarion, em homenagem
ao grande astrônomo francês
Camille Flammarion, em 1954.
Foi aí que tudo começou?
Exatamente. Fundamos o
observatório apenas com inte-
resse científico, compramos um
telescópio, depois um maior.
Realizamos várias constatações
científicas, o observatório come-
çou a ficar famoso em Minas, e
em 1976 o prefeito de Campinas
resolveu construir um obser-
vatório em Campinas, um dos
maiores, e me convidou para
trabalhar lá. Era o que eu queria,
pois, até então, o que eu fazia era
puro amadorismo, eu não tinha
formação em astronomia, era a
chance da minha vida para me
dedicar inteiramente a isto.
Como um observador do céu, já
sonhou em ser astronauta?
Na verdade nunca tive essa
aspiração. Pra ser um astronauta
é preciso passar por uma série de
testes e treinamentos em uma
estação espacial, pois as condi-
ções no espaço são completa-
mente diferentes das da Terra.
É muito difícil, é um escolhido
entre milhões!
Você participou da equipe
de observadores do Projeto
Apollo, que levou o homem à
Lua. Como foi isso?
Em 1968, quando a NASA
começou a realizar o Projeto
Apollo, e naturalmente, quando
você vai pisar em um solo desco-
nhecido, primeiro é preciso fazer
um reconhecimento. E havia al-
gumas preocupações, para saber
se acontecia alguma coisa na Lua
que poderia colocar em risco in-
tegridade física dos astronautas,
coisas desse tipo. Diante dessas
questões, criou-se o Programa
Internacional de Observações
Lunares do Projeto Apollo. O
Brasil participou do Programa e
foram escolhidos os cinco mais
experientes observadores lunares
do país, eu era um deles.
E você fez alguma constatação
importante neste programa?
Na lua, existem alguns
fenômenos que até hoje não
têm explicação e aqui no
Brasil foram feitas consta-
tações importantíssimas
24
Havia centenas de observadores
na época, todos observando a
Lua. Lá acontecem alguns fenô-
menos que até hoje não tem ex-
plicação e aqui no Brasil foram
feitas constatações importantís-
simas. Inclusive uma constatação
que eu fiz, observamos uma
espécie de ‘bruma luminescente’,
provavelmente emanação gasosa.
Entramos em contato com o
consulado americano no Rio de
Janeiro, que comunicou a NASA
e posteriormente a constatação
foi confirmada pelos astronautas.
Esta foi a sua maior descoberta
ou teve mais alguma?
É um pouco de pretensão falar
em descoberta, obviamente são
feitas descobertas, uma Su-
per Nova aparecer, cometas se
descobrem. Eu particularmente
nunca fiz descoberta nenhuma,
observei muitas coisas interes-
santes, foram coisas que aconte-
ceram quando eu estava obser-
vando naquele momento e que
ninguém mais viu quando eu vi.
E você continua observando a
Lua até hoje?
Sim. Muitas pessoas pensam
que não existe mais nada na
Lua para se observar e isto é
um grande erro. Há centenas de
coisas na Lua que precisam ser
observadas. Fenômenos que, fu-
turamente, colocarão em risco as
bases lunares que serão constru-
ídas lá pelos americanos, pelos
europeus, pela China.Todos
esses países estão interessados
nos fenômenos lunares.
Na sua opinião, é difícil ser
cientista no Brasil?
É muito difícil, principalmente
na nossa área da astronomia. As
bolsas (apoio financeiro gover-
namental) são microscópicas,
pois o Brasil não investe nesta
área, aqui não se constrói mais
observatórios. Os investimentos
são feitos para parcerias com ou-
tros observatórios internacionais.
É lá que se trabalha, aqui não!
Mais astrobobagens que você aprendeu na escola!
A Lua gira em torno
da Terra. Na verdade,
ambas giram em
torno de um centro
de gravidade comum.
Se viajássemos
numa nave espacial
até certa distância
veríamos Terra e Lua
dançando como um
par de bailarinos
no espaço.
A Lua não tem um
lado escuro. O mun-
do todo enxerga o
mesmo lado da Lua,
isto não quer dizer
que o lado de lá é
totalmente escuro. A
Lua tem um ciclo de
dia e noite, com cada
centímetro da sua su-
perfície sendo ilumi-
nado pelo Sol por um
determinado período a
cada giro completo.
O dia tem 24 horas.
O dia solar tem 24
horas exatas, esta
é a quantidade de
tempo em que o sol
leva para passar duas
vezes sobre a nossa
cabeça e é assim que
nossos relógios são
ajustados. Porém, a
Terra leva 23 horas e
56 minutos para dar
uma volta toda ao
redor do sol.
A bussola aponta
sempre para o Norte.
Na verdade não. A
bússola aponta para o
Sul. Acontece que as
orientações de Norte
e Sul nos mapas foram
estabelecidas antes de
entendermos o magne-
tismo da Terra. Quando
os cientistas perce-
beram que os polos
magnéticos e geográfi-
cos estavam invertidos,
já era muito tarde...
25
Tecnologia
Ofuturoé
dasmáquinasA tecnologia chegou e tomou conta da humanidade. Cada vez mais
robotizada, o futuro da indústria também será revolucionário
D
urante o século passado, todos
imaginavam os anos 2000
como um mundo totalmente
tomado pelas máquinas e centenas de
invenções mirabolantes. O mundo
hoje pode ser tão tecnológico quanto se
esperava.
Tudo está em constante revolução e
transformação. Na indústria não é
diferente. Cada vez mais as máquinas,
a inteligência artificial e o ambiente
virtual tornam os processos produtivos
mais eficientes, práticos e funcionais,
a exemplo de dois projetos do Labo-
ratório de Sistemas Computacionais
para Projeto e Manufatura (SCPM) da
Faculdade de Engenharia, Arquitetura
e Urbanismo da Unimep (Universidade
Metodista de Piracicaba) – Campus
Santa Bárbara D’Oeste.
Texto | Andressa Cristina e Thiago Peres
Imagem | Freepik
26
27
A Fábrica Digital
tem como principal
foco uma antecipa-
ção e total integração
do desenvolvimento
e planejamento
do produto
Fábrica Digital. Quem já se
divertiu com aquela famosa série
de jogos de simulação que criam
e administram cidades e parques
de diversões, pode ter uma ideia
de como seria organizar um
ambiente fabril virtual e ver
na prática como cada etapa do
processo de produção atua. “O
conceito básico de Fábrica Dig-
ital é um conjunto de métodos e
ferramentas para construção de
modelos virtuais para simulação
de todo o ambiente fabril. Com
o modelo digital são adicionados
parâmetros de funcionamento
da máquina para a simulação
em tempo real e visualização
em 3D”, explica o engenheiro
mecânico Felipe Alves de Ol-
iveira Perroni.
A Fábrica Digital tem como
principal foco a antecipação e
total integração do desenvolvi-
mento e planejamento do pro-
duto, da concepção e Start-up da
planta, ajustada cuidadosamente
para todos os processos produti-
vos. “A simulação pode ser feita
desde o macro, que seria toda a
indústria, verificação de gargalos,
consumo de energia, de recursos,
controle de estoque, assim como
é possível visualizar o micro,
que seria na produção da peça,
entender cada etapa do processo
e como diminuir esse tempo. Em
alguns testes tivemos um ganho
de 41 minutos no final do dia, o
que gera um grande impacto na
empresa”, diz.
Segundo Perroni, até mesmo
a atuação dos funcionários pode
fazer parte do processo de sim-
ulação. “É possível fazer até uma
simulação ergonômica, visualizar
se alguns procedimentos afe-
tarão a saúde do funcionário de
alguma forma, prevenindo lesões
e acidentes laborais”, explica.
Parcerias. A Volkswagen vem
investindo em Fábrica Digital
desde 2006, onde aplicou um
montante de R$8,3 mi em um
conjunto de 50 softwares que
fazem as simulações. Em 2013, a
montadora apontou uma econo-
mia de R$86 milhões em con-
sequência da atuação dos soft-
wares, mais de dez vezes o valor
investido com as simulações. No
mesmo ano, a Volkswagen e a
Unimep assinaram um convênio
de cooperação técnico-educacio-
nal que prevê a implantação da
Fábrica Digital na unidade da
montadora em São Carlos.
A 4ª Revolução
Industrial
Com o mercado cada vez
mais competitivo, mudanças
são necessárias para atender as
demandas, não apenas no que
diz respeito aos custos, uso con-
sciente de recursos, mas também
atender a clientes cada vez mais
exigentes. O programa Industrie
4.0, criado pelo governo alemão,
vem transformando a manei-
ra que as fábricas operam. “O
Industrie 4.0 simboliza o surg-
imento da fábrica inteligente,
onde as máquinas e produtos são
conectados entre si por meio da
Internet das Coisas. Essa inte-
gração permitirá acompanhar
todos os processos de fabricação
através de acesso remoto, uti-
lizando tablet, smartphone ou
qualquer dispositivo com acesso
à internet”, explica Matheus
AS QUATRO
REVOLUÇÕES
INDUSTRIAIS
1780 - 1840
1ª Revolução
Veio com a invenção
das máquinas movidas
a vapor. O trabalho era
assalariado e o tra-
balhador qualificado
era pago por peça. As
ferrovias também foram
um marco da época.
28
Soares, aluno de mestrado em
Engenharia da Produção da
Unimep.
Essa comunicação integrada
entre as máquinas e cada com-
ponente do produto permitirá ao
cliente customizá-lo, de modo
que a própria máquina reconheça
as exigências individuais de cada
peça e, então, a empresa poderá
fornecer alguns dados das etapas
de produção. “Vamos supor que
um cliente queira um celular
com câmera frontal de oito
megapixels e outro queira uma
de 15 (megapixels). Por meio
desta comunicação é possível
essa customização automática e
ele poderá acompanhar da sua
casa em qual estágio o produto
está, quanto tempo irá levar até
ficar pronto”, diz Letícia Ro-
drigues, também engenheira.
Neste processo, o produto se
torna o agente ativo na produção,
contendo informações próprias
de como ele será produzido, em
qual máquina deverá ser opera-
do, qual o componente melhor se
encaixa em determinado proces-
so e assim por diante.
Integração total da fábrica.
Toda essa interação sistemática
reflete não apenas na produção,
mas em tudo o que está ligado
ao funcionamento da fábrica
gerando comunicação entre em-
presa, funcionários, fornecedores
e clientes. “O fornecedor, por
exemplo, poderá ter o controle
do estoque, avisando quando é
necessária reposição.Também o
gerente, em sua casa, pode ter o
controle da fábrica pelo acesso
remoto, saber tudo o que está
acontecendo”, reitera Letícia.
Viva la Revolución. Uma das
grandes preocupações quando
ocorrem mudanças drásticas
no funcionamento das fábricas,
principalmente devido à inserção
de tecnologia, é com relação
aos trabalhadores. Na opinião
de Soares, toda mudança trás
consigo novas oportunidades.
Mesmo com a capacidade da
inteligência artificial em reco-
nhecer determinadas necessi-
dades, a intervenção humana
ainda será necessária. “Nem tudo
será totalmente automatizado,
porém, o perfil do profissional irá
mudar, para que se alcance toda
essa tecnologia, será necessário
mais pessoas capazes de operar
esses sistemas”, afirma.
Embora na Alemanha a pre-
visão para que toda essa trans-
formação aconteça esteja estip-
ulado para 2020, o Brasil ainda
não tem nem estimativas, devido
a defasagem tecnológica do país.
“O país terá que crescer muito
ainda para que seja implementa-
da. Nós ainda nem atingimos o
ápice da aplicação da informática
na nossa indústria, mas, no fu-
turo, todas as empresas terão de
se adaptar a essa realidade para a
própria sobrevivência”, finaliza.
O termo Internet das Coisas
(IoT) é um sistema de dados
que permite a conexão de
internet com tudo o que está
a nossa volta, de modo que
eles se comuniquem entre si.
Desta forma se torna possível
interligar e registrar os dados
sobre cada uma delas as uti-
lizando um smartphone, por
exemplo.
1850 - 1945
2ª Revolução
O alto desenvolvimen-
to industrial pós-guerra,
introduziram a metalúrgi-
ca, siderúrgica e química
como as novas ascendentes
da indústria e trouxe
consigo os novos
métodos de produção.
A partir da década de 70, a
demanda por tecnologia e
mão de obra especializada
foi vital. A computado-
rização, a biotecnologia, a
microeletrônica, a informáti-
ca viraram os pilares em que
se baseia a produção.
1950 - 2000
3ª Revolução
Dias Atuais
4ª Revolução
Indústria 4.0 é um termo que
engloba tecnologias para au-
tomação e troca de dados
e utiliza conceitos de
sistemas ciber-físicos, IoT
e computação em nuvem.
Faciçita a execução de
fábricas inteligentes.
29
A
h, as abelhas. Animais im-
portantes para girar as engre-
nagens do ecossistema, elas
contribuem para polinização de diver-
sas espécies de plantas. Geralmente
elas são retratadas como bichos fofos
e inofensivos pelos meios de comuni-
cação, pois, além de sua importante
função, produzem o mel, entre outras
substâncias úteis a nós.
Texto | Joel Felipe Horácio
Imagem | Wiki Imagens
Antídoto
àvista!
Inovação
Primeiro antídoto contra o veneno da abelha é brasileiro e, pela primeira
vez na história científica, um antiveneno é testado em seres humanos
30
31
Benedito Barraviera, professor
da Unesp e coordenador do
projeto.
Após a extração do veneno,
este é encaminhado ao CEVAP
para sua purificação e preparo do
antígeno de inoculação, (proces-
so no qual os agentes do veneno
são enfraquecidos), para então
depois seguir ao IVB para a hip-
erimunização dos cavalos.
Os estudos para a disponibili-
zação do veneno na rede pública
de saúde estão em fase final,
conforme explica Ferreira Junior.
“Nesta fase avaliamos a segu-
rança do antídoto e encontramos
a me- lhor dose para seu uso.
Para tanto, serão avaliados 10
pacientes adultos e esperamos
finalizar esta fase em dezembro
de 2016”, afirmou. Ao final dos
O Instituto Vi-
tal Brazil (IVB)
está produzindo
um soro anti-
apílico, inédito
no mundo.
Cuidado! Algumas espécies
são perigosas, se provocadas. As
abelhas africanizadas, presentes
ao longo do território nacion-
al, são agressivas e venenosas.
Conforme afirma o professor
Rui Seabra Ferreira Júnior, um
dos desenvolvedores do antído-
to, da Faculdade de Medicina
veterinária e Zootecnia da
Unesp (Universidade Estadual
Paulista) em Botucatu, cerca
de 300 picadas dessas abelhas
podem ser suficientes para matar
uma criança. Já para um adulto,
são necessárias por volta de 500.
Segundo o Ministério da Saúde,
por meio do SINAN (Sistema
de Informação de Agravos de
Notificação), no Brasil, em 2015,
foram registrados aproximada-
mente 12 mil casos, sendo que
houve 42 óbitos.
Esse antídoto, chamado de
soro Antiapílico, foi produzido
em uma parceria multidisci-
plinar da Unesp Botucatu e o
IVB (Instituto Vital Brazil). “A
pesquisa tem cerca de quinze
anos de desenvolvimento tec-
nológico. Foram muitos pesqui-
sadores envolvidos neste período.
No entanto, a grande dificuldade
foi transpor as diferenças que
existem entre a pesquisa básica
e a aplicada. Para isto, tivemos
de adaptar a tecnologia para que
fosse viável sua produção em lar-
ga escala. O CEVAP (Centro de
Estudos de Venenos e Animais
Peçonhentos) da Unesp vem se
destacando em pesquisas transa-
cionais, e já desponta como uma
referência mundial”, explica o
docente.
Para extrair o veneno das abel-
has, que, ao picarem suas vítimas,
deixam o ferrão no corpo do i-
nimigo e pouco depois morrem,
foi utilizado um processo não
letal para o inseto: a eletroestim-
ulação. “É colocada uma placa
com fios elétricos de baixa volt-
agem, para não matar a abelha,
na porta da colmeia. Durante a
manhã elas saem da colmeia. Na
volta, ao pousarem na entrada,
recebem o choque. Aí então elas
picam a placa de vidro, onde é
depositado o veneno”, explana
O soro já está sendo
utilizado em dois hospitais,
já tratamos quatro pacientes
com sucesso
Foto: Clarice Castro/ GERJ
32
testes, a solução será submetida à
ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) para o teste
em um número maior de paci-
entes e em mais cidades do país.
“Tal medida certamente ajudará
a minimizar este problema de
saúde pública negligenciado.
Com isto realizado, já podere-
mos realizar seu registro e assim
o IVB, certamente o entregará
para o Ministério da Saúde, que
já repassa pelo SUS outros soros
antivenenos sem custo para a
população”, explica.
Para chegar ao resultado do
soro, é preciso passar por
alguns processos:
1) A solução é filtrada e passa por cromatografia
(processo que permite a separação de moléculas em
soluções complexas), onde são separadas as porções
tóxicas.
2) Porções são injetadas nos cavalos, para que eles
produzam os anticorpos específicos contra os elemen-
tos que causam lesões nos pacientes.
3) As toxinas são inoculadas nos cavalos quinzenal-
mente, seguindo um protocolo. Depois de dois ou três
meses de avaliação, é verificado se o animal consegue
ou não produzir os anticorpos.
4) O cavalo consegue produzir os anticorpos, seu
sangue, que passa por diferentes processos para sepa-
rar esses anticorpos, torna-se a base do soro antiapíli-
co.
Boas notícias! O soro já está
sendo utilizado em pacientes,
em dois hospitais. Botucatu/SP
e Tubarão/SC. Quatro pacientes
foram tratados com sucesso, dois
em cada cidade.
Abelhas que superam
fronteiras
Até 1956, no Brasil, abelhas
Apis melífera europeias, mais
brandas, eram utilizadas para
suas respectivas funções, como
produção e mel e polinização
de plantas. Elas tinham uma
produção relativamente baixa e
possuíam certa fragilidade com
relação a condições climáticas e
doenças.
Foi nesse ano que o cientista
brasileiro Warwick Estevam
Kerr, visando à criação de uma
linhagem de abelhas mais produ-
tivas e melhores geneticamente,
trouxe a variedade africana da
Apis melífera para o Brasil. Ao
todo, 49 rainhas foram instaladas
em Rio Claro/SP. Um acidente
no local promoveu a fuga de 26
dessas colmeias, que, ao longo
dos anos, espalharam-se não
só pelo território nacional, mas
também atravessaram Américas,
chegando inclusive aos Estados
Unidos.
Com essa expansão, linha-
gens híbridas foram criadas. “As
africanas são mais resistente a
doenças e pragas, maior, mais
agressiva e com capacidade
produtiva superior à europeia,
sobressaíram-se nas abelhas hi-
bridizadas”, explica a doutora em
ecologia Denise Alves.
De acordo com Denise, os
incidentes envolvendo este tipo
de abelha são comuns devido
à sua proximidade. “As abelhas
africanizadas são muito utiliza-
das na apicultura e na produção
de mel. Por isso, as pessoas têm
mais acesso a elas. Elas for-
mam colônias muito populosas,
possuem muitos indivíduos na
natureza. Então a probabilidade
de você encontrar uma african-
izada é muito maior do que uma
mamangava, por exemplo, aquela
que tem ferrão muito mais po-
tente”, finaliza a pesquisadora.
33
acessibilidade
napalmadamão
Aplicativo desenvolvido por pesquisadores da Unicamp pode ser
promissor para a inserção de deficientes auditivos na sociedade
A
lgum dia você já sonhou que
tentava falar, mas a voz não saía?
Queria pedir ajuda ou gritar por
socorro e nada... A sensação é horrível.
Ou, imagine estar em um país no qual
você não domina o idioma, a comu-
nicação é essencial para a sua viagem,
mas você não consegue se comunicar e
ninguém te compreende. Chega a ser
estranho, até mesmo desesperador, não
é? É assim que muitos deficientes auditi-
vos se sentem quando tentam ingressar
em setores sociáveis que não possuem o
recurso de Libras (Língua Brasileira de
Sinais). Infelizmente, hoje, pode-se dizer
que é muito difícil a comunicação para
quem é surdo, poucos recursos têm sido
implantados para que eles se sintam cada
vez mais parte da sociedade.
Texto | Andressa Cristina
Imagem | Guilherme Rola
Educação
34
Segundo o IBGE, 9,7 milhões
de brasileiros têm alguma defi-
ciência auditiva, sendo que dois
milhões possuem deficiência
auditiva severa – 344,2 mil são
totalmente surdos e 1,7 milhão
tem grandes dificuldades para
ouvir.
Pensando na acessibilidade,
no ensino e na melhor capaci-
tação dos alunos com deficiên-
cia auditiva, o pesquisador José
Mario De Martino da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas), coordena o projeto
TAS (Tecnologias Assistiva Para
Surdos) que visa ajudar os surdos
a se comunicarem na sociedade,
inclusive nas escolas, nos ensinos
didáticos e tarefas essenciais.
Uma das tecnologias desen-
volvidas, o Tales (Tecnologia
Assistiva de Leitura para Sur-
dos), tem como foco principal o
desenvolvimento de um sistema
automático de tradução Portu-
guês-Libras, no qual a apresen-
tação do conteúdo traduzido é
realizada por um humano virtual
animado, ou avatar, na busca por
melhorar a acessibilidade dos
alunos surdos ao material escrito
e ajudá-los a dominar o portu-
guês como segunda língua.
Desenvolvimento do projeto.
Para que ocorra a tradução au-
tomática é utilizada uma abord-
agem estatística conhecida como
“data-driven”, que tem o corpus
linguístico bilíngue armazenado
no campo de dados para extrair
e aprender regras de tradução. A
qualidade das traduções depende
do tipo de material utilizado, en-
volvendo vários ciclos e cada um
deles envolve um conjunto de 11
etapas, obtendo ajuda de vários
profissionais especializados. “A
nossa equipe é multidisciplinar e
envolve engenheiros, programa-
dores, linguistas, professores com
experiência no ensino de surdos,
intérpretes de Libras e surdos.
Em particular, os surdos têm
atuado propondo e avaliando a
tradução do conteúdo do mate-
rial”, explica Martino. O projeto
será implantado em materiais
didáticos do ensino fundamen-
tal, as etapas vão da seleção do
livro didático até a última etapa,
que é a de avaliação, que envolve
estudantes surdos que analisam
os resultados da tradução e com
isso indicam a necessidade ou
não de ajustes.
O aplicativo pode ser desen-
volvido em diferentes platafor-
mas – TV ou computadores e
é necessário que a plataforma
obtenha memória com capaci-
dade de processamento para a
tradução e animação do avatar.
Nossa Língua. Conhecida
como como a língua dos surdos,
Libras é uma língua natural
como o português, a diferença
entre as duas é a forma de
percepção e produção, enquanto
as línguas de sinais são perce-
Alfabetização de surdos. No
Brasil, mesmo sendo lei, a falta de
interpretes de Libras nas salas de aula
torna a alfabetização para os deficien-
tes precária e a maioria não consegue
se alfabetizar. Dados do Instituto
Federal do Rio Grande do Sul apon-
tam que aproximadamente 30% dos
brasileiros com deficiência auditiva
não sabe ler português. O 70% restan-
tes sabem ler português, mas não têm
entendimento claro desta língua. Os
projetos desenvolvidos por meio de
avatares com traduções automáticas
do português para Libras é um recurso
promissor para facilitar e alfabetizar os
deficientes. “Um aplicativo de tradução
automática do português escrito para
Libras permitirá ao surdo acesso a um
universo de informação que está dis-
ponível atualmente somente na forma
escrita ”, afirma Martino.
36
bidas com olhos e produzida
pela movimentação das mãos,
as línguas faladas são percebidas
pelos ouvidos e produzidas pelo
aparelho fonador humano.
De acordo com o linguista
Plínio Barbosa, do Instituto de
Estudos da Linguagem (IEL)
da Unicamp, o vocabulário é
bastante rico. “O vocabulário de
Libras é suficiente para a comu-
nicação entre seus usuários às
vezes, com termos mais precisos
do que o português, especial-
mente no que tange os aspectos
espaciais”, diz.
O vocabulário de Libras
também se adequa à evolução
da língua e surgimento de novos
termos, principalmente proveni-
entes da tecnologia e da internet,
como por exemplo: “tuítada”,
“me chama no whats”, “dar
like”. “Da mesma forma que em
português, adapta-se a pronúncia
e regras da língua – como no
caso de “tuitada”, que claramente
combina flexão do português
com palavras em inglês pronun-
ciadas por brasileiros. Assim, a
comunidade interage e escolhe
um sinal”, explica Barbosa.
Voz da experiência. A defi-
ciente auditiva e professora de
Libras, Rosemeire Antunes,
encontrou grande dificuldade
no aprendizado por não ter
intérprete em sala de aula. “No
meu processo de alfabetização,
o método era tradicionalis-
mo, conseguia aprender com o
apoio dos professores e família,
prestava atenção na oralidade
para pode fazer a leitura labial”,
conta. Rosemeire comenta sobre
a importância do projeto TAS e
os benefícios que ele pode trazer
para os surdos. “Mesmo que em
processo de construção, ele pode
ser benéfico à pesquisa de con-
teúdo e por conter glossários de
vocabulários de Libras, facilitan-
do a compreensão em salas de
aulas”, diz.
Não só no ensino, mas para
qualquer pessoa com limitação
ou deficiência, a falta de aces-
sibilidade e outros recursos que
auxiliem no dia a dia já tornam
a relação social mais complicada.
Para os surdos a barreira é um
pouco maior, a falta de comu-
nicação se torna insuperável. “A
falta de acessibilidade dificulta
a comunicação dos surdos. Falta
Libras e legendas nos cinemas,
nos aeroportos e teatros.Tam-
bém não tem acessibilidade
dentro da área da saúde, social e
jurídica. Na área da educação, os
surdos têm mais acesso a tradu-
tor ou interprete de Libras, que é
direito deles, pois é reconhecido
por lei”, afirma Rosemeire.
Projetos semelhantes ao do
TAS também são desenvolvidos
em outros países, como nos Es-
tados Unidos e países da Ásia e
Europa, seguindo o voca- bulário
na língua de sinais locais.
Um aplicativo de
tradução automáti-
ca do português
escrito para Libras
permitirá ao surdo
acesso a um univer-
so de informação
que está disponível
atualmente somente
na forma escrita
A Lei 10.436/2002 reco-
nhece como meio legal de
comunicação e expressão a
Língua Brasileira de Sinais
(Libras) e outros recursos de
expressão a ela associados.
Além de garantir o apoio à
difusão da Libras como meio
de comunicação da comu-
nidade surda, atendimento
e tratamento adequado aos
deficientes auditivos nos
serviços públicos de saúde e,
ainda, garantir a inclusão nos
cursos de formação de Edu-
cação Especial, de Fonoau-
diologia e de Magistério, em
seus níveis médio e superior,
do ensino Libras no currícu-
lo. No ano de 2005, por meio
do decreto 5.626, a lei foi
regulamentada.
Quer aprender o
alfabeto em LIBRAS?
Com seu celular, faça a
leitura do código ao lado
e assista ao vídeo!
Tá na Lei
37
HORADO
BANHONova cadeira de banho é ferramenta para facilitar a vida de
usuários e profissionais da saúde
H
ora do banho! Hora de relaxar,
cantar, fazer solos de guitarra
mirabolantes, pensar na vida
e refletir sobre as mais variadas coisas.
Totalmente easy. Entretanto, esse mo-
mento não é um mar de rosas àqueles
com capacidades motoras reduzidas ou
ausentes. Dados do Censo 2010 feito
pelo IBGE (instituto Brasileiro de Ge-
ografia e Estatística) apontam mais de
860 mil pessoas com grande dificuldade
motora ou incapacidade motora.
Texto | Joel Felipe Horácio
Imagem | Luis Carlos
Bem-estar
38
39
Pessoas dentro dessa realidade
normalmente têm de ser auxi-
liadas para poderem higienizar-
-se. Além disso, são utilizadas
cadeiras – nem sempre capazes
de atender ergonomicamen-
te tanto a quem está tomando
banho quanto à pessoa que a
auxilia. Pensando nisso, Rodrigo
Curimbaba, mestre em Design
pela Faculdade de Arquitetura,
Artes e Comunicação da Unesp
(Universidade Estadual Paulista)
de Bauru, desenvolveu, durante
o curso, o projeto de cadeira de
banho mais ergonômica, produ-
zida a partir das necessidades de
profissionais da área da saúde e
usuários. “Fiz pesquisa de cam-
po durante um ano em hospitais
públicos, particulares, clínicas de
repouso para idosos e em home
care.
Foram entrevistados 50 profis-
sionais, entre enfermeiras, téc-
nicas em enfermagem, auxiliares
de enfermagem e cuidadores,
que faziam uso da cadeira de
banho em suas atribuições”, ex-
plica. Além disso, Curimbaba
também conversou com vinte
usuários de cadeira de banho que
foram submetidos a medições
corporais para embasar a tese de
que as medidas utilizadas nas ca-
deiras não são mais compatíveis
com as da população de usuá-
rios. O projeto do equipamento
utilizado é datado da década de
1960”, aponta.
As cadeiras são
muito estreitas e
o paciente, muitas
vezes fica descon-
fortável, pois elas
não se encaixam às
suas medidas
Transtornos. O depoimento
da enfermeira Victoria Azeredo,
da Santa Casa de Limeira, dá
dimensão das dificuldades que
esses profissionais enfrentam.
“As cadeiras são muito estreitas
e o paciente, muitas vezes fica
desconfortável, pois elas não se
encaixam às suas medidas. Isso
dificulta o trabalho da equipe e
o paciente também não recebe
um banho adequado. Além disso,
recorrentemente temos dores
nas costas por termos que ficar
agachadas durante muito tempo,
por conta de a cadeira ser muito
baixa”, conta.
Cadeira. Conforme Curimba-
ba explica, o projeto foi baseado
a partir dos dados coletados das
pessoas que se dispuseram a
ter suas medidas colhidas, bem
como depoentes, visando atender
às necessidades de profissionais e
usuários. Um modelo de cadeira
de banho recebeu modificações
que favorecem a movimentação
dos profissionais enquanto dão
banho aos usuários, promovendo
agilidade e evitando movimentos
desnecessários e desconfortos.
Já com relação aos usuários,
há possibilidade de ajustes con-
forme suas medidas, e materiais
para revestimento do equipa-
mento, com o objetivo de me-
lhorar o conforto, segurança e
usabilidade, foram instalados.
O projeto da cadeira encontra-
-se em processo de patente, jun-
to ao INPI (Instituto Nacional
de Propriedade Industrial), por
meio da AUIN (Agência Unesp
de Inovações) e imagens não po-
dem ser exibidas.
Nova cadeira
ainda está em
processo de
patente.
Foto: Luis Carlos/Unimep
40
Matenha a postura!
Já sabemos que o atual estilo
de vida que levamos é desgastan-
te. Mas, antes de nossos proble-
mas, tarefas, ou o que for, é im-
portante que prestemos atenção
em nossa postura corporal, a fim
de evitar lesões.
Professor de Educação Física,
Joacir Rogge Mugnaini explica
as consequências de executar
tarefas diárias sem a devida pre-
caução com as posturas corpo-
rais.
“A realização de grandes es-
forços musculares desconside-
rando a ergonomia pode, a curto
prazo, causar lesões localizadas
como contraturas musculares,
tendinosas e ligamentares. Estas
lesões, a médio prazo, tendem a
evoluir quando não tratadas e o
resultado a longo prazo pode ser
um desvio postural mais grave
ou processos de degeneração de
tecidos irreversíveis, com perda
de mobilidade e redução de qua-
lidade de vida”, alertou.
A manutenção de postura se-
gura, segundo Mugnaini, aliados
a outras ações, acrescenta na
saúde do corpo um bom condi-
cionamento musculoesquelético
e também flexibilidades das es-
truturas musculares e articulares.
Praticar musculação melho-
ra o tônus muscular, define
os músculos e cria uma boa
postura permitindo executar
movimentos com técnica e
menos gasto energético
Os diferentes exercícios
de alongamento e forta-
lecimento do pilates são
ótimas formas de corrigir
a postura. A atividade visa
à maior sustentação e ao
equilíbrio para as tarefas do
dia a dia
A natação é um dos esportes
mais indicados, quando o
assunto é correção postural.
Além de benéfico, o exercício
feito dentro da água não
sobrecarrega as articulações
ao trabalhar costas,
ombros e braços A yoga trabalha com
diferentes que atingem os
músculos mais profundos,
oferece benefícios para a
mente e para o corpo,
desenvolvendo maior
consciência corporal,
força e equilíbrio
Dançar é uma atividade
que promove a consciên-
cia do corpo em relação à
força da gravidade, pos-
sibilitando, dessa forma,
uma postura adequada.
Pilates
Musculação
Natação
Yoga
Dança
Quais exercícios
fazer para
melhorar a
postura?
41
O Brasil é um dos países mais empreen-
dedores do mundo, surpreendentemente o
primeiro do ranking divulgado pela GEM
(Global Entrepreneurship Monitor) em
2015. Porém, a pesquisa aponta o crescimen-
to devido à necessidade muito maior do que
as oportunidades, categoria esta que permite
que o empreendedor enxergue uma lacuna
no mercado e seja capaz de desenvolver um
novo produto ou serviço para oferecer. Ou
seja, falta inovação.
Mas será que falta? Segundo dados do
MEC (Ministério da Educação e Cultura),
no último levantamento feito em 2010, o
numero de pesquisadores no país aumentou
em 150% em 10 anos. A Fapesp (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo), investiu cerce de R$1,8 bilhões em
pesquisas em 2015. A questão é que falta ao
cientista brasileiro uma visão mais mercado-
lógica do seu próprio trabalho, e não apenas
acadêmica.
Muitas pesquisas (e algumas até desta re-
vista) apontam para boas descobertas, o que
mostra que os cientistas brasileiros têm as
capacidades intelectual e de desenvolvimento
que não deixam a desejar em nada para os
de fora. No entanto, após todo o trabalho
de pesquisa, constatação e comprovação dos
seus pareceres, o projeto vai parar no fundo
da gaveta. Não é levado adiante, não sai do
campo da observância para o da produção.
No dia seguinte, ele está pronto para come-
çar uma nova pesquisa!
Não precisamos romantizar o papel do
cientista como alguém que passa horas a fio
em um laboratório, de jaleco branco e ex-
clamando “eurekas” o dia todo enquanto faz
experimentos mirabolantes ou de quem in-
veste seus dias tentando descobrir o que veio
primeiro: o ovo ou a galinha.Todo cientista
deve ser também um empreendedor, levar
sua inovação à sociedade, abrir sua própria
empresa, ganhar o seu dinheiro. Deixar de ser
menos gênio, nerd e pé rapado como Peter
Parker e ser mais playboy, filantropo e milio-
nário como Tony Stark.
Talvez, o que falte mais é, dentro da própria
universidade, o fomento ao empreendedoris-
mo. Enchem a grade curricular com matérias
obrigatórias quem nem sempre acrescentam
grandes coisas, mas pecam em não oferecer
um ensino voltado à competências mais prá-
ticas que ofereçam ferramentas úteis à vida
pós-acadêmica e que atendam as necessida-
des da nossa sociedade.
Mesmo assim, há no Brasil muitos va-
les, agtech’s e incubadoras de empresas que
oferecem espaço para que, pesquisadores
que enxergam potencial econômico em suas
pesquisas, criem uma startup e iniciem seus
projetos – e não faltam exemplos de ideias
que deram certo, mesmo com todas as di-
ficuldades e burocracias encontradas aqui.
Recentemente, a cidade de Piracicaba, no
interior de São Paulo, lançou uma campanha
em que se reconhece como polo de inovação
tecnológica na Agricultura em parceria com
setores públicos e privados: o Vale do Piraci-
caba/AgTech Valley, buscando dentre outras
coisas, o surgimento de novos empreendi-
mentos e uma cultura colaborativa em inova-
ção tecnológica. Ao cientista, basta arregaçar
as mangas!
Artigo
Do laboratório
direto para sua casa!
Thiago Peres
42
Revista Ciência Caipira
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  • 3. Andressa Cristina andressacrosa@hotmail.com Joel Felipe Horácio jofeho@hotmail.com Thiago Peres thiagoperes87@gmail.com Educação: palavra essencial em todos os sentidos para que exista qualidade de vida – no nível pessoal, profission- al, educacional e comportamental. Nações cujas culturas são prósperas com relação ao desenvolvimento humano prezam por condições onde a produção intelectual é valorizada. Es- tados Unidos, Alemanha, Japão e Canadá são exemplos de países em que se associa o grau de desenvolvimento a um alto índice de produção científica: respectivamente, 1º, 3º, 5º e 7º colocados nesse quesito, num ranking publicado em outubro/2014 pela Reuters. Com relação à pesquisa científica, o Brasil, neste mes- mo ranking, saiu da 24ª para a 13ª colocação entre 1993 e 2013. Contudo, na corrida pelo desenvolvimento e busca de conhecimento, a produção científica e tecnológica em solo brasileiro tem encontrado diversos obstáculos: falta de es- trutura,baixo investimento e cortes por parte do governo,di- ficuldades burocráticas na obtenção de materiais necessários às pesquisas. Em maio deste ano, a neurocientista brasileira de extrema relevância no cenário mundial, Suzana Hercula- no-Houzel, que atuava na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), anunciou que deixaria o Brasil para poder continuar com suas pesquisas – por motivo de falta de inves- timento do poder público em pesquisas e afirmou ter recor- rido ao crowdfunding (financiamento coletivo) para manter as despesas de seu laboratório, pois não recebera os valores com que contava. Este cenário é alarmante para uma nação que tem altas pretensões de desenvolvimento e obteve, em 2015, PIB de R$ 5,9 trilhões. Para superar situações que bloqueiem o êxodo de profis- sionais qualificados, há de se rever como os investimentos chegam ou deixam de chegar ao devido destino, fiscalizando e fomentando a produção científica, que é capaz de guiar um país a estradas mais frutíferas. Além disso, é importante também que haja o respaldo da imprensa com relação à pro- dução nacional, de grande interesse público, por ser paga pela população e que deve ser feita em prol dela, transfor- mando cenários e trazendo benefícios socioeconômicos. A Ciência Caipira, portanto, tem a proposta de ser a ponte que permite o trânsito de conhecimento acadêmico volta- do à melhoria social, visando à inserção dessa temática no cotidiano dos cidadãos. Fotos Bruna Campanhol Clara Belchior Guilherme Rola Luis Carlos Ilustrações Camila Moura Carlos Eduardo (Caricaturas) Freepik.com Projeto Gráfico Bruno Martins Eric Mateus José Luan Marcos Esterdi Vildner Janei Victor Grande Diagramação Bruno Martins Eric Mateus José Luan Thiago Peres Orientação João Turquiai Jr. Impressão MX Gráfica expediente Redatores A falta de luzes para a trilha do conhecimento editorial
  • 4. SAÚDE Cheese Abacaxi pág. 07 Coiseras pág. 06 Que bicho é esse? pág. 20 NANOTECNOLOGIA Novos rumos na Agricultura pág. 16 à 19 CAPA Bateria, não acabe agora! pág. 12 à 15 Feira: a farmácia da natureza pág. 08 à 11 SUMÁRIO Pra lá da porteira! pág. 21
  • 5. TECNOLOGIA O Futuro é das máquinas pág. 26 à 29 INOVAÇÃO Antidoto à vista pág. 30 à 33 EDUCAÇÃO Acessibilidade na palma da mão pág. 34 à 37 BEM-ESTAR Hora do banho pág. 38 à 41 ARTIGO Do laboratório direto para sua casa pág. 42 ENTREVISTA Nelson Travnik, falando diretamente do mundo da Lua pág. 22 à 25
  • 6. A pesquisa realizada por Ga- briel Giancristofaro, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, com o auxílio de uma técnica computacional pode determinar, automaticamente, se os usuários do Instagram estão felizes ou insatisfeitos. Por meio de um algoritmo, é possível analisar as imagens e textos (legendas e comentários) que são postados na rede social e classificá-los como positivos ou negativos. O computador conta quantas palavras tem cada frase e iden- tifica, por exemplo, se o usuário escreveu termos ofensivos, elo- gios, algo em maiúsculo, ou en- tão se repetiu alguma letra para dar ênfase a um argumento. A análise é feita juntamente com a imagem para que o resultado seja mais próximo da verdade, tendo em vista que, às vezes, a pessoa está sendo irônica no texto. Tá feliz ou tá na bad?³ A Escola de Engenharia de São Carlos da USP lançou uma son- da experimental à estratosfera, na missão denominada Garatéa. O experimento consistiu em enviar microrganismos encon- trados em ambientes extremos da Terra a fim de analisar seu comportamento nas diversas condições de estresse da alta atmosfera. Os alunos desenvolveram o módulo com um sistema em- barcado simplificado, que subiu à estratosfera por meio de um balão de gás hélio. Devido à baixa pressão na altitude dese- jada, o balão rompeu-se e o aparelho retornou ao solo com segurança por meio de um para- quedas especialmente desen- volvido para esse fim. A proposta do grupo é desen- volver e difundir tecnologias aplicadas ao setor aeroespacial para estimular e ampliar visibili- dade dessa área no Brasil. Houston, tamo chegando!² Buscando uma maneira de aproveitar esses resíduos desper- diçados pelas construções civis, o pesquisador Marcos Machado, da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/ Universidade de São Paulo), resolveu estudar esses materiais e analisar qual a melhor forma de reaproveitamento. O pesquisador coletou diversos materiais pela cidade e começou a fazer os testes para melhor aplicação, os materiais são tritu- rados e com isso acabam geran- do os “agregados”, que são mate- riais que apresentam semelhança às características minerais aos de solos naturais. O estudo com- prova que os resíduos descarta- dos pelas construções podem ser utilizados em cultivo de plantas, dando a elas mais vidas e é uma ótima fonte de nutrientes. construindo plantas mais saudáveis¹ Fontes: ¹Acom/Esalq ²EESC-USP ³ ICMC/USP 6 1 7 COLETA ANÁLISE DAS CONCENTRAÇÕES TÓXICAS ANÁLISE DE FEITOS SOBRE ORGANISMOS VIVOS AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES AGRONÔMICAS CORREÇÕES NECESSÁRIAS PARA A EFICIÊNCIA DO MATERIAL Etapas do processo de produção dos agregados: ANÁLISE DE NUTRIENTES TRITURAÇÃO DOS RESÍDUOS E
  • 7. Cheese Picanha, Cheese Bur- guer ou Triplo Burguer, quanta tentação em um simples ham- búrguer? Só de ler, tenho certeza que você já mentalizou uma sa- borosa mordida em seu sanduí- che preferido. Se você não tem problemas de saúde e não precisa se importar com o alto teor de gordura, co- lesterol, gastrite, seja lá o que for, você com certeza come um des- ses hambúrgueres à vontade, e se puder, ainda repete o feito, sem pensar que isso pode ser prejudi- cial a sua saúde. Pensando em um consumo saudável e nutricional des- se alimento, a dou- toranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Es- cola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP),Miriam Selani, teve a ideia de estudar e utilizar subprodutos do processa- mento de frutas: maracujá, man- ga e abacaxi, para que o alto teor de gordura consumido ao comer um hambúrguer seja alterado por teores de fibras. Após a análise das frutas e testes, o abacaxi aca- bou sendo o mais adequado para o desenvolvimento alimentício, com isso, foram criados dois pro- dutos: hambúrguer bovino com fibra de abacaxi e óleo de canola – substituto parcial da gordura e extru- sado de milho enriquecido com fibra de abacaxi. O estudo realizado em parceria com o The Food Processing Cen- ter, Department of Food Science and Technology da University of Nebraska/Lincoln, dos Estados Unidos, é uma alternativa posi- tiva para os consumidores que desejam obter produtos mais saudáveis, levando em conside- ração os benefícios encontrados no abacaxi, sem contar que é de baixo custo e de fácil acesso. Os hambúrgueres foram observados e consumidos por provadores treinados que analisaram da cor até a suculência da carne. Segun- do os provadores, o hambúrguer de abacaxi e óleo de canola é similar ao produto con- vencional em todos os tributos avaliados. O hambúrguer de abacaxi é um alimento pro- missor, pois além de ter vários be- n e f í c i o s nutricio- nais, ele pode ser be- néfico à po- pulação, bas- ta saber se vai agradar aos con- sumidores e se terá tanto sucesso como os tradicionais. Já podemos anotar o seu pedido? cheese abacaxi 7
  • 9. Imagem | Camila Moura 9
  • 10. A fruta dos deuses, a romã, considerada pelos gregos como símbolo de amor e fecundidade também tem poderes medici- nais. Sua casca, que geralmente é descartada, pode ser mais bené- fica à saúde do que imaginamos. A casca da fruta possui uma grande quantidade de substân- cias que ajudam no combate ao Alzheimer. A pesquisa realizada por Maressa Mozerlle, doutora em Ciência e Tecnologia de Al- imentos da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). Testes feitos em an- imais mostraram que aqueles que foram tratados com a romã apresentaram uma manutenção na memória, o que não aconte- cia com os animais que não eram tratados com a fruta. Portanto, não se esqueça dela na próxima vez que for à feira! Pesquisa realizada pela nutri- cionaista Gizele Barankevicz, da Esalq/USP, em parceria com a FOP/Unicamp (Faculdade de Odontologia de Piracicaba/Uni- versidade Estadual de Campi- nas), aponta que a cúrcuma (ou açafrão-da-terra), aquele tem- pero que deixa o arroz amere- linho, é importante no preparo de medicamentos, inclusive para combater sintomas de depressão. A cúrcuma é capaz de reduzir al- guns comportamentos análogos à depressão humana. Durante os testes realizados, ra- tos foram colocados em um tan- que com água, e permaneceram parados, sem expressar reações, com um comportamento típico deprimido. Ao ser aplicado a cúr- cuma, eles começaram a esboçar reações positivas, tentando na- dar e fugir da situação, indican- do que o composto tem sim, um resultado positivo no combate à depressão humana. Lembra quando sua mãe dizia que comer brócolis faz bem? Pois é, ela estava certa! Um estudo realizado por Patricia Bachiega, pós-graduada em Ciência e Tec- nologia de Alimentos, avalia o efeito do brócolis suplementado com selênio, durante seu cultivo, no combate ao câncer em dois aspectos: antioxidante e anti- proliferativo. A pesquisa aponta que a biofortificação indica au- mento na atividade antioxidante do vegetal. Seis tipos de células tumorais foram utilizadas para avaliar a atividade antiproliferati- va: glioma (tumor em célula cere- bral), mama, rim, pulmão, cólon e queratinócito (célula produtora da queratina) humano. Os brotos não biofortificados têm sua atividade antiprolifer- ativa maior em células de rim e mama, enquanto que os bioforti- ficados apresentam a capacidade de paralisar o crescimento desses tipos de células. Ambos apresen- tam capacidade para paralisar o crescimento de células de rim, mas as com selênio também são capazes de induzir células de gli- oma à morte.
  • 11. O chá verde é o queridinho das dietas: é de baixa caloria, possui ação antioxidante, combate o co- lesterol ruim, ajuda na digestão e uma infinidade de coisas. Agora há mais um motivo para ele fazer parte da sua alimentação! Estudos realizados na Facul- culdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de São José do Rio Preto, pela professora Paula Rahal, demon- stram que um composto natural encontrado no chá verde é capaz de inibir a atividade do zika vírus. A substância capaz de realizar tal ação, o epigalocatequina galato (EGCG), bloqueou a entrada do vírus em células cultivadas em laboratório. O composto já é utilizado no combate a outros tipos de vírus, como o da hepatite C,influenza e HIV. A pesquisa buscava atestar se os mesmos efeitos seriam ob- tidos para o zika vírus, o que foi comprovado. Comer manga e beber leite mata? Essa era uma das grandes dúvidas da nossa infância. Agora, você já deve saber que isso era só mais um mito.Mas comer manga pode ser muito bom no combate à diabete: é o que constatou um grupo de pesquisadores da Esalq/ USP. A grande quantidade de fibra encontrada na fruta apresenta efeito hipoglicemiante, processo que leva a liberação da glicose no estômago para o intestino e a absorção mais lenta pelo organ- ismo, evitando que seus níveis se elevem de modo muito rápido e intenso no sangue. Na pesquisa, foram analisados dois grupos de diabéticos. Um deles recebeu uma dieta conten- do 5% de manga e o outro uma dieta sem a fruta, mas com out- ros alimentos que controlam a doença. Os resultados apontaram uma baixa de 64% de baixa no nível de glicemia dos pacientes que receberam a manga. A manga pode ser consumida in natura ou em sorvetes, sucos, saladas,mas com moderação,pois a fruta é bem calórica. Ah, e rou- bar manga é errado... Além de saudáveis, as frutas têm propriedades que vão além do bem-estar, contribuindo para que se evitem doenças. A pesqui- sadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Ar- araquara, Paula Souza Ferreira, é autora de pesquisa que explora o uso de flavanonas, compostos encontrados em frutas cítricas como laranja, limão e lima, que agem como antioxidantes no or- ganismo. Os compostos têm surtido efeito na dieta de camundongos, roedores cuja genética é próxi- ma à do ser humano. A ação das flavanonas diminuem efeitos rel- acionados ao excesso de gordu- ra corporal. “Essas quantidades foram capazes de diminuir a perda de equilíbrio entre pro- dução e eliminação de espécies reativas do oxigênio no sangue e fígado e impediram o aumen- to da inflamação sistêmica nesses animais. Isso é importante, pois a inflamação crônica sistêmica encontrada em grande parte de pessoas obesas tem sido apontada como sendo a causa de alterações em órgãos importantes como o fígado, levando ao desenvolvi- mento de resistência à insulina, ao alto nível de colesterol no sangue e também à hipertensão arterial”, explica a pesquisadora.
  • 12. A bateria do celular sempre acaba naquele momento em que você mais precisa dela. Projeto inovador pode fazer com que ela dure um pouco mais! P rovavelmente você já deve ter se perguntado por que os smartpho- nes estão cada vez mais modernos e a bateria dura cada vez menos? Por que não criam uma bateria mais resistente? Bem, a resposta parece meio óbvia: para o mercado, baterias mais duradouras não são atrativas. “Com certeza existem métodos para a criação de baterias mais duráveis. E são aplicados quando há o interesse, ou seja, custo benefício aten- dido. Mas para o mercado atual fator primordial ainda é a reposição em larga escala pelo produto mais barato”, afirma o mestrando em Tecnologia Leonardo Rey Oliveira Lopes. Texto | Thiago Peres Imagem | Guilherme Rola Bateria,não acabeagora! Capa 12
  • 13.
  • 14. Claro que toda a tecnologia do aparelho também contribuiu para que as baterias durassem cada vez menos, principalmente a integração das redes 3G e 4G. “É perceptível que em aparelhos com acesso à internet, a bateria dura muito menos. Antes tinha telefones que a bateria durava uma semana e, de repente, os no- vos duravam um dia, no máximo. Era preciso entender o motivo disso”, avaliou Varese Salva- dor Timóteo, professor e físico formado na Unicamp (Univer- sidade Estadual de Campinas), ainda em 2009, quando iniciou suas pesquisas que resultaram no desenvolvimento de uma metodologia capaz de gerar até 20% de economia em consumo de energia em dispositivos com acesso 3G e 4G. Avaliação inicial. As medições feitas nos aparelhos conectados e desconectados apontavam os novos canais implementados para fazer a transmissão de dados como os responsáveis por aumentar o consumo de energia. Isso ocorreria inevitavelmente durante o uso da conexão de da- dos, porém, neste caso, as coisas não eram tão óbvias assim. “Um dos problemas que nós percebe- mos é que, muitas vezes, mesmo quando os canais não estão sen- do usados, eles ainda estão liga- dos. O telefone tem um esquema de funcionamento que desliga os canais automaticamente quando não utilizados e, mesmo assim, os canais continuavam ligados sem necessidade alguma”, explica Timóteo. Sempre Conectado. Segundo o professor, uma das razões é o que os especialistas chamam de “Always On”, ou seja, Sempre Online. Para Timóteo, criou-se o conceito de que, se o aparelho tem acesso à internet, ele deve estar sempre conectado. “Você não acessa o Facebook apenas quando quer. Se alguém te man- da uma mensagem, o telefone já avisa, mesmo que você não que- ira saber. E é isso que, no fundo, faz com que ele gaste mais ainda, pois o telefone fica o tempo todo ligando os canais pra poder pegar uma notificação deste tipo de aplicativo”, explica. Para solucionar este problema, foi criada uma metodologia que prevê o melhor momento para ativar ou desativar os canais de dados. Cada vez que os canais são ativados, provenientes das notificações, há um tempori- zador que determina o quanto tempo ele ficará ligado até ter a certeza de que não receberá mais nenhuma mensagem, para então, ser desligado novamente. De acordo com a pesquisa, cada op- eradora determinou um valor de tempo padrão, mas este sistema é ineficiente, pois o valor do tem- porizador não é adequado para qualquer condição de tráfego dos Desative o GPS O GPS gasta muita bateria. Por isso, mantenha-o desativado quando não for necessário. Desative as conexões Não se esqueça de desativar o Wi-Fi e o Bluetooth quando não estiverem em uso,já que essas funções consomem bastante energia. Controle do brilho Bateria baixa? Reduza o brilho da tela imedi- atamente. Atualizações Automáticas Deixar o smartphone nas atualizações au- tomáticas é mais simples e até mesmo efici- ente, porém sua bateria vai por água abaixo sem você nem mesmo perceber. Sem vibração Tudo o que é feito no aparelho consome energia. Caso você não esteja realmente precisando deste recurso, desative-o. Dicas para economizar bateria 14
  • 15. dados. Filtro da Kalman. Os pesqui- sadores utilizaram no método de previsão o modelo matemáti- co criado por Rudolf Kalman, conhecido como filtro de Kal- man. Este filtro permite prever o fluxo de pacotes recebidos pelo dispositivo móvel. Deste modo, a solução funciona dinamica- mente em tempo real conforme o tráfego da rede. Isso porque o aparelho já não depende mais dos valores fixos estipulados pela operadora da rede. Com o sistema, não são necessárias alterações no padrão da rede, nem no hardware do aparelho. Os testes foram feitos apenas em dispositivos Android. Porém, a metodologia pode ser aplicada em dispositivos com iOS, Bada, Windows Mobile, B2G e de- mais sistemas operacionais. Sem você eu não vivo! Você provavelmente não se lembra de como era a vida sem celular, sem conexão 24 horas por dia, ter o mundo todo na palma da sua mão. Sem isso, o mundo não funciona mais. Mas e você? Funcionaria? O que seria da sua vida um dia sem celular? Os tempos modernos criam também dependências moder- nas. Uma delas é a Nomofobia, causada pelo desconforto ou angústia resultante da incapaci- dade de comunicação através de telefones celulares. De acordo com uma pesqui- sa britânica, 53% das pessoas entrevistadas se sentem ansiosas por causa da falta de bateria ou crédito no celular. A mes- ma porcentagem garante ficar estressada em pensar na possib- ilidade de perder o aparelho ou de ficar sem sinal. “A tecnologia veio como uma revolução no processamento e velocidade da informação, deixando todos dependentes dela. A facilidade de se estar conectado ao mundo fez do ser humano um escravo tecnológico”, explica a psicóloga Maria Telma Moro. Desespero. A estu- dante Danielle Regi- na de Souza Pereira, 21 anos, ganhou seu primeiro celular aos 12 e de lá para cá não con- seguiu mais ficar sem o aparelho.“O maior tempo que fiquei sem celular foi pelo período de um dia, quando furtaram meu tele- fone, porém no dia seguinte providenciei um novo”, conta. Ela também con- fessa que não pode nem pensar em ficar sem bateria.“Eu utilizo o dispositivo na maior parte do meu dia, assim que recebo o alerta de bateria fraca, fico muito aflita e a primeira coisa que faço é procurar meu carregador, que, a propósito sempre está comigo”, diz. Segundo a psicóloga Maria Telma, a compulsão digital já foi comparada em estudos tal qual a dependência de cocaína.“Como em qualquer dependência, per- deu-se o controle sobre o tempo de uso do celular, por conta da facilidade de acesso, podendo causar transtornos psicológicos como depressão, crise de ab- stinência, tal como nos depen- dentes químicos, estresse digital, ansiedade, queda no rendimento, piora na qualidade de vida”, alerta. Quebrando mitos 1) Não é necessária a carga inicial de 24 horas na bateria, ou esperar que a carga com- plete antes de usar o aparelho pela primeira vez. 2) A bateria não “vicia” se você tirar do carregador antes dela carregar 100%. 3) Também não precisa esperar a bateria descar- regar totalmente antes de recarregá-la novamente, isto não muda a vida útil do aparelho. Acompulsãodigital jáfoicomparada emestudostal qualdependência decocaína 15
  • 16. novosrumos naagrigultura Nanopesticidas trazem menos poluição, mais efetividade e aumentam a segurança destes compostos D efensivos agrícolas fazem parte da realidade de produtores de diversos tipos de alimentos. O impacto que causam pode ser diminuído graças à nanotecnologia. O uso de agro- tóxicos na produção de alimentos é uma questão abrangente, que afeta diferen- tes temas, como meio ambiente, saúde humana e o possível desenvolvimento de resistência por parte das pragas agrícolas. Texto | Joel Felipe Horácio Imagem | Camila Moura Nanotecnologia 16
  • 17.
  • 18. O professor Leonardo Fra- ceto, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), de Sorocaba, que lidera pesquisas em nano- tecnologia aplicada à agricultu- ra na instituição, desenvolveu, juntamente de sua equipe, na- nopesticidas, que seriam como os pesticidas presentes no mercado, a não ser pelo fato de que são absurdamente menores. Este fato permite aplicar as substâncias que controlam pra- gas nas plantas de forma mais econômica, já que é lançada uma quantidade mínima da solução, e efetiva, pois a chance de conta- to com o inseto problemático é muito maior. Dentre os resultados obtidos nesse campo de pesquisa, Fra- ceto aponta a formulação de um nanoherbicida, reduzindo a toxi- cidade do então herbicida, o que contribui para um menor impac- to ambiental. “Com a nanofor- mulação, conseguimos reduzir em dez vezes a concentração do herbicida e obtivemos o mesmo grau de efetividade, fato esse que faz com que possamos aumentar a segurança desses compostos”, comenta. Pequeno no tamanho, grande no resultado. Como deixar o herbicida, que, já na pulveri- zação, é liberado em gotículas, ainda menor? A resposta é a encapsulação da solução, ou seja, envolver o produto em matrizes poliméricas ou lipídicas. Com isso, o princípio ativo é capaz de ultrapassar a cutícula cerosa do vegetal (cobertura de cera imper- meabilizante que evita a perda de água para o ambiente, prote- gendo-o de traumas mecânicos e infecções) com mais eficiência, bem como é reduzida a perda do material por decomposição ao entrar em contato com luz. Professora de Química e dou- tora em Geociências, Gislaine Barana Delbianco explica que, com as matrizes poliméricas e lipídicas, o nanoherbicida ganha em precisão. “Se lançado dire- tamente, o herbicida atingiria diversos seres vivos, e, além disso, um desastre ambiental seria cau- sado, pois não haveria o controle dessas substâncias. Com as ma- trizes, o composto é liberado na hora certa, impedindo que o na- noherbicida atinja os seres vivos que não são alvos do produto. Como exemplo, remédios têm cápsulas poliméricas, que são fei- tas para serem quebradas dentro do nosso estômago – da mesma forma, o produto vai se quebrar dentro da planta, não no ar”. Agrotóxicos e meio ambiente. Para Gislaine, o uso de defensi- vos agrícolas é indispensável para suprir a demanda mundial por alimentos. Além disso, a profes- sora aponta o despreparo huma- no ao manipular esses compostos como um dos problemas que levam à contaminação do meio ambiente. “Com relação ao uso de agrotóxicos, tudo depende da dosagem. São como medica- mentos: tornam-se venenos em quantidades altas, mas em quan- tias dosadas trazem benefícios. Existem sete bilhões de pessoas Um nanômetro (nm), corres- ponde a um bilionésimo do metro, ou seja, um metro di- vidido por um bilhão! Com a nanoformu- lação, conseguimos reduzir em dez vezes a concentração do herbicida e obtivemos a mesma efetividade Foto: Dusan Kostic/Fotolia 18
  • 19. no planeta. É impossível alimen- tar toda a população sem esses artifícios. O problema é a falta de conhecimento das pessoas, resultando em uso inadequado e desproporcional”, defende. Consequências do exagero. Professora de Biologia, Valdineia Silveira indica que o uso inade- quado de agrotóxicos prejudica tanto humanos quanto animais, bem como afeta lençóis freáti- cos e interfere na população de micro-organismos que têm um papel importante na reciclagem de matéria orgânica. “Havendo contaminação do solo a ponto de interferir no processo natural de reciclagem da matéria orgânica, isso afeta, também, em longo prazo, todo o processo de fotos- síntese e, consequentemente, a produção de O2, o que poderia causar um desequilíbrio ambien- tal preocupante. Em casos de uso excessivo de alguma substância, há a tendência de que organis- mos atingidos se tornem mais resistentes; ocorre a seleção na- tural”, pontua. Going on! Para dar continui- dade à pesquisa, Fraceto firmou parceria com grupos tanto no Brasil quanto no exterior. Um exemplo recente de parceria internacional para o estudo de nanotecnologia na agricultura e meio ambiente é a firmada com a escocesa Heriot-Watt Uni- versity. “Nesta temática, cabe destacar que não é um trabalho apenas de meu grupo de pes- quisa.Tenho muitas colabora- ções nacionais e internacionais que fazem com que possamos desenvolver um trabalho com caráter multidisciplinar. Nessa abordagem, conseguimos extrair a expertise de cada um dos gru- pos colaboradores e os resultados tem sido formidáveis”, finaliza. 1º Brasil 2º EUA US$ 7,3 bilhões 3º China 5º França 4º Japão US$ 2,8 bilhões US$ 3,3 bilhões US$ 4,8 bilhões US$ 10 bilhões Os países que mais utilizam agrotóxicos no mundo (em bilhões) 19
  • 20. O professor e pesquisador da Ufscar (Universidade Fed- eral de São Carlos), de Araras, Ricardo Fujihara, desenvolveu um sistema digital de identi- ficação de insetos de interesse econômico. Com isso, a tarefa de identificação e estudo de in- setos que podem ser utilizados de alguma forma torna-se mais fácil.“O sistema foi desenvolvi- do para atender a uma carên- cia observada, a de materiais relativos à Entomologia Geral, ou seja, o estudo dos insetos, no Brasil”, comenta. Desenvolvimento. Foram realizados levantamentos bi - bliográficos em livros nacionais e estrangeiros de Entomologia, coleta de insetos em campo, identificação de insetos em laboratório e visitas a coleções de referência e museus. Após essas etapas, o sistema digital foi construído, com a inserção de fotografias e es- quemas com a anatomia dos animais, além de recursos como animações 3D e glossário de termos técnicos.“As imagens em alta resolução foram pio- neiras, aumentando a confi- abilidade na identificação das principais famílias de insetos de importância econômica do Brasil”, relata. Predadores naturais. Doutor em Ciências Biológicas, Gi- uliano Grici Zacarin indica a função de insetos capazes de eliminar outros, considerados pragas, contribuindo com o ser humano.“Os predadores procuram ativamente suas presas, alimentando-se delas. Eles podem ocorrer em grande abundância em ambientes agrícolas manejados de forma adequada para a manutenção do controle das diversas pra- gas. Existem ainda os insetos denominados parasitoides, que geralmente colocam seus ovos na superfície ou dentro de out- ros insetos, seus hospedeiros, destruindo-os durante o seu desenvolvimento, contribuindo assim, para o controle biológico natural de pragas”, comenta. Dentre os insetos economi- camente importantes é possível contabilizar as formigas la- va-pé, vespas, etc. “Os insetos são vitais para o meio ambiente, pois contribuem para a reci- clagem de muitos nutrientes e são excelentes polinizadores”, finaliza. Que bicho é esse? Se alimentam geralmente de néctar e são os mais impor- tantes agentes de polinização, inclusive de diversas culturas agrícolas, além de produzirem mel, própolis, geleia real, cera. Ricos em proteínas, os insetos com- plementam o cardápio de aproximada- mente dois bil- hões de pessoas em muitos países ao redor do mundo, predom- inantemente em partes da Ásia, África e América Latina. Produtor de fios de seda. Ao fim de um período de pouco mais de um mês, a lagar- ta torna-se ama- relada e começa a segregar um fio que usa para formar o casulo. É esse casulo que serve de fonte para a seda. Abelhas Gafanhotos Predadores Bicho-da-Seda Durante todo seu ciclo de vida ou parcialmente são organismos de vida livre que buscam ativa- mente e matam suas presas. Normalmente são maiores que suas presa e pre- cisam de mais do que uma presa para completar seu ciclo de vida. Alguns insetos bem comuns são muito importantes para a economia, seja na agricultura, na alimentação ou em outros produtos utilizados no cotidano! 20
  • 21. pra lá da porteira! “Papo Reto”, jogo que faz parte do projeto “Gênero, sexo e sexualidade: um diálogo entre o lúdico, a intimidade e o contexto de vida dos adolescentes”, criado pela professora Vânia de Souza, do Departamento de Enferma- gem Materno-infantil e Saúde Pública da UFMG (Universi- dade Federal de Minas Gerais), é um simulador de vida em que jovens de 15 a 18 anos criam personagens e debatem questões sobre sexo e sexualidade em am- bientes que simulam casa, escola, rua e balada, sem a interferência de adultos. Segundo Vânia de Souza, a experiência no trato com os jovens mostrou que eles não se sentem confortáveis para falar sobre sexualidade com adultos e pessoas mais velhas. A professora destaca a necessidade de se criar novas maneiras de abordar o assunto com os jovens. Os jovens criam perfis nas plataformas para interagir entre si, após os pais assinarem termo de consenti- mento. A estudante paranaense Maria Vitória Valoto, desenvolveu um projeto benéfico a quem tem in- tolerância à lactose – substância encontrada em produtos como o leite e seus derivados. O resultado da pesquisa é uma cápsula que possui a enzima lactase, uma substância que “der- ruba” a lactose. A cápsula pode ser reutilizável e traz mudanças aos produtos, facilitando a vida das pessoas, que passam a con- sumir alimentos sem nenhuma restrição. Para Maria, a criação é promissora, uma vez que não existem muitos remédios que possam combater a lactose, e a cápsula tem um custo bem menor. Toma esse block² Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPa) reuti- lizam materiais como copos de café descartados e cascas de coco de babaçu, para fazer pisos para moradores de comunidades carentes. Para isso, a engenheira mecânica Poliana Borges Bringel, analisou os lixos e concluiu que a casca de babaçu junto com o copo de café formam uma mistura consistente e ideal para ser transformados em pisos. Além de ajudar as comunidades carentes, o “piso ecológico”, traz vários benefícios: menor preço, conforto térmico e menos peso. A qualidade do produto é sem- elhante aos pisos disponíveis no mercado. #fale mais de sexo³ Ecopiso¹ A Ciência além do Interior Fontes: ¹Portal UFPA²Agência Brasil ³Portal de notícias da UFMG 21
  • 22. NelsonTravnik, falandodiretamente domundodaLuaNenhum brasileiro foi à Lua (ainda), mas de certa forma ajudou a chegar lá. Quer saber como? Então senta que lá vem história! D urante as aulas de ciências, na escola, nós aprendemos muitas coisas que os astrônomos e espe- cialistas chamam de “astro-bobagens”. Por exemplo: o Sol nasce sempre no Leste e se põe sempre no Oeste, certo? Nem sempre! Isso ocorre apenas duas vezes: nos equinó- cios (ocasiões em que o dia e a noite duram exatamente o mesmo tempo) de outono e primavera. Quando observamos o pôr- -do-sol, diariamente, ao longo de um ano, notamos que, em certa época, o fenômeno ocorre no horizonte mais à nossa esquerda e, em outra, mais à direita. Uma astro- bobagem não é exatamente uma informa- ção errada, mas “uma informação ensinada de uma maneira que seja mais fácil para compreender”, explica Nelson Travnik. Texto | Andressa Cristina e Thiago Peres Imagem | Thiago Peres Entrevista 22
  • 23.
  • 24. Nelson Travnik é um astrônomo brasileiro, professor, escritor e fundador de diversos observa- tórios, como o Observatório Astronômico Flammarion, em Matias Barbosa/MG, o Obser- vatório Municipal de Americana e do Observatório Astronômico de Piracicaba (ambos no inte- rior de São Paulo). Além disto, Travnik foi um dos cinco obser- vadores do país credenciados da NASA-JPL durante as missões Apollo (1968-1972) e tem seu nome registrado no Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Segundo Travnik, a astronomia nos dias de hoje é fundamental para a sobrevivência humana: são os satélites artificiais que mantêm alertas meteorológicos que contribuem economicamen- te na agricultura, que preveem desastres naturais, salvando vidas.Também são responsáveis pelo funcionamento do GPS (santo Waze), além de moni- toramento diário de tudo o que ocorre no espaço que pode influenciar na vida na Terra. “Se não fosse a astronomia o mundo ainda estaria pelo menos 60 ou 70 anos atrasado em termos de tecnologia”, afirma. A equipe de reportagem da Ciência Caipira foi até o Obser- vatório Astronômico em Piraci- caba e conversou com Travnik. Quando você se interessou pela astronomia? Foi por meio de um amigo que começou a me mostrar o céu. Eu nunca havia olhado para o céu antes. Comecei a observar, co- nhecer as constelações, a locali- zação dos planetas. Depois disso, outro amigo se juntou conosco e fundamos um observatório. Observatório Astronômico Flammarion, em homenagem ao grande astrônomo francês Camille Flammarion, em 1954. Foi aí que tudo começou? Exatamente. Fundamos o observatório apenas com inte- resse científico, compramos um telescópio, depois um maior. Realizamos várias constatações científicas, o observatório come- çou a ficar famoso em Minas, e em 1976 o prefeito de Campinas resolveu construir um obser- vatório em Campinas, um dos maiores, e me convidou para trabalhar lá. Era o que eu queria, pois, até então, o que eu fazia era puro amadorismo, eu não tinha formação em astronomia, era a chance da minha vida para me dedicar inteiramente a isto. Como um observador do céu, já sonhou em ser astronauta? Na verdade nunca tive essa aspiração. Pra ser um astronauta é preciso passar por uma série de testes e treinamentos em uma estação espacial, pois as condi- ções no espaço são completa- mente diferentes das da Terra. É muito difícil, é um escolhido entre milhões! Você participou da equipe de observadores do Projeto Apollo, que levou o homem à Lua. Como foi isso? Em 1968, quando a NASA começou a realizar o Projeto Apollo, e naturalmente, quando você vai pisar em um solo desco- nhecido, primeiro é preciso fazer um reconhecimento. E havia al- gumas preocupações, para saber se acontecia alguma coisa na Lua que poderia colocar em risco in- tegridade física dos astronautas, coisas desse tipo. Diante dessas questões, criou-se o Programa Internacional de Observações Lunares do Projeto Apollo. O Brasil participou do Programa e foram escolhidos os cinco mais experientes observadores lunares do país, eu era um deles. E você fez alguma constatação importante neste programa? Na lua, existem alguns fenômenos que até hoje não têm explicação e aqui no Brasil foram feitas consta- tações importantíssimas 24
  • 25. Havia centenas de observadores na época, todos observando a Lua. Lá acontecem alguns fenô- menos que até hoje não tem ex- plicação e aqui no Brasil foram feitas constatações importantís- simas. Inclusive uma constatação que eu fiz, observamos uma espécie de ‘bruma luminescente’, provavelmente emanação gasosa. Entramos em contato com o consulado americano no Rio de Janeiro, que comunicou a NASA e posteriormente a constatação foi confirmada pelos astronautas. Esta foi a sua maior descoberta ou teve mais alguma? É um pouco de pretensão falar em descoberta, obviamente são feitas descobertas, uma Su- per Nova aparecer, cometas se descobrem. Eu particularmente nunca fiz descoberta nenhuma, observei muitas coisas interes- santes, foram coisas que aconte- ceram quando eu estava obser- vando naquele momento e que ninguém mais viu quando eu vi. E você continua observando a Lua até hoje? Sim. Muitas pessoas pensam que não existe mais nada na Lua para se observar e isto é um grande erro. Há centenas de coisas na Lua que precisam ser observadas. Fenômenos que, fu- turamente, colocarão em risco as bases lunares que serão constru- ídas lá pelos americanos, pelos europeus, pela China.Todos esses países estão interessados nos fenômenos lunares. Na sua opinião, é difícil ser cientista no Brasil? É muito difícil, principalmente na nossa área da astronomia. As bolsas (apoio financeiro gover- namental) são microscópicas, pois o Brasil não investe nesta área, aqui não se constrói mais observatórios. Os investimentos são feitos para parcerias com ou- tros observatórios internacionais. É lá que se trabalha, aqui não! Mais astrobobagens que você aprendeu na escola! A Lua gira em torno da Terra. Na verdade, ambas giram em torno de um centro de gravidade comum. Se viajássemos numa nave espacial até certa distância veríamos Terra e Lua dançando como um par de bailarinos no espaço. A Lua não tem um lado escuro. O mun- do todo enxerga o mesmo lado da Lua, isto não quer dizer que o lado de lá é totalmente escuro. A Lua tem um ciclo de dia e noite, com cada centímetro da sua su- perfície sendo ilumi- nado pelo Sol por um determinado período a cada giro completo. O dia tem 24 horas. O dia solar tem 24 horas exatas, esta é a quantidade de tempo em que o sol leva para passar duas vezes sobre a nossa cabeça e é assim que nossos relógios são ajustados. Porém, a Terra leva 23 horas e 56 minutos para dar uma volta toda ao redor do sol. A bussola aponta sempre para o Norte. Na verdade não. A bússola aponta para o Sul. Acontece que as orientações de Norte e Sul nos mapas foram estabelecidas antes de entendermos o magne- tismo da Terra. Quando os cientistas perce- beram que os polos magnéticos e geográfi- cos estavam invertidos, já era muito tarde... 25
  • 26. Tecnologia Ofuturoé dasmáquinasA tecnologia chegou e tomou conta da humanidade. Cada vez mais robotizada, o futuro da indústria também será revolucionário D urante o século passado, todos imaginavam os anos 2000 como um mundo totalmente tomado pelas máquinas e centenas de invenções mirabolantes. O mundo hoje pode ser tão tecnológico quanto se esperava. Tudo está em constante revolução e transformação. Na indústria não é diferente. Cada vez mais as máquinas, a inteligência artificial e o ambiente virtual tornam os processos produtivos mais eficientes, práticos e funcionais, a exemplo de dois projetos do Labo- ratório de Sistemas Computacionais para Projeto e Manufatura (SCPM) da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) – Campus Santa Bárbara D’Oeste. Texto | Andressa Cristina e Thiago Peres Imagem | Freepik 26
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  • 28. A Fábrica Digital tem como principal foco uma antecipa- ção e total integração do desenvolvimento e planejamento do produto Fábrica Digital. Quem já se divertiu com aquela famosa série de jogos de simulação que criam e administram cidades e parques de diversões, pode ter uma ideia de como seria organizar um ambiente fabril virtual e ver na prática como cada etapa do processo de produção atua. “O conceito básico de Fábrica Dig- ital é um conjunto de métodos e ferramentas para construção de modelos virtuais para simulação de todo o ambiente fabril. Com o modelo digital são adicionados parâmetros de funcionamento da máquina para a simulação em tempo real e visualização em 3D”, explica o engenheiro mecânico Felipe Alves de Ol- iveira Perroni. A Fábrica Digital tem como principal foco a antecipação e total integração do desenvolvi- mento e planejamento do pro- duto, da concepção e Start-up da planta, ajustada cuidadosamente para todos os processos produti- vos. “A simulação pode ser feita desde o macro, que seria toda a indústria, verificação de gargalos, consumo de energia, de recursos, controle de estoque, assim como é possível visualizar o micro, que seria na produção da peça, entender cada etapa do processo e como diminuir esse tempo. Em alguns testes tivemos um ganho de 41 minutos no final do dia, o que gera um grande impacto na empresa”, diz. Segundo Perroni, até mesmo a atuação dos funcionários pode fazer parte do processo de sim- ulação. “É possível fazer até uma simulação ergonômica, visualizar se alguns procedimentos afe- tarão a saúde do funcionário de alguma forma, prevenindo lesões e acidentes laborais”, explica. Parcerias. A Volkswagen vem investindo em Fábrica Digital desde 2006, onde aplicou um montante de R$8,3 mi em um conjunto de 50 softwares que fazem as simulações. Em 2013, a montadora apontou uma econo- mia de R$86 milhões em con- sequência da atuação dos soft- wares, mais de dez vezes o valor investido com as simulações. No mesmo ano, a Volkswagen e a Unimep assinaram um convênio de cooperação técnico-educacio- nal que prevê a implantação da Fábrica Digital na unidade da montadora em São Carlos. A 4ª Revolução Industrial Com o mercado cada vez mais competitivo, mudanças são necessárias para atender as demandas, não apenas no que diz respeito aos custos, uso con- sciente de recursos, mas também atender a clientes cada vez mais exigentes. O programa Industrie 4.0, criado pelo governo alemão, vem transformando a manei- ra que as fábricas operam. “O Industrie 4.0 simboliza o surg- imento da fábrica inteligente, onde as máquinas e produtos são conectados entre si por meio da Internet das Coisas. Essa inte- gração permitirá acompanhar todos os processos de fabricação através de acesso remoto, uti- lizando tablet, smartphone ou qualquer dispositivo com acesso à internet”, explica Matheus AS QUATRO REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS 1780 - 1840 1ª Revolução Veio com a invenção das máquinas movidas a vapor. O trabalho era assalariado e o tra- balhador qualificado era pago por peça. As ferrovias também foram um marco da época. 28
  • 29. Soares, aluno de mestrado em Engenharia da Produção da Unimep. Essa comunicação integrada entre as máquinas e cada com- ponente do produto permitirá ao cliente customizá-lo, de modo que a própria máquina reconheça as exigências individuais de cada peça e, então, a empresa poderá fornecer alguns dados das etapas de produção. “Vamos supor que um cliente queira um celular com câmera frontal de oito megapixels e outro queira uma de 15 (megapixels). Por meio desta comunicação é possível essa customização automática e ele poderá acompanhar da sua casa em qual estágio o produto está, quanto tempo irá levar até ficar pronto”, diz Letícia Ro- drigues, também engenheira. Neste processo, o produto se torna o agente ativo na produção, contendo informações próprias de como ele será produzido, em qual máquina deverá ser opera- do, qual o componente melhor se encaixa em determinado proces- so e assim por diante. Integração total da fábrica. Toda essa interação sistemática reflete não apenas na produção, mas em tudo o que está ligado ao funcionamento da fábrica gerando comunicação entre em- presa, funcionários, fornecedores e clientes. “O fornecedor, por exemplo, poderá ter o controle do estoque, avisando quando é necessária reposição.Também o gerente, em sua casa, pode ter o controle da fábrica pelo acesso remoto, saber tudo o que está acontecendo”, reitera Letícia. Viva la Revolución. Uma das grandes preocupações quando ocorrem mudanças drásticas no funcionamento das fábricas, principalmente devido à inserção de tecnologia, é com relação aos trabalhadores. Na opinião de Soares, toda mudança trás consigo novas oportunidades. Mesmo com a capacidade da inteligência artificial em reco- nhecer determinadas necessi- dades, a intervenção humana ainda será necessária. “Nem tudo será totalmente automatizado, porém, o perfil do profissional irá mudar, para que se alcance toda essa tecnologia, será necessário mais pessoas capazes de operar esses sistemas”, afirma. Embora na Alemanha a pre- visão para que toda essa trans- formação aconteça esteja estip- ulado para 2020, o Brasil ainda não tem nem estimativas, devido a defasagem tecnológica do país. “O país terá que crescer muito ainda para que seja implementa- da. Nós ainda nem atingimos o ápice da aplicação da informática na nossa indústria, mas, no fu- turo, todas as empresas terão de se adaptar a essa realidade para a própria sobrevivência”, finaliza. O termo Internet das Coisas (IoT) é um sistema de dados que permite a conexão de internet com tudo o que está a nossa volta, de modo que eles se comuniquem entre si. Desta forma se torna possível interligar e registrar os dados sobre cada uma delas as uti- lizando um smartphone, por exemplo. 1850 - 1945 2ª Revolução O alto desenvolvimen- to industrial pós-guerra, introduziram a metalúrgi- ca, siderúrgica e química como as novas ascendentes da indústria e trouxe consigo os novos métodos de produção. A partir da década de 70, a demanda por tecnologia e mão de obra especializada foi vital. A computado- rização, a biotecnologia, a microeletrônica, a informáti- ca viraram os pilares em que se baseia a produção. 1950 - 2000 3ª Revolução Dias Atuais 4ª Revolução Indústria 4.0 é um termo que engloba tecnologias para au- tomação e troca de dados e utiliza conceitos de sistemas ciber-físicos, IoT e computação em nuvem. Faciçita a execução de fábricas inteligentes. 29
  • 30. A h, as abelhas. Animais im- portantes para girar as engre- nagens do ecossistema, elas contribuem para polinização de diver- sas espécies de plantas. Geralmente elas são retratadas como bichos fofos e inofensivos pelos meios de comuni- cação, pois, além de sua importante função, produzem o mel, entre outras substâncias úteis a nós. Texto | Joel Felipe Horácio Imagem | Wiki Imagens Antídoto àvista! Inovação Primeiro antídoto contra o veneno da abelha é brasileiro e, pela primeira vez na história científica, um antiveneno é testado em seres humanos 30
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  • 32. Benedito Barraviera, professor da Unesp e coordenador do projeto. Após a extração do veneno, este é encaminhado ao CEVAP para sua purificação e preparo do antígeno de inoculação, (proces- so no qual os agentes do veneno são enfraquecidos), para então depois seguir ao IVB para a hip- erimunização dos cavalos. Os estudos para a disponibili- zação do veneno na rede pública de saúde estão em fase final, conforme explica Ferreira Junior. “Nesta fase avaliamos a segu- rança do antídoto e encontramos a me- lhor dose para seu uso. Para tanto, serão avaliados 10 pacientes adultos e esperamos finalizar esta fase em dezembro de 2016”, afirmou. Ao final dos O Instituto Vi- tal Brazil (IVB) está produzindo um soro anti- apílico, inédito no mundo. Cuidado! Algumas espécies são perigosas, se provocadas. As abelhas africanizadas, presentes ao longo do território nacion- al, são agressivas e venenosas. Conforme afirma o professor Rui Seabra Ferreira Júnior, um dos desenvolvedores do antído- to, da Faculdade de Medicina veterinária e Zootecnia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Botucatu, cerca de 300 picadas dessas abelhas podem ser suficientes para matar uma criança. Já para um adulto, são necessárias por volta de 500. Segundo o Ministério da Saúde, por meio do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), no Brasil, em 2015, foram registrados aproximada- mente 12 mil casos, sendo que houve 42 óbitos. Esse antídoto, chamado de soro Antiapílico, foi produzido em uma parceria multidisci- plinar da Unesp Botucatu e o IVB (Instituto Vital Brazil). “A pesquisa tem cerca de quinze anos de desenvolvimento tec- nológico. Foram muitos pesqui- sadores envolvidos neste período. No entanto, a grande dificuldade foi transpor as diferenças que existem entre a pesquisa básica e a aplicada. Para isto, tivemos de adaptar a tecnologia para que fosse viável sua produção em lar- ga escala. O CEVAP (Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos) da Unesp vem se destacando em pesquisas transa- cionais, e já desponta como uma referência mundial”, explica o docente. Para extrair o veneno das abel- has, que, ao picarem suas vítimas, deixam o ferrão no corpo do i- nimigo e pouco depois morrem, foi utilizado um processo não letal para o inseto: a eletroestim- ulação. “É colocada uma placa com fios elétricos de baixa volt- agem, para não matar a abelha, na porta da colmeia. Durante a manhã elas saem da colmeia. Na volta, ao pousarem na entrada, recebem o choque. Aí então elas picam a placa de vidro, onde é depositado o veneno”, explana O soro já está sendo utilizado em dois hospitais, já tratamos quatro pacientes com sucesso Foto: Clarice Castro/ GERJ 32
  • 33. testes, a solução será submetida à ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o teste em um número maior de paci- entes e em mais cidades do país. “Tal medida certamente ajudará a minimizar este problema de saúde pública negligenciado. Com isto realizado, já podere- mos realizar seu registro e assim o IVB, certamente o entregará para o Ministério da Saúde, que já repassa pelo SUS outros soros antivenenos sem custo para a população”, explica. Para chegar ao resultado do soro, é preciso passar por alguns processos: 1) A solução é filtrada e passa por cromatografia (processo que permite a separação de moléculas em soluções complexas), onde são separadas as porções tóxicas. 2) Porções são injetadas nos cavalos, para que eles produzam os anticorpos específicos contra os elemen- tos que causam lesões nos pacientes. 3) As toxinas são inoculadas nos cavalos quinzenal- mente, seguindo um protocolo. Depois de dois ou três meses de avaliação, é verificado se o animal consegue ou não produzir os anticorpos. 4) O cavalo consegue produzir os anticorpos, seu sangue, que passa por diferentes processos para sepa- rar esses anticorpos, torna-se a base do soro antiapíli- co. Boas notícias! O soro já está sendo utilizado em pacientes, em dois hospitais. Botucatu/SP e Tubarão/SC. Quatro pacientes foram tratados com sucesso, dois em cada cidade. Abelhas que superam fronteiras Até 1956, no Brasil, abelhas Apis melífera europeias, mais brandas, eram utilizadas para suas respectivas funções, como produção e mel e polinização de plantas. Elas tinham uma produção relativamente baixa e possuíam certa fragilidade com relação a condições climáticas e doenças. Foi nesse ano que o cientista brasileiro Warwick Estevam Kerr, visando à criação de uma linhagem de abelhas mais produ- tivas e melhores geneticamente, trouxe a variedade africana da Apis melífera para o Brasil. Ao todo, 49 rainhas foram instaladas em Rio Claro/SP. Um acidente no local promoveu a fuga de 26 dessas colmeias, que, ao longo dos anos, espalharam-se não só pelo território nacional, mas também atravessaram Américas, chegando inclusive aos Estados Unidos. Com essa expansão, linha- gens híbridas foram criadas. “As africanas são mais resistente a doenças e pragas, maior, mais agressiva e com capacidade produtiva superior à europeia, sobressaíram-se nas abelhas hi- bridizadas”, explica a doutora em ecologia Denise Alves. De acordo com Denise, os incidentes envolvendo este tipo de abelha são comuns devido à sua proximidade. “As abelhas africanizadas são muito utiliza- das na apicultura e na produção de mel. Por isso, as pessoas têm mais acesso a elas. Elas for- mam colônias muito populosas, possuem muitos indivíduos na natureza. Então a probabilidade de você encontrar uma african- izada é muito maior do que uma mamangava, por exemplo, aquela que tem ferrão muito mais po- tente”, finaliza a pesquisadora. 33
  • 34. acessibilidade napalmadamão Aplicativo desenvolvido por pesquisadores da Unicamp pode ser promissor para a inserção de deficientes auditivos na sociedade A lgum dia você já sonhou que tentava falar, mas a voz não saía? Queria pedir ajuda ou gritar por socorro e nada... A sensação é horrível. Ou, imagine estar em um país no qual você não domina o idioma, a comu- nicação é essencial para a sua viagem, mas você não consegue se comunicar e ninguém te compreende. Chega a ser estranho, até mesmo desesperador, não é? É assim que muitos deficientes auditi- vos se sentem quando tentam ingressar em setores sociáveis que não possuem o recurso de Libras (Língua Brasileira de Sinais). Infelizmente, hoje, pode-se dizer que é muito difícil a comunicação para quem é surdo, poucos recursos têm sido implantados para que eles se sintam cada vez mais parte da sociedade. Texto | Andressa Cristina Imagem | Guilherme Rola Educação 34
  • 35.
  • 36. Segundo o IBGE, 9,7 milhões de brasileiros têm alguma defi- ciência auditiva, sendo que dois milhões possuem deficiência auditiva severa – 344,2 mil são totalmente surdos e 1,7 milhão tem grandes dificuldades para ouvir. Pensando na acessibilidade, no ensino e na melhor capaci- tação dos alunos com deficiên- cia auditiva, o pesquisador José Mario De Martino da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), coordena o projeto TAS (Tecnologias Assistiva Para Surdos) que visa ajudar os surdos a se comunicarem na sociedade, inclusive nas escolas, nos ensinos didáticos e tarefas essenciais. Uma das tecnologias desen- volvidas, o Tales (Tecnologia Assistiva de Leitura para Sur- dos), tem como foco principal o desenvolvimento de um sistema automático de tradução Portu- guês-Libras, no qual a apresen- tação do conteúdo traduzido é realizada por um humano virtual animado, ou avatar, na busca por melhorar a acessibilidade dos alunos surdos ao material escrito e ajudá-los a dominar o portu- guês como segunda língua. Desenvolvimento do projeto. Para que ocorra a tradução au- tomática é utilizada uma abord- agem estatística conhecida como “data-driven”, que tem o corpus linguístico bilíngue armazenado no campo de dados para extrair e aprender regras de tradução. A qualidade das traduções depende do tipo de material utilizado, en- volvendo vários ciclos e cada um deles envolve um conjunto de 11 etapas, obtendo ajuda de vários profissionais especializados. “A nossa equipe é multidisciplinar e envolve engenheiros, programa- dores, linguistas, professores com experiência no ensino de surdos, intérpretes de Libras e surdos. Em particular, os surdos têm atuado propondo e avaliando a tradução do conteúdo do mate- rial”, explica Martino. O projeto será implantado em materiais didáticos do ensino fundamen- tal, as etapas vão da seleção do livro didático até a última etapa, que é a de avaliação, que envolve estudantes surdos que analisam os resultados da tradução e com isso indicam a necessidade ou não de ajustes. O aplicativo pode ser desen- volvido em diferentes platafor- mas – TV ou computadores e é necessário que a plataforma obtenha memória com capaci- dade de processamento para a tradução e animação do avatar. Nossa Língua. Conhecida como como a língua dos surdos, Libras é uma língua natural como o português, a diferença entre as duas é a forma de percepção e produção, enquanto as línguas de sinais são perce- Alfabetização de surdos. No Brasil, mesmo sendo lei, a falta de interpretes de Libras nas salas de aula torna a alfabetização para os deficien- tes precária e a maioria não consegue se alfabetizar. Dados do Instituto Federal do Rio Grande do Sul apon- tam que aproximadamente 30% dos brasileiros com deficiência auditiva não sabe ler português. O 70% restan- tes sabem ler português, mas não têm entendimento claro desta língua. Os projetos desenvolvidos por meio de avatares com traduções automáticas do português para Libras é um recurso promissor para facilitar e alfabetizar os deficientes. “Um aplicativo de tradução automática do português escrito para Libras permitirá ao surdo acesso a um universo de informação que está dis- ponível atualmente somente na forma escrita ”, afirma Martino. 36
  • 37. bidas com olhos e produzida pela movimentação das mãos, as línguas faladas são percebidas pelos ouvidos e produzidas pelo aparelho fonador humano. De acordo com o linguista Plínio Barbosa, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, o vocabulário é bastante rico. “O vocabulário de Libras é suficiente para a comu- nicação entre seus usuários às vezes, com termos mais precisos do que o português, especial- mente no que tange os aspectos espaciais”, diz. O vocabulário de Libras também se adequa à evolução da língua e surgimento de novos termos, principalmente proveni- entes da tecnologia e da internet, como por exemplo: “tuítada”, “me chama no whats”, “dar like”. “Da mesma forma que em português, adapta-se a pronúncia e regras da língua – como no caso de “tuitada”, que claramente combina flexão do português com palavras em inglês pronun- ciadas por brasileiros. Assim, a comunidade interage e escolhe um sinal”, explica Barbosa. Voz da experiência. A defi- ciente auditiva e professora de Libras, Rosemeire Antunes, encontrou grande dificuldade no aprendizado por não ter intérprete em sala de aula. “No meu processo de alfabetização, o método era tradicionalis- mo, conseguia aprender com o apoio dos professores e família, prestava atenção na oralidade para pode fazer a leitura labial”, conta. Rosemeire comenta sobre a importância do projeto TAS e os benefícios que ele pode trazer para os surdos. “Mesmo que em processo de construção, ele pode ser benéfico à pesquisa de con- teúdo e por conter glossários de vocabulários de Libras, facilitan- do a compreensão em salas de aulas”, diz. Não só no ensino, mas para qualquer pessoa com limitação ou deficiência, a falta de aces- sibilidade e outros recursos que auxiliem no dia a dia já tornam a relação social mais complicada. Para os surdos a barreira é um pouco maior, a falta de comu- nicação se torna insuperável. “A falta de acessibilidade dificulta a comunicação dos surdos. Falta Libras e legendas nos cinemas, nos aeroportos e teatros.Tam- bém não tem acessibilidade dentro da área da saúde, social e jurídica. Na área da educação, os surdos têm mais acesso a tradu- tor ou interprete de Libras, que é direito deles, pois é reconhecido por lei”, afirma Rosemeire. Projetos semelhantes ao do TAS também são desenvolvidos em outros países, como nos Es- tados Unidos e países da Ásia e Europa, seguindo o voca- bulário na língua de sinais locais. Um aplicativo de tradução automáti- ca do português escrito para Libras permitirá ao surdo acesso a um univer- so de informação que está disponível atualmente somente na forma escrita A Lei 10.436/2002 reco- nhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e outros recursos de expressão a ela associados. Além de garantir o apoio à difusão da Libras como meio de comunicação da comu- nidade surda, atendimento e tratamento adequado aos deficientes auditivos nos serviços públicos de saúde e, ainda, garantir a inclusão nos cursos de formação de Edu- cação Especial, de Fonoau- diologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino Libras no currícu- lo. No ano de 2005, por meio do decreto 5.626, a lei foi regulamentada. Quer aprender o alfabeto em LIBRAS? Com seu celular, faça a leitura do código ao lado e assista ao vídeo! Tá na Lei 37
  • 38. HORADO BANHONova cadeira de banho é ferramenta para facilitar a vida de usuários e profissionais da saúde H ora do banho! Hora de relaxar, cantar, fazer solos de guitarra mirabolantes, pensar na vida e refletir sobre as mais variadas coisas. Totalmente easy. Entretanto, esse mo- mento não é um mar de rosas àqueles com capacidades motoras reduzidas ou ausentes. Dados do Censo 2010 feito pelo IBGE (instituto Brasileiro de Ge- ografia e Estatística) apontam mais de 860 mil pessoas com grande dificuldade motora ou incapacidade motora. Texto | Joel Felipe Horácio Imagem | Luis Carlos Bem-estar 38
  • 39. 39
  • 40. Pessoas dentro dessa realidade normalmente têm de ser auxi- liadas para poderem higienizar- -se. Além disso, são utilizadas cadeiras – nem sempre capazes de atender ergonomicamen- te tanto a quem está tomando banho quanto à pessoa que a auxilia. Pensando nisso, Rodrigo Curimbaba, mestre em Design pela Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Bauru, desenvolveu, durante o curso, o projeto de cadeira de banho mais ergonômica, produ- zida a partir das necessidades de profissionais da área da saúde e usuários. “Fiz pesquisa de cam- po durante um ano em hospitais públicos, particulares, clínicas de repouso para idosos e em home care. Foram entrevistados 50 profis- sionais, entre enfermeiras, téc- nicas em enfermagem, auxiliares de enfermagem e cuidadores, que faziam uso da cadeira de banho em suas atribuições”, ex- plica. Além disso, Curimbaba também conversou com vinte usuários de cadeira de banho que foram submetidos a medições corporais para embasar a tese de que as medidas utilizadas nas ca- deiras não são mais compatíveis com as da população de usuá- rios. O projeto do equipamento utilizado é datado da década de 1960”, aponta. As cadeiras são muito estreitas e o paciente, muitas vezes fica descon- fortável, pois elas não se encaixam às suas medidas Transtornos. O depoimento da enfermeira Victoria Azeredo, da Santa Casa de Limeira, dá dimensão das dificuldades que esses profissionais enfrentam. “As cadeiras são muito estreitas e o paciente, muitas vezes fica desconfortável, pois elas não se encaixam às suas medidas. Isso dificulta o trabalho da equipe e o paciente também não recebe um banho adequado. Além disso, recorrentemente temos dores nas costas por termos que ficar agachadas durante muito tempo, por conta de a cadeira ser muito baixa”, conta. Cadeira. Conforme Curimba- ba explica, o projeto foi baseado a partir dos dados coletados das pessoas que se dispuseram a ter suas medidas colhidas, bem como depoentes, visando atender às necessidades de profissionais e usuários. Um modelo de cadeira de banho recebeu modificações que favorecem a movimentação dos profissionais enquanto dão banho aos usuários, promovendo agilidade e evitando movimentos desnecessários e desconfortos. Já com relação aos usuários, há possibilidade de ajustes con- forme suas medidas, e materiais para revestimento do equipa- mento, com o objetivo de me- lhorar o conforto, segurança e usabilidade, foram instalados. O projeto da cadeira encontra- -se em processo de patente, jun- to ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), por meio da AUIN (Agência Unesp de Inovações) e imagens não po- dem ser exibidas. Nova cadeira ainda está em processo de patente. Foto: Luis Carlos/Unimep 40
  • 41. Matenha a postura! Já sabemos que o atual estilo de vida que levamos é desgastan- te. Mas, antes de nossos proble- mas, tarefas, ou o que for, é im- portante que prestemos atenção em nossa postura corporal, a fim de evitar lesões. Professor de Educação Física, Joacir Rogge Mugnaini explica as consequências de executar tarefas diárias sem a devida pre- caução com as posturas corpo- rais. “A realização de grandes es- forços musculares desconside- rando a ergonomia pode, a curto prazo, causar lesões localizadas como contraturas musculares, tendinosas e ligamentares. Estas lesões, a médio prazo, tendem a evoluir quando não tratadas e o resultado a longo prazo pode ser um desvio postural mais grave ou processos de degeneração de tecidos irreversíveis, com perda de mobilidade e redução de qua- lidade de vida”, alertou. A manutenção de postura se- gura, segundo Mugnaini, aliados a outras ações, acrescenta na saúde do corpo um bom condi- cionamento musculoesquelético e também flexibilidades das es- truturas musculares e articulares. Praticar musculação melho- ra o tônus muscular, define os músculos e cria uma boa postura permitindo executar movimentos com técnica e menos gasto energético Os diferentes exercícios de alongamento e forta- lecimento do pilates são ótimas formas de corrigir a postura. A atividade visa à maior sustentação e ao equilíbrio para as tarefas do dia a dia A natação é um dos esportes mais indicados, quando o assunto é correção postural. Além de benéfico, o exercício feito dentro da água não sobrecarrega as articulações ao trabalhar costas, ombros e braços A yoga trabalha com diferentes que atingem os músculos mais profundos, oferece benefícios para a mente e para o corpo, desenvolvendo maior consciência corporal, força e equilíbrio Dançar é uma atividade que promove a consciên- cia do corpo em relação à força da gravidade, pos- sibilitando, dessa forma, uma postura adequada. Pilates Musculação Natação Yoga Dança Quais exercícios fazer para melhorar a postura? 41
  • 42. O Brasil é um dos países mais empreen- dedores do mundo, surpreendentemente o primeiro do ranking divulgado pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor) em 2015. Porém, a pesquisa aponta o crescimen- to devido à necessidade muito maior do que as oportunidades, categoria esta que permite que o empreendedor enxergue uma lacuna no mercado e seja capaz de desenvolver um novo produto ou serviço para oferecer. Ou seja, falta inovação. Mas será que falta? Segundo dados do MEC (Ministério da Educação e Cultura), no último levantamento feito em 2010, o numero de pesquisadores no país aumentou em 150% em 10 anos. A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), investiu cerce de R$1,8 bilhões em pesquisas em 2015. A questão é que falta ao cientista brasileiro uma visão mais mercado- lógica do seu próprio trabalho, e não apenas acadêmica. Muitas pesquisas (e algumas até desta re- vista) apontam para boas descobertas, o que mostra que os cientistas brasileiros têm as capacidades intelectual e de desenvolvimento que não deixam a desejar em nada para os de fora. No entanto, após todo o trabalho de pesquisa, constatação e comprovação dos seus pareceres, o projeto vai parar no fundo da gaveta. Não é levado adiante, não sai do campo da observância para o da produção. No dia seguinte, ele está pronto para come- çar uma nova pesquisa! Não precisamos romantizar o papel do cientista como alguém que passa horas a fio em um laboratório, de jaleco branco e ex- clamando “eurekas” o dia todo enquanto faz experimentos mirabolantes ou de quem in- veste seus dias tentando descobrir o que veio primeiro: o ovo ou a galinha.Todo cientista deve ser também um empreendedor, levar sua inovação à sociedade, abrir sua própria empresa, ganhar o seu dinheiro. Deixar de ser menos gênio, nerd e pé rapado como Peter Parker e ser mais playboy, filantropo e milio- nário como Tony Stark. Talvez, o que falte mais é, dentro da própria universidade, o fomento ao empreendedoris- mo. Enchem a grade curricular com matérias obrigatórias quem nem sempre acrescentam grandes coisas, mas pecam em não oferecer um ensino voltado à competências mais prá- ticas que ofereçam ferramentas úteis à vida pós-acadêmica e que atendam as necessida- des da nossa sociedade. Mesmo assim, há no Brasil muitos va- les, agtech’s e incubadoras de empresas que oferecem espaço para que, pesquisadores que enxergam potencial econômico em suas pesquisas, criem uma startup e iniciem seus projetos – e não faltam exemplos de ideias que deram certo, mesmo com todas as di- ficuldades e burocracias encontradas aqui. Recentemente, a cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, lançou uma campanha em que se reconhece como polo de inovação tecnológica na Agricultura em parceria com setores públicos e privados: o Vale do Piraci- caba/AgTech Valley, buscando dentre outras coisas, o surgimento de novos empreendi- mentos e uma cultura colaborativa em inova- ção tecnológica. Ao cientista, basta arregaçar as mangas! Artigo Do laboratório direto para sua casa! Thiago Peres 42