Este Ebook é uma compilação das postagens do blog “The Unforgiven Souls” da primeira temporada, tendo como extras as versões especiais de personagens que mudarão completamente a forma de verem os mistérios, desvendando alguns e criando outros... Esperemos que gostem, deixem comentários para que saibamos como se sentem, tentamos fazer o melhor!
Basicamente, é a história de cinco criaturas - duas bruxas e três vampiras - que vivem em conjunto numa penthouse em Moscovo, até aqui nada de mais se não fosse o facto de se odiarem de morte e de todas terem um passado conturbado, cheio de mistérios e muitos podres, a coisa piora quando eventos do passado voltam para assombra-las; Memórias, pessoas, crimes passionais e muito mais.
3. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Personagens Principais
3
VAMPIRA: CARMEN MONTENEGRO
Personagem escrita por Denisse Sousa
Cor de cabelo: Ruivo
Cor de olhos: Cinzentos
Cor favorita: Vermelho
Defeitos: Orgulhosa e às vezes irónica
Enquanto humana: Era caçadora de Vampiros
Fraqueza: O seu passado e o seu lado humano
Marca: Flor-de-Lis
Melhor Característica: Coragem
Objecto: Duas Desert Eagle 50 Em prateado com as iniciais: CM
País de Origem: Espanha
Época: Sec. XV
A imagem da Carmen pertence a Victoria Francés
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
4. The Unforgiven Souls
Moscow Season
4
BRUXA: VERONICA RUSSO
Personagem escrita por Lúcia Quintas
Cor de cabelo: Preto azulado
Cor de olhos: Castanhos
Cor favorita: Azul
Defeitos: Manipuladora
Enquanto humana: Era uma Mulher Submissa e Maltratada
Fraqueza: Recordações
Marca: Três Lágrimas
Melhores Características: Misteriosa, Imortal e Vingativa
Objecto: Faca de Prata
País de Origem: Itália
Época: Sec. XVI
A imagem da Veronica pertence a Victoria Francés
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
5. The Unforgiven Souls
Moscow Season
5
BRUXA: CLAIRE HARRIS
Personagem escrita por Mónica Ferreira
Cor de cabelo: Ruivo Escuro
Cor de olhos: Castanhos Esverdeados
Cor favorita: Preto
Defeitos: Teimosa
Enquanto humana: Era uma Jovem Ingénua
Fraqueza: Sentimentos
Marca: Pentagrama no Pulso
Melhor Característica: Determinação
Objecto: Livro das Sombras
País de Origem: Desconhecido
Época: Sec. XVI
A imagem da Claire pertence a Victoria Francés
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
6. The Unforgiven Souls
Moscow Season
6
VAMPIRA: SHEFTU NUBIA
Personagem escrita por Sofia Duarte
Cor de cabelo: Loiro
Cor de olhos: Azuis
Cor favorita: Vermelho
Defeitos: Manipuladora e Diabólica
Enquanto humana: Prometida ao Faraó Snofru
Fraqueza: Pessoas Dominadoras
Marca: Cruz Ansata
Melhores Características: Bela e Erudita
Objecto: Rosa Vermelha
País de Origem: Egipto
Época: 2615 a.C.
A imagem da Sheftu pertence a Deligaris
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
7. The Unforgiven Souls
Moscow Season
7
VAMPIRA: SAMANTHA SAINT
Personagem escrita por Andreia Correia
Cor de cabelo: Castanho-escuro
Cor de olhos: Castanhos
Cor favorita: Roxo
Defeitos: Snobe e Materialista
Enquanto humana: Não se Recorda do que Foi
Fraqueza: Homens Bonitos
Marca: Escorpião
Melhores Características: Sedutora e Sensual
Objecto: Pentagrama
País de Origem: Grécia
Época: Sec. XVIII
A imagem da Samantha pertence a Victoria Francés
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
8. The Unforgiven Souls
Moscow Season
EP1 - "Old Habits Die Hard" by Carmen
É uma armadilha! Cheira a armadilha! Só pode ser…
O meu sexto sentido berrava na minha cabeça, enquanto entrava pela casa
8 abandonada. Pé ante pé em cima daquele soalho velho e irritante. Ali estava eu, com a
minha pistola em punho, com todos os meus sentidos em alerta máximo. O instinto de
uma caçadora nunca se engana mas, naquele momento era ignorava-o por completo: 1º
erro.
É uma armadilha!
Ignorei novamente, só via o meu objectivo: caçar aquele sugador de sangue. Caça-lo
e junta-lo a minha enorme lista de mortes, afinal era caçadora por alguma razão, certo?
Movimento do lado esquerdo e viro-me com a minha estaca de madeira apontada a
escuridão. Os segundos passam e passam lentamente e o meu coração quase que salta
do peito…
― Carmen... – Chamou-me uma voz masculina e sensual na escuridão. – Carmen…
Virei-me para o local de onde veio o som mas, não vi nada.
― Mostra-te, presas! – Ordenei, a minha voz ecoou pela casota velha.
Novamente silencio, mortal. Não podia deixa-lo escapar, percorrera o país a procura
daquele vampiro e estava disposto a junta-lo a minha colecção.
Senti uma aragem atrás de mim e virei-me.
― Boas…- A minha frente estava um belo homem, de cabelos compridos pretos e
grandes olhos vermelhos. Cara pálida, estranhamente pálida mas, com os lábios
vermelhos. Fiquei sem ar ao confrontar-me com a sua beleza, naquele momento eu
soube que a minha vida humana, chegara ao fim…
Abri os olhos, despertando da minha memória. Precisei de uns segundos para
recompor-me. Todas as noites era assolada pela recordação da minha transformação,
não sei porquê; Talvez por serem a minha última lembrança enquanto ser humana, daí
revivê-la todas as noites…
Dei por mim em frente ao computador.
― Outra vez, em volta do computador… - Disse uma voz feminina. Virei a cabeça e
vi Verónica.. – Por favor, não me digas que andas a procura de mais “casos” para
passar aos teus colegas caçadores.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
9. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Ali estava ela, Verónica uma das nossas bruxas de companhia. Estava encostada a
porta atirando a sua faca ao ar.
― O que queres?! – Perguntei sem paciência para atura-la.
― Devias mesmo deixar essa vida para trás. Não é o que tu és e, não é saudável…
9
Não mo dizia num tom de amizade mas, sim prepotência como se soubesse que essa
era a minha maior falha.
Não somos propriamente amiguinhas e queridas, apenas companheiras de viagem.
Nenhuma de nós aguenta e nem pode ficar no mesmo sítio mais do que um mês.
Primeiro, porque o aumento da mortalidade masculina entre os 20 e os 40 anos
aumenta drasticamente, Segundo, quem é que aguenta ficar um mês no mesmo sítio?
Verónica deu uns passos na minha direcção.
Rodei a cadeira na sua direcção, estava a ponto de ataca-la.
― Vives no passado, Carmen. O tempo de caçadora já lá vai...
― Eu sou caçadora, sempre fui e vou ser.
Verónica sorriu ironicamente.
― Correcção: Tu não és caçadora, és uma vampira!
― Isso não significa que tenho de parar de fazer o meu trabalho! – O meu tom era de
ordem. Verónica voltou a meter-se direita.
― Tudo bem, presas. – Voltou-se para a porta. – Não sei porquê, mas, simplesmente
adoras sofrer!
Exclamou sorridente e saiu do quarto deixando-me sozinha. Voltei-me para o
computador e vi o caso a minha frente, assim que tivesse oportunidade iria investiga-
lo.
Levantei-me e dirigi-me a janela do meu quarto. Podia ver toda a cidade de Moscovo
coberta pela neve. Algo digno de se ver. No céu estava uma bela lua cheia, inspirei
fundo, estava uma óptima noite para caçar.
Espreguicei-me, estalando os ossos dos braços, das costas e das pernas. Aproximei-
me da janela, ficando ao lado de Verónica, do nosso quarto de hotel via-se a cidade
toda, coberta sob um manto de neve. Conseguia ouvir o batimento cardíaco de cada
pessoa que andava na rua. A minha sede aumentava.
Peguei no meu casaco, nas chaves do carro e saí do quarto trancando-o a chave.
Havia demasiada coisa ali dentro e não queria que andassem a coscuvilhar. Estávamos
no quarto na penthouse do melhor hotel na cidade. Éramos ricas o suficiente para tal.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
10. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Não gostávamos de ostentar mas, isso não significa que temos que tínhamos que viver
mal.
Entrei no carro e guiei sem parar, não sabia para onde ia nem o porquê mas, quando
10
tenho sede deixo-me levar pelo instinto. Não sinto o carro nem vejo a estrada, parece
que vou em transe até chegar onde quero.
E, neste caso, cheguei a um bar, parei uns segundos a entrada, tentando analisar mais
ou menos o local e sorri. Assim que entrei no bar, foi a loucura total. Conseguia ouvir
os batimentos de todos os homens presentes, como escolher? Mas, logo encontrei.
O homem era alto, forte, com penetrantes olhos verdes e cabelo preto. Tinha um tom
de pele moreno e via-se que p raticava desporto.
― Boa noite. – Disse-lhe sorridente.
― Boas. – Respondeu-me tambem.
Olhei para o seu pescoço e conseguia ver a veia a pulsar-lhe do pescoço. Conseguia
ouvir o seu coração suculento de sangue, o correr do sangue nas veias…apetecível.
― Posso convidar-te para um jogo?
Ele sorriu-me, estava a ponderar se devia ou não aceitar.
― Não sei.
― Tens medo de perder?
― Não, eu sou um cavalheiro, não quero magoar os teus sentimentos ao derrotar-
te…iria sentir-me mal.
― Não te preocupes com os meus sentimentos…
Tinha-o agarrado, eu sabia. Conseguia sentir a sua luta pessoal.
― Tudo bem…
Apanhado! Lancei o isco e ele comeu-o com gosto.
Depois do jogo, que eu perdi de propósito, deixei-o beber umas quantas cervejas.
Não bebi com ele mas, não deixei embriagar-se, afinal, o sangue não saberia muito
bem se estivesse podre de bêbado.
Daí a leva-lo para a sua carrinha Chevrolet a cair aos pedaços, foi fácil. Disse que
queria boleia para casa, estava muito longe, e juntei uma carinha de cãozinho
abandonado a mistura.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
11. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Levei-o por caminhos desertos e longe de tudo.
― Pára aqui…- Pedi gentilmente. O homem parou o carro junto a berma da estrada e
eu virei-me para ele. – Podes começar a correr…
Ele riu-se.
11
― Porquê?
Eu sorri tambem mas, não por muito tempo. Mostrei-lhe as minhas presas e os meus
olhos brancos, a sua reacção foi impagável. Ficou branco que nem cal, largou um
berro como se fosse uma menina assustada e saiu a correr. Dei-lhe um avanço de uns
bons metros, uma das vantagens de ser vampira: A velocidade.
Saí do carro lentamente e ajeitei a roupa. Conseguia vê-lo a correr e seguiu-o sem
muito esforço. Em pouco tempo estava mesmo atrás dele, estiquei a perna, ele
tropeçou e estatelou-se no chão. Virei-o com o pé e sentei-me em cima dele.
Ignorei os pedidos de misericórdia e de piedade, aprendera a não deixar que me
afectassem. Agarrei-o pelo pescoço e mordi-lhe com toda a força. Senti o seu sangue
na minha boca, na minha língua: Quente, cheio de adrenalina e medo. Sabia muito
tempo e deixou-me com vontade de repetir, pena que o ser humano não tinha muito
sangue. Suguei-o até não haver mais o que sugar, deixei-o cair inerte, sem vida no
chão. E suspirei…já sabia o que vinha a seguir. A culpa!
Levantei-me e observei o corpo do jovem morto e fui assolada pela culpa.
― A culpa é horrível…
Virei-me e vi uma jovem junto a uma árvore. Trazia um vestido ruivo e era muito
bonita.
― Claire…O que fazes aqui?!
Ainda estava em modo de caça, as minhas roupas estavam sujas de sangue e ainda
tinha as minhas presas de fora.
― Estava a passear e ouvi-te a caçar. Quando és tu, os homens gritam…
― A sério?! Que engraçado…
Ignorei-a e observei o corpo. A culpa, era tão forte. Eu sou um monstro!
― Carmen, porquê que te torturas? – Senti Claire aproximar-se. – Não vale a pena,
aceita quem és. Deixa o teu passado de fora…
Voltei-me para Claire, interrompendo o seu movimento.
― Deixa-me em paz, se não queres ficar sem pescoço!
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
12. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Claire sorriu.
― Não tenho medo de ti…- Ela meteu as mãos atrás das costas. – E sei que não me
farias mal, tu não és assim.
Revirei os olhos, não suportava aquela bruxinha amiga de tudo e todos. Sempre
12
aprendi que nunca ninguém é bom e simpático, só por ser. Tem sempre algo por detrás
e a Claire…ela…era um enigma. Parecia saber sempre mais do que mostrava.
Peguei no corpo do homem, tinha de dar-lhe um fim decente.
― Não! – Claire estava a minha frente. – Deixa que eu faço isso.
― Não sabes como se…
― Nem tudo tem que ser pelo fogo e pelo sal, Carmen. – A bruxa estendeu os
braços. – Eu sei uma maneira melhor de deixar a alma dele em paz.
Deixei o corpo cair no chão pesadamente e virei as costas a bruxa.
― Como queiras. – Parei de repente e voltei-me. – Queres que te espere?
Claire estava debruçada sobre o corpo, com um livro nas mãos. Olhou para mim e
sorriu.
― Não. Podes ir, Carmen. Não demoro.
A medida que caminhava, fui-me deixando consumir pela culpa. Era verdade, eu era
um monstro. Uma sugadora de sangue reles. Eu que ganhava a vida a matar criaturas
deste tipo, tinha-me tornado numa delas e, mesmo com décadas de experiencia,
continuava a não aceitar-me como tal. Encostei-me a uma árvore senti-me cansada.
Não fisicamente mas, psicologicamente. Limpei a boca e ergui os olhos, foi então que
eu vi. Nas sombras, ao longe um vulto olhava para mim. Não consegui dizer nada,
nem fazer nada, apenas limitei-me a olhar para ele. Era humano, conseguia sentir o seu
coração bater, estava ansioso e talvez assustado. E o cheiro, era-me familiar. Muito
familiar. Mas, da onde?
Com um piscar de olhos aquele vulto desapareceu. Olhei em volta tentando encontra-
lo mas, não o via. Será que tinha sido imaginação minha? Quem era aquele vulto
e…porquê que a sua presença incomodara-me tanto? Pior, porquê que me era tão
familiar?
Para comentar clicar aqui
(é necessário estar ligado à internet para seguir o url)
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
13. The Unforgiven Souls
Moscow Season
EP2 - "We All Have A Weakness" by Veronica Russo
Entrei sigilosamente no quarto de Cármen.
13 ― Outra vez, de volta do computador… – Disse bem alto. Cármen virou a cabeça e
olhou para mim – Por favor, não me digas que andas a procura de mais “casos” para
passar aos teus colegas caçadores.
Ali estava, sentada como um cãozinho à espera que lhe abrissem a porta para poder
entrar em casa. Estava encostada a porta atirando a minha faca ao ar.
― O que queres?! – Perguntou de forma "educada".
― Devias mesmo deixar essa vida para trás. Não é o que tu és e não é saudável…
Sinceramente não o dizia para o seu bem. Dizia-lhe porque adorava meter o dedo na
ferida.
Dei uns passos na sua direcção.
Rodou a cadeira. Estava com cara de poucos amigos. Mas isso passava-me ao lado.
― Vives no passado, Carmen. O tempo de caçadora já lá vai...
― Eu sou caçadora, sempre fui e vou ser.
Sorri ironicamente.
― Correcção: Tu não és caçadora, és uma vampira!
― Isso não significa que tenho de parar de fazer o meu trabalho! – Disse com uma
voz mais forte.
― Tudo bem, presas. – Voltei-me para a porta. – Não sei porquê, mas, simplesmente
adoras sofrer!
Exclamei sorridente e sai do quarto.
Depois de falar com Carmen vesti o casaco e sai da penthouse. Precisava mesmo sair
dali durante um par de horas. Aquela vampira com mania que era caçadora cansava-
me a paciência.
Comecei a caminhar, sem destino, já era tarde e o pessoal que havia pelas ruas eram
jovens que saíam das discotecas.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
14. The Unforgiven Souls
Moscow Season
De repente os meus olhos ficaram cravados num casal. Ele gritava imenso e
empurrava-a, enquanto que ela só pedia desculpa e chorava como uma madalena
arrependida.
14
Começaram a suar-me as mãos e a tremerem-me as pernas, passados uns segundos
deixei de ver por completo aquele casal e apareceu uma imagem a minha frente. Vi-
me a mim mesma de joelhos, chorava imenso e tinha a cara cheia de sangue. À minha
frente estava um rapaz que olhava fixamente para mim com uma cara muito séria. Sem
dizer uma palavra agarrou-me por um braço e levantou-me, parecia que eu sabia o que
me ia fazer e comecei a gritar.
Fiquei cega outra vez e outra imagem apareceu. Dessa imagem já tinha mais noção
do tempo em que tinha acontecido.
Desta vez quem estava de pé era eu e era eu que olhava fixamente. No chão estava o
corpo sem vida daquele jovem que anteriormente me tinha agarrado pelo braço.
Eu simplesmente olhava para ele. Desta vez não chorava. Lembro-me que não senti
qualquer tipo de tristeza ao vê-lo ali, morto diante do meu nariz.
De súbito a imagem desapareceu e voltei a ver o casal que discutia. Foi então que me
viram e começaram a andar pela rua. Não pensei muito e fui atrás deles.
No final da rua havia um enorme caminho com árvores dos dois lados. Olhei para os
todos os lados da rua para ver por onde haviam ido, mas aquele sítio escuro estava
completamente vazio.
Senti uma má sensação.
- Isto não é normal. - Disse em voz baixa.
Baixei-me lentamente, tirei a minha faca da bota direita e ocultei-a entre a manga do
casaco.
Não podia empunhá-la sem mais, podia ser falso alarme. Levantei-me e comecei a
caminhar lentamente. O meu instinto detectava algo. Mas o quê?
Depois de avançar um par de metros vi a rapariga no chão por detrás de uma das
árvores. Corri sem pensar que podia ser uma armadilha.
Sem dúvida era humana, podia senti-lo. Estava inconsciente. Tinha sangue na cara,
parecia que tinha o nariz partido.
Voltei a ficar cega, mas desta vez de raiva.
- Onde estás, cobarde! - Gritei sem pensar. - Onde estás? Que se passa, só gostas das
que choram?
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
15. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Olhei à minha volta. Estava muito escuro. Tinha uma certa dificuldade em ver bem a
larga distância.
Caminhei alguns metros mas nem sinal dele. Até que, uns segundos depois, senti
uma dor imensa nas costas. Virei-me e ali estava ele, diante de mim com uma navalha
na mão. Senti-me desvanecer. Cai ao chão mas sem saber muito bem como voltei a
15 estar completamente lúcida.
Dei-lhe um pontapé com todas as minhas forças e ele caiu sem saber muito bem
como. Era humano, consegui senti-lo. Levantei-me com dificuldades e tirei a faca que
continuava oculta na manga.
Ele continuava estendido no chão agarrado a barriga.
Revirei os olhos e entrei numa espécie de transe. Ele começou a contorcer-se no chão
mas desta vez não por culpa das minhas botas. Sem mais, deu um grito de dor mas
sem explicação calou-se de repente.
Sai do transe e olhei para ele. Ali estava ele, no chão, sem vida. Tinha-lhe roubado a
única coisa que lhe pertencia realmente: A sua triste alma.
Estava bem guardada no punho da minha faca. De ali só para a minha caixa das
recordações.
Senti-me desvanecer outra vez. Cai novamente ao chão já quase sem forças. Depois
de uns segundos e antes de perder os consegui ligar a Claire.
- Ajuda-me! - Disse.
- Verónica? Onde estás? Verónica? Verónica?
Despertei lentamente. Doía-me imenso o corpo. Olhei à minha volta. Não sei bem
quanto tempo estive inconsciente mas suponho que um par de horas. Junto á porta,
encostada a parede estava Samantha.
Que estava aquela coisa a fazer no meu quarto?
- Que fazes tu aqui? - Preguei de maus modos.
- Queria ver se morrias! - Disse com ar de gozo.
- Não morro tão facilmente, ignorante. Sou imortal!
- Alguma forma deve haver para acabar contigo.
Nesse momento entrou Claire e Sheftu. Olhei com um olhar ameaçador para
Samantha mas ela deixou escapar um pequeno sorriso.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
16. The Unforgiven Souls
Moscow Season
- Como estás? - Perguntou Claire.
- Dói-me imenso o corpo mas para desgraça de muita gente vou sobreviver! - E
lancei outro olhar a Samantha. Voltei a olhar para Claire, que não entendia nada do
que se passava. - Como me encontraste, Claire?
16
- Não fui eu... Foi ela! - Disse apontado para Sheftu.
- Como me encontraste?
- Pelo bater do teu coração! Os batimentos são como as impressões digitais... não
existem duas iguais...
- E porque me ajudaste?
- Não o fiz por ti… Por mim podias...
- Não te atrevas! - Interveio Claire.
De repente toca o meu telemóvel. Com muita dificuldade para me mexer consegui
alcançá-lo e atendi.
- Sei quem és! E sei o que fazes! - Exclamou uma voz do outro lado.
- Quem és tu? Quem és tu?
Para comentar clicar aqui
(é necessário estar ligado à internet para seguir o url)
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
17. The Unforgiven Souls
Moscow Season
EP3 – “Classical Beauty” by Claire Harris
Sentada no parapeito da minha janela, olhava para o exterior. Sentia o vento a bater-
me na cara levemente. Dentro do quarto ouvia-se uma melodia. Um pequeno rádio
tocava música clássica. “Um violino” pensei. Mas, de repente, a minha atenção foi
17
puxada para outra coisa. A discussão no quarto ao lado.
― Vives no passado, Carmen. O tempo de caçadora já lá vai... – disse uma voz, que
conheci como sendo a minha querida Verónica.
― Eu sou caçadora, sempre fui e vou ser. – Outra voz retorquiu. “Carmen” – pensei
– “Estas duas e as suas discussões…”. Voltei a por a minha atenção no vento que
soprava lá fora e na bela vista que tinha a minha frente. Sempre fui uma amante da
beleza. Das Artes. Da Natureza. A certa altura vi alguém sair pela porta da frente. Era
a Carmen. “Para onde iria ela?” Pensei.
Levantei-me rapidamente e vesti-me, já que ainda me encontrava de camisa de noite.
Sai pela porta das traseiras e tentei segui-la. Ela foi de carro e eu a pé, mas o meu
instinto não falhava. Não com elas. Viver com elas na mesma casa deu-me a
oportunidade de conhecê-las. Posso, aliás, dizer que as conheço melhor do que elas
mesmas. Ficar sentada a observá-las, noites a fim, enquanto falam, discutem,
planeiam… dá uma ideia boa de como elas são. Como reagem, como actuam. Gestos
valem mais que palavras. O corpo não nos engana. As palavras por outro lado…
Segui-a e fui parar a um bar. Fiquei a olhar pela janela, somente, enquanto ela
entrava e avaliava as pessoas no interior. Fiquei ali bastante tempo a observá-la e a
notar as suas acções. Após umas bebidas e uns jogos ela foi com um homem para uma
carrinha Chevrolet já bastante em mau estado. Segui-a uma vez mais, desta vez o meu
instinto dizia que a minha ajuda seria necessária ali.
É engraçado. Sou a mais silenciosa do grupo. Mantenho-me sempre calada, no meu
quarto a ouvir música clássica ou no sofá a observá-las enquanto leio um bom livro,
mas no final…
Ouvi um grito. “Já começou” Pensei. Fiquei atenta enquanto vi o mesmo homem de
antes a correr pelo parque. A Carmen saiu do carro, ajeitou-se e em poucos segundos
apanhou-o. Matou-o.
Os olhos dela. Culpa. Um dos piores sentimentos… e um dos poucos que o vampiro
sente.
- A Culpa é horrível… - disse-lhe calmamente.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
18. The Unforgiven Souls
Moscow Season
― Claire…O que fazes aqui?! – Respondeu-me espantada com a minha presença.
Mal ela sabia que a acompanhava desde o inicio da noite.
― Estava a passear e ouvi-te a caçar. Quando és tu, os homens gritam…
― A sério?! Que engraçado… - disse, sem prestar real atenção às minhas palavras.
18
Olhou para o corpo moribundo por baixo dos seus pés e, mais uma vez, aquele olhar.
― Carmen, porquê que te torturas? – Aproximei-me dela. Não sou fã da
proximidade, mas neste caso achei necessário. Também porque no final quem ficaria
com aquele homem, a tratar dele, seria eu – Não vale a pena, aceita quem és. Deixa o
teu passado de fora…
― Deixa-me em paz, se não queres ficar sem pescoço! – Gritou.
― Não tenho medo de ti…- Disse-lhe. Será que ela ainda não entendeu que não sinto
medo? Medo… – E sei que não me farias mal, tu não és assim.
Ela pegou no corpo do homem, mas impedi-a de fazer muito mais.
― Não! – Disse – Deixa que eu faço isso.
― Não sabes como se…
― Nem tudo tem que ser pelo fogo e pelo sal, Carmen. – Respondi serenamente – Eu
sei uma maneira melhor de deixar a alma dele em paz.
Deixou o corpo cair e virou-me as costas.
― Como queiras. – Respondeu, com um tom insatisfeito – Queres que te espere?
Debrucei-me sobre o corpo e tirei o meu livro do saco que me acompanhava.
― Não. Podes ir, Carmen. Não demoro. – Respondi.
Ela começou a afastar-se e eu fiz o que tinha a fazer. Típica cerimónia que a minha
avó me ensinara séculos antes.
Depois de terminada deixei o corpo do homem ali e telefonei para a polícia para que
fossem buscar o corpo. Já não havia perigo e o homem merecia um funeral decente.
Sai do parque e olhei para as horas. Estava na altura de ir para casa. “Casa” pensei
“Como se a penthouse de um hotel fosse uma casa…” revirei os olhos. Após uns
longos minutos de caminho o meu telefone tocou. Vi o nº da Verónica no ecrã e atendi
calmamente.
- Verónica...
- Ajuda-me! – Respondeu o outro lado.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
19. The Unforgiven Souls
Moscow Season
- Verónica? Onde estás? Verónica? Verónica? – Gritei, preocupada.
O telefone desligou-se. Comecei a correr com todas as minhas forças para casa.
Assim que cheguei comecei a chamar pela Sheftu.
- Sheftu! Sheftu! – Gritei – Onde raio estás?
19
- Estou aqui. Calma. Nunca te vi assim tão… – disse, mas não a deixei acabar.
- Preciso da tua ajuda, agora. Não há tempo para conversas fúteis. Vem. – Contei-lhe
o sucedido.
- E porque razão vou ajudá-la? - Sheftu perguntou.
- Porque eu te peço. E isso basta. – Respondi, severamente.
Aí a Sheftu obedeceu e fez o que costuma fazer. Ela sabia o que fazia. Dois milénios
de vida tinham de servir para algo, foi o que ela sempre disse. Através dos batimentos
cardíacos da Verónica ela conseguiu encontrá-la. Foi complicado de início. Os
batimentos soavam fracos. Por mais estranho que parece, a Verónica estava lá em
casa. No quarto dela.
Entrei a correr pelo quarto e deparei-me com a Samantha à porta, mas ignorei-a.
Corri para o pé da Verónica:
- Como estás?
- Dói-me imenso o corpo mas para desgraça de muita gente vou sobreviver! –
Respondeu-me e olhou de forma ameaçadora para a Samantha. Não entendi o que se
passou ali, mas decidi deixar para depois as perguntas. - Como me encontraste, Claire?
- Não fui eu... Foi ela. – Respondi, apontando para Sheftu.
- Como me encontraste? – Questionou Verónica, ainda fraca.
- Pelo bater do teu coração. Os batimentos são como as impressões digitais... não
existem duas iguais... – Sheftu disse calmamente.
– E porque me ajudaste? – Perguntou.
- Não o fiz por ti… Por mim podias... – Foi a resposta de Sheftu mas foi
interrompida pela minha voz.
- Não te atrevas! – Intervim.
Neste momento o telefone da Verónica tocou. Ela atendeu e após desligar a chamada
ficou com um ar assustado.
- Vamos, temos de tratar de ti. – Ignorei o facto da chamada telefónica e apenas
levantei-a levando-a até a cozinha.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
20. The Unforgiven Souls
Moscow Season
- Senta-te – ordenei. Fui até ao armário e tirei umas quantas ervas. Fiz um chá para
ela acalmar-se.
- Toma. Bebe. Relaxa e depois contas-me o sucedido. – Entreguei-lhe a caneca cheia.
Ela deu um golo e olhou de lado para a Sheftu. Entendendo o seu gesto, virei-me para
a Sheftu e disse – Sheftu, querida, faz-me um favor. Vai a esta loja – escrevi o nome
20 no papel e entreguei-o – e traz-me Alecrim, sim? Preciso dele para os vossos chás e
infelizmente ele acabou. Obrigada.
Depois de lhe pedir isto, ela pegou nas chaves de casa e saiu.
- Agora – olhei para Verónica – conta-me.
- Bem… Então foi assim… – ela respondeu. Fiquei a ouvi-la contar a sua história e o
sucedido. Tivemos uma longa conversa até chegar a hora do jantar.
- Alguém tem fome? – Ouviu-se uma voz na entrada. Samantha tinha entrado com
uns sacos nas mãos – Quem gosta de comida chinesa? – Sorriu.
- Dispenso. Obrigada. Vou para o meu quarto se não se importam, mas boa refeição.
– Disse enquanto me ausentei. Entrei para o meu quarto, liguei a aparelhagem e voltei
para o parapeito da minha janela.
A cidade encontrava-se agora toda iluminada com as luzes. Olhei para o exterior,
acompanhada por uma bela melodia composta por um piano e um doce violino.
- O Mundo… oh belo Mundo e as tuas catástrofes. – Murmurei – Quem diria que eu,
uma simples camponesa, viveria para ficar a viver numa penthouse de um dos
melhores hóteis da cidade de Moscovo…
O meu telefone tocou. Peguei e olhei para o visor “Daniel”. Atendi calmamente.
- Boa Noite. – Disse.
- Boa Noite meu Anjo – A outra voz disse.
- Anjo? Não estamos simpáticos hoje? – Disse acompanhada por uma gargalhada.
“Também ninguém diria que viveria até estar longe dele. Mas vivi. E continuarei a
viver. Enquanto tiver a minha missão. Enquanto ela não terminar. Irei viver” – Pensei
enquanto falava ao telefone com o Daniel, acompanhada uma vez mais pelo belo som
clássico e a bela vista de uma cidade de beleza escondida.
Para comentar clicar aqui
(é necessário estar ligado à internet para seguir o url)
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
21. The Unforgiven Souls
Moscow Season
EP4 - “Before and After” by Sheftu
Observava a minha colecção de rosas vermelhas, recordando cada momento que elas
me faziam lembrar pelo seu aroma, apesar de milénios nunca perdiam o seu
21
maravilhoso cheiro, muitas vezes ficava nesta sala a deambular até que me desse
fome, mergulhada em momentos e pistas para o que procurava…
- Sheftu! Sheftu! – Ouvi alguém gritar de algures – Onde raio estás? – Agora que
ouvia mais de perto sabia que era Claire, mas que raio queria ela agora? Estava sempre
tão bem no seu silêncio habitual… Decidi ir ao seu encontro para ver qual seria toda
esta azáfama que vinha dos seus batimentos cardíacos.
- Estou aqui. Calma. Nunca te vi assim tão…
- Preciso da tua ajuda, agora. Não há tempo para conversas fúteis. Vem. –
Interrompeu-me, contando-me tudo o que tinha acontecido com Verónica. Como se eu
tivesse muito haver com o assunto…
- E porque razão vou ajudá-la? – Pensei em dizer algo pior, para que me deixasse em
paz, mas nem sempre quero criar guerras nesta nossa penthouse.
- Porque eu te peço. E isso basta. – Ripostou Claire, decididamente ela não me ia
deixar em paz enquanto não a ajudasse… Pois bem, então teria de a ajudar para que
ela me ajudasse a calar a sua boca pelos próximos tempos...
E seus batimentos voltarão ao normal, estava mais descansada pois sabia que eu
sabia bem como encontra-la. Seus batimentos eram demasiado fracos, mal os
conseguiria ouvir, caso ela não estivesse no seu próprio quarto. Típico e ridículo.
Claire correu para junto dela, ignorando a Samantha à porta, bem que a Samantha
podia ter dito que Verónica estava no seu quarto, assim poupava-me muitas chatices.
- Como estás? – Questionou Claire, extremamente preocupada.
- Dói-me imenso o corpo mas para desgraça de muita gente vou sobreviver! –
Comunicou o seu lindo estado e fitou de forma ameaçadora a Samantha. Como era
obvio, não podiam com a cara uma da outra. Mais valia ir-me embora, nada fazia
aqui…
- Como me encontraste, Claire? – Pronto, esta seria bonita de ver quando soubesse
que eu, a maldade do universo para qualquer humano, a tinha ajudado…
- Não fui eu... Foi ela. – Apontou para mim. A expressão de Verónica valia a pena de
todo este momento, a sua confusão era fenomenal.
- Como me encontraste? – Questionou Verónica, ainda fraca.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
22. The Unforgiven Souls
Moscow Season
- Pelo bater do teu coração. Os batimentos são como as impressões digitais... não
existem duas iguais... – Referi calmamente.
– E porque me ajudaste? – Perguntou com uma enorme vontade de responder a toda
essa confusão.
22
- Não o fiz por ti… Por mim podias... – Estava calmamente a explicar-lhe que a
importância da vida dela era tão grande como um grão de pó.
- Não te atrevas! – Mais uma vez Claire exaltou-se, isto está a tornar-se animado.
O telefone de Verónica tocou, fazendo-a atender. Enquanto se ouvia a voz de
alguém, parecia de um homem, a expressão dela mudou drasticamente. Estes dois mil
anos servem sempre para muita coisa, e a audição requintada é uma das mais
interessantes.
- Vamos, temos de tratar de ti. – Claire pegou na fraca e levou-a para a cozinha,
decidi segui-las.
- Senta-te – Ordenou-lhe, indo preparar um chá com umas ervas que foi buscar a um
armário.
- Toma. Bebe. Relaxa e depois contas-me o sucedido. – A sua expressão de
desconfiança olhava vivamente para mim, estava a mais, sabia disso. – Sheftu,
querida, faz-me um favor. Vai a esta loja – escreveu o nome no papel e entregou-me –
e traz-me Alecrim, sim? Preciso dele para os vossos chás e infelizmente ele acabou.
Obrigada.
Eu nem abri a boca, precisava urgentemente de petiscar alguma coisa, estava farta de
estar nesta casa de loucos… Mal tivesse o alecrim nas mãos, entregava-lhe para ir
então tratar do meu petisco. O chá era para comadres, pouco necessitava dele com toda
esta idade que me caia em cima… Agora os petiscos…
Depois de ter encontrado Claire ainda a conversar com Verónica, bem mais
recuperada, seus batimentos cardíacos quase que tomavam a sua força natural, deixei
em cima da mesa da sala com um bilhetinho e fui-me.
Chegava agora a hora de procurar o meu alimento, para que pudesse me divertir um
pouco, para que pudesse deixar um pouco da minha beleza brotar daqueles olhos o
terror brutal. Era sempre uma maravilha estes meus momentos em que saia daquela
casa, longe daquelas supostas vampiras e bruxas… Não sei ainda a razão de me ter
juntado aquele covil de miseráveis, acho que queria ter sempre alguém com
conhecimentos destas áreas para que pudesse encontrar aquele que procuro. E nada
melhor do que um par de bruxas e outro de vampiras jovens para me ajudarem a travar
o mal com um mal melhor…
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
23. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Na verdade, podia ter sido uma dócil criatura antes de ser raptada, uma mulher com o
único objectivo de agradar o faraó, o povo e os restantes deuses do nosso mundo. Com
o tempo toda essa parvoíce evaporou. Apenas algumas marcas do que era ficaram, por
vezes uma ou outra melancolia se abate sobre mim, ficando presa ao ser humano que
já fui, ao sofrimento que cheguei a viver… Mas tudo ficaria sentenciado quando
encontrasse aquele carrasco, o vampiro que me transformou. Não iria deixar que a sua
23
morte permanecesse por muito tempo neste planeta, não me importava se era o meu
salvador ou não, o que importava era que tudo ficasse como devia. Mas tudo isto me
dava uma fome enorme de injustiça e terror, por isso chegava a hora de apanhar a
minha vítima e tratar de lhe mostrar o inferno na terra. Escolhia sempre a minha
refeição pelo seu batimento cardíaco, pelo cheiro que seu sangue me trazia, geralmente
AB negativo, um cálice dos infernais deuses, loucos por resistir e permanecer a
aguentar todas as tribulações que eu lhes impunha. Um bom brinquedo de caça…
Facilmente captava todos aqueles que desejasse, bastava apenas que os escolhesse,
pois o ser humano deseja a sua destruição, se aproxima de tudo o que é vil e negro,
adora e sente-se bem ao entrar em tudo o que é misteriosamente negro.
Minha cruz marcada na pele, prendendo-me ao meu antigo mundo, para aqueles que
me aproximava simbolizava algo que de nada tem a ver com o que realmente é…
Apesar de este símbolo ainda não existir na minha época, sempre vivi bem de perto a
minha terra, tentando sempre me aproximar o máximo possível para que visse como o
meu povo ia evoluindo. Até que fiz seu reinado cair, juntamente com aqueles que
queriam o poder dos faraós. Tudo aquilo que a minha cruz dita, a minha vida depois da
minha morte, a vida que tiro a toda a hora dos vis humanos, em que todo este símbolo
era significado da virilidade dos homens, que a toda a hora vou destruindo, homens
que se sentem acima das mulheres, odioso e nojento costume que sempre criaram
raízes profundas em minhas vítimas. É a virilidade que sempre tiro dos homens,
fazendo-os gemer e pedir clemência, virando pior que ratos, vendo em suas últimas
horas a grandiosidade daquelas que sempre foram abaixo deles. Homens de nada
servem senão alimento, se não tenham já feito alguma mulher brotar de si mais um ser
para este mundo cada vez mais desprezível, tal como eu gosto que seja…
Era já uma marca minha a forma como usava aqueles que me serviam de jantar, não
sabia porquê, mas gostava de apanhar a minha presa logo pela meia-noite, deixando-a
gemer de dor até que sentisse fome, adorava vê-los a me pedirem clemência,
humilhando-se pela suposta vida que têm. Deixava-os numa zona deserta, para que
pudessem tentar salvar as suas vidas (tantas e tantas as vezes) correndo para puderem
escapar de mim, ficando assim com mais um osso partido, com o cuidado de não
derramar muito sangue. As pulsações aceleradas aromatizavam o sangue que depois
bebia aos poucos enquanto a minha presa me observava aterrorizada.
O terror em seus olhos era um perfeito momento excitante, onde a minha caça se
elevava a outro patamar… Sentia o suave deslizar de seu sangue em meu corpo,
aquecendo a pouco e pouco, voltando para o meu doce mundo do Egipto, ficando
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
24. The Unforgiven Souls
Moscow Season
entregue a uma vontade louca de sentir novamente aquela areia sobre os meus pés,
bebendo o meu cálice eterno. Utopia da luz que não verei, de tudo o que me obrigaram
a deixar, raptando-me, mantendo escrava a prometida ao Faraó. Depois a morte veio e
a destruição entrou em mim, fazendo-me quem sou, destruindo todas aquelas vidas
que me escravizaram. Ficando eu escrava às noites eternas, perdendo o dia em que
tudo ficaria bem, a morte já veio, deixando-me aqui. Agora é a minha vez, o mal
24
percorre todo o meu corpo, já que o ser se foi à muito…
Mas não era qualquer pessoa que tinha o direito de sofrer em minhas mãos, tinha
escolhas bastante selectivas, principalmente aqueles homens que eram corajosos ou
destemidos, adorava levar as suas dores ao limite, vendo-os a tentarem a escapar com
determinação e total agonia. Também me divertia com psicólogos, quando me apetecia
ver a evolução desses seres medíocres, tentando arrebatar-me com as suas terapias
totalmente ridículas, nesses fazia questão de ir mais lentamente, para que pudesse
divertir-me com as suas conclusões, com as suas terapias, sempre sem acreditarem
realmente no que eu era até que mostrasse a minha prova, muitas vezes ainda
inacreditável para eles. Julgavam-se dominadores das mentes humanas,
ridicularizavam-se a cada momento em que abriam a boca. Pequenos, inúteis e
curiosos alimentos…
Como uma boa coleccionadora, uso rosas brancas para colocar um pouco do néctar
que me vai alimentando dia-a-dia, para que a rosa já vermelha, com seu sangue bem
guardado, se junte às restantes que vou guardando na minha sala das perturbações.
Normalmente levo o meu alimento lá, para que se inicie a grande caçada…
Simplesmente divertido e alegremente contagiante.
A hora de voltar à minha suposta casa era sempre um pouco chata, estavam todas
aquelas que me davam jeito, absolutamente sem graça e sem vontade para
participarem em meus momentos de diversão. Ainda me lembro quando ainda tentava
juntar as restantes vampiras para uma caça animadora…
- E que vocês pensam de uma caça para nos animar um bocado? – Nenhuma
praticamente tinha dado muita importância ao que eu tinha dito, nada de interesse,
nada de maldades, nada de nada.
- Nem te atrevas a fazer-me essa pergunta de novo. – Ouvia sua voz sobre os dentes
bem cerrados, praticamente com vergonha do que é, sentindo-se culpada pelo par de
presas que tinha recebido. Absolutamente ridículo!
- Eu não penso fazer um desses teus esquemas, joguinhos de terror com comida não é
saudável. – A única que podia até se tornar uma vampira de renome, com presas
dignas da sua espécie, nega-se perante os momentos em que podemos nos divertir um
pouco.
- Tudo bem, pelo menos tentei! Pronto, continuem assim.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
25. The Unforgiven Souls
Moscow Season
E lá vou eu sempre fazer o meu momento com toda a minha personagem, totalmente
aterrorizadora e solitária. Também assim a presa é mais fácil de apanhar, uma mulher
bela e solitária faz o instinto de um homem querer tornar-se um herói! O que é óptimo,
depois de vê-lo como uma menina a suplicar pela salvação…
25
Era estranho, mas pareciam estar todas à minha espera… As suas expressões eram de
estranhar, nunca as tinha visto deste jeito… Estaria algo a acontecer?
- Temos de falar. – A seriedade de Claire era alarmante, a elegância de Samanta
permanecia intacta até neste momento de pura pressão. Apenas os corações das bruxas
batiam descompassadamente, se tivessem vida as restantes, também poderiam bater
dessa forma… Mas agora não era momento para as fazer esperar…
- Sim, já estou aqui. Qual será então esse tema de tanta tensão? – Até a minha própria
voz adquiria um certo tom de seriedade, seria uma longa conversa, era o que temia…
- Comecemos então. – Abriu a sessão da conversa, o tom de Verónica não me
alegrava nem um pouco… Mas alegrava-me a ideia de terem encontrado alguma pista
sobre o meu passado, que pudesse finalmente matar aquele estupor. Essa era uma ideia
que não lhes agradava nem um pouco… Não que tivessem alguma coisa a ver com o
assunto.
Para comentar clicar aqui
(é necessário estar ligado à internet para seguir o url)
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
26. The Unforgiven Souls
Moscow Season
EP5 - "How Was That Guy" - By Samantha
Já estou farta de ouvir aquelas duas a discutir por uma matar e achar que é horrível,
um ser desprezível só porque era caçadora na sua vida humana. E a outra ainda a
provoca chamando-a de monstro… Ridículo.
26
Só gostava de saber porque raio apenas eu não me lembro de quem era na outra vida.
Seria assim tão incompleta? Não sei quem fui, quem me transformou. Se eu o queria
ou não esta… Amostra de vida. Bom, não me posso totalmente queixa, tenho o que o
que qualquer comum mortal deseja. Beleza, uma espécie de saúde, riqueza e homens.
Os homens, hum, esses caem-me aos pés. Idiotas e patéticos, tão superficiais. Basta
lhes dar um arzinho do que eles desejam e até lambem o chão que eu piso. – Riu para
si mesma ao ter essa ideia, ao se recordar.
Verónica que passava, olhou-a com desdém. E a resposta que obteve foi “Mete-te na
tua morte!”.
Sempre a meterem-se nos meus assuntos. Ou sou eu que estou a ficar impaciente e
implicante? Desde que Ele apareceu na minha vida, que simplesmente não me sai da
mente. Tamanha beleza, tanto deslumbrante e esplendor, tão… Estupidamente caótico.
Nunca tinha encontrado ninguém assim.
Não!!! Mas porquê? Se eu posso ter qualquer um que seja, porém só Ele me põem
em êxtase. O vampiro mais estonteante que eu alguma vez tenha visto. Meu
irrepreensível Louis Olive Russian.
Foi naquela noite, a 13 de Maio de 1987 que o conheci, por puro acaso.
Andava a caçar e parei num bar chamado Dixon, onde se faziam as típicas matines.
Estava a procura da minha presa, afinal tinha que escolher bem.
Já tinha tudo mais que visto e ao fim de 3 copos de whisky, achei que ali não tinha
nada de interessante.
Foi então que ele apareceu, vindo do nada. Fiquei extasiada a olhar para tamanho ser.
Seu cabelo cor de ouro, o perfeito sorriso, a pele doce, delicada e intocável. O corpo
de uma tal elegância que poderia desnortear os corações mais fracos… Isto, se eu
tivesse coração. Sua face impecável, como a de um anjo. Um anjo negro. Era
petrificante e ele notou o meu interesse de imediato. Enquanto se aproximava percebi
que não se tratava de um humano mas sim de um outro igual a mim. Como não tinha
percebido logo?
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
27. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Também ele deve ter logo notado o mesmo. Sentou-se numa mesa afastado de mim
porém, olhava-me tão fixamente como se seus olhos cor de mel me fossem absorver a
qualquer momento.
Não me contive, fui ao encontro do estranho, queria saber porque me deixava tão
intrigada. Não era a primeira vez que encontrava outros como eu.
27
Aproximei-me e fiz sinal para saber se me podia sentar na sua mesa, ele anuiu e eu
sentei-me a sua frente.
Ficámos muito tempo a olhar um para o outro sem dizer uma palavra. Apenas a olhar
cada um com o seu copo.
Muitos olhos se colocaram em nós…
- Se não vais falar porque vieste para aqui? – Olhou-me como se me estivesse a
tentar avaliar.
Demorei alguns minutos a responder.
- Não sei bem. A tua presença, - hesitei até encontrar a palavra certa - Intrigaste-me.
A propósito sou Samantha Saint.
- Prazer – Sorriu para mim – Louis Russian. Porque te intrigo? Nunca tinhas
encontrado nenhum… Hum… - Baixou o seu tom de voz ainda mais – Vampiro? -
Sorriu com um ar irónico.
- Sim já como é óbvio, não tenho culpa de tu seres extremamente desejável. Se fosses
humano não te deixaria escapar por nada.
Soltou uma gargalhada surpreendentemente perfeita antes de me dizer, - Posso dizer
o mesmo.
Num sussurro disse:
- Dançamos? É que já está tudo a olhar para nós… Convém passarmos
despercebidos.
Lançou-me um olhar tão profundo que não fui capaz de dizer que não.
Agarrou-me na cintura e prendeu-me de tal forma que quase fiquei sem fôlego. Sua
mão tocou a minha face e dançamos. Dançamos durante horas, ou pelo menos foi o
que me pareceu.
Esse foi o melhor dia da minha eternidade…
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
28. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Maldita confusão daquelas duas, perturbaram os meus pensamentos, e como eles
podem ser tão agradáveis, mas finalmente elas acabaram. Como é realmente
insuportável viver com quatro mulheres? Acho que as posso chamar assim.
28
É melhor chamar aquelas duas para caçar, I NEED A FUCKING CAR! Depois de a
Verónica ter tido um acesso de raiva e ter destruiu o meu maravilhoso, o meu
Mercedes SLK 220. Para a próxima mato-a, disso ela pode ter a certeza! Mas logo
para meu azar ela tinha que ficar naquele estado… Só mesmo comigo.
- Carmen, alguma de vocês vai caçar? Sabem bem que não posso ir a pé, dá
demasiado nas vistas pelo modo como eu o faço e… Cairia um pouco mal – Sorri num
tom amargo.
-Não sei bem se será uma boa ideia… Carmen parece mal disposta, duvido que ela te
empreste o dela…
- Por isso mesmo é que estou a pedir boleia e não o carro!
- Pois, tens que perguntar, acho…
Interrompia a meio da frase. – Olha, esquece OK? Eu vou a pé! Farta de aturar as
vossas birras!
Deprimente. Agora toda esta conversa que tenho de contar vai se brilhante! Sheftu e
o passado dela. Então e eu? Em que é que fico?
Para comentar clicar aqui
(é necessário estar ligado à internet para seguir o url)
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
29. The Unforgiven Souls
Moscow Season
EP6 - "I Feel You" by Carmen
Passado o choque inicial de o ver a minha frente, tentei ataca-lo com a minha estaca
de madeira mas, ele fora mais rápido e atirou-a para longe. A seguir, segurou-me pelo
pescoço e elevou-me a uns vinte centímetros do chão, para que ficasse da mesma
29
altura que ele.
― Isso não foi bonito, Carmenzita! – Disse o meu Criador, com aquela voz suave e
sensual com o seu sotaque francês escondido debaixo do seu espanhol. ― Aiii esse
olhar…que ódio me tens. Os teus olhos deitam faíscas. Fascinante!
De facto devia estar mesmo com um ar de ódio na cara, só me apetecia espetar uma
estaca no local onde este idiota tivera um coração.
― Eu odeio vampiros!
― Oh eu sei…- Deixou-me cair ao chão com força, para depois voltar a levantar-me
e agarrar-me pelo pescoço. ― Eu noto pelo teu fio…
Ao pescoço eu tinha um fio que ele tocou. Tinha pequenas bolas com um símbolo
diferente gravado, contava para cada vampiro que já tinha morto. Ao todo eram 24
bolas de prata.
― Vais ser o próximo! – Ameacei. ― A minha jóia da coroa. Uma bela bola
vermelha mesmo no meio, símbolo do teu sangue…
Ele aproximou a sua cara da minha, conseguia sentir o seu nariz frio contra a minha
pele e a sua boca próxima da minha. Com força arrancou o fio do meu pescoço e
segurou-o com a mão direita, observou as bolinhas de prata e suspirou.
― Meus irmãos…- Lamentou. Atirou o fio para longe e olhou para mim. Agora eu
tinha medo. Sem o meu fio, o meu pescoço estava a descoberto e ele podia aproveitar-
se. Comecei a sentir o pânico a crescer-me no peito e ele tambem sentiu. Abriu os seus
olhos de um azul estupidamente cativante.
― Fascinante, como passou de uma fúria mortal para…medo. Medo? Não, um terror
absurdo!
― Não tenho medo de ti, presas!
Ainda cuspi para a sua cara mostrando não ter medo, mesmo que o batimento do meu
coração me denunciasse por completo. Estava aterrorizada mas, não disposta a morrer
sem dar luta.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
30. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Ele limpou o cuspo da cara, e empurrou-me contra a parede com toda a força, depois
fui levantada no ar e atirada através da sala. Embati na outra parede, para depois cair
no chão com força. Senti a dor a alastrar-se pelas costas, pela barriga e pela cabeça.
Ele virou-se para mim com aquele porte elegante e sorriu mostrando uma dentadura
branquíssima com as presas de fora.
30
― Vais sentir medo, Carmenzita. Muito medo!
Mas que raio! Porquê que eu teimava em viajar para o passado quando o passado
nada ajudava! Dei comigo em frente a porta do hotel, sem me lembrar de como
cheguei até ali. Sei, que viera a conduzir isso, é certo mas, parece que todo o caminho
fora feito num estado de inconsciência enquanto eu recordava o passado. Deixei cair a
cabeça no volante, estava cansada daquilo, daqueles flashbacks dolorosos que só me
faziam sentir vergonha por não ter lutado mais…
Passei os dedos pela minha flor-de-lis. Havia derretido as minhas 24 bolas de prata,
sinais da minha conquista, e tinha-lhes dado uma nova forma. Uma flor-de-lis que
levava sempre ao pescoço, era uma maneira de manter quem eu era.
Bateram no vidro e eu assustei-me um jovem apareceu do lado de fora do carro, com
um sorriso. Abriu-me a porta e eu saí, entregando-lhe a chave, sem grandes conversas.
Parei a porta do hotel apreciando a neve que caía como uma chuva de esferovite,
estendi a mão e deixei uns flocos caírem-me na palma. Adorava a neve, em Madrid
não nevava, por isso adorava ir a Moscovo, já lá tinha passado imenso tempo enquanto
vampira nómada então me fartava daquela neve.
Atravessei a porta giratória, cumprimentando o porteiro e as meninas ao balcão,
sempre muito simpáticas e bonitas. Passei por alguns socialites que partilharam o seu
olhar de desprezo pela minha pessoa, olharam-me de soslaio. Ser mais jovem e mais
rica do que eles era uma ofensa. Principalmente, para as mulheres, que viam os olhares
dos maridos sempre que uma de nós passava.
Inveja, um sentimento mesmo muito feio.
Carreguei no botão para chamar o elevador e lá, esperei.
― Menina Montenegro! – Reconheci logo a voz sem ter de virar-me. Quem mais
senão o Concierge do hotel. ― Menina Montenegro!
O homem era chato, irritante e sempre a tentar agradar. Já tinha passado pela cabeça
de todas arrancar-lhe o coração mas, daria muito trabalho.
Não me virei sequer, continuei a observar a porta de elevador, que parecia ser mais
interessante…
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
31. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Faltavam três andares para o elevador chegar.
― Menina Montenegro! – Ouvi os seus passos aproximarem-se e ficou ao meu lado,
com o seu perfume enjoativo. ― Boa noite, como está?
― Bem…
31
― E as suas irmãs?
Faltavam dois andares.
Sim, ao olho humano nós éramos irmãs. Irmãs! Três eram estupidamente pálidas e
frias, enquanto as outras duas pareciam ser de outro mundo, pela maneira estranha
como se movimentavam. Sim, irmãs! Sem contar com a diferença física; uma loira,
outra morena, uma ruiva, uma de olhos azuis, outra de olhos pretos. Sim, Irmãs!
― Estão todas óptimas.
Faltava apenas um andar.
― Menina Montenegro…- Estava a farta-me daquela voz. ― Posso perguntar-lhe
uma coisa?
Raios, o elevador parara mesmo no ultimo andar!
― Sim, Sr. Dubois?
― Porque não deixa a nossa equipa de limpeza entrar na penthouse? Temos a melhor
equipa de limpeza, todas as nossas empregadas são óptimas funcionárias! E a equipa e
manutenção do hotel é cinco estrelas! Se tem medo que alguma coisa seja roubada,
pode deixa-las no cofre enquanto é efectuada a limpeza…
O som mais maravilhoso invadiu os meus ouvidos. O elevador tinha chegado e as
portas estavam abertas a espera para me levarem daquela conversa idiota.
― Não, Sr. Dubois. – Disse interrompendo-o. Entrei no compartimento. ― Acredite,
não precisamos de funcionários de limpeza lá em cima…
― Porquê?
Porque da última vez, a Samantha matou um belo rapaz que limpava as janelas e a
Sheftu queria brincar aos aperitivos com o homem que vinha arranjar o ar
condicionado.
― Porque não!
A porta fechou-se e eu subi.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
32. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Assim que o elevador parou na penthouse, entrei em pleno ambiente tenso, conseguia
distinguir as vozes de Verónica e de Claire em conversa sussurrada. O assunto parecia
mortalmente sério.
Fiquei parada junto a porta a ver se conseguia ver alguma coisa mas, elas não bruxas
a toa!
32
― Não sabias, que é feio ouvir atrás das portas, Carmen? – Perguntou Verónica com
toda a sua pose e circunstância. Empurrei a porta e entrei.
― Já passei o tempo para ser politicamente correcta, Verónica.
Verónica ergueu a sobrancelha e virou-me a cara, trocou olhares com Claire. Ás
vezes parecia-me que as duas tinham uma espécie de poder, em que podiam falar por
pensamento…era estranho!
― Como é que chegaste a casa tão depressa? – Perguntou olhando para Claire,
enquanto tirava o casaco e metia as chaves em cima da mesa.
― Vim a pé…
― Hum…- Disse eu. Porquê que tinha a impressão que se tinha passado mais do que
uma simples noite? ― Passou-se alguma coisa enquanto estive a caçar?
As duas trocaram olhares e aí eu vi, Verónica mexeu-se demais, parecia nervosa com
alguma coisa e Claire, fez o que pode para parecer normal, mostrando-me um sorriso.
― Não, tudo bem. Tirando a Sheftu que está de mau humor e a Samantha que está
sempre a chatear…
O meu sentido de caçadora, dizia que havia ali qualquer coisa mas, não forcei. Olhei
para a minha camisa branca suja de sangue, tinha de mudar de roupa.
― Bem, vou trocar de roupa…
Elas não pareceram minimamente preocupadas com o facto de me ausentar, pelo
contrário, ainda nem tinha chegado a meio do corredor quando ouvi Verónica e Claire
a sussurrar.
― Verónica, ela pode ajudar-te…
― Não!
― Ela pode descobrir quem anda a telefonar-te e o que te aconteceu! Já que ninguém
viu…
― Nem pensar, que vou pedir ajuda aquela miserável! – Pela sombra vi que estava
de pé. ― Este assunto é meu, e eu vou saber quem é. Ninguém se mete comigo e fica
assim…
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
33. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Sorri para mim mesma, tinha de admitir: Verónica era impossível as vezes mas, tinha
espírito guerreiro e era lutadora, talvez ao seu passado.
33
Subi as escadas que davam para o meu quarto; Tinha costado os olhos da cara
encontrar uma penthouse grande o suficiente para todas nós, mas, assim que vimos
esta todas concordamos. O meu quarto ficava algures lá em cima, mesmo ao fim do
corredor. Tinha sido ainda mais caro, decorar o quarto de acordo com o gosto de cada
uma, queríamos que fosse o mais parecido com um lar possível.
Entrei no meu quarto ás escuras e acendi a luz. O meu quarto estava todo decorado
em tom vermelho, com uma grande cama de casal, uma secretária com um
computador, um enorme guarda fato – sim, todas tínhamos uma extensão enorme de
roupas e sapatos. Não é por sermos vampiras que deixamos de ser mulheres! – e casa
de banho, podia dizer-se que era o mais pequeno, o maior quarto e o mais afastado
ficara para Samantha, ninguém queria ouvir o que ela fazia com as suas “visitas”
Sentei-me na minha cama, tirei o meu casaco e atirei-me para cima da cadeira.
Peguei no cabelo e enrolei-o numa cebola, subitamente, lembrei-me daquele vulto
enquanto caçava. Precisava de me concentrar se queria saber quem me seguia. Ainda
me lembrava da silhueta daquela sombra atrás da árvore; Era um homem, isso era
certo, e parecia ser forte e musculado. Como tinha o raio de um capuz na cabeça, não
pude ver a cara mas, apenas um pouco dos seus lábios rosados. Parecia ser forte e
tinha as pernas um bocado arqueadas. As suas mãos estavam dentro dos bolsos,
enquanto olhava para mim, como se tentasse esconder-se o máximo possível, então ele
sabia que eu o conhecia…
Mas, o que mais picava debaixo da minha pele era aquele cheiro. Com tantos anos de
experiência, o meu olfacto tinha-se tornado muito apurado, assim como a minha
memória olfactiva. Eu conhecia aquele cheiro mas, da onde?!
Fechei os olhos e recordei a mistura de aromas que senti, ao ver aquela sombra:
Carvalho, terra molhada, madeira, cabedal…
Meti as mãos em volta do nariz, como se tentasse conservar o aroma e novamente,
aquela sensação de que conhecia aquilo e que o nome estava mesmo debaixo da minha
língua.
― Quem és?
Num momento, breve mas de grande impacto, viajei para uma floresta, a minha
frente estava uma pequena casa de madeira, eu olhava fixamente para aquela casa e
sentia um turbilhão de emoções. Queria algo daquela casa…
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
34. The Unforgiven Souls
Moscow Season
A memória desvaneceu-se rapidamente, e abri os olhos. Estava de novo no meu
quarto.
― Raios!
Num momento de irritação, levantei-me e derrubei a cadeira. Detestava aquela
34
sensação.
Saí do quarto praticamente a voar, irritada comigo mesma, por não me lembrar.
Desci as escadas e ao virar, para a sala tropecei nuns sacos de comida, fiquei com as
calças sujas de um molho cor de laranja.
― Mas que…Que porcaria é esta!?
O molho tinha um cheiro horrível, ou era simplesmente a minha adversão a comida
que falava.
― É comida chinesa! – Exclamou Samantha ao fundo corredor com um ar super
natural. ― Quis comprar.
― Para quem? Nós não comemos!
― A Claire e a Verónica comem!
― Mas não comem comida chinesa, Samantha! – Abri o saco e o cheiro enjoou-me.
Aquilo era horrível! Mas, reconheci algumas iguarias caras, muito caras! Larguei o
saco e observei o pescoço de Samantha onde brilhava um colar muito caro ― Onde
compraste isso?
Ela afagou as pedras ao pescoço.
― Numa joalharia aqui perto. É lindo, não é?
― E caro! – Passei por cima do saco de papel. – Não podemos fazer gastos
desnecessários! Temos que manter-nos o mais discretas possível…
― Discretas?! Não sei se reparas mas, estamos numa penthouse num dos melhores
hotéis do mundo e tu conduzes um Mustang feito por encomenda! Como queres ser
discreta?!
Ouvi passos atrás de mim e reconheci o cheiro de Verónica e Claire, sempre juntas.
No cimo das escadas, entre nós as duas, apareceu Sheftu com um brilho nos olhos.
― Não quero saber! Vais devolver essa jóia e esta comida horrível.
― Não! – O olhar de Samantha era de desafio. ― Lá porque tu não aceitas quem tu
és, não significa que tenha de fazer o mesmo!
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
35. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Quase voei na sua direcção de Samantha. Estava mesmo perto, só algo preenchia o
espaço e era Claire que me agarrava os ombros. Vi Sheftu a descer uns degraus
tambem e senti Verónica mais perto, as duas prontas a intervir caso acontecesse o pior.
Samantha não tinha arredado o pé, quando me viu a avançar mas vi, um laivo de
susto quando me viu tão perto, tão rápido. Se eu a atacasse, por ser mais velha e mais
35 forte, tê-la-ia magoado muito seriamente, senão morto.
Sentia as mãos de Claire a empurrarem-me para trás
― Carmen, por favor…
Não sei porquê, talvez fosse aquela coisa…aquela sensação esquisita de ser Claire a
pedir que me afastasse, que acabei por faze-lo. Recuei alguns passos mas, Verónica e
Sheftu mantinham-se por perto. Ia voltar para o quarto, quando chutei o saco de
comida chinesa na direcção de Samantha, sujando-lhe o vestido roxo que trazia. Sheftu
sorriu muito levemente, senti Verónica a conter uma gargalhada e, também me
pareceu ver um laivo de divertimento nos olhos de Claire.
― Sua cabra! – Gritou Samantha avançando para mim, quase atropelando Claire que
estava no seu caminho.
― Samantha! – A voz de Sheftu fez-se ouvir forte e Samantha parou. ― Já chega!
Vai trocar de roupa, e limpa esta porcaria.
Samantha virou-se para com um ar de ofensa mas, Sheftu era a mais velha, logo uma
ordem dela tinha que ser respeitada.
― Mas…
As duas trocaram olhares, até que Samantha desapareceu rogando pragas a toda a
gente.
― O mesmo vale para ti Carmen, vai mudar de roupa. – Olhou para a minha camisa
branca manchada de sangue, para depois voltar a subir as escadas, pouco tempo depois
a sua porta bateu. Verónica e Claire, ambas olharam para mim surpresas, mas logo
retiraram-se para o seu mundinho em silêncio e fiquei no corredor, até subir outra vez.
Dirigi-me para a minha janela, abri os vidros e meti a cabeça de fora. Passei os olhos
pela cidade de Moscovo coberta pela neve e agora, quase deserta a medida que a noite
se arrastava. De vez em quando passava um ou outro carro, ou uma pessoa. Adorava
Moscovo, simplesmente adorava. A escolha dos nossos itinerários, estava ao cabo de
Verónica e Claire, elas com os seus poderes, levavam-nos por ai. O que era bom!
Admito, elas têm bom gosto para escolher locais perfeitos mas, Moscovo…não
sei…era algo que simplesmente, fascinava na cidade. Uma cidade na qual nunca tinha
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
36. The Unforgiven Souls
Moscow Season
posto os pés até ter sido vampira, no entanto, a adoração era tanta que levava a crer
que numa outra vida, tinha andado por aqui.
Passeei olhar pelas ruas, vi um casal apaixonado a andar de mãos dadas. Um grupo
de jovens a sair para a noite. Passou um carro com música aos altos berros. Guardas
policiais a fazer as suas rondas com passo lento e olhar atento. Fechei os olhos
36 devorando o frio, que não me atingia, e apreciando a noite minha amiga, aquilo era
tudo! Puro silencio e beleza.
Mas, algo fez com que eu abri-se os olhos e prende-se o olhar debaixo de um
candeeiro de rua. Até que reparei num homem. Devia estar na casa dos 30 anos, de
cabelo castanho claro e um porte magnífico. Estava encostado ao poste, com as mãos
nos bolsos e a perna cruzada, numa pose casual. Trazia um casaco de cabedal castanho
e umas calças de ganga já gastas e…olhava directamente para mim.
A brisa gelada, trouxe-me o cheiro que logo reconheci. Era ele quem me observara a
momentos. Era sim! Quando reparou que eu o reconhecera, ele endireitou-se e pareceu
olhar-me com mais frieza.
Num impulso saí do quarto a correr. Estava disposta a saber quem era este homem
que me perseguia! Saltei o lance de escadas que me levava ao corredor, caindo mesmo
a frente de Claire, com facilidade.
― Hey…
Não lhe deixei acabar a pergunta ou o que se seja que fosse dizer, desatei a correr
corredor fora, passando pela sala que estava ocupada por Verónica. Abri a porta e, ao
invés de chamar o elevador abri a porta das escadas de emergência e saltei lá para
baixo, num total de 15 andares, caindo com agilidade. Abri a porta de emergência e
corri até a entrada, passando pelo porteiro que ficou a olhar para mim espantando com
a velocidade...ou será da minha camisa manchada de sangue?
Virei a esquerda, e segui para a rua de onde tinha vista mas, não vi ninguém. Estava
deserta. Apenas a neve, e o candeeiro solitário ocupavam aquela zona. Não se via
polícias, nem casais apaixonados ou jovens embriagados. Nada
Ele tinha desaparecido outra vez.
Aproximei-me do candeeiro onde ele esteve e cheirei profundamente. Estava
impregnado com o seu aroma mas, parecia acabar ali. Seja o que for que usava, tapou-
lhe o cheiro e não podia segui-lo.
Olhei em volta tentando ver alguém mas, apenas encontrei a rua deserta e cheia de
neve. Voltei-me para o candeeiro e vi um papel ali pendurado, tinha sido colado com
fita cola e por cima dele tinha sido deixado um pedaço de tronco. Cheirei, e reconheci,
era o pedaço de um carvalho. Abri o pequeno bilhete com força e ao ler o que estava
ali escrito, fiquei tensa.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
37. The Unforgiven Souls
Moscow Season
No papel lia-se: “Eu disse que te encontrava…”
Para comentar clicar aqui
(é necessário estar ligado à internet para seguir o url)
37
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
38. The Unforgiven Souls
Moscow Season
EP7 - "Lies and the truth" by Veronica
Passaram um par de horas desde que tudo aconteceu...
Ainda estou um pouco confusa. Não tenho nada muito claro e sinto-me como se
38 tivesse-se de mãos e pés atados.
Decidi ir falar um pouco com a Claire, para ver se as minhas ideias ficavam um
pouco mais organizadas.
Claire estava na cozinha. Entrei e sentei-me numa das cadeiras.
- Claire...
- Já sei, precisas falar comigo...
- Que tens? - preguntei desconfiada.
- Nada, esquece... Parvoíces! - Disse ela num tom mais leve.
- Preciso saber o que aconteceu. Sabes bem o que temos entre mãos... Sabes bem
quem sou... - Disse com ar mais sério que o normal.
- Tu já não és a mesma. Tu mudaste muito neste ultimo século... Não podes...
- Shiuu! - Exclamei. - Não sabias, que é feio ouvir atrás das portas, Carmen?
Carmen empurro a porta e entrou.
- Já passei o tempo para ser politicamente correcta, Verónica.
Ergui a sobrancelha e virei a cara. Troquei um par de olhar com a Claire e ela
entendeu que mais tarde continuavamos.
- Como é que chegaste tão depressa a casa? - Preguntou Carmen a Claire.
- Vim a pé... - Respondeu-lhe Claire.
- Hum... Passou-se alguma coisa enquanto estive a caçar?
Eu e Claire trocamos olhares. Comecei a ficar nervosa. Ou melhor fiquei mais do que
já estava. Mas Estava Claire para salvar a situação, mostrou um sorriso e respondeu-
lhe tranquilamente.
- Não, tudo bem. Tirando a Sheftu que está de mau humor e a Samantha que está
sempre a chatear…
Apesar de ter parecido que a vampira não ficou lá muito convencida, eu fiquei mais
descansada.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
39. The Unforgiven Souls
Moscow Season
- Bem, vou trocar de roupa… - Disse Carmen e saiu pela porta.
Aguardamos silencio por uns segundo. Mas...
- Verónica, ela pode ajudar-te…
- Não!
39
- Ela pode descobrir quem anda a telefonar-te e o que te aconteceu! Já que ninguém
viu…
- Nem pensar, que vou pedir ajuda aquela miserável! – Disse levantando-me de um
salto ― Este assunto é meu, e eu vou saber quem é. Ninguém se mete comigo e fica
assim…
Sai da cozinha zangada com a situação e com o facto de não poder fazer nada. Fui
até a sala que por sorte esta vazia e sentei-me num enorme cadeirão que havia junto a
uma das janelas.
Ainda me sentia meio débil com tudo o que me tinha passado mas graças a Claire
estava a recuperar bem.
Olhei pela janela ainda um pouco zangada mas algo aconteceu. A imagem de
Moscovo desapareceu e apareceu outra bem diferente.
Desta vez não via desde fora.
Na minha frente só conseguia ver uma perna que balanceavam no ar. Eu encontrava-
me de joelhos e estava com o meu punhal na mão direita. Tinha as mãos cobertas de
sangue assim como toda a minha vida.
De repente voltei a ver Moscovo. Até que...
- Não podemos fazer gastos desnecessários! Temos que manter-nos o mais discretas
possível…
Era a voz de Carmen. Mas porque gritava? E com quem? Levantei-me rápidamente e
corri até ao corredor.
― Discretas?! Não sei se reparas mas, estamos numa penthouse num dos melhores
hotéis do mundo e tu conduzes um Mustang feito por encomenda! Como queres ser
discreta?!
Aproximei-me de Carmen e atrás de mim apareceu Claire. Entre aquelas duas
apareceu também Sheftu.
- Não quero saber! Vais devolver essa jóia e esta comida horrível.
Olhei para o chão onde estavam uns sacos virados ao contrário.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
40. The Unforgiven Souls
Moscow Season
- Não! – O olhar de Samantha era de desafio. ― Lá porque tu não aceitas quem tu és,
não significa que tenha de fazer o mesmo!
Senti que Carmen ia aniquilar a Samantha e aproximei-me um pouco mais. Sheftu e
Claire também sentiram, mas como eu Sheftu simplesmente se aproximou, já Claire e
também devido há maior confiança com Carmen aproximou-se e agarrou-a pelo
40 ombro tentando impedir que algo passasse.
Samantha nem se mexeu quando viu Carmen avançar na sua direcçãomas todas nós
sentimos a panico que sentiu quando a viu tão perto.
- Carmen, por favor… - Pedia Claire enquanto a empurrava para trás.
Carmen virando-se de repente deu um pontapé no saco da comida na direcção da
Samantha. O saco levantou voo e caiu mesmo no vestido roxo que aquela vampira mal
criada trazia vestido.
Sheftu sorriu muito levemente, mas eu tive de conter uma forte gargalhada. Todas
nós nos tinhamos divertido com a cena em que a palhaça era Samantha.
- Sua cabra! – Gritou Samantha avançando direito a Carmen, quase atropelando
Claire que estava no seu caminho.
- Samantha! – A voz de Sheftu fez-se ouvir forte ― Já chega! Vai trocar de roupa, e
limpa esta porcaria.
Samantha virou-se para com um ar de ofensa mas, Sheftu era a mais velha, logo uma
ordem dela tinha que ser respeitada.
- Mas…
As duas trocaram olhares, até que Samantha desapareceu rogando pragas a toda a
gente.
- O mesmo vale para ti Carmen, vai mudar de roupa.
No momento em que Sheftu decidiu, acabou-se por completo o circo.
Decidi que tinha que dar uma volta. Aquele sitio era uma loucura.
Chamei o elevador e....
Despertei 1h depois à por da penhouse. A minha roupa e as minhas mãos estavam
cobertas de sangue.
Oh não! Voltava a ver aquela cena. Que foi o que eu fiz?
Entrei na penhouse. Na sala estava Samantha. Olhou fixamente para mim e deu um
valente grito.
- Uhhh! Parece que a bruxinha se ando a divertir....
Rapidamente apareceram as outras tres que estavam cada uma em seu quarto.
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
41. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Todas olham seriamente mas apenas Claire se preocupou.
- Que aconteceu, Verónica?
- Não sei Claire! - Disse com um ar assustado. - Juro-te que não sei....
Nesse momento tocou o meu telemóvel. Ouvi do outro lado.
41
- Eu avisei-te que nunca me esquecerias...
Para comentar clicar aqui
(é necessário estar ligado à internet para seguir o url)
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
42. The Unforgiven Souls
Moscow Season
EP8 - "Die Darling Die!" by Sheftu
Meus pensamentos estavam entregues a todas as habituais lamúrias de sempre.
Conseguia ser a mais terrível, até para mim. Essa era a única vez que podia ser mais
leve, mas não!
42
― Carmen, por favor… - Ouvia a voz de Claire ao longe... Não acredito, mais uma
parva duma briga. Carmen se afastou com o pedido, voltando para o seu quarto.
Então ela não estava o suficientemente contente com o sucedido, rapidamente se
virou para atirar o saco à cara dela. Uma coisa digna de Óscares! O melhor prémio
para a ridicularidade humana. Fosse ela humana, pobre vampira. Mas sempre era algo
bem digno de se ver... Sorri ao pensar nisso, sempre poderia desencadear uma guerra
entre elas eterna para ver quem se tornava numa vampira de realidade.
― Sua cabra! – Gritou Samantha avançando para Carmen, quase atropelando Claire
que estava no caminho.
― Samantha! – Já chegava de parvoíce por hoje, tinha que procurar indícios da
minha irmã. Samantha parou a poucos metros do seu alvo. ― Já chega! Vai trocar de
roupa, e limpa esta porcaria.
Samantha virou-se para mim com um ar de ofensa, ela que não me enervasse muito
ou talvez fosse a ultima hora dela por aqui. Criancices!
― Mas…
Ela olhou para mim, eu ligeiramente a matei com o meu olhar, que tentasse se opor!
Até me divertiria.
― O mesmo vale para ti Carmen, vai mudar de roupa.- E estava esta estupidez toda
resolvida. Não tinha tempo nem paciência para isto hoje!
Talvez este seja o dia em que nunca irei esquecer, sinto isso naquilo que nunca
realmente esqueci. Tudo isto apenas por uma batida cardíaca que já não ouvia há
muito tempo… Milénios e milénios de procuras alucinantes, finalmente a hora tinha
chegado.
Sempre procurava aquele batimento, que tão diferente era dos restantes, ao longo dos
milénios que tento encontrá-lo, este ser meio vivo, tentar saber onde poderia estar.
Assim, também encontrarei aquele que me criou, destruirei cada parte dele sem
qualquer pudor depois de conseguir a força necessária.
Tantos anos de procuras, tantos momentos fracassados, perdendo a esperança de os
encontrar e agora estavam demasiado perto, deixaram que eu os encontrasse… Era
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
43. The Unforgiven Souls
Moscow Season
uma armadilha, sabia bem disso, mas era talvez a única hipótese em que podia enterrar
todo o passado de uma vez por todas.
Tudo começava com uma maldita carta, seu cheiro a cemitério já me dizia quem
seria aquele que ma tinha enviado, apenas o meu Criador poderia estar num local
desses, era o seu fetiche pessoal, viver no único lugar onde ninguém esperava. Eu
43 devia de ter calculado que ele estaria num lugar como esse, só para ver se me dava
medo. Ele era ridículo. Ninguém sabia que a carta tinha sido escrita com uma tinta
especial, a tinta que minha família tinha feito, aquela mesma tinta que tinha acabado
quando o meu pai tinha morrido, deixando a minha mãe apenas comigo. Era odioso,
mas a verdade é que meu pai tinha sido morto pelo meu criador, tudo com um
propósito óbvio: criar a descendência, usando a minha mãe. Estive ao lado da minha
mãe a todo o momento, vendo a evolução da criança maldita em seu ventre, vendo a
sua morte por causa dessa criança que lhe consumia as entranhas, eliminando toda e
qualquer família que tivesse…
Seres desses eram bem conhecidos no Egipto, eram como a pior maldição que
poderia existir. Eles iriam descobri-la e matá-la, era a minha única família na altura,
por isso fugi mal ela nasceu… Deixando o corpo morto da minha mãe para trás,
deixando toda a minha vida para trás, tudo por manter a única família que tinha viva.
Simplesmente ridículo!
Fomos apanhados a meio do deserto por um grupo de nómadas, não conheciam os
costumes da minha terra, tinha caminhado o mais possível pelo deserto, tentando
escapar o mais possível ao meu mundo, aquele que ia destruir minha irmã, deixando-
me totalmente desamparada, prometida a um faraó que nem conhecia e que me iria
matar também, por ter uma criança maldita na minha família. Era assim que as
tratavam, aquelas que eram feitas pelo meu criador. Ele gostava de encantar as
mulheres, nunca lhe escapava alguma. Minha mãe era especial, a única que pôde ter
um filho daquela coisa.
Eu detestava ter que recordar cada parte dessa minha última parte da vida, aquele
grupo nómada queria na verdade algo que eu nunca tinha descoberto, até que vi que
não eram nómadas, chegando a uma zona com mulheres prisioneiras, fazendo delas
suas concubinas, sujeitando-as a torturas inimagináveis. Seres cuja maldade foi
capturada por mim, fazendo agora parte da minha forma de matar. Humanos,
desprezíveis seres que são um óptimo almoço… E agora estava com fome, mas não
podia deixar de pensar em tudo isto, tinha que capturar cada detalhe do meu passado
para arranjar uma forma de o matar, de destruir tudo o que viesse dele…
!ال ل ع نةNão conseguia deixar de pensar numa solução, não conseguia arranjar
nenhuma, e minha mente estava perdida pelo cheiro desta carta, procurando a resposta
que mais procurava, sabendo assim onde iria para o matar. Esse estupor não tinha
qualquer direito de me invadir a vida, já estava demasiados anos morto, alguém que
nunca realemente devia de ter existido alguma vez na vida!
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
44. The Unforgiven Souls
Moscow Season
Passei alguns dias à procura, não parava quase tempo nenhum, me alimentava o mais
rápido possível, cada segundo que passava era uma perda de tempo, ele podia tentar
escapar, eu sabia disso... Mas também sabia que não seria fácil combater contra ele,
ainda estava sozinha e sem qualquer apoio nesta batalha, não sabia quantos iriam estar
a seu lado, que pensamento inacreditável. Totalmente o oposto, juntas aqui à busca do
meu Criador...
44
Não demorou muito tempo, dois dias bastaram para que nós os encontrássemos,
como esperava ele tinha iludido a minha irmã, estava completamente iludida por ele.
- Não te metas entre nós! – Repliquei, alertando a minha irmã, eu não poderia
defendê-la mais...
- Vejo que vieste sozinha, tens tido muitas companhias ultimamente, posso cheira-
las... Tens tido bom proveito? Não as devias de ter trazido hoje? – O meu Criador
tentava mostrar o máximo de amabilidade possível, simplesmente nojento! Avancei
contra ele, minha irmã veio para junto de mim e me lançou por terra, eu não acreditava
que ela me estava a fazer isto! Sua boca se juntou ao meu pescoço, mordendo-o,
deixando o veneno alterado dela se misturar em meu corpo...
- Não devias ter tentado atacar o meu amado, meu pai não fez nada de mal –
sussurrou-me no ouvido, eu já sentia o seu veneno em meu corpo, não sabia o que tudo
isto iria fazer à minha vida, mas não me importava...
Eu ouvia alguém a tentar defender-me, talvez me tenha pegado e tentado fugir,
porque me senti a ser levantada, mas rapidamente caí novamente por terra... Não
conseguia ver nada, estava num estado de coma, vivendo todas as horas como se
fossem as últimas... Não sentia muito mais... Estava à mercê de quem ganhasse...
Sentia alguém a amparar-me, estava cega, sem forças, perdida em toda esta
situação… Ouvia de longe o eco das vozes que me levavam para algum lugar,
pareciam aquelas que me seguiam, aquelas que me tentaram ajudar… A minha mente
estava a ficar mais livre, comecei a sentir um peso enorme sobre os meus
pensamentos, um peso que aumentava cada vez mais…
- Aguenta, rapidamente chegaremos a casa e um amigo meu nos ajudará… Tudo se
resolverá. – Parecia que alguém me sussurrava bem de longe, não sabia bem ao certo
quem… - Eric, achas que é muito grave? – Ouvia a voz duma mulher, achava eu,
parecia um sussurro… Estava cansada, sentia-me perdida algures em mim…
Acordei, meus olhos focaram o local onde estava, parecia ser o meu quarto, parecia
que nada tinha acontecido, não fosse o meu estado. Não estivesse eu ainda fraca,
minha mala das rosas vermelhas tinha sido remexida. Talvez quem me tivesse salvado
pudesse ter sido a mesma pessoa que tinha alterado o meu quarto. Ainda estava um
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com
45. The Unforgiven Souls
Moscow Season
pouco fraca, toquei no local onde tinha sido mordida, tinha em meu pescoço um lenço,
cheirava a um perfume que me dava algumas recordações... Era o sangue que tinha
guardado da minha mãe, e entre outras coisas... Mas que raio? Tentei tirar, mas
rapidamente colocaram uma mão sobre a minha, uma mão quente...
Não tinha reparado, estava a observar atentamente o meu quarto, não notei que
45 alguém estava a meu lado. Seu cabelo negro realçava com a sua pele branca, mas seu
coração batia, parecia alguém da mesma espécie da minha meia-irmã. Tinha um anel,
com um símbolo que bem conhecia, na sua pedra cor de sangue, tinha uma cruz
ansata, tal e qual a que tinha no braço. Quem era este homem? Seus olhos azuis
estavam a tentar observar cada reacção que tinha, procurando alguma razão para me
travar...
Tentei levantar-me, sendo novamente travada por esse homem. Quem era ele para
pensar que iria mandar em mim? Pensei em gritar, mas não servia de nada, sentia os
corações das bruxas na cozinha, uns sons do quarto de Cármen, que é ao lado do
meu... A Samanta parecia estar a chegar, talvez com mais compras, aquela vampira
não podia estar pior! Por mais que estivesse aqui, não iria deixar o gostinho a este
homem, não iria mover nem um milímetro sequer. Ele acabaria por falhar um segundo,
e isso seria suficiente para escapar. Que ironia! Permanecer as restantes horas ao lado
deste homem, Ah! Que raiva.
Para comentar clicar aqui
(é necessário estar ligado à internet para seguir o url)
theunforgivensouls@hotmail.com http://theunforgivensouls.blogspot.com