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sobre o que ela falou sobre Politica e Antropologia. Mas confiram aí se era isso mesmo
Sandro, até o final da semana envio um texto mais elaborado pra ti sobre Estado. O que tenho aqui não está muito bom não, vai mais atrapalhar do que ajudar.
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Poliana Nascimento
Antropóloga - Doutoranda em Antropologia/UFPE
Pesquisadora do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia
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Antropologia e Poder
245 Etnográ ca, Vol. VII (2), 2003, pp. 245-281
Eric R. Wolf (1923-1999) é leitura obrigatória para estudiosos da política ou
do campesinato e para todos interessados em etnogra as do capitalismo.1
Representante de uma linhagem de antropólogos da esquerda americana,
propôs-se o desa o de revelar as interseções entre cultura, poder e economia
política. Através de abordagens comparativas que privilegiam a história
econômica e cultural, processos, interconexões e interstícios sociais, procurou
desvendar os meandros do poder e as formas de dominação, no contexto da
expansão do capitalismo. Suas pesquisas pioneiras, realizadas em Po o Rico,
México e Europa, contribuíram para retratar as complexidades culturais,
econômicas e políticas subjacentes à vida rural, à formação do estado-nação,
ao nacionalismo, à etnicidade e ao sistema capitalista mundial. Eric Wolf
produziu uma obra coerente que, progressivamente, abarcou cenários cada
vez mais complexos, e notabilizou-se, em última instância, por expor siste- maticamente a “história do presente como uma
história do poder” (Ghani
1995: 32).
Muitas de suas problemáticas de pesquisa provêm de inquietações
provocadas por circunstâncias históricas que moldaram a sua própria tra- ANTROPOLOGIA
E PODER: CONTRIBUIÇÕES
DE ERIC WOLF
Gustavo Lins Ribeiro
e Bela Feldman-Bianco
Este ensaio examina a trajetória intelectual de
Eric R. Wolf (1923-1999) no cenário da
antropologia americana da segunda metade do
século XX. Expoente de uma linhagem de
antropólogos da esquerda americana, Wolf se
propôs o desa o de desvendar as interseções
entre cultura, poder e economia política.
Combinando perspectivas históricas e
comparativas com um profundo humanismo,
realizou pesquisas pioneiras em Po o Rico,
México e Europa que em muito contribuíram
para a compreensão das complexidades
subjacentes à vida rural, à formação do estado-
-nação, ao nacionalismo, à etnicidade e ao
sistema capitalista mundial. Se inicialmente
privilegiou o estudo das assim chamadas
“sociedades complexas”, na década de 1970,
motivado por sua militância contra a guerra do
Vietnã, se voltou para a análise da gênese e
expansão das forças do sistema mundial. Autor
de obra coerente, procurou reformular o
marxismo através da antropologia e a
antropologia através do marxismo.
1 Este texto foi elaborado como introdução à coletânea Antropologia e Poder: Contribuições de Eric Wolf, organizada por
Bela Feldman-Bianco e Gustavo Lins Ribeiro (São Paulo e Brasília, Editora da Universidade de Brasília e Editora da
Unicamp, no prelo). Agradecemos a leitura cuidadosa e os comentários críticos de Emília Vio i da Costa a uma versão
anterior deste texto. Nos bene ciamos também das discussões realizadas por alunos de graduação e pós-graduação
de dois cursos ministrados por Bela Feldman-Bianco na Unicamp sobre a obra de Eric Wolf.
Página 2 de 38
Gustavo Lins Ribeiro e Bela Feldman-Bianco
jetória pessoal, informaram o seu engajamento político e a sua sensibilidade
face às situações diferenciadas de classe, etnia e nacionalidade. Nascido na
Áustria, suas contribuições para a antropologia do poder relacionam-se a uma
experiência de vida marcada pela emergência do nazismo, por guerras e
migrações forçadas. Dessa vivência emergiu uma visão da antropologia como
“modo de conhecimento” que possibilita a busca incessante por uma expli- cação engajada do mundo, uma disciplina que, por
distinguir-se ao mesmo
tempo enquanto ciência e uma forma de humanismo, une as ciências sociais
e as humanidades. Para ele, a antropologia nunca foi sobre trivialidades – sua
tarefa principal consiste em decifrar as complexidades, as heterogeneidades
e as desigualdades do mundo moderno.
Wolf iniciou sua carreira em meados da década de 1940 em um
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  • 1. 996 996 Material sugerido por Vania em orientação Caixa de entrada × Poliana Nascimento seg., 3 de ago. 16:29 para mim, I, ilanamagalhaes29 Pessaol, so agora envio o material que Vania sugeriu durante nossa orientação. Peço desculpas pela demora. Não consegui todos os que ela sugeriu, mas acho sobre o que ela falou sobre Politica e Antropologia. Mas confiram aí se era isso mesmo Sandro, até o final da semana envio um texto mais elaborado pra ti sobre Estado. O que tenho aqui não está muito bom não, vai mais atrapalhar do que ajudar. abs -- Poliana Nascimento Antropóloga - Doutoranda em Antropologia/UFPE Pesquisadora do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia 7 anexos Microsoft Word - K… EricWolf.pdf LINS Antropolgias … redes Lins pdf.pdf facções politicaspa… 2 2 Pesquisar e-mail Página 1 de 38 Antropologia e Poder 245 Etnográ ca, Vol. VII (2), 2003, pp. 245-281 Eric R. Wolf (1923-1999) é leitura obrigatória para estudiosos da política ou do campesinato e para todos interessados em etnogra as do capitalismo.1 Representante de uma linhagem de antropólogos da esquerda americana, propôs-se o desa o de revelar as interseções entre cultura, poder e economia política. Através de abordagens comparativas que privilegiam a história econômica e cultural, processos, interconexões e interstícios sociais, procurou desvendar os meandros do poder e as formas de dominação, no contexto da expansão do capitalismo. Suas pesquisas pioneiras, realizadas em Po o Rico, México e Europa, contribuíram para retratar as complexidades culturais, econômicas e políticas subjacentes à vida rural, à formação do estado-nação, ao nacionalismo, à etnicidade e ao sistema capitalista mundial. Eric Wolf produziu uma obra coerente que, progressivamente, abarcou cenários cada vez mais complexos, e notabilizou-se, em última instância, por expor siste- maticamente a “história do presente como uma história do poder” (Ghani 1995: 32). Muitas de suas problemáticas de pesquisa provêm de inquietações provocadas por circunstâncias históricas que moldaram a sua própria tra- ANTROPOLOGIA E PODER: CONTRIBUIÇÕES DE ERIC WOLF Gustavo Lins Ribeiro e Bela Feldman-Bianco Este ensaio examina a trajetória intelectual de Eric R. Wolf (1923-1999) no cenário da antropologia americana da segunda metade do século XX. Expoente de uma linhagem de antropólogos da esquerda americana, Wolf se propôs o desa o de desvendar as interseções entre cultura, poder e economia política. Combinando perspectivas históricas e comparativas com um profundo humanismo, realizou pesquisas pioneiras em Po o Rico, México e Europa que em muito contribuíram para a compreensão das complexidades subjacentes à vida rural, à formação do estado- -nação, ao nacionalismo, à etnicidade e ao sistema capitalista mundial. Se inicialmente privilegiou o estudo das assim chamadas “sociedades complexas”, na década de 1970, motivado por sua militância contra a guerra do Vietnã, se voltou para a análise da gênese e expansão das forças do sistema mundial. Autor de obra coerente, procurou reformular o marxismo através da antropologia e a antropologia através do marxismo. 1 Este texto foi elaborado como introdução à coletânea Antropologia e Poder: Contribuições de Eric Wolf, organizada por Bela Feldman-Bianco e Gustavo Lins Ribeiro (São Paulo e Brasília, Editora da Universidade de Brasília e Editora da Unicamp, no prelo). Agradecemos a leitura cuidadosa e os comentários críticos de Emília Vio i da Costa a uma versão anterior deste texto. Nos bene ciamos também das discussões realizadas por alunos de graduação e pós-graduação de dois cursos ministrados por Bela Feldman-Bianco na Unicamp sobre a obra de Eric Wolf. Página 2 de 38 Gustavo Lins Ribeiro e Bela Feldman-Bianco jetória pessoal, informaram o seu engajamento político e a sua sensibilidade face às situações diferenciadas de classe, etnia e nacionalidade. Nascido na Áustria, suas contribuições para a antropologia do poder relacionam-se a uma experiência de vida marcada pela emergência do nazismo, por guerras e migrações forçadas. Dessa vivência emergiu uma visão da antropologia como “modo de conhecimento” que possibilita a busca incessante por uma expli- cação engajada do mundo, uma disciplina que, por distinguir-se ao mesmo tempo enquanto ciência e uma forma de humanismo, une as ciências sociais e as humanidades. Para ele, a antropologia nunca foi sobre trivialidades – sua tarefa principal consiste em decifrar as complexidades, as heterogeneidades e as desigualdades do mundo moderno. Wolf iniciou sua carreira em meados da década de 1940 em um Página 1 / 38 EricWolf.pdf Abrir com Abrir com