O documento compara as Guerras do Vietnã e do Iraque, analisando semelhanças e diferenças. Ambas as guerras ocorreram para assegurar a hegemonia dos EUA no mundo, seja contra o comunismo ou para proteger fontes de petróleo. No entanto, enquanto a Guerra do Vietnã ocorreu no contexto da Guerra Fria, a do Iraque teve como motivação inicial encontrar armas de destruição em massa, mas também manter a influência americana sobre o petróleo do Oriente Méd
1. MARIARITAGUERCIO
GUERRA DO VIETNÃ (1964-1975)
E GUERRA DO IRAQUE (2003-
2011): SEMELHANÇAS
E DIFERENÇAS
Publicado em 31 de janeiro de 2016 por mariaritaguercio
Desde a incursão de tropas americanas no Iraque, muito se falou a respeito
de semelhanças entre a Guerra do Vietnã (1964-1975) e do Iraque (2003-
2011). Essas comparações surgem a partir de fatores observados em ambos
os conflitos.
As duas guerras eclodem a fim de assegurar ou equilibrar o poder
hegemônico dos Estados Unidos no mundo. A Guerra do Vietnã surge como
resultado dos esforçosdosEstados Unidos em frear o avanço do comunismo
na Ásia. A Guerra do Iraque porsua vez, tem como primeiro plano o intento
de encontrar e destruir armas de destruição em massa, mas também ocorre
por conta dos interesses dos Estados Unidos em salvaguardar as principais
fontes petrolíferas do planeta. Apesar dos interesses divergentes, um político
e o outro econômico, ambos os conflitos tem um objetivo comum, qual seja,
o de sustentar a hegemonia norte-americana, e nestes casos, através do uso
da força.
A Guerra do Vietnã estava inserida no contexto da Guerra Fria (1945-1991),
quando a política externa dos Estados Unidos tinha como principal foco
conter a expansão do comunismo soviético. O Vietnã, o Camboja e o Laos
eram desde 1897 territórios cujo controle estava sob domínio da França,
sendo renomeados de Indochina. Por muito tempo os movimentos de
insurgência local foram reprimidos, mas desde1940 a repressão francesa se
tornou cadavez mais fraca, diante do fortalecimento dos movimentos sociais
e nacionais e devido ao avanço do Japão durante a Segunda Guerra sobre o
sul da Indochina, desagradando também aos Estados Unidos. Mas após a
guerra, o levante nacionalista vietnamita deflagrou definitivamente seu
movimento pela independência e finalmente em 1954 ocorre o fim do
controle francês sobre a Indochina, reconhecido durante a Conferência de
Genebra.
2. A vitória do Vietnã teve como principal líder, Ho Chi Minh. Depois de viajar
para países como os Estados Unidos, França e Inglaterra Ho retorna ao
Vietnã em 1941 e funda o movimento Viet Minh, a fim de organizar a luta
contra a ocupação francesa e japonesa, mantendo vínculos com o Partido
Comunista Indochinês. Com a derrota japonesa em 1945, Ho cria a
República Democrática do Vietnã na porção Norte do país e apesar de todo
o apoio à luta dada pelos americanos e chineses para combater a expansão
japonesa, o Vietnã ainda não era reconhecido em âmbito internacional. Após
a Segunda Guerra as tropas francesas retomam o controle sobre o país de
modo que entre 1946 a 1954 ocorrea Primeira Guerra da Indochina. Apesar
de muitas batalhas ganhas, o exército francês não obteve êxito em aniquilar
de vez com a resistência do Viet Minh e nem eliminar Ho Chi Minh,
somando-se ao fato de que os recursos para manter a ofensiva diminuíam,
dificultando o envio de novas tropas para o combate. De modo que em 1949
se forjou a Independência do “Estado do Vietnã”, com o antigo imperador
Bao Dai à frente do governo fantoche controlado pela França, implantando
um Exército Nacional Vietnamita liderados por oficiais franceses.
Mas coma vitória do Kuomitang – o Partido Nacionalista Chinês, Mao Tsé-
Tung amplia seu apoio a Ho Chi Minh fornecendo armas e suprimentos.
Enquanto isso os Estados Unidos também expandia seu apoio à França na
luta contra a resistência do Viet Minh. Em 1951 sob o comando do General
De Lattre, os franceses conseguiram vitórias significativas, fazendo recuar
as tropas vietnamitas, motivo pelo qual levantou-se dúvidas sobrea eficácia
da resistência e sobre a liderança Ho Chi Minh. Buscou-se assim uma nova
estratégia, atacando o Laos por iniciativa de Vo Giap, outro líder do Viet
Minh. Para o General Navarre, era mais prudente criar um reduto de
resistência no próprio Laos do que atacar frontalmente as tropas insurgentes.
O lugar escolhido foi Dien Bien Phu, palco onde ocorreria a derrota francesa
que não resistiu as investidas pesadas dos vietnamitas. Estes conhecedores
da região, faziam emboscadas, bloqueavam as rotas de abastecimento
enquanto que as tropas francesas ficaram ainda mais vulneráveis devido às
Monções. Não coube outra alternativa à França a não ser assinar a paz de
Genebra em 26 de Abril de 1954. O país ficou dividido em duas zonas: a
Norte comunista e o Sul capitalista. Os Estados Unidos não assinam o acordo
de Genebra temendo o efeito dominó na região, neutralizando um possível
alinhamento do Japão ao bloco comunista.
Ngo Dih Diem assume o cargo de Primeiro Ministro do Vietnã do Sul e
recomeça a repressão ao contingente comunista, embargando as eleições de
1956, prevista pelo Acordo de Genebra. Em meio ao clima de insatisfação
foi criado a Frente Nacional de Libertação (FNL) que reunia vários grupos
de esquerda e a ala moderada, todos mobilizados contra a ditadura de Diem.
Os Estados Unidos, por sua vez, aumentava cada vez mais o apoio ao
Governo do Vietnã do Sul, temendo situação parelha a Cuba, que já havia se
3. alinhado ao bloco comunista, tendo a Crise dos Mísseis em1968 como ápice.
Um complexo aparato militar foi enviado ao Vietnã, com o intuito de armar
grupos de camponeses para combater a guerrilha. Aldeias alinhadas a FNL
foram saqueadas, outras destruídas, iniciando o uso de armas químicas. A
resposta a contra-insurgência americana foi a radicalização do movimento
em torno da FNL, com o aumento do apoio popular ao Viet Minh. Em 1963
Diem é deposto e assassinado após um golpe militar e uma junta militar
assume o Vietnã do Sul. Para os Estados Unidos uma intervenção ao Vietnã
do Norte tornou-se inevitável, cientes de que as forças da FNL eram
constantemente supridas com armamentos advindo do Vietnã do Norte,
provindo por sua vez de países alinhados ao comunismo. Assim, em Agosto
de 1964 como incidente no Golfo de Tonkin, o então presidente dos Estados
Unidos, Lyndon Johnson inicia sua ofensiva no Vietnã, dando início a
Guerra do Vietnã (1964-75).
Com o fim da Guerra e a derrota dos Estados Unidos, o país enfrenta os
resultados negativos da empreitada. Além do déficit em conta corrente, que
afetará seriamente a economia dos país, perder a guerra por um inimigo
supostamente mais fraco deixa um drama moral que até hoje não foi
superado. A filmografia sobreo tema é a prova da tentativa desuplantar este
trauma. Já em 1989 ocorre a Queda do Muro de Berlim e o comunismo não
é a mais a ideologia político-econômica que rege os países da ex-URSS. Tal
fato até foi declarado como “o fim da História” por Francis Fukuyama,
cientista político sino-americano, segundo o qual, a queda do comunismo
seria a demonstração da vitória do liberalismo e da democracia. Fukuyama
se apoia em Hegel, para afirmar que os conflitos ideológicos são o motor da
História; com a “vitória” do liberalismo, não há mais conflitos, logo não há
mais História.
Controvérsias à parte, a realidade é que com o fim da Guerra Fria, o mundo
já não vive mais num ambiente bipolar e as ações dos Estados Unidos
tornam-se mais incisivas e arbitrárias. Como afirma Samuel Huntington,
vivemos “num sistema híbrido, unimultipolar, com umaúnica superpotência
e várias grandespotências” e afirma também que “os Estados Unidos são
o único Estado com proeminência em todos os domínios – econômico,
militar, diplomático, ideológico, tecnológico e cultural -, e dotado do
poderio e da capacidade dedefender seus interesses em praticamentetodas
as regiões do mundo” (HUNTINGTON, 1999, p. 23) mas necessita da
cooperação das outras grandes potências para enfrentar as grandes questões
globais e dar legitimidade a suas ações.
Zbigniew Brzezinski afirma que atualmente a hegemonia global americana
é um fato mas é marcada porser historicamente transitória. A questão que se
coloca é se a hegemonia americana hoje é correlata com o conceito de
hegemonia elaborada por Gramsci, entendida como dominação com
4. consentimento ou se é um hegemonia baseada na força, ou seja, coerção.
Segundo Brzezinsnki a legitimidade dahegemonia dos Estados Unidos pode
advir do sucesso de sua democracia e desse consenso pode surgir uma
comunidade global que compartilha interesses, mas tendo os Estados
Unidos como líder. Para ele uma aliança com a Europa é fundamental para
a implementação deuma política global compartilhada. Essaseria a “Agenda
Atlântica” que se estende da Europa até “a Polônia, República Tcheca e
Hungria, para alargar para Lituânia, ponte para Ucrânia e talvez o
Cáucasoeuma eventual admissãoda Rússia”(BRZEZINSKI, 2004, p. 223)
estendendo-se além do Oriente Médio: ela alcança o ” Novo Balcãs Global,
avançando sobre o Golfo Pérsico até Xingiang” (BRZEZINSKI, 2004, p.
226). O Japão deve fazer parte desta aliança Atlântica para conter a
proeminência da China e da Coréia do Norte, “assim promove-se uma
estrutura trans-Eurasiana de segurança multilateral”. Essa proposta neo-
realista vai de encontro com a teoria do geógrafo inglês Halford John
Mackinder (1861-1947), segundo a qual a região da Eurásia teria uma
importância geoestratégica capital, sendo uma região rica em todos os
recursos naturais disponíveis no planeta, e quem a dominasse, dominaria o
mundo.
Desta forma, a política dos Estados Unidos implementada no Oriente Médio
segue os ditames estratégicos para se fazer valer a hegemonia norte-
americana mundial e o controle sobre as jazidas petrolíferas tem uma
importância fundamental. Claudia Musa Fay afirma que: “Entre 1995 e
2020, segundoAIE (Agência Internacional de Energia), a demandamundial
de energia aumentará 66%, devendo 95% desse crescimento ser fornecido
pela energia fóssil” (FAY, 2003, p. 66) sendo que 2/3 das jazidas mundiais
encontram-se no Oriente Médio: 25% na Árabia Saudita; 10% no Iraque; 9%
no Kuwait e 9% nos Emirados Árabe (FAY, 2003, p. 64). Atualmente os
Estados Unidos importam mais do que produzem e em 2020, 70% do que
consumo será importado. Esta política de aprovisionamento tem repercussão
na correlação de forças mundiais e na política externa dos Estados Unidos.
Com o fim da estrutura bipolar os Estados Unidos não encontram adversário
equivalente e podem fazer valer as políticas globais que lhes são mais
propícias. A Guerra do Iraque coloca em evidência a supremacia militar dos
Estados Unidos e sua aplicação para manter a hegemonia americana na
região. Para a melhor compreensão deste quadro, é necessário remontar a
Guerra Irã-Iraque (1980-1988), quando da ascensão do regime
fundamentalista do Aiatolá Khomeini no Irã em 1979 e a derrubada do
governo alinhado aos Estados Unidos de Mohammad Reza Pahlavi. Saddam
Hussein, então Presidente do Iraque, considerou a situação perigosa para o
país, pois além do apoio iraniano declarado aos curdos ao norte do Iraque, e
aos xiitas, ao sul, a Revolução Islamista tinha como objetivo declarado se
estender aos países vizinhos. Saddam Hussein decide declarar guerra contra
5. o Irã e devido ao caráter expansionista e anti-americano da Revolução
Iraniana, Saddam ganha o apoio de outros países do Oriente Médio e dos
Estados Unidos. Mesmo com a ajuda externa, a guerra resulta em grande
ônus para o Iraque, pois: “em 1982 o custo da guerra passava de US$ 1
bilhão ao mês e entre 1980 e 83 as reservas exteriores do Iraque caíram de
US$ 35 bilhões para US$ 3 bilhões, forçando a queda das
importações” (COMBAT, 2007, p. 124).
Com o apoio dos americano e de outros países árabes, o Irã não resistiu aos
ataques iraquianos e em 1988 pede cessar-fogo e no ano seguinte morre
Aiatolá Khomeini. Enquanto isso a situação do Iraque não era melhor. Ao
final da guerra, o país tinha um saldo devedor de US$ 80 bilhões com os
países do Golfo e com Arábia Saudita; os custos de reconstrução do Iraque
eram estimados em US$ 230 bilhões; os gastos do governo iraquiano
superavam a receita corrente em US$ 13 bilhões ao ano. A guerra contra o
Irã foi, para Saddam, em nome de todo Oriente Médio, mas o ônus recaiu
somente ao Iraque. Seus principais credores, como o Kuwait, não perdoaram
suas dívidas e a situação se agrava ainda mais quando o país decide elevar a
sua produção petrolífera, o que afetava diretamente o preço dos barris
iraquianos, que despencavam no mercado internacional. Como a
independência do Kuwait foi uma situação forjada após o fim do período
Otomano, e sua legitimidade não estava profundamente arraigada, Saddam
decide finalmente que seria justo invadir o Kuwait solucionar todas estas
questões pendentes.
Saddam estava disposto a recuperar a economia do país e reaver o que
perdera no conflito. Assim, em 1990 o Iraque decide invadir o Kuwait,
convencidos de que não sofreriam forte oposição, iniciando a Guerra do
Golfo (02/08/90 – 28/02/91). Receosos deque o Kuwait seria um trampolim
para ocuparoutros países, foi arquitetada uma forçapara coibir a invasão de
Saddam. Somente China, URSS e França se opuseram em se agregar as
tropas militares no conflito. Tendo à frente Estados Unidos e Inglaterra, mais
16 países participaram da coalizão, junto com outros países árabes, dentre
eles, Egito, Síria e Paquistão, além do pronunciamento contrário dos líderes
aiatolás a invasão do Kuwait. A coalizão foi denominada de “Operação
Tempestade no Deserto” e contava com uma força bélica bem superior a
iraquiana. Ao final do conflito, cercade200 soldados dacoalizão pereceram,
enquanto que mais de 60 mil iraquianos foram mortos. Diante da
contraofensiva não restou saída ao Iraque do que declarar aceitas as
resoluções da ONU que condenavam a invasão. Em 28/02/1991 foi
declarado o cessar-fogo, deixando o país ainda mais arrasado do que estava
em virtude do conflito contra o Irã.
6. Mesmo após tal ofensiva, Saddam permaneceu firme como presidente do
Iraque. Internamente afastou seus opositores com execuções sumárias e no
campo externo ainda tinha legitimidade, visto como única alternativa ao
islamismo dos aiatolás. Em 1991 a ONU já inicia suas inspeções no Iraque
com a Comissão Especial das Nações Unidas para o Desarmamento
(ONSCOM). Apesar do conhecido uso dearmas químicas pelo Iraque contra
os curdos econtrao Irã, indícios de armas de destruição em massa não foram
localizados, mesmo assim, tal receio foi usado para precipitar a guerra ao
Iraque em 2003.
Somando a este quadro, ocorrem os atentados terroristas atribuídos a Al -
Qaeda em 11 de Setembro de 2001 em Nova York, quando da queda das
Torres Gêmeas, precipitando uma guinada na política externa norte-
americana. De um aparente isolacionismo, emerge a ala neoconservadorada
política norte-americana, que já afirmava desde o final da Guerra do Golfo,
que a permanência deSaddamHussein no Iraque era motivo depreocupação,
sendo criado a partir de então a doutrina da “Guerra preventiva”, ou seja, a
antecipação de um conflito devido a um risco já existente.
Com a ascensão de George Bush em 2001 a Presidência do Estados Unidos
e o atentado de 11 de Setembro, as propostas neoconservadoras a favor do
uso da força militar para fazer prosperar os esforços democráticos norte-
americanos medraram. Além da Guerra no Afeganistão, outros países foram
considerados pertencentes ao “eixo do mal”, como o Iraque. Acusando o país
de obter armas de destruição em massa e de conluio com o terrorismo, o
governo americano decide intervir militarmente no Iraque, não sem protestos
da comunidade global. Mesmo não tendo comprovação pelos inspetores da
ONU de que o Iraque possuía armas de destruição em massa, os Estados
Unidos, junto com uma coalizão internacional, tendo como aliado principal
a Inglaterra, dão início a Guerra no Iraque em 2003.
A guerra irá garantir aos Estados Unidos o controle da segunda reserva
mundial de petróleo, fator crucial para quem já é o primeiro importador do
mundo. Assim, todaa argumentação forjada para a implementação da guerra
é questionada segundo Claudia Fay : “A administração de George Bush
invocou numerosas razões para justificar a guerra: eliminar armas de
destruição em massa, combater o terrorismo, prevenir ameaças contra
Estados vizinhos, libertar o Iraque do ditador. Até mesmo o novo conceito
‘guerra preventiva’ foi usado. No entanto, a fragilidade dos argumentos
utilizados não conseguiu convencer a comunidade internacional. A prova
disso foram as oposições da França, da Rússia, da China e da Alemanha,
além das manifestações pela paz que se espalharam pelo mundo” (FAY,
2003, p. 73).
7. Ambos os conflitos iniciaram pormotivos dúbios. No Vietnã ocorreuporum
suposto ataqueao navio americano USS Madoxx pela Marinha do Vietnã do
Norte, em agosto de 1964, fato que posteriormente foi desmentido pelo
próprio Ministro da Defesa do Estados Unidos na época, Robert
MacNamara. “O Incidente do Golfo de Tonkin” foi forjado com o objetivo
de se criar um pretexto para que o presidente dos Estados Unidos, Lyndon
Johnson, enviasse as tropas americanas ao Vietnã. Muito embora Robert
Kennedy, presidente anterior assassinado em 1964, tenha hesitado
veementemente em se envolver diretamente na guerra, desde 1962 os EUA
enviavam armas, dinheiro e militares para o regime capitalista do Vietnã do
Sul, a fim de combater as investidas dos comunistas do norte do país.
Já o conflito iraquiano foi desencadeado poracusaçõespor partedos Estados
Unidos de que o Iraque mantinha armas de destruição em massa e de que
Saddam Husseim mantinha ligações com a rede terrorista Al Qaeda, de Bin
Laden. Tais acusações nunca foram comprovadas e a Guerra no Iraque,
liderada pela coalizão inglesa e americana foi iniciada em março de 2003,
sem a anuência da comunidade internacional, uma vez que a ONU não
concedeu aval para que a guerra ocorresse.
O que marcou profundamente o conflito e o exército americano no Vietnã,
foi descobrir que o seu poderio bélico não era suficiente para combater a
resistência vietnamita. Através da guerra de guerrilha, os vietcongues,
construíram redes de abrigos subterrâneos e túneis, tinham uma mobilização
constante, contra-atacavam por meio de armadilhas e emboscadas. Não foi
um conflito parelho a Segunda Guerra Mundial ou da Guerra da Coreia, pois
não seguiu um padrão convencional de guerra, ficando assim as tropas
americanas vulneráveis a ataques de surpresa onde quer que se
encontrassem, podendo ser surpreendidos até pela retaguarda.
Ronald Bruce St. John, cientista político e militar americano que esteve no
Vietnã afirma que a situação no Iraque é parelha:
“Servi uma excursão de dever no Vietnã, em 1970-71e retornei no final de
1980 para a primeira de várias visitas prolongadas. Baseado na minha
experiência, o Iraque hoje parece cada vez mais como o Vietnã e eu sabia
em primeira mão, como um oficial de inteligência do exército de mais de
três décadasatrás. (…) há as semelhanças óbvias estratégicas e táticas. As
tropas americanas estão lutando uma guerra de guerrilha no Iraque. O
terreno é difícil, e os insurgentes conhecem melhor do que nós. Os ataques
inimigos ocorrem em um tempo e lugar de sua própria escolha, evitando
concentrações de tropas, onde o poder de fogo dos EUA pode ser exercido.
A guerra urbana se tornou a norma com os insurgentes ficando perto de
soldados norte-americanos, muitas vezes envolvendo civis para apoiar ou
8. proteger suas operações. Como resultado, o campo de batalha incerto do
Iraque coloca enormes desafios para os soldados americanos, procurando
separar combatentes de civis, sem alienar a maioria dos iraquianos.
Enfrentamos no Iraque, como fizemos no Vietnã, um inimigo que se recusa
a jogar segundo as nossas regras e está claramente disposto a morrer por
suas crenças.” (ST. JOHN, 2004)
St John aponta que o exército tem poucos conhecedoras em idiomas árabes
e os especialistas do governo com bom conhecimento da história do Iraque
e da cultura foram marginalizados desde o início do planejamento no
Pentágono sobre a guerra. O mesmo ocorreu no Vietnã, quando não havia
conhecimento sobre a sua cultura budista: “Homens-bomba no Oriente
Médio, como auto-imolações budistasnoVietnã, são incompreensíveis para
o americano médio, situada num subúrbio confortável com um bom
emprego.” (ST. JOHN, 2004)
Essa foi uma das principais lições do Vietnã: a importância de se conhecer a
cultura do adversário. O militar reformado do Exército dos Estados Unidos,
General Scales, rebate a teoria segundo a qual um aparato tecnológico
superior é suficiente para vencer uma guerra. Para ele é essencial a
“habilidade em compreender o povo, sua cultura e sua motivação”
(MAcFATE, 2005, p. 44). Arthur Cebrowski, funcionário do Departamento
de Defesa dos Estados Unidos afirmou em 2004 que: “o conhecimento da
cultura e da sociedade do inimigo talvez seja mais importante do que o
conhecimento da sua ordem debatalha”(MAcFATE, 2005, p. 44). Segundo
a antropóloga norte-americana Montgomery MacFate:
“Por que o conhecimento cultural tornou-se, repentinamente, tão
importante para o Departamento de Defesa? O principal motivo é que os
métodos tradicionais provaram ser inadequadostanto no Iraque quantono
Afeganistão. O adestramento, a tecnologia e a doutrina dos EstadosUnidos
não são desenvolvidos atualmentepara operações de contra-insurreição de
baixa intensidade, onde civis misturam-se livremente com combatentes em
terrenos urbanos complexos” (MAcFATE, 2005, p. 44).
Uma das principais diferenças entre os dois conflitos fica por conta do
contexto histórico diverso. A Guerra do Vietnã foi um conflito que se
encontrava em meio a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética,
a despeito da política de coexistência pacífica entre os dois países. Apesar
do conluio ter sido desmascarado, principalmente pela URSS tergiversar em
vários momentos, como no caso da Crise dos Mísseis, existia uma tensão no
ar, por conta da pressão dos países do Terceiro Mundo em se alinhar ao
comunismo. Assim, havia o temor de que se o Vietnã caísse em mãos
comunistas, poderia haver um efeito dominó e toda a Ásia tornar-se-ia polo
de influência da URSS. Não obstante, indústrias armamentistas também
9. pressionaram para que a guerra vingasse, verificado pelo montante de
bombas lançadas sobre o Vietnã, superando em três vezes o montante de
explosivos utilizados na 2ª Guerra Mundial.
A guerra do Iraque, porsua vez, foiresultado do esforço dos EstadosUnidos
em utilizar seu maior trunfo – sua supremacia militar – para controlar as
reservas mundiais de petróleo, porpelo menos mais cinquenta anos. Michel
Chossudovsky afirma que a invasão foi encabeçada pelas gigantes
petrolíferas anglo-americanas somada as grandes fabricantes de armas dos
Estados Unidos: Lockheed Martin, Raytheon, Northrop Grumman, Boeing e
General Dynamics (CHOSSUDOVSKY, 2004, p. 91).
Desde 1998 no Congresso dos Estados Unidos os deputados vinham
afirmando a importância da “rota da seda”, que perpassa países
como Armênia, Azerbaijão, Turcomenistão, Casaquistão, Quirquistão,
Tadjequistão. Estes países anseiam manter relações com Estados Unidos,
pois possuem reservas de petróleo e de gás e desejam sair da órbita de
influência de Moscou. Chossudovskyaponta que: “Por meio da lei sobre a
‘estratégia da rota da seda’, os EstadosUnidosafirmam sua política externa
de solapar e, finalmente, desestabilizar seus competidores no negócio do
petróleo: Rússia, Irã e China.”(CHOSSUDOVSKY, 2004, p. 96).
Apesar do fim da Guerra Fria, a Rússia ainda é um importante fator de
mobilização dos Estados Unidos, como na Guerra do Iraque. A “estratégia
da seda” demonstra que o objetivo dos Estados Unidos no Oriente Médio,
além do controle do petróleo da região, tinha também como anseio isolar
outras potências deste intento, através da exclusão da Rússia das rotas dos
oleodutos do Mar Cáspio para o Ocidente (CHOSSUDOVSKY, 2004, p.
110).
Situação parelha também em ambos os conflitos foi o custo financeiro
enorme que as guerras desencadearam nas reservas do país. Os gastos da
Guerra do Vietnã foi um dos fatores que contribuíram para o fim da moeda
americana como lastro mundial ensejando o câmbio flutuante, pondo fim ao
Acordo de Bretton Woods, vigente desde o final da Segunda Guerra. A
guerra do Iraque também provoca drástica diminuição das reservas dos
Estados Unidos, contribuindo para a atual crise econômica do país.
Assim temos como objetivo analisar a Guerra do Vietnã e do Iraque com o
intuito de assinalar as semelhanças e diferenças entre ambos os conflitos, a
fim de apontar quais os motivos que levam os Estados Unidos em um
empreitada tão dispendiosa e impopular. Dentre as hipóteses destacam-se
como ambas as guerras contribuem para a manutenção da hegemonia norte-
americana no mundo e esboça as novas correlações de forças em âmbito
mundial.