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ÍNDICE
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A Última Ceia de Leonardo
Palestra proferida por Antonio Carlos Jorge em 06 de julho de 2007
O tema que iremos abordar talvez nunca despertou tanta curiosidade
como atualmente. O recente sucesso editorial do livro “O Código Da
Vinci” de Dan Brown, instigou o imaginário, através de uma narrativa
que envolve todos esses assuntos ligados à vida de Cristo,
questionando e apresentando conjecturas e teses, algumas verossímeis
e outras tantas, ao meu ver, sem muita fundamentação, como é o caso da obra de
Leonardo Da Vinci, “A Última Ceia”.
Antes de falarmos sobre o significado da obra de Leonardo, vamos abordar
rapidamente alguns aspectos da sua vida para entendermos o contexto em que toda
sua obra se desenvolveu. Leonardo nasceu em abril de 1.452, em Vinci, uma vila
próxima à Florença, filho de Piero da Vinci, um notário, e de uma serva.
Leonardo era filho ilegítimo, não tendo direitos aos bens de seu pai. Mas seu pai,
zeloso, não o abandonou, tendo assumido a sua criação. Devemos lembrar
Leonardo nasce ainda na idade média.
O final da idade média é determinada pela queda de Constantinopla, em maio de
1.453. Naturalmente a mudança de um período para outro não se dá através de um
único evento, mas sim é um processo de transição que envolve vários
acontecimentos.
Com o fim da idade média temos o renascimento, com o ressurgimento da
valorização do homem como figura de relevância em todos os contextos. Inicia-se o
Humanismo, movimento que revolucionou o pensamento, dando origem a novas
concepções e visões de mundo. Essa nova concepção é precursora da
especialização do conhecimento, dando origem mais tarde, à sistematização do
saber humano, com o cientificismo e segregação de um conhecimento que até então
era unificado.
Leonardo está mais para um homem da idade média do que alinhado às novas
tendências renascentista, pois não restringia um conhecimento específico como os
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demais gênios seus contemporâneos. Ele reunia um vasto conhecimento. Não foi só
pintor. Foi escultor, músico, arquiteto, engenheiro, inventor, anatomista e também
astrólogo, apesar de sua biografia nada mencionar quanto a esse universo de
conhecimentos ocultos. Enfim ele tinha um conhecimento universalista, muito mais
próximo de um sábio medieval do que um renascentista. Em todas as áreas em que
atuou deixou a marca de sua genialidade.
Ao completar 14 anos, o pai de Leonardo o matriculou como aprendiz na oficina de
artes de Verrocchio que era um grande mestre de Florença. As oficinas de artes não
se ocupavam somente de obras artísticas, como esculturas e pinturas, mas também
de construções de edifícios, pontes e obras de engenharia, metalurgia, máquinas de
guerra, enfim, tudo que exigia a criatividade do homem e a fabricação de algum tipo
de artefato.
Leonardo logo se destacou em todas essas artes, tendo participado da confecção de
uma pintura de Verrocchio, encomendada por Lorenzo Médici, governante de
Florença. Ele fez a pintura de um rosto de anjo numa pintura e pela delicadeza dos
traços e jogo de luz, chamou a atenção da família Médici, que passou a protegê-lo.
Nestas épocas, o sucesso dependia não do talento, mas principalmente da figura de
protetor, de um mecenas.
A península itálica, nesta época, era uma região de muitas disputas, não havendo a
identidade de um país, que consolidou somente após três séculos. Existiam as
cidades-estado, que viviam em contendas. Pelo interesse do Vaticano, guerras eram
sistematicamente travadas, com o objetivo de sedimentar o poder do clero. Neste
contexto, foi deflagrada uma guerra contra Florença, fomentada pelo Vaticano, pois
havia muitos interesses de composição política e de domínio da hegemonia e
supremacia econômica.
Leonardo, diante desta situação, depois de servir a outros poderosos, como os
Borgia, por exemplo, acaba se transferindo para Milão, tendo se colocado à
disposição do Duque Ludovico Sforza. Só para termos uma idéia dos talentos de
Leonardo, ele apresenta o seu currículo como sendo principalmente Engenheiro
Militar, como ele gostava de ser reconhecido, Arquiteto, Construtor de Armas,
inventor, músico e ao final da lista de suas qualificações está a de pintor e é
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justamente por esta sua habilidade é que o Duque o contrata. Ludovico, agora, é
novo protetor de Leonardo.
Entre as diversas obras que Leonardo realiza sob encomenda de Ludovico está a
“Última Ceia”. A obra deveria decorar o refeitório do Convento de Santa Maria delle
Grazie. A obra iniciou no ano de 1495 e foi concluída em 1.497. Levou quase quatro
anos. Na realidade ela não foi concluída. Aliás, nenhuma obra de Leonardo, exceto a
de São João e o Menino Jesus foi concluída, se não me falha a memória. Foram
vários os processos movidos contra Leonardo, pois ele não cumpria os contratos.
Isso era um traço do gênio. Leonardo falava que a criação é divina, a execução
servil!
“Última Ceia” foi pintada numa das
paredes do salão e Leonardo desenvolveu
uma técnica nova. Costuma-se dizer que
se trata de um afresco, mas na realidade
um afresco é uma pintura realizada sobre
uma camada de gesso recém aplicada,
ainda úmida. É uma técnica que não
permite erro e retoques posteriores e Leonardo era antes de tudo um perfeccionista.
Ele queria uma técnica que pudesse abreviar a secagem da tinta. Não que ele não
fosse perito. Ele não cometia erros, mas queria o retardamento da secagem para
executar a obra com a maior perfeição imaginada. Então ele desenvolveu
determinadas tintas e pigmentos que se demonstraram pouco eficazes no que se
refere à sua conservação. O afresco tem sido constantemente atacado pela ação de
fungos que o decompõe, exigindo uma manutenção e restauração constantes.
O desrespeito para com a arte não é um fato que ocorre somente em nossos dias.
Observem que, por necessidade de se criar uma passagem para um cômodo
contíguo, foi aberta e depois fechada uma porta justamente
sobre a pintura, destruindo para sempre uma parte da base.
Fato semelhante ocorreu com “Mona Lisa”, que é uma pintura feita sobre painel de
madeira, que teve as partes laterais serradas.
Página 5 de 15
Passemos então a analisar o quadro apresentado. Vemos que a figura de Cristo é
colocada exatamente ao centro. Se traçarmos duas linhas perpendiculares,
projetando o ponto de fuga, teremos esse ponto de convergência exatamente sobre
o olho direito de Cristo:
Desta forma temos o quadro, com Cristo na posição central e os apóstolos
distribuídos nos dois lados. Ao redor de Cristo, forma-se um círculo que passa pelo
arco da porta ao fundo, desenhando-se um triângulo, com o vértice para cima e outro
com o vértice para baixo.
No livro “O Código da Vinci”, Dan Brown fala desses símbolos de uma forma muito
primária. Ele os relaciona aos princípios masculino, personificado pela figura de
Cristo e o feminino, formado entre Ele e João que está ao seu lado direito.
Como as feições de João são femininas ele logo associa com a figura de Maria
Madalena, que teria sido sua esposa e mãe de sua filha Sara, que teria originado a
dinastia dos Merovíngios, primeiros reis francos. Inclusive ele argumenta que Jesus
por ser um Rabi, não poderia ser solteiro, teria que necessariamente ser casado.
Isso é uma verdade entre os Fariseus, porém se considerarmos Jesus como Essênio
isso não era uma verdade, pois os essênios faziam votos de castidade, além de
Página 6 de 15
pobreza, e como se acredita que Jesus fosse essênio, naturalmente ele não poderia
ser casado. Mas isso não interesse à narrativa de Dan Brown, pois inviabilizaria sua
narrativa e não existiria o livro. Dan Brown é pesquisador e eu acredito que este
conhecimento não foge ao seu estudo, mas acredito que isso não lhe interessa, pois
não vende, não é comercial.
Este simbolismo representado com os
dois triângulos, com vértices opostos é
muito profundo, estando presente em
diferentes tradições, como a védica e a
hebraica, que apresenta os dois
triângulos entrelaçados, formando a
estrela de seis pontas.
Este símbolo encerra princípios
herméticos, como o da correspondência,
ao da polaridade, assim como ao gênero e isso não pode ser reduzido simplesmente
a representações fálicas.
Não estamos a desmerecer o trabalho de Dan Broawn e reconhecemos que nunca
se falou tanto sobre esses assuntos e nunca estas obras foram tão visitadas como
hoje e isso por si só já é importante, mas temos que colocar as coisas nos seus
devidos lugares.
Podemos relacionar a tríade superior com Visnhu, contendo os princípios Atma,
Buddhi e Manas e a tríade inferior com Brahma e os gunas, que segundo as
tradições védicas são os atributos constituintes da matéria, ou seja: Sattwa, Tamas e
Rajas.
Com a combinação destes três atributos se geram os quatro elementos materiais.
Vejamos, pela análise combinatória usando três
elementos primários, ou seja, A, B e C. A associa-
se com B, A associa-se com C, B associa-se com
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C, A associa-se com B e com C.
Temos, então, quatro elementos secundários. Podemos também fazer uma analogia
com as cores primárias, que são a azul, a amarela e a vermelha, que combinadas
entre si formam as quatro cores secundárias.
Então temos o ternário superior sobre o quaternário inferior.
Da combinação do três com o quatro, temos como resultado o doze, que traduzem
os diferentes tipos básicos de energias, ou seja, os doze arquétipos huma-nos.
É por isso que esses números são chamados esotéricos, pois repre-sentam a
constituição do universo.
A pirâmide, por exem-plo, é um símbolo esplêndido, pois é o ternário assentado so-
bre uma base quater-nária, contendo 12 ângulos.
Os três tipos primários determinam o compor-tamento e os quatros secundários
ditam o temperamento.
Podemos representar estas correlações através do diagrama ao abaixo.
Página 8 de 15
Então, o simbolismo que a obra passa é muito profundo e é isso que procuraremos
demonstrar.
Falamos das qualificações de Leonardo que entre elas ele detinha o conhecimento
astrológico e é justamente este conhecimento que está a ser revelado em sua obra.
É o conhecimento profundo dos arquétipos, detalhando suas características,
demonstrando perfeitamente o zodíaco, com os doze signos, tendo o Sol (Cristo)
como o centro dos acontecimentos e da criação.
Isto se torna mais evidente se nós separarmos os apóstolos em grupos de três.
Temos, assim, quatro grupos de três, associando-os às quatro estações do ano.
Cada estação tem três meses e conseqüentemente três signos, iniciando-se na
Primavera, que é o ponto vernal no hemisfério norte, com os meses de março, abril e
maio, relacionados a Áries, Touro e Gêmeos, ao Verão, com os meses de junho,
julho e agosto, relacionados a Câncer, Leão e Virgem, ao Outono, com os meses de
setembro, outubro e novembro, relacionados à Libra, Escorpião e Sagitário e ao
Inverno, incluindo dezembro, janeiro e fevereiro, relacionados à Capricórnio, Aquário
e Peixes.
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Uma outra forma de demonstrarmos é dispormos da figura numa visão
tridimensional, tendo a figura de Cristo ao centro e a dos apóstolos distribuídas na
eclíptica.
Na roda zodiacal, temos os signos
distribuídos formando eixos, onde um signo
tem suas características virtuosas que são as
dificuldades vividas pelo signo colocado em
oposição, o que nos remete ao princípio da
polaridade, onde se afirma que tudo tem dois
pólos, sendo os mesmos são de natureza
similar, variando, porém o grau e que essas
polaridades podem ser reconciliáveis.
Para se vencer as dificuldades, representada pela sombra, tem-se que buscar as
virtudes, que é a luz, localizada em sua oposição.
Na realidade o que deve determinar entre os dois pólos é a busca pelo equilíbrio, ou
seja, o ponto central que é a figura de Cristo, a viver o caminho da temperança, o
caminho do meio.
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Associando, os diferentes discípulos, temos a representação na figura abaixo:
Jesus abre sua mão esquerda, voltada para cima, como estivesse a alimentar
àqueles colocados a sua esquerda, às estações de primavera e verão, onde ocorrem
o nascimento e o crescimento e sua mão direita, voltada para baixo, num ato de
absorção das energias e experiências acumuladas pelas estações de outono e
inverno, relacionadas com a maturidade e morte. Isso demonstra o ciclo zodiacal de
nascimento e morte. Nota-se que mesma correlação é feita na medida em que a luz
é projetada à esquerda de cristo e a sombra à direita. A mesma dualidade polar
também é representada no manto de Jesus que delimita os dois hemisférios.
À cabeceira da mesa, ao extremo lado esquerdo de Cristo, temos a figura de Simão,
representando Áries. Leonardo representa na ordem da esquerda para a direita, pois
os signos, como vistos da Terra, “movimentam-se” em sentido anti-horário. Áries, o
signo que abre o Zodíaco, tem por características o pioneirismo, a liderança, a
iniciativa, e é exatamente este o papel demonstrado por Simão, ao se sentar na
cabeceira da mesa. Áries rege a cabeça e a cabeça de Simão é apresentada de
forma proeminente. A posição de Simão é de ascendência sobre os demais. Mas não
só é a posição ocupada por Simão que denota esse papel ariano, mas sim o que a
temática sugere, pois tudo decorre de algo falado por Simão, pois os demais
Página 11 de 15
apóstolos estão a comentar, a argumentar e a observar o próprio Simão, ao que foi
dito.
Se Áries está relacionado ao eu, à personalidade, Libra corresponde ao outro, ao
relacionamento, à satisfação da necessidade do parceiro. É ideal do libriano viver o
relacionamento em clima de paz, beleza, equilíbrio e harmonia. A figura de João,
diametralmente oposta à de Simão, recebe e absorve todo o impacto daquilo que foi
falado, fazendo com que assuma uma postura de submissão e recolhimento. As
mãos de João estão colocadas em posição de reconciliação. A figura tem realmente
semblante feminino, pois Libra, pelos seus valores, ao buscar a harmonia está
associado à condição receptiva. O manto também remete ao equilíbrio, na medida
em que se divide em duas cores. Libra é regido por Vênus e Áries por Marte. Este é
o eixo da individualidade, tendo Áries a personificação do ego psicológico e Libra o
outro com quem o ego se relaciona.
Em seguida temos Judas Tadeu relacionado ao signo de Touro. Touro é
caracterizado pelos valores pessoais, posses, ao ter e dentro disso ele tem a
necessidade de desenvolver uma estrutura sólida, ter apoio e se notarmos no
quadro, veremos que é o único apóstolo a se apoiar à mesa, a colocar o braço
esquerdo usando a mesa como anteparo. O porte do taurino é sólido, robusto. Touro
rege o pescoço e garganta e isso é bastante evidenciado na pintura. A atitude de
Judas Tadeu é de ponderação. Argumenta e aceita.
Este é o eixo dos valores e do poder, tendo Touro de um lado e Escorpião do outro.
Escorpião é representado por Judas Iscariotes. Escorpião relaciona-se com os
valores do outro, aos valores coletivos, função assumida por Judas, pois era
tesoureiro do grupo. Escorpião é o signo das profundezas, da transformação, da
regeneração ou da morte. Regido por Plutão, ou Hades, rege tudo que é profundo e
transformador. O papel de Judas Iscariotes, tão mal interpretado pelas tradições
cristãs, foi fundamental para o desfecho trágico do drama que é a paixão e a
ressurreição. Mas Judas Iscariotes de certa forma foi o mais leal dos apóstolos, pois
foi ele quem fez cumprir as escrituras. Ele assumiu a missão mais penosa do grupo
cumprindo a ordem de denunciar ao sinédrio seguindo a própria ordem de Jesus,
quando lhe disse “Judas, com um beijo você trai o filho do homem” (Lucas 22:48).
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Na realidade Escorpião é o motor do Zodíaco, pois é ele quem determina os
processos de transformação necessários à evolução da vida. Judas Iscariotes na
pintura é apresentado como um expectador, a observar ao desenrolar da trama, a
analisar os rumos dos acontecimentos, características própria de Escorpião. Analisa
profundamente, traça as estratégias e desfere a ação precisa no momento certo.
A seguir temos Mateus, relacionado ao signo de Gêmeos, cujo regente é Mercúrio.
Gêmeos está relacionado a todo processo mental e de comunicação. Ao mental
concreto, ao processo de acúmulo de conhecimento cognitivo e aplicado à realidade
material. Os geminianos são esbeltos e ágeis, joviais, de olhar curioso e por
considerar todas as possibilidades possíveis diante das situações, podem ser
considerados, às vezes, contraditórios, instáveis, volúveis. Mateus demonstra
algumas destas características. Ele está a comunicar com Simão, olhando-o, mas
argumentando com as mãos e braços como se tivesse considerando todos os
aspectos diante do que foi dito. Pode aparentar também uma ambigüidade entre o
que foi colocado e o que o grupo pensa. Como Gêmeos está relacionado à
comunicação e à fala, relaciona-se anatomicamente com os ombros, braços e mãos
e é isso que notamos também na figura de Mateus, que também é considerado o
repórter de Cristo, como Mercúrio o mensageiro de Júpiter.
Aqui temos o eixo do conhecimento, da sabedoria. Opondo-se a Mateus temos
Pedro, representando o Sagitário que é o signo relacionado com a religião. Sagitário
rege os assuntos superiores, o conhecimento abstrato e se lança espontaneamente
rumo ao desconhecido, sendo às vezes abrutalhado, podendo se expressar com
excesso da franqueza. Isso corresponde ao espírito de Pedro, aquele que fundou a
Igreja, ou a religião, juntamente com Paulo. A fé quando levada às últimas
conseqüências pode ser cega e em sua defesa tudo pode ser permitido. À mão
Pedro está a assegurar uma faca como defesa de seus próprios ideais, não em
atitude ameaçadora a João, com alguns querem crer. Sagitário, o centauro, empunha
o arco com a flecha a ser arremessada. Sagitário rege anatomicamente também os
quadris e isso está evidente na pintura, na medida em que a mão direita nela se
apóia. A disposição do corpo de Pedro lembra o desenho do símbolo do signo de
Sagitário (I).
Página 13 de 15
Na seqüência temos Felipe, relacionado a Câncer. Aqui chegamos no fundo do
Zodíaco, ou fundo do Céu. Ponto axial do inconsciente correspondendo a toda
manifestação devocional, ao sentimento materno, às origens e tradições. Relaciona-
se ao lar e à família e Felipe personifica esse arquétipo. Com semblante nitidamente
feminino, Felipe leva as suas duas mãos ao peito, como se estivesse chamando
todos como filhos a se reconciliarem. Aliás, Câncer rege justamente os seios,
estômago e útero. As mãos com os braços formas também uma figura que lembra as
garras do caranguejo que é o próprio Câncer.
Este é o eixo do tempo, com o passado e o destino. Como passado, temos a relação
com Câncer, à mãe, e o futuro, relacionado a Capricórnio, ao pai. Então, Capricórnio
rege o destino, ou seja, aquilo que procuramos como carreira, como objetivo de vida
e o papel social que buscamos e como desejamos reconhecimento. Diz respeito
também à autoridade.
Temos então, André como Capricórnio, numa atitude nitidamente capricorniana.
Capricórnio é cauteloso e prático, podendo vir a ser frio e pessimista. Enquanto
Felipe diz “venham a mim”, André parece dizer “afaste de mim”, pois para assumir as
responsabilidades há de calcular e planejar o que deve ser realizado. Capricórnio
corresponde anatomicamente a toda constituição óssea, joelhos, pele. Na pintura
André é o único que apresenta as mãos com os dedos esqueléticos, transparecendo
a estrutura óssea.
Ao lado de Felipe temos Tiago menor, correlacionado ao Leão. Leão é o soberano.
Carismático, altivo, criativo, dramático, busca o reconhecimento através da exibição.
É regido pelo Sol e irradia sua luz. Leão rege o coração que é análogo ao Sol
corporal. Essas características de Leão estão claramente transpostas ao Tiago
menor. Seguramente ele é a figura cênica mais bela do quadro e ao assumir a
postura de braços abertos, expondo-se à luz, colocando-se ao lado do próprio Cristo.
Demonstra o peito aberto, o coração da generosidade, um comportamento
tipicamente leonino, que às vezes chega a ser ingênuo, centrado na vaidade e no
egocentrismo.
Este é o eixo do poder da criação. Se Leão é a manutenção da criação, Aquários é
mudança, renovação e também criação. Leão rege o poder do rei, do monarca.
Página 14 de 15
Aquários o poder do coletivo, do grupo, da sociedade. Neste eixo é que ocorrem as
contendas pela disputa de poder.
Aquários, com o regente Urano, promove toda sorte de mudanças abruptas,
significando sempre drásticas mudanças. Muitas vezes, em nome da inovação se
revoluciona e se destitui o monarca para o estabelecimento de um novo regime, para
em seguida, se tornar um modelo muito parecido com o anterior. É o que se observa
com as revoluções aquarianas, como a Revolução Francesa, que teve
posteriormente Napoleão coroado como imperador (Leão) e mais próximo de nosso
tempo, a Revolução Cubana, com Fidel governando como Rei-Ditador.
Aquário está associado, desta forma, às ações de libertárias, à rebeldia, ao
radicalismo, pois é comprometido com valores humanos, aos valores progressistas, à
impessoalidade. Analisando a figura de Tiago Maior, vemos que ele não aparece em
primeiro plano. Ele não se expõe isoladamente, mas sim através do grupo, através
da diplomacia e vejam: Aquário é o signo da amizade e temos então Tiago
abraçando André e Pedro, demonstrando que a força vem do grupo e não da atitude
individual de Leão.
Finalmente, temos Tomé, representando Virgem. O signo de virgem relaciona-se à
praticidade, à análise e à crítica. É regido também por Mercúrio, mas aqui o mental
está voltado mais às questões de se dar uma aplicação utilitária e prática a todas as
coisas e é por este motivo que o virginiano questiona, detalha e discrimina. O
virginiano tem necessidade extrema de se sentir útil e de prestar o seu serviço, mas
para isso ele necessita compreender a causa das coisas. Dentro destas
características temos a figura de Tomé, mesmo porque Tomé necessita de ver para
crer. Tomé no seu ato de questionador questiona até o próprio Cristo, na medida em
que coloca o seu dedo indicador direito à frente de Jesus. Como o virginiano tende à
timidez e humildade, Tomé é colocado também em uma posição afastada da mesa.
Este é o eixo do servir, tendo Virgem correspondendo ao servir pragmático e Peixes,
ao servir humanista, às vezes não muito claro e perceptível, o que pode levar o
pisciano a viver em estado de irrealidade.
Peixes está associado ao ser sonhador, à inspiração e compreensão. São
compassivos, emotivos, intuitivos e românticos, mas, por esse estado de
Página 15 de 15
contemplação, se não bem canalizado, pode levar a atitudes evasivas, fantasiosas, a
ter dificuldades em perceber a realidade.
Bartolomeu é o apóstolo que fecha o círculo zodiacal ao se posicional do outro lado
da mesa. Ele demonstra claramente as características piscianas. Parece que sua
visão está direcionada a um ponto que extrapola ao ambiente retratado, a um ponto
difuso, podendo não perceber exatamente o que está se passando. Não fala, só
observa, contempla e aceita. Peixes rege os pés é justamente seus pés,
entrelaçados, que estão iluminados sob a mesa. Peixes tem a grande potencialidade
intuitiva, mas necessita conhecer como pode transformar a sua natureza, o seu
sentimento de servir a humanidade de forma mais prática e construtiva.
Desta forma, Leonardo também nos legou mais este conhecimento, através desta
maravilhosa obra, demonstrando o rico significado simbólico representado pelos
arquétipos humanos, demonstrados pela astrologia.
A astrologia deve ser entendida sob essa concepção, demonstrando o esplendor da
diversidade e faz com que nós possamos compreender a natureza das diferenças e
a aceitá-las como manifestação da mesma fonte de vida.

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  • 1. Página 1 de 15 ÍNDICE
  • 2. Página 2 de 15 A Última Ceia de Leonardo Palestra proferida por Antonio Carlos Jorge em 06 de julho de 2007 O tema que iremos abordar talvez nunca despertou tanta curiosidade como atualmente. O recente sucesso editorial do livro “O Código Da Vinci” de Dan Brown, instigou o imaginário, através de uma narrativa que envolve todos esses assuntos ligados à vida de Cristo, questionando e apresentando conjecturas e teses, algumas verossímeis e outras tantas, ao meu ver, sem muita fundamentação, como é o caso da obra de Leonardo Da Vinci, “A Última Ceia”. Antes de falarmos sobre o significado da obra de Leonardo, vamos abordar rapidamente alguns aspectos da sua vida para entendermos o contexto em que toda sua obra se desenvolveu. Leonardo nasceu em abril de 1.452, em Vinci, uma vila próxima à Florença, filho de Piero da Vinci, um notário, e de uma serva. Leonardo era filho ilegítimo, não tendo direitos aos bens de seu pai. Mas seu pai, zeloso, não o abandonou, tendo assumido a sua criação. Devemos lembrar Leonardo nasce ainda na idade média. O final da idade média é determinada pela queda de Constantinopla, em maio de 1.453. Naturalmente a mudança de um período para outro não se dá através de um único evento, mas sim é um processo de transição que envolve vários acontecimentos. Com o fim da idade média temos o renascimento, com o ressurgimento da valorização do homem como figura de relevância em todos os contextos. Inicia-se o Humanismo, movimento que revolucionou o pensamento, dando origem a novas concepções e visões de mundo. Essa nova concepção é precursora da especialização do conhecimento, dando origem mais tarde, à sistematização do saber humano, com o cientificismo e segregação de um conhecimento que até então era unificado. Leonardo está mais para um homem da idade média do que alinhado às novas tendências renascentista, pois não restringia um conhecimento específico como os
  • 3. Página 3 de 15 demais gênios seus contemporâneos. Ele reunia um vasto conhecimento. Não foi só pintor. Foi escultor, músico, arquiteto, engenheiro, inventor, anatomista e também astrólogo, apesar de sua biografia nada mencionar quanto a esse universo de conhecimentos ocultos. Enfim ele tinha um conhecimento universalista, muito mais próximo de um sábio medieval do que um renascentista. Em todas as áreas em que atuou deixou a marca de sua genialidade. Ao completar 14 anos, o pai de Leonardo o matriculou como aprendiz na oficina de artes de Verrocchio que era um grande mestre de Florença. As oficinas de artes não se ocupavam somente de obras artísticas, como esculturas e pinturas, mas também de construções de edifícios, pontes e obras de engenharia, metalurgia, máquinas de guerra, enfim, tudo que exigia a criatividade do homem e a fabricação de algum tipo de artefato. Leonardo logo se destacou em todas essas artes, tendo participado da confecção de uma pintura de Verrocchio, encomendada por Lorenzo Médici, governante de Florença. Ele fez a pintura de um rosto de anjo numa pintura e pela delicadeza dos traços e jogo de luz, chamou a atenção da família Médici, que passou a protegê-lo. Nestas épocas, o sucesso dependia não do talento, mas principalmente da figura de protetor, de um mecenas. A península itálica, nesta época, era uma região de muitas disputas, não havendo a identidade de um país, que consolidou somente após três séculos. Existiam as cidades-estado, que viviam em contendas. Pelo interesse do Vaticano, guerras eram sistematicamente travadas, com o objetivo de sedimentar o poder do clero. Neste contexto, foi deflagrada uma guerra contra Florença, fomentada pelo Vaticano, pois havia muitos interesses de composição política e de domínio da hegemonia e supremacia econômica. Leonardo, diante desta situação, depois de servir a outros poderosos, como os Borgia, por exemplo, acaba se transferindo para Milão, tendo se colocado à disposição do Duque Ludovico Sforza. Só para termos uma idéia dos talentos de Leonardo, ele apresenta o seu currículo como sendo principalmente Engenheiro Militar, como ele gostava de ser reconhecido, Arquiteto, Construtor de Armas, inventor, músico e ao final da lista de suas qualificações está a de pintor e é
  • 4. Página 4 de 15 justamente por esta sua habilidade é que o Duque o contrata. Ludovico, agora, é novo protetor de Leonardo. Entre as diversas obras que Leonardo realiza sob encomenda de Ludovico está a “Última Ceia”. A obra deveria decorar o refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie. A obra iniciou no ano de 1495 e foi concluída em 1.497. Levou quase quatro anos. Na realidade ela não foi concluída. Aliás, nenhuma obra de Leonardo, exceto a de São João e o Menino Jesus foi concluída, se não me falha a memória. Foram vários os processos movidos contra Leonardo, pois ele não cumpria os contratos. Isso era um traço do gênio. Leonardo falava que a criação é divina, a execução servil! “Última Ceia” foi pintada numa das paredes do salão e Leonardo desenvolveu uma técnica nova. Costuma-se dizer que se trata de um afresco, mas na realidade um afresco é uma pintura realizada sobre uma camada de gesso recém aplicada, ainda úmida. É uma técnica que não permite erro e retoques posteriores e Leonardo era antes de tudo um perfeccionista. Ele queria uma técnica que pudesse abreviar a secagem da tinta. Não que ele não fosse perito. Ele não cometia erros, mas queria o retardamento da secagem para executar a obra com a maior perfeição imaginada. Então ele desenvolveu determinadas tintas e pigmentos que se demonstraram pouco eficazes no que se refere à sua conservação. O afresco tem sido constantemente atacado pela ação de fungos que o decompõe, exigindo uma manutenção e restauração constantes. O desrespeito para com a arte não é um fato que ocorre somente em nossos dias. Observem que, por necessidade de se criar uma passagem para um cômodo contíguo, foi aberta e depois fechada uma porta justamente sobre a pintura, destruindo para sempre uma parte da base. Fato semelhante ocorreu com “Mona Lisa”, que é uma pintura feita sobre painel de madeira, que teve as partes laterais serradas.
  • 5. Página 5 de 15 Passemos então a analisar o quadro apresentado. Vemos que a figura de Cristo é colocada exatamente ao centro. Se traçarmos duas linhas perpendiculares, projetando o ponto de fuga, teremos esse ponto de convergência exatamente sobre o olho direito de Cristo: Desta forma temos o quadro, com Cristo na posição central e os apóstolos distribuídos nos dois lados. Ao redor de Cristo, forma-se um círculo que passa pelo arco da porta ao fundo, desenhando-se um triângulo, com o vértice para cima e outro com o vértice para baixo. No livro “O Código da Vinci”, Dan Brown fala desses símbolos de uma forma muito primária. Ele os relaciona aos princípios masculino, personificado pela figura de Cristo e o feminino, formado entre Ele e João que está ao seu lado direito. Como as feições de João são femininas ele logo associa com a figura de Maria Madalena, que teria sido sua esposa e mãe de sua filha Sara, que teria originado a dinastia dos Merovíngios, primeiros reis francos. Inclusive ele argumenta que Jesus por ser um Rabi, não poderia ser solteiro, teria que necessariamente ser casado. Isso é uma verdade entre os Fariseus, porém se considerarmos Jesus como Essênio isso não era uma verdade, pois os essênios faziam votos de castidade, além de
  • 6. Página 6 de 15 pobreza, e como se acredita que Jesus fosse essênio, naturalmente ele não poderia ser casado. Mas isso não interesse à narrativa de Dan Brown, pois inviabilizaria sua narrativa e não existiria o livro. Dan Brown é pesquisador e eu acredito que este conhecimento não foge ao seu estudo, mas acredito que isso não lhe interessa, pois não vende, não é comercial. Este simbolismo representado com os dois triângulos, com vértices opostos é muito profundo, estando presente em diferentes tradições, como a védica e a hebraica, que apresenta os dois triângulos entrelaçados, formando a estrela de seis pontas. Este símbolo encerra princípios herméticos, como o da correspondência, ao da polaridade, assim como ao gênero e isso não pode ser reduzido simplesmente a representações fálicas. Não estamos a desmerecer o trabalho de Dan Broawn e reconhecemos que nunca se falou tanto sobre esses assuntos e nunca estas obras foram tão visitadas como hoje e isso por si só já é importante, mas temos que colocar as coisas nos seus devidos lugares. Podemos relacionar a tríade superior com Visnhu, contendo os princípios Atma, Buddhi e Manas e a tríade inferior com Brahma e os gunas, que segundo as tradições védicas são os atributos constituintes da matéria, ou seja: Sattwa, Tamas e Rajas. Com a combinação destes três atributos se geram os quatro elementos materiais. Vejamos, pela análise combinatória usando três elementos primários, ou seja, A, B e C. A associa- se com B, A associa-se com C, B associa-se com
  • 7. Página 7 de 15 C, A associa-se com B e com C. Temos, então, quatro elementos secundários. Podemos também fazer uma analogia com as cores primárias, que são a azul, a amarela e a vermelha, que combinadas entre si formam as quatro cores secundárias. Então temos o ternário superior sobre o quaternário inferior. Da combinação do três com o quatro, temos como resultado o doze, que traduzem os diferentes tipos básicos de energias, ou seja, os doze arquétipos huma-nos. É por isso que esses números são chamados esotéricos, pois repre-sentam a constituição do universo. A pirâmide, por exem-plo, é um símbolo esplêndido, pois é o ternário assentado so- bre uma base quater-nária, contendo 12 ângulos. Os três tipos primários determinam o compor-tamento e os quatros secundários ditam o temperamento. Podemos representar estas correlações através do diagrama ao abaixo.
  • 8. Página 8 de 15 Então, o simbolismo que a obra passa é muito profundo e é isso que procuraremos demonstrar. Falamos das qualificações de Leonardo que entre elas ele detinha o conhecimento astrológico e é justamente este conhecimento que está a ser revelado em sua obra. É o conhecimento profundo dos arquétipos, detalhando suas características, demonstrando perfeitamente o zodíaco, com os doze signos, tendo o Sol (Cristo) como o centro dos acontecimentos e da criação. Isto se torna mais evidente se nós separarmos os apóstolos em grupos de três. Temos, assim, quatro grupos de três, associando-os às quatro estações do ano. Cada estação tem três meses e conseqüentemente três signos, iniciando-se na Primavera, que é o ponto vernal no hemisfério norte, com os meses de março, abril e maio, relacionados a Áries, Touro e Gêmeos, ao Verão, com os meses de junho, julho e agosto, relacionados a Câncer, Leão e Virgem, ao Outono, com os meses de setembro, outubro e novembro, relacionados à Libra, Escorpião e Sagitário e ao Inverno, incluindo dezembro, janeiro e fevereiro, relacionados à Capricórnio, Aquário e Peixes.
  • 9. Página 9 de 15 Uma outra forma de demonstrarmos é dispormos da figura numa visão tridimensional, tendo a figura de Cristo ao centro e a dos apóstolos distribuídas na eclíptica. Na roda zodiacal, temos os signos distribuídos formando eixos, onde um signo tem suas características virtuosas que são as dificuldades vividas pelo signo colocado em oposição, o que nos remete ao princípio da polaridade, onde se afirma que tudo tem dois pólos, sendo os mesmos são de natureza similar, variando, porém o grau e que essas polaridades podem ser reconciliáveis. Para se vencer as dificuldades, representada pela sombra, tem-se que buscar as virtudes, que é a luz, localizada em sua oposição. Na realidade o que deve determinar entre os dois pólos é a busca pelo equilíbrio, ou seja, o ponto central que é a figura de Cristo, a viver o caminho da temperança, o caminho do meio.
  • 10. Página 10 de 15 Associando, os diferentes discípulos, temos a representação na figura abaixo: Jesus abre sua mão esquerda, voltada para cima, como estivesse a alimentar àqueles colocados a sua esquerda, às estações de primavera e verão, onde ocorrem o nascimento e o crescimento e sua mão direita, voltada para baixo, num ato de absorção das energias e experiências acumuladas pelas estações de outono e inverno, relacionadas com a maturidade e morte. Isso demonstra o ciclo zodiacal de nascimento e morte. Nota-se que mesma correlação é feita na medida em que a luz é projetada à esquerda de cristo e a sombra à direita. A mesma dualidade polar também é representada no manto de Jesus que delimita os dois hemisférios. À cabeceira da mesa, ao extremo lado esquerdo de Cristo, temos a figura de Simão, representando Áries. Leonardo representa na ordem da esquerda para a direita, pois os signos, como vistos da Terra, “movimentam-se” em sentido anti-horário. Áries, o signo que abre o Zodíaco, tem por características o pioneirismo, a liderança, a iniciativa, e é exatamente este o papel demonstrado por Simão, ao se sentar na cabeceira da mesa. Áries rege a cabeça e a cabeça de Simão é apresentada de forma proeminente. A posição de Simão é de ascendência sobre os demais. Mas não só é a posição ocupada por Simão que denota esse papel ariano, mas sim o que a temática sugere, pois tudo decorre de algo falado por Simão, pois os demais
  • 11. Página 11 de 15 apóstolos estão a comentar, a argumentar e a observar o próprio Simão, ao que foi dito. Se Áries está relacionado ao eu, à personalidade, Libra corresponde ao outro, ao relacionamento, à satisfação da necessidade do parceiro. É ideal do libriano viver o relacionamento em clima de paz, beleza, equilíbrio e harmonia. A figura de João, diametralmente oposta à de Simão, recebe e absorve todo o impacto daquilo que foi falado, fazendo com que assuma uma postura de submissão e recolhimento. As mãos de João estão colocadas em posição de reconciliação. A figura tem realmente semblante feminino, pois Libra, pelos seus valores, ao buscar a harmonia está associado à condição receptiva. O manto também remete ao equilíbrio, na medida em que se divide em duas cores. Libra é regido por Vênus e Áries por Marte. Este é o eixo da individualidade, tendo Áries a personificação do ego psicológico e Libra o outro com quem o ego se relaciona. Em seguida temos Judas Tadeu relacionado ao signo de Touro. Touro é caracterizado pelos valores pessoais, posses, ao ter e dentro disso ele tem a necessidade de desenvolver uma estrutura sólida, ter apoio e se notarmos no quadro, veremos que é o único apóstolo a se apoiar à mesa, a colocar o braço esquerdo usando a mesa como anteparo. O porte do taurino é sólido, robusto. Touro rege o pescoço e garganta e isso é bastante evidenciado na pintura. A atitude de Judas Tadeu é de ponderação. Argumenta e aceita. Este é o eixo dos valores e do poder, tendo Touro de um lado e Escorpião do outro. Escorpião é representado por Judas Iscariotes. Escorpião relaciona-se com os valores do outro, aos valores coletivos, função assumida por Judas, pois era tesoureiro do grupo. Escorpião é o signo das profundezas, da transformação, da regeneração ou da morte. Regido por Plutão, ou Hades, rege tudo que é profundo e transformador. O papel de Judas Iscariotes, tão mal interpretado pelas tradições cristãs, foi fundamental para o desfecho trágico do drama que é a paixão e a ressurreição. Mas Judas Iscariotes de certa forma foi o mais leal dos apóstolos, pois foi ele quem fez cumprir as escrituras. Ele assumiu a missão mais penosa do grupo cumprindo a ordem de denunciar ao sinédrio seguindo a própria ordem de Jesus, quando lhe disse “Judas, com um beijo você trai o filho do homem” (Lucas 22:48).
  • 12. Página 12 de 15 Na realidade Escorpião é o motor do Zodíaco, pois é ele quem determina os processos de transformação necessários à evolução da vida. Judas Iscariotes na pintura é apresentado como um expectador, a observar ao desenrolar da trama, a analisar os rumos dos acontecimentos, características própria de Escorpião. Analisa profundamente, traça as estratégias e desfere a ação precisa no momento certo. A seguir temos Mateus, relacionado ao signo de Gêmeos, cujo regente é Mercúrio. Gêmeos está relacionado a todo processo mental e de comunicação. Ao mental concreto, ao processo de acúmulo de conhecimento cognitivo e aplicado à realidade material. Os geminianos são esbeltos e ágeis, joviais, de olhar curioso e por considerar todas as possibilidades possíveis diante das situações, podem ser considerados, às vezes, contraditórios, instáveis, volúveis. Mateus demonstra algumas destas características. Ele está a comunicar com Simão, olhando-o, mas argumentando com as mãos e braços como se tivesse considerando todos os aspectos diante do que foi dito. Pode aparentar também uma ambigüidade entre o que foi colocado e o que o grupo pensa. Como Gêmeos está relacionado à comunicação e à fala, relaciona-se anatomicamente com os ombros, braços e mãos e é isso que notamos também na figura de Mateus, que também é considerado o repórter de Cristo, como Mercúrio o mensageiro de Júpiter. Aqui temos o eixo do conhecimento, da sabedoria. Opondo-se a Mateus temos Pedro, representando o Sagitário que é o signo relacionado com a religião. Sagitário rege os assuntos superiores, o conhecimento abstrato e se lança espontaneamente rumo ao desconhecido, sendo às vezes abrutalhado, podendo se expressar com excesso da franqueza. Isso corresponde ao espírito de Pedro, aquele que fundou a Igreja, ou a religião, juntamente com Paulo. A fé quando levada às últimas conseqüências pode ser cega e em sua defesa tudo pode ser permitido. À mão Pedro está a assegurar uma faca como defesa de seus próprios ideais, não em atitude ameaçadora a João, com alguns querem crer. Sagitário, o centauro, empunha o arco com a flecha a ser arremessada. Sagitário rege anatomicamente também os quadris e isso está evidente na pintura, na medida em que a mão direita nela se apóia. A disposição do corpo de Pedro lembra o desenho do símbolo do signo de Sagitário (I).
  • 13. Página 13 de 15 Na seqüência temos Felipe, relacionado a Câncer. Aqui chegamos no fundo do Zodíaco, ou fundo do Céu. Ponto axial do inconsciente correspondendo a toda manifestação devocional, ao sentimento materno, às origens e tradições. Relaciona- se ao lar e à família e Felipe personifica esse arquétipo. Com semblante nitidamente feminino, Felipe leva as suas duas mãos ao peito, como se estivesse chamando todos como filhos a se reconciliarem. Aliás, Câncer rege justamente os seios, estômago e útero. As mãos com os braços formas também uma figura que lembra as garras do caranguejo que é o próprio Câncer. Este é o eixo do tempo, com o passado e o destino. Como passado, temos a relação com Câncer, à mãe, e o futuro, relacionado a Capricórnio, ao pai. Então, Capricórnio rege o destino, ou seja, aquilo que procuramos como carreira, como objetivo de vida e o papel social que buscamos e como desejamos reconhecimento. Diz respeito também à autoridade. Temos então, André como Capricórnio, numa atitude nitidamente capricorniana. Capricórnio é cauteloso e prático, podendo vir a ser frio e pessimista. Enquanto Felipe diz “venham a mim”, André parece dizer “afaste de mim”, pois para assumir as responsabilidades há de calcular e planejar o que deve ser realizado. Capricórnio corresponde anatomicamente a toda constituição óssea, joelhos, pele. Na pintura André é o único que apresenta as mãos com os dedos esqueléticos, transparecendo a estrutura óssea. Ao lado de Felipe temos Tiago menor, correlacionado ao Leão. Leão é o soberano. Carismático, altivo, criativo, dramático, busca o reconhecimento através da exibição. É regido pelo Sol e irradia sua luz. Leão rege o coração que é análogo ao Sol corporal. Essas características de Leão estão claramente transpostas ao Tiago menor. Seguramente ele é a figura cênica mais bela do quadro e ao assumir a postura de braços abertos, expondo-se à luz, colocando-se ao lado do próprio Cristo. Demonstra o peito aberto, o coração da generosidade, um comportamento tipicamente leonino, que às vezes chega a ser ingênuo, centrado na vaidade e no egocentrismo. Este é o eixo do poder da criação. Se Leão é a manutenção da criação, Aquários é mudança, renovação e também criação. Leão rege o poder do rei, do monarca.
  • 14. Página 14 de 15 Aquários o poder do coletivo, do grupo, da sociedade. Neste eixo é que ocorrem as contendas pela disputa de poder. Aquários, com o regente Urano, promove toda sorte de mudanças abruptas, significando sempre drásticas mudanças. Muitas vezes, em nome da inovação se revoluciona e se destitui o monarca para o estabelecimento de um novo regime, para em seguida, se tornar um modelo muito parecido com o anterior. É o que se observa com as revoluções aquarianas, como a Revolução Francesa, que teve posteriormente Napoleão coroado como imperador (Leão) e mais próximo de nosso tempo, a Revolução Cubana, com Fidel governando como Rei-Ditador. Aquário está associado, desta forma, às ações de libertárias, à rebeldia, ao radicalismo, pois é comprometido com valores humanos, aos valores progressistas, à impessoalidade. Analisando a figura de Tiago Maior, vemos que ele não aparece em primeiro plano. Ele não se expõe isoladamente, mas sim através do grupo, através da diplomacia e vejam: Aquário é o signo da amizade e temos então Tiago abraçando André e Pedro, demonstrando que a força vem do grupo e não da atitude individual de Leão. Finalmente, temos Tomé, representando Virgem. O signo de virgem relaciona-se à praticidade, à análise e à crítica. É regido também por Mercúrio, mas aqui o mental está voltado mais às questões de se dar uma aplicação utilitária e prática a todas as coisas e é por este motivo que o virginiano questiona, detalha e discrimina. O virginiano tem necessidade extrema de se sentir útil e de prestar o seu serviço, mas para isso ele necessita compreender a causa das coisas. Dentro destas características temos a figura de Tomé, mesmo porque Tomé necessita de ver para crer. Tomé no seu ato de questionador questiona até o próprio Cristo, na medida em que coloca o seu dedo indicador direito à frente de Jesus. Como o virginiano tende à timidez e humildade, Tomé é colocado também em uma posição afastada da mesa. Este é o eixo do servir, tendo Virgem correspondendo ao servir pragmático e Peixes, ao servir humanista, às vezes não muito claro e perceptível, o que pode levar o pisciano a viver em estado de irrealidade. Peixes está associado ao ser sonhador, à inspiração e compreensão. São compassivos, emotivos, intuitivos e românticos, mas, por esse estado de
  • 15. Página 15 de 15 contemplação, se não bem canalizado, pode levar a atitudes evasivas, fantasiosas, a ter dificuldades em perceber a realidade. Bartolomeu é o apóstolo que fecha o círculo zodiacal ao se posicional do outro lado da mesa. Ele demonstra claramente as características piscianas. Parece que sua visão está direcionada a um ponto que extrapola ao ambiente retratado, a um ponto difuso, podendo não perceber exatamente o que está se passando. Não fala, só observa, contempla e aceita. Peixes rege os pés é justamente seus pés, entrelaçados, que estão iluminados sob a mesa. Peixes tem a grande potencialidade intuitiva, mas necessita conhecer como pode transformar a sua natureza, o seu sentimento de servir a humanidade de forma mais prática e construtiva. Desta forma, Leonardo também nos legou mais este conhecimento, através desta maravilhosa obra, demonstrando o rico significado simbólico representado pelos arquétipos humanos, demonstrados pela astrologia. A astrologia deve ser entendida sob essa concepção, demonstrando o esplendor da diversidade e faz com que nós possamos compreender a natureza das diferenças e a aceitá-las como manifestação da mesma fonte de vida.