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HISTÓRIA       DA   QUÍMICA




                                                                                 Paulo Alves Porto
                                No presente artigo pretende-se mostrar como o conhecimento de ciências em geral (química e biologia em
                             particular), e de sua história, pode contribuir para a fruição estética de um poema.
                                                M




                                                                                                                                M
                                                    Augusto dos Anjos, ciência no final do século XIX, interdisciplinaridade




     A
             interdisciplinaridade no ensino                      (Unicamp 1997, 1ª fase, questão 3) -                      pela proposição de uma nova nomen-
             tem sido recomendada nas                             embora a questão envolvesse apenas                        clatura química, por ter-se utilizado de
             mais recentes reformas edu-                          o significado atual dos termos técnicos                   uma definição operacional para “ele-
     cacionais - e parece ser um dos ideais                       citados por Augusto dos Anjos, e não                      mento químico” - fez também impor-
     mais difíceis de serem colocados em                          o contexto que levou o autor a utilizá-                   tantes contribuições para a chamada
     prática. Este artigo pretende ser uma                        los.                                                      “química orgânica” (então considerada
30   pequena contribuição para a integra-                                                                                   a “química dos seres vivos”). Sistema-
     ção entre diferentes disciplinas. O pon-                     Vida e morte na ciência do final do                       tizando e organizando fatos conheci-
     to de partida é a obra de um importante                      século 19                                                 dos havia muito tempo, Lavoisier
     poeta brasileiro - Augusto dos Anjos.                           Antoine Laurent Lavoisier (1743-                       observou que as substâncias proveni-
     Um soneto desse autor, aliás, já serviu                      1794), considerado um dos fundado-                        entes dos reinos animal e vegetal sem-
     como pretexto para uma questão de                            res da química moderna - por seus tra-                    pre continham os elementos carbono
     química em recente exame vestibular                          balhos com grande rigor quantitativo,                     e hidrogênio, e freqüentemente tam-
                                                                                                                            bém oxigênio, nitrogênio e fósforo.
     Psicologia de um Vencido                                                                                               Lavoisier considerava a química orgâ-
         Eu, filho do carbono e do amoníaco,                                                                                nica como parte integrante da química;
         Monstro de escuridão e rutilância,                                                                                 por exemplo, classificava juntos todos
         Sofro, desde a epigênese da infância,                                                                              os ácidos, fossem eles de origem mi-
         A influência má dos signos do zodíaco.                                                                             neral, vegetal ou animal. Outros quími-
                                                                                                                            cos seus contemporâneos, porém,
         Profundissimamente hipocondríaco,                                                                                  preferiam tratar separadamente os
         Este ambiente me causa repugnância...                                                                              compostos inorgânicos e orgânicos.
         Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia                                                                           Acreditavam que estes últimos teriam
         Que se escapa da boca de um cardíaco.                                                                              alguma peculiaridade que faria com
                                                                                                                            que somente organismos vivos pudes-
         Já o verme - este operário das ruínas -                                                                            sem sintetizá-los. Esta crença se pro-
         Que o sangue podre das carnificinas                                                                                longou através do século 19, sendo
         Come, e à vida em geral declara guerra,                                                                            desposada por importantes químicos
                                                                                                                            do período. Jöns Jacob Berzelius
         Anda a espreitar meus olhos para roê-los,                                                                          (1779-1848), por exemplo, chegou a
         E há de deixar-me apenas os cabelos,                                                                               crer que os compostos orgânicos, ao
         Na frialdade inorgânica da terra!                                                                                  contrário dos inorgânicos, não obede-
                                                                                                                            ceriam à lei das proporções definidas
                                         Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914)                                (estabelecida por Joseph Louis Proust
                                                                               Paraíba, 1909                                (1754-1826) no começo do século).
                                                                                                                            Leopold Gmelin (1788-1853) afirmava
     Esta seção contempla a história da química como parte da história da ciência, buscando ressaltar como o conhecimento   que os compostos orgânicos requere-
     científico é construído. Neste número a seção apresenta dois artigos.                                                  riam um animal ou planta para sinteti-

     QUÍMICA NOVA NA ESCOLA                                              Augusto dos Anjos: ciência e poesia                                        N° 11, MAIO 2000
zá-los a partir da matéria bruta, en-        vida, a partir das quais organismos su-         século passado. Acreditava Spencer
quanto os compostos inorgânicos po-          cessivamente mais complexos teriam              que a filosofia deveria combinar, sob
deriam ser sintetizados pelo homem           evoluído. Haeckel aderiu ao darwinis-           um ponto de vista comum, os resul-
diretamente a partir dos elementos que       mo, embora o tenha interpretado de              tados obtidos por todas as ciências:
os constituem. Essas visões resumem          maneira particular, misturando-o com            física, química, biologia, e também psi-
a crença vitalista permeando a química       radicalismo político (crença cega no            cologia e sociologia. A evolução seria
das primeiras déca-                                            progresso, anticlerica-       o ponto de contato entre todas as ciên-
das do século 19.            Herbert Spencer, um dos           lismo) e com a filosofia      cias. Spencer desenvolve um conceito
    Por outro lado,               mais importantes             natural romântica de          de evolução que abrange todas as
apesar das dificul-              representantes do             Goethe. Em sua obra           formas de existência, não apenas os
dades em torno da            pensamento evolucionista          Generelle Morphologie,        organismos biológicos:
síntese de compos-          do final do século passado,        de 1866, Haeckel bus-
                             acreditava que a filosofia                                              Evolução é uma integração de
tos orgânicos, sua                                             ca explicações causais
                             deveria combinar, sob um                                             matéria e concomitante dissipa-
análise foi uma das                                            mecânicas para as for-
                             ponto de vista comum, os                                             ção de movimento, durante a
áreas que experi-                                              mas e os fenômenos
                              resultados obtidos por                                              qual a matéria passa de uma ho-
mentou maior desen-                                            da vida. Segundo ele,
                              todas as ciências: física,                                          mogeneidade indefinida e inco-
volvimento ao longo                                            isto possibilitaria uma
                                química, biologia, e                                              erente para uma heterogenei-
do século 19. O co-                                            explicação “monista”
                               também psicologia e                                                dade definida e coerente; e
nhecimento dos quí-                                            da Natureza sobre ba-
                                     sociologia                                                   durante a qual o movimento re-
micos acerca dos                                               ses filosóficas. Assim,
                                                                                                  tido sofre uma transformação
produtos da decom-                                             ele afirma que não ha-
                                                                                                  paralela3.
posição dos tecidos vivos, em meados         veria qualquer diferença essencial en-
do século 19, pode ser resumido pelas        tre o que é animado e o que é inanima-               Spencer partiu de teorias de biólo-
palavras de Friedrich Wöhler (1800-          do. Após comparar detalhadamente os             gos acerca da evolução, como a “teo-
1882) a outro químico, Justus von            cristais e as células vivas, Haeckel con-       ria da epigênese” de Caspar Frederick
Liebig (1803-1873), em carta de 1843:        clui que ambos são semelhantes em               Wolff (1733-1794), por exemplo. Wolff,      31
                                             todos os aspectos relativos à compo-            estudando células ao microscópio,
       Imagine-se no ano de 1900,
                                             sição química, crescimento e individua-         observou a formação progressiva e a
    quando nós dois estaremos dis-
                                             lidade. Em Welträtsel, de 1899, Haeckel         diferenciação de diferentes órgãos a
    solvidos em ácido carbônico1,
                                             defende que a única causa do movi-              partir do que ele chamava de “gér-
    água e amônia, e nossas cinzas
                                             mento vital são as propriedades quími-          men”, aparentemente homogêneo. A
    - talvez - serão parte dos ossos
                                             cas do carbono. As formas mais                  hipótese alternativa seria a “teoria de
    de algum cão que terá espolia-
                                             simples do protoplasma vivo teriam sur-         pré-formação”, segundo a qual todos
    do nossos túmulos2.
                                             gido de compostos nitrogenados de               os organismos já estariam pré-forma-
    Esta continuidade - ou antes, unici-     carbono, não vivos, por um processo             dos no ovo, e a partir de então apenas
dade - da química dos “mundos” orgâ-         de geração espontânea. A própria ativi-         cresceriam. Esta última teoria é clara-
nico e inorgânico, aliada à crença na        dade psíquica não seria mais do que             mente incompatível com a doutrina da
possibilidade da geração espontânea,         um conjunto de fenô-                                               evolução. Spencer,
e aliada ainda a teorias emergentes no       menos dependentes                   A característica mais          todavia, não conce-
século 19 - relativas à evolução das es-     de mudanças mate-                 notável das poesias de           beu a evolução como
pécies e seleção natural - permitiram        riais no protoplasma.            Augusto dos Anjos é seu           restrita apenas à bio-
o surgimento de doutrinas monistas           Surpreendentemente,                conteúdo científico e           logia: procurou gene-
materialistas relacionadas à ciência.        porém, ainda em Ge-            filosófico. Isto não significa      ralizá-la para todos
Um exemplo de cientista que desen-           nerelle Morphologie,              que Augusto dos Anjos            os fenômenos. Enxer-
volveu esta postura filosófica foi Ernst     Haeckel tende para um            estivesse preocupado em           gou evolução nos
H. Haeckel (1834-1919).                      monismo panteísta, ao          fazer, investigar ou mesmo          corpos celestes; na
    Haeckel estudou diversos tipos de        afirmar que “matéria            divulgar ciência e filosofia       formação geológica
organismos. A forma de vida que mais         nenhuma pode ser                                                   da Terra (de uma bola
lhe despertou interesse foram os orga-       concebida sem espírito, e nenhum es-            incandescente e homogênea até o as-
nismos unicelulares que não possuem          pírito sem matéria”, e ao decretar a            pecto atual); na formação de espécies
núcleo - classificados na ordem mo-          unidade entre Deus e a Natureza.                animais cada vez mais complexas a
nera. O núcleo celular é uma organela             O darwinismo então em voga teve            partir de formas primitivas; nas próprias
essencial às células de quaisquer            muitos outros ferrenhos defensores;             estruturas sociais.
outros seres vivos, pois sem ele as cé-      entre eles, Herbert Spencer (1820-
lulas ficam incapazes de se reproduzir.      1903). Embora não fosse um especia-
                                                                                             Psicologia de um Vencido: cruzamento
Devido às características da estrutura       lista em biologia, Spencer foi um dos           dos planos científico e poético
das moneras, Haeckel defendia que            mais importantes representantes do                   A característica mais notável das
elas seriam as mais simples formas de        pensamento evolucionista do final do            poesias de Augusto dos Anjos é seu

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA                             Augusto dos Anjos: ciência e poesia                                N° 11, MAIO 2000
conteúdo científico e filosófico. Isto não    após a decomposição de sua carne
     significa que Augusto dos Anjos esti-         são apenas cabelos na terra fria. Ape-
     vesse preocupado em fazer, investigar         sar de estarem de acordo quanto a es-
     ou mesmo divulgar ciência e filosofia.        se ponto, os enfoques de um e de
     Sua peculiar visão de mundo, sua bus-         outro poeta são bem diferentes. Lucré-
     ca interior, é que foram encontrar no         cio expõe sua visão da morte para
     materialismo, no monismo, no evolu-           mostrar que não devemos temê-la, que
     cionismo, os conceitos e o vocabulário        não há motivo para o homem sofrer
     adequados para se expressar. Obser-           com a incerteza acerca do futuro de
     va-se em sua poesia a incorporação            seu espírito. Diz ele: “...o espírito nasce
     das idéias, principal-                                          juntamente com o cor-
     mente, de dois dos            O que Augusto dos Anjos           po e cresce com ele e
     principais divulga-            faz não é uma ‘tradução’         envelhece ao mesmo
     dores do evolucionis-           das idéias de Haeckel e         tempo” 5 . O espírito
     mo no final do século          Spencer para a forma de          não poderá lamentar a
     19: Haeckel e Spen-            versos. O poeta buscava          ausência de situações
     cer (que chegam a ser            expressar sua angústia         felizes passadas, ou a
     citados nominalmente                 diante da vida             ausência de pessoas
     em alguns poemas4).                                             queridas, ou a não
     Recuando no tempo,                                              fruição plena da vida -
     essa característica de cantar em versos       simplesmente porque o espírito se
     uma filosofia materialista nos permite        extingue junto com o corpo, e nada
     estabelecer, sob alguns aspectos, um          resta que possa sofrer ou lamentar-se.
     paralelo entre Lucrécio e Augusto dos         O que transparece no poema de                        Augusto de Carvalho Rodrigues
     Anjos.                                        Augusto dos Anjos, entretanto, é uma                     dos Anjos (1884-1914)

32       Tito Lucrécio Caro (96-55 a.C.), em       postura muito mais pessimista e an-
     seu De rerum natura, cantou em forma          gustiada. O poeta paraibano destaca             gens grotescas, horríveis, repugnantes
     de poesia alguns aspectos da filosofia        o sofrimento do homem ainda em vida,            - que chocam o leitor. Na filosofia evo-
     de Epicuro (341-270 a.C.). Não se trata       como agrupamento de matéria à                   lucionista Augusto dos Anjos encon-
     de uma exposição rigorosa do sistema          mercê de forças sobre as quais ele não          trou uma visão de mundo que entrou
     epicurista, visto que sequer atinge seu       tem controle. A morte, sendo o fim de           em ressonância com seu próprio pes-
     âmago, que é a teoria do prazer.              tudo, desfaz qualquer esperança de              simismo: uma doutrina que concebia
     Lucrécio busca enaltecer a figura de          consolação e alívio em outro plano de           a vida como originária de uma com-
     Epicuro, e destaca algumas de suas            existência. Lucrécio convida a desfrutar        binação de moléculas por geração es-
     idéias. Aqui, interessa-nos observar          da vida, sem preocupação com a                  pontânea; que via o homem como um
     que, buscando respostas sobre a natu-         imortalidade que não existe; para               estágio na evolução da vida, a partir
     reza da alma e da morte, Lucrécio             Augusto dos Anjos só há desgosto em             de microrganismos simples e pas-
     também descreve uma “cosmologia”              vida, que se há de encerrar em                  sando por plantas e animais sucessi-
     materialista em que a morte é o fim de        podridão.                                       vamente mais complexos. Assim, a filo-
     tudo.                                             Conforme dissemos, o que Augus-             sofia e a ciência evolucionista deram
         Para Lucrécio, como para Epicuro,         to dos Anjos faz não é uma ‘tradução’           a forma intelectual e os signos lingüís-
     a criação do universo não teria sido          das idéias de Haeckel e Spencer para            ticos que Augusto dos Anjos precisava
     obra dos deuses. Tudo o que existe -          a forma de versos. O                                             para expressar seus
     fosse o céu, a Terra, as plantas, os ani-     poeta buscava ex-              Os poemas de Augusto dos          sentimentos. O poeta
     mais, o homem - teria origem no movi-         pressar sua angústia             Anjos são recheados de          acumulou conheci-
     mento de átomos que não teriam início         diante da vida. Seu             palavras incompreensíveis        mentos num nível cog-
     nem fim. Seria esse mesmo movimento           tema não era o amor:           para a maioria dos leitores,      nitivo consciente - o da
     de partículas minúsculas que produ-           em seu livro Eu, amor          e assim adquirem uma aura         ciência - e foi capaz de
     ziria todos os fenômenos da Natureza,         e erotismo são temas                  de mistério, de            transmutá-los para um
     psicológicos e sociais. Segue-se - des-       praticamente ausen-             musicalidade quase pura          plano diferente, o da
     se absoluto materialismo que rejeita a        tes; ou então apare-                                             expressão lírica, do
     existência de qualquer poder sobre-           cem para serem repelidos pelo poeta.            efeito estético, da emoção.
     natural a influir sobre a vida humana -       Tampouco era a busca de Augusto dos                 Assim, o uso que Augusto dos An-
     que a morte significaria apenas a dis-        Anjos pela divindade, ou pela transcen-         jos faz de termos técnicos familiares
     persão dos átomos constituintes de um         dência da alma. Os sentimentos que              ao cientista, mas estranhos a outros
     ser. Essa visão da morte encontra eco         ele expressa são o pessimismo, uma              poetas - ou mesmo ao leitor comum -,
     séculos depois em Psicologia de um            visão materialista e perplexa da vida.          pode ser enfocado sob várias facetas.
     Vencido, onde o que resta do homem            Seus poemas são construídos de ima-             Um aspecto que chama a atenção é a

     QUÍMICA NOVA NA ESCOLA                              Augusto dos Anjos: ciência e poesia                                N° 11, MAIO 2000
sonoridade destas palavras. Elas con-            nitrogênio - constituinte essencial das          também por ser um dos gases que
ferem aos poemas musicalidade e                  proteínas e dos ácidos nucléicos. Na             emanam dos corpos em putrefação.
ritmo inusitados, por sua própria foné-          década de 1920, o cientista russo A.I.           E, no entanto, em seus átomos reside
tica e estranheza. Estas características         Oparin viria a propor que o amoníaco             parte do segredo da vida.
são realçadas quando participam da               e outros gases (metano, vapor de                      O soneto principia descrevendo as
rima; em Psicologia de um Vencido,               água, hidrogênio), expostos à energia            origens da vida - filho do carbono e do
Augusto dos Anjos produz surpreen-               de relâmpagos ou de raios ultravioletas          amoníaco - e termina descrevendo
dente rima com as palavras amoníaco              provenientes do sol, teriam reagido na           qual a destinação final do ser humano
/ zodíaco / hipocondríaco / cardíaco             primitiva atmosfera terrestre para               - restos lançados na frialdade inorgâ-
Além disso, empresta da ciência as               formar aminoácidos e outros compos-              nica da terra. O poema se estrutura,
palavras carbono, epigênese e inorgâ-            tos precursores da                                                pois, numa forma cícli-
nica. Há críticos que apontam o voca-            matéria viva. Quimi-           Psicologia de um Vencido           ca: o homem provém
bulário ‘difícil’ de Augusto dos Anjos           camente falando,                é um excelente exemplo            do mundo inorgânico e
como um dos motivos para sua popu-               portanto, era justo              da rara habilidade com           a ele retorna. É o pró-
laridade. São poemas recheados de                atribuir ao carbono e          que Augusto dos Anjos foi          prio ciclo da vida e da
palavras incompreensíveis para a                 ao amoníaco a “pa-                capaz de transmutar             morte retratado no so-
maioria dos leitores, e assim adquirem           ternidade”, não só                ciência em expressão            neto. O que acontece
uma aura de mistério, de musicalidade            do homem, mas de                         poética                  de permeio? Dor, sofri-
quase pura (porque destituídas de                todos os seres vivos.                                             mento, e a presença
significado) e - por conseqüência - de           Dos quatro elementos mais abundan-               constante e ameaçadora da morte
encantamento.                                    tes na matéria viva, Augusto dos Anjos           inevitável. Augusto dos Anjos se clas-
    Podemos, então, imaginar diferen-            só não faz referência, neste poema, ao           sifica como um ‘monstro’ no segundo
tes níveis de leituras para os poemas            oxigênio - mas o que se espera aqui              verso; mas um monstro de escuridão
de Augusto dos Anjos, e para a Psico-            não é, evidentemente, o rigor de um              e rutilância. Neste paradoxo de claro-
logia de um Vencido em particular. Um            bioquímico. O que se deve ressaltar é            escuro caracteriza-se o ser humano,
leitor pouco versado em ciências po-             o extraordinário talento do poeta em             que guarda dentro de si o bem e o mal,
                                                 resumir a origem química da vida em              o anjo e o demônio simultaneamente.         33
derá não entender muito bem porque
o poeta se declara filho do carbono e            apenas um verso.                                 Essa bipolaridade que atormentava
do amoníaco; nem por isso deixará de                 Além disso, o verso retrata a origem         Augusto dos Anjos foi manifestada
se impressionar com a sonoridade da              da vida em seu absoluto materialismo.            também em outros poemas, como em
palavra amoníaco, e com suas rimas               Augusto dos Anjos poderia falar do ho-           Vítima do Dualismo:
com zodíaco, etc. Este leitor também             mem como amontoado de carne, os-                      Psique biforme, o Céu e o Inferno
não deverá ter dificuldade em apreen-            sos, sangue - entidades que por si sós                   absorvo ....
der o tom pessimista do soneto, e a              não são vivas. Mas esses conceitos                    Criação a um tempo escura e cor-
visão materialista em que a morte se             são ainda portadores de uma carga                        de-rosa.
resume a ter o corpo roído pelos ver-            vital muito forte, e talvez ainda lhes pos-           Em outro soneto, Contrastes, o
mes - conforme os dois tercetos dei-             samos atribuir algum valor espiritual ou         mesmo tema:
xam bastante claro. Por outro lado, um           anímico. Poderia falar de proteínas ou                O Amor e a Paz, o Ódio e a
leitor que conheça um pouco de quí-              carboidratos, mas ainda assim esses                      Carnificina,
mica e de biologia fará ainda outras             termos estariam muito associados a                    O que o homem ama e o que o
leituras. Este leitor verá resumido já no        um organismo vivo “em funcionamen-                       homem abomina,
primeiro verso, de maneira magistral,            to”. Ao falar, entretanto, em carbono e
                                                                                                       Tudo convém para o homem ser
o materialismo de Augusto dos Anjos.             amoníaco, Augusto dos Anjos desce
                                                                                                          completo6.
O carbono é, efeti-                                             ao limite inferior da mate-
                              ‘Eu, filho do carbono             rialidade biológica. Pen-              Esse homem dividido é um prisio-
vamente, o princi-
pal elemento cons-                e do amoníaco’                sando em termos dos               neiro das contingências do mundo; nos
tituinte das molé-                                              átomos (carbono) e mo-            versos seguintes, Augusto dos Anjos
                             Com apenas uma frase o             léculas (amoníaco) que            descreve seu implacável destino. A
culas dos organis-
                              talentoso poeta pôde              são estudados pela quí-           menção à influência má dos signos do
mos vivos. Graças
                            resumir a origem química            mica, estaremos numa              zodíaco poderia ser interpretada como
à capacidade dos
átomos de carbo-                      da vida...                dimensão onde não exis-           alusão supersticiosa do poeta, que
no formarem ca-                                                 te qualquer resquício de          estaria manifestando sua crença num
deias é que são possíveis as grandes             alma ou de espírito. Não há nada que             poder sobrenatural das estrelas. Acre-
moléculas de carboidratos, proteínas,            lembre um espírito num monte de car-             ditamos, porém, que o poeta está meta-
lipídios, ácidos nucléicos,... que cons-         vão ou grafita (formas mais comuns de            forizando seu determinismo. Ou seja,
tituem as células. O amoníaco é um               carbono elementar). Como enxergar                desde sua formação, o homem teria já
composto dos elementos hidrogênio -              vida no malcheiroso e sufocante gás              seu destino implacavelmente traçado,
companheiro fiel do carbono na estru-            amoníaco? Antes o associaríamos ao               como se isso estivesse escrito nas
tura de qualquer cadeia carbônica - e            fim de toda vida, por ser tóxico - e             estrelas. A terrível sina do poeta é des-

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA                               Augusto dos Anjos: ciência e poesia                                  N° 11, MAIO 2000
crita como sofrimento físico, um mal-        no ciclo natural dos átomos. O último          excelente exemplo da rara habilidade
     estar semelhante ao de um doente; mas        terceto retrata a inexorabilidade da           com que Augusto dos Anjos foi capaz
     trata-se de uma repugnância ao próprio       morte: o verme há de deixar-me apenas          de transmutar ciência em expressão
     mundo, decorrente da consciência acer-       os cabelos / Na frialdade inorgânica da        poética.
     ca da miserável condição humana.             terra! Não se fala em alma ou espírito
                                                                                                 Paulo Alves Porto (palporto@iqsc.sc.usp.br), bacharel
         Os vermes representam a iminência        imortal, não há transcendência. Nada           e licenciado em química pela USP mestre e doutor
                                                                                                                                    ,
                                                  resta após a morte senão cabelos,              em comunicação e semiótica pela PUC-SP na área
     e a onipresença da morte. A eles cabe
                                                  alimento de vermes - átomos, enfim.            de história da ciência, é docente do Instituto de
     fechar o ciclo da Natureza, fazendo                                                         Química de São Carlos da USP   .
                                                      Psicologia de um Vencido é um
     com que a matéria humana retorne às
     formas mais simples da matéria inor-
     gânica. Em De rerum natura, Lucrécio          Notas e referências bibliográficas            190 e 126.
     afirmou que a alma residente no cor-                                                           7. LUCRÉCIO CARO, op. cit. (nota v),
                                                      1. Isto é, o dióxido de carbono - CO2 -    livro III, versos 720-724.
     po do homem, após a morte, não so-            dos químicos de hoje.
     brevive: subdivide-se em outras                  2. Apud IHDE, A. J. The Development        Para saber mais
     pequenas almas que animarão os ver-           of modern chemistry. Nova Iorque: Dover,         ANJOS, A. dos. Eu e outras poesias, 40ª
     mes. Se a alma abandona o corpo no            1984. p. 181.                                 edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasi-
     momento da morte, indaga Lucrécio,               3. Apud MAYR, E. The growth of biologi-    leira, 1995.
     “...donde vem que uma tão grande              cal thought, p. 386.                             BROCK, W.H. The Norton history of
                                                      4. Vide os poemas “Agonia de um filó-      chemistry. Nova Iorque: Norton, 1993.
     abundância de animais sem ossos e
                                                   sofo”, “Mater originalis” e “Os doentes -        LUCRÉCIO CARO, T. Da natureza. Trad.
     sem sangue se agite por entre os
                                                   I”, in: Eu e outras poesias, 40ª ed. p. 81,   de A. da Silva. In: Os pensadores. São
     membros tumefactos?”7 Augusto dos             101, 106.                                     Paulo: Editora Abril, 1973. v. 5.
     Anjos reinterpreta o tema, colocando             5. LUCRÉCIO CARO, T. Da natureza,             MAYR, E. The growth of biological
     o verme como operário das ruínas, à           livro III, versos 445 - 446.                  thought. Cambridge: The Belknap Press,
     espera do momento em que intervirá               6. ANJOS, A. dos, op. cit. (nota iv), p.   1982.
34

                                                                                                                                          Resenha

     (Re)visitando a escola e seu ensino de       tória da ciência é produtora de alfabe-            No primeiro capítulo, cinco ícones
     ciências                                     tização científica. Os três grandes capí-      da filosofia moderna (Descartes, Ba-
                                                  tulos do livro são independentes nas           con, Hume, Kant e Comte) se fazem
         É muito grato para Química Nova
                                                  suas propostas e nas possibilidades            presentes em uma muito bem apanha-
     na Escola convidar para uma visitação
                                                  de leitura. Mas são muito interconec-          da análise-síntese. No segundo capí-
     à escola e ao seu ensino de ciências
                                                  tados, especialmente no quanto os              tulo, aflora a sólida afiliação do Renato
     conduzidos por um texto denso mas
                                                  dois primeiros preparam o terceiro, que        a Bachelard, onde há quase um aplai-
     entusiástico. Nosso condutor nesta
     visita é Renato José de Oliveira, já co-     aflora quase como um gran finale - até         namento dos obstáculos bachelardea-
     nhecido das leitoras e dos leitores des-     não tão feliz - para olhar a Escola no         nos. No capítulo 3, chegamos à Escola
     ta revista, professor do Departamento        mundo de hoje.                                 conduzidos pelas análises críticas de
     de Fundamentos da Educação da Fa-                                                           Renato, quer o tenhamos como o filó-
     culdade de Educação da UFRJ. Quem                                                           sofo professor ou o professor filósofo.
     o vê escrevendo, lecionando, pesqui-                                                        Mesmo sem se pretender um historia-
     sando e envolvido com temas como                                                            dor da educação, o autor olha a edu-
     Ética e humanização do homem não                                                            cação que se fazia 22 séculos antes
     imagina que este filósofo seja licen-                                                       do presente para chegar àquilo que é
     ciado em química e teve uma profícua                                                        o ensino de ciências hoje no Brasil.
     trajetória como professor de química                                                        Acreditamos que A escola e o ensino
     no ensino médio.                                                                            de ciências contribua para mais fecun-
         Aventuro-me em afirmar que em A                                                         das transformações na vida das mu-
     escola e o ensino de ciências Renato                                                        lheres e dos homens agora e nos tem-
     volta a ser um professor de ciências,                                                       pos que se anunciam com tantas mo-
     pois sem deixar de irrigar o texto com                                                      dificações para a Escola.
     aquilo que é próprio do filosofar - a per-                                                      (Attico Chassot - UNISINOS)
     manente crítica -, temos um texto enri-                                                         A escola e o ensino de ciências.
     quecido com a experiência do fazer.                                                         Renato José de Oliveira. São Leopol-
     Aflora ainda no livro uma continuada                                                        do: Editora da UNISINOS, 2000. 139
     preocupação de mostrar quanto a his-                                                        p. ISBN 85-7431-041-7.


     QUÍMICA NOVA NA ESCOLA                            Augusto dos Anjos: ciência e poesia                                        N° 11, MAIO 2000

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Augusto dos Anjos: ciência e poesia

  • 1. HISTÓRIA DA QUÍMICA Paulo Alves Porto No presente artigo pretende-se mostrar como o conhecimento de ciências em geral (química e biologia em particular), e de sua história, pode contribuir para a fruição estética de um poema. M M Augusto dos Anjos, ciência no final do século XIX, interdisciplinaridade A interdisciplinaridade no ensino (Unicamp 1997, 1ª fase, questão 3) - pela proposição de uma nova nomen- tem sido recomendada nas embora a questão envolvesse apenas clatura química, por ter-se utilizado de mais recentes reformas edu- o significado atual dos termos técnicos uma definição operacional para “ele- cacionais - e parece ser um dos ideais citados por Augusto dos Anjos, e não mento químico” - fez também impor- mais difíceis de serem colocados em o contexto que levou o autor a utilizá- tantes contribuições para a chamada prática. Este artigo pretende ser uma los. “química orgânica” (então considerada 30 pequena contribuição para a integra- a “química dos seres vivos”). Sistema- ção entre diferentes disciplinas. O pon- Vida e morte na ciência do final do tizando e organizando fatos conheci- to de partida é a obra de um importante século 19 dos havia muito tempo, Lavoisier poeta brasileiro - Augusto dos Anjos. Antoine Laurent Lavoisier (1743- observou que as substâncias proveni- Um soneto desse autor, aliás, já serviu 1794), considerado um dos fundado- entes dos reinos animal e vegetal sem- como pretexto para uma questão de res da química moderna - por seus tra- pre continham os elementos carbono química em recente exame vestibular balhos com grande rigor quantitativo, e hidrogênio, e freqüentemente tam- bém oxigênio, nitrogênio e fósforo. Psicologia de um Vencido Lavoisier considerava a química orgâ- Eu, filho do carbono e do amoníaco, nica como parte integrante da química; Monstro de escuridão e rutilância, por exemplo, classificava juntos todos Sofro, desde a epigênese da infância, os ácidos, fossem eles de origem mi- A influência má dos signos do zodíaco. neral, vegetal ou animal. Outros quími- cos seus contemporâneos, porém, Profundissimamente hipocondríaco, preferiam tratar separadamente os Este ambiente me causa repugnância... compostos inorgânicos e orgânicos. Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Acreditavam que estes últimos teriam Que se escapa da boca de um cardíaco. alguma peculiaridade que faria com que somente organismos vivos pudes- Já o verme - este operário das ruínas - sem sintetizá-los. Esta crença se pro- Que o sangue podre das carnificinas longou através do século 19, sendo Come, e à vida em geral declara guerra, desposada por importantes químicos do período. Jöns Jacob Berzelius Anda a espreitar meus olhos para roê-los, (1779-1848), por exemplo, chegou a E há de deixar-me apenas os cabelos, crer que os compostos orgânicos, ao Na frialdade inorgânica da terra! contrário dos inorgânicos, não obede- ceriam à lei das proporções definidas Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) (estabelecida por Joseph Louis Proust Paraíba, 1909 (1754-1826) no começo do século). Leopold Gmelin (1788-1853) afirmava Esta seção contempla a história da química como parte da história da ciência, buscando ressaltar como o conhecimento que os compostos orgânicos requere- científico é construído. Neste número a seção apresenta dois artigos. riam um animal ou planta para sinteti- QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Augusto dos Anjos: ciência e poesia N° 11, MAIO 2000
  • 2. zá-los a partir da matéria bruta, en- vida, a partir das quais organismos su- século passado. Acreditava Spencer quanto os compostos inorgânicos po- cessivamente mais complexos teriam que a filosofia deveria combinar, sob deriam ser sintetizados pelo homem evoluído. Haeckel aderiu ao darwinis- um ponto de vista comum, os resul- diretamente a partir dos elementos que mo, embora o tenha interpretado de tados obtidos por todas as ciências: os constituem. Essas visões resumem maneira particular, misturando-o com física, química, biologia, e também psi- a crença vitalista permeando a química radicalismo político (crença cega no cologia e sociologia. A evolução seria das primeiras déca- progresso, anticlerica- o ponto de contato entre todas as ciên- das do século 19. Herbert Spencer, um dos lismo) e com a filosofia cias. Spencer desenvolve um conceito Por outro lado, mais importantes natural romântica de de evolução que abrange todas as apesar das dificul- representantes do Goethe. Em sua obra formas de existência, não apenas os dades em torno da pensamento evolucionista Generelle Morphologie, organismos biológicos: síntese de compos- do final do século passado, de 1866, Haeckel bus- acreditava que a filosofia Evolução é uma integração de tos orgânicos, sua ca explicações causais deveria combinar, sob um matéria e concomitante dissipa- análise foi uma das mecânicas para as for- ponto de vista comum, os ção de movimento, durante a áreas que experi- mas e os fenômenos resultados obtidos por qual a matéria passa de uma ho- mentou maior desen- da vida. Segundo ele, todas as ciências: física, mogeneidade indefinida e inco- volvimento ao longo isto possibilitaria uma química, biologia, e erente para uma heterogenei- do século 19. O co- explicação “monista” também psicologia e dade definida e coerente; e nhecimento dos quí- da Natureza sobre ba- sociologia durante a qual o movimento re- micos acerca dos ses filosóficas. Assim, tido sofre uma transformação produtos da decom- ele afirma que não ha- paralela3. posição dos tecidos vivos, em meados veria qualquer diferença essencial en- do século 19, pode ser resumido pelas tre o que é animado e o que é inanima- Spencer partiu de teorias de biólo- palavras de Friedrich Wöhler (1800- do. Após comparar detalhadamente os gos acerca da evolução, como a “teo- 1882) a outro químico, Justus von cristais e as células vivas, Haeckel con- ria da epigênese” de Caspar Frederick Liebig (1803-1873), em carta de 1843: clui que ambos são semelhantes em Wolff (1733-1794), por exemplo. Wolff, 31 todos os aspectos relativos à compo- estudando células ao microscópio, Imagine-se no ano de 1900, sição química, crescimento e individua- observou a formação progressiva e a quando nós dois estaremos dis- lidade. Em Welträtsel, de 1899, Haeckel diferenciação de diferentes órgãos a solvidos em ácido carbônico1, defende que a única causa do movi- partir do que ele chamava de “gér- água e amônia, e nossas cinzas mento vital são as propriedades quími- men”, aparentemente homogêneo. A - talvez - serão parte dos ossos cas do carbono. As formas mais hipótese alternativa seria a “teoria de de algum cão que terá espolia- simples do protoplasma vivo teriam sur- pré-formação”, segundo a qual todos do nossos túmulos2. gido de compostos nitrogenados de os organismos já estariam pré-forma- Esta continuidade - ou antes, unici- carbono, não vivos, por um processo dos no ovo, e a partir de então apenas dade - da química dos “mundos” orgâ- de geração espontânea. A própria ativi- cresceriam. Esta última teoria é clara- nico e inorgânico, aliada à crença na dade psíquica não seria mais do que mente incompatível com a doutrina da possibilidade da geração espontânea, um conjunto de fenô- evolução. Spencer, e aliada ainda a teorias emergentes no menos dependentes A característica mais todavia, não conce- século 19 - relativas à evolução das es- de mudanças mate- notável das poesias de beu a evolução como pécies e seleção natural - permitiram riais no protoplasma. Augusto dos Anjos é seu restrita apenas à bio- o surgimento de doutrinas monistas Surpreendentemente, conteúdo científico e logia: procurou gene- materialistas relacionadas à ciência. porém, ainda em Ge- filosófico. Isto não significa ralizá-la para todos Um exemplo de cientista que desen- nerelle Morphologie, que Augusto dos Anjos os fenômenos. Enxer- volveu esta postura filosófica foi Ernst Haeckel tende para um estivesse preocupado em gou evolução nos H. Haeckel (1834-1919). monismo panteísta, ao fazer, investigar ou mesmo corpos celestes; na Haeckel estudou diversos tipos de afirmar que “matéria divulgar ciência e filosofia formação geológica organismos. A forma de vida que mais nenhuma pode ser da Terra (de uma bola lhe despertou interesse foram os orga- concebida sem espírito, e nenhum es- incandescente e homogênea até o as- nismos unicelulares que não possuem pírito sem matéria”, e ao decretar a pecto atual); na formação de espécies núcleo - classificados na ordem mo- unidade entre Deus e a Natureza. animais cada vez mais complexas a nera. O núcleo celular é uma organela O darwinismo então em voga teve partir de formas primitivas; nas próprias essencial às células de quaisquer muitos outros ferrenhos defensores; estruturas sociais. outros seres vivos, pois sem ele as cé- entre eles, Herbert Spencer (1820- lulas ficam incapazes de se reproduzir. 1903). Embora não fosse um especia- Psicologia de um Vencido: cruzamento Devido às características da estrutura lista em biologia, Spencer foi um dos dos planos científico e poético das moneras, Haeckel defendia que mais importantes representantes do A característica mais notável das elas seriam as mais simples formas de pensamento evolucionista do final do poesias de Augusto dos Anjos é seu QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Augusto dos Anjos: ciência e poesia N° 11, MAIO 2000
  • 3. conteúdo científico e filosófico. Isto não após a decomposição de sua carne significa que Augusto dos Anjos esti- são apenas cabelos na terra fria. Ape- vesse preocupado em fazer, investigar sar de estarem de acordo quanto a es- ou mesmo divulgar ciência e filosofia. se ponto, os enfoques de um e de Sua peculiar visão de mundo, sua bus- outro poeta são bem diferentes. Lucré- ca interior, é que foram encontrar no cio expõe sua visão da morte para materialismo, no monismo, no evolu- mostrar que não devemos temê-la, que cionismo, os conceitos e o vocabulário não há motivo para o homem sofrer adequados para se expressar. Obser- com a incerteza acerca do futuro de va-se em sua poesia a incorporação seu espírito. Diz ele: “...o espírito nasce das idéias, principal- juntamente com o cor- mente, de dois dos O que Augusto dos Anjos po e cresce com ele e principais divulga- faz não é uma ‘tradução’ envelhece ao mesmo dores do evolucionis- das idéias de Haeckel e tempo” 5 . O espírito mo no final do século Spencer para a forma de não poderá lamentar a 19: Haeckel e Spen- versos. O poeta buscava ausência de situações cer (que chegam a ser expressar sua angústia felizes passadas, ou a citados nominalmente diante da vida ausência de pessoas em alguns poemas4). queridas, ou a não Recuando no tempo, fruição plena da vida - essa característica de cantar em versos simplesmente porque o espírito se uma filosofia materialista nos permite extingue junto com o corpo, e nada estabelecer, sob alguns aspectos, um resta que possa sofrer ou lamentar-se. paralelo entre Lucrécio e Augusto dos O que transparece no poema de Augusto de Carvalho Rodrigues Anjos. Augusto dos Anjos, entretanto, é uma dos Anjos (1884-1914) 32 Tito Lucrécio Caro (96-55 a.C.), em postura muito mais pessimista e an- seu De rerum natura, cantou em forma gustiada. O poeta paraibano destaca gens grotescas, horríveis, repugnantes de poesia alguns aspectos da filosofia o sofrimento do homem ainda em vida, - que chocam o leitor. Na filosofia evo- de Epicuro (341-270 a.C.). Não se trata como agrupamento de matéria à lucionista Augusto dos Anjos encon- de uma exposição rigorosa do sistema mercê de forças sobre as quais ele não trou uma visão de mundo que entrou epicurista, visto que sequer atinge seu tem controle. A morte, sendo o fim de em ressonância com seu próprio pes- âmago, que é a teoria do prazer. tudo, desfaz qualquer esperança de simismo: uma doutrina que concebia Lucrécio busca enaltecer a figura de consolação e alívio em outro plano de a vida como originária de uma com- Epicuro, e destaca algumas de suas existência. Lucrécio convida a desfrutar binação de moléculas por geração es- idéias. Aqui, interessa-nos observar da vida, sem preocupação com a pontânea; que via o homem como um que, buscando respostas sobre a natu- imortalidade que não existe; para estágio na evolução da vida, a partir reza da alma e da morte, Lucrécio Augusto dos Anjos só há desgosto em de microrganismos simples e pas- também descreve uma “cosmologia” vida, que se há de encerrar em sando por plantas e animais sucessi- materialista em que a morte é o fim de podridão. vamente mais complexos. Assim, a filo- tudo. Conforme dissemos, o que Augus- sofia e a ciência evolucionista deram Para Lucrécio, como para Epicuro, to dos Anjos faz não é uma ‘tradução’ a forma intelectual e os signos lingüís- a criação do universo não teria sido das idéias de Haeckel e Spencer para ticos que Augusto dos Anjos precisava obra dos deuses. Tudo o que existe - a forma de versos. O para expressar seus fosse o céu, a Terra, as plantas, os ani- poeta buscava ex- Os poemas de Augusto dos sentimentos. O poeta mais, o homem - teria origem no movi- pressar sua angústia Anjos são recheados de acumulou conheci- mento de átomos que não teriam início diante da vida. Seu palavras incompreensíveis mentos num nível cog- nem fim. Seria esse mesmo movimento tema não era o amor: para a maioria dos leitores, nitivo consciente - o da de partículas minúsculas que produ- em seu livro Eu, amor e assim adquirem uma aura ciência - e foi capaz de ziria todos os fenômenos da Natureza, e erotismo são temas de mistério, de transmutá-los para um psicológicos e sociais. Segue-se - des- praticamente ausen- musicalidade quase pura plano diferente, o da se absoluto materialismo que rejeita a tes; ou então apare- expressão lírica, do existência de qualquer poder sobre- cem para serem repelidos pelo poeta. efeito estético, da emoção. natural a influir sobre a vida humana - Tampouco era a busca de Augusto dos Assim, o uso que Augusto dos An- que a morte significaria apenas a dis- Anjos pela divindade, ou pela transcen- jos faz de termos técnicos familiares persão dos átomos constituintes de um dência da alma. Os sentimentos que ao cientista, mas estranhos a outros ser. Essa visão da morte encontra eco ele expressa são o pessimismo, uma poetas - ou mesmo ao leitor comum -, séculos depois em Psicologia de um visão materialista e perplexa da vida. pode ser enfocado sob várias facetas. Vencido, onde o que resta do homem Seus poemas são construídos de ima- Um aspecto que chama a atenção é a QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Augusto dos Anjos: ciência e poesia N° 11, MAIO 2000
  • 4. sonoridade destas palavras. Elas con- nitrogênio - constituinte essencial das também por ser um dos gases que ferem aos poemas musicalidade e proteínas e dos ácidos nucléicos. Na emanam dos corpos em putrefação. ritmo inusitados, por sua própria foné- década de 1920, o cientista russo A.I. E, no entanto, em seus átomos reside tica e estranheza. Estas características Oparin viria a propor que o amoníaco parte do segredo da vida. são realçadas quando participam da e outros gases (metano, vapor de O soneto principia descrevendo as rima; em Psicologia de um Vencido, água, hidrogênio), expostos à energia origens da vida - filho do carbono e do Augusto dos Anjos produz surpreen- de relâmpagos ou de raios ultravioletas amoníaco - e termina descrevendo dente rima com as palavras amoníaco provenientes do sol, teriam reagido na qual a destinação final do ser humano / zodíaco / hipocondríaco / cardíaco primitiva atmosfera terrestre para - restos lançados na frialdade inorgâ- Além disso, empresta da ciência as formar aminoácidos e outros compos- nica da terra. O poema se estrutura, palavras carbono, epigênese e inorgâ- tos precursores da pois, numa forma cícli- nica. Há críticos que apontam o voca- matéria viva. Quimi- Psicologia de um Vencido ca: o homem provém bulário ‘difícil’ de Augusto dos Anjos camente falando, é um excelente exemplo do mundo inorgânico e como um dos motivos para sua popu- portanto, era justo da rara habilidade com a ele retorna. É o pró- laridade. São poemas recheados de atribuir ao carbono e que Augusto dos Anjos foi prio ciclo da vida e da palavras incompreensíveis para a ao amoníaco a “pa- capaz de transmutar morte retratado no so- maioria dos leitores, e assim adquirem ternidade”, não só ciência em expressão neto. O que acontece uma aura de mistério, de musicalidade do homem, mas de poética de permeio? Dor, sofri- quase pura (porque destituídas de todos os seres vivos. mento, e a presença significado) e - por conseqüência - de Dos quatro elementos mais abundan- constante e ameaçadora da morte encantamento. tes na matéria viva, Augusto dos Anjos inevitável. Augusto dos Anjos se clas- Podemos, então, imaginar diferen- só não faz referência, neste poema, ao sifica como um ‘monstro’ no segundo tes níveis de leituras para os poemas oxigênio - mas o que se espera aqui verso; mas um monstro de escuridão de Augusto dos Anjos, e para a Psico- não é, evidentemente, o rigor de um e rutilância. Neste paradoxo de claro- logia de um Vencido em particular. Um bioquímico. O que se deve ressaltar é escuro caracteriza-se o ser humano, leitor pouco versado em ciências po- o extraordinário talento do poeta em que guarda dentro de si o bem e o mal, resumir a origem química da vida em o anjo e o demônio simultaneamente. 33 derá não entender muito bem porque o poeta se declara filho do carbono e apenas um verso. Essa bipolaridade que atormentava do amoníaco; nem por isso deixará de Além disso, o verso retrata a origem Augusto dos Anjos foi manifestada se impressionar com a sonoridade da da vida em seu absoluto materialismo. também em outros poemas, como em palavra amoníaco, e com suas rimas Augusto dos Anjos poderia falar do ho- Vítima do Dualismo: com zodíaco, etc. Este leitor também mem como amontoado de carne, os- Psique biforme, o Céu e o Inferno não deverá ter dificuldade em apreen- sos, sangue - entidades que por si sós absorvo .... der o tom pessimista do soneto, e a não são vivas. Mas esses conceitos Criação a um tempo escura e cor- visão materialista em que a morte se são ainda portadores de uma carga de-rosa. resume a ter o corpo roído pelos ver- vital muito forte, e talvez ainda lhes pos- Em outro soneto, Contrastes, o mes - conforme os dois tercetos dei- samos atribuir algum valor espiritual ou mesmo tema: xam bastante claro. Por outro lado, um anímico. Poderia falar de proteínas ou O Amor e a Paz, o Ódio e a leitor que conheça um pouco de quí- carboidratos, mas ainda assim esses Carnificina, mica e de biologia fará ainda outras termos estariam muito associados a O que o homem ama e o que o leituras. Este leitor verá resumido já no um organismo vivo “em funcionamen- homem abomina, primeiro verso, de maneira magistral, to”. Ao falar, entretanto, em carbono e Tudo convém para o homem ser o materialismo de Augusto dos Anjos. amoníaco, Augusto dos Anjos desce completo6. O carbono é, efeti- ao limite inferior da mate- ‘Eu, filho do carbono rialidade biológica. Pen- Esse homem dividido é um prisio- vamente, o princi- pal elemento cons- e do amoníaco’ sando em termos dos neiro das contingências do mundo; nos tituinte das molé- átomos (carbono) e mo- versos seguintes, Augusto dos Anjos Com apenas uma frase o léculas (amoníaco) que descreve seu implacável destino. A culas dos organis- talentoso poeta pôde são estudados pela quí- menção à influência má dos signos do mos vivos. Graças resumir a origem química mica, estaremos numa zodíaco poderia ser interpretada como à capacidade dos átomos de carbo- da vida... dimensão onde não exis- alusão supersticiosa do poeta, que no formarem ca- te qualquer resquício de estaria manifestando sua crença num deias é que são possíveis as grandes alma ou de espírito. Não há nada que poder sobrenatural das estrelas. Acre- moléculas de carboidratos, proteínas, lembre um espírito num monte de car- ditamos, porém, que o poeta está meta- lipídios, ácidos nucléicos,... que cons- vão ou grafita (formas mais comuns de forizando seu determinismo. Ou seja, tituem as células. O amoníaco é um carbono elementar). Como enxergar desde sua formação, o homem teria já composto dos elementos hidrogênio - vida no malcheiroso e sufocante gás seu destino implacavelmente traçado, companheiro fiel do carbono na estru- amoníaco? Antes o associaríamos ao como se isso estivesse escrito nas tura de qualquer cadeia carbônica - e fim de toda vida, por ser tóxico - e estrelas. A terrível sina do poeta é des- QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Augusto dos Anjos: ciência e poesia N° 11, MAIO 2000
  • 5. crita como sofrimento físico, um mal- no ciclo natural dos átomos. O último excelente exemplo da rara habilidade estar semelhante ao de um doente; mas terceto retrata a inexorabilidade da com que Augusto dos Anjos foi capaz trata-se de uma repugnância ao próprio morte: o verme há de deixar-me apenas de transmutar ciência em expressão mundo, decorrente da consciência acer- os cabelos / Na frialdade inorgânica da poética. ca da miserável condição humana. terra! Não se fala em alma ou espírito Paulo Alves Porto (palporto@iqsc.sc.usp.br), bacharel Os vermes representam a iminência imortal, não há transcendência. Nada e licenciado em química pela USP mestre e doutor , resta após a morte senão cabelos, em comunicação e semiótica pela PUC-SP na área e a onipresença da morte. A eles cabe alimento de vermes - átomos, enfim. de história da ciência, é docente do Instituto de fechar o ciclo da Natureza, fazendo Química de São Carlos da USP . Psicologia de um Vencido é um com que a matéria humana retorne às formas mais simples da matéria inor- gânica. Em De rerum natura, Lucrécio Notas e referências bibliográficas 190 e 126. afirmou que a alma residente no cor- 7. LUCRÉCIO CARO, op. cit. (nota v), 1. Isto é, o dióxido de carbono - CO2 - livro III, versos 720-724. po do homem, após a morte, não so- dos químicos de hoje. brevive: subdivide-se em outras 2. Apud IHDE, A. J. The Development Para saber mais pequenas almas que animarão os ver- of modern chemistry. Nova Iorque: Dover, ANJOS, A. dos. Eu e outras poesias, 40ª mes. Se a alma abandona o corpo no 1984. p. 181. edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasi- momento da morte, indaga Lucrécio, 3. Apud MAYR, E. The growth of biologi- leira, 1995. “...donde vem que uma tão grande cal thought, p. 386. BROCK, W.H. The Norton history of 4. Vide os poemas “Agonia de um filó- chemistry. Nova Iorque: Norton, 1993. abundância de animais sem ossos e sofo”, “Mater originalis” e “Os doentes - LUCRÉCIO CARO, T. Da natureza. Trad. sem sangue se agite por entre os I”, in: Eu e outras poesias, 40ª ed. p. 81, de A. da Silva. In: Os pensadores. São membros tumefactos?”7 Augusto dos 101, 106. Paulo: Editora Abril, 1973. v. 5. Anjos reinterpreta o tema, colocando 5. LUCRÉCIO CARO, T. Da natureza, MAYR, E. The growth of biological o verme como operário das ruínas, à livro III, versos 445 - 446. thought. Cambridge: The Belknap Press, espera do momento em que intervirá 6. ANJOS, A. dos, op. cit. (nota iv), p. 1982. 34 Resenha (Re)visitando a escola e seu ensino de tória da ciência é produtora de alfabe- No primeiro capítulo, cinco ícones ciências tização científica. Os três grandes capí- da filosofia moderna (Descartes, Ba- tulos do livro são independentes nas con, Hume, Kant e Comte) se fazem É muito grato para Química Nova suas propostas e nas possibilidades presentes em uma muito bem apanha- na Escola convidar para uma visitação de leitura. Mas são muito interconec- da análise-síntese. No segundo capí- à escola e ao seu ensino de ciências tados, especialmente no quanto os tulo, aflora a sólida afiliação do Renato conduzidos por um texto denso mas dois primeiros preparam o terceiro, que a Bachelard, onde há quase um aplai- entusiástico. Nosso condutor nesta visita é Renato José de Oliveira, já co- aflora quase como um gran finale - até namento dos obstáculos bachelardea- nhecido das leitoras e dos leitores des- não tão feliz - para olhar a Escola no nos. No capítulo 3, chegamos à Escola ta revista, professor do Departamento mundo de hoje. conduzidos pelas análises críticas de de Fundamentos da Educação da Fa- Renato, quer o tenhamos como o filó- culdade de Educação da UFRJ. Quem sofo professor ou o professor filósofo. o vê escrevendo, lecionando, pesqui- Mesmo sem se pretender um historia- sando e envolvido com temas como dor da educação, o autor olha a edu- Ética e humanização do homem não cação que se fazia 22 séculos antes imagina que este filósofo seja licen- do presente para chegar àquilo que é ciado em química e teve uma profícua o ensino de ciências hoje no Brasil. trajetória como professor de química Acreditamos que A escola e o ensino no ensino médio. de ciências contribua para mais fecun- Aventuro-me em afirmar que em A das transformações na vida das mu- escola e o ensino de ciências Renato lheres e dos homens agora e nos tem- volta a ser um professor de ciências, pos que se anunciam com tantas mo- pois sem deixar de irrigar o texto com dificações para a Escola. aquilo que é próprio do filosofar - a per- (Attico Chassot - UNISINOS) manente crítica -, temos um texto enri- A escola e o ensino de ciências. quecido com a experiência do fazer. Renato José de Oliveira. São Leopol- Aflora ainda no livro uma continuada do: Editora da UNISINOS, 2000. 139 preocupação de mostrar quanto a his- p. ISBN 85-7431-041-7. QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Augusto dos Anjos: ciência e poesia N° 11, MAIO 2000