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tratamento mantém-se? Cátia
Sousa descreve-nos quais as
consequências que a doença
celíaca teve na sua “saúde óssea
“ e como gere o seu dia-a-dia
como celíaca.
E para terminar beiju… beijo?
… Não, beiju! Beiju? O que é
isso? Doce ou salgado, super
versátil. Bons cozinhados.
Lembre-se “Outono a chegar e o
sol a esconder-se”: não se escon-
da em casa. Aproveite os raios
solares – os seus ossos agrade-
cem. Ah! E já agora o bom humor
também!
O Outono chegou.
Com ele, caem as
folhas e o sol
esconde-se. Para
o celíaco, princi-
palmente o recém
-diagnosticado, que significado
de maior poderá isto ter? A má
absorção de nutrientes, entre os
quais a vitamina D, ocorre por
lesão da mucosa duodenal devi-
do ao glúten. Para produção de
vitamina D a luz solar é funda-
mental! Um esqueleto saudável
necessita de ser adequadamen-
te mineralizado e a função da
vitamina D neste contexto é
importante. A osteoporose
(diminuição da densidade mine-
ral óssea) pode surgir no celía-
co, incapacitando-o. Saiba o
que é, como surge e como tratar
com os ortopedistas Joaquim
Rodeia e Isabel Rosa e a nutri-
cionista Ana Pimenta Martins.
Areteus da Capadócia médico
no ano 200 da era cristã des-
creveu pela primeira vez o qua-
dro clínico da doença celíaca.
Contudo, foram encontradas
evidências de que muito antes
esta já existia. Viver em Roma
há 2000 anos e ser-se celíaco?
Que semelhanças entre os celía-
cos de então e os de agora? O
EDITORIAL
O ESTADO DA ARTE - Osteoporose e Doença Celíaca
A osteoporose é uma doença
óssea sistémica caracterizada
por uma diminuição da densida-
de mineral óssea (DMO) e por
alterações da sua microarqui-
tectura e resistência (fig.1.2),
com consequente aumento da
fragilidade óssea e risco eleva-
do de fratura. (1)
A sua etiologia é multifactorial,
sendo influenciada por factores
genéticos (70%) e factores
ambientais (30%). (1) A Doença
Celíaca (DC), entre outras doen-
ças, constitui um fator de risco
para o desenvolvimento de
Osteoporose. (2.3) A sua preva-
lência é de facto superior nos
doentes com DC quando com-
parada com a população em
geral, podendo ocorrer mesmo
nos casos de doença subclínica.
(1) A má absorção, a inflamação
crónica do intestino delgado,
níveis elevados de citocinas
activadoras dos osteoclastos (IL-
1, IL-6, TNF-α) com níveis mais
baixos de citocinas inibitórias (IL
-8 e IL-12), e a diminuição da
razão OPG/RANKL são facto-
res que podem alterar o meta-
bolismo ósseo nos doentes com
DC. (4.7)
A associação entre Osteoporose
e DC levou alguns autores a
sugerirem o rastreio da DC em
todos os doentes osteoporóticos.
(1) Contudo, nem todos os estu-
dos defendem esta posição. O
estudo de revisão de Lorena
and cols. defende que é injusti-
ficado o rastreio por rotina da
DC em todos os doentes com
DMO diminuída. Não obstante,
o rastreio de DC é recomenda-
do nos doentes com T-score
igual ou inferior a -1,0 na colu-
na ou anca, ou com história de
fracturas de stress em associa-
ção com qualquer sintoma ou
condição relacionada com DC;
história familiar de DC; ou
níveis baixos de cálcio na urina,
insuficiência em vitamina D, e
aumento dos níveis da hormona
paratiroideia apesar de dieta
adequada em cálcio e vitamina
D. (5)
A identificação de DC em doen-
tes com Osteoporose é impor-
tante, porque o tratamento com
dieta isenta em glúten (DIG)
pode ajudar a restabelecer a
massa óssea. (1,4,6) Se a exclusão
de glúten não for eficaz para
promover a remineralização,
devem ser investigadas outras
causas secundárias de osteopo-
rose. O papel do estilo de vida
também não deve ser subesti-
mado em relação à prevenção
da osteoporose. Os doentes
devem ser encorajados a seguir
uma DIG rica em cálcio, manter
os níveis de exercício e parar
de fumar. (6) As fontes de cálcio
e vitamina D isentas de glúten
incluem a maioria dos produtos
(continua na página seguinte)
Agradecimentos:
ANA PIMENTA– Redacção
ANA PIMENTA MARTINS - Nutri-
ção
ANTÓNIO JOÃO PEREIRA –
Revisão clínica
AVELINO GUERREIRO – Apoio
técnico e informático
CÁTIA FILIPA SOUSA- Entrevista-
da
CLÁUDIA MACEDO – Revisão
ortográfica e tipográfica/ layout
JOAQUIM RODEIA/ISABEL ROSA
- O Estado da Arte
LIPITA SEM GLÚTEN– Grãos e
Farinhas Sem Glúten e Receita
do Mês
EDITORIAL 1
ESTADO DA ARTE 1,2
NUTRIÇÃO 2,3
ENTREVISTA 3
INFO & DICAS 4
RECEITA DO MÊS 4
Neste número:
Outubro 2014Edição 1, Nº 10
GR UPO VI VA S EM GLÚTEN
P OR TUGAL
Newsletter
Contacto:
vivasemglutenportugal@outlook.pt
Fig. 1- Osso: arquitectura trabecu-
lar normal
Fig. 2- Osso osteoporótico
2
lácteos sem glúten, tofu, feijão,
salmão e sardinhas enlatadas
com osso, espinafre cozido, cou-
ve e brócolos, ovos e alguns
iogurtes. Os produtos que con-
têm lactose devem ser evitados
pelos doentes com diagnóstico
recente de DC, devido à defi-
ciência relativa de lactase cau-
sada pela lesão da mucosa.
Quando os sintomas de má
absorção diminuem, a lactose
pode ser adicionada de novo,
aos poucos, à dieta. (6)
Em conclusão, a associação entre
Osteoporose e DC é real, e o
seu reconhecimento pode ser a
chave para o tratamento de
muitos doentes com sintomas
ósseos sem etiologia aparente,
pelo que a suspeita clínica é
fundamental para obter um
diagnóstico correcto.
DR. JOAQUIM RODEIA, Interno
da especialidade de Ortope-
dia;
DR.ª ISABEL ROSA ortopedista
1 – Luiza Gusso et al. Celiac
disease screening in Brazilian
patients with osteoporosis. Arq
O ESTADO DA ARTE- Osteoporose e Doença Celíaca (cont.)
Newsletter
NUTRIÇÃO
Saúde óssea na Doença Celía-
ca: fontes alimentares de cálcio
e vitamina D
A DC é uma doença de carácter
autoimune que é desencadeada
pela ingestão de cereais que
contêm glúten, em indivíduos
geneticamente predispostos. Esta
doença caracteriza-se por um
estado de inflamação crónica da
mucosa intestinal, com grave
prejuízo na absorção de nutrien-
tes e risco aumentado de morbili-
dade, nomeadamente maior
risco de malignidade.
Classicamente conside-
rada uma síndrome de
má absorção rara na
infância, reconhece-se,
hoje em dia, que a DC
é uma condição comum,
que pode ser diagnos-
ticada em qualquer idade e que
afecta múltiplos sistemas de
órgãos.
A apresentação clínica é alta-
mente variável e depende, entre
outros factores, da idade de
início da doença, da extensão
da lesão da mucosa intestinal,
da sensibilidade ao glúten e da
quantidade de glúten ingerido
na dieta. O espectro clínico
pode, efectivamente, variar
entre casos assintomáticos, que
são descobertos através de ras-
treios serológicos, por exemplo,
a familiares de primeiro ou
segundo grau, a casos sintomáti-
cos com manifestações de sinto-
matologia intestinal (p. ex., dor
abdominal, diarreia crónica e
perda de peso) ou extra-
intestinal (p. ex., anemia, osteo-
porose e perturbações neurológi-
cas).
As doenças do
metabolismo ósseo
constituem uma
complicação fre-
quente da DC. São
vários os estudos que demonstram
a ocorrência de densidade mine-
ral óssea reduzida aquando do
diagnóstico de DC quer em crian-
ças, quer em adultos. A apresen-
tação clínica da DC associada a
má absorção severa tem sido,
tradicionalmente, associada a
osteomalácia e raquitismo. O
advento de técnicas não invasivas,
nomeadamente da densitometria
óssea, revela que a osteoporose é
o distúrbio ósseo mais comum na
DC, afectando 20 a 50% dos
doentes na altura do diagnóstico.
A presença de má absorção seve-
ra conduz a perdas ósseas supe-
riores, porém, mesmo os doentes
com DC subclínica ou assintomáti-
cos apresentam densidade mine-
ral óssea significativamente mais
reduzida comparativamente a
voluntários saudáveis.
Os factores que estão na origem
destas alterações ósseas incluem a
má absorção intestinal de cálcio e
vitamina D causada pela atrofia
das vilosidades e hiperparatiroi-
dismo secundário, podendo igual-
mente estar envolvidos auto-
anticorpos plasmáticos específicos
do osso.
A prática de uma DIG é o único
tratamento que existe para a DC
e constitui também a base do
tratamento da osteoporose nos
doentes celíacos. As evidências
demonstram que a exclusão do
glúten da alimentação conduz a
uma melhoria da densidade mine-
ral óssea em indivíduos diagnosti-
cados na fase adulta; no entanto,
esta raramente normaliza. Já nas
crianças e nos adolescentes, a
adesão à DIG promove a sua
normalização. Pelo referido, com-
preende-se a importância do
diagnóstico atempado da DC
enquanto medida preventiva das
consequências nefastas da doen-
ça.
Paralelamente à
adesão à DIG é
necessário assegu-
rar-se a ingestão
diária recomenda-
da de cálcio (1500 mg/dia para
doentes celíacos) e de vitamina D
(600 UI/dia), dado que são
nutrientes críticos para a normal
aquisição e manutenção da massa
óssea. O leite e os produtos deri-
vados, como o queijo e os iogurtes
constituem boas fontes de cálcio.
Para aqueles que apresentam
intolerância à lactose como sinto-
ma secundário de doença celíaca,
é conveniente optarem por leites
sem lactose ou bebidas de soja,
arroz ou amêndoa fortificadas em
cálcio (e, obviamente isentas de
glúten). Outras fontes de cálcio
incluem conservas de sardinhas
com espinhas, hortícolas de folha
verde escura, como espinafres,
brócolos e couves, tofu, legumino-
sas como o feijão e a soja, figos
secos, sementes de sésamo, frutos
gordos, como a amêndoa e a noz
e alimentos fortificados em cálcio
(p. ex. sumo de laranja e cereais
de pequeno-almoço enriquecidos
neste nutriente). O quadro seguin-
te faz referência aos teores
aproximados de cálcio em dife-
rentes alimentos.
As fontes alimentares de vitamina
D são limitadas, sendo as princi-
pais os peixes e os óleos de pei-
xe (por exemplo, salmão, sardi-
nhas, bacalhau, atum), ovos, fíga-
do e alimentos enriquecidos
comercialmente disponíveis (por
exemplo, margarina, lacticínios e
cereais isentos de glúten). O qua-
dro seguinte refere-se à quanti-
dade de vitamina D que está
presente em alguns alimentos.
Felizmente a
vitamina D tem a
particularidade
de poder ser
sintetizada atra-
vés da exposição às radiações
ultravioletas da luz solar. Contu-
do, no dia-a-dia, a maioria das
pessoas expõe-se muito pouco ao
sol. Por outro lado, a utilização
de protetores solares é cada vez
mais frequente, o que torna difícil
a síntese cutânea de vitamina D
em quantidade suficiente.
Nunca é demais referir que os
doentes celíacos devem ler o
rótulo de todos os alimentos que
consomem de forma a prevenir a
ingestão inadvertida de glúten.
Quando a alimentação não é
suficiente para satisfazer as
necessidades de cálcio e de vita-
mina D (neste caso também se
deve ter em conta a exposição à
(continua na página seguinte)
Bras Endocrinol Metab.
2014;58/3
2 – Stefano Guandalini., Asaas
Assiri. Celiac Disease. JAMA
Pediatrics. 2014; Vol.168, Num-
ber 3
3 – Azita G. et al. The Clinical
Presentation of Celiac Disease:
Experiences from Northeastern
Iran. Middle East Journal of Di-
gestive Diseases. 2014; Vol.6/
No.2
4 – Urszula Krupa-Kozak. Patho-
logic bone alterations in celiac
disease: Etiology, epidemiology,
and treatment. Nutrition. 2014;
16-24
5 – Lorena P. Rios et al. Ap-
proach to diagnosing celiac dis-
ease in patients with low bone
mineral density or fragility frac-
tures. Can Fam Physician
2013;59:1055-61
6 – Vanessa D Capriles et al.
Metabolic osteopathy in celiac
disease: importance of a glúten-
free diet. Nutrition Reviews.
2009; Vol.67 (10):599-606
7- L.C. Hofbauer et al. The OPG/
RANKL/RANK system in meta-
bolic bone diseases. J Muscu-
loskel Neuron Interact 2004; 4
(3):268-275
3
Edição 1, Nº 10
luz solar e os factores que condicionam a síntese cutânea desta vitamina) deve considerar-se a utilização de suplementos. Para além da prática
de uma alimentação isenta de glúten equilibrada e rica em cálcio e vitamina D, a prática regular de exercício físico, a cessação dos hábitos
tabágicos e a diminuição do consumo de bebidas alcoólicas são recomendações que contribuem igualmente para a boa saúde dos ossos.
ANA PIMENTA MARTINS
apimenta@porto.ucp.pt
A entrevista deste mês traz-nos o
testemunho de Cátia Sousa, uma
jovem celíaca.
Cátia, como soube e
quando que é celíaca?
Fui diagnosticada com
18 anos, embora se
tenha pensado que
poderia ter doença
celíaca pouco depois do meu 15º
aniversário. Desde pequena que
sempre fui muito doente. Ainda
com poucas semanas, tive vários
internamentos com todo o tipo de
infeções (amigdalites, otites,
faringites) e na minha infância
tive todas as doenças típicas -
meningite, varicela, papeira,
sarampo, etc. Sempre tive tam-
bém vários problemas gastroin-
testinais que sempre foram asso-
ciados pelos médicos à grande
quantidade de antibióticos e anti
-inflamatórios que tomava cons-
tantemente. Felizmente, sempre
fui uma criança com excelente
apetite, o que me ajudou a não
ter atraso de crescimento.
Aos 15 anos tive uma anemia
muito grave, associada a dores
fortes de estômago, articulares,
problemas de pele (lesões diag-
nosticadas como síndroma de
Sweet), dormência das mãos, pés
e face, espasmos musculares e
movimentos involuntários. As aná-
lises sanguíneas que fiz mostra-
ram malnutrição com falta de
todos os iões essenciais e desi-
dratação. O hematologista que
me seguia desconfiou de doença
celíaca, mas com serologia nega-
tiva abandonámos a ideia. Os
sintomas foram sempre piorando
e a anemia não melhorou com
nenhum dos tratamentos.
Um ano mais tarde fui internada
na medicina interna e foi-me
diagnosticada osteoporose gra-
ve.
Finalmente, aos 18 anos, voltou a
pensar-se na doença celíaca
como possibilidade e fiz endosco-
pia digestiva alta com biópsia
que confirmou o diagnóstico.
Como recebeu a notícia? Alte-
rou na altura a sua perspectiva
da vida? Como lidou com a
dieta e o ensino?
Quando recebi a notícia, ninguém
sabia muito sobre a doença e
sobre a dieta, pelo que não tinha
verdadeira consciência da
mudança que traria para a
minha vida. Fui aprendendo e, no
princípio, estando eu a iniciar a
faculdade e a mudar para outra
cidade, a começar a viver sozi-
nha, não foi fácil gerir a mudan-
ça.
E atualmente como melhorou a
sua saúde?
Sinto melhoras e acredito que, se
fosse o meu único problema de
saúde, me sentiria completamen-
te saudável.
A osteoporose ficou até hoje e
com agravamento. Já fiz uma
fratura vertebral e, há poucos
meses, duas na grelha costal
enquanto dormia. Ou seja, são
fraturas patológicas.
Como é lidar
com uma profis-
são exigente em
termos de via-
gens e almoços
fora?
Todas as minhas viagens têm de
ser muito bem planeadas e pen-
sadas com a maior antecedência.
Procuro hotéis e outros alojamen-
tos onde tenham menus sem glú-
ten ou então onde me seja possí-
vel levar a minha comida e pre-
parar o pequeno-almoço. Fora
destes, tenho o cuidado de tra-
zer sempre algo para comer
NUTRIÇÃO (Cont.)
comigo. Habitualmente, no meu
dia-a-dia profissional, levo as
minhas refeições de casa comi-
go.
E quando à vida social? Acha-
se limitada? Que estratégias
usa para ultrapassar obstácu-
los?
Tento que não o seja, mas acaba
sempre por ser mais limitada
que a vida social de um não
celíaco. Por muito importante que
seja o convívio com os amigos,
nada supera a importância de
cumprir a dieta.
Que conselho dá
a quem foi recen-
temente diagnosti-
cado?
O nosso bem estar
e saúde são um
bem demasiado
precioso para ser posto em risco
pelo que comemos. Abandonar o
glúten deve ser visto como um
meio de ganhar saúde e iniciar
um conjunto enorme de "ações
saudáveis" na nossa vida.
ENTREVISTA
Quadro 1 – Teores de cálcio em diferentes alimentos
Alimento Porção Cálcio (mg)
Leite gordo
Leite meio-gordo
Leite magro
Iogurte magro, natural
Iogurte magro, fruta
Natas
Queijo, tipo cheddar
Queijo, cottage
Queijo, mozzarella
Queijo, Camembert
236 ml
236 ml
236 ml
150 g
150 g
15 g
40 g
112 g
28 g
40 g
278
283
288
243
210
13
296
142
101
94
Tofu, ao vapor
Bebida de soja
Bebida de soja, enriquecida em cálcio
100 g
236 ml
236 ml
510
31
210
Brócolos, cozinhados 112 g 45
Damascos secos
Laranja, sem casca
Figos
160 g
160 g
220 g
117
75
506
Amêndoas
Nozes
26 g
20 g
62
34
Sardinhas, enlatadas em óleo 100 g 500
Quadro 2 – Teores aproximados de vitamina D em diferentes alimentos
Alimento µg por porção UI por porção
Óleo de fígado de bacalhau, 1 colher de sopa
Salmão, grelhado, 100g
Cavala, grelhada, 100g
Sardinhas enlatadas (com espinhas), 100g
Margarina, fortificada, 20g
Ovo, tamanho médio, 50g
Fígado, carneiro, frito, 100g
23,1
7,1
8,8
4,6
1,6
0,9
0,9
924
284
352
184
62
36
36
Fonte Quadro 2: Food Standards Agency (2002). McCance and Widdowson’s: The
Composition of Foods, Sixth summary edition. Cambridge: Royal Society of Chemistry
Fonte Quadro 1: Food Standards Agency (2002). McCance and Widdowson’s: The
Composition of Foods, Sixth summary edition. Cambridge: Royal Society of Chemistry
4
Preparação:
Retire os Wraps do invólucro.
Numa frigideira aqueça-os duran-
te uns minutos, de um lado e de
outro, de modo a ficarem moldá-
veis e não partirem quando os
enrolar. Retire-os da frigideira e
deixe arrefecer um pouco.
Corte umas fatias finas de berin-
gela e aqueça-as noutra frigidei-
Mini Wraps de Salmão
Lipita Sem Glúten partilha con-
nosco uma receita ligeira com
salmão rico em vitamina D. Bom
apetite!
Ingredientes:
Wraps isentos de glúten ( Schär);
Beringela, queijo creme, salmão
fumado; orégãos; manjericão
ra à parte.
Barre os Wraps com queijo creme
e recheie com salmão fumado,
orégãos e manjericão. Parta em
duas metades, como se fosse uma
pizza e faça dois rolos. Desses
dois rolos parta-os em vários, mais
pequenos, e una com um palito.
Sirva com salada de rúcula.
Newsletter
RECEITA DO MÊS
Celíaca com 2000 anos!
Se hoje em dia é
difícil ser-se
celíaco, num mun-
do rodeado de
informação e
crescentes alternativas alimenta-
res isentas de glúten, o que
diriam e fariam os celíacos há
2000 anos atrás?!
Foi descoberto um esqueleto de
uma mulher, com 2000 anos, em
escavações arqueológicas de
Cosa, na costa da Toscana em
Itália, que, muito provavelmente,
teria doença celíaca. A economia
de Roma nessa altura não era
próspera e dependia principal-
mente do cultivo de trigo e de
azeitona. Foram encontradas
joias de bronze e ouro no seu
túmulo pelo que os arqueólogos
concluíram que seria relativa-
mente rica, de classe social alta
e com acesso a muita comida.
Terá morrido entre os 18 e os 20
anos de idade. Tinha baixa esta-
tura (1,40 metro- por atraso de
crescimento?), osteoporose (por
má absorção, inflamação crónica
intestinal?), hipoplasia do esmal-
te dentário, “cibra orbita-
lia” (poros nos ossos das orbitas
e crânio causados por anemia
ferropénica) e mal nutrição. Ora,
estas condições não seriam de
esperar dada a sua classe social
abastada. São, no entanto, con-
sequências de doença celíaca
não tratada pela má absorção
de nutrientes devido às lesões do
duodeno provocadas pela inges-
tão de glúten.
O estudo genético do seu ADN a
partir do osso e dentes revelou
que tinha o genótipo HLA DQ
2.5 de alto risco para o desen-
volvimento de doença celíaca.
A análise dos níveis de nitrogé-
nio e de carbono dos seus ossos
comparativamente a outros
datados da mesma altura reve-
lou que, durante a sua vida,
alterou os seus hábitos alimenta-
res. Terá consumido preferencial-
mente carne e peixe nos seus
últimos anos de vida. Sendo que
residia numa região em que o
consumo de vegetais (como o
trigo) predominava terá realiza-
do esta alteração na sua dieta
por ter sintomas relacionados
com a ingestão de trigo? Terá
esta mulher alterado de facto os
seus hábitos alimentares de
modo a se proteger inconsciente-
mente dos sintomas causados
pela ingestão de trigo / glúten?
Os dados antropomórficos e
genéticos permitem-nos especu-
lar que esta mulher teria doença
celíaca tal como pela primeira
vez descrito pelo médico Areteus
da Capadócia no ano 200 da
era cristã. Este denominou o
quadro clínico de koiliakos, do
grego koelia (abdómen). Estes
dados vêm reforçar a ideia de
que a doença celíaca existe
desde longa data, talvez desde
a introdução do trigo na alimen-
tação humana.
ANA PIMENTA
Gasbarrini, G. et al. World J. Gas-
troenterol. 18, 5300–5304 (2012).
Scorrano, G. et al. Am. J. Phys. An-
thropol. http://dx.doi.org/10.1002/
ajpa.22517 (2014).
Grãos e farinhas sem glúten
Já conhecem tapioca? Tapioca
ou beiju, como muitos lhe cha-
mam, trata-se de um alimento
com origem indígena e muito
apreciado no nordeste brasileiro.
É um alimento naturalmente livre
de glúten, sal e gordura. A
tapioca é um produto granulado
que se obtém através da trans-
formação da fécula de mandioca
em goma.
A sua base feita a partir da man-
dioca, uma espécie de planta
tuberosa natural da América, foi
imprescindível na alimentação
indígena durante muito tempo.
Com a necessidade de começar a
cozinhá-la no fogo, os coloniza-
dores portugueses descobrem
rapidamente que a tapioca seria
um ótimo substituto do pão. Esta
brilhante descoberta depressa se
espalhou pela restante população
e pelos povos indígenas. Hoje, a
tapioca é um dos símbolos mais
tradicionais da cozinha brasileira,
sendo cozinhada na frigideira e
acabando no prato sob a forma
de crepe, doce ou salgado, ou
sob a forma de pizza. Já imagi-
naram comer uma pizza com
metade das calorias? Ou um
docinho preparado em segundos?
Pois é! A tapioca é super versátil,
permitindo-nos cozinhar pratos
rápidos, pouco calóricos e sem o
temível glúten! O facto de ser à
base de polvilho e água, torna-a
num alimento leve, que tanto
pode ser consumido ao pequeno-
almoço substituindo o pão a que
estamos habituados, ou num lan-
che doce e até como uma refei-
ção salgada. Claro que também
a podemos usar misturada com
outras farinhas, num bolo ou num
pão sem glúten. As opções são
diversas…
Muitos nutricionistas dizem ser um
bom “combustível para quem
pratica exercício”. Sendo rapida-
mente absorvida pelo corpo
humano após o esforço físico, é
uma excelente alternativa às
refeições, antes e depois do trei-
no. Logo após o exercício repõe
as energias bem depressa!
A tapioca existe no Brasil, já
pronta a usar, isto quer dizer que
não tem de ser hidratada antes.
Explicando melhor, a farinha
granulada que se encontra em
Portugal, da marca GLOBO,
precisa de ser deixada em água
algum tempo até que absorva
parte dessa água e ganhe a
forma “plástica”. Bem, se não
encontrar estes pacotinhos, não
há problema algum, porque con-
seguimos fazê-la em casa com
fécula de mandioca, que pode
ser um polvilho doce ou azedo,
tanto faz! O polvilho é a goma
seca que serve para fazer tapio-
ca quando humedecida. O pro-
cesso é igual! Coloquem o polvi-
lho debaixo de água e deixem-
no no frigorífico por algum tem-
po. Vão perceber que absorveu
parte da água, deixando alguma
em excesso, que podem deitar
fora. O vosso polvilho ficou agar-
rado ao vosso recipiente? Sim, é
isso mesmo! Retirem-no com as
mãos e vão esfarelando com os
dedos, até obterem um género
de farinha de coco. Se não conse-
guirem passem os bocadinhos
maiores pelo passador de rede.
A vossa tapioca está pronta a
usar, a partir de agora é muito
simples. Basta espalhá-la numa
frigideira aquecida, e rapida-
mente se coagula, transformando-
se em crepe. O passo seguinte é
rechear ao vosso gosto. Imaginem
recheado com banana e canela
ou Nutella? Ou experimentem um
crepe salgado recheado com
frango, tomate e mozarela….É só
escolher e puxar pela imagina-
ção, ao gosto de cada um!
Podem criar diversos e saborosos
pratos capazes de fazer crescer
água na boca!
LIPITA SEM GLÚTEN
INFO & DICAS

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Newsletter Grupo viva sem gluten portugal ed 1 nr 1 out 2014

  • 1. tratamento mantém-se? Cátia Sousa descreve-nos quais as consequências que a doença celíaca teve na sua “saúde óssea “ e como gere o seu dia-a-dia como celíaca. E para terminar beiju… beijo? … Não, beiju! Beiju? O que é isso? Doce ou salgado, super versátil. Bons cozinhados. Lembre-se “Outono a chegar e o sol a esconder-se”: não se escon- da em casa. Aproveite os raios solares – os seus ossos agrade- cem. Ah! E já agora o bom humor também! O Outono chegou. Com ele, caem as folhas e o sol esconde-se. Para o celíaco, princi- palmente o recém -diagnosticado, que significado de maior poderá isto ter? A má absorção de nutrientes, entre os quais a vitamina D, ocorre por lesão da mucosa duodenal devi- do ao glúten. Para produção de vitamina D a luz solar é funda- mental! Um esqueleto saudável necessita de ser adequadamen- te mineralizado e a função da vitamina D neste contexto é importante. A osteoporose (diminuição da densidade mine- ral óssea) pode surgir no celía- co, incapacitando-o. Saiba o que é, como surge e como tratar com os ortopedistas Joaquim Rodeia e Isabel Rosa e a nutri- cionista Ana Pimenta Martins. Areteus da Capadócia médico no ano 200 da era cristã des- creveu pela primeira vez o qua- dro clínico da doença celíaca. Contudo, foram encontradas evidências de que muito antes esta já existia. Viver em Roma há 2000 anos e ser-se celíaco? Que semelhanças entre os celía- cos de então e os de agora? O EDITORIAL O ESTADO DA ARTE - Osteoporose e Doença Celíaca A osteoporose é uma doença óssea sistémica caracterizada por uma diminuição da densida- de mineral óssea (DMO) e por alterações da sua microarqui- tectura e resistência (fig.1.2), com consequente aumento da fragilidade óssea e risco eleva- do de fratura. (1) A sua etiologia é multifactorial, sendo influenciada por factores genéticos (70%) e factores ambientais (30%). (1) A Doença Celíaca (DC), entre outras doen- ças, constitui um fator de risco para o desenvolvimento de Osteoporose. (2.3) A sua preva- lência é de facto superior nos doentes com DC quando com- parada com a população em geral, podendo ocorrer mesmo nos casos de doença subclínica. (1) A má absorção, a inflamação crónica do intestino delgado, níveis elevados de citocinas activadoras dos osteoclastos (IL- 1, IL-6, TNF-α) com níveis mais baixos de citocinas inibitórias (IL -8 e IL-12), e a diminuição da razão OPG/RANKL são facto- res que podem alterar o meta- bolismo ósseo nos doentes com DC. (4.7) A associação entre Osteoporose e DC levou alguns autores a sugerirem o rastreio da DC em todos os doentes osteoporóticos. (1) Contudo, nem todos os estu- dos defendem esta posição. O estudo de revisão de Lorena and cols. defende que é injusti- ficado o rastreio por rotina da DC em todos os doentes com DMO diminuída. Não obstante, o rastreio de DC é recomenda- do nos doentes com T-score igual ou inferior a -1,0 na colu- na ou anca, ou com história de fracturas de stress em associa- ção com qualquer sintoma ou condição relacionada com DC; história familiar de DC; ou níveis baixos de cálcio na urina, insuficiência em vitamina D, e aumento dos níveis da hormona paratiroideia apesar de dieta adequada em cálcio e vitamina D. (5) A identificação de DC em doen- tes com Osteoporose é impor- tante, porque o tratamento com dieta isenta em glúten (DIG) pode ajudar a restabelecer a massa óssea. (1,4,6) Se a exclusão de glúten não for eficaz para promover a remineralização, devem ser investigadas outras causas secundárias de osteopo- rose. O papel do estilo de vida também não deve ser subesti- mado em relação à prevenção da osteoporose. Os doentes devem ser encorajados a seguir uma DIG rica em cálcio, manter os níveis de exercício e parar de fumar. (6) As fontes de cálcio e vitamina D isentas de glúten incluem a maioria dos produtos (continua na página seguinte) Agradecimentos: ANA PIMENTA– Redacção ANA PIMENTA MARTINS - Nutri- ção ANTÓNIO JOÃO PEREIRA – Revisão clínica AVELINO GUERREIRO – Apoio técnico e informático CÁTIA FILIPA SOUSA- Entrevista- da CLÁUDIA MACEDO – Revisão ortográfica e tipográfica/ layout JOAQUIM RODEIA/ISABEL ROSA - O Estado da Arte LIPITA SEM GLÚTEN– Grãos e Farinhas Sem Glúten e Receita do Mês EDITORIAL 1 ESTADO DA ARTE 1,2 NUTRIÇÃO 2,3 ENTREVISTA 3 INFO & DICAS 4 RECEITA DO MÊS 4 Neste número: Outubro 2014Edição 1, Nº 10 GR UPO VI VA S EM GLÚTEN P OR TUGAL Newsletter Contacto: vivasemglutenportugal@outlook.pt Fig. 1- Osso: arquitectura trabecu- lar normal Fig. 2- Osso osteoporótico
  • 2. 2 lácteos sem glúten, tofu, feijão, salmão e sardinhas enlatadas com osso, espinafre cozido, cou- ve e brócolos, ovos e alguns iogurtes. Os produtos que con- têm lactose devem ser evitados pelos doentes com diagnóstico recente de DC, devido à defi- ciência relativa de lactase cau- sada pela lesão da mucosa. Quando os sintomas de má absorção diminuem, a lactose pode ser adicionada de novo, aos poucos, à dieta. (6) Em conclusão, a associação entre Osteoporose e DC é real, e o seu reconhecimento pode ser a chave para o tratamento de muitos doentes com sintomas ósseos sem etiologia aparente, pelo que a suspeita clínica é fundamental para obter um diagnóstico correcto. DR. JOAQUIM RODEIA, Interno da especialidade de Ortope- dia; DR.ª ISABEL ROSA ortopedista 1 – Luiza Gusso et al. Celiac disease screening in Brazilian patients with osteoporosis. Arq O ESTADO DA ARTE- Osteoporose e Doença Celíaca (cont.) Newsletter NUTRIÇÃO Saúde óssea na Doença Celía- ca: fontes alimentares de cálcio e vitamina D A DC é uma doença de carácter autoimune que é desencadeada pela ingestão de cereais que contêm glúten, em indivíduos geneticamente predispostos. Esta doença caracteriza-se por um estado de inflamação crónica da mucosa intestinal, com grave prejuízo na absorção de nutrien- tes e risco aumentado de morbili- dade, nomeadamente maior risco de malignidade. Classicamente conside- rada uma síndrome de má absorção rara na infância, reconhece-se, hoje em dia, que a DC é uma condição comum, que pode ser diagnos- ticada em qualquer idade e que afecta múltiplos sistemas de órgãos. A apresentação clínica é alta- mente variável e depende, entre outros factores, da idade de início da doença, da extensão da lesão da mucosa intestinal, da sensibilidade ao glúten e da quantidade de glúten ingerido na dieta. O espectro clínico pode, efectivamente, variar entre casos assintomáticos, que são descobertos através de ras- treios serológicos, por exemplo, a familiares de primeiro ou segundo grau, a casos sintomáti- cos com manifestações de sinto- matologia intestinal (p. ex., dor abdominal, diarreia crónica e perda de peso) ou extra- intestinal (p. ex., anemia, osteo- porose e perturbações neurológi- cas). As doenças do metabolismo ósseo constituem uma complicação fre- quente da DC. São vários os estudos que demonstram a ocorrência de densidade mine- ral óssea reduzida aquando do diagnóstico de DC quer em crian- ças, quer em adultos. A apresen- tação clínica da DC associada a má absorção severa tem sido, tradicionalmente, associada a osteomalácia e raquitismo. O advento de técnicas não invasivas, nomeadamente da densitometria óssea, revela que a osteoporose é o distúrbio ósseo mais comum na DC, afectando 20 a 50% dos doentes na altura do diagnóstico. A presença de má absorção seve- ra conduz a perdas ósseas supe- riores, porém, mesmo os doentes com DC subclínica ou assintomáti- cos apresentam densidade mine- ral óssea significativamente mais reduzida comparativamente a voluntários saudáveis. Os factores que estão na origem destas alterações ósseas incluem a má absorção intestinal de cálcio e vitamina D causada pela atrofia das vilosidades e hiperparatiroi- dismo secundário, podendo igual- mente estar envolvidos auto- anticorpos plasmáticos específicos do osso. A prática de uma DIG é o único tratamento que existe para a DC e constitui também a base do tratamento da osteoporose nos doentes celíacos. As evidências demonstram que a exclusão do glúten da alimentação conduz a uma melhoria da densidade mine- ral óssea em indivíduos diagnosti- cados na fase adulta; no entanto, esta raramente normaliza. Já nas crianças e nos adolescentes, a adesão à DIG promove a sua normalização. Pelo referido, com- preende-se a importância do diagnóstico atempado da DC enquanto medida preventiva das consequências nefastas da doen- ça. Paralelamente à adesão à DIG é necessário assegu- rar-se a ingestão diária recomenda- da de cálcio (1500 mg/dia para doentes celíacos) e de vitamina D (600 UI/dia), dado que são nutrientes críticos para a normal aquisição e manutenção da massa óssea. O leite e os produtos deri- vados, como o queijo e os iogurtes constituem boas fontes de cálcio. Para aqueles que apresentam intolerância à lactose como sinto- ma secundário de doença celíaca, é conveniente optarem por leites sem lactose ou bebidas de soja, arroz ou amêndoa fortificadas em cálcio (e, obviamente isentas de glúten). Outras fontes de cálcio incluem conservas de sardinhas com espinhas, hortícolas de folha verde escura, como espinafres, brócolos e couves, tofu, legumino- sas como o feijão e a soja, figos secos, sementes de sésamo, frutos gordos, como a amêndoa e a noz e alimentos fortificados em cálcio (p. ex. sumo de laranja e cereais de pequeno-almoço enriquecidos neste nutriente). O quadro seguin- te faz referência aos teores aproximados de cálcio em dife- rentes alimentos. As fontes alimentares de vitamina D são limitadas, sendo as princi- pais os peixes e os óleos de pei- xe (por exemplo, salmão, sardi- nhas, bacalhau, atum), ovos, fíga- do e alimentos enriquecidos comercialmente disponíveis (por exemplo, margarina, lacticínios e cereais isentos de glúten). O qua- dro seguinte refere-se à quanti- dade de vitamina D que está presente em alguns alimentos. Felizmente a vitamina D tem a particularidade de poder ser sintetizada atra- vés da exposição às radiações ultravioletas da luz solar. Contu- do, no dia-a-dia, a maioria das pessoas expõe-se muito pouco ao sol. Por outro lado, a utilização de protetores solares é cada vez mais frequente, o que torna difícil a síntese cutânea de vitamina D em quantidade suficiente. Nunca é demais referir que os doentes celíacos devem ler o rótulo de todos os alimentos que consomem de forma a prevenir a ingestão inadvertida de glúten. Quando a alimentação não é suficiente para satisfazer as necessidades de cálcio e de vita- mina D (neste caso também se deve ter em conta a exposição à (continua na página seguinte) Bras Endocrinol Metab. 2014;58/3 2 – Stefano Guandalini., Asaas Assiri. Celiac Disease. JAMA Pediatrics. 2014; Vol.168, Num- ber 3 3 – Azita G. et al. The Clinical Presentation of Celiac Disease: Experiences from Northeastern Iran. Middle East Journal of Di- gestive Diseases. 2014; Vol.6/ No.2 4 – Urszula Krupa-Kozak. Patho- logic bone alterations in celiac disease: Etiology, epidemiology, and treatment. Nutrition. 2014; 16-24 5 – Lorena P. Rios et al. Ap- proach to diagnosing celiac dis- ease in patients with low bone mineral density or fragility frac- tures. Can Fam Physician 2013;59:1055-61 6 – Vanessa D Capriles et al. Metabolic osteopathy in celiac disease: importance of a glúten- free diet. Nutrition Reviews. 2009; Vol.67 (10):599-606 7- L.C. Hofbauer et al. The OPG/ RANKL/RANK system in meta- bolic bone diseases. J Muscu- loskel Neuron Interact 2004; 4 (3):268-275
  • 3. 3 Edição 1, Nº 10 luz solar e os factores que condicionam a síntese cutânea desta vitamina) deve considerar-se a utilização de suplementos. Para além da prática de uma alimentação isenta de glúten equilibrada e rica em cálcio e vitamina D, a prática regular de exercício físico, a cessação dos hábitos tabágicos e a diminuição do consumo de bebidas alcoólicas são recomendações que contribuem igualmente para a boa saúde dos ossos. ANA PIMENTA MARTINS apimenta@porto.ucp.pt A entrevista deste mês traz-nos o testemunho de Cátia Sousa, uma jovem celíaca. Cátia, como soube e quando que é celíaca? Fui diagnosticada com 18 anos, embora se tenha pensado que poderia ter doença celíaca pouco depois do meu 15º aniversário. Desde pequena que sempre fui muito doente. Ainda com poucas semanas, tive vários internamentos com todo o tipo de infeções (amigdalites, otites, faringites) e na minha infância tive todas as doenças típicas - meningite, varicela, papeira, sarampo, etc. Sempre tive tam- bém vários problemas gastroin- testinais que sempre foram asso- ciados pelos médicos à grande quantidade de antibióticos e anti -inflamatórios que tomava cons- tantemente. Felizmente, sempre fui uma criança com excelente apetite, o que me ajudou a não ter atraso de crescimento. Aos 15 anos tive uma anemia muito grave, associada a dores fortes de estômago, articulares, problemas de pele (lesões diag- nosticadas como síndroma de Sweet), dormência das mãos, pés e face, espasmos musculares e movimentos involuntários. As aná- lises sanguíneas que fiz mostra- ram malnutrição com falta de todos os iões essenciais e desi- dratação. O hematologista que me seguia desconfiou de doença celíaca, mas com serologia nega- tiva abandonámos a ideia. Os sintomas foram sempre piorando e a anemia não melhorou com nenhum dos tratamentos. Um ano mais tarde fui internada na medicina interna e foi-me diagnosticada osteoporose gra- ve. Finalmente, aos 18 anos, voltou a pensar-se na doença celíaca como possibilidade e fiz endosco- pia digestiva alta com biópsia que confirmou o diagnóstico. Como recebeu a notícia? Alte- rou na altura a sua perspectiva da vida? Como lidou com a dieta e o ensino? Quando recebi a notícia, ninguém sabia muito sobre a doença e sobre a dieta, pelo que não tinha verdadeira consciência da mudança que traria para a minha vida. Fui aprendendo e, no princípio, estando eu a iniciar a faculdade e a mudar para outra cidade, a começar a viver sozi- nha, não foi fácil gerir a mudan- ça. E atualmente como melhorou a sua saúde? Sinto melhoras e acredito que, se fosse o meu único problema de saúde, me sentiria completamen- te saudável. A osteoporose ficou até hoje e com agravamento. Já fiz uma fratura vertebral e, há poucos meses, duas na grelha costal enquanto dormia. Ou seja, são fraturas patológicas. Como é lidar com uma profis- são exigente em termos de via- gens e almoços fora? Todas as minhas viagens têm de ser muito bem planeadas e pen- sadas com a maior antecedência. Procuro hotéis e outros alojamen- tos onde tenham menus sem glú- ten ou então onde me seja possí- vel levar a minha comida e pre- parar o pequeno-almoço. Fora destes, tenho o cuidado de tra- zer sempre algo para comer NUTRIÇÃO (Cont.) comigo. Habitualmente, no meu dia-a-dia profissional, levo as minhas refeições de casa comi- go. E quando à vida social? Acha- se limitada? Que estratégias usa para ultrapassar obstácu- los? Tento que não o seja, mas acaba sempre por ser mais limitada que a vida social de um não celíaco. Por muito importante que seja o convívio com os amigos, nada supera a importância de cumprir a dieta. Que conselho dá a quem foi recen- temente diagnosti- cado? O nosso bem estar e saúde são um bem demasiado precioso para ser posto em risco pelo que comemos. Abandonar o glúten deve ser visto como um meio de ganhar saúde e iniciar um conjunto enorme de "ações saudáveis" na nossa vida. ENTREVISTA Quadro 1 – Teores de cálcio em diferentes alimentos Alimento Porção Cálcio (mg) Leite gordo Leite meio-gordo Leite magro Iogurte magro, natural Iogurte magro, fruta Natas Queijo, tipo cheddar Queijo, cottage Queijo, mozzarella Queijo, Camembert 236 ml 236 ml 236 ml 150 g 150 g 15 g 40 g 112 g 28 g 40 g 278 283 288 243 210 13 296 142 101 94 Tofu, ao vapor Bebida de soja Bebida de soja, enriquecida em cálcio 100 g 236 ml 236 ml 510 31 210 Brócolos, cozinhados 112 g 45 Damascos secos Laranja, sem casca Figos 160 g 160 g 220 g 117 75 506 Amêndoas Nozes 26 g 20 g 62 34 Sardinhas, enlatadas em óleo 100 g 500 Quadro 2 – Teores aproximados de vitamina D em diferentes alimentos Alimento µg por porção UI por porção Óleo de fígado de bacalhau, 1 colher de sopa Salmão, grelhado, 100g Cavala, grelhada, 100g Sardinhas enlatadas (com espinhas), 100g Margarina, fortificada, 20g Ovo, tamanho médio, 50g Fígado, carneiro, frito, 100g 23,1 7,1 8,8 4,6 1,6 0,9 0,9 924 284 352 184 62 36 36 Fonte Quadro 2: Food Standards Agency (2002). McCance and Widdowson’s: The Composition of Foods, Sixth summary edition. Cambridge: Royal Society of Chemistry Fonte Quadro 1: Food Standards Agency (2002). McCance and Widdowson’s: The Composition of Foods, Sixth summary edition. Cambridge: Royal Society of Chemistry
  • 4. 4 Preparação: Retire os Wraps do invólucro. Numa frigideira aqueça-os duran- te uns minutos, de um lado e de outro, de modo a ficarem moldá- veis e não partirem quando os enrolar. Retire-os da frigideira e deixe arrefecer um pouco. Corte umas fatias finas de berin- gela e aqueça-as noutra frigidei- Mini Wraps de Salmão Lipita Sem Glúten partilha con- nosco uma receita ligeira com salmão rico em vitamina D. Bom apetite! Ingredientes: Wraps isentos de glúten ( Schär); Beringela, queijo creme, salmão fumado; orégãos; manjericão ra à parte. Barre os Wraps com queijo creme e recheie com salmão fumado, orégãos e manjericão. Parta em duas metades, como se fosse uma pizza e faça dois rolos. Desses dois rolos parta-os em vários, mais pequenos, e una com um palito. Sirva com salada de rúcula. Newsletter RECEITA DO MÊS Celíaca com 2000 anos! Se hoje em dia é difícil ser-se celíaco, num mun- do rodeado de informação e crescentes alternativas alimenta- res isentas de glúten, o que diriam e fariam os celíacos há 2000 anos atrás?! Foi descoberto um esqueleto de uma mulher, com 2000 anos, em escavações arqueológicas de Cosa, na costa da Toscana em Itália, que, muito provavelmente, teria doença celíaca. A economia de Roma nessa altura não era próspera e dependia principal- mente do cultivo de trigo e de azeitona. Foram encontradas joias de bronze e ouro no seu túmulo pelo que os arqueólogos concluíram que seria relativa- mente rica, de classe social alta e com acesso a muita comida. Terá morrido entre os 18 e os 20 anos de idade. Tinha baixa esta- tura (1,40 metro- por atraso de crescimento?), osteoporose (por má absorção, inflamação crónica intestinal?), hipoplasia do esmal- te dentário, “cibra orbita- lia” (poros nos ossos das orbitas e crânio causados por anemia ferropénica) e mal nutrição. Ora, estas condições não seriam de esperar dada a sua classe social abastada. São, no entanto, con- sequências de doença celíaca não tratada pela má absorção de nutrientes devido às lesões do duodeno provocadas pela inges- tão de glúten. O estudo genético do seu ADN a partir do osso e dentes revelou que tinha o genótipo HLA DQ 2.5 de alto risco para o desen- volvimento de doença celíaca. A análise dos níveis de nitrogé- nio e de carbono dos seus ossos comparativamente a outros datados da mesma altura reve- lou que, durante a sua vida, alterou os seus hábitos alimenta- res. Terá consumido preferencial- mente carne e peixe nos seus últimos anos de vida. Sendo que residia numa região em que o consumo de vegetais (como o trigo) predominava terá realiza- do esta alteração na sua dieta por ter sintomas relacionados com a ingestão de trigo? Terá esta mulher alterado de facto os seus hábitos alimentares de modo a se proteger inconsciente- mente dos sintomas causados pela ingestão de trigo / glúten? Os dados antropomórficos e genéticos permitem-nos especu- lar que esta mulher teria doença celíaca tal como pela primeira vez descrito pelo médico Areteus da Capadócia no ano 200 da era cristã. Este denominou o quadro clínico de koiliakos, do grego koelia (abdómen). Estes dados vêm reforçar a ideia de que a doença celíaca existe desde longa data, talvez desde a introdução do trigo na alimen- tação humana. ANA PIMENTA Gasbarrini, G. et al. World J. Gas- troenterol. 18, 5300–5304 (2012). Scorrano, G. et al. Am. J. Phys. An- thropol. http://dx.doi.org/10.1002/ ajpa.22517 (2014). Grãos e farinhas sem glúten Já conhecem tapioca? Tapioca ou beiju, como muitos lhe cha- mam, trata-se de um alimento com origem indígena e muito apreciado no nordeste brasileiro. É um alimento naturalmente livre de glúten, sal e gordura. A tapioca é um produto granulado que se obtém através da trans- formação da fécula de mandioca em goma. A sua base feita a partir da man- dioca, uma espécie de planta tuberosa natural da América, foi imprescindível na alimentação indígena durante muito tempo. Com a necessidade de começar a cozinhá-la no fogo, os coloniza- dores portugueses descobrem rapidamente que a tapioca seria um ótimo substituto do pão. Esta brilhante descoberta depressa se espalhou pela restante população e pelos povos indígenas. Hoje, a tapioca é um dos símbolos mais tradicionais da cozinha brasileira, sendo cozinhada na frigideira e acabando no prato sob a forma de crepe, doce ou salgado, ou sob a forma de pizza. Já imagi- naram comer uma pizza com metade das calorias? Ou um docinho preparado em segundos? Pois é! A tapioca é super versátil, permitindo-nos cozinhar pratos rápidos, pouco calóricos e sem o temível glúten! O facto de ser à base de polvilho e água, torna-a num alimento leve, que tanto pode ser consumido ao pequeno- almoço substituindo o pão a que estamos habituados, ou num lan- che doce e até como uma refei- ção salgada. Claro que também a podemos usar misturada com outras farinhas, num bolo ou num pão sem glúten. As opções são diversas… Muitos nutricionistas dizem ser um bom “combustível para quem pratica exercício”. Sendo rapida- mente absorvida pelo corpo humano após o esforço físico, é uma excelente alternativa às refeições, antes e depois do trei- no. Logo após o exercício repõe as energias bem depressa! A tapioca existe no Brasil, já pronta a usar, isto quer dizer que não tem de ser hidratada antes. Explicando melhor, a farinha granulada que se encontra em Portugal, da marca GLOBO, precisa de ser deixada em água algum tempo até que absorva parte dessa água e ganhe a forma “plástica”. Bem, se não encontrar estes pacotinhos, não há problema algum, porque con- seguimos fazê-la em casa com fécula de mandioca, que pode ser um polvilho doce ou azedo, tanto faz! O polvilho é a goma seca que serve para fazer tapio- ca quando humedecida. O pro- cesso é igual! Coloquem o polvi- lho debaixo de água e deixem- no no frigorífico por algum tem- po. Vão perceber que absorveu parte da água, deixando alguma em excesso, que podem deitar fora. O vosso polvilho ficou agar- rado ao vosso recipiente? Sim, é isso mesmo! Retirem-no com as mãos e vão esfarelando com os dedos, até obterem um género de farinha de coco. Se não conse- guirem passem os bocadinhos maiores pelo passador de rede. A vossa tapioca está pronta a usar, a partir de agora é muito simples. Basta espalhá-la numa frigideira aquecida, e rapida- mente se coagula, transformando- se em crepe. O passo seguinte é rechear ao vosso gosto. Imaginem recheado com banana e canela ou Nutella? Ou experimentem um crepe salgado recheado com frango, tomate e mozarela….É só escolher e puxar pela imagina- ção, ao gosto de cada um! Podem criar diversos e saborosos pratos capazes de fazer crescer água na boca! LIPITA SEM GLÚTEN INFO & DICAS