As gigantes petrolíferas Shell e BP desistiram da exploração de gás de folhelhos nos EUA, devido a prejuízos superiores a US$ 3 bilhões causados por reservas superestimadas e rápido esgotamento dos poços. Executivos dessas empresas reconheceram que os investimentos nesse setor não atingiram as expectativas e provavelmente não serão economicamente viáveis no longo prazo.
Gigantes petroleiras desistem do gás de folhelhos nos eua
1. Gigantes petroleiras desistem do gás de folhelhos nos EUA
Postado por Husc em 8 novembro, 2013 · Deixe seu comentário
Em iniciativas que devem servir para arrefecer o entusiasmo com as
perspectivas do setor, as empresas petrolíferas Royal Dutch Shell e
BP estão encerrando as suas atividades de exploração do gás de
folhelhos (shale gas) nos EUA. Os motivos, conforme já foi discutido
anteriormente neste boletim, são reservas superestimadas e um
rápido esgotamento de muitos poços, devido a problemas da
tecnologia de exploração – para não mencionar os graves problemas
ambientais. As consequências foram prejuízos superiores a 3 bilhões
de dólares, para as duas gigantes.
Em entrevista ao jornal Financial Times, o executivo-chefe da Shell,
Peter Voser, afirmou que a aposta maciça da empresa nos folhelhos
estadunidenses será um dos maiores arrependimentos do seu
mandato, que se encerra ao final do ano. Segundo ele, a Shell
investiu mais de 24 bilhões de dólares no chamado gás nãoconvencional na América do Norte, empreitada que, em suas
palavras, “não saiu exatamente como planejado”. Em agosto, depois
de perfurar quase 200 poços cuja produção não atingiu os níveis
esperados, a empresa anunciou uma depreciação de 2,1 bilhões de
dólares nos seus ativos de folhelhos. Com isto, a intenção é livrar-se
deles o mais rapidamente possível (Financial Times, 6/10/2013).
Por sua vez, a BP e a BP Group anunciaram prejuízos conjuntos de
2,3 bilhões de dólares, enquanto a canadense EcCana Company
perdeu 2 bilhões de dólares (The Voice of Russia, 2/10/2013).
O analista-chefe da consultora UNIVER Capital Company, Dmitry
Alexandrov, é categórico:
O surto de interesse no gás de folhelhos está claramente encerrado.
Devido aos problemas do orçamento nos EUA, as companhias de
produção de gás de folhelhos não devem esperar conseguir mais
financiamento. Portanto, os depósitos de gás de folhelhos não são
mais financeiramente atrativos. E, finalmente, os sítios que tinham
custos favoráveis têm sido esgotados. Então, para levar adiante a
produção de gás, ou eles têm que recorrer a um monte de
perfurações adicionais ou questionar a produção de gás existente.
Se a implementação do orçamento for suave, muito provavelmente, a
produção de gás começará a crescer novamente, mas não tão
rapidamente que garanta exportações de gás, apenas para abastecer
o mercado interno. Eu estou confiante de que os EUA não irão
procurar reduzir os preços mundiais do gás nos próximos anos,
devido à política estadunidense de reindustrialização. Não há como
vender o seu próprio gás de folhelhos barato, seja para a Europa ou a
Ásia.
2. Segundo Alexandrov, a maioria dos especialistas acredita que, na
melhor das hipóteses, a produção de gás de folhelhos manterá os
níveis do pico atingido em 2011.
Outro especialista, o diretor-geral da Fundação Nacional de
Segurança Energética russa, Konstantin Simonov, adverte que países
que têm apostado nos folhelhos, como a Polônia e a Ucrânia,
deveriam prestar atenção à experiência estadunidense:
A Polônia perfurou um poço de gás de folhelhos no ano passado e o
batizou como “Chama de esperança”. Mas a situação do projeto está
piorando, em termos comerciais. O projeto não é econômico e as
empresas estrangeiras, como a ExxonMobil, já começaram a se
retirar dele. A situação é bastante parecida na Ucrânia, que pode,
certamente, esperar alguns progressos técnicos, mas o seu projeto
de gás de folhelhos, dificilmente, será um sucesso comercial, pelo
menos não nos próximos dez anos.
A Ucrânia pretende iniciar a produção de gás de folhelhos em 2015,
mas o Ministério de Energia e da Indústria de Carvão do país já
anunciou que os custos de produção não serão conhecidos antes de
dois anos, o que coloca ainda mais dúvidas sobre as perspectivas de
que a produção não-convencional possa vir a contribuir
significativamente para a redução da grande dependência das
importações de gás da Rússia (expectativa compartilhada pela
Polônia).
Curiosamente, o governo ucraniano acaba de anunciar um acordo
para a exploração de gás natural convencional na costa do Mar
Negro, com um consórcio internacional encabeçado pela Shell e a
ExxonMobil (AFP, 26/09/2013).
No início de 2012, outra gigante petrolífera, a Chevron, já havia
abandonado a exploração dos folhelhos nos EUA, por motivos
semelhantes aos agora alegados pelas suas “irmãs”.
Nesse contexto, é no mínimo curioso que, enquanto as gigantes
anglo-americanas (cuja ausência quase total no leilão do campo de
Libra do pré-sal brasileiro foi tão lamentada) se retiram do setor, a
Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já
fale em licitar a exploração dos folhelhos brasileiros. Em face das
circunstâncias, é no mínimo medida de prudência aguardar um pouco
mais pelo amadurecimento e a consolidação – ou não – da exploração
dos hidrocarbonetos de folhelhos, para se decidir a liberá-la no País.