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O Dia do 
Julgamento 
Lucas Zanella
Às vezes, Peter odiava estar certo. 
Naquele dia em questão, odiou ter falado “É, 
até que pode ser!”. Por que não podia simplesmente 
ter falado “Talvez seja apenas um helicóptero”? 
Claro, ter falado em um helicóptero em vez 
de um disco voador não teria mudado o que 
acontecera depois. Era por volta da meia-noite, sua 
aula acabara havia algum tempo, mas ele demorava 
demais para chegar em casa. 
Tirou do rosto o cabelo preto que o 
incomodava os olhos e pôs o fone no ouvido. Colocou 
Sweet Child O’ Mine para tocar e andava 
despreocupado. Ou pelo menos tão despreocupado 
quanto se podia andar naquela cidade. Na mochila 
azul escura nas costas, seu computador. 
A cidade em si já era famosa por roubos 
durante o dia, e durante a noite, então... 
Tirou do bolso o celular apenas para 
responder a mensagem que a namorada o enviara.
Disse que estava logo chegando em casa. O player já 
avançara para a próxima música do álbum que 
comprara. 
Enquanto a música tocava no fundo de sua 
mente, ele tentava fixar os conteúdos aprendidos no 
dia em seu cérebro. Ele certamente não entendia nada 
de álgebra linear, mas teria uma prova na próxima 
semana... 
Andava pela calçada e não havia muitos 
postes de luz por perto, mas isso não o preocupou. A 
casa ao lado possuía uma cerca verde e a casa era 
branca. O quintal era belo e não havia nenhum sinal 
de vida dentro dela. 
Já é muito tarde , ele finalmente percebeu, 
todos devem estar dormindo . 
O garoto de pouco mais de vinte anos não 
era o mais inteligente de sua classe, mas com certeza 
era o mais esforçado. 
Na hora de fazer um trabalho em grupo, era
o que incentivava os outros a trabalharem, mas ele 
mesmo não trabalhava. Não que não quisesse, ele 
apenas não conseguia. 
Como se houvesse uma força maligna o 
fazendo não estudar. Ele queria estudar, sempre quis, 
mas... 
- Como é que falam? Querer não é poder?! - 
disse ele enquanto olhava os dois lados da rua antes de 
atravessá-la, apenas por costume, pois sabia que não 
vinha ninguém. 
Daquele novo lado da rua, andava ao lado de 
uma casa aterrorizante e que certamente estava 
abandonada, pois somente as janelas possuíam mais 
teias de aranha do que uma aranha produzia em toda a 
sua vida. Do outro lado da rua, o primeiro poste de luz 
apareceu após quase um quilômetro de passos rápidos. 
Não era a avenida, então não era exatamente 
um “poste de luz”, mas sim um pedaço de metal com 
uma lâmpada em cima. Peter pensou que um lampião
teria ficado mais bonito, e depois de refletir sobre o 
pensamento, percebeu que realmente teria ficado. 
Ele sentiu um calafrio e teve um arrepio por conta 
disso. Odiava calafrios, eles lhe davam calafrios! 
Olhou para o céu por um momento e soltou 
um longo suspiro. Ficara na escola por pouco mais de 
sete horas - precisava ir antes das aulas começarem 
porque ajudava na biblioteca - e já estava com 
saudades de Ana. A luz no mini-poste do outro lado 
começou a cintilar e soltou um grito alto no início, 
então ficou mais baixo, mas o barulho continuava. 
Devia ser um mal contato nos fios internos. 
Por um momento, Peter levou um susto. 
Olhou com rapidez para o poste e seus olhos o traíram 
fazendo-o ver um vulto atrás dele. Deu dois passos 
para trás e bateu no muro que cercava a casa esquisita. 
Assustou-se novamente, pois não havia percebido o 
muro antes.
- Que droga, Peter, recomponha-se - 
suspirou e voltou a andar. 
Outra mensagem, essa um pouco mais 
preocupada. Ana já começara a temer que o namorado 
fora assaltado ou coisa pior. Graças a Deus, não. Foi o 
que respondeu. Ele estava acostumado a falar daquilo, 
mas não era religioso. A namorada, sim. 
O casal improvável , era o que os amigos 
diziam quando os dois estavam juntos. 
Sempre perguntavam como era possível 
duas pessoas com visões religiosas diferentes 
continuarem juntas após tanto tempo. 
- Se você não quer discutir sobre política, 
não fale sobre política! - era o que ele dizia, e era 
verdade. Em todos os anos de namoro, nunca falaram 
sobre religião. Para ele, esse era o segredo da 
felicidade: se não quer perder o namoro porque torce 
para um time e ela pra outro, nunca assistam a um 
jogo de futebol juntos.
O calafrio voltou, e trouxe o irmão junto. Estava em 
outra esquina, foi quando pensou que tivesse outro 
poste de luz sobre ele, pois tudo ficara iluminado. 
Retirou o fone dos ouvidos e olhou para 
cima, protegendo os olhos. 
- Que diabos? - ele disse para a luz clara 
acima dele. - Será que... É, até que pode ser! Nunca 
devemos descartar essa possibilidade - e soltou um 
riso leve. 
A luz começou a crescer, e ele começou a 
temê-la. 
- Que droga, Peter, recomponha-se - repetiu 
para si, mas depois percebeu que devia sim temer a 
luz. 
Quando tirou as mãos dos olhos, percebeu 
que tudo continuava branco, mas que não estava na 
rua sendo iluminado por uma luz divina. Estava 
dentro de algum lugar que não sabia onde era. O lugar 
era enorme, e a fonte da luz não parecia, a princípio,
ser tão grande. Justamente por isso agora estava 
considerando que poderia muito bem ter sido um 
helicóptero voando extremamente baixo. 
Será que é maior por dentro? Perguntou-se 
e depois riu sobre a ideia. Não, isso é impossível até 
mesmo para eles, com certeza! 
- Ahem - ouviu o pigarro de alguém 
irritado. Virou para trás e viu um humanoide (na 
verdade, parecia humano) olhando para ele com olhos 
irritados, como se estivesse querendo que o expediente 
acabasse e pudesse ir para casa. - Aproxime-se! 
Ele obedeceu, parte por maravilha pelo que 
estava acontecendo e parte por conta do medo que 
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- Nome? - ele disse ao puxar um papel que 
se parecia com um formulário. 
- Hã... Peter Gollman - o homem de 
cabelos castanhos e roubas brancas anotou no papel. 
Estava sentado numa escrivaninha.
- Sexo? 
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- Na... Solteiro! - lembrou-se de que 
namoro não era exatamente considerado um estado 
civil, pelo menos não naquele planeta. 
- Muito bem, senhor Gollman. Agora, se o 
senhor pudesse assinar aqui - virou a folha - e aqui. 
Apenas questões legais. 
- Claro - não fazia Direito, então assinou 
sem ler, embora não fosse preciso. 
- Ok, ok, muito obrigado. O senhor pode 
passar e falar com o nosso líder, ele está logo atrás 
daquela porta! - apontou para o fim do corredor 
branco e pôs o formulário num envelope pardo. 
- Hã... ok! - estava surpreendentemente 
calmo com a situação, isso ele notou, mas não ficou
surpreso. Após tantas pesquisas sobre o assunto, tanto 
para a faculdade quanto pessoais, se tivesse ficado 
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Ele andou o longo corredor branco - cheio 
de armários de arquivos dos dois lados - e seus tênis 
faziam um pequeno barulho ao andar. Ele achou 
aquilo um pouco irritante, mas não fez nada a respeito 
- não achou que tirar os sapatos seria muito educado, 
afinal, eles eram alienígenas, não japoneses. 
Se bem que... 
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Quando ia bater a porta do suposto líder, ela 
se abriu, exatamente como quando uma casa mal-assombrada 
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- Entre - uma voz marcante falou. - E feche 
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- Isto aí! - ele se virou na poltrona, também 
branca, estava atrás de um holograma que mostrava 
milhões de informações por segundo. 
Peter não pôde o ver direito por conta de 
todas as imagens e escritas, mas o homem parecia ser 
pálido e ter a cabeça raspada. Deveria estar usando 
uma gravata rosa claro com listras diagonais rosa 
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É, bem descritivo para alguém que não 
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- Quem é você? - perguntou. 
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umas pedras maneiras pra cá! 
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- Vocês tem robôs aqui? - pareceu surpreso 
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- Digamos que... não existem assim tantos 
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cinco bilhões, todos são humaníssimos. 
- Mas a gente tem muito mais do que 
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líder de vocês, mas não o encontramos! - informou e 
começou a mexer o dedo no ar, controlando o 
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achavam que era nosso líder? 
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pessoa que vimos. Feliz agora? 
- Na verdade, um pouco triste, nós 
provavelmente não temos um líder para o planeta. 
Temos líderes para os países, mas nada para todos eles 
ao mesmo tempo... 
- Viu só? É exatamente por isso que lá nós 
temos os países, mas então temos uma associação que 
designa um líder para o mundo. Assim estamos 
seguros, sabe, se um OVNI cai num país com um 
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planeta ao mandar os ET’s se foderem. 
- E essa associação escolheu você para ser o 
líder do país? - perguntou.
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agarrado o paletó e o ajeitado. 
O bonzão , pensou Peter. 
- Huh. Bom, desculpe se eu estiver 
parecendo um pouco rude, mas... o que vocês querem 
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- Ah. Sim... Nós estamos fazendo uma 
limpa, destruindo alguns planetas desabitados, 
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Passamos por Plutão e o pessoal lá disse que nós não 
deveríamos destruí-los. 
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- Ah, sim, eu estou agora acessando a sua... 
Inter.. Inter... Net. É, esse é o nome que vocês deram. 
Meio esquisito, mas tudo bem, acabei de ver a matéria 
em um site de ciências. Os plutonianos também 
sabiam disso, disseram que até mesmo estão em guerra 
com vocês por conta disso!
- Bom, nós ainda não fomos atacados, não 
que eu saiba! - tentou se lembrar de algo impossível. 
- Eles não são assim tão evoluídos, mas eu 
tomaria cuidado! 
- Obrigado pela dica! 
O líder sentou-se na poltrona e abriu 
algumas pastas no holograma. 
- Vocês são... Terra. Nomezinho capenga, 
não? Se eu fosse vocês, teria pego o nome de Júpiter 
pra esse aqui e dado Terra para aquele. Terra... Terra... 
Terra... Ah, vejo que nem mesmo seria necessário te 
chamar aqui, garoto, já tenho o veredito final aqui. Se 
eu fosse você, protegeria os olhos quando voltar lá 
embaixo, a explosão pode te deixar cego - e pensou por 
um momento, depois riu. - Não que isso vá importar, 
né? Você vai encontrar Muhajick logo, logo. Ops, 
desculpe... É... Deus. Não, Alá. Não, Zeus. Não, Buda. 
Não.. Uau, vocês realmente não se decidiram, não é? 
- É... Espera. Você vai nos explodir?
- Claro. Estamos tirando daqui os planetas 
inúteis! 
- Mas nós não somos inúteis, e nem 
desabitados, como você pode ver.. Temos sete bilhões. 
Ah, cinco bilhões de humanos lá embaixo! 
- Eu sei, eu sei. Mas se você pensar pelo 
meu lado... Aqui - ele colocou para Peter algumas 
imagens da pasta Terra-5b . O garoto as viu no 
holograma. 
“Como você pode ver, não andam cuidando 
muito bem do planeta de vocês... Eu não daria muitos 
anos pra esse galo velho, não. O oxigênio vai acabar 
muito logo, pois, se você der uma olhada nessa 
imagem aqui, já não tem muitas árvores como 
antigamente, quando viemos pela primeira vez. Não 
eu, claro, mas a minha civilização. Ei, olha aqui... 
Vocês nem tinham saído da água ainda! 
“E também nessa planilha aqui você pode 
ver que há muitas mortes ocorrendo nessa Terra. Sério,
cara, quem é o retardado que mata um dos seus? Se 
tivessem matado alguns dos robôs a gente até 
entenderia, é que vocês ainda são primitivos, então 
estariam com medo, mas olha... São pessoas como 
vocês! Humaníssimos. 
“E olha esse período aqui. Sabe o que a 
gente fez quando queríamos que outros fizessem algo 
por nós? A gente criou robôs. Naquela época eles 
ainda eram quase nada, agora eles pensam e tem 
emoções, a gente evoluiu, claro. Mas olha vocês... 
Usando outros humanos pra cumprir o trabalho 
pesado! A gente podia até ter robôs, mas eles eram 
mais companheiros do que escravos! 
“Sabe quanto tempo durou a discussão sobre 
os direitos dos robôs lá no meu planeta? Três dias e 
todo mundo entrou em acordo, vocês tão nessa há 
décadas! Hoje os robôs ganham o mesmo salário que 
nós e podem casar, namorar ou qualquer outra coisa 
com quem quiserem, seja o parceiro um robô ou não.
“Ah, me lembro como se fosse hoje a nossa 
época de idiotas, achando que podíamos julgar os 
robôs. Sabe, vou até confessar, eu era um desses que 
não queria que os robôs tivessem o direito de se casar 
com um de nós, mas então saí dessa nuvem de 
ignorância e percebi que isso não atrapalha em nada 
na minha vida!” 
- Mas.. É que... Não, mas... Mesmo assim, 
vocês... Vocês não podem nos destruir só por conta 
disso, há pessoas que não são como essas aqui na Terra, 
eu te garanto! 
- Claro que há, mas essas são poucas, e 
acabam quase sempre sendo mortas ao defender os 
outros... Clássico movimento de primitivos! 
- Não podem nos matar apenas porque 
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afastou os olhos. 
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demos antes, apenas porque vocês ainda não são muito 
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pode ter certeza. E se voltarmos ainda no seu tempo, 
me certificarei de que você seja chamado! 
- Obrigado, líder! - Peter disse e desejou ter 
um líder como aquele em seu planeta. 
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novamente. 
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- Vocês não sabem, é aí que está a 
pegadinha. Melhor começar a cuidar bem do planeta e 
uns dos outros logo, pois pode ser amanhã, ou depois...
Ele continuou falando. Peter cobriu os olhos 
por conta da luz que voltara. A voz do líder começou a 
ficar afastada. 
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estava de volta na rua. Continuou andando rumo a sua 
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  • 1. O Dia do Julgamento Lucas Zanella
  • 2. Às vezes, Peter odiava estar certo. Naquele dia em questão, odiou ter falado “É, até que pode ser!”. Por que não podia simplesmente ter falado “Talvez seja apenas um helicóptero”? Claro, ter falado em um helicóptero em vez de um disco voador não teria mudado o que acontecera depois. Era por volta da meia-noite, sua aula acabara havia algum tempo, mas ele demorava demais para chegar em casa. Tirou do rosto o cabelo preto que o incomodava os olhos e pôs o fone no ouvido. Colocou Sweet Child O’ Mine para tocar e andava despreocupado. Ou pelo menos tão despreocupado quanto se podia andar naquela cidade. Na mochila azul escura nas costas, seu computador. A cidade em si já era famosa por roubos durante o dia, e durante a noite, então... Tirou do bolso o celular apenas para responder a mensagem que a namorada o enviara.
  • 3. Disse que estava logo chegando em casa. O player já avançara para a próxima música do álbum que comprara. Enquanto a música tocava no fundo de sua mente, ele tentava fixar os conteúdos aprendidos no dia em seu cérebro. Ele certamente não entendia nada de álgebra linear, mas teria uma prova na próxima semana... Andava pela calçada e não havia muitos postes de luz por perto, mas isso não o preocupou. A casa ao lado possuía uma cerca verde e a casa era branca. O quintal era belo e não havia nenhum sinal de vida dentro dela. Já é muito tarde , ele finalmente percebeu, todos devem estar dormindo . O garoto de pouco mais de vinte anos não era o mais inteligente de sua classe, mas com certeza era o mais esforçado. Na hora de fazer um trabalho em grupo, era
  • 4. o que incentivava os outros a trabalharem, mas ele mesmo não trabalhava. Não que não quisesse, ele apenas não conseguia. Como se houvesse uma força maligna o fazendo não estudar. Ele queria estudar, sempre quis, mas... - Como é que falam? Querer não é poder?! - disse ele enquanto olhava os dois lados da rua antes de atravessá-la, apenas por costume, pois sabia que não vinha ninguém. Daquele novo lado da rua, andava ao lado de uma casa aterrorizante e que certamente estava abandonada, pois somente as janelas possuíam mais teias de aranha do que uma aranha produzia em toda a sua vida. Do outro lado da rua, o primeiro poste de luz apareceu após quase um quilômetro de passos rápidos. Não era a avenida, então não era exatamente um “poste de luz”, mas sim um pedaço de metal com uma lâmpada em cima. Peter pensou que um lampião
  • 5. teria ficado mais bonito, e depois de refletir sobre o pensamento, percebeu que realmente teria ficado. Ele sentiu um calafrio e teve um arrepio por conta disso. Odiava calafrios, eles lhe davam calafrios! Olhou para o céu por um momento e soltou um longo suspiro. Ficara na escola por pouco mais de sete horas - precisava ir antes das aulas começarem porque ajudava na biblioteca - e já estava com saudades de Ana. A luz no mini-poste do outro lado começou a cintilar e soltou um grito alto no início, então ficou mais baixo, mas o barulho continuava. Devia ser um mal contato nos fios internos. Por um momento, Peter levou um susto. Olhou com rapidez para o poste e seus olhos o traíram fazendo-o ver um vulto atrás dele. Deu dois passos para trás e bateu no muro que cercava a casa esquisita. Assustou-se novamente, pois não havia percebido o muro antes.
  • 6. - Que droga, Peter, recomponha-se - suspirou e voltou a andar. Outra mensagem, essa um pouco mais preocupada. Ana já começara a temer que o namorado fora assaltado ou coisa pior. Graças a Deus, não. Foi o que respondeu. Ele estava acostumado a falar daquilo, mas não era religioso. A namorada, sim. O casal improvável , era o que os amigos diziam quando os dois estavam juntos. Sempre perguntavam como era possível duas pessoas com visões religiosas diferentes continuarem juntas após tanto tempo. - Se você não quer discutir sobre política, não fale sobre política! - era o que ele dizia, e era verdade. Em todos os anos de namoro, nunca falaram sobre religião. Para ele, esse era o segredo da felicidade: se não quer perder o namoro porque torce para um time e ela pra outro, nunca assistam a um jogo de futebol juntos.
  • 7. O calafrio voltou, e trouxe o irmão junto. Estava em outra esquina, foi quando pensou que tivesse outro poste de luz sobre ele, pois tudo ficara iluminado. Retirou o fone dos ouvidos e olhou para cima, protegendo os olhos. - Que diabos? - ele disse para a luz clara acima dele. - Será que... É, até que pode ser! Nunca devemos descartar essa possibilidade - e soltou um riso leve. A luz começou a crescer, e ele começou a temê-la. - Que droga, Peter, recomponha-se - repetiu para si, mas depois percebeu que devia sim temer a luz. Quando tirou as mãos dos olhos, percebeu que tudo continuava branco, mas que não estava na rua sendo iluminado por uma luz divina. Estava dentro de algum lugar que não sabia onde era. O lugar era enorme, e a fonte da luz não parecia, a princípio,
  • 8. ser tão grande. Justamente por isso agora estava considerando que poderia muito bem ter sido um helicóptero voando extremamente baixo. Será que é maior por dentro? Perguntou-se e depois riu sobre a ideia. Não, isso é impossível até mesmo para eles, com certeza! - Ahem - ouviu o pigarro de alguém irritado. Virou para trás e viu um humanoide (na verdade, parecia humano) olhando para ele com olhos irritados, como se estivesse querendo que o expediente acabasse e pudesse ir para casa. - Aproxime-se! Ele obedeceu, parte por maravilha pelo que estava acontecendo e parte por conta do medo que começara a sentir. - Nome? - ele disse ao puxar um papel que se parecia com um formulário. - Hã... Peter Gollman - o homem de cabelos castanhos e roubas brancas anotou no papel. Estava sentado numa escrivaninha.
  • 9. - Sexo? - Masculino. - Profissão? - Estudante. - Estado civil? - Na... Solteiro! - lembrou-se de que namoro não era exatamente considerado um estado civil, pelo menos não naquele planeta. - Muito bem, senhor Gollman. Agora, se o senhor pudesse assinar aqui - virou a folha - e aqui. Apenas questões legais. - Claro - não fazia Direito, então assinou sem ler, embora não fosse preciso. - Ok, ok, muito obrigado. O senhor pode passar e falar com o nosso líder, ele está logo atrás daquela porta! - apontou para o fim do corredor branco e pôs o formulário num envelope pardo. - Hã... ok! - estava surpreendentemente calmo com a situação, isso ele notou, mas não ficou
  • 10. surpreso. Após tantas pesquisas sobre o assunto, tanto para a faculdade quanto pessoais, se tivesse ficado surpreso, aí sim seria uma surpresa. Ele andou o longo corredor branco - cheio de armários de arquivos dos dois lados - e seus tênis faziam um pequeno barulho ao andar. Ele achou aquilo um pouco irritante, mas não fez nada a respeito - não achou que tirar os sapatos seria muito educado, afinal, eles eram alienígenas, não japoneses. Se bem que... - Não, aquele cara não parece ser japonês! - falou e olhou para o primeiro que lhe atendeu. Quando ia bater a porta do suposto líder, ela se abriu, exatamente como quando uma casa mal-assombrada abre quando você está prestes a bater a porta. - Entre - uma voz marcante falou. - E feche a porta atrás de si! Ele o fez.
  • 11. - Hã... Você que é o líder? - Isto aí! - ele se virou na poltrona, também branca, estava atrás de um holograma que mostrava milhões de informações por segundo. Peter não pôde o ver direito por conta de todas as imagens e escritas, mas o homem parecia ser pálido e ter a cabeça raspada. Deveria estar usando uma gravata rosa claro com listras diagonais rosa fortes e um paletó claro. É, bem descritivo para alguém que não conseguia ver direito, mas esse era o superpoder de Peter. Não que fosse adiantar alguma coisa caso os alienígenas resolvessem o atacar, mas... - Quem é você? - perguntou. - O líder, você não ouviu? - Não, digo... quem é você? - Ah. Posso garantir que não sou marciano. Não sei porque, mas sempre que chego em um planeta eles perguntam se sou de Marte... Pergunta estúpida!
  • 12. - É que tem uma lenda... - Os marcianos já não moram mais em marte! - Ah. Bom pra eles, pois acabamos de enviar um robô pra lá! - É? E o que ele descobriu? - No geral, nada, mas mandou a foto de umas pedras maneiras pra cá! - Pois saiba que nossos robôs também nos enviaram umas fotos de vocês! - Vocês tem robôs aqui? - pareceu surpreso com a pergunta, embora soubesse que não era improvável. - Digamos que... não existem assim tantos humanos quanto vocês gostariam. Mas de todos os cinco bilhões, todos são humaníssimos. - Mas a gente tem muito mais do que cinco... Ah. Saquei! - Nós tentamos entrar em contato com o
  • 13. líder de vocês, mas não o encontramos! - informou e começou a mexer o dedo no ar, controlando o holograma. - É bem a cara dele... Espera, quem vocês achavam que era nosso líder? - Hã... Ah, ok, nós abduzimos a primeira pessoa que vimos. Feliz agora? - Na verdade, um pouco triste, nós provavelmente não temos um líder para o planeta. Temos líderes para os países, mas nada para todos eles ao mesmo tempo... - Viu só? É exatamente por isso que lá nós temos os países, mas então temos uma associação que designa um líder para o mundo. Assim estamos seguros, sabe, se um OVNI cai num país com um presidente de merda, ele não vai conseguir destruir o planeta ao mandar os ET’s se foderem. - E essa associação escolheu você para ser o líder do país? - perguntou.
  • 14. - Eu sou o mais carismático! - pareceu ter agarrado o paletó e o ajeitado. O bonzão , pensou Peter. - Huh. Bom, desculpe se eu estiver parecendo um pouco rude, mas... o que vocês querem aqui? - Ah. Sim... Nós estamos fazendo uma limpa, destruindo alguns planetas desabitados, começamos com o que vocês chamam de... Júpiter. Passamos por Plutão e o pessoal lá disse que nós não deveríamos destruí-los. - Plutão não é um planeta! - Ah, sim, eu estou agora acessando a sua... Inter.. Inter... Net. É, esse é o nome que vocês deram. Meio esquisito, mas tudo bem, acabei de ver a matéria em um site de ciências. Os plutonianos também sabiam disso, disseram que até mesmo estão em guerra com vocês por conta disso!
  • 15. - Bom, nós ainda não fomos atacados, não que eu saiba! - tentou se lembrar de algo impossível. - Eles não são assim tão evoluídos, mas eu tomaria cuidado! - Obrigado pela dica! O líder sentou-se na poltrona e abriu algumas pastas no holograma. - Vocês são... Terra. Nomezinho capenga, não? Se eu fosse vocês, teria pego o nome de Júpiter pra esse aqui e dado Terra para aquele. Terra... Terra... Terra... Ah, vejo que nem mesmo seria necessário te chamar aqui, garoto, já tenho o veredito final aqui. Se eu fosse você, protegeria os olhos quando voltar lá embaixo, a explosão pode te deixar cego - e pensou por um momento, depois riu. - Não que isso vá importar, né? Você vai encontrar Muhajick logo, logo. Ops, desculpe... É... Deus. Não, Alá. Não, Zeus. Não, Buda. Não.. Uau, vocês realmente não se decidiram, não é? - É... Espera. Você vai nos explodir?
  • 16. - Claro. Estamos tirando daqui os planetas inúteis! - Mas nós não somos inúteis, e nem desabitados, como você pode ver.. Temos sete bilhões. Ah, cinco bilhões de humanos lá embaixo! - Eu sei, eu sei. Mas se você pensar pelo meu lado... Aqui - ele colocou para Peter algumas imagens da pasta Terra-5b . O garoto as viu no holograma. “Como você pode ver, não andam cuidando muito bem do planeta de vocês... Eu não daria muitos anos pra esse galo velho, não. O oxigênio vai acabar muito logo, pois, se você der uma olhada nessa imagem aqui, já não tem muitas árvores como antigamente, quando viemos pela primeira vez. Não eu, claro, mas a minha civilização. Ei, olha aqui... Vocês nem tinham saído da água ainda! “E também nessa planilha aqui você pode ver que há muitas mortes ocorrendo nessa Terra. Sério,
  • 17. cara, quem é o retardado que mata um dos seus? Se tivessem matado alguns dos robôs a gente até entenderia, é que vocês ainda são primitivos, então estariam com medo, mas olha... São pessoas como vocês! Humaníssimos. “E olha esse período aqui. Sabe o que a gente fez quando queríamos que outros fizessem algo por nós? A gente criou robôs. Naquela época eles ainda eram quase nada, agora eles pensam e tem emoções, a gente evoluiu, claro. Mas olha vocês... Usando outros humanos pra cumprir o trabalho pesado! A gente podia até ter robôs, mas eles eram mais companheiros do que escravos! “Sabe quanto tempo durou a discussão sobre os direitos dos robôs lá no meu planeta? Três dias e todo mundo entrou em acordo, vocês tão nessa há décadas! Hoje os robôs ganham o mesmo salário que nós e podem casar, namorar ou qualquer outra coisa com quem quiserem, seja o parceiro um robô ou não.
  • 18. “Ah, me lembro como se fosse hoje a nossa época de idiotas, achando que podíamos julgar os robôs. Sabe, vou até confessar, eu era um desses que não queria que os robôs tivessem o direito de se casar com um de nós, mas então saí dessa nuvem de ignorância e percebi que isso não atrapalha em nada na minha vida!” - Mas.. É que... Não, mas... Mesmo assim, vocês... Vocês não podem nos destruir só por conta disso, há pessoas que não são como essas aqui na Terra, eu te garanto! - Claro que há, mas essas são poucas, e acabam quase sempre sendo mortas ao defender os outros... Clássico movimento de primitivos! - Não podem nos matar apenas porque somos fracos! - protestou Peter. - Olhe de novo para o holograma, garoto, matar e se aproveitar dos outros por serem fracos é só o que vocês tem feito.
  • 19. Peter obedeceu. Olhou o holograma e então afastou os olhos. - Me desculpe - sentiu uma gota de lágrima passar pelo seu rosto. - Ah. Droga, nós somos bonzinhos demais! - o líder pareceu estar furioso consigo mesmo. - Olha, eu vou dar para vocês outra chance. Assim como demos antes, apenas porque vocês ainda não são muito evoluídos. Mas nós vamos voltar, Peter Gollman, disso pode ter certeza. E se voltarmos ainda no seu tempo, me certificarei de que você seja chamado! - Obrigado, líder! - Peter disse e desejou ter um líder como aquele em seu planeta. O homem sentou em sua poltrona novamente. - E como saberemos quando voltarão? - Vocês não sabem, é aí que está a pegadinha. Melhor começar a cuidar bem do planeta e uns dos outros logo, pois pode ser amanhã, ou depois...
  • 20. Ele continuou falando. Peter cobriu os olhos por conta da luz que voltara. A voz do líder começou a ficar afastada. Ou depois, ou depois, ou depois , a voz dizia. Quando baixou os braços, percebeu que estava de volta na rua. Continuou andando rumo a sua casa, decidido de que faria o melhor de agora em diante. Ele só torcia para não aparecer numa das estatísticas a serem mostradas para o próximo representante da Terra. Torcia para não ser morto ao tentar defender os outros. Mas acima de tudo, torcia para que tivesse algo bom para dizer a eles quando voltassem. Estava cético por enquanto, mas isso logo mudaria. Tudo muda , como dissera o jardineiro enquanto plantava flores.