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Diferentes olhares da CEDEAO para a situação pós golpe

Fonte DC

O declínio das referidas tendências é atribuído a “reapreciações” da situação determinadas
e/ou influenciadas por factores como os seguintes:



- Dados novos sobre o golpe do Estado e sobre o status quo por ele criado – recolhidos e
verificados por pessoal do contingente destacado da CEDEAO.



- Persiste, com mais evidentes sinais de aperto do que de abrandamento, o clima de
isolamento político e de sanções a que está sujeito o “regime de transição” instalado no
seguimento do golpe de Estado.



A atitude complacente com o golpe de Estado que a CEDEAO inicialmente deixou transparecer
foi considerada reflexo de ínvios interesses de países da região, como Senegal e Nigéria, mas
também de grupos obscuros com capacidade para interferir em seu próprio proveito em
políticas da organização.



O Senegal, para além do desapreço a que votava Carlos Gomes Jr, avolumado por um
arrastado contencioso fronteiriço (AM 479), terá visto no golpe de Estado uma oportunidade
para passar a ter na Guiné-Bissau um interlocutor mais cooperante com os seus esforços de
neutralização da guerrilha independentista no Casamansa.



A dinâmica anti-angolana imprimida ao golpe de Estado pelos seus mentores, serviu, por sua
vez, de “engodo” destinado a garantir, no mínimo, a neutralidade da Nigéria. A intrusão que a
presença militar angolana na Guiné-Bissau representava para as influências regionais que a
Nigéria reclama, iria dissipar-se.



2 . A conduta relativamente benevolente da CEDEAO face ao golpe, vista como uma negação
dos seus próprios princípios, deu lugar a um foco de desinteligências internas.

Registaram-se advertências como a de que uma quebra de autoridade política e moral da
organização poderia potenciar uma vaga de putschs na região.



Aos dois únicos países que desde o primeiro momento condenaram o golpe, Gâmbia e Rep da
Guiné, juntou-se agora o Níger. E há sinais de que o Senegal, agindo por influência de um
incremento recente de acções da guerrilha no Casamansa, supostamente com origem na
Guiné-Bissau, pode vir a rever a sua posição.



Os militares senegaleses que integram a força da CEDEAO estacionada na Guiné-Bissau, têm a
dupla função de prestar atenção a “engajamentos” locais com o movimento separatista do
Casamansa. Julga-se que têm origem na Guiné-Bissau (não na Gâmbia) acções recentes de
infiltração de armas no território.



3 . Os novos dados recolhidos pelo pessoal da CEDEAO, em circunstâncias favorecidas por
afinidades étnicas com grupos da população guineense (mancanhas e mandingas, em especial)
incidem em geral na figura e na acção de António Indjai - mentor do golpe e, embora de forma
dissimulada, comandante operacional do mesmo.



Descrito como “homem forte” da Guiné-Bissau, constata-se, porém, que exerce tal papel de
forma considerada “perigosa” (consciência tribal; noção primária do poder; mente
desconfiada), o que não só acentua as reservas internacionais em relação à actual situação,
como representa uma ameaça permanente de instabilidade.



A “quarentena” a que no seguimento do golpe Kumba Yalá foi votado, por vontade de A Indjai,
destinou-se a retirar-lhe notoriedade como chefe tribal. Idem em relação à reclusão em que
mantém Bubo Na Tchuto, o qual acrescidamente vê como rival militar (sentimentos que antes
o levaram a conspirar contra o Alm Zamora Induta).



A Indjai, exige pronunciar-se sobre todos os actos das novas autoridades – mesmo os mais
elementares.As próprias nomeações devem merecer a sua aprovação prévia. Há relatos
segundo os quais “destratou” Serifo Namadjo ao saber que o mesmo tinha dado posse a 21
conselheiros e assessores presidenciais nomeados sem a sua aprovação.



Na conduta de A Indjai também começam a ser notados sentimentos de desconfiança em
relação à própria CEDEAO. Determinou acções de vigilância permanente sobre as forças da
organização aquarteladas no Cumenré e vacila em mandar desocupar o quartel da Marinha,
em Bissau, que deverá passar a ser usado pela CEDEAO.



4 . As razões que de facto o terão levado a afastar do poder C Gomes Jr, junto do qual
manifestava amiúde lealdade pessoal e institucional agora considerada “fingida” (tal como
aconteceu com os angolanos), também estão agora a ser objecto de análise – dada a falta de
correspondência com a realidade das que invocou.



A ilação que está a ganhar forma é a de agiu por impulso de subliminares sentimentos de
natureza tribal e de classe – eventualmente fundados em considerações como as seguintes:



- C Gomes Jr não é um nativo não genuíno, i e, não tem identidade ou conotação étnica (a sua
progenitora é uma mestiça, filha de um antigo administrador português de Fulacunda, de
nome Ramalho).



- Não só não participou na luta de libertação nacional, ele e toda a sua família, como
permaneceu “do lado dos portugueses”; só tardiamente aderindo ao PAIGC.



A aversão a C Gomes Jr evidenciada por A Indjai também é remetida para a aplicação que o PM
denotava no lançamento de um plano de reforma das FA, com base no qual os militares seriam
na sua maior parte reformados. A sua conduta anti-droga também não era apreciada devido
aos interesses que o negócio fomentou em meios militares.

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  • 1. Diferentes olhares da CEDEAO para a situação pós golpe Fonte DC O declínio das referidas tendências é atribuído a “reapreciações” da situação determinadas e/ou influenciadas por factores como os seguintes: - Dados novos sobre o golpe do Estado e sobre o status quo por ele criado – recolhidos e verificados por pessoal do contingente destacado da CEDEAO. - Persiste, com mais evidentes sinais de aperto do que de abrandamento, o clima de isolamento político e de sanções a que está sujeito o “regime de transição” instalado no seguimento do golpe de Estado. A atitude complacente com o golpe de Estado que a CEDEAO inicialmente deixou transparecer foi considerada reflexo de ínvios interesses de países da região, como Senegal e Nigéria, mas também de grupos obscuros com capacidade para interferir em seu próprio proveito em políticas da organização. O Senegal, para além do desapreço a que votava Carlos Gomes Jr, avolumado por um arrastado contencioso fronteiriço (AM 479), terá visto no golpe de Estado uma oportunidade para passar a ter na Guiné-Bissau um interlocutor mais cooperante com os seus esforços de neutralização da guerrilha independentista no Casamansa. A dinâmica anti-angolana imprimida ao golpe de Estado pelos seus mentores, serviu, por sua vez, de “engodo” destinado a garantir, no mínimo, a neutralidade da Nigéria. A intrusão que a presença militar angolana na Guiné-Bissau representava para as influências regionais que a Nigéria reclama, iria dissipar-se. 2 . A conduta relativamente benevolente da CEDEAO face ao golpe, vista como uma negação dos seus próprios princípios, deu lugar a um foco de desinteligências internas. Registaram-se advertências como a de que uma quebra de autoridade política e moral da organização poderia potenciar uma vaga de putschs na região. Aos dois únicos países que desde o primeiro momento condenaram o golpe, Gâmbia e Rep da Guiné, juntou-se agora o Níger. E há sinais de que o Senegal, agindo por influência de um
  • 2. incremento recente de acções da guerrilha no Casamansa, supostamente com origem na Guiné-Bissau, pode vir a rever a sua posição. Os militares senegaleses que integram a força da CEDEAO estacionada na Guiné-Bissau, têm a dupla função de prestar atenção a “engajamentos” locais com o movimento separatista do Casamansa. Julga-se que têm origem na Guiné-Bissau (não na Gâmbia) acções recentes de infiltração de armas no território. 3 . Os novos dados recolhidos pelo pessoal da CEDEAO, em circunstâncias favorecidas por afinidades étnicas com grupos da população guineense (mancanhas e mandingas, em especial) incidem em geral na figura e na acção de António Indjai - mentor do golpe e, embora de forma dissimulada, comandante operacional do mesmo. Descrito como “homem forte” da Guiné-Bissau, constata-se, porém, que exerce tal papel de forma considerada “perigosa” (consciência tribal; noção primária do poder; mente desconfiada), o que não só acentua as reservas internacionais em relação à actual situação, como representa uma ameaça permanente de instabilidade. A “quarentena” a que no seguimento do golpe Kumba Yalá foi votado, por vontade de A Indjai, destinou-se a retirar-lhe notoriedade como chefe tribal. Idem em relação à reclusão em que mantém Bubo Na Tchuto, o qual acrescidamente vê como rival militar (sentimentos que antes o levaram a conspirar contra o Alm Zamora Induta). A Indjai, exige pronunciar-se sobre todos os actos das novas autoridades – mesmo os mais elementares.As próprias nomeações devem merecer a sua aprovação prévia. Há relatos segundo os quais “destratou” Serifo Namadjo ao saber que o mesmo tinha dado posse a 21 conselheiros e assessores presidenciais nomeados sem a sua aprovação. Na conduta de A Indjai também começam a ser notados sentimentos de desconfiança em relação à própria CEDEAO. Determinou acções de vigilância permanente sobre as forças da organização aquarteladas no Cumenré e vacila em mandar desocupar o quartel da Marinha, em Bissau, que deverá passar a ser usado pela CEDEAO. 4 . As razões que de facto o terão levado a afastar do poder C Gomes Jr, junto do qual manifestava amiúde lealdade pessoal e institucional agora considerada “fingida” (tal como
  • 3. aconteceu com os angolanos), também estão agora a ser objecto de análise – dada a falta de correspondência com a realidade das que invocou. A ilação que está a ganhar forma é a de agiu por impulso de subliminares sentimentos de natureza tribal e de classe – eventualmente fundados em considerações como as seguintes: - C Gomes Jr não é um nativo não genuíno, i e, não tem identidade ou conotação étnica (a sua progenitora é uma mestiça, filha de um antigo administrador português de Fulacunda, de nome Ramalho). - Não só não participou na luta de libertação nacional, ele e toda a sua família, como permaneceu “do lado dos portugueses”; só tardiamente aderindo ao PAIGC. A aversão a C Gomes Jr evidenciada por A Indjai também é remetida para a aplicação que o PM denotava no lançamento de um plano de reforma das FA, com base no qual os militares seriam na sua maior parte reformados. A sua conduta anti-droga também não era apreciada devido aos interesses que o negócio fomentou em meios militares.